CAPÍTULO
10:
CENA 1: Casa de Roberto,
Urca, RJ. NOITE.
DAYSE:
Isso é verdade, Roberto?
VERÔNICA:
O que você tem a falar pra se defender, pai?
ROBERTO:
Isso é mentira!
DAYSE:
Não acredito que você foi capaz de fazer isso, Roberto!
AGATHA:
(CHORANDO) Pai, foi você?
ROBERTO:
Verônica, como você inventa uma coisa dessas?
VERÔNICA:
É verdade sim. Quem não quiser, não acredita.
ROBERTO:
Verônica, fala a verdade pra sua mãe e pra sua irmã.
VERÔNICA:
Eu já disse.
ROBERTO:
(COM RAIVA) Se você não contar a verdade, te expulso de casa.
VERÔNICA:
(DEBOCHANDO) Ai, paizinho, tudo agora você recorre a me tirar de casa.
DAYSE:
Verônica, nos conte a verdade.
VERÔNICA:
Eu estou falando a verdade. Se vocês não concordam, esperem amanhã porque os
resultados desse desvio vão sair.
ROBERTO:
Vai pro seu quarto já!
VERÔNICA:
Que droga!
Verônica,
mesmo aborrecida, vai ao seu quarto.
DAYSE:
(TRISTE) Um Deus, amor, estou muito preocupada com a Verônica.
ROBERTO:
Também estou.
DAYSE:
Eu não sei o que fazer.
ROBERTO:
Deixa ela falar essas mentiras.
DAYSE:
Eu não criei minha filha pra ser uma mentirosa.
ROBERTO:
Mas se ficarmos acreditando no que ela fala, ela vai acabar mandando na gente.
DAYSE:
Nisso eu concordo.
ROBERTO:
Então, vamos deixar.
DAYSE:
Vamos ver isso numa semana.
ROBERTO:
Está bem.
CENA 2: Casa de Álvaro,
Lapa, RJ. NOITE.
ELVIRA:
Você não vai falar comigo direito, Karina?
KARINA:
Não, Elvira.
ELVIRA:
Eu sou a sua mãe, me respeita.
KARINA:
Eu não te considero minha mãe. Minha mãe se chama Álvaro.
RAYANE:
(RINDO) Papai é transexual?
KARINA:
Para de bobeira, Rayane.
RAYANE:
Ele é hermafrodito?
KARINA:
Hoje você está engraçaralha pra cadinho, né, Rayane? Só faltava o nariz de
palhaça. Eu quis dizer que o papai, pra mim, não foi só pai, mas uma mistura
entre pai e mãe, como chamam por aí, ‘‘pãe’’.
ELVIRA:
Que palhaçada, garota! Falando de palhaço, me lembro logo dessa Vivi, que acha
que o Alvinho gosta dela.
ÁLVARO:
Eu amo a Viviane.
VIVIANE:
Para de falar da minha vida, Elvira. Você é muito invejosa.
ELVIRA:
Não tenho nenhuma inveja de você. Meu lema é ‘‘I’m sexy and I know it’’, não
preciso de você.
VIVIANE:
Sexy? Vou te recomendar um médico pra ver sua visão.
ELVIRA:
(IRÔNICA) Hahaha. Muito engraçado. Vou até te contratar prum programa de humor,
mas vai pra um bem ruinzinho que ninguém assiste. Verdadeira palhacinha você!
KARINA:
Você adora palhaços né, Elvira?! Palhaçada e outras coisas foi o que você fez
com o papai.
RAYANE:
Para de ser puxa saco, Karina.
KARINA:
Não sou puxa saco, estou reconhecendo tudo o que ele fez por a gente, Rayane, e
você tanto ignora e despreza.
Nesse
momento, Álvaro começa a chorar.
ELVIRA:
Ta chorando por que, Alvinho?
ÁLVARO:
Não me chama assim, Elvira. Não temos nada mais.
ELVIRA:
Não é o que provei agora pouco quando essa Viviane chegou.
ÁLVARO:
(GRITANDO) Sai da minha casa, Elvira. Estou de saco cheio de você por hoje.
CENA 3: Apartamento de Paula
e Hugo, Urca, RJ. NOITE.
O
casal está vendo um filme de romance.
PAULA:
Hugo, você acha que tudo o que estamos fazendo na academia vai dar certo?
HUGO:
Claro, Paulinha.
PAULA:
Eu também espero, amor.
HUGO:
Paula, estava pensando em fazermos uma parceria com aquela empresa ‘‘My body’’.
PAULA:
Aquela de artigos esportivos.
HUGO:
Essa mesma.
PAULA:
Mas, Hugo, essa empresa é de gente rica. Devem cobrar os olhos da cara pra
parcerias.
HUGO:
Fiquei sabendo que eles estão com pouco dinheiro e pouca parceria. Não devem
estar cobrando muito caro assim.
PAULA:
Eles estão no vermelho?
HUGO:
Sim. Perderam muitos clientes e sócios.
PAULA:
Então podemos ver isso. O que você acha que podemos propor a eles?
HUGO:
Podemos vender os produtos deles na academia ou nós compramos uma certa
quantidade de roupas e acessórios, e quando a pessoa fizer inscrição na
academia ganha um kit com blusa, garrafa, toalhinha e outras coisas.
PAULA:
Gostei dessa ideia do kit. Amanhã mesmo eu posso ir na empresa.
HUGO:
Ta.
PAULA:
Com quem eu devo falar? Você sabe?
HUGO:
Melhor falar com um dos presidentes. Fiquei sabendo que a Cínthia Corlonn, que
possui grande parte da empresa, voltou de umas viagens, ela até fez uma grande
festa.
PAULA:
Ah, também vi na revista sobre essa festa.
HUGO:
E também tem um cara chamado Roberto, ele também é muito importante lá dentro.
Acho que aquela garota Agatha, que procurou pelo grupo de decoração, é filha
dele.
PAULA:
Vou ligar para ela agora.
HUGO:
Ok.
Paula
procura na sua bolsa o número de Agatha e liga para ela.
AGATHA:
(POR TEL.) Alô. Quem é?
PAULA:
(POR TEL.) Olá, sou eu, Paula, da ‘‘Mais Saúde’’.
AGATHA:
Oi. Por que a senhora está me ligando essa hora?
PAULA:
Me chama de você. Estou ligando pra confirmar uma coisa.
AGATHA:
É sobre o grupo de decoração? Você não gostou de mim? Ainda vou mandar a ficha,
amanhã mesmo.
PAULA:
Não é isso, querida. Só queria saber se você é filha de um dos sócios da ‘‘My
body’’, o Roberto.
AGATHA:
Sim, sou filha dele.
PAULA:
Gostaria de uma ajuda sua.
AGATHA:
Qual?
PAULA:
Uma parceria entre a ‘‘My body’’ e a ‘‘Mais saúde’’.
CENA 4: Quarto de Rejane e
Ingrid na mansão de Cínthia, Urca, RJ. NOITE.
As
duas amigas estão no quarto, e Cínthia entra.
REJANE:
O que foi, Cínthia?
CÍNTHIA:
Vocês estão muito paradas. Quero que comecem a pensar num novo golpe.
INGRID:
Vai ser em velhinhos de Copacabana.
CÍNTHIA:
Ta. Falem mais desse golpe.
REJANE:
Nós vamos fingir que somos cuidadoras de velhinhos e depois vamos dar um jeito
de arrancar grana deles.
CÍNTHIA:
Mas velho é tudo pobre coitado, não deve ter nada, além de uma merreca da
loteria que eles jogam todo dia.
INGRID:
Em Copacabana, tem muito velho com grana.
CÍNTHIA:
Está bem. Amanhã vamos novamente no Jockey.
REJANE:
Você gostou mesmo do cara que cuida do Adamastor né?
CÍNTHIA:
Não. Para de gracinha. Eu vou falar com o cara que cuida dele de verdade, o
gordo.
REJANE:
Então, você gosta do gordinho, né?
CÍNTHIA:
Vou nem te responder, Rejane. Pensem em alguma coisa pra esse golpe.
INGRID:
Ta.
Cínthia
sai do quarto.
REJANE:
A Cínthia ta meio estranha.
INGRID:
Estranha?
REJANE:
Sim. Ela tá meio quieta, deve estar armando algum plano e não falou para a
gente.
INGRID:
Você acha que ela faria isso?
REJANE:
Claro. Ela é muito ambiciosa e só quer aumentar os domínios dela. Igual aos
imperadores antigos, quer aumentar seu império cada vez mais.
INGRID:
Fica de olho nela, enquanto eu pesquiso sobre velhinhos que precisam de
cuidadora.
CENA 5: Casa de Álvaro,
Lapa, RJ. NOITE.
ELVIRA:
Eu nem tenho lugar pra morar.
ÁLVARO:
Dane-se. Isso é problema seu.
ELVIRA:
Mas eu sou a mãe das suas filhas.
ÁLVARO:
Atualmente, isso não diz nada. Elas já estão praticamente criadas.
ELVIRA:
Mal criadas, você quer dizer, né? Porque a outra nem quis me abraçar.
ÁLVARO:
‘‘A outra’’ tem nome, é sua filha, Karina. Como você pode pedir educação e
respeito se essas palavras nunca existiram no seu vocabulário.
ELVIRA:
Não é ela que disse que não se considera minha filha? Então por que eu devo
respeitá-la?
ÁLVARO:
Ela é minha filha e eu estou falando pra respeitá-la. Sai daqui logo.
VIVIANE:
Álvaro, acho que não é a Elvira que tem que sair.
ÁLVARO:
Eu que não saio daqui. A casa é minha.
VIVIANE:
Eu que irei sair.
ÁLVARO:
Por quê?
VIVIANE:
Eu estou aqui perdida e parada com um ás de paus nesse papo de família.
KARINA:
Vivi, você que faz parte dessa família. A intrusa aqui é Elvira.
RAYANE:
Ei, Karina. A mamãe faz sim parte da família.
KARINA:
Você pode considerar ela da família, mas eu não considero. Ela nos largou com o
papai quando éramos muito pequenas, você principalmente.
RAYANE:
E daí?
KARINA:
‘‘E daí’’ que ela não deu a mínima por nós.
RAYANE:
Mas ela ta de volta e quer se aproximar da gente.
KARINA:
Comigo ela pode até querer, mas acho muito difícil de conseguir. Ela fez o
estrago e agora volta como se não tivesse feito nada, se fazendo de santa.
ÁLVARO:
E de santa ela não tem nada.
ELVIRA:
E você não é nenhum santo, tá, Álvaro?
ÁLVARO:
Eu pelo menos reconheço meus erros.
ELVIRA:
Eu também, estou correndo atrás do prejuízo.
KARINA:
Você acha mesmo que me abraçando e se fazendo de mocinha vai me fazer esquecer
tudo o que passei junto com papai e a Rayane logo que você largou?!
ÁLVARO:
Não foi nada fácil criar duas meninas sem ninguém pra me ajudar e com pouco
dinheiro, mas eu me reergui.
RAYANE:
Se reergueu? Que bom que não me lembro desse passado, porque se agora moramos
nesse barraquinho, imagina antes.
KARINA:
Rayane, às vezes você me dá nojo.
RAYANE:
Nojo é o que tenho ao saber que minha irmã é doméstica.
ELVIRA:
Você é empregada, Karina?
RAYANE:
Karina, a empreguete da família, mas ela não canta, só fica pegando o patrão.
KARINA:
Não sou mais empregada, mas já fui e com muito orgulho. Para de gracinha,
Rayane, o seu Roberto é só meu patrão.
RAYANE:
(INSINUANDO) Sei...
ELVIRA:
Você tá trabalhando aonde, Karina?
RAYANE:
Ela agora é secretária na empresa do seu Roberto. Devem ficar se agarrando toda
hora.
ÁLVARO:
Chega! Rayane para de infernizar a sua irmã. Vamos parar com essa briga.
KARINA:
Rayane, esse emprego é muito digno. Estou cansada de te avisar, mas vou
repetir: o seu Roberto te aguarda na mansão ainda essa semana. Se você quiser,
vá com ela, Elvira. Pelo menos, fará algo de útil.
RAYANE:
Não nasci pra limpar privada de patricinha.
KARINA:
Nem eu, mas é necessidade.
ÁLVARO:
Depois vocês veem isso. Agora eu quero saber quem encontrou essa pilantra da
Elvira.
RAYANE:
Eu. Estava na rua e ela também tava lá.
ELVIRA:
É, a Ray me contou sobre a proposta do funkeiro.
Viviane
e Karina olham para Álvaro com um jeito intencionado e o dançarino percebe o
que elas tentam transmitir.
KARINA:
O Jorjão?
RAYANE:
Ele mesmo.
ÁLVARO:
Rayane, tenho que te contar uma coisa.
RAYANE:
Desembucha logo.
CENA 6: Quarto de Cínthia na
mansão dela, Urca, RJ. NOITE.
No
seu quarto, Cínthia conversa pelo telefone com uma mulher.
MULHER:
Quero a encomenda logo.
CÍNTHIA:
Não ta tão fácil de arrumar.
MULHER:
Por quê? Em vários lugares, você encontra isso.
CÍNTHIA:
A polícia fica de olho nisso.
MULHER:
Isso não é coisa de polícia. Eles são muito enxeridos.
CÍNTHIA:
Claro que é coisa da polícia. Tem um lugar com várias dessas ‘‘coisinhas’’, vou
ver se consigo arrumar pra você.
MULHER:
Você vai arrumar sim.
CÍNTHIA:
Já falei: vou tentar.
MULHER:
Quero isso pra amanhã.
CÍNTHIA:
Amanhã?
MULHER:
É, amanhã de manhã. Traga aqui no meu escritório.
CÍNTHIA:
Escritório? Eu chamaria isso aí de depósito.
MULHER:
Chame de Central de tratamento.
CÍNTHIA:
Só não sei se vai dar pra amanhã.
MULHER:
Se isso não chegar aqui antes das 10 da manhã, vamos ver o que vai acontecer.
CÍNTHIA:
Ta, vou arrumar isso pra tu.
MULHER:
Acho bom mesmo.
Cínthia
desliga o telefone e fica preocupada, então faz uma ligação misteriosa.
HOMEM:
O que foi, Cínthia?
CÍNTHIA:
Preciso que arrume umas coisas pra mim.
HOMEM:
Qual tipo?
CÍNTHIA:
Qualquer um, o que você tiver aí e mais barato.
HOMEM:
Pra quando?
CÍNTHIA:
Amanhã.
HOMEM:
Amanhã?
CÍNTHIA:
(IRÔNICA) Não, hoje, abestado.
HOMEM:
Hoje?! ‘‘Hoje você não me escapa... ’’
CÍNTHIA:
Meu Deus, como cantor, você é um ótimo traficante.
Nesse
momento, Rejane entra no quarto de Cínthia.
REJANE:
Traficante?
CONTINUA NO PRÓXIMO
CAPÍTULO...

Nenhum comentário:
Postar um comentário