Cena 01. Int. Apartamento Sabrina. Sala. Dia.
Karina fica chocada com o que acabou de ler no diário do
falecido Miguelito.
KARINA: Então
quer dizer que o seu Miguelito foi o responsável pelo assassinato do meu avô?
SABRINA: Karina,
mil perdões por não ter te dito antes, mas eu não sabia onde você tava morando.
Aliás, até hoje eu não sei. Onde você vive, Karina?
KARINA: Não
interessa agora. Eu preciso resolver uma coisa muito importante. Desculpa,
Sabrina, mas eu realmente preciso ir. Depois eu venho te ajudar. Desculpa.
SABRINA: Tudo
bem, eu te entendo. Cê ficou muito abalada com isso, né? Vai lá resolver seu
problema. Qualquer dia desses você pode voltar. Boa sorte!
KARINA:
Obrigada.
Karina sai. Sabrina senta no sofá e suspira.
Cena 02. Ext. Rua. Dia.
(Sonoplastia: Quando a Chuva
Passar – Ivete Sangalo)
Karina corre pelas ruas chorando. Ela limpa as lágrimas do
rosto. Karina chega em frente a cadeia e entra.
(Sonoplastia: Fade Out –
Quando a Chuva Passar)
Cena 03. Int. Cadeia. Cela de Suíno. Dia.
Suíno come um sanduíche mofado. O carcereiro chega até sua cela.
CARCEREIRO:
Visita pra tu, baleia fora d’água. Tu só tem três minutos, então tira essa tua
bunda do banco e vai até a sala das visitas.
SUÍNO: Calma
aí, pô. Me diz pelo menos quem é.
CARCEREIRO:
Tu vai descobrir se tu ir.
Suíno põe o sanduíche dentro de um saco
plástico.
CARCEREIRO (grita): Anda logo, elefante lerdo.
Suíno sai da cela e vai até a sala de
visitas.
Cena 03. Int. Cadeia. Sala de Visitas. Dia.
Karina está sentada em uma das duas cadeiras. Suíno entra.
SUÍNO: Ora,
ora, ora. Mas será que eu tô ficando cego ou isso que eu tô vendo é realidade?
KARINA: César,
eu preciso falar logo o que eu tenho pra falar. Então eu posso?
SUÍNO: Primeira
coisa: César é o escambau. Tu me chamava assim quando eu era empregado do teu
avô. Agora, pra você, eu sou um bandido, um criminoso, um meliante, não é isso?
KARINA: Tanto
faz o seu nome. Eu preciso mesmo falar com você. Deixa eu falar, César, ou
Suíno, o seja lá o que for.
SUÍNO: Fala
logo. O que tu tem de tão importante assim pra me falar?
KARINA: Eu me
enganei, eu admito. Não foi você quem matou o meu avô. Desculpa.
SUÍNO (rindo): Como é que é? Você deve estar doida, não é mesmo? Primeiro me
enfia aqui nessa cadeia, agora vem aqui toda pimpona pra me pedir desculpas.
Ah, faça-me o favor. (levanta da cadeira) Eu tenho mais o que fazer do que
ficar ouvindo esse seu nhém-nhém-nhém mentiroso!
KARINA (levanta): Me escuta. Eu tomei uma decisão precipitada só porque eu vi a
sua cicatriz. E as minhas desculpas são sinceras sim!
SUÍNO (grita): Mentirosa! Vagabunda!
Karina dá um tapa na cara de Suíno.
KARINA: Dobra a
sua língua pra me xingar, ouviu bem seu ordinário? Dobra a língua! Poxa, eu vim
aqui pra pedir desculpas pelo meu erro, por eu ter te acusado por um crime que
você não fez e você retribui assim? César, eu vim aqui te tirar daqui. Será que
é tão difícil me agradecer?
SUÍNO: Te
agradecer? Pra eu te agradecer, primeiro você vai ter que me pedir perdão por
todos esses dias que você me fez passar aqui nesse inferno. Ajoelhada!
KARINA: Como é
que é?
SUÍNO: É isso
mesmo que você ouviu. Se ajoelha e me pede perdão. Agora!
Karina se ajoelha, com vergonha.
SUÍNO: Isso,
boa menina. Agora me pede perdão.
KARINA:
Desculpa.
SUÍNO:
Nananinanão! Eu quero que você me peça perdão, não desculpa.
KARINA: E tem
alguma diferença?
SUÍNO (grita): Pede logo!
KARINA: Perdão.
SUÍNO: Não
ouvi.
KARINA: Perdão
por tudo que eu te fiz passar na cadeia!
SUÍNO: Isso,
muito bom. Agora você falou minha língua. Agora, vamos para a segunda etapa.
Quando é que eu vou ser solto desse lugar?
KARINA (levanta-se): Acho que ainda hoje. Eu só preciso ter uma conversinha com o
delegado para contar pra ele toda essa história.
SUÍNO: Bom!
Muito bom! E agora, a terceira e última etapa. Quem foi o infeliz que matou o
seu avozinho?
KARINA: Isso já
não é da sua conta.
O carcereiro chega.
CARCEREIRO:
Acabou teu tempo, Suíno. De volta pra gaiola!
Suíno sai. Karina fica olhando para ele.
Cena 04. Int. Casa de Edgar. Sala. Dia.
Hector chega vestido de mulher na casa de Edgar. O último começa
a rir.
HECTOR: Ah, você
ainda ri, né traíra?
EDGAR: E tem
como não rir disso?
HECTOR: Só não
se esquece que foi você que me meteu nessa roubada, tá Edgar?
EDGAR: É claro
que eu não esqueço, jovem aprendiz. Agora me fala, deu certo?
HECTOR: Como
assim “deu certo”, Edgar? Você acha que eu ia chegar na Isabela, dar um “oi”,
sacar uma arma e matar a infeliz?
EDGAR: Não seja
atrevido, que eu já tô te dando uma colher de chá do tamanho do Maracanã. E já
que você tá tão metido a espertinho, me explica seu plano.
HECTOR: Eu vou
virar amigo da Isabela...
EDGAR (interrompe): Amiga. Não se esqueça que agora você é a Verônica.
HECTOR: Nem me
lembra. Bom, mas depois que eu virar íntimo da Isabela, eu vou começar a saber
os segredos dela, os pontos fracos e outras coisas mais. Sabendo disso, eu
tenho um material perfeito pra poder acabar com a raça dela.
EDGAR: Aquele
momento que a pessoa tem inteligência pra caramba e usa essa inteligência pro
mal.
HECTOR: Vai
dizer que você não gosta disso.
EDGAR: Adoro!
Os dois riem. Hector começa a tirar a roupa
de mulher.
Cena 05. Int. Casa de Lourival. Varanda. Dia.
Nandinha está em pé na varanda, observando Zaqueu brincando com
as galinhas.
NANDINHA:
Zaqueu, Zaqueu... o lobo mau vai passar aqui por perto e, mais que roubar suas
galinhas, vai acabar com você.
Nandinha ri. Rosidalva aparece atrás da
víbora.
ROSIDALVA:
Falando sozinha, Nandinha?
NANDINHA (disfarça): É... é isso mesmo, dona Rosidalva. Eu tenho essa mania desde
pequena.
ROSIDALVA:
Desde pequena? Como ocê lembra, se ocê perdeu a memória?
NANDINHA (desconversa): Ah, dona Rosidalva... é que... é que a Karina, a minha prima,
disse que eu fazia isso.
ROSIDALVA: Hum,
sei. Eu vou estender as roupa aqui no varar. Quarquer coisa, ocê me chama, tá
bom?
NANDINHA:
Pode deixar.
Rosidalva vai estender a roupa. Nandinha
fica observando a senhora.
NANDINHA:
Velha chata do caramba. Eu preciso me livrar dela antes de colocar meu plano em
ação. Matusalém!
Do lado de fora, Zaqueu vai até Rosidalva.
ZAQUEU: E aí,
mãe. Tudo bom?
ROSIDALVA:
Nem tudo, fio. Eu acho que eu vou ter que concordar c’ocê.
ZAQUEU: Concordar
em quê?
ROSIDALVA: Que
a Nandinha não perdeu a memória. Eu tô desconfiada disso.
ZAQUEU: Até que
enfim arguém me entendeu.
Rosidalva deixa cair uma roupa.
ROSIDALVA: Ai!
ZAQUEU: O que
foi, mãe? Tá tudo bem com a sinhora?
ROSIDALVA:
Ai, meu fio. Me deu um negócio tão ruim quando eu lembrei das mardade que a
Nandinha fazia pra nóis.
ZAQUEU: Não se
preocupe, não, mãe. Eu num vou deixar nada acontecer cum a sinhora. Pode ter na
certeza!
Zaqueu abraça Rosidalva.
Cena 06. Int. Escola. Sala de Aula. Dia.
Estamos na escola de Lia. A professora faz a chamada.
PROFESSORA:
Carlos?
ALUNO 1:
Presente!
PROFESSORA:
Fabiana?
ALUNA 1: Presente!
PROFESSORA:
Gabriela?
ALUNA 2: Aqui!
PROFESSORA:
Hugo?
O aluno Hugo levanta a mão.
HUGO:
Presente!
PROFESSORA:
Lia?
Ninguém responde.
PROFESSORA:
Gente, a Lia não veio?
Lia chega correndo na sala.
LIA (ofegante): Veio sim. Puf, puf. Presente!
PROFESSORA:
Posso saber o motivo desse atraso, dona Lia?
LIA (ainda ofegante): Ai, professora... puf, puf... é uma longa história. O portão de
casa não queria... puf, puf... não queria abrir. Daí, eu...
PROFESSORA (interrompe): Tudo bem, tudo bem. Pode se sentar no seu lugar.
Lia senta-se na frente de Hugo. A professora
continua a chamada.
PROFESSORA:
Mateus?
HUGO:
Professora, o Mateus não veio, porque ele tá doente.
PROFESSORA:
O.k.
Lia se vira para Hugo.
LIA: Oi,
Hugo.
HUGO: E aí,
Lia. Tudo bem?
LIA: Tudo.
É... eu queria saber se você poderia me explicar a atividade de matemática.
HUGO: Posso
sim. Na hora do recreio, pode ser?
Lia faz que sim com a cabeça.
PROFESSORA:
Olha a conversa...
Lia e Hugo sorriem.
Cena 08. Int. Casa de Juliette. Varanda. Dia.
Juliette está usando um maiô, sentada em uma cadeira em frente a
piscina de sua casa e lendo uma revista. Dionísio chega de sunga e quase
mergulha na piscina.
JULIETTE (grita): Nãããoo! Não pula aí, Dionísio!
DIONÍSIO:
Ué, mas por que não, Juliette?
JULIETTE:
Você não tá vendo que a Claudia Raia tá nadando?
Dionísio olha para a piscina e vê uma
arraia.
DIONÍSIO:
Juliette, quem trouxe esse bicho pra cá?
JULIETTE:
Foi esta que vos fala. Por que o espanto, Dionísio?
DIONÍSIO:
Juliette, como é que eu vou nadar na piscina?
JULIETTE:
Nadando, ué. Mas primeiro, você vai ter que esperar a Claudia Raia terminar o
banho dela.
DIONÍSIO:
Ah, Juliette, quer saber? Você é uma louca mesmo!
Dionísio volta para dentro de casa.
JULIETTE: É
você que não sai da minha raia, seu hippie
de meia tigela. Vai procurar o que fazer!
Juliette volta a ler sua revista.
Cena 09. Int. Casa de Lourival. Sala. Dia.
Lourival está ajustando a caixa de energia de sua casa.
LOURIVAL:
Karina, minha flor. Eu tô ajeitando aqui a caixa de energia. Eu acho que tá com
argum pobrema. Mas como é que foi lá na casa da cliente nova?
KARINA: Eu
descobri quem matou você.
LOURIVAL:
Como é que é?
Lourival desliga a caixa de energia.
KARINA: Quer
dizer, eu descobri quem matou o meu avô Augustus. Desculpa, é que o senhor
lembra muito ele.
LOURIVAL:
É, eu lembro que ocê me disse isso quando veio morar mais eu. Mas ocê tava
dizendo que descobriu quem matou teu avô?
KARINA: É isso
mesmo, seu Lourival. Foi um conhecido meu. Nunca que eu imaginei isso.
Karina começa a chorar.
LOURIVAL (abraça Karina): Carma, Karininha. Carma!
KARINA (chorando): Eu fiquei muito abalada com isso, seu Lourival. E o pior é que
eu fiz um homem ser preso injustamente.
LOURIVAL:
As vez nós comete erro, Karina. Mas é fácil de consertar.
Karina continua chorando, abraçada com
Lourival. Neste momento, Zaqueu entra em casa.
ZAQUEU: O que
foi que se sucedeu, Karina? Por quê que ocê tá chorando?
LOURIVAL:
Zaqueu, meu fio, vai pro teu quarto. A Karininha tá meio desconsolada, sabe?
Dispois ela conversa c’ocê.
ZAQUEU: Tá
certo, pai.
Zaqueu vai para o quarto.
Cena 10. Int. Casa de Lourival. Quarto de
Zaqueu. Dia.
Zaqueu chega em seu quarto. Nandinha está sentada em sua cama.
Zaqueu dá meia-volta e tenta voltar, mas Nandinha se levanta e segura o homem.
NANDINHA:
Zaqueu, por favor, fala comigo. Eu não quis fazer com que a Karina terminasse
com você.
ZAQUEU:
Nandinha, pode parar com o teu teatro que eu sei que ocê não perdeu memória
porcaria nenhuma.
NANDINHA:
Claro que não, Zaqueu. Por que eu faria isso? Você não confia em mim?
Nandinha começa a tirar a roupa. Ela leva
Zaqueu até a cama. Ele não consegue se conter e tira sua roupa também.
Disfarçadamente, Nandinha pega a tomada do abajur e coloca debaixo do
travesseiro. Ela beija Zaqueu, depois põe o travesseiro nas costas de Zaqueu.
Não acontece nada.
NANDINHA (pensa): Droga, por que essa tomada não deu choque nesse caipira?
Zaqueu beija as costas de Nandinha.
NANDINHA:
Zaqueu, eu acho melhor a gente parar. Já teve uma baita de uma confusão por
isso, acho melhor não fazer de novo.
ZAQUEU: Eu
também acho. Desculpa, é que eu num consegui me controlar.
NANDINHA:
Eu entendo. Mas é melhor a gente nunca mais fazer isso.
Zaqueu concorda e se veste. Nandinha também
pega sua roupa e a põe de volta no corpo.
NANDINHA:
Desculpa, Zaqueu.
Nandinha sai do quarto. Zaqueu fica
pensativo.
Cena 11. Int. Casa de Lourival. Sala. Dia.
Nandinha sai do quarto de Zaqueu e vê Lourival mexendo na caixa
de força.
LOURIVAL:
Ah, finarmente essa diaba dessa caixa se ajeitou.
NANDINHA (pensa): Droga! Foi esse velho gagá que desligou a caixa de força. É,
Zaqueu, dessa vez você escapou. Mas será que a sua mãezinha querida tem essa
sorte também?
FIM DO CAPÍTULO

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