segunda-feira, 30 de março de 2015

Capítulo 20: Ironia do Destino


Cena 01. Int. Apartamento Sabrina. Sala. Dia.
    Sabrina relê o diário de Miguelito na sala.
SABRINA: Ai, Miguelito... você me fez sofrer, e agora uma inocente. Safado!
    A campainha toca. Sabrina esconde o diário e vai até a porta. Ao abrir, ela vê Zuleika, ao lado de Márcio e George.
SABRINA (abraça Márcio): Filho!
    Sabrina se emociona. George e Zuleika sorriem.
MÁRCIO: Eu tava com saudade, muita saudade.
SABRINA: Então por que você não voltou pra casa, seu moleque? Deixou todo mundo preocupado.
ZULEIKA: Ele não conseguia sair da rua, Sabrina. Quando ele ia, a droga fazia ele voltar. Mas pode ficar tranquila, que eu já pus o Márcio num centro de recuperação.
SABRINA: Obrigada, Zuleika. (olha para George) Ah, desculpa. Prazer, Sabrina. Você é?
GEORGE: Meu nome é George, namorado da Zuleika. O prazer é todo meu.
    Nesse momento, Titica entra no apartamento, empurrando todos.
TITICA: Com licença, com licença... sai do meio, velhote! Dona Sabrina, hoje eu tô tão aperreada. Marenilde pegou dengue, aí... (vê Márcio) Márcio!
MÁRCIO: Oi, Titica. Que saudade de você!
    Márcio abraça Titica.
SABRINA: Maria Etiniana, por favor, eu tô num momento de conversa particular. Você poderia, por favor, me dar licença?
TITICA: Ah, claro. Olha eu aqui, zuretinha da vida e nem percebo o que tá acontecendo. Eu dou licença sim. Eu vou fazer um almoço pro Márcio.
    Titica vai para a cozinha. Sabrina, Zuleika, Márcio e George riem.
Cena 02. Int. Casa de Titica. Sala. Dia.
    Marenilde está dançando, com o aparelho de som ligado. A música é um funk muito alto. O telefone toca. Marenilde atende.
MARENILDE: Alô?
TITICA: Marenilde, é você?
MARENILDE (finge estar doente): Sou eu sim, mãe. Ai, meu colpo tá doendo. A senhola não pode me ligar outla hola? (finge tossir)
TITICA: Ah, tá bom. Mas me responde uma coisa: que som louco é esse aí?
MARENILDE: Som? Que som?
TITICA: Esse que dá de ouvir até do outro lado do mundo.
MARENILDE (disfarça): Ah, o som. É que a dona Malia, a nossa vizinha, tá dando uma festa na casa dela.
TITICA: Marenilde, o marido da dona Maria morreu ontem. Pra quê ela estaria dando uma festa?
MARENILDE: Ah, vai ver que ela só casou com ele por causa do dinheilo e agola que ele paltiu dessa pla melhor, ela tá comemolando a helança.
TITICA: Marenilde, você tá mentindo pra mim, eu te conheço!
MARENILDE: Mamãe, a senhola tá desconfiando de mim? (finge choro) Tudo bem, agola eu já sei o que minha mãe pensa de mim.
TITICA: Marenilde, para com esse chororô. Você já tá melhor, minha filha?
MARENILDE: Tô um pouco, mãe. Mas eu continuo (finge tossir) com essa tosse de cacholo.
TITICA: Tá bom, agora mamãe vai desligar, tá? Fica boa logo!
MARENILDE: Pode deixar, mãe. Tchau.
    Marenilde desliga.
MARENILDE: Ufa!
    Marenilde volta a dançar.
Cena 03. Int. Comitê de Leolina. Interior. Dia.
    Leolina, que está se candidatando a prefeita de Esmeralda, discursa para a população da cidade em seu comitê.
LEOLINA: Querido povo de Esmeralda, povo que eu amo de paixão, povo que batalha, povo que faz das tripas coração para garantir o sustento de suas famílias. Eu, Leolina Zorobabel Gorgianitz, que já fui injustiçada, já driblei muitos desafios, garanto que, como prefeita da cidade de Esmeralda, não irei decepcioná-los. Por exemplo: os pobres da cidade, que não podem comprar televisão, não têm computador, não têm nada pra fazer e só fazem filhos, já que é de graça. Esses pobres vão se tornar membros da classe média alta, eu garanto! Agora poderão comprar uma roupa digna para as dezenas de filhos, poderão comprar comida para eles, que já estão enjoados de ovo frito todo dia, coitadinhos. Prometo também que não roubarei o dinheiro do povo. O que for do povo, será destinado para o povo. Nunca, eu disse nunca, a população da cidade de Esmeralda vai passar vontade ao ver os ricos deliciando um bife à milanesa. Com os investimentos que vou fazer nessa área, todos vocês poderão comprar até, olha que maravilha, um pedaço da costela de um boi. Sim, porque, como diz minha amiga Umbelinda, vocês podem até não parecer, mas são gente! Vocês merecem uma porta para pôr no lugar das cortinas na casa de vocês. E eu, como a boa pessoa que sou, estou disposta a ajuda-los.
MULHER: Candidata, beija o meu filho!
LEOLINA: Beijar seu filho? É... eu... bem me dá aqui o seu filhinho. Como é o nome dele?
MULHER: Edmanfreson.
LEOLINA (pensa): Isso é nome de pessoa ou é a invocação do ritmo ragatanga?
    Leolina pega o bebê e beija ele, enojada.
LEOLINA (pensa): Crendeuspai, esse menino passa o que no corpo? Óleo de peixe misturado com gasolina? Não, gasolina não pode ser, porque essa gente não pode comprar nem goma de mascar, quanto mais gasolina.
    O bebê vomita em Leolina.
LEOLINA: Ai, meu Deus! Pega o seu filho aqui, cidadã.
    Leolina devolve o bebê para a mãe.
LEOLINA: Povo de Esmeralda, este comício está encerrado. Tenham um bom dia! Votem em mim!
    Leolina vai para o escritório do comitê.
Cena 04. Int. Comitê de Leolina. Escritório. Dia.
    Leolina chega suja de vômito ao escritório. Ela pega um papel-toalha e se limpa.
LEOLINA: Pelo amor de Deus, esse povo tá pensando o quê? Que eu sou a Xuxa pra ficar aguentando esse bando de criança? Estão redondamente enganados. Ah, eu nunca pensei que ser candidata a prefeita é tão difícil.
    Leolina continua se limpando.
Cena 05. Int. Escola de Lia. Pátio. Dia.
    É hora do intervalo. Lia e Hugo estão sentados em um banco, estudando.
HUGO: Aí, você divide o numerador pelo denominador e o resultado você multiplica por cinco. Entendeu?
LIA: É meio complicado, mas eu vou tentar.
    Lia pega a caneta, que cai no chão.
LIA: Droga!
    Hugo e Lia se abaixam para pegar a caneta. Os dois pegam nas mãos e ficam se olhando. Os dois aproximam os rostos, quase se beijando. Nesse momento, o sinal toca.
HUGO (sem graça): É... vamo pra sala?
    Lia faz que sim com a cabeça. Os dois vão para a sala de aula.
Cena 06. Int. Casa de Juliette. Sala. Dia.
    Dionísio está sentado no sofá. Juliette volta da piscina.
DIONÍSIO: Que bom que você já voltou, Juliette. Eu tô precisando falar com você.
JULIETTE: Agora não, Dionísio. Eu vou tomar um banho, depois eu...
DIONÍSIO (interrompe): É agora ou nunca, Juliette.
JULIETTE: Ah, então fala logo, seu chato de galocha.
DIONÍSIO: Você já tomou sua decisão?
JULIETTE: Refresque minha memória, que eu não lembro de ter prometido decidir nada.
DIONÍSIO: Você aceita voltar a ser minha esposa?
JULIETTE: Ah, Dionísio, lá vem você de novo com essa pergunta. Troca o disco.
DIONÍSIO: Primeiro me responde, que eu paro de te perguntar.
JULIETTE: Quer saber mesmo? Não, eu não vou voltar a ser sua esposa.
DIONÍSIO: Não vai? Então eu vou virar gay.
JULIETTE: Como é que é? Ah, mas não vai mesmo! É agora que eu te faço macho!
    Juliette sobe no sofá e beija Dionísio.
Cena 07. Int. Prefeitura. Escritório de Golias. Dia.
    Golias organiza alguns documentos em seu escritório.
GOLIAS: É agora que eu tô lascado, mesmo. A Leolina tá conseguindo mais votos do que eu imaginava. A minha reeleição tá indo pro buraco! Eu preciso achar um jeito de garantir que eu continue sendo o prefeito da cidade de Esmeralda.
    Golias tem uma ideia.
GOLIAS: Golias de Melo, você é um gênio! Um gênio!
    Golias começa a beijar ele mesmo.
    Imagem do relógio do escritório. Os ponteiros se mexem rapidamente, sugerindo a passagem das horas.
    Agora já está de tarde e Golias está de pé, em frente a um piloto de helicóptero.
GOLIAS: Bem, você já entendeu o que está em jogo, não é? Nada pode dar errado.
PILOTO: Tudo bem, seu prefeito. Mas o senhor também tem que cumprir com a sua parte.
GOLIAS: Depois que nós fizermos o combinado, eu acerto com você.
    O piloto sorri.
Cena 08. Ext. Heliponto. Tarde.
    (Sonoplastia: Planeta dos Macacos – Jota Quest)
    Golias e o piloto entram em um helicóptero particular do prefeito. Golias segura uma maleta. O helicóptero começa a sobrevoar a cidade de Esmeralda.
GOLIAS (grita): É pra vocês, Esmeralda!!!
    Golias abre a maleta, que está cheia de dinheiro, e começa a jogar as cédulas pelos ares, para que a população pegue.
    (Sonoplastia: Fade Out – Planeta dos Macacos)
Cena 09. Int. Comitê de Leolina. Interior. Tarde.
    Leolina assina alguns documentos em seu comitê. Pela janela, ela vê o dinheiro caindo.
LEOLINA (ri): Eu devo ter ficado louca com esse comício.
    Leolina esfrega os olhos e novamente olha pela janela. O dinheiro continua caindo.
LEOLINA (abrindo a janela): Tá chovendo dinheiro! É milagre?
    Leolina olha para cima e vê o helicóptero de Golias sobrevoando a cidade.
LEOLINA (grita): Trapaceiro!
    Leolina olha para os lados e pega algumas notas.
Cena 10. Ext. Fazenda de Lourival. Campo. Tarde.
    (Sonoplastia: Pais e Filhos – Legião Urbana)
    Lourival está sentado em sua cadeira de balanço, do lado de fora da casa, vendo Zaqueu galopar no cavalo Ventania.
LOURIVAL: Ô, meu fio, ocê me lembra tanto os meus tempo de molecote. Queria eu tornar a ter tua idade.
ZAQUEU (grita): Eia!
    O cavalo para perto de Lourival.
ZAQUEU: Falando sozinho, pai?
LOURIVAL: Só matutando aqui, fio. E aí, como é que tá o Ventania?
ZAQUEU: Ocê acredita que ele tava cheio de carrapato, pai? Mas eu já tirei tudo e agora ele tá limpim.
LOURIVAL: Zaqueu, meu fio, me responde uma coisa: ocê não sente mais nada pela Karina?
ZAQUEU: Ara, pru que essa pregunta agora?
LOURIVAL: Não, nada. Só curiosidade mermo. Mas se ocê não quiser responder, eu...
ZAQUEU (interrompe): Pai, eu ainda amo a Karina. Mas é dificir convencer ela que num fui eu que beijei a Nandinha. Ela me beijou.
LOURIVAL: Ocê beijou a Nandinha, moleque?
ZAQUEU: Tá vendo, pai? Até ocê tá duvidando de mim. Ela num perdeu a memória porcaria nenhuma. Ela tá se fingindo e quando tiver a oportunidade, ela dá o bote. Escreve o que eu tô lhe dizendo.
LOURIVAL: Se isso é vredade, pru quê que ocê num tenta convencer ela que ocê num tá mentindo?
ZAQUEU: É o que eu tento fazer todo dia, mas nada faz com que ela tire aquela cena da cabeça.
LOURIVAL: Mas Zaqueu, ocê precisa ficar cum a Karininha!
ZAQUEU: Que foi, pai? Pru que tanta preocupação?
LOURIVAL: Zaqueu, eu mais sua mãe achamo que a Karina tá grávida d’ocê.
    Zaqueu fica em estado de choque.
Cena 11. Int. Casa de Lourival. Corredor. Tarde.
    Nandinha está encostada na parede ao lado da porta do banheiro. Ouve-se o som de vômitos. Karina sai do banheiro.
NANDINHA: Tá tudo bem aí, Karina?
KARINA: Parece que tá tudo bem?
NANDINHA: Desculpa, eu só quis perguntar.
KARINA: Eu devo ter almoçado alguma coisa que não me fez bem.
NANDINHA: Karina, há quanto tempo você não fica naqueles dias?
KARINA: Ah, faz um tempinho. Se bem que esse mês, atrasou. Nandinha, você não tá achando que eu...
    Zaqueu entra.
ZAQUEU: De quem é esse filho, Karina?
    Karina olha para Zaqueu, abalada.






FIM DO CAPÍTULO
“IRONIA DO DESTINO” ESTÁ EM SUA RETA FINAL.
NÃO PERCA AS FORTES EMOÇÕES DOS ÚLTIMOS CAPÍTULOS!

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