domingo, 15 de março de 2015

Capítulo 26: Salto Alto

CAPÍTULO 26:

CENA 1: Quarto de Dayse e Roberto na casa deles, Urca, RJ. NOITE.
(Continuação imediata do capítulo anterior)
DAYSE: Sim, sério. Não contei nada porque você também não me perguntou nada.
ROBERTO: Mas como pai da Agatha você deveria ter me contado.
DAYSE: Achei que fosse algo normal.
ROBERTO: Onde elas foram?
DAYSE: Não sei, mas parece que vai ser algo bem rápido.
ROBERTO: Então é o que podemos fazer é esperar.
DAYSE: Também acho, mas de outra maneira.
ROBERTO: Dayse, melhor dormirmos, você exagerou na bebida.
DAYSE: Eu tô bem, Roberto.
ROBERTO: Vamos dormir!
Roberto dá um beijo em Dayse e deita-se novamente em sua cama.

CENA 2: Sala do apartamento de Julia, Susana e Alice na Urca, RJ. NOITE.
Alice, Susana e Julia estão sentadas no chão do apartamento.
ALICE: Valeu, meninas. Essa ideia de dividir o apartamento e tudo dele foi ótima.
SUSANA: Também acho, aí não precisamos pagar uma fortuna, cada uma paga um pouquinho.
JULIA: Exatamente.
SUSANA: O que vocês acharam da entrevista da Cínthia para a Helô?
ALICE: Eu perdi uma parte, mas gostei demais das perguntas da Helô. A Cínthia merece, me humilhou na frente de todos, é uma cadela.
JULIA: O que a Cínthia fez com você, Alice?
ALICE: Ela havia me pedido uma pesquisa até o fim do dia, aí numa reunião pela manhã ela me cobrou o material, aí eu disse que estava incompleto, que ia entregar à tarde, aí ela me humilhou e me demitiu na frente de um monte de gente, inclusive a Paula.
JULIA: Então foi aí que ela resolveu te contratar?
ALICE: Mais ou menos. Na saída da empresa, ela falou comigo aí sim começamos a falar de emprego.
JULIA: Entendi.
ALICE: Mas eu prometi para mim mesma que eu um dia vou descobrir algum podre dessa mulher e humilhá-la assim como ela fez comigo, mas, claro, vai ser muito pior.
SUSANA: (RINDO) Ela merece, né?
ALICE: Ela merece tudo do pior e mais um pouco.

CENA 3: Carro de Verônica passeando pelo Rio de Janeiro. NOITE.
Elvira dirige o carro de Verônica pelas ruas do Rio de Janeiro em direção a Nova Iguaçu.
ELVIRA: Nova Iguaçu é mesmo um fim de mundo.
AGATHA: Também acho. Já tem quase meia hora que tamos na rua e nada de chegar.
ELVIRA: Nesse GPS tá marcando o que?
AGATHA: Parece que ainda faltam mais uns trinta minutos.
ELVIRA: Parece que essa estrada não tem, mas eu faço de tudo pra tirar a minha filha das mãos daquele safado.
AGATHA: O show já deve ter começado, vou ver como estão os comentários nas redes sociais.
Agatha pega seu celular na bolsa e acessa uma rede social.
AGATHA: O pessoal está reclamando. Uma pessoa disse: ‘‘E esse show do MC Jorjão não começa! Quanta demora!’’ e outra disse: ‘‘Cadê o MC Jorjão, gente? E suas jorjetes?’’.
ELVIRA: (ALIVIADA) Pelo menos minha filha já não está dançando.
AGATHA: Elvira, você se esqueceu que a sua filha pode estar gostando disso? Afinal, ela não gosta de dançar?
ELVIRA: Sim, mas toda mãe tem uma intuição especial e algo me diz que a Ray não tá muito bem.
AGATHA: Não dá pra saber como ela tá?
ELVIRA: Eu tenho intuição, não bola de cristal, oráculo, ou algo do tipo.
AGATHA: Bem que você podia ter, né?
ELVIRA: Falar que podia é tão bom, mas na prática não é tão fácil assim.
AGATHA: Como assim?
ELVIRA: Nem tudo o que a gente quer, é o que temos.
AGATHA: Filosofando! Deixando Aristóteles no sapatinho.
ELVIRA: (RINDO) Não é pra tanto.

CENA 4: Cela em delegacia na Urca, RJ. NOITE.
Verônica está deitada no chão da cela. Ao seu lado, está Vilma, que está sentada. Um carcereiro chega e entrega um celular discretamente para Vilma.
VILMA: Valeu!
Verônica observa a cena e estranha.
VILMA: Quer saber de umas fofocas? Adoro celebridades.
VERÔNICA: Também.
VILMA: Presta atenção: ‘‘Helô Ambrósio e Cínthia Corlonn caem de escada em entrevista ao vivo e vão parar no mesmo hospital’’.
VERÔNICA: Bem feito! Duas falsas, devem ter armado uma pra outra e acabaram se ferrando em dose dupla.
VILMA: Também acho. Aqui ainda diz que a entrevista foi completa de respostas mal educadas dadas pelas duas.
VERÔNICA: (RINDO) Não duvido! São duas barraqueiras que tentam não perder a pose de ricas.
VILMA: Tá falando que Helô foi fazendo várias perguntas sobre a My Body, deixando Cínthia furiosa, que começou a revidar.
VERÔNICA: Deve ter sido hilário.
VILMA: Uhum. Aqui ainda não tá com o vídeo, amanhã a gente vê.
VERÔNICA: Tá, mas você só pediu esse telefone pra ficar lendo fofoca?
VILMA: Claro que não. Eu não te disse que ia te tirar daqui pra você fazer meus serviços?! Por isso pedi isso.
VERÔNICA: Entendi.
VILMA: E ainda preciso fechar uns negócios com um cara.
VERÔNICA: Que tipo de negócio?
VILMA: Tráfico de mulher.
VERÔNICA: Pra prostituta?
VILMA: Pra escrava também.
VERÔNICA: Que tipo de escravidão? E aonde?
VILMA: Existem vários tipos, mas o que mais me procuram é o para trabalho em lugares do campo aqui do Brasil mesmo, bem no interior.
VERÔNICA: Deve ser o fim do mundo lá.
VILMA: É quase lá.

CENA 5: Camarim em galpão/casa de shows em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Wesley Alcântara entra no camarim.
WESLEY: Eta, essas meninas estão ótimas, Diógenes. Cadê o Jorjão?
DIÓGENES: Tá no banheiro se arrumando.
MC Jorjão sai do banheiro do camarim.
WESLEY: Bora gente.
MC JORJÃO: Já tô pronto.
As meninas saem do camarim levadas por MC Jorjão pelos braços e Diógenes e Wesley continuam no camarim.
DIÓGENES: Vai ficar aqui sozinho, Wesley?
WESLEY: Por enquanto não. Quero falar com você.
DIÓGENES: Só não pode demorar muito.
WESLEY: Vou tentar ser breve.
DIÓGENES: Tá.
WESLEY: Quero que continuem ameaçando acabar com a família dessas garotas se elas não quiserem fazer o que tão mandando.
DIÓGENES: Tá. Você já conseguiu instalar a câmera na casa da Rayane?
WESLEY: Sim. Acabei de vir de lá. O pai se machucou, aí eu fui fazer um curativo e consegui colocar a micro câmera lá.
DIÓGENES: Ótimo. Mas qual teu plano com essas meninas?
WESLEY: Eu tava pensando em mandar eles pro mercado ou algo aqui no Rio mesmo
DIÓGENES: Prostituição?
WESLEY: Sim, e se o mercado não quiser até trabalho escravo eu fecho negócio.
DIÓGENES: Quando vai levar elas?
WESLEY: Hoje mesmo.
DIÓGENES: O MC Jorjão sabe disso?
WESLEY: Claro que não.
DIÓGENES: Por que você não contou pra ele?
WESLEY: Ele sabe que precisamos manter essas dançarinas aqui, mas ele não sabe o motivo.
DIÓGENES: Você sabe que eu cheguei tem menos de um mês. Ele é tão burro e fácil de enganar assim mesmo?
WESLEY: Mais ou menos, mas precisamos tomar cuidado.
DIÓGENES: Como você pretende tirar as meninas daqui?
WESLEY: No fim do show todos vão ver uma surpresinha.
DIÓGENES: Que é...
WESLEY: Não se faça de burro também. Já que é surpresa, não vou falar.
DIÓGENES: Já posso ir pro espaço VIP?
WESLEY: Pode, mas se abrir seu bico, te depeno na hora.
DIÓGENES: Tá bom.
Diógenes sai do camarim. Wesley continua lá, sentado, lendo algumas fichas que estão em cima da mesa.

CENA 6: Recepção de hospital na Urca, RJ. NOITE.
Aparece na tela um letreiro com:
TRINTA MINUTOS DEPOIS...
Heloísa e Cínthia continuam sentadas nas cadeiras da recepção, esperando pelo médico.
ENFERMEIRA: (LEVE GRITO) Senhoras Heloísa Ambrósio e Cínthia Corlonn.
Heloísa e Cínthia, acompanhada de Rejane e Ingrid aproximam-se da enfermeira.
ENFERMEIRA: (PARA INGRID E REJANE) Por favor, só as duas senhoras. Vocês duas esperem aqui fora.
REJANE: Que absurdo!
Heloísa e Cínthia entram na sala do médico.

CENA 7: Sala do médico em hospital na Urca, RJ. NOITE.
Heloísa e Cínthia entram na sala do médico.
DR. PEDRO: Boa noite, senhoras. Sou o doutor Pedro.
HELOÍSA: Que absurdo. Eu pago pra ser atendida em conjunto, numa mesma consulta.
DR. PEDRO: Bem, foi a solicitação da sua equipe, dona Heloísa Ambrósio. É esse seu nome? Falei certo?
HELOÍSA: Esse mesmo.
CÍNTHIA: (AMEÇANDO SE LEVANTAR) Eu não admito uma coisa dessas. Me dê licença.
DR. PEDRO: Senhoras, eu consigo atendê-las ao mesmo tempo, até porque foi o mesmo tipo de queda. É algo não muito difícil: vou pedir Raio-X para as duas e daqui a pouco me tragam os resultados. Só falar com a enfermeira.
Heloísa e Cínthia saem insatisfeitas da sala do doutor Pedro.

CENA 8: Carro de Verônica pelas ruas de Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Elvira continua dirigindo o carro, até que encontra o galpão onde está acontecendo o show de MC Jorjão.
AGATHA: É aqui.
ELVIRA: Até que enfim.
AGATHA: Vamos sair logo. Esse lugar aqui é muito sinistro.
Agatha e Elvira saem rapidamente do carro e entram no galpão.

CENA 9: Sala da casa de Álvaro, Lapa, RJ. NOITE.
A campainha toca.
Karina abre a porta e encontra Clécio do lado de fora.
KARINA: Tá fazendo o que aqui, Clécio?
Álvaro escuta a conversa.
ÁLVARO: (PARA CLÉCIO) Sai daqui, senão vou chamar a polícia.
CLÉCIO: (PARA KARINA) Deixa eu entrar. Preciso me resolver com seu pai.
KARINA: Tá, mas se ficarem de briga, eu grito pra te tirarem daqui.
CLÉCIO: Pode deixar que eu só quero conversa.
Clécio entra na casa e Karina fecha a porta.
ÁLVARO: Como você deixa esse safado entrar aqui, Karina?
KARINA: Pai, você se conhecem há tanto tempo. Por que não conversam?!
ÁLVARO: Não temos o que conversar.
KARINA: Claro que têm. Vocês precisam esclarecer esse mal entendido do passado.
ÁLVARO: Você tá defendendo esse canalha?
KARINA: Não tô defendendo ninguém, pai. Eu só estou falando o que eu acho que vocês devem fazer. Uma pessoa como a Elvira não pode acabar com essa amizade.
ÁLVARO: Tá bom.
Karina sai da sala e vai para seu quarto, junto com Viviane, deixando Clécio e Álvaro sozinhos na sala.

CENA 10: Entrada do galpão/casa de shows em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Elvira e Agatha chegam à casa de shows.
SEGURANÇA: Ingressos, por favor.
AGATHA: (FINGINDO) Caramba! Como fomos nos esquecer logo dos ingressos?
SEGURANÇA: Só entra com ingresso.
AGATHA: Tá.
Agatha e Elvira afastam-se do segurança e observam Wesley falando no telefone.
ELVIRA: (PARA AGATHA) Esse cara é alguma coisa do MC Jorjão, né? Lembro de ter visto ele na Internet quando pesquisamos sobre o show.
AGATHA: Sim. É um dos produtores.
Elvira e Agatha continuam escutando a conversa de Wesley.
WESLEY: (POR TEL.) Tá tudo certo por aqui.
VILMA: (POR TEL.) Ótimo. Vai vender pra onde?
WESLEY: Parece que os indianos estão mesmo querendo essas garotas. A Rayane é uma ótima oferta, já a outra mais ou menos.
VILMA: Eles tão pagando melhor que aquele cara do Egito?
WESLEY: Um pouco menos.
VILMA: Então manda elas pro Egito.
WESLEY: Mas lá no Egito como prostitutas elas vão morrer logo, é uma seca pior que a do Nordeste.
VILMA: Dane-se. O cara que cuide delas!
WESLEY: Então logo que acabar o show elas vazam daqui.
VILMA: E o funkeiro?
WESLEY: Eu digo pro Jorjão que um grupo internacional quis elas.
VILMA: Ótimo. Ele não pode desconfiar desse tráfico.
WESLEY: Tá. Pra ele, nós só queremos elas aqui pra depois mandar pra bandas do exterior.
VILMA: Preciso ir. A polícia aqui tá de olho. Tchau.
Wesley desliga o telefone e entra no galpão.
ELVIRA: Meu Deus. Esse cara quer vender a minha filha.
AGATHA: Que safados.
ELVIRA: O que vamos fazer?
AGATHA: Tem um carro da polícia aqui perto. Lembra que vimos ele quando estávamos aqui perto?
ELVIRA: Sim, mas se a polícia chegar logo, esses safados vão levar minha filha pro Egito.
AGATHA: É mesmo.
Agatha fica pensando e olha uns meninos armando bombinhas caseiras.
AGATHA: Já sei!
Agatha anda um pouco para falar com os meninos.
AGATHA: Meninos, vocês podem me fazer um favor?
MENINO: Qual, gatinha?
AGATHA: Se toca, tá? É porque eu queria que vocês estourassem uma dessas bombinhas perto daquele segurança para eu poder entrar no show.
MENINO: Tá, mas aí precisa de um dinheirinho.
AGATHA: Tá. Vinte tá bom?
MENINO: Tá. Quebra um galho.
AGATHA: Valeu.
Agatha pega uma nota de vinte reais no seu bolso e dá para o menino. Os meninos aproximam-se do segurança, carregando a bombinha e a disparam, deixando o segurança muito assustado.
SEGURANÇA: (ASSUSTADO/GRITANDO) Que isso?!
Aproveitando do descuido do segurança, aproximadamente quinze pessoas conseguem entrar no galpão, inclusive Agatha e Elvira.

CENA 11: Galpão/casa de shows em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Elvira e Agatha conseguem entrar no galpão. Elvira vê a filha dançando em cima do palco.
ELVIRA: (APONTANDO PARA O PALCO) Olha minha filha lá, Agatha.
Rayane e Shirley estão em cima do palco dançando bem juntinhas de MC Jorjão, mas as meninas não disfarçam a cara de insatisfação.
AGATHA: Parece mesmo que ela não tá gostando.
ELVIRA: Esse cara fica se agarrando com a minha filha. É um cretino!
Agatha e Elvira vão andando cada vez mais perto do palco. Elvira vê que há um segurança na escada que dá acesso ao palco.
ELVIRA: Tem segurança ali. O que a gente faz?
AGATHA: Eu vou gritar falando que tem alguém me agarrando, aí ele vem e eu falo que o tarado saiu correndo.
ELVIRA: Ótimo.
Elvira se afasta de Agatha e se aproxima da escada que dá acesso ao palco.
AGATHA: (GRITANDO) Socorro, segurança! Tem um tarado aqui.
O segurança logo corre para ‘‘ajudar’’ Agatha, e Elvira aproveita e sobe no palco.
SEGURANÇA: (PARA AGATHA) O que foi?
AGATHA: (FINGINDO CHORO) Era um tarado, ficou apertando meu peito e minha bunda.
SEGURANÇA: Cadê ele?
AGATHA: Deve ter fugido.
Elvira, no palco, aproxima-se de MC Jorjão, dá um tapa na cara dele e empurra o funkeiro, que cai no chão. Elvira pega o microfone da mão dele.
ELVIRA: (GRITANDO) Esse cara é um safado! Ele faz parte de uma quadrilha de prostituição!


CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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