CAPÍTULO
26:
CENA 1: Quarto de Dayse
e Roberto na casa deles, Urca, RJ. NOITE.
(Continuação
imediata do capítulo anterior)
DAYSE:
Sim, sério. Não contei nada porque você também não me perguntou nada.
ROBERTO:
Mas como pai da Agatha você deveria ter me contado.
DAYSE:
Achei que fosse algo normal.
ROBERTO:
Onde elas foram?
DAYSE:
Não sei, mas parece que vai ser algo bem rápido.
ROBERTO:
Então é o que podemos fazer é esperar.
DAYSE:
Também acho, mas de outra maneira.
ROBERTO:
Dayse, melhor dormirmos, você exagerou na bebida.
DAYSE:
Eu tô bem, Roberto.
ROBERTO:
Vamos dormir!
Roberto
dá um beijo em Dayse e deita-se novamente em sua cama.
CENA 2: Sala do
apartamento de Julia, Susana e Alice na Urca, RJ. NOITE.
Alice,
Susana e Julia estão sentadas no chão do apartamento.
ALICE:
Valeu, meninas. Essa ideia de dividir o apartamento e tudo dele foi ótima.
SUSANA:
Também acho, aí não precisamos pagar uma fortuna, cada uma paga um pouquinho.
JULIA:
Exatamente.
SUSANA:
O que vocês acharam da entrevista da Cínthia para a Helô?
ALICE:
Eu perdi uma parte, mas gostei demais das perguntas da Helô. A Cínthia merece,
me humilhou na frente de todos, é uma cadela.
JULIA:
O que a Cínthia fez com você, Alice?
ALICE:
Ela havia me pedido uma pesquisa até o fim do dia, aí numa reunião pela manhã
ela me cobrou o material, aí eu disse que estava incompleto, que ia entregar à
tarde, aí ela me humilhou e me demitiu na frente de um monte de gente,
inclusive a Paula.
JULIA:
Então foi aí que ela resolveu te contratar?
ALICE:
Mais ou menos. Na saída da empresa, ela falou comigo aí sim começamos a falar
de emprego.
JULIA:
Entendi.
ALICE:
Mas eu prometi para mim mesma que eu um dia vou descobrir algum podre dessa
mulher e humilhá-la assim como ela fez comigo, mas, claro, vai ser muito pior.
SUSANA:
(RINDO) Ela merece, né?
ALICE:
Ela merece tudo do pior e mais um pouco.
CENA 3: Carro de
Verônica passeando pelo Rio de Janeiro. NOITE.
Elvira
dirige o carro de Verônica pelas ruas do Rio de Janeiro em direção a Nova
Iguaçu.
ELVIRA:
Nova Iguaçu é mesmo um fim de mundo.
AGATHA:
Também acho. Já tem quase meia hora que tamos na rua e nada de chegar.
ELVIRA:
Nesse GPS tá marcando o que?
AGATHA:
Parece que ainda faltam mais uns trinta minutos.
ELVIRA:
Parece que essa estrada não tem, mas eu faço de tudo pra tirar a minha filha
das mãos daquele safado.
AGATHA:
O show já deve ter começado, vou ver como estão os comentários nas redes
sociais.
Agatha
pega seu celular na bolsa e acessa uma rede social.
AGATHA:
O pessoal está reclamando. Uma pessoa disse: ‘‘E esse show do MC Jorjão não
começa! Quanta demora!’’ e outra disse: ‘‘Cadê o MC Jorjão, gente? E suas
jorjetes?’’.
ELVIRA:
(ALIVIADA) Pelo menos minha filha já não está dançando.
AGATHA:
Elvira, você se esqueceu que a sua filha pode estar gostando disso? Afinal, ela
não gosta de dançar?
ELVIRA:
Sim, mas toda mãe tem uma intuição especial e algo me diz que a Ray não tá
muito bem.
AGATHA:
Não dá pra saber como ela tá?
ELVIRA:
Eu tenho intuição, não bola de cristal, oráculo, ou algo do tipo.
AGATHA:
Bem que você podia ter, né?
ELVIRA:
Falar que podia é tão bom, mas na prática não é tão fácil assim.
AGATHA:
Como assim?
ELVIRA:
Nem tudo o que a gente quer, é o que temos.
AGATHA:
Filosofando! Deixando Aristóteles no sapatinho.
ELVIRA:
(RINDO) Não é pra tanto.
CENA 4: Cela em
delegacia na Urca, RJ. NOITE.
Verônica
está deitada no chão da cela. Ao seu lado, está Vilma, que está sentada. Um
carcereiro chega e entrega um celular discretamente para Vilma.
VILMA:
Valeu!
Verônica
observa a cena e estranha.
VILMA:
Quer saber de umas fofocas? Adoro celebridades.
VERÔNICA:
Também.
VILMA:
Presta atenção: ‘‘Helô Ambrósio e Cínthia Corlonn caem de escada em entrevista
ao vivo e vão parar no mesmo hospital’’.
VERÔNICA:
Bem feito! Duas falsas, devem ter armado uma pra outra e acabaram se ferrando
em dose dupla.
VILMA:
Também acho. Aqui ainda diz que a entrevista foi completa de respostas mal
educadas dadas pelas duas.
VERÔNICA:
(RINDO) Não duvido! São duas barraqueiras que tentam não perder a pose de
ricas.
VILMA:
Tá falando que Helô foi fazendo várias perguntas sobre a My Body, deixando
Cínthia furiosa, que começou a revidar.
VERÔNICA:
Deve ter sido hilário.
VILMA:
Uhum. Aqui ainda não tá com o vídeo, amanhã a gente vê.
VERÔNICA:
Tá, mas você só pediu esse telefone pra ficar lendo fofoca?
VILMA:
Claro que não. Eu não te disse que ia te tirar daqui pra você fazer meus
serviços?! Por isso pedi isso.
VERÔNICA:
Entendi.
VILMA:
E ainda preciso fechar uns negócios com um cara.
VERÔNICA:
Que tipo de negócio?
VILMA:
Tráfico de mulher.
VERÔNICA:
Pra prostituta?
VILMA:
Pra escrava também.
VERÔNICA:
Que tipo de escravidão? E aonde?
VILMA:
Existem vários tipos, mas o que mais me procuram é o para trabalho em lugares
do campo aqui do Brasil mesmo, bem no interior.
VERÔNICA:
Deve ser o fim do mundo lá.
VILMA:
É quase lá.
CENA 5: Camarim em
galpão/casa de shows em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Wesley
Alcântara entra no camarim.
WESLEY:
Eta, essas meninas estão ótimas, Diógenes. Cadê o Jorjão?
DIÓGENES:
Tá no banheiro se arrumando.
MC
Jorjão sai do banheiro do camarim.
WESLEY:
Bora gente.
MC
JORJÃO: Já tô pronto.
As
meninas saem do camarim levadas por MC Jorjão pelos braços e Diógenes e Wesley
continuam no camarim.
DIÓGENES:
Vai ficar aqui sozinho, Wesley?
WESLEY:
Por enquanto não. Quero falar com você.
DIÓGENES:
Só não pode demorar muito.
WESLEY:
Vou tentar ser breve.
DIÓGENES:
Tá.
WESLEY:
Quero que continuem ameaçando acabar com a família dessas garotas se elas não
quiserem fazer o que tão mandando.
DIÓGENES:
Tá. Você já conseguiu instalar a câmera na casa da Rayane?
WESLEY:
Sim. Acabei de vir de lá. O pai se machucou, aí eu fui fazer um curativo e
consegui colocar a micro câmera lá.
DIÓGENES:
Ótimo. Mas qual teu plano com essas meninas?
WESLEY:
Eu tava pensando em mandar eles pro mercado ou algo aqui no Rio mesmo
DIÓGENES:
Prostituição?
WESLEY:
Sim, e se o mercado não quiser até trabalho escravo eu fecho negócio.
DIÓGENES:
Quando vai levar elas?
WESLEY:
Hoje mesmo.
DIÓGENES:
O MC Jorjão sabe disso?
WESLEY:
Claro que não.
DIÓGENES:
Por que você não contou pra ele?
WESLEY:
Ele sabe que precisamos manter essas dançarinas aqui, mas ele não sabe o
motivo.
DIÓGENES:
Você sabe que eu cheguei tem menos de um mês. Ele é tão burro e fácil de
enganar assim mesmo?
WESLEY:
Mais ou menos, mas precisamos tomar cuidado.
DIÓGENES:
Como você pretende tirar as meninas daqui?
WESLEY:
No fim do show todos vão ver uma surpresinha.
DIÓGENES:
Que é...
WESLEY:
Não se faça de burro também. Já que é surpresa, não vou falar.
DIÓGENES:
Já posso ir pro espaço VIP?
WESLEY:
Pode, mas se abrir seu bico, te depeno na hora.
DIÓGENES:
Tá bom.
Diógenes
sai do camarim. Wesley continua lá, sentado, lendo algumas fichas que estão em
cima da mesa.
CENA 6: Recepção de
hospital na Urca, RJ. NOITE.
Aparece
na tela um letreiro com:
TRINTA MINUTOS DEPOIS...
Heloísa
e Cínthia continuam sentadas nas cadeiras da recepção, esperando pelo médico.
ENFERMEIRA:
(LEVE GRITO) Senhoras Heloísa Ambrósio e Cínthia Corlonn.
Heloísa
e Cínthia, acompanhada de Rejane e Ingrid aproximam-se da enfermeira.
ENFERMEIRA:
(PARA INGRID E REJANE) Por favor, só as duas senhoras. Vocês duas esperem aqui
fora.
REJANE:
Que absurdo!
Heloísa
e Cínthia entram na sala do médico.
CENA 7: Sala do médico
em hospital na Urca, RJ. NOITE.
Heloísa
e Cínthia entram na sala do médico.
DR.
PEDRO: Boa noite, senhoras. Sou o doutor Pedro.
HELOÍSA:
Que absurdo. Eu pago pra ser atendida em conjunto, numa mesma consulta.
DR.
PEDRO: Bem, foi a solicitação da sua equipe, dona Heloísa Ambrósio. É esse seu
nome? Falei certo?
HELOÍSA:
Esse mesmo.
CÍNTHIA:
(AMEÇANDO SE LEVANTAR) Eu não admito uma coisa dessas. Me dê licença.
DR.
PEDRO: Senhoras, eu consigo atendê-las ao mesmo tempo, até porque foi o mesmo
tipo de queda. É algo não muito difícil: vou pedir Raio-X para as duas e daqui
a pouco me tragam os resultados. Só falar com a enfermeira.
Heloísa
e Cínthia saem insatisfeitas da sala do doutor Pedro.
CENA 8: Carro de
Verônica pelas ruas de Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Elvira
continua dirigindo o carro, até que encontra o galpão onde está acontecendo o
show de MC Jorjão.
AGATHA:
É aqui.
ELVIRA:
Até que enfim.
AGATHA:
Vamos sair logo. Esse lugar aqui é muito sinistro.
Agatha
e Elvira saem rapidamente do carro e entram no galpão.
CENA 9: Sala da casa de
Álvaro, Lapa, RJ. NOITE.
A
campainha toca.
Karina
abre a porta e encontra Clécio do lado de fora.
KARINA:
Tá fazendo o que aqui, Clécio?
Álvaro
escuta a conversa.
ÁLVARO:
(PARA CLÉCIO) Sai daqui, senão vou chamar a polícia.
CLÉCIO:
(PARA KARINA) Deixa eu entrar. Preciso me resolver com seu pai.
KARINA:
Tá, mas se ficarem de briga, eu grito pra te tirarem daqui.
CLÉCIO:
Pode deixar que eu só quero conversa.
Clécio
entra na casa e Karina fecha a porta.
ÁLVARO:
Como você deixa esse safado entrar aqui, Karina?
KARINA:
Pai, você se conhecem há tanto tempo. Por que não conversam?!
ÁLVARO:
Não temos o que conversar.
KARINA:
Claro que têm. Vocês precisam esclarecer esse mal entendido do passado.
ÁLVARO:
Você tá defendendo esse canalha?
KARINA:
Não tô defendendo ninguém, pai. Eu só estou falando o que eu acho que vocês
devem fazer. Uma pessoa como a Elvira não pode acabar com essa amizade.
ÁLVARO:
Tá bom.
Karina
sai da sala e vai para seu quarto, junto com Viviane, deixando Clécio e Álvaro
sozinhos na sala.
CENA 10: Entrada do galpão/casa
de shows em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Elvira
e Agatha chegam à casa de shows.
SEGURANÇA:
Ingressos, por favor.
AGATHA:
(FINGINDO) Caramba! Como fomos nos esquecer logo dos ingressos?
SEGURANÇA:
Só entra com ingresso.
AGATHA:
Tá.
Agatha
e Elvira afastam-se do segurança e observam Wesley falando no telefone.
ELVIRA:
(PARA AGATHA) Esse cara é alguma coisa do MC Jorjão, né? Lembro de ter visto
ele na Internet quando pesquisamos sobre o show.
AGATHA:
Sim. É um dos produtores.
Elvira
e Agatha continuam escutando a conversa de Wesley.
WESLEY:
(POR TEL.) Tá tudo certo por aqui.
VILMA:
(POR TEL.) Ótimo. Vai vender pra onde?
WESLEY:
Parece que os indianos estão mesmo querendo essas garotas. A Rayane é uma ótima
oferta, já a outra mais ou menos.
VILMA:
Eles tão pagando melhor que aquele cara do Egito?
WESLEY:
Um pouco menos.
VILMA:
Então manda elas pro Egito.
WESLEY:
Mas lá no Egito como prostitutas elas vão morrer logo, é uma seca pior que a do
Nordeste.
VILMA:
Dane-se. O cara que cuide delas!
WESLEY:
Então logo que acabar o show elas vazam daqui.
VILMA:
E o funkeiro?
WESLEY:
Eu digo pro Jorjão que um grupo internacional quis elas.
VILMA:
Ótimo. Ele não pode desconfiar desse tráfico.
WESLEY:
Tá. Pra ele, nós só queremos elas aqui pra depois mandar pra bandas do
exterior.
VILMA:
Preciso ir. A polícia aqui tá de olho. Tchau.
Wesley
desliga o telefone e entra no galpão.
ELVIRA:
Meu Deus. Esse cara quer vender a minha filha.
AGATHA:
Que safados.
ELVIRA:
O que vamos fazer?
AGATHA:
Tem um carro da polícia aqui perto. Lembra que vimos ele quando estávamos aqui
perto?
ELVIRA:
Sim, mas se a polícia chegar logo, esses safados vão levar minha filha pro
Egito.
AGATHA:
É mesmo.
Agatha
fica pensando e olha uns meninos armando bombinhas caseiras.
AGATHA:
Já sei!
Agatha
anda um pouco para falar com os meninos.
AGATHA:
Meninos, vocês podem me fazer um favor?
MENINO:
Qual, gatinha?
AGATHA:
Se toca, tá? É porque eu queria que vocês estourassem uma dessas bombinhas
perto daquele segurança para eu poder entrar no show.
MENINO:
Tá, mas aí precisa de um dinheirinho.
AGATHA:
Tá. Vinte tá bom?
MENINO:
Tá. Quebra um galho.
AGATHA:
Valeu.
Agatha
pega uma nota de vinte reais no seu bolso e dá para o menino. Os meninos
aproximam-se do segurança, carregando a bombinha e a disparam, deixando o
segurança muito assustado.
SEGURANÇA:
(ASSUSTADO/GRITANDO) Que isso?!
Aproveitando
do descuido do segurança, aproximadamente quinze pessoas conseguem entrar no
galpão, inclusive Agatha e Elvira.
CENA 11: Galpão/casa de
shows em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Elvira
e Agatha conseguem entrar no galpão. Elvira vê a filha dançando em cima do
palco.
ELVIRA:
(APONTANDO PARA O PALCO) Olha minha filha lá, Agatha.
Rayane
e Shirley estão em cima do palco dançando bem juntinhas de MC Jorjão, mas as
meninas não disfarçam a cara de insatisfação.
AGATHA:
Parece mesmo que ela não tá gostando.
ELVIRA:
Esse cara fica se agarrando com a minha filha. É um cretino!
Agatha
e Elvira vão andando cada vez mais perto do palco. Elvira vê que há um
segurança na escada que dá acesso ao palco.
ELVIRA:
Tem segurança ali. O que a gente faz?
AGATHA:
Eu vou gritar falando que tem alguém me agarrando, aí ele vem e eu falo que o
tarado saiu correndo.
ELVIRA:
Ótimo.
Elvira
se afasta de Agatha e se aproxima da escada que dá acesso ao palco.
AGATHA:
(GRITANDO) Socorro, segurança! Tem um tarado aqui.
O
segurança logo corre para ‘‘ajudar’’ Agatha, e Elvira aproveita e sobe no
palco.
SEGURANÇA:
(PARA AGATHA) O que foi?
AGATHA:
(FINGINDO CHORO) Era um tarado, ficou apertando meu peito e minha bunda.
SEGURANÇA:
Cadê ele?
AGATHA:
Deve ter fugido.
Elvira,
no palco, aproxima-se de MC Jorjão, dá um tapa na cara dele e empurra o
funkeiro, que cai no chão. Elvira pega o microfone da mão dele.
ELVIRA:
(GRITANDO) Esse cara é um safado! Ele faz parte de uma quadrilha de
prostituição!
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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