(Continuação imediata do capítulo anterior)
MC JORJÃO: (ESPANTADO) Quem é tu?
ELVIRA: Não se lembra de mim, seu canalha?
MC JORJÃO: Não.
ELVIRA: Então é melhor se lembrar logo.
MC JORJÃO: Mãe da Ray?
RAYANE: Ray é sua vó. Esse cara é um tarado.
ELVIRA: Safado! Eu percebi que algo estranho tava rolando.
MC JORJÃO: Você é uma burra, nem tinha percebido.
ELVIRA: Burra é a senhora sua mãe.
MC JORJÃO: Deixa minha mãe de fora dessa.
RAYANE: Então deixa a minha também.
MC JORJÃO: Ela que tá se intrometendo.
ELVIRA: Estou de olho no que você tava fazendo com essas meninas.
MC JORJÃO: Nada.
ELVIRA: Ainda né? Seus planos devem ser bem podres.
MC JORJÃO: Não gosto de planos.
ELVIRA: Ah, já sei. É porque quem cria seus planos é o seu chefe.
MC JORJÃO: (ESPANTADO) Que chefe?
ELVIRA: Já já você vai saber.
Cinco policiais entram na casa de shows e sobem no palco.
POLICIAL: Todos quietos. Para o som. Recebemos uma denúncia anônima. Por isso, você, funkeiro, e seu empresário, Diógenes, estão presos.
MC JORJÃO: O que nós fez?
POLICIAL: Quer saber o que vocês fizeram?
MC JORJÃO: É.
POLICIAL: Então, você está preso por formação de quadrilha, e seu empresário também, assim como cárcere privado, e ele, uso ilegal da profissão e falsidade ideológica.
MC JORJÃO: Falsidade é o que tá rolando aqui?
POLICIAL: Tá me chamando de mentiroso?
MC JORJÃO: Tô.
POLICIAL: Desacato! Algemem os dois e catem o terceiro elemento.
MC JORJÃO: Que terceiro?
POLICIAL: Não tente nos enganar, sabemos da existência de um ‘‘chefão’’.
MC JORJÃO: Seu polícia, e meu show?
POLICIAL: Cancelado. Mas todo mundo vai pra delegacia.
O policial pega o microfone para falar para todos.
POLICIAL: (PARA TODOS) O show está encerrado, e todos deverão nos acompanhar para a delegacia. Caso contrário, vão direto pro xadrez.
As pessoas gritam e reclamam.
CENA 2: Sala da casa de Clécio, Lapa, RJ. NOITE.
Clécio senta-se no sofá da sala.
ÁLVARO: Por algum acaso eu permiti você sentar?
CLÉCIO: Não. Álvaro, não me trate assim, não podemos acabar com nossa amizade.
ÁLVARO: Clécio, você me traiu, cara. Não sei se consigo te perdoar.
CLÉCIO: Isso foi no passado. Todos nós éramos jovens.
ÁLVARO: Não vai botar culpa na juventude.
CLÉCIO: Eu só quero que você me entenda.
ÁLVARO: Não consigo entender uma traição.
CLÉCIO: Eu não te trai. Quem traiu foi a Elvira.
ÁLVARO: Traição não é só entre um casal, entre amigos também é. Você poderia ter me contado.
CLÉCIO: Mas você ia ficar muito mais furioso.
ÁLVARO: Não. Você poderia ter evitado um monte de coisas fazendo isso. A Rayane tá agora, não sei aonde, dançando pro MC Jorjão.
CLÉCIO: Não é culpa minha!
ÁLVARO: De certa forma é sim. Você deve ter ficado de fofoca com o funkeiro, e ele quis revelar isso.
CLÉCIO: Então a culpa não é minha!
ÁLVARO: Clécio, agora eu não tô perguntando de quem é a culpa. Só quero que você saia da minha vida e da vida da minha família.
CLÉCIO: Você não pode me impedir disso.
ÁLVARO: Claro que posso.
CLÉCIO: Se a Rayane for minha filha, eu vou lutar pra ficar com a guarda dela.
ÁLVARO: Ela tem 16 anos. Não merece um pai traste como você. Pai é quem cria, então sou eu.
CLÉCIO: Traste é você, que largava suas filhas pra ir dançar.
ÁLVARO: Não fale mentiras! Eu nunca deixava elas sozinhas. Minhas filhas sempre foram minha razão de viver.
CLÉCIO: (IRÔNICO) Até parece.
ÁLVARO: (GRITANDO) Cai fora da minha casa.
CLÉCIO: Já vou.
Clécio sai da casa de Álvaro, batendo a porta com força.
CENA 3: Quarto de Dayse e Roberto na casa deles, Urca, RJ. NOITE.
Dayse e Roberto estão sentados na cama deles, enquanto ela lê um livro e ele também.
DAYSE: Roberto, você acha que nós vamos conseguir reerguer a My Body?
ROBERTO: Por que está pensando nisso agora, amor?
DAYSE: Tava pensando numas coisas.
ROBERTO: Tipo...
DAYSE: Tipo isso e a Verônica. O que ela deve estar fazendo agora?
ROBERTO: Não sei. É muito difícil saber e imaginar que temos uma filha na cadeia e não podemos fazer nada pra tirá-la de lá, mas ela está precisando aprender também.
DAYSE: Sim, mas eu fico pensando demais nela.
ROBERTO: Fique mais tranquila, Dayse. Pare de pensar 24 horas por dia nisso, amor. Relaxa.
DAYSE: Não é muito fácil. Coração de mãe é algo muito diferente, único.
ROBERTO: Imagino.
DAYSE: Mas qual livro você tá lendo?
ROBERTO: É suspense, da Agatha Christie. O nome é ‘‘Um corpo na biblioteca’’.
DAYSE: É uma morte numa biblioteca?
ROBERTO: Sim, aí é chamada Miss Marple, uma famosa personagem da Agatha.
DAYSE: Conheço. É igual ao Poirot, não é?
ROBERTO: Sim, dois ícones dessa autora.
DAYSE: Adoro os livros dela.
ROBERTO: Também. E que livro é esse seu?
DAYSE: ‘‘Minha última duquesa’’, da minha quase xará.
ROBERTO: (RINDO) Como assim?
DAYSE: O nome dela é com ‘‘y’’ no final.
ROBERTO: Atah.
DAYSE: É muito bom. Fala de uma jovem chamada Cora.
ROBERTO: (INTERROMPENDO) É aquela mulher da novela ‘‘Império’’?
DAYSE: (RINDO) Não. Essa é Cora Cash, é um romance do século 19, muito bem escrito.
ROBERTO: Entendi.
O casal continua lendo seus respectivos livros.
CENA 4: Sala de espera para Raio-X em hospital na Urca, RJ. NOITE.
Cínthia e Heloísa estão numa sala de esperas para os exames de Raio-X. Uma enfermeira aparece na sala.
ENFERMEIRA: Por favor, dona Heloísa Ambrósio.
CÍNTHIA: Que absurdo! Cheguei antes que essa mulherzinha.
HELOÍSA: Mulherzinha é você.
CÍNTHIA: Eu nada. Sou uma pessoa direita. Não preciso subornar a enfermeira.
ENFERMEIRA: Agora me ofendeu, dona Cínthia. Não sou dessas.
CÍNTHIA: (IRÔNICA) Sei...
HELOÍSA: Deixa eu ir, Cínthia. Fica aqui esperando e saiba que vou ser bem lenta.
CÍNTHIA: Se demorar, te quebro de porrada.
ENFERMEIRA: Olha a boca, senhora.
CÍNTHIA: Querida, eu pago essa droga, então para de tentar me dar liçãozinha de moral.
Heloísa deixa a sala de espera.
Heloísa acompanha a enfermeira, e Cínthia fica na sala de esperas sozinha, mas seu telefone toca e ela atende.
CÍNTHIA: (POR TEL.) Alô. Quem é?
WESLEY: (POR TEL.) Oi. É Leley.
CÍNTHIA: O que aconteceu, pessoa de Rio das Flores que mais amo?
WESLEY: Sou o único de lá que você conhece, né?
CÍNTHIA: (RINDO) Exatamente, tem também um outro capacho meu. João Carvalho é o nome dele.
WESLEY: Conheço. Ele vive me ajudando nuns planos.
CÍNTHIA: Ele faz de animais?
WESLEY: Faz sim.
CÍNTHIA: Vou chamar ele então, tô precisando de animais.
WESLEY: Ok.
CÍNTHIA: Mas o que você tanto queria falar comigo?
WESLEY: Ah, tudo tá fechando. O Jorjão e o Diógenes foram presos, e eles avisaram que tão de olho em mim.
CÍNTHIA: Você ligou pra eles?
WESLEY: Não. Eles anunciaram isso no show, enquanto eu fugia discretamente.
CÍNTHIA: Espero que eles não descubram nossa armação.
WESLEY: Também espero.
CÍNTHIA: Alguém viu você saindo?
WESLEY: Não.
CÍNTHIA: Preciso agora que você fuja. Tá ficando muito arriscado.
WESLEY: Mas ainda temos poucas garotas.
CÍNTHIA: Isso não importa agora. O trabalho com animais tá dando certo.
WESLEY: Pra onde eu vou?
CÍNTHIA: Sei lá. Preciso que vá pra bem longe, mas continua com esse plano.
WESLEY: Não tô entendendo. Se eu fugir e continuar com o plano, posso ser descoberto.
CÍNTHIA: Não vai ser fácil pra polícia.
WESLEY: Então tá ótimo. Quero dificultar tudo pra eles. Já sei pra onde eu posso ir.
CÍNTHIA: Qual?
CENA 5: Sala do delegado em delegacia em Nova Iguaçu, RJ. NOITE.
Os policiais levam Elvira, Rayane e Shirley para a sala do delegado.
DEL. SILVANO: Dona Elvira e Rayane. Novamente numa delegacia?!
ELVIRA: Tá perseguindo a gente, seu delegado?
DEL. SILVANO: Hoje é meu dia de folga na Urca, mas aí me chamaram pra ficar no lugar do delegado Palmeirinha, que tá participando de um processo de pacificação de uma favela essa semana.
ELVIRA: Atah.
DEL. SILVANO: Mas vejo que hoje temos um rosto novo.
SHIRLEY: Meu nome é Shirley.
DEL. SILVANO: Continue.
SHIRLEY: Então, eu e Rayane fomos iludidas pelo MC Jorjão e assim ele nos obrigou a vir aqui pra Nova Iguaçu, tivemos que dançar com roupas minúsculas, num lugar horrível, e cheio de cachaceiro tarado, inclusive ele e o Diógenes.
DEL. SILVANO: Diógenes é o advogado e empresário, né?
POLICIAL: Isso mesmo, delegado, e ainda por cima de tudo isso, exerceu as profissões ilegalmente e com documentos falsificados.
ELVIRA: Dessa vez vai dar uma pena boa pra quem merece, delegado?
DEL. SILVANO: Eu julgo o melhor pra sociedade.
ELVIRA: (IRÔNICA) Sempre, né?
DEL. SILVANO: (SÉRIO) Sim. Dessa vez vocês estão do outro lado, mas isso é culpa de vocês mesmas.
RAYANE: Por quê?
DEL. SILVANO: Foram se meter com esse cara.
RAYANE: Por que você não disse?
DEL. SILVANO: Não sabíamos direito disso. O MC Jorjão é um laranja, junto com Diógenes. Tem um ‘‘chefão’’.
SHIRLEY: Sim.
DEL. SILVANO: Vocês viram ele?
RAYANE: Sim.
SHIRLEY: Acho que se chama Wesley.
DEL. SILVANO: Descrevam ele.
RAYANE: É moreno, alto, com pouco cabelo, sem barba, estava usando uma roupa de um baile de carnaval de Rio das Flores.
DEL. SILVANO: Certeza desses detalhes?
RAYANE: Sim, vivo observando tudo.
DEL. SILVANO: Mais fácil ainda dessa forma.
Rayane e Shirley continuam falando com o delegado, e a câmera se afasta.
CENA 6: Sala de espera para Raio-X em hospital na Urca, RJ. NOITE.
Wesley continua conversando com Cínthia.
WESLEY: Na fronteira entre Acre e alguns outros países tem muita gente com essas enchentes. Um monte de pessoal do campo e pobre que tá querendo um emprego legal.
CÍNTHIA: Você tá querendo dizer que ser prostituta é legal? Vai lá então.
WESLEY: Tô falando, Cínthia, que elas querem é trabalho!
CÍNTHIA: Entendi. Não tô podendo falar muito, tô no hospital.
WESLEY: Hospital? Por quê?
CÍNTHIA: Eu me acidentei durante uma entrevista pro programa da Helô Ambrósio na TV.
WESLEY: Aquela diva?
CÍNTHIA: Se ela é diva, eu sou a diva das divas.
WESLEY: (RINDO) Claro.
CÍNTHIA: Mais alguma coisa? A Helô também caiu e tá aqui no mesmo hospital.
WESLEY: Só uma coisinha: você empurrou ela?
CÍNTHIA: Claro que não.
WESLEY: E ela te empurrou?
CÍNTHIA: Sinceramente, não.
WESLEY: Então o que houve?
CÍNTHIA: Eu botei sabão no tapete pra ela cair e ela botou do meu lado também.
WESLEY: (RINDO MUITO ALTO) Só vocês duas mesmo!
CÍNTHIA: Vou indo. Beijo.
Cínthia usa seu telefone para procurar um contato e liga para um contato denominado ‘‘João Carvalho’’.
CÍNTHIA: (POR TEL.) João?
JOÃO CARVALHO: (POR TEL.) Oi. Quem é?
CÍNTHIA: É Cínthia Corlonn. Preciso de uns serviços seus.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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