segunda-feira, 9 de março de 2015

Despertar da Alma: 5a edição (ÚLTIMA) - Sonho

Miau! Ela me golpeou com a vassoura! Vontade que eu tenho é de unhar aquilo que ela gosta de passar perfume. Onde já se viu? Um siamês lindo como eu, sofrer essa humilhação apenas por que subiu na mesa de uma família para saborear um digníssimo salmão. Acho que vou mudar para lasanha igual ao Garfield. Pelo menos, ele é reconhecido pelo dono dele. Que muro, maneiro. Pena que tem cerca elétrica, se não ia ali brincar. Não sei por que minha dona não me bota para dormir cedo como muitas madames fazem com seus filhotes. Eu tenho que sair pelos telhados, no frio e me dá uma fome de lixo! Hum... Que delícia. Resto de arroz de forno. Do jeitinho que gostooo. Mamãe? Salva-se quem puder. Um pitbull correndo atrás de um gato. Denunciem. Denunciem. Sai cavalinho do meio do caminho aqui não é parque de diversões. Já sei !  A Caixa de correios do outro lado da rua. Ploft ! ...... aqui dentro tá me dando um soninho....acho que vou tirar um cochilo...(boceja) Ei, mas o que é isso ? Que coisa gelada é essa ? Um ratoooooooooooooooooooooooooooo. Socorro. Bip bip...beeee... Calma faróis de carro, eu só estou fugindo de uma ratazana enorme do outro lada rua. Que petulância você quase me amassou com essa roda. Em Paris, os pedestres tem sempre razão. Ufa! Consegui! Será que estraguei meu topete ? Onde tem uma poça de água para me olhar? Caramba nem choveu hoje, vira essa boca para lá Oliver. Como você pode desejar que aquele riacho caía do céu, se está tão...Ping Ping. Eu e a minha boca grande. STARS. Que raio foi aquele. Árvores eu preciso de vocês. Se bem que é muito perigoso na rua. Preciso me esconder, depressa...Mas que pitel é aquele ? Que gata persa mais linda. Isso balança o rabinho para o tigrão aqui. Deixa o brinquedinho espetado desse gatão aqui. Mas que rebolado. Que traseiro. Que vontade de ouvir para lua. Ei! Psiu! Olha para cá. Olha. Isso vem para cá, vem tocar nesse bonitão todo bobão aqui. Plaft. Mas que diabo foi isso? Se não me queria, pelo menos não desse esse tapão na minha cara. Se tá rindo de quê? Invejosa. Só por que não pode chegar no auge da minha beleza. Hum! Cara do céu, eu estou tomando chuva. Que frio rapaz. Preciso encontrar meu abrigo logo e dessa vez Oliver sem prostitutas no caminho.
Do lado de cá. À vista é bonita, mentira. À vida é boa de provar. Deixe seu problema atoa. Minhauuuuuu.... Vem para cá... Mas o que é isso ? Pegadas de algum animalzinho estavam sujando a calçada até o fim da rua. Isso é um trabalho para...Tchan Tchan Tchan o detetive Sherlock Oliver, o terror dos felinos. Onde está meu cachimbo Woodson ? Vejamos, o que temos aqui ? Essa minha lupa biônica vai auxiliar nas investigações. Parece pé de Índia...não não não, não é humano. Talvez de cascavel. Mas cobra não tem pernas. Seu burro ! Sim...mas isso não pode ser, aqui é impossível ter...Pinguins !!! Minha nossa !!! Quantos filhotes... Hey rapazinho devolve essa gangorra para o lugar. Por que todos ficaram em silêncio. Por que todos estão olhando para mim. Não, eu não preciso de um banho, por favor esquadrão do sabonete me larga. Minhauuuu eu não posso ver água, pelo amor de Deus... CABLUFT... Um helicóptero pousou no jardim, mas não era comum, parecia uma nave de hélice. Seres gosmentos apareceram. Possuiam três olhos de fenda escura. A Cabeça era muito encefálica e gigante. Eram verdes e falavam numa língua estranha. Dedos enormes. Anteninhas na cabeça. Depois me lembrei de que morava em Varginha. Bom, são os famosos E.T.S daqui. Disse um tchauzinho com minha pata e sai correndo. Não queria aquelas coisas me acariciando. Na esquina, próximo a uma cerca, havia um banca de CDS abertas. Eu, curioso por si só, resolvi averiguar aquela ilegalidade. Mas me surpreendi ao perceber que quem saiu de trás do balcão fora uma orangotango fanqueira. Fumava coca com uma mão e com a outra tirava as capas do peitinho que mais parecia uma bexiga furada. Resolvi não pedir autógrafo, apesar dela insistir que estava na promoção por 0,99 centavos. Mas adiante encontrei uma garotinha pulando corda e ela me pareceu familiar. Sim, era Alice, minha vizinha. Passei por entre as pernas delas ronronando. Ela levou um susto. Olhou-me aparavalhadamente com uma expressão séria. Depois esbanjou um sorriso aeróbico e me pegou em seu colo. Oliver,Oliver, o que está fazendo fora da rua há essa hora ? Sua dona já deve ter voltado. Calçou seus chinelinhos da Kelly Key e correu comigo nos braços. Ufa ! Ia chegar a casa, na lareira quentinha da dona. A Igreja balava dez horas da noite. A lua estava minguante. Com certeza ela já havia chegado. Você gosta de sardinha Oliver? Ela me perguntou toda carinhosa. Eu sorri e acariciei o braço dela com minha face. Ela sorriu por um instante, mas não sei por que seu olhar continuava misterioso como de Monalisa. Passamos por um ponto de ônibus e uma velha com muxoxo na papa fez um gesto de resmungo quando Alice quase cravou minhas unhas na face dela. A mulher de bengala deu sinal e um ônibus de dois andares a engoliu assim como fazia com os trabalhadores todos os dias. Chegamos a sua casa. Um carro estava estacionado na frente de casa. Era de Thiago. O Filho da dona que me adotara numa loja de pet shop a menos de um ano atrás. Que saudades, tentei desvencilhar das mãos da menina. Mas ela fez sinal negativo com a cabeça. Sua sardinha, seu bobão. Como eu havia me esquecido? Ela empurrou o portão com força e nesse instante a chuva que estava garoando cessou. Ela me deixou em sua lareira, enquanto ia buscar a comida no armário. Escutei um Piu Piu, bem baixinho vindo do alto em um canto da sala. Senti uma vontade de devorar aquele passarinho. Subi na cadeira e tentei bater com as minhas patas na gaiola, mas o que consegui fazer foi balançar. Outro dia quase peguei esse passarinho, estava no peitoril da janela da dona. Que colocava água para as aves tomar um banho. Mas não era certo fazer isso. Alice já havia visto e ficara magoada. Era melhor desistir da ideia. Voltei para o tapete e fiquei observando a chama na lareira. Ali quentinho, deitei de barriguinha no chão e adormeci... Estava um soninho tão bom e agora sem ratos gelados. Alice voltou da cozinha trazendo uma tijelinha com a sardinha. Como tudinho, hein? Eu miei baixinho de agradecimento. E ela me acariciou. Olhando em seguida para o passarinho que dormia em paz. Devorei aquela travessa. Estava uma delícia. Depois de dez minutos ela voltou e olhando para o pote sorriu. Agora pode ir. Ela me levou até o corredor e me colocou em cima do murinho de gás. Eu pulei em cima do telhado e olhei para ela uma última vez ela sorriu exageradamente. Comecei a caminhar por entre as telhas, havia algumas quebradas, mas andei devagarinho para não escorregar no liso. O vento tocou em meu rosto e ao olhar para o céu, percebi que o céu se abria, mas não havia nenhuma estrela. Estranhei, a noite era sempre estrelada ali. Poderia ainda estar nublada. Cruzei a calha e um ratinho surgiu por entre a água suja, mas não me importei, será que havia perdido o medo? Estava me dando um soninho. Acho que hoje não iria aguentar comer ração, queria ir para minha almofadinha, dormir. Mas antes eu não podia esquecer-se de cumprimentar o Thiago, cara legal. Era questão de honra. Desci a última inclinação, próxima a antena parabólica e avistei, ele estava na cozinha tomando como sempre sua xicara de café, me precipitei para chegar a tempo.
- Deixa-me ver se entendi. Você quer que eu dê um pulinho no mercado e compre 1 kg de farinha de trigo, três ovos, leite Cooper tipo B, manteiga, chocolate em pó, fermento em pó Royal, doce de leite moça e...nossa, estou me esquecendo de algo...
- Isso mesmo, filhinho que já tá um homem bonito. Volta logo, por que sua tia Clotilde pode chegar daqui a pouco.
- Pode deixar mãe. Não vou demorar. Você viu as chaves do portão?
- Estão na arca lá na sala!
- Valeu.
Ihhhhhh... A porta havia se aberto rangendo suas dobradiças como sempre. Avistei aquele jardim lindo. Aquele pinheiro enfeitado de natal. Faltavam poucos dias para a ceia. Desliguei o alarme do meu pálio e quando fui abrir o portão. Lembrei-me de algo. Oliver! Dei meia volta e me dirigi até o portãozinho que ia para o quintal. O piso estava molhado, chamei por ele, mas ele não me escutou, será que estava no fundo. Passando pela churrasqueira, avistei a caminha dele, mas ele não estava lá. Foi quando escutei um miado baixinho, vinha debaixo da mesa. NÃOOOOOOOOOO. Ele estava estrebuchando. Seus olhos iam embranquecendo e ele queria vomitar, mas não conseguia. Suas patinhas balançavam alvoroçadamente para todas as direções, começou a urinar. Ele havia sido envenenado, corri para a cozinha. Gritei para minha mãe, corremos até o local com o frasco de leite, mas ele foi ficando gelado, gelado, até que fechando os olhos, morreu.
Com um piscar pudera ver o sofrimento deles e com outro a face daquela garotinha que morava ao lado, que chupando chiclete, balançava lentamente sobre a cadeira de balanço no sótão...


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