Miau! Ela me
golpeou com a vassoura! Vontade que eu tenho é de unhar aquilo que ela gosta de
passar perfume. Onde já se viu? Um siamês lindo como eu, sofrer essa humilhação
apenas por que subiu na mesa de uma família para saborear um digníssimo salmão.
Acho que vou mudar para lasanha igual ao Garfield. Pelo menos, ele é
reconhecido pelo dono dele. Que muro, maneiro. Pena que tem cerca elétrica, se
não ia ali brincar. Não sei por que minha dona não me bota para dormir cedo
como muitas madames fazem com seus filhotes. Eu tenho que sair pelos telhados,
no frio e me dá uma fome de lixo! Hum... Que delícia. Resto de arroz de forno.
Do jeitinho que gostooo. Mamãe? Salva-se quem puder. Um pitbull correndo atrás
de um gato. Denunciem. Denunciem. Sai cavalinho do meio do caminho aqui não é
parque de diversões. Já sei ! A Caixa de
correios do outro lado da rua. Ploft ! ...... aqui dentro tá me dando um
soninho....acho que vou tirar um cochilo...(boceja) Ei, mas o que é isso ? Que
coisa gelada é essa ? Um ratoooooooooooooooooooooooooooo. Socorro. Bip
bip...beeee... Calma faróis de carro, eu só estou fugindo de uma ratazana
enorme do outro lada rua. Que petulância você quase me amassou com essa roda.
Em Paris, os pedestres tem sempre razão. Ufa! Consegui! Será que estraguei meu
topete ? Onde tem uma poça de água para me olhar? Caramba nem choveu hoje, vira
essa boca para lá Oliver. Como você pode desejar que aquele riacho caía do céu,
se está tão...Ping Ping. Eu e a minha boca grande. STARS. Que raio foi aquele.
Árvores eu preciso de vocês. Se bem que é muito perigoso na rua. Preciso me
esconder, depressa...Mas que pitel é aquele ? Que gata persa mais linda. Isso
balança o rabinho para o tigrão aqui. Deixa o brinquedinho espetado desse gatão
aqui. Mas que rebolado. Que traseiro. Que vontade de ouvir para lua. Ei! Psiu!
Olha para cá. Olha. Isso vem para cá, vem tocar nesse bonitão todo bobão aqui.
Plaft. Mas que diabo foi isso? Se não me queria, pelo menos não desse esse
tapão na minha cara. Se tá rindo de quê? Invejosa. Só por que não pode chegar
no auge da minha beleza. Hum! Cara do céu, eu estou tomando chuva. Que frio
rapaz. Preciso encontrar meu abrigo logo e dessa vez Oliver sem prostitutas no
caminho.
Do lado de cá.
À vista é bonita, mentira. À vida é boa de provar. Deixe seu problema atoa.
Minhauuuuuu.... Vem para cá... Mas o que é isso ? Pegadas de algum animalzinho
estavam sujando a calçada até o fim da rua. Isso é um trabalho para...Tchan
Tchan Tchan o detetive Sherlock Oliver, o terror dos felinos. Onde está meu
cachimbo Woodson ? Vejamos, o que temos aqui ? Essa minha lupa biônica vai
auxiliar nas investigações. Parece pé de Índia...não não não, não é humano.
Talvez de cascavel. Mas cobra não tem pernas. Seu burro ! Sim...mas isso não
pode ser, aqui é impossível ter...Pinguins !!! Minha nossa !!! Quantos
filhotes... Hey rapazinho devolve essa gangorra para o lugar. Por que todos
ficaram em silêncio. Por que todos estão olhando para mim. Não, eu não preciso
de um banho, por favor esquadrão do sabonete me larga. Minhauuuu eu não posso
ver água, pelo amor de Deus... CABLUFT... Um helicóptero pousou no jardim, mas
não era comum, parecia uma nave de hélice. Seres gosmentos apareceram. Possuiam
três olhos de fenda escura. A Cabeça era muito encefálica e gigante. Eram
verdes e falavam numa língua estranha. Dedos enormes. Anteninhas na cabeça.
Depois me lembrei de que morava em Varginha. Bom, são os famosos E.T.S daqui.
Disse um tchauzinho com minha pata e sai correndo. Não queria aquelas coisas me
acariciando. Na esquina, próximo a uma cerca, havia um banca de CDS abertas.
Eu, curioso por si só, resolvi averiguar aquela ilegalidade. Mas me surpreendi
ao perceber que quem saiu de trás do balcão fora uma orangotango fanqueira.
Fumava coca com uma mão e com a outra tirava as capas do peitinho que mais
parecia uma bexiga furada. Resolvi não pedir autógrafo, apesar dela insistir
que estava na promoção por 0,99 centavos. Mas adiante encontrei uma garotinha
pulando corda e ela me pareceu familiar. Sim, era Alice, minha vizinha. Passei
por entre as pernas delas ronronando. Ela levou um susto. Olhou-me
aparavalhadamente com uma expressão séria. Depois esbanjou um sorriso aeróbico
e me pegou em seu colo. Oliver,Oliver, o que está fazendo fora da rua há essa
hora ? Sua dona já deve ter voltado. Calçou seus chinelinhos da Kelly Key e
correu comigo nos braços. Ufa ! Ia chegar a casa, na lareira quentinha da dona.
A Igreja balava dez horas da noite. A lua estava minguante. Com certeza ela já
havia chegado. Você gosta de sardinha Oliver? Ela me perguntou toda carinhosa.
Eu sorri e acariciei o braço dela com minha face. Ela sorriu por um instante,
mas não sei por que seu olhar continuava misterioso como de Monalisa. Passamos
por um ponto de ônibus e uma velha com muxoxo na papa fez um gesto de resmungo
quando Alice quase cravou minhas unhas na face dela. A mulher de bengala deu
sinal e um ônibus de dois andares a engoliu assim como fazia com os
trabalhadores todos os dias. Chegamos a sua casa. Um carro estava estacionado
na frente de casa. Era de Thiago. O Filho da dona que me adotara numa loja de
pet shop a menos de um ano atrás. Que saudades, tentei desvencilhar das mãos da
menina. Mas ela fez sinal negativo com a cabeça. Sua sardinha, seu bobão. Como
eu havia me esquecido? Ela empurrou o portão com força e nesse instante a chuva
que estava garoando cessou. Ela me deixou em sua lareira, enquanto ia buscar a
comida no armário. Escutei um Piu Piu, bem baixinho vindo do alto em um canto
da sala. Senti uma vontade de devorar aquele passarinho. Subi na cadeira e
tentei bater com as minhas patas na gaiola, mas o que consegui fazer foi
balançar. Outro dia quase peguei esse passarinho, estava no peitoril da janela
da dona. Que colocava água para as aves tomar um banho. Mas não era certo fazer
isso. Alice já havia visto e ficara magoada. Era melhor desistir da ideia.
Voltei para o tapete e fiquei observando a chama na lareira. Ali quentinho,
deitei de barriguinha no chão e adormeci... Estava um soninho tão bom e agora
sem ratos gelados. Alice voltou da cozinha trazendo uma tijelinha com a
sardinha. Como tudinho, hein? Eu miei baixinho de agradecimento. E ela me
acariciou. Olhando em seguida para o passarinho que dormia em paz. Devorei
aquela travessa. Estava uma delícia. Depois de dez minutos ela voltou e olhando
para o pote sorriu. Agora pode ir. Ela me levou até o corredor e me colocou em
cima do murinho de gás. Eu pulei em cima do telhado e olhei para ela uma última
vez ela sorriu exageradamente. Comecei a caminhar por entre as telhas, havia
algumas quebradas, mas andei devagarinho para não escorregar no liso. O vento
tocou em meu rosto e ao olhar para o céu, percebi que o céu se abria, mas não
havia nenhuma estrela. Estranhei, a noite era sempre estrelada ali. Poderia
ainda estar nublada. Cruzei a calha e um ratinho surgiu por entre a água suja,
mas não me importei, será que havia perdido o medo? Estava me dando um soninho.
Acho que hoje não iria aguentar comer ração, queria ir para minha almofadinha,
dormir. Mas antes eu não podia esquecer-se de cumprimentar o Thiago, cara
legal. Era questão de honra. Desci a última inclinação, próxima a antena
parabólica e avistei, ele estava na cozinha tomando como sempre sua xicara de
café, me precipitei para chegar a tempo.
- Deixa-me ver
se entendi. Você quer que eu dê um pulinho no mercado e compre 1 kg de farinha
de trigo, três ovos, leite Cooper tipo B, manteiga, chocolate em pó, fermento
em pó Royal, doce de leite moça e...nossa, estou me esquecendo de algo...
- Isso mesmo,
filhinho que já tá um homem bonito. Volta logo, por que sua tia Clotilde pode
chegar daqui a pouco.
- Pode deixar
mãe. Não vou demorar. Você viu as chaves do portão?
- Estão na
arca lá na sala!
- Valeu.
Ihhhhhh... A
porta havia se aberto rangendo suas dobradiças como sempre. Avistei aquele
jardim lindo. Aquele pinheiro enfeitado de natal. Faltavam poucos dias para a
ceia. Desliguei o alarme do meu pálio e quando fui abrir o portão. Lembrei-me
de algo. Oliver! Dei meia volta e me dirigi até o portãozinho que ia para o
quintal. O piso estava molhado, chamei por ele, mas ele não me escutou, será
que estava no fundo. Passando pela churrasqueira, avistei a caminha dele, mas
ele não estava lá. Foi quando escutei um miado baixinho, vinha debaixo da mesa.
NÃOOOOOOOOOO. Ele estava estrebuchando. Seus olhos iam embranquecendo e ele
queria vomitar, mas não conseguia. Suas patinhas balançavam alvoroçadamente
para todas as direções, começou a urinar. Ele havia sido envenenado, corri para
a cozinha. Gritei para minha mãe, corremos até o local com o frasco de leite,
mas ele foi ficando gelado, gelado, até que fechando os olhos, morreu.
Com um piscar
pudera ver o sofrimento deles e com outro a face daquela garotinha que morava
ao lado, que chupando chiclete, balançava lentamente sobre a cadeira de balanço
no sótão...

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