sábado, 28 de março de 2015

Episódio 2: Lúcia

A Escolha de Minha Varinha

        
         Minha avó tinha um pegasu (uma espécie de cavalo com asas). Para que pudéssemos chegar ao centro da cidade, tínhamos que ir voando nele. E foi isso que fizemos.
         A vista em cima do pegasu que voava sobre todo o território alternativo, era lindo, muito diferente do território humano (ou simplesmente não- bruxos) que era cheio de poluição.
         Logo chegamos ao estacionamento de pegasus, minha avó pagou cinco chucros, dinheiro alternativo, para que o animal ficasse lá. Então, fui levada até uma loja que aparentemente era muito pequena, mas quando entrei parecia um palácio. Fiquei encantada com o tanto de doces que havia lá. Lucas parecia esta no paraíso.
         Sentamos em uma das mesas vazias, que eram poucas, pois havia muitas criaturas magicas, como zumbis, curupiras, sacis, centauros, fadas, bruxos, gnomos, entre outros comendo no estabelecimento... 
         Minha avó pegou o cardápio que veio voando até nossa mesa, e escolheu biscoitos de chocolate para todos nós, acompanhado de suco de amora silvestre.
         A caneta foi anotando sozinha no papel que flutuava ao meu lado, assim que minha avó acabou de falar o papel saiu voando por entre as mesas e no mesmo instante nosso pedido chegou.
          Quando comecei a comer senti uma forte dor no pé da minha barriga, e falei para minha mãe e minha avó:
         - Não estou me sentindo bem, acho que vou ao banheiro!
         Minha mãe preocupada, foi logo atrás. Chegando ao banheiro senti algo estranho em uma região muito privada, corri para dentro de um box onde tinha o vaso sanitário, quando olhei para minhas pernas e vi escorrer sangue por elas. O susto foi grande, quase gritei, pois achei que tinha me cortado.
         - Esta tudo bem ai, filha?- perguntou minha mãe batendo na porta do box.
         - Mãe entre aqui!- Falei rapidamente. Minha mãe entrou e me viu de pé com as pernas entreabertas e percebeu que escorria sangue entre elas. Ela me olhou e disse sorrindo:
         - Você sabe o que está acontecendo com você?
         - S- será que eu me cortei? - perguntei ingênua e apreensiva.
         - Logo se dá para ver que você e não sabe nada sobre as coisas de mulheres! -  disse minha mãe sorrindo.- Você está entrando na fase em que todas as mulheres um dia chegam. Essa fase se chama menstruação e era de se esperar, logo da para ver que Magiscovs não erra nunca! Eu já estava ficando preocupada com isso, você já está com quinze anos e nada...
         - Como assim, Magiscovs não erra nunca? - indaguei curiosa
         - Pois sempre quando as meninas entram nessa fase é quando a magia aflora e ai se sabe que a pessoa é Alternativa ou não! - explicou minha mãe.
         Sociedade alternativa é como se chama as criaturas que são mágicas.
         - Então quer dizer que Magiscovs mandou esta carta para mim, porque sabia que eu ia entrar nessa fase? - perguntei curiosa.
         - Isso mesmo, pois a Republica da magia conta com torres que anunciam quando há um alternativo novo!
         - Mas e quando é menino? - indaguei mais curiosa. 
         -Quando é menino se vê pela marca de nascença na sola do pé em formato de chama, assim se sabe que é um alternativo! Mas isso quando é humano, como você é filha de bruxa nunca iria deixar de entrar em magiscovs! - respondeu ela
         Minha mãe me ajudou a me limpar e com sua varinha fez aparecer um absolvente, me ensinou a colocar devidamente e voltamos para a mesa, então nós comemos o restante dos biscoitos de chocolate e do suco de amora, e minha mãe comentou o acontecido com a minha avó que deu risada.
         Saímos da doceria e fomos andando pela calçada. Minha avó não parava de olhar a lista de materiais. Chegamos então até a loja de caldeirões. Assim que abrimos a porta para entrar na loja, uma sineta tocou emitindo um som agudo, anunciando a nossa chegada.
         A loja era composta por prateleiras entopetadas de caldeirões velhos e empoeirados, no teto havia teias de aranhas que parecia está lá a séculos, havia um balcão enorme que também não poderia está limpo e atrás dele uma velha com um enorme chapéu preto, em sua boca faltava dentes, seus cabelos longos e todo branco, davam um destaque na roupa preta e empoeirada. Ela abriu um sorriso e disse brandamente:
         - Em que posso servir na jornada desta jovem moça?
         - Olá, Sra. Caldelivia! - disse minha avó Sonia sorrindo - Estou procurando para minha neta, que vai ingressar na escola de Magiscovs, um caldeirão estanho tamanho grande! -minha avó olhanva na lista de material.
         - Bom, dona Sonia, - disse a anciã olhando para mim- tenho que olhar no estoque, pois este caldeirão é o que mais sai!
         Eu e Lucas aproveitamos enquanto a Sra. Caldelivia procurava o tal caldeirão para explorar a loja que por sinal não era muito encantadora como a doceria.
         Lucas não parava de mexer nos caldeirões, quando de repente, ele deixou cair uma pilha em seu pé. Mamãe olhou para ele com um olhar fuzilante, ele sem graça, catou tudo e colocou de volta na prateleira.
         Levou cerca de uns dez minutos para que a anciã trouxesse o caldeirão. Ele era bem grande, minha mãe que carregava uma bolsa pequena abriu-a e entafuiou o caldeirão lá dentro.
         Minha mãe ficou bem conhecida por ter inventado essa bolsa, há dois anos atrás, lembro-me como se fosse hoje. Foi um tumulto em nossas vidas, ela  sempre innventora de artefatos mágicos, mas aquele, que era uma pequena bolsa que cabia um mundo de coisas, foi para as mulheres alternativas, a melhor coisa já inventada. Mamãe dava intrevistas para a reporter Patricia Saldação a todo minuto. Foi bom, mas foi um cáos.
         Saímos da loja e minha avó olhou novamente a lista que pedia para irmos á livraria:
         - Quanto livro! - exclamou minha mãe- Vai custar o olho da cara!
         - Calma Erika! - abrandou minha avó- A gente passa cartão e assim parcela!
         - Mesmo assim... Muito caro! Mas tudo bem... Eu já sabia que custaria uma fortuna... - ela estava desanimada.
         Chegamos a livraria, que por sinal estava entupetada de gente, todos atrás dos autógrafos do famoso bruxo escritor. Um homem de cabelos pretos, pele de índio, olhos verdes e vestes brancas e ao seu lado havia um elfo que segurava seus livros para autografar. Mamãe ficou tão maravilhada que eu achei que ela tinha ganhado na loteria.
         - Não acredito que é o Lauro Manzort! - disse minha mãe com um gritinho. - Preciso de um autografo dele!
         - Está com sorte! - falou minha avó sorrindo- Os livros "Sociedade Alternativa" e "Ciência das Fadas", que vamos comprar são dele!
         - Ai meu Dumber! - exclamou minha mãe olhando para o céu- Eu estou tão radiante! - ela mexeu nos cabelos e perguntou- Meus cabelos estão bons? E minha pele? Estou com olheira?
         - Você está ótima, menina!- disse minha avó dando os livros na mão dela.
         Minha mãe correu para a fila que estava quilométrica e ficou aguardando entusiasmada para receber um autografo, enquanto vovó ia atrás dos outros livros:
         - Lauro é um ótimo escritor de livros sobre a ciência das fadas, pois é o mais premiado de todo o mundo mágico e o mais rico também, além disso, ele é mestiço! -vovó passava o indicador nos livros, procurando um que estivesse na lista de material- Ele é filho de curupira com uma bruxa.
         - Então é por isso que ele tem uma pele avermelhada! - exclamei como se estivesse acabado de descobrir algo extraordinário.
         - Não restam dúvidas que os mestiços de curupiras são mais espertos que o normal!
         Logo depois mamãe volta com os dois autografados e os coloca dentro da bolsinha que estava carregando.
         - Como ele é encantador! - suspirou ela
         - Sim! - disse vovó- Agora vamos! Precisamos comprar a varinha, o animal e a vassoura!  
         Minha avó saiu da livraria como se estivesse tendo uma liquidação do outro lado da rua e minha mãe, Lucas e eu corremos atrás.
         Chegamos à loja de vassouras que na vitrine já mostrava muitas, uma mais linda que a outra. Passamos muito rápido por lá, pois minha mãe e minha avó pegaram a mais simples que tinha, disseram que eu estava começando agora e só subiria nela para flutuar, no primeiro ano não tinha necessidade de uma sofisticada.
         Entramos no pet-shopping, estavam lotados de bichos de estimação, como pequenos cachorros, gatos de todas as cores e tamanhos, corujas, pombos-correios, sapos e ratos. Eu fiquei encantada com todos, mas um me chamou a atenção, um gato branco peludo, ele me olhava e eu olhava para ele, seus olhos diziam: "Me Leva!" e eu não resisti.
         - Quero esse! - apontei
         O homem de roupa listrada, que aparentava ter seus trinta anos, tirou-o da gaiola e me deu. O gato, que descobri ser uma gata, deu um miado e passou a cabeça em meu braço e eu percebi que ele já me amava. Coloquei seu nome de Mili.
         - Você precisa de um pombo-correio! - disse minha mãe- Escolha um também!
         Olhei todos os pombos e escolhi um que também era branco e coloquei seu nome de Jade!
         Lucas também queria um animalzinho e minha mãe comprou um cachorrinho preto de orelhas cumpridas e focinho achatado para ele. Dá loja de animais, fomos para a ultima, que era a de varinha.
         Andamos umas três quadras até chegar a tal loja. Era enorme, com dois andares e só era menos que a igreja central da cidade.
         Entramos na enorme loja de varinhas que tinha muitos bruxos comprando. Elfos ajudavam com a venda. Andamos três passos para frente e fomos abordados por um elfo de orelhas pontudas, baixinho, olhos esbugalhados e pretos e de terno, que perguntou:
         - Olá! Juz está aqui para servir! Meu nome é Juz!
         - Viemos comprar uma varinha para essa mocinha aqui! - disse minha avó
         - Ela é mestiça? - perguntou o elfo olhando algumas varinhas nas prateleiras.
         - Não! - repondeo minha mãe rispidamente
         - Família?
         - Louves! - disse vovó quase surrando o elfo, mesmo que para escolher a varinha precisava de tais informações, para mamãe e vovó que escondia quem era o meu pai, perguntas assim eram o cumulo.
         - Siga-me, dona Lucia! - disse o elfo
         Fui levada pelo elfo até uma cabine, ele me mandou entrar e sentar-me no banco, depois mandou eu fechar os olhos e dizer Varoides. Esse era o nome do feitiço que dizia que varinha iria me escolher.
          Assim que eu falei o feitiço uma varinha média apareceu na minha frente, então o elfo disse:
         - Essa é a sua, Srta. Lucia! Ela é feita do tronco de uma mangueira e seu núcleo é de fígado de estron!
         Estron é o nome de um animal magico que é parecido com um dragão, mas solta gelo e não voa, pois seu corpo é maior que sua asa pode aguentar. - o elfo ficou sem entender.
         - Engraçado que só uma pessoa com o parentesco muito perto de um certo bruxo das trevas pode ter essa va... - ele parou de falar e saiu andando, eu fui atrás dele.
         - Continue! Por favor! - falei curiosa
         - Não! - disse ele- Eu estou confundindo com outra varinha!
         Eu não engoli muito bem a tal história, mas não pude ir mais a fundo pois minha mãe veio ver a minha varinha. Ela e vovó ficaram contentes e minha mãe a guardou na bolsa.
         Saímos da loja e fomos até a lanchonete, estávamos famintos. Quando entramos na lanchonete, ela do mesmo jeito que a doceria e a livraria estava cheia de criaturas magicas, comendo e bebendo, sentamos em uma das mesas vazias e vovó pediu bolo de abobora para todo mundo.
         Do outro lado da enorme lanchonete vi uma família de mestiço, broxo com lobisomem comendo. Os cincos filhos eram bem peludos, deveriam ter puxado o pai que tinha dentes bem pontudos, já a mãe era uma senhora gorda e negra, ela com certeza era bruxa. Seus filhos conversavam entre si, e percebi que um deles, de seus dezessete anos era o mais levado, pois toda hora fazia um dos irmãos chorarem.
         Minha atenção voltou para a mesa quando o nosso pedido chegou e então comemos tranquilamente, comendo sobre o dia cansativo que tivemos.

        




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