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— Achei que
iríamos encará-la. – Ryan diz.
— E vamos, mas
quando o feitiço de Ariel estiver completo e vocês terem um pouco mais de noção
de suas habilidades. Loirinha, leve-nos para à Ponte Magno.
— Ponte o quê?!
– Luna pergunta.
Uma grande
fumaça negra nos envolve e em seguida, estamos numa grande ponte de pedras
entre dois precipícios. O corpo de Silas ficou para trás, assim como nossos
objetos.
— Você deixou
nossos objetos lá! – Ariel grita. – Era nossa última esperança!
— Tem certeza? –
Katherine tira uma sacola branca do bolso. – A propósito, o canivete do
falecido também está aqui.
Tomo a sacola de
Katherine com um pouco de raiva. Sei que ela está tentando nos ajudar, mas algo
nela não me agrada. Talvez seja o fato dela ser uma ceifeira, sendo que eu
nunca encontrei ninguém do meu tipo. Ou talvez seja o simples fato de que ela
me foi apresentada como uma irmã.
Katherine sai na
frente, atravessando a ponte. Demoramos um pouco para tomarmos iniciativa, mas
Ariel vai atrás dela, depois Ryan e Íris, E.D. e por último, Luna e Eu.
— Confia nela? –
Luna pergunta.
— Tenho que
confiar. Ela é minha irmã. – Respondo.
— Sua o quê?! –
Luna exclama. – Por que nunca mencionou isso?!
— Só descobri há
algumas semanas. Milena me contou logo que foi embora a primeira vez. Fiquei
muito ocupado desde então.
Luna fica
surpresa, mas ignora. Nós dois temos passado uns perrengues aqui no ínferno e
eu estou torcendo muito para que consigamos sair daqui o mais rápido possível.
Quero a minha vida normal de volta.
Esqueço a
realidade por alguns minutos e lembro-me de todos os meus amigos. Lembro de
E.D. e Zoe na escola, me assistindo babar por desejo de Chloe. Lembro de Jade
enchendo o saco todo santo dia. Lembro do sabor dos bolos de cenoura da minha
avó e das histórias malucas do trabalho da minha mãe. Lembro-me do meu gato
indo me acordar todas as manhãs, pressionando suas patas no meu rosto e me
deixando coberto de pêlos. Era uma época bastante fácil, e eu, por pura
frescura, reclamava do mundo.
— Chegamos. –
Katherine diz. Olho para frente e vejo uma casa velha. Ela abre a porta e todos
nós entramos.
Não tem nada
demais aqui dentro. Apenas um caldeirão velho, uma forma de ferro, uma pinça
grande e um balde enorme de água fria. Todos nós acabamos por não resistir e
enchemos nossas duas mãos com um punhado de água e tomamos. Katherine sorri com
a cena e abre a sacola branca.
— Ariel, faça o
seu feitiço.
Ariel pega a
sacola e começa a despejar os objetos dentro do caldeirão. Primeiro o
porta-retrato de Íris, depois, a arma de Ryan, os dois pingentes de foice e ela
pinga uma gota do sangue presente no canivete de Silas. Nada acontece
primeiramente, mas Ariel chama Luna para ajudá-la com as palavras do feitiço.
— Como você
sabia sobre nós? – Pergunto à Katherine.
— Bom – Ela
sorri – eu estive vigiando-os por muito tempo e ceifei vários inimigos que
tentavam te atacar. Não achou realmente que era tudo tão calmo daquele jeito,
não é?
— Não. – Sorrio
um pouco de volta – É que eu sei tão pouco sobre você... Minha mãe nunca
mencionou de outro filho.
— Não somos
irmãos por parte de mãe. Temos o mesmo pai em comum, mas infelizmente, eu
também não sei quem é.
— E como sabe
que somos irmãos? – Indago.
— Quando eu ouvi
falar de outro ceifeiro com o sobrenome Davenport que era tão rebelde quanto eu
era, acho que os fatos falaram por si.
As meninas
terminam de falar as palavras do feitiço e o caldeirão toma uma luz esverdeada,
depois azulada, depois avermelhada, depois amarelada. Katherine pede para que
Ryan esquente ao máximo que ele puder o caldeirão, e assim ele obedece, até que
tudo o que resta lá dentro é um pouco de pasta alaranjada semelhante à lava.
— Chase, use sua
telecinese e derrame a pasta na forma de ferro.
— Tudo bem. –
Obedeço.
Concentro-me no
caldeirão e levito-o até próximo à forma. Derramo a pasta dentro da forma e
vejo aquela gosma começar a se formar numa espécie de amuleto. Esperamos alguns
segundos e então, Katherine pega a pinça, prende o amuleto com ela e afoga
ambos na água fria. Uma onda de vapor sobre por vários segundos, e demora um
pouco até que a água pare de borbulhar.
— Está pronto.
Fizemos o amuleto contra Lilith. Se Íris não tivesse voltado, bastava parti-lo
na quantidade de pessoas em questão e invocá-la.
— E qual
exatamente a função dele agora? – E.D. pergunta.
— Agora ele tem
as suas habilidades combinadas. – Ela responde. – Vamos, eu sei onde Lilith
está indo. É bom que estejam preparados para uma batalha, pois haverá muito
sangue. – Katherine diz e em seguida, somos transportados.
Estamos atrás de
alguns arbustos pretos. À nossa frente está a cachoeira onde tudo começou. Vejo
o exército de Lilith caminhando ao longe na margem, com ela em frente, cercada
por homens de todos os lados.
— Ryan, você vai
na frente. – Digo. – Você vai se transformar em dragão logo que eles se
aproximarem. Ariel, você ficará escondida e tentará seduzi-los com seus poderes
de musa. Íris, você e Luna ficam atrás, preparadas para qualquer coisa. E.D,
Katherine e eu atacaremos qualquer um que consiga passar por Ryan. Preparados?
Ouço um sim
coletivo.
— Vamos! –
Grito.
Todos me
obedecem e fazem a formação ordenada. E.D. se transforma em lobisomem, enquanto
Katherine e eu sacamos nossas foices. Ouço um barulho de raios e sei que Íris
já está pronta. Luna está com seu cajado em mãos. Os homens de Lilith nos
alcançam.
— Matem todos. –
Lilith ordena, e direciona-se à água da cachoeira.
Ryan se
transforma e cospe fogo em cima de todos que correm para atacá-lo. Katherine e
eu passamos pelos lados, brigando com qualquer um que cruze nosso caminho. O
exército de Lilith é maior em número, mas não são tão bons de batalha quanto
nós.
Em questão de
segundos, perco contato de vista com os outros, e apenas escuto gritos de
Katherine. Quatro homens de Lilith juntam-se e formam um gigante, que me dá um
soco e me jogam na água. Isso vai ser interessante.
O gigante se
aproxima de mim com passos fortes, enquanto eu procuro a minha foice na água.
Lembro-me do amuleto e puxo-o até mim com minha telecinese. Seguro ele com
minha mão esquerda e crio formas com a água que está ao meu redor, jogando
todas elas contra o gigante na esperança de cansá-lo. Quando vi que não faria
efeito, usei minha telecinese para puxar minha foice até mim e utilizei um pouco
dos poderes de Íris, eletrificando minha foice. Arremesso-a contra o gigante e
ele cai de joelhos na água, eletrocutado e sangrando. Tiro a foice de seu corpo
e volto para a batalha.
Agora eu estou
atacando por trás. Ninguém do exército de Lilith consegue prever meus
movimentos quando eu lanço uma onda elétrica utilizando o amuleto e minha
foice. Mais da metade deles caem mortos no chão. Katherine desapareceu, mas
ainda vejo Ryan e Íris causando um bom estrago.
— Chase! – Ouço
a voz de Ariel sendo levada para junto de Lilith. Uso minha telecinese para me
levitar até lá.
— Deixe-a ir,
Lilith. Isso é entre mim e você.
— Não estou só
com Ariel. O único de seus amigos que não está comigo é o dragão. Mas veja, eu
já tenho meu ritual completo, então realmente eu não preciso que mais ninguém
morra aqui. Sua amiga Zoe morreu nas catacumbas. O acesso do limbo em que o
dragão morreu uma vez era próximo às colinas. Sua amiga caçadora morreu no
castelo de Hades. Você aniquilou Morte no labirinto de Asteroth e da primeira
vez que seu amigo E.D. esteve aqui, ele caiu da Ponte Magno e morreu, depois
tendo sua alma resgatada por Hades, claro. De uma maneira ou de outra, os cinco
lugares formavam um pentagrama e nós estamos bem no centro dele, mas para que
meu ritual se conclua, eu ainda preciso fazer mais uma coisinha... – Lilith
diz, mas eu não a deixo completar a frase e cravo a minha foice nela.
— Você não pode
me matar, tolo. – Ela diz. – Quando a primeira alma inocente for corrompida,
então a porta para o apocalipse se abrirá.
As palavras dela
me gelam o coração e uma luz branca começa a sair por baixo da água da
cachoeira, indo até o topo do inferno. Uma espécie de porta gigante toma forma
dessa luz e se abre, sugando várias almas para lá.
Ponho a mão no
bolso para pegar o amuleto e vejo que ele já não está mais lá. Em seguida, vejo
Ariel com o amuleto em mãos, sendo sugada para dentro da porta. Os homens
restantes de Lilith começam a ser sugados – tanto os mortos quanto os vivos –
assim como várias outras almas presas dentro do inferno.
— Mas que
desgraça é essa?! – Ryan grita.
— A Ascensão
começou. Lúcifer ressurgirá das cinzas e reinará no mundo defendido pelo Deus
que já não mais existe. – Lilith responde com um sorriso psicótico no rosto,
sendo sugada para a porta.
Íris, Kathrine,
Ryan e E.D. são puxados para lá sem nenhuma dificuldade e a porta começa a se
fechar. Não vejo Luna. Caminho até a porta e ponho a minha foice para segurá-la
por mais algum tempo até que ela apareça.
Luna surge
diante de mim com o corpo de Silas nas costas. Ela o coloca na água e logo ele
é puxado para a porta. Minha foice se parte e ambos somos puxados para dentro.
A porta se fecha.
[...]
— Agora! – Ouço
alguém gritar.
Sons de tiros
percorrem meus ouvidos e os gritos agonizantes me deixam maluco. Olho ao redor
e vejo que estou numa espécie de cova, enterrado vivo. Tento usar minha
telecinese para mover a areia para cima, mas estou fraco demais para isso,
então terei que agonizar com as mãos.
Depois de vários
minutos – ou horas, fica difícil dizer – e muitas gramas de areia em minha
boca, eu consigo sair do túmulo e respiro ar puro. Vejo um show de luzes entre
pessoas batalhando e alguém se joga em cima de mim.
— Kitana?
— Bom te ver de
novo, cara. – Ela diz.

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