Cena 01. Ext. Cidade de
Esmeralda. Praça. Tarde.
Karina está chocada com o que acaba
de ouvir de Suíno.
KARINA: César, o que foi que você disse?
SUÍNO: Foi exatamente o que você ouviu. Eu sei quem causou a morte dos
seus pais, a dona Ângela e o seu Marcos.
KARINA: Pelo amor de Deus, César! Me fala logo quem foi o vagabundo que
fez isso, que eu mato ele.
SUÍNO: Eu acho que você deveria tomar mais cuidado com as palavras. O
responsável pela morte dos seus pais foi o próprio Augustus Narvalli, o seu
avô.
KARINA (assustada): O quê?
-----FLASHBACK-----
Augustus chega a sua empresa automobilística, a AutoNarvalli,
com uma expressão de raiva esboçada no rosto.
SUÍNO (narrando): Você
deve se lembrar que no período em que os seus pais morreram, a AutoNarvalli
estava falindo, não é?
Augustus entra no almoxarifado da empresa, com muita raiva,
querendo acabar com tudo.
SUÍNO (narrando): O seu
Augustus estava voltando de uma sessão que dizia que a empresa dele iria ser
fechada dentro de alguns dias. Eu sei disso porque eu estava lá com ele. Aliás,
fui eu quem dirigiu o carro que levou ele até a sede da empresa.
Um carro vermelho chega a empresa. Quem desce de lá são os pais
de Karina: Ângela e Marcos. Logo após, Karina, com sete anos, desce do carro,
sorridente.
SUÍNO (narrando): Eu vi os
seus pais e você chegando na empresa, alguns minutos depois do patrão ter
chegado comigo. Nós dois entramos no almoxarifado da empresa. Ele estava muito
exaltado.
Karina e seus pais entram no escritório da empresa e procuram
por Augustus, mas não o encontram. Depois, os três vão para o almoxarifado.
SUÍNO (narrando): Eu até
ouvi os seus pais dizendo alguma coisa como perguntar como foi a audiência.
KARINA (off.): Sim,
disso eu me lembro. Mas e aí, o que aconteceu?
Augustus começa a chutar vários baldes de gasolina, com raiva do
resultado da audiência.
SUÍNO (narrando): O seu
Augustus ficou com muita raiva do que aconteceu, como eu já disse. Ele começou
a acabar com o almoxarifado, chutando galão de gasolina e outras coisas por
tudo quanto é lado. O que eu acho um absurdo, sabe? Gasolina tá com um preço do
cão e ele ainda desperdiça.
KARINA (off.): César,
por favor, não é hora pra brincadeira. Termina logo de contar isso.
SUÍNO (narrando): Tá bom,
tá bom.
Karina e os pais entram no almoxarifado, já incendiado. Os três
veem um homem saindo do almoxarifado já incendiando. Mal sabiam eles que esse
homem era o próprio Augustus Narvalli.
SUÍNO (narrando): Eu
fiquei esperando ele do lado de fora. Como ele tinha demorado muito, eu achei
estranho e entrei lá. Quando eu vi, já tava tudo em chamas. Eu vi dois corpos
caídos e uma menina chorando. Eu sabia que essa menina era você e os corpos
eram dos seus pais. Logo depois que eu vi isso, eu fui contar para o patrão o
que tinha acontecido.
Após ouvir que tinha causado a morte dos pais de Karina,
Augustus fica chocado.
SUÍNO: Então ele ficou com muita
culpa por ter matado eles e criou você sozinho. Não que ele não gostasse de
você, mas eu acho que ele não te criaria se não soubesse que ele mesmo causou a
morte dos seus pais.
----- DE VOLTA AO PRESENTE -----
Karina está com lágrimas
nos olhos após ouvir a história contada por Suíno.
KARINA (chorando): Nossa, eu nunca imaginei isso.
SUÍNO: Olha, por mim eu nunca tinha te contado isso, porque eu nunca
fui com a sua cara, hein? Mas já que você pediu perdão por ter me prendido sem
motivo, eu acabei contando.
KARINA (chorando): Eu nunca pensei que eu ia te falar isso, mas obrigado. Muito
obrigado!
Karina abraça Suíno,
que fica sem reação.
SUÍNO (afastando Karina): Tá, eu não gosto muito de melação, não, tá? Deixa eu ir pro meu
barraco.
KARINA: Você mora num barraco, César?
SUÍNO: Isso não é da sua conta. Eu já disse tudo o que você queria
saber, agora me deixa em paz.
Suíno se levanta, mas
Karina o puxa pelo braço.
KARINA: Você quer vir morar comigo?
SUÍNO: O quê?
Suíno fica surpreso com
a ideia.
Cena 02. Int. Casa de
Lourival. Sala de jantar. Tarde.
Zaqueu levanta da cadeira com um
papel na mão.
ZAQUEU (grita): EU GANHEI!!!
Rosidalva vem correndo
saber o que aconteceu.
ROSIDALVA: O qui foi, meu fi? Tá gritando assim pru quê?
ZAQUEU (abraça a mãe): Mãe, eu ganhei na loteria, mãe! Eu tô rico!
Lourival sai do quarto.
LOURIVAL: Eu ouvi direito ou eu tô ficando zureta cum a idade?
ZAQUEU: O sinhô ouvi direitim, pai! Eu ganhei dez milhão de real!
Rosidalva, Lourival e
Zaqueu se abraçam, comemorando.
ZAQUEU: Obrigado, meu Senhor! Muito obrigado!
Nandinha observa tudo
de longe.
NANDINHA (sussurra): Vai comemorando, vai Zaqueu. Como dizem, alegria de pobre dura
pouco (ri).
Nesse momento, Karina
chega em casa com Suíno.
KARINA: Gente, esse aqui é o César. Ele é um amigo meu que eu não via
há alguns anos.
ZAQUEU: Karina, esse aí não é o homi qui ocê disse que matou o seu avô?
KARINA: É, Zaqueu, eu disse isso, mas eu me enganei. Na verdade ele me
ajudou bastante a resolver o mistério de quem matou os meus pais. Mas tudo bem,
não é sobre isso que a gente veio falar.
SUÍNO: Quer dizer que você é o famoso Zaqueu?
ZAQUEU (aperta a mão de
Suíno): Ora, eu tô tão famoso assim, é?
SUÍNO: Tá sim. A Karina me falou muito de você.
KARINA (desconversando): É... então... como eu ia dizendo, ele não tem lugar pra morar e
eu vim saber se o seu Lourival podia arrumar um lugarzinho pra ele morar aqui?
Não precisa ser um quarto não, ele me disse no caminho que podia dormir no sofá
que já tava bom demais.
ZAQUEU: Num vai precisar de dormir em sofá não, pru que eu...
LOURIVAL (interrompe): Agora não, fio. Karina, é craro que eu arranjo um lugarzim pro
seu...
SUÍNO: César, mas todo mundo me chama de Suíno. Sabe como é, barriga
avantajada dá nisso.
LOURIVAL: Sei, sei... Mas ocê pode ir conhecendo a casa. Eu lhe mostro
tudim.
Lourival leva Suíno
para conhecer a casa.
ROSIDALVA: Eu faço um cafezinho!
Rosidalva vai atrás.
Zaqueu e Karina ficam sozinhos. Zaqueu começa a rir.
KARINA: Eu posso saber qual é a graça?
ZAQUEU: O nome desse sujeito me lembrou dos tempo de quando ocê veio
morar aqui. Ocê começou a cuidar de suíno, ou seja, porco.
KARINA: Ah, Zaqueu, nem me lembra disso...
Rosidalva volta da
cozinha. Disfarçadamente, Nandinha põe o pé na frente para a senhora cair.
ZAQUEU: Mas fica tranquila qui ocê nunca mais vai precisar fazer isso.
KARINA: Do que você tá falando, Zaqueu?
Rosidalva tropeça no pé
de Nandinha e cai no chão. Nandinha vai para o quarto.
ZAQUEU (grita): Mãe!
Zaqueu e Karina vão
socorrer Rosidalva.
KARINA: Dona Rosidalva, pelo amor de Deus.
ZAQUEU: Pai, acode aqui!
Lourival e Suíno
voltam.
LOURIVAL: Meu Jesus amado, o qui foi qui se assuscedeu?
ZAQUEU: Eu tava aqui conversando com Karina e quando eu penso que não
eu vejo mamãe caindo no chão, sem mais nem menos.
SUÍNO: Parece que ela ainda tá acordada, ela não desmaiou!
ROSIDALVA: Ai, ai, que tontura! Ai!
ZAQUEU: Mamãe, graças a Deus! Ocê tá bem? Quem fez isso cum a sinhora?
Nandinha observa tudo
pela porta do quarto.
NANDINHA: Droga! Parece que essa velha é de ferro. Nem desmaiar a infeliz
desmaiou...
Zaqueu, Lourival e
Suíno levantam Rosidalva.
ROSIDALVA: Ai, meu fio. Eu tropecei em alguma coisa que eu num vi. Mas
pareceu um pé.
LOURIVAL: Uai, quem será que botou o pé pr’ocê trupicar?
ROSIDALVA: Eu num sei, eu num vi direito na hora. Lourico, me leva pro
quarto, bem.
LOURIVAL: Levo, levo sim. Seu Suíno, ocê me ajuda?
SUÍNO: Ajudo, ajudo.
Lourival e Suíno levam
Rosidalva para o quarto.
KARINA: Olha a gente aqui sozinho de novo.
ZAQUEU: Pois é.
KARINA: É... Zaqueu, eu...
ZAQUEU: Ocê o que, Karina?
KARINA: Eu não sei como te dizer. Eu... eu quero voltar!
ZAQUEU: Voltar? Como assim, Karina? Do quê qui ocê tá falando?
KARINA: Eu quero voltar a namorar com você. Eu quero ficar com você até
que a morte nos separe. Eu quero ser feliz ao seu lado.
ZAQUEU: Karina, eu...
KARINA (interrompe): Zaqueu, por favor. É de se esperar que você não queira mais
ficar comigo depois de tudo o que aconteceu. Mas eu quero que você fique
sabendo que, mais do que nunca, eu tenho certeza do que eu sinto por você. Eu
acho que saber quem matou meu avô e meus pais me fez bem em parte. Eu revelei
meu lado mais sentimental. Tudo bem, você não quer reatar comigo, eu te
entendo...
ZAQUEU: Karina, tudo o que eu mais quero é reatar contigo. Eu te amo!
Zaqueu e Karina se
beijam. Nandinha observa tudo, com raiva.
Cena 03. Int. Prefeitura.
Escritório de Golias. Tarde.
Golias lê um papel. A filha Lia
está em sua frente.
GOLIAS: Lia, como é que você me explica uma coisa dessas?
LIA: Desculpa, pai. Eu...
GOLIAS: Minha filha, eu tô aqui no auge do aperreio com a minha
reeleição e ainda tenho que me preocupar com namorico seu na escola. Eu pago todo
mês a sua escola pra você estudar, pra você aprender, não pra você ficar
namorando menino que eu nem sei se é de boa família.
LIA: Pai, eu já tenho 12 anos, quase 13. Eu ainda sou BV e eu acho
que eu tenho direito de namorar, né? Eu não sou freira, caso você não saiba.
GOLIAS: Que negócio de BV o quê? No meu tempo não tinha essas safadezas
não, viu? Nós precisamos ter uma boa conversa.
LIA: Pai, eu juro que nem beijar o Hugo eu beijei. Quando tava pra
acontecer, o sinal tocou. A culpa não é minha se a professora é uma baita de
uma míope e viu tudo errado.
GOLIAS: Tá bom, Lia. Tá bom. Pode voltar pra casa, que eu não tô pra
conversa hoje. Agora só falta o Galego vir com história de namoro.
Lia sai do escritório,
com raiva.
Cena 05. Ext. Prefeitura.
Frente. Tarde.
Hugo espera Lia do lado de fora da
prefeitura. A menina chega.
HUGO: E aí, Lia. Como é que foi com o seu pai?
LIA: Ele não gostou nada da história. Mas Hugo, a gente nem se
beijou. Qual é o motivo da raiva?
HUGO: A gente não se beijou ainda.
LIA: Hugo, você não...
Hugo joga uma pedra na
janela do escritório de Golias. O prefeito olha para a janela e vê a filha
beijando ele.
GOLIAS (grita): Liiiiaaaaa!!!!!
Hugo e Lia continuam se
beijando. Nesse momento, o trio elétrico de Leolina estaciona em frente a
prefeitura. Leolina está discursando. Uma grande multidão está fazendo uma
passeata.
LEOLINA: Povo de Esmeralda, amanhã é o grande dia! É o dia da eleição! E
não se deixem ser comprados por certos candidatos (aponta para a prefeitura,
onde está Golias) que não fazem nada de bom para a cidade. Votem em Leolina
para a primeira prefeita do sexo feminino da cidade de Esmeralda! Votem em mim!
Todos aplaudem.
MULTIDÃO: Lê lê lê ô... Leolina! Lê lê lê ô... Leolina!
GOLIAS: Eu tô me sentindo um peixe. Tô fu!
Golias fica sem saber o
que fazer.
Cena 06. Int. Casa de
Lourival. Sala. Tarde.
Zaqueu e Karina estão abraçados,
assistindo televisão. A campainha toca. Nandinha entra na sala.
NANDINHA: Eu atendo!
A víbora abre a porta.
Em sua frente, está um homem engravatado.
HOMEM: Fernanda de Sousa e Albuquerque?
NANDINHA: Sou eu mesma, por quê?
HOMEM: Você está presa por matar um homem em Dubai há algum tempo
atrás.
Nandinha se assusta.
FIM DO CAPÍTULO

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