sábado, 4 de abril de 2015

Capítulo 29: Salto alto


CENA 1: Sala do delegado em delegacia na Urca, RJ. MADRUGADA.
(Continuação imediata do capítulo anterior)
DEL. LACERDA: Aquela que desviou dinheiro da empresa do pai?
POLICIAL: Ela mesma.
DEL. LACERDA: Então, Sandro e doutora Mirtes, acho melhor irem embora.
SANDRO: A Verônica ficou maluca.
MIRTES: Ok, delegado.
O delegado devolve a mala para Sandro, e ele e Mirtes saem da delegacia.
POLICIAL: (PARA DEL. LACERDA) Vamos fazer o que, delegado?
DEL. LACERDA: Tentem ir atrás dela e vejam pelas câmeras de segurança pra onde ela foi.
POLICIAL: Esqueceu que sem luz não tem como as câmeras funcionarem?!
DEL. LACERDA: Bem lembrado! Então tentem procurar por ela nas redondezas.
POLICIAL: Entendido!
O policial sai da sala do delegado.

CENA 2: Sala de espera em hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
Cínthia passa pela sala de espera, colocando uma revista próxima ao seu rosto, para que Rejane nem Ingrid consigam vê-la, porém Ingrid observa algo estranho na mulher que passa.
INGRID: (TOM DE VOZ MAIS ALTO) Que foi, moça?
REJANE: Acho que sei quem é.
Rejane levanta-se e chega perto de Cínthia, jogando a revista no chão.
REJANE: Fugindo de nós, Cínthia?
CÍNTHIA: Eu? Como assim?
INGRID: Não se faça de sonsa.
Cínthia tenta sair da sala de espera, mas Rejane a segura pelo braço.
REJANE: Tá difícil de entender que você vai ter que falar por que tava fugindo?
CÍNTHIA: Eu não devo satisfações da minha vida a vocês.
INGRID: (PROVOCANDO) Tava querendo fugir, Cínthia?
CÍNTHIA: Preciso ir já.
INGRID: Não vai nos contar o que aconteceu?
CÍNTHIA: Tchauzinho.
Cínthia deixa a sala de espera.

CENA 3: Sala do apartamento de Julia, Susana e Alice na Urca, RJ. MADRUGADA.
As amigas estão sentadas no sofá e em puffs, menos Alice que está na janela e observa Cínthia saindo do hospital, sozinha enquanto espera pelo motorista ou um táxi.
JULIA: (PARA ALICE) Tá vendo o que aí, Alice?
ALICE: Nada não. Eu vou sair. Volto daqui a pouco.
SUSANA: Nós vamos com você. Tá chovendo demais, você pode cair.
ALICE: Não precisa.
SUSANA: Mas a gente só quer ajudar. Vou pegar minha bolsa pra ir com você.
JULIA: E eu pego o guarda chuva. Não sai daqui, Alice.
Susana e Julia vão ao quarto para pegar o que avisaram, mas Alice pega todas as chaves da casa, que estão em cima de uma mesinha, sai do apartamento e tranca a porta do lado de fora. Susana e Julia voltam à sala e não encontram Alice.
SUSANA: Ela é muito teimosa!
JULIA: Vamos atrás dela.
Susana procura pelas chaves que estavam na mesinha.
SUSANA: Julia, cadê as suas chaves?
JULIA: Na mesinha.
SUSANA: Não tão não, nem as minhas. Ela levou.
JULIA: Meu Deus. Deve ser algo bem sério.
SUSANA: Ela é cheia de mistérios.
JULIA: Acho que a Cínthia Corlonn tava nesse hospital.
SUSANA: Ah é. Bem lembrado, ela deve ter visto a Cínthia ali.

CENA 4: Faixada do hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
Cínthia fica esperando por seu motorista, mas percebendo sua demora, ela faz sinal e entra num carro de táxi.
MOTORISTA DE TÁXI: Qual o destino, senhora?
CÍNTHIA: O heliporto.
MOTORISTA: Ok.
CÍNTHIA: Quanto tempo demora?
MOTORISTA: Uns quinze minutos.
CÍNTHIA: Ok.
O táxi sai das proximidades do hospital e vai em direção ao heliporto. Nesse momento, Alice chega à faixada do hospital e entra.

CENA 5: Sala de espera em hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
Rejane e Ingrid continuam sentadas na sala de espera.
REJANE: (PARA INGRID) Por que você deixou ela ir embora?
INGRID: Pelo que conheço da Cínthia, ela vai fugir mesmo, mas assim podemos agir livremente aqui. E o Manuel, o motorista, disse que ia voltar daqui a uns vinte minutos. Pelo menos ficamos com o motorista perto de nós.
REJANE: Tá querendo pegar aquele velho com barriga de chop?
INGRID: Eu não. Isso até ajuda a gente, mas não é tão bom assim não.
REJANE: Tem um lado negativo mesmo, mas vamos ver se ela para de encher nosso saco.
INGRID: Exato!
REJANE: Amanhã vamos na casa da velha Clotilde?
INGRID: Sim. Temos que continuar o plano logo. É o dia de acabar com ela.
REJANE: Qual o plano mesmo?
INGRID: Antes da ginástica, ela toma um remédio fatal e vai ficar entre a vida e morte. Tive que mudar umas coisinhas. Aí aparecemos lá quando ela tiver morrendo e por mera coincidência a advogada dela estará passando por ali, e passará as coisas pro nosso nome?
REJANE: Isso é tão fácil assim?
INGRID: A Mirtes vai parecer fácil.
REJANE: Mirtes é a advogada dela?
INGRID: Não, essa Mirtes já ajudou a Cínthia, ela que me recomendou, mas vamos fazer a velha acreditar que Mirtes é a advogada dela.
REJANE: Ótimo!
INGRID: Amanhã precisamos arrumar um outro emprego.
REJANE: Trabalhar mais. Por quê?
INGRID: Essa fuga da Cínthia é muito suspeita. Para cuidarmos da mansão, vamos ter que trabalhar e temos que ter um outro emprego pra não desconfiarem da gente.
REJANE: Aonde?
INGRID: Não sei ainda.
Alice entra na sala de espera e senta-se ao lado de Ingrid, e Rejane vai ao banheiro.
ALICE: (PARA INGRID) Seu nome é Ingrid, não é?
INGRID: Sim. Por quê?
ALICE: Você conhece a Cínthia Corlonn. Certo?
INGRID: Vá ao ponto.
ALICE: Não sei se me conhece, me chamo Alice, a Cínthia me humilhou na My Body na frente de todos e me demitiu. Agora eu tô na Mais Saúde e quero ferrar com ela.
INGRID: Por que veio falar comigo?
ALICE: Geralmente pessoas que andam muito com ela possam saber coisas sobre ela.
INGRID: Eu? Não ando com ela.
ALICE: Eu sei sim, inclusive do barraco de Petrópolis com você e a sua amiguinha.
INGRID: Então tá. O que você quer?
ALICE: Um podre dela.
INGRID: Para que você quer isso?
ALICE: Prefiro me manter mais segura contra ela, tento segredos dela.
INGRID: Mas toma cuidado. Ela é perigosa.
ALICE: Eu sei.
INGRID: Que bom, mas o que terei em troca?
ALICE: O meu silêncio.
INGRID: Isso é pouco. Você trabalha aonde mesmo agora?
ALICE: Mais Saúde.
INGRID: Eu quero um emprego lá.
ALICE: Emprego?
INGRID: É.
ALICE: Não é tão difícil. Só ir lá direto, pode falar que me conhece.
INGRID: Então tá bom.
ALICE: Agora conta o podre.

CENA 6: Táxi pelas ruas da Urca, RJ. MADRUGADA.
O motorista do táxi dirige em direção ao heliporto. Chove forte no Rio de Janeiro, prejudicando o trânsito.
O telefone de Cínthia toca e ela atende.
CÍNTHIA: (POR TEL.) Quem é?
SANDRO: (POR TEL.) Sandro.
CÍNTHIA: Tá com a vadia da Verônica aí?
SANDRO: Esse que é o problema.
CÍNTHIA: Ela não quis sair com vocês?
SANDRO: Não. É pior.
CÍNTHIA: Desembucha logo.
SANDRO: Ela fugiu enquanto eu tava na sala do delegado pagando a fiança.
CÍNTHIA: Ela é uma vadia! Como ela conseguiu fugir?
SANDRO: Parece que ela arrumou amiguinhos lá dentro, então a luz acabou e ela se mandou.
CÍNTHIA: Vaca!
SANDRO: Ela é esperta, isso sim!
CÍNTHIA: Esperta ela não é, a pessoa que tirou ela dali que é esperta e ao mesmo tempo burra, porque ter uma inútil como essa garota como cúmplice é horrível.
SANDRO: Você tem uma colega do tráfico chamada Vilma né?
CÍNTHIA: Sim. Ela tá presa. Por quê?
SANDRO: A Verônica fugiu lá, mas trancou essa Vilma na cela.
CÍNTHIA: Ela não resgatou a Vilma?
SANDRO: Não.
CÍNTHIA: Como você sabe?
SANDRO: Um policial disse.
CÍNTHIA: Muito estranho isso.                                                       
SANDRO: Ela deve ter deixado a Vilma lá pra não causar desconfiança.
CÍNTHIA: Ou porque ela não quis soltar a Vilma.
SANDRO: Pra mim, quem tirou ela de lá foi a Vilma e o grupo dela.
CÍNTHIA: Pode ser. Eu vou ver isso depois, essa hora eles já devem estar quase dormindo. As vendas começam cedinho. Eu vou acabar com eles se isso for verdade.
SANDRO: Tá. Vamos nos encontrar no heliporto?
CÍNTHIA: Sim. Você tá chegando?
SANDRO: Sim, e você?
CÍNTHIA: O motorista desse táxi tá mais lerdo que uma tartaruga.
SANDRO: Então até daqui a pouco.
CÍNTHIA: Tá.
Cínthia desliga o telefone.

CENA 7: Sala de espera em hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
INGRID: Olha, você não pode falar que fui eu que te falei isso. Eu tô com um pouco de raiva da Cínthia porque ela fugiu e me deixou aqui com a Rejane, mas assim mesmo não quero que conte. Se contar, você tá ferrada.
ALICE: Pode deixar, agora eu sou um túmulo.
INGRID: Melhor assim. Um dia, um tava ouvindo barulhos e movimentação estranhas no corredor onde fica o meu quarto e o dela, então eu resolvi ir ao quarto dela e espiei pela porta, que não estava totalmente fechada, ela abrindo gaiolas e caixas cheias de animais.
ALICE: Ela é traficante?
INGRID: Tudo indica que sim.
ALICE: Ótimo. Então eu já vou.
INGRID: Me dê seu número antes.
ALICE: Tá.
Alice e Ingrid trocam os números dos telefones.                                                                          
ALICE: Preciso ir.
Alice deixa a sala de espera. Rejane volta.
REJANE: Quem era aquela?
INGRID: Queria que eu dissesse coisas da Cínthia.
REJANE: Imprensa?
INGRID: Sim, mas eu não disse nada.
REJANE: Tá.

CENA 8: Esconderijo em galpão na Urca, RJ. MADRUGADA.
Verônica entra no galpão ao lado de dois homens altos e fortes. O galpão é sujo, com paredes sem tinta ainda, com a estrutura delas à mostra.
VERÔNICA: O que vamos fazer aqui?
HOMEM: A Vilma explicou o que você vai fazer?
VERÔNICA: Mais ou menos. Qual seu nome?
HOMEM: Me chama de Rico.
VERÔNICA: Tá. Ela me disse sobre as drogas e os animais.
RICO: Ok. Eu vou te entregar agora um pacote pra você vender.
VERÔNICA: Mas como eu vendo isso?
RICO: Você se vira.
VERÔNICA: Mas eu nunca vendi esse tipo de coisas.
RICO: Você aceitou a proposta da Vilma, então vai ter que cumprir e fazer o que a gente manda.
VERÔNICA: Eu não posso vender isso! Não quero me meter com traficantes, gente que não presta.
RICO: Tá me chamando de imprestável? Vou te mostrar que eu presto.
VERÔNICA: Não precisa. Eu só tô querendo dizer que não sei nem onde eu posso vender isso.
RICO: Aí você vai ter que se virar. Nós demos nosso jeito pra te tirar da cadeia, então vai ter que nos ajudar.
VERÔNICA: Então tá.
RICO: Agora vamos dar um trato no seu cabelo.
VERÔNICA: Como assim?
RICO: Assim não dá. A Djanira vai deixar ele marrom e curto.
VERÔNICA: Nãoooo.
RICO: Sem frescura.
Djanira, uma mulher baixa, gorda e forte aproxima-se de Verônica, corta o cabelo da perua e pinta de castanho.

CENA 9: Sala do apartamento de Julia, Susana e Alice, Urca, RJ. MADRUGADA.
Alice entra no apartamento.
JULIA: Onde você tava, Alice?
ALICE: Fui resolver umas coisinhas. Nada demais.
SUSANA: Fala pra gente, Alice.
ALICE: Não posso agora.
SUSANA: É alguma coisa a ver com a Cínthia?
ALICE: Não vou falar ainda.
JULIA: Mas da próxima vez não nos tranca aqui, ok?
ALICE: Tá.
Alice fica quieta e depois vai ao seu quarto.

CENA 10: Esconderijo em galpão na Urca, RJ. MADRUGADA.
Djanira termina seu trabalho e vai dormir.
RICO: O que achou, Verônica?
VERÔNICA: Tô parecendo um moleque.
RICO: (RINDO) É assim mesmo que tem que ser.
VERÔNICA: Quando que eu vou ter que vender as mercadorias?
RICO: Amanhã de manhã cedo você vai porque o pessoal tá saindo da gandaia.
VERÔNICA: Umas nove horas?
RICO: (RINDO) Claro que não. Umas cinco.
VERÔNICA: (SURPRESA) Cinco?
RICO: Sim. Agora eu vou descansar.
VERÔNICA: Onde eu posso dormir?
RICO: Nesse colchonete aí.
VERÔNICA: Mas isso é igual a dormir no chão.
RICO: Então pode dormir no chão.
Começa a pingar em cima de Verônica por causa de um problema no telhado.
VERÔNICA: Ahh. Que isso?
RICO: É chuva. Tá chovendo forte. É melhor você dormir logo.
VERÔNICA: Mas vou acordar ensopada.
RICO: Pelo menos não vai ficar com calor.
VERÔNICA: Ah, meu Deus.
RICO: Eu vou dormir. Tchau.
Rico afasta-se de Verônica.

CENA 11: Heliporto na Urca, RJ. MADRUGADA.
Cínthia chega de táxi ao heliporto e encontra Sandro esperando-a na porta. Como chove muito, ela pega seu guarda chuva e sai do táxi para se encontrar com Sandro. O taxista dirige seu carro para bem longe dali, deixando Cínthia com Sandro.
CÍNTHIA: Já conferiu tudo sobre nosso voo?
SANDRO: Estava te esperando.
CÍNTHIA: Tá.
Cínthia e Sandro abrem o portão, que estava encostado e entram no heliporto, que está bem abandonado. Eles veem um funcionário e aproximam-se dele.
SANDRO: Ei, moço, cadê o piloto dela?
FUNCIONÁRIO: Qual o nome?
SANDRO: Cínthia.
FUNCIONÁRIO: Olha, pela chuva, não vai ter voo hoje não, só amanhã agora. Nem tem mais piloto aqui. Eu tô só fechando o heliporto.
CÍNTHIA: O que?


CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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