CENA 1: Sala do delegado
em delegacia na Urca, RJ. MADRUGADA.
(Continuação
imediata do capítulo anterior)
DEL.
LACERDA: Aquela que desviou dinheiro da empresa do pai?
POLICIAL:
Ela mesma.
DEL.
LACERDA: Então, Sandro e doutora Mirtes, acho melhor irem embora.
SANDRO:
A Verônica ficou maluca.
MIRTES:
Ok, delegado.
O
delegado devolve a mala para Sandro, e ele e Mirtes saem da delegacia.
POLICIAL:
(PARA DEL. LACERDA) Vamos fazer o que, delegado?
DEL.
LACERDA: Tentem ir atrás dela e vejam pelas câmeras de segurança pra onde ela
foi.
POLICIAL:
Esqueceu que sem luz não tem como as câmeras funcionarem?!
DEL.
LACERDA: Bem lembrado! Então tentem procurar por ela nas redondezas.
POLICIAL:
Entendido!
O
policial sai da sala do delegado.
CENA 2: Sala de espera
em hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
Cínthia
passa pela sala de espera, colocando uma revista próxima ao seu rosto, para que
Rejane nem Ingrid consigam vê-la, porém Ingrid observa algo estranho na mulher
que passa.
INGRID:
(TOM DE VOZ MAIS ALTO) Que foi, moça?
REJANE:
Acho que sei quem é.
Rejane
levanta-se e chega perto de Cínthia, jogando a revista no chão.
REJANE:
Fugindo de nós, Cínthia?
CÍNTHIA:
Eu? Como assim?
INGRID:
Não se faça de sonsa.
Cínthia
tenta sair da sala de espera, mas Rejane a segura pelo braço.
REJANE:
Tá difícil de entender que você vai ter que falar por que tava fugindo?
CÍNTHIA:
Eu não devo satisfações da minha vida a vocês.
INGRID:
(PROVOCANDO) Tava querendo fugir, Cínthia?
CÍNTHIA:
Preciso ir já.
INGRID:
Não vai nos contar o que aconteceu?
CÍNTHIA:
Tchauzinho.
Cínthia
deixa a sala de espera.
CENA 3: Sala do
apartamento de Julia, Susana e Alice na Urca, RJ. MADRUGADA.
As
amigas estão sentadas no sofá e em puffs, menos Alice que está na janela e
observa Cínthia saindo do hospital, sozinha enquanto espera pelo motorista ou
um táxi.
JULIA:
(PARA ALICE) Tá vendo o que aí, Alice?
ALICE:
Nada não. Eu vou sair. Volto daqui a pouco.
SUSANA:
Nós vamos com você. Tá chovendo demais, você pode cair.
ALICE:
Não precisa.
SUSANA:
Mas a gente só quer ajudar. Vou pegar minha bolsa pra ir com você.
JULIA:
E eu pego o guarda chuva. Não sai daqui, Alice.
Susana
e Julia vão ao quarto para pegar o que avisaram, mas Alice pega todas as chaves
da casa, que estão em cima de uma mesinha, sai do apartamento e tranca a porta
do lado de fora. Susana e Julia voltam à sala e não encontram Alice.
SUSANA:
Ela é muito teimosa!
JULIA:
Vamos atrás dela.
Susana
procura pelas chaves que estavam na mesinha.
SUSANA:
Julia, cadê as suas chaves?
JULIA:
Na mesinha.
SUSANA:
Não tão não, nem as minhas. Ela levou.
JULIA:
Meu Deus. Deve ser algo bem sério.
SUSANA:
Ela é cheia de mistérios.
JULIA:
Acho que a Cínthia Corlonn tava nesse hospital.
SUSANA:
Ah é. Bem lembrado, ela deve ter visto a Cínthia ali.
CENA 4: Faixada do
hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
Cínthia
fica esperando por seu motorista, mas percebendo sua demora, ela faz sinal e
entra num carro de táxi.
MOTORISTA
DE TÁXI: Qual o destino, senhora?
CÍNTHIA:
O heliporto.
MOTORISTA:
Ok.
CÍNTHIA:
Quanto tempo demora?
MOTORISTA:
Uns quinze minutos.
CÍNTHIA:
Ok.
O
táxi sai das proximidades do hospital e vai em direção ao heliporto. Nesse
momento, Alice chega à faixada do hospital e entra.
CENA 5: Sala de espera
em hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
Rejane
e Ingrid continuam sentadas na sala de espera.
REJANE:
(PARA INGRID) Por que você deixou ela ir embora?
INGRID:
Pelo que conheço da Cínthia, ela vai fugir mesmo, mas assim podemos agir
livremente aqui. E o Manuel, o motorista, disse que ia voltar daqui a uns vinte
minutos. Pelo menos ficamos com o motorista perto de nós.
REJANE:
Tá querendo pegar aquele velho com barriga de chop?
INGRID:
Eu não. Isso até ajuda a gente, mas não é tão bom assim não.
REJANE:
Tem um lado negativo mesmo, mas vamos ver se ela para de encher nosso saco.
INGRID:
Exato!
REJANE:
Amanhã vamos na casa da velha Clotilde?
INGRID:
Sim. Temos que continuar o plano logo. É o dia de acabar com ela.
REJANE:
Qual o plano mesmo?
INGRID:
Antes da ginástica, ela toma um remédio fatal e vai ficar entre a vida e morte.
Tive que mudar umas coisinhas. Aí aparecemos lá quando ela tiver morrendo e por
mera coincidência a advogada dela estará passando por ali, e passará as coisas
pro nosso nome?
REJANE:
Isso é tão fácil assim?
INGRID:
A Mirtes vai parecer fácil.
REJANE:
Mirtes é a advogada dela?
INGRID:
Não, essa Mirtes já ajudou a Cínthia, ela que me recomendou, mas vamos fazer a
velha acreditar que Mirtes é a advogada dela.
REJANE:
Ótimo!
INGRID:
Amanhã precisamos arrumar um outro emprego.
REJANE:
Trabalhar mais. Por quê?
INGRID:
Essa fuga da Cínthia é muito suspeita. Para cuidarmos da mansão, vamos ter que
trabalhar e temos que ter um outro emprego pra não desconfiarem da gente.
REJANE:
Aonde?
INGRID:
Não sei ainda.
Alice
entra na sala de espera e senta-se ao lado de Ingrid, e Rejane vai ao banheiro.
ALICE:
(PARA INGRID) Seu nome é Ingrid, não é?
INGRID:
Sim. Por quê?
ALICE:
Você conhece a Cínthia Corlonn. Certo?
INGRID:
Vá ao ponto.
ALICE:
Não sei se me conhece, me chamo Alice, a Cínthia me humilhou na My Body na
frente de todos e me demitiu. Agora eu tô na Mais Saúde e quero ferrar com ela.
INGRID:
Por que veio falar comigo?
ALICE:
Geralmente pessoas que andam muito com ela possam saber coisas sobre ela.
INGRID:
Eu? Não ando com ela.
ALICE:
Eu sei sim, inclusive do barraco de Petrópolis com você e a sua amiguinha.
INGRID:
Então tá. O que você quer?
ALICE:
Um podre dela.
INGRID:
Para que você quer isso?
ALICE:
Prefiro me manter mais segura contra ela, tento segredos dela.
INGRID:
Mas toma cuidado. Ela é perigosa.
ALICE:
Eu sei.
INGRID:
Que bom, mas o que terei em troca?
ALICE:
O meu silêncio.
INGRID:
Isso é pouco. Você trabalha aonde mesmo agora?
ALICE:
Mais Saúde.
INGRID:
Eu quero um emprego lá.
ALICE:
Emprego?
INGRID:
É.
ALICE:
Não é tão difícil. Só ir lá direto, pode falar que me conhece.
INGRID:
Então tá bom.
ALICE:
Agora conta o podre.
CENA 6: Táxi pelas ruas
da Urca, RJ. MADRUGADA.
O
motorista do táxi dirige em direção ao heliporto. Chove forte no Rio de
Janeiro, prejudicando o trânsito.
O
telefone de Cínthia toca e ela atende.
CÍNTHIA:
(POR TEL.) Quem é?
SANDRO:
(POR TEL.) Sandro.
CÍNTHIA:
Tá com a vadia da Verônica aí?
SANDRO:
Esse que é o problema.
CÍNTHIA:
Ela não quis sair com vocês?
SANDRO:
Não. É pior.
CÍNTHIA:
Desembucha logo.
SANDRO:
Ela fugiu enquanto eu tava na sala do delegado pagando a fiança.
CÍNTHIA:
Ela é uma vadia! Como ela conseguiu fugir?
SANDRO:
Parece que ela arrumou amiguinhos lá dentro, então a luz acabou e ela se
mandou.
CÍNTHIA:
Vaca!
SANDRO:
Ela é esperta, isso sim!
CÍNTHIA:
Esperta ela não é, a pessoa que tirou ela dali que é esperta e ao mesmo tempo
burra, porque ter uma inútil como essa garota como cúmplice é horrível.
SANDRO:
Você tem uma colega do tráfico chamada Vilma né?
CÍNTHIA:
Sim. Ela tá presa. Por quê?
SANDRO:
A Verônica fugiu lá, mas trancou essa Vilma na cela.
CÍNTHIA:
Ela não resgatou a Vilma?
SANDRO:
Não.
CÍNTHIA:
Como você sabe?
SANDRO:
Um policial disse.
CÍNTHIA: Muito estranho isso.
SANDRO:
Ela deve ter deixado a Vilma lá pra não causar desconfiança.
CÍNTHIA:
Ou porque ela não quis soltar a Vilma.
SANDRO:
Pra mim, quem tirou ela de lá foi a Vilma e o grupo dela.
CÍNTHIA:
Pode ser. Eu vou ver isso depois, essa hora eles já devem estar quase dormindo.
As vendas começam cedinho. Eu vou acabar com eles se isso for verdade.
SANDRO:
Tá. Vamos nos encontrar no heliporto?
CÍNTHIA:
Sim. Você tá chegando?
SANDRO:
Sim, e você?
CÍNTHIA:
O motorista desse táxi tá mais lerdo que uma tartaruga.
SANDRO:
Então até daqui a pouco.
CÍNTHIA:
Tá.
Cínthia
desliga o telefone.
CENA 7: Sala de espera
em hospital na Urca, RJ. MADRUGADA.
INGRID:
Olha, você não pode falar que fui eu que te falei isso. Eu tô com um pouco de
raiva da Cínthia porque ela fugiu e me deixou aqui com a Rejane, mas assim
mesmo não quero que conte. Se contar, você tá ferrada.
ALICE:
Pode deixar, agora eu sou um túmulo.
INGRID:
Melhor assim. Um dia, um tava ouvindo barulhos e movimentação estranhas no
corredor onde fica o meu quarto e o dela, então eu resolvi ir ao quarto dela e
espiei pela porta, que não estava totalmente fechada, ela abrindo gaiolas e
caixas cheias de animais.
ALICE:
Ela é traficante?
INGRID:
Tudo indica que sim.
ALICE:
Ótimo. Então eu já vou.
INGRID:
Me dê seu número antes.
ALICE:
Tá.
Alice e Ingrid trocam os números dos
telefones.
ALICE:
Preciso ir.
Alice
deixa a sala de espera. Rejane volta.
REJANE:
Quem era aquela?
INGRID:
Queria que eu dissesse coisas da Cínthia.
REJANE:
Imprensa?
INGRID:
Sim, mas eu não disse nada.
REJANE:
Tá.
CENA 8: Esconderijo em
galpão na Urca, RJ. MADRUGADA.
Verônica
entra no galpão ao lado de dois homens altos e fortes. O galpão é sujo, com
paredes sem tinta ainda, com a estrutura delas à mostra.
VERÔNICA:
O que vamos fazer aqui?
HOMEM:
A Vilma explicou o que você vai fazer?
VERÔNICA:
Mais ou menos. Qual seu nome?
HOMEM:
Me chama de Rico.
VERÔNICA:
Tá. Ela me disse sobre as drogas e os animais.
RICO:
Ok. Eu vou te entregar agora um pacote pra você vender.
VERÔNICA:
Mas como eu vendo isso?
RICO:
Você se vira.
VERÔNICA:
Mas eu nunca vendi esse tipo de coisas.
RICO:
Você aceitou a proposta da Vilma, então vai ter que cumprir e fazer o que a
gente manda.
VERÔNICA:
Eu não posso vender isso! Não quero me meter com traficantes, gente que não
presta.
RICO:
Tá me chamando de imprestável? Vou te mostrar que eu presto.
VERÔNICA:
Não precisa. Eu só tô querendo dizer que não sei nem onde eu posso vender isso.
RICO:
Aí você vai ter que se virar. Nós demos nosso jeito pra te tirar da cadeia,
então vai ter que nos ajudar.
VERÔNICA:
Então tá.
RICO:
Agora vamos dar um trato no seu cabelo.
VERÔNICA:
Como assim?
RICO:
Assim não dá. A Djanira vai deixar ele marrom e curto.
VERÔNICA:
Nãoooo.
RICO:
Sem frescura.
Djanira,
uma mulher baixa, gorda e forte aproxima-se de Verônica, corta o cabelo da
perua e pinta de castanho.
CENA 9: Sala do
apartamento de Julia, Susana e Alice, Urca, RJ. MADRUGADA.
Alice
entra no apartamento.
JULIA:
Onde você tava, Alice?
ALICE:
Fui resolver umas coisinhas. Nada demais.
SUSANA:
Fala pra gente, Alice.
ALICE:
Não posso agora.
SUSANA:
É alguma coisa a ver com a Cínthia?
ALICE:
Não vou falar ainda.
JULIA:
Mas da próxima vez não nos tranca aqui, ok?
ALICE:
Tá.
Alice
fica quieta e depois vai ao seu quarto.
CENA 10: Esconderijo em
galpão na Urca, RJ. MADRUGADA.
Djanira
termina seu trabalho e vai dormir.
RICO:
O que achou, Verônica?
VERÔNICA:
Tô parecendo um moleque.
RICO:
(RINDO) É assim mesmo que tem que ser.
VERÔNICA:
Quando que eu vou ter que vender as mercadorias?
RICO:
Amanhã de manhã cedo você vai porque o pessoal tá saindo da gandaia.
VERÔNICA:
Umas nove horas?
RICO:
(RINDO) Claro que não. Umas cinco.
VERÔNICA:
(SURPRESA) Cinco?
RICO:
Sim. Agora eu vou descansar.
VERÔNICA:
Onde eu posso dormir?
RICO:
Nesse colchonete aí.
VERÔNICA:
Mas isso é igual a dormir no chão.
RICO:
Então pode dormir no chão.
Começa
a pingar em cima de Verônica por causa de um problema no telhado.
VERÔNICA:
Ahh. Que isso?
RICO:
É chuva. Tá chovendo forte. É melhor você dormir logo.
VERÔNICA:
Mas vou acordar ensopada.
RICO:
Pelo menos não vai ficar com calor.
VERÔNICA:
Ah, meu Deus.
RICO:
Eu vou dormir. Tchau.
Rico
afasta-se de Verônica.
CENA 11: Heliporto na
Urca, RJ. MADRUGADA.
Cínthia
chega de táxi ao heliporto e encontra Sandro esperando-a na porta. Como chove
muito, ela pega seu guarda chuva e sai do táxi para se encontrar com Sandro. O
taxista dirige seu carro para bem longe dali, deixando Cínthia com Sandro.
CÍNTHIA:
Já conferiu tudo sobre nosso voo?
SANDRO:
Estava te esperando.
CÍNTHIA:
Tá.
Cínthia
e Sandro abrem o portão, que estava encostado e entram no heliporto, que está
bem abandonado. Eles veem um funcionário e aproximam-se dele.
SANDRO:
Ei, moço, cadê o piloto dela?
FUNCIONÁRIO:
Qual o nome?
SANDRO:
Cínthia.
FUNCIONÁRIO:
Olha, pela chuva, não vai ter voo hoje não, só amanhã agora. Nem tem mais
piloto aqui. Eu tô só fechando o heliporto.
CÍNTHIA:
O que?
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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