Cena 01. Int. Colégio
Alberto Villani. Sala de Aula. Dia.
Cabeção está desmaiado na sala de
aula. Os alunos estão em volta dele, sem saber o que fazer. Uma fumaça preta
percorre a sala.
GI: O que tá acontecendo? Que fumaça é essa?
GAGO: Cof! Cof! Eu tô até to-to-tossindo. Será que al-alguma coisa
que-quei-queimou?
LETÍCIA: Eu vou lá na sala do diretor Rômulo falar que o professor
desmaiou aqui na sala.
Letícia está com o
medalhão de fênix no pescoço. O medalhão começa a brilhar e toda a fumaça preta
vai embora da sala. Nesse momento, Cabeção acorda.
BATERA: Professor Cabeção, graças a Deus você acordou. O que aconteceu?
Será que foi uma queda de pressão?
CABEÇÃO: A terra recebe o milho como a mãe recebe um filho.
BATERA: O quê? Professor Cabeção, você tá bem?
CABEÇÃO: Tô sim. É que eu queria ver se eu tava conseguindo falar. Mas o
que aconteceu? Porque eu desmaiei?
GI: Essa é a pergunta que não quer calar. Mas fiquem calmos, que
nós veremos sexta, no Globo Repórter.
GAGO: Gi, não com-complica.
CABEÇÃO: Bom, eu acho que a minha pressão abaixou. Mas já tá tudo bem.
BATERA: Tem certeza que não é melhor você ir no médico pra ver se está
tudo certo mesmo?
CABEÇÃO: Tenho sim. Cadê a Letícia?
GI: Ela foi chamar o diretor Rômulo e...
Rômulo e Letícia
aparecem na sala.
RÔMULO: Tá tudo bem? A Letícia foi me comunicar que você desmaiou,
professor Artur.
CABEÇÃO: É, eu desmaiei sim. Mas não precisa ficar preocupado, já tá
tudo sob controle.
RÔMULO: Que bom. Gente, eu queria aproveitar que eu vim aqui pra avisar
que semana que vem, uma hora dessas vocês já vão estar no avião com destino ao
Estado Islâmico. Preparem-se!
Rômulo sai da sala.
GI: Mas é impressionante. De onde diabos o diretor Rômulo tirou
essa ideia? Ele tá vendo o nosso desespero e ainda vem com essa astúcia. Mas é
muita cara de pau mesmo.
CABEÇÃO: Gi, ele tem os motivos dele. E, pode ter certeza, ele não quer
fazer isso.
GI: Como assim, professor? Você sabe de alguma coisa a respeito
disso?
CABEÇÃO: Olha, eu acho melhor a gente voltar para a aula. Mas primeiro
eu vou ali no bebedouro tomar uma água. Eu já volto.
Cabeção sai da sala.
Cena 02. Int. Colégio
Alberto Villani. Pátio. Dia.
Cabeção toma água no bebedouro.
Dona Olga se aproxima dele.
OLGA: Eu fiquei sabendo que você desmaiou, professor.
CABEÇÃO: Oi, Dona Olga. Eu nem vi a senhora aí. É verdade, eu tive uma
queda de pressão, mas já passou.
OLGA: Professor Artur, posso lhe dizer uma coisa? Não morre agora,
não, por favor. Você vai fazer muita gente sofrer. É seu primeiro ano como
professor, mas já conquistou todo mundo.
CABEÇÃO: Pode ficar tranquila, dona Olga. Tão cedo eu não bato as botas.
OLGA: Pode ser que sim, pode ser que não. Só Deus sabe o nosso
futuro. Mas tudo o que fazemos no presente, vai ter consequências. Por favor,
não se mete em nada errado. Se livra das más companhias. Se você tiver alguma
dificuldade, fala com Deus. Ele é o nosso melhor conselheiro. Vai por mim.
CABEÇÃO: Poxa, dona Olga. Obrigado. Agora eu tenho que voltar pra sala
de aula. Até mais.
OLGA: Até.
Cabeção volta para a
sala. Dona Olga fica pensativa. Ela lembra do marido, Aristeu, que faleceu há
algumas semanas.
OLGA: Ai, Aristeu, que falta você me faz. Olha por todo mundo aí em
cima, por favor.
Uma lágrima cai do olho
de dona Olga.
Cena 03. Int. Casa de barro.
Cômodo único. Dia.
Rodrigo dorme em um sofá velho, com
algumas molas saltadas para fora. Teresinha e Bonifácio observam o rapaz.
TERESINHA: Você não acha que ele está sendo muito severo com o rapaz?
BONIFÁCIO: Se a gente não tivesse se metido nessa enrascada, nada disso
teria acontecido. Mas já que a gente se meteu, a gente vai ficar na merda pra
sempre.
Rodrigo acorda.
RODRIGO (com os olhos
fechados): Caio, pode falar um pouco mais
baixo?
TERESINHA: Ô, seu Rodrigo. Ocê tá na nossa casa agora, lembra não?
RODRIGO (abre os olhos): Ah, desculpa dona Teresinha. Eu tinha me esquecido. Bom dia.
BONIFÁCIO: Bom dia, moço. Oia, nós vai ter que dar uma saidinha ligeira e
já volta. Ocê pode ficar sozinho uma horinha?
RODRIGO: Posso sim.
Bonifácio e Teresinha
saem da casa.
Cena 04. Int. Quarto escuro.
Interior. Dia.
(Sonoplastia: Música de mistério)
Teresinha e Bonifácio entram em uma
sala escura, iluminada apenas por velas. Teresinha pega uma bolsa encardida e,
de dentro, tira um saco com um pouco de sangue. Ela entrega para uma pessoa,
cujo rosto não podemos ver e cujos braços estão cobertos por uma manta preta.
Cena 05. Int. Casa de barro.
Cômodo único. Dia.
A sonoplastia da cena anterior
continua.
Rodrigo olha para o
braço e vê uma ferida.
(Fade Out: Música de mistério)
Cena 06. Int. Colégio
Alberto Villani. Sala de aula. Dia.
Cabeção faz o desenho
de uma nota musical no quadro. Ele está com os olhos vermelhos.
CABEÇÃO (sussurra): Mais uma vendida ilegalmente.
GI: Falou alguma coisa, professor?
CABEÇÃO: Cê não perdoa nenhuma, né Gi? Eu só tava aqui pensando alto com
os meus botões.
O sinal toca. Os alunos
saem.
CABEÇÃO: Tchau, gente. Bom final de semana.
Cabeção pega seu
celular, disca um número e aguarda ser atendido.
CABEÇÃO: Mais uma, certo? (pausa) Cara, isso é ilegal, sabia? Esse cara
não tem nada a ver com você. (pausa) Tá, eu sei que ninguém vai te ver fazendo
isso, mas eu só tô nessa com você porque eu fui obrigado, entendeu? Nunca que
eu faria nada disso. (pausa) Vai você! (desliga o celular)
Cabeção fica pensativo.
Cena 07. Int. Academia
Friedrich. Interior. Dia.
Raul e Marília ensaiam sozinhos uma
peça. A academia está vazia, pois todos estão a procura de Rodrigo.
RAUL: Esse texto é muito difícil. Esse cara que escreveu não podia
usar umas palavras mais simples? Pra que essa presepada toda? Por exemplo,
florete. O que é florete?
MARÍLIA: Todo mundo sabe que é esgrima, Raul.
RAUL: É, mas eu não sou todo mundo. Falasse esgrima de uma vez, pô.
MARÍLIA: Raul, se você não entende a linguagem poética, você nem devia
estar aqui na academia.
RAUL: Ah, é? E você vai fazer o quê? Me expulsar daqui.
MARÍLIA: Claro que não, mas dá pra reclamar menos e seguir o roteiro?
RAUL: Minha cabeça tá em outro lugar.
MARÍLIA: Tá no seu pescoço.
RAUL: Depois eu é que não entendo nada, né, Marília? O meu pensamento
tá em outro lugar. Satisfeita?
MARÍLIA: Tá bom, tá bom! E eu posso saber em que lugar o seu precioso
pensamento está?
RAUL: Esse lance aí do Rodrigo desaparecido, não sei não...
MARÍLIA: Para tudo! Para esse mundo que eu quero descer! Você preocupado
com o Rodrigo? Tá com febre?
RAUL: Eu não tô preocupado, eu só tô imaginando quem é que raptou ele
e como essa pessoa arquitetou tão bem o plano.
MARÍLIA: Você tá ligado que todo mundo tá suspeitando de você, né?
RAUL: Mas não fui eu.
MARÍLIA: Tá difícil de acreditar, Raul. Ainda mais eu, que sei que foi
você quem atropelou o Rodrigo.
Nesse momento, os
alunos chegam na academia.
TETÉIA: Como é que é?
GERALDO: Raul, eu nunca imaginei isso vindo de você.
TATI: E aí, como é que você vai explicar?
Raul fica assustado.
FIM DO CAPÍTULO

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