quarta-feira, 1 de abril de 2015

Episódio 3: Lúcia

O Monitor



         Depois das compras fomos até a casa da minha avó, que ficava mais perto que minha casa. Minha mãe combinara com ela de que eu ficaria na casa de minha avó Sonia até chegar o dia de meu ano letivo.
         Minha mãe tirou todos os itens que compramos de sua pequena bolsa sem fundo, e colocou tudo em cima da mesa. Os dois bichinhos que comprei o pombo que estava dento da gaiola e o gato que estava em meu colo, levei para o quarto e dei água para os dois. O cachorrinho que minha mãe comprara para Lucas estava faminto, e com um toque de sua varinha o pote do animalzinho se encheu-se de comida.
         Levei meus pertences para o quarto em que eu dormia quando ia para a casa de minha avó. Arrumei minhas coisas e fiquei pensando no dragão de fumaça e no que o elfo disse na loja. Não consegui chegar a conclusão alguma.
         De repente ouvi uma voz bem familiar vindo do andar de baixo, era a do meu padrasto. Odiei.
         Desci as escadas para ver o que aquele zumbi lerdo fazia lá, eu estava furiosa. Assim que cheguei na sala de estar, vi ele tomando chazinho de hortelã com a minha avó e a minha mãe. Os três conversavam e sorriam:
         - O que esse zumbi está fazendo aqui? - disse furiosa.
         - Não entendo por que você não gosta do Luiz! - falou minha mãe com um olhar fixo para mim.
         - Porque ele fica se fazendo bonzinho, mas eu sei que ele não é bonzinho! - falei olhando para ele.
         Luiz era um homem de seus trinta anos, ele tinha cabelos pretos e lisos que vinham até o ombro, sue pele era pálida e seu rosto contava com alguns remendos, seus olhos cor- de- mel davam destaque em seu rosto.
         Ele ficou me olhando e balançava a cabeça negativamente. Naquele instante o papagaio que ficava na varando da casa de minha avó gritou cantarolando:
         - Sonia, tem visita!
         Minha avó levantou se imediatamente do sofá indo até a porta e disse:
         - Deve ser quem eu estou esperando! - minha avó abriu a porta e com um sorriso no rosto, mandou a visita entrar.
         A tal visita era um jovem de seus dezoito anos com o cabelo vermelho-fogo e bem bagunçados, seus olhos pretos e penetrantes, a sua calça e sua blusa esfarrapada feita de folha de bananeira, seus  pés virados ao contrario, seus dentes eram afiados como de um tubarão, sua pele avermelhada como a de um índio e com orelhas pontudas. Ele era um curupira.
         - Onde está á sinhá que eu cuidar? - perguntou ele assassinando o português.
         - Ela está ali - disse minha avó apontando para mim, que estava de pé ao lado da escada.
         Fiquei surpresa, mas queria saber o que era. Minha avó então disse que o tal curupira era o meu monitor.
         - O monitor é quase um anjo da guarda para um bruxo. Ele o protege até se formar em magia. A república da magia conta com os curupiras para fazer esse trabalho, pois eles são os maiores guerreiros do mundo magico.
         - Sou Xamã, o seu protetor!- disse ele beijando minha mão - A     minha missão é proteger a sinhá de qualquer maneira! Guiarei seus passos e conselhos te darei! -fiquei encantada com suas palavras.
         - Sou Lucia Louves! - falei
         - Já sei seu nome e até tenho seu histórico! - falou ele
         Ele tinha meu histórico? Fiquei perplexa, ele sabia tudo de minha vida, não era possível!
         Minha avó disse que ele ficaria comigo desde aquele momento. Ele estralou os dedos e apareceu ao seu lado uma pequena mala com seus pertences.
         Logo minha mãe, Lucas e Luiz foram embora. Vovó preparou o jantar, que era purê de abobora, frango frito, arroz, salada de chuchu e suco de ameixa natural. Por fim teve um pavê trufado.

         Passado uma semana... Chegara o dia vinte sete de janeiro. Eu estava entusiasmada, já tinha feito amizade com Xamã que se mostrou um bom amigo. Minha avó estava preparando, junto comigo, a minha mala. Colocamos roupas de frio e de calor, levei mais ou menos umas três malas com todos os meus pertences, desde sapatos até material escolar e cosméticos.
         - Está tudo aqui, querida? - perguntou vovó fechando uma das malas
         - Está sim! - falei pegando meu diário.
         - Eu já estou atrasada, pois preciso está lá no mínimo duas horas antes que os alunos! - disse ela penteando os cabelos brancos.
         - E quem me levará até a escola? - indaguei
         - Agora você tem um monitor! - falou- Não necessita de ninguém para leva-la, se não o próprio Xamã! - ela estava indo para a sacada do quarto onde estávamos- E a proposito, sua mãe está chegando para te ver embarcando nas carruagens! Até mais tarde, querida! - disse minha avó estralando o dedo da mão direita e sumindo.
         - Mas vó... - não deu tempo, ela já tinha ido.
         Pedi ajuda para Xamã me ajudar a descer os três malões e ele estralou os  dedos e as malas desceram sozinhas, como se tivessem vida própria. Foi bom, pois assim não precisei carregar peso até a sala de estar.
         - Vamos! - chamou ele- Sua mãe já está lá embaixo esperando por sinhá!
         - Claro! - falei sorrindo - Só deixa eu pegar minha escova de dente que quase esqueci!
         Corri até o banheiro apanhei a escova de dente e passei a mão no frasco de perfume e desci as escadas correndo.
         Quando cheguei a sala, estava mamãe, Lucas e Xamã me esperando ao lado dos malões e dos meus dois bichos que estavam em gaiolas separadas.
         - Preparada, filha? - perguntou minha mãe
         - Estou sim, mãe! - falei indo para perto deles. Demos as mãos e com um estralar de dedos do curupira chegamos em frente ao terminal.
         Estava muito cheio, e havia criaturas mágicas de todos os tipos. Fomos até uma carruagem que estava mais vazia, os unicórnios, que são cavalos com um chifre e coloridos, estavam à frente das carruagens. Tinha meia dúzia em cada carruagem. Todas as carruagens eram fechadas. Elas pareciam pequenas por fora, mas quando abria a porta de uma delas, via-se que era imensamente grande, às vezes com dois andares e cabia mais de vinte bruxos em cada uma delas.
         Despedir-me de minha mãe e de meu irmão. Xamã e eu entramos na carruagem com os malões. Sentei- me perto da escada de aspiral, do lado da janela e Xamã ficou na parte de cima com os malões, que segundo ele era o lugar dos monitores.
         De principio, só tinha eu e Xamã na carruagem, mas em cerca de minutos ela se encheu de bruxos e curupiras.
         Eu fiquei olhando o movimento pela janela e prestei atenção em cada família. Vi a família de lobisomens com bruxos, a mesma que eu tinha visto na lanchonete no dia das compras. A mãe estava se despedindo dos filhos e dando conselhos:
         - Não quero saber de reclamações! - disse ela para o mais levado- Ouviu Pedro?
         - Ouvi, mãe!  disse ele, que tinha umas costeletas bem peludas e grandes, assim como os outros filhos dela.
         - Vão com Dumber! - disse ela beijando cada um dos cinco filhos- Que Dumber os abençoe! E que os monitores possam por juízo na cabeça de vocês!
         - Pode deixar mãe! - disse uma menina de seus quinze anos.
         - Marcos, não fique acanhado! - disse a Sra. levando o filho, que aparentava ter a minha idade, até a porta da carruagem onde eu estava- Vai dar tudo certo!
         - E se eu não for para o grupo que os meus irmãos estão? - perguntou ele tímido
         - Então você vai para um outro que o gato falante o colocar! - disse ela o beijando na testa- Não se preocupe, meu filho, o gato é um sábio!
         O menino peludo entrou na carruagem e começou a procurar lugar, juntamente com o seu curupira. O curupira olhou o lugar vago ao meu lado e disse:
         - Senta ali, ao lado daquela menina!
         - Posso? - perguntou ele para mim.
         - Claro! - disse- sinta-se a vontade!
         O curupira subiu e o menino ficou quieto na poltrona do meio.
         - Olá, eu me chamo Lucia! - me apresentei sorrindo
         - Eu sou Marcos! - disse ele retribuindo o sorriso- Marcos Lobos
         - Sou Lucia Louves! - falei - Quer uma bala? - estiquei a minha mão com um pacote de bala de caramelo para ele
         - Obrigado! - Marcos aceitou e comemos algumas balas- É a sua primeira vez na escola Magiscovs?
         - Isso! - falei com dificuldade, pois minha boca estava grudada com as balas de caramelo.
         - E pretende ir para que grupo? - indagou ele, também com dificuldade de falar
         - Grupo? - não sabia do que estava falando, acho que vovó esquecera de dizer esse pequeno detalhe, ou Xamã esqueceu-se de me contar essa noticia.
         - É! - disse ele mais animado- Nós do primeiro ano somos selecionados por um gato falante para um dos grupos da escola!
         - E como é? - eu fiquei curiosa- Quantos grupos são?
         - Isso eu já não sei! - disse ele- Eu só ouvi meus três irmãos mais velhos falarem, mas nunca soube como é!
         Logo deu a hora de irmos embora. Assim que a porta da carruagem se fechou, ouviu-se batidas na porta, um bruxo, abriu-a novamente e subiu uma bruxa da minha idade com um curupira:
         - Obrigado por esperar, Sr. João! - disse o curupira
         - Da próxima vez eu não abro! - disse ele irritado- Agora, ache um lugar, rápido! Os unicórnios já darão partida!
         A menina sentou-se no único lugar vazio, que era o da poltrona ao lado de Marcos. Ela tinha uns cabelos lisos, bem pretos, olhos verdes e era nítido no seu cocuruto ver uma espécie de barbatana.
         - Olá! - disse ela- Eu sou Amanda Botos! Qual é o nome de vocês?
         - Marcos Lobos! - disse ele com a boca cheia
         - E eu sou Lucia Louves! - falei sorrindo.
         - Prazer! - disse ela- Você é mestiço, né- perguntou ela ao Marcos.
         - Sim, de lobisomem!
         - Eu sou de boto-cor-de-rosa! -ela parecia nunca mais parar de falar- Meu pai é um boto, ele casou com minha mãe obrigado por meus avós que não queria ter uma neta sem pai...
         Ela foi interrompida, para o nosso alivio, pelo Sr. João, que pigarreou e disse:
         - Sejam todos bem vindos a bordo! Essa é a carruagem noventa e cinco e toda vez que vocês forem ou voltarem de Magiscovs só irão poder pegar ela! - disse ele sorrindo- Eu sou o instrutor de viagem de vocês! Para os alunos novos que não sabem como é a viagem,  digo logo, temos muitas turbulências por conta das nuvens! Boa viagem a todos!

         Ele acabou de falar e a carruagem deu um chaqualhão, como se estivesse saindo do chão. Ela começou a voar e logo vimos o céu do mundo mágico, que por sinal estava bem estrelado.

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