Cena 01. Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/
Noite.
Continuação do Capítulo anterior.
Eva e Miguel se beijam apaixonadamente. Close em Milena,
chocada e morta de ódio, que vira mais duas taças de champanhe.
Milena se levanta, totalmente alterada.
Milena (gritando/ alterada) – Vamos fazer um brinde pessoal.
Miguel, ao ouvir a voz de Milena, para de beijar Eva e assustado
olha para Milena.
Milena (bêbada) – Um
brinde ao casal que está se beijando. Aliás, já parou, que pena. Pararam por
quê? Eu estava gostando tanto dessa cena, digna de Oscar.
Close em Miguel, totalmente perplexo e assustado.
Eva, Miguel e todos no restaurante olham para Milena, que
está cambaleante. Tudo fica em silêncio.
A recepcionista chega próxima a Milena.
Recepcionista (cochichando) – Por favor, mantenha a calma. Esse ambiente é familiar.
Milena (gritando) – Familiar
como, me explica? Eles estavam no desfrute máximo e ninguém disse nada. Agora
eu, uma dama da sociedade, resolvo me meter, falar tudo que penso e proteger as
pessoas de bem e recebo isso como prêmio? Poupe-me filhinha.
Close na mesa de Miguel.
Eva – Essa mulher tá
completamente maluca.
Miguel – Vamos embora
daqui.
Eva – E com esse gesto,
mostrar que o que estamos fazendo é proibido? Jamais.
Milena (gritando) – Agora
o casalzinho vai discutir a relação? É o famoso entre tapas e beijos.
Eva se levanta da mesa e fica olhando seriamente para Milena.
Miguel (segurando a mão de Eva) – Onde você pensa que vai? Fica aqui.
Eva – Vou falar com essa
mulher.
Miguel – Não, nem pense.
Eva – Você a conhece?
Miguel (enrolado) – Não...
Nunca.
Eva se desvencilha da mão de Miguel e caminha até a mesa onde
Milena está. Miguel e todos do restaurante ficam calados e olham para elas.
Eva – Boa noite.
Milena – Só se for pra
você.
Eva – Pra mim não é uma
boa noite não. É uma espetacular, uma excelente noite. Agora, se a minha
felicidade te incomoda, não posso fazer nada. Paciência né minha querida, tem
que entubar.
Milena (gritando) – Você é
uma dessas vadias, que esses caras pegam pra se distrair.
Eva – Eu não sou não.
Mas se fosse o que você teria a ver com isso? Não pedi sua opinião para nada.
Milena – Muito burrinha
você. Vai sofrer muito e sabe por quê?
Eva – Hum?
Milena – Biscate de rua não
tem valor.
Eva – Você cansou e
conseguiu apagar metade do brilho da minha noite, sabia?
Milena (rindo) – Eu sou
superior meu bem, aceita que dói menos.
Eva pega uma taça de champanhe, toma uma golada e o restante
joga na cara de Milena.
Eva – Pra você se
refrescar um pouquinho. Esse champanhe está como você: Quente e azedo.
Eva faz sinal para ir embora com Miguel, que a acompanha.
Eva e Miguel saem do restaurante. Milena dá um soco na mesa.
Milena – Que mulherzinha
petulante. Ah mas o Miguel me paga.
Close em Milena com o rosto molhado e semblante de ódio.
Corta para:
Takes da Cidade
Corta para:
Cena 02. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Noite.
Ana Rosa e Fabrício estão sentados no sofá conversando,
quando Vitória aparece descendo as escadas, com muleta.
Fabrício – Quer
ajuda Dona Vitória?
Vitória – Poupe-me.
Ana Rosa – Ele
está querendo ser prestativo Vitória.
Vitória – Prestativo?
Sei. Depois do maldito acidente de carro, ele me deixou assim. Garoto
inconsequente.
Fabricio fica cabisbaixo.
Vitória – Quando
você pensa em ir embora Fabrício?
Fabrício – Ainda
não sei. Tô pensando em ir após a leitura do bendito testamento. O Álvaro está
cuidando de tudo.
Vitória senta-se em uma poltrona.
Vitória – Tá!
Ana Rosa – Quero
ir embora o quanto antes. Não gosto dessa cidade.
Vitória – Fica
assim não Ana. Eu tenho grandes planos pra você nessa cidade. Se quiser ficar
depois que o Fabrício for embora, pode ficar aqui.
Ana Rosa – Não!
Obrigada.
Nesse instante Milena entra desesperada, com uma cara de
choro e meio bêbada.
Milena (gritando) – Teresa
vem cá. Anda Teresa eu preciso falar com você.
Vitória – Calma
aí, para de gritar. Isso daqui não é hospício não.
Milena – Mas vai parecer,
espera seu filho chegar pra ver.
Teresa entra em cena, rapidamente.
Teresa – A senhora deseja
algo dona Milena.
Milena (alterada) – Pega
uma garrafa de álcool e sobe até meu quarto.
Milena sobe as escadas correndo.
Teresa (a Vitória) – O que
eu faço?
Vitória – Faz o
que ela manda. No máximo vai se matar carbonizada. Seria um alívio pra
humanidade.
Teresa sai da sala em direção a cozinha. Fabrício e Ana Rosa
se olham assustados.
Corta para:
Cena 03. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Rua/ Fachada da casa de
Fernanda/ Exterior/ Noite.
Eva e Miguel estão abraçados bem em frente à casa de Fernanda.
Miguel – Mil perdões meu
amor. Aquela maluca estragou nossa noite.
Eva – Não precisa pedir
desculpas. Aquela mulher que estava totalmente bêbada e decidiu acabar com a
noite de alguém. Infeliz, totalmente infeliz.
Miguel – Ah, mas a gente
pode marcar outro dia não pode?
Eva – Deve. Agora você
não me escapa mais não meu bem. Caiu nas redes de Eva Magalhães, será para
sempre de Eva Magalhães.
Miguel (meigo) – Cai
com muito gosto. Não quero sair mais.
Miguel e Eva se beijam.
Close NO BEIJO, EM SEGUIDA CLOSE EM Fernanda olhando tudo da
janela.
Corta para:
Cena 04. Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Noite.
Imagens do grandioso e iluminado jardim da mansão, que segue
já com os diálogos da cena posterior.
Milena (nervosa) – Vamos
Teresa, abra esse armário e coloque toda essa roupa na cama. Vou acabar com
tudo.
Teresa – Não faça isso dona
Milena.
Milena – Me dá isso daqui
também. Vou destruir tudo. TU-DO!
Corta rapidamente para:
Cena 05. Mansão Amadeu/ Quarto de Miguel/ Interior/ Noite.
Várias roupas, sapatos e gravatas de Miguel estão amontoados
em cima da cama do casal. Milena está terminando de derramar álcool em cima de
tudo, enquanto Teresa olha assustada.
Milena – Abre esse armário
e me dá todas as outras roupas, que vou colocar tudo no fogo. Ele não está com
uma piranha, então? Mande que ela banque tudo novo.
Milena risca um fósforo e joga sobre as roupas, que
rapidamente alastram uma grande labareda de fogo.
Milena – Eu gosto é disso.
Vou acabar com ele.
Teresa (assustada) – Vai
queimar tudo nesse quarto.
Milena – Pouco me importa.
Quero que tudo vire cinzas. Do pó saímos, não é? Para o pó voltaremos.
Milena pega mais roupas e sapatos e joga tudo em cima da
cama.
Corta para: SALA DE ESTAR.
Ana Rosa e Miguel estão sentados conversando. Vitória lê
revista.
Ana Rosa – Tô com
uma fome. Hoje nem almocei direito.
Fabrício – Vamos
pedir a Teresa pra preparar um lanche e levar pra gente no quarto. Tô com um
sono imenso será que podemos nos deitar?
Ana Rosa (fungando) – Tá
sentindo cheiro de queimado?
Vitória – Deve
ser a Milena. Eba, churrasco de biscate.
Fabrício começa a fungar forte.
Fabrício – Olha a
fumaça. É lá de cima. A Milena deve estar queimando algo.
Vitória – Essa
garota só me apronta. Onde está o Miguel pra conter esse tipo de chilique?
Ana Rosa – Vamos
lá ver o que está acontecendo.
Milena (descendo as escadas) – Não precisa. A Teresa já apagou o fogo.
Ana Rosa – O que
você fez dessa vez sua maluca?
Milena – Queimei todas as
roupas do Miguel. Tudo, sem dó nem piedade. As camisas belgas, os sapatos de
couro italiano, as gravatas caríssimas. Tudo virou pó.
Vitória (rude) – Você
tá completamente maluca?
Milena – E se ficar do lado
dele, queimo tudo que é seu também.
Vitória – Experimenta.
Tenta queimar minhas coisas pra ver se não sumo com você.
Nesse instante Teresa desce as escadas com uma sacola na mão.
Teresa (entregando a Milena) – Aqui está.
Fabrício – O que
é isso?
Milena – As cinzas. Tudo
que o Miguel tinha tá aqui. Agora ele vai provar do próprio veneno.
Ana Rosa – Mas eu
não estou entendendo nada.
Milena – Nem é pra entender
garota, isso aqui é briga de cachorro grande. Vai paparicar seu escritor e não
se mete.
Fabrício (a Ana Rosa) – Vem
Ana, vamos subir antes que sobre pro nosso lado.
Fabrício e Ana Rosa se levantam e sobem as escadas em direção
ao quarto.
Vitória – Teresa
deixe-me a sós com essa mulherzinha.
Teresa sai da sala.
Vitória – Você
pode se fazer de louca pra todo mundo, mas pra mim não menina. Eu não vou
aturar seus chiliques e muito menos seus acessos de loucura, coisa de uma
menina mimada que necessita é de um grande balde de roupa pra lavar. Olha ao
seu redor e veja o que você fez. Achou bonito queimar as roupas do Miguel?
Milena (irônica) – Esse
seu sermão teria ficado perfeito na missa de domingo.
Vitória se levanta.
Vitória – Para
de bancar a atrevida. Eu te faço engolir cada palavra, cada sorriso sarcástico.
Não duvide de mim.
Vitória fica encarando Milena. Miguel chega em casa.
Miguel (a Milena) – Então
você está aí me esperando?
Milena – Não se ache tanto
assim. Eu não estou à espera de ninguém.
Miguel – Eu preciso
conversar com você.
Milena – Não há o que
conversar, afinal de contas, tudo já foi visto e vivido. Não tem o que
explicar, não há o que conversar.
Vitória – Fez
merda outra vez Miguel?
Miguel – Mãe eu preciso
falar a sós com a Milena.
Vitória – Separa
logo e acaba com essa presepada toda. Não vou mais suportar os acessos de
loucura dessa destemperada.
Vitória encaminha-se para seu escritório.
Miguel – Acho que devemos
conversar sobre tudo o que você viu.
Milena – Mais uma né?
Quantas mais serão? 10? 20? 100? Quantas puladas de cerca suas eu terei que
aturar?
Miguel – Calma você está
enganada.
Milena – Eu estive enganada
não estou mais. Ainda dá seu número pra esse tipo de mulher, pra que mande
mensagem, que te ligue.
Miguel – Você vai me deixar
explicar as coisas?
Milena entrega a sacola com as cinzas para Miguel.
Milena – Tá aí a minha
raiva, a minha loucura. Transformei em cinzas tudo aquilo que me consumia. Não
quero mais bancar a boba, a idiota que aceita tudo. Eu cansei dessa vida
Miguel. Tô indo embora. Eu não vou ficar empacando sua vida e, tampouco,
destruindo seus sonhos.
Milena fica com os olhos mareados.
Miguel – Não precisa ir
assim. A gente pode conversar, pode tentar se entender.
Milena – O dia que você
deixar de ser moleque e virar homem, você me procura. Talvez seja tarde demais,
mas talvez, eu o aceite. Vai depender do tempo em que você levará para
compreender que a felicidade reside dentro de nós e não em vários de nós.
(Música “Vai e chora” – Sorriso Maroto)
Milena começa a chorar e olha para Miguel.
Miguel (triste) – Eu não
quero que vá.
Milena (chorando) – Você
quer sim. Você sabe disso.
Milena então sai da casa. E Miguel fica parado, sem reação.
Corta para:
Imagens do cruzeiro Municipal. Transposição da noite para o
dia. (Música “Vai e chora” – Sorriso Maroto).
Corta para:
Cena 06. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Casa de Fernanda/ Quarto
de Eva/ Interior/ Dia.
(Fad out trilha “Vai e chora” – Sorriso Maroto).
O quarto está todo escuro e Eva está dormindo. Fernanda entra
no quarto vagarosamente, fecha a porta devagar e abre as cortinas e se senta na
ponta da cama.
Eva acorda e olha para a tia assustada.
Eva (sonolenta/ assustada) – Assim você me mata do coração.
Fernanda – Perdão,
não era o que eu queria fazer.
Eva – A senhora tava aí
velando meu sono?
Fernanda – Jamais.
Isso é chamar a morte. Cheguei aqui agora. Só abri as cortinas para que você
acordasse sozinha.
Eva – Que horas são?
Fernanda – Hora
de a gente ter uma conversa seríssima.
Eva (receosa) – Assim
a senhora me preocupa, o que é?
Fernanda – Eu vou
ser direta ao ponto: você está de caso com o Miguel Queirós?
Eva olha assustada para a tia.
Corta para:
Cena 07. Bairro Elevado/ Bar CHEGAÍ/ Interior/ Dia.
Ondina está limpando algumas mesas no salão principal, quando
Tamara adentra ao bar.
Tamara – Bom dia Ondina.
Ondina (estranhando) – Bom
dia. O que você faz aqui?
Tamara – Ué, você não ligou
pra minha casa cedo? Mainha disse que era pra eu vir aqui no CHEGAÍ agora.
Ondina – Eu? É ruim hein.
Acha que eu iria chamar mulher pra cá essa hora? Cruzes.
Tamara – Se não foi você,
só pode ter sido o Zé então.
Ondina – O Zé? Pra quê?
Tamara – Se eu soubesse o
motivo, não estaria aqui. Estaria na minha casa dormindo.
Ondina – Acho pouco
provável que o Zé tenha ligado pra sua casa, mas tirarei essa dúvida.
Tamara olha impaciente pra Ondina, que retribui o olhar.
Ondina – Que foi?
Tamara (ríspida) – Vai
ficar me olhando com essa cara de broa mal assada?
Ondina – Você sabe onde eu
moro, não sabe?
Tamara – Sei.
Ondina – Como você pode
ver, o Zé Diogo não se encontra aqui, já que o assunto é com ele, faça o favor
de procurar ele lá em casa, porque eu tenho mais o que fazer e não sou um
moleque de recados.
Tamara – Dá pra perceber.
Ondina – O que você
insinuou com isso?
Ondina olha com raiva para Tamara e Zé Diogo chega.
Zé Diogo (feliz) – Que
bom que está aqui Tamara. Liguei pra sua casa ontem.
Ondina – Pra quê?
Zé Diogo – Quero
que a Tamara faça o cartaz de divulgação do mega show aqui do bar.
Ondina (saindo) – Vou
molhar minha horta, que ganho mais.
Ondina vai embora.
Tamara – Não sei como você
aguenta esse mau humor todos os dias.
Zé Diogo – Amor.
Quando você se apaixonar, vai entender tudo isso.
Tamara – Mas então Zé, que
show é esse?
Zé Diogo (entusiasmado) – O
Péricles, aquele que era do EXALTASAMBA, vai fazer um show aqui no bar semana
que vem. Preciso deixar tudo nos conformes. Preciso de banner, cartazes,
colocarei informes na rádio da cidade e carro de som rodando por aí.
Tamara – Nossa Zé, tá
investindo pesado mesmo hein.
Zé Diogo – Eu
preciso investir pesado. Marketing é tudo. Aprendi isso na televisão. E então
você topa fazer o cartaz e o banner pra mim?
Tamara – É lógico que sim.
Vou escolher uma foto bem sensacional do Péricles. Vamos arrasar.
Zé Diogo – Perfeito,
isso mesmo.
Tamara e Zé sorriem entusiasmados.
Corta para:
Cena 08. Casa de Fernanda/ Quarto de Eva/ Interior/ Dia.
Eva está sentada na cama, enquanto Fernanda está de pé
olhando para ela.
Fernanda – Quanto
tempo mais, a gente vai ficar aqui, uma olhando para a outra?
Eva – Tia, como é que a
senhora conhece o Miguel?
Fernanda – Me responda
primeiro: Você tá saindo com ele?
Eva – Estou. A gente se
conheceu ao acaso, com a morte do pai dele e de repente, uma súbita paixão
enlaçou a gente.
Fernanda – Como
pode uma coisa dessas? Você não enxerga que aquela família só atrai desgraças?
Eva (desorientada) – Que
família? Que tipo de desgraça? Aliás, do que a senhora tá falando tia?
Fernanda – Eva,
chega. Você vai terminar o que tem com esse rapaz.
Eva – Mas a gente se
gosta. Eu quero estar com ele.
Fernanda – Mas
não pode Eva. Aquela família só trás ruindades. E eu não quero te ver sofrer.
Eva – Tia, mas sofrer
como? Me diz o motivo.
Fernanda – Não é
o momento. Mas escuta o que eu tô te falando, ou você poderá se arrepender
amargamente.
Fernanda sai do quarto e Eva fica pensativa.
Corta para:
Cena 09. Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Dia.
Dama está falando ao celular com Regininha, próxima ao
canteiro de flores campestres. Conversa já iniciada.
Dama (ao cel.) – Eu tô
bem. Hoje vou pressionar a Vitória e pedir dinheiro a ela. Traga outra cópia do
dossiê pra mim. Assim eu conseguirei assustá-la mais.
Regininha (off/ cel.) – ótima
ideia. Eu mandarei pra você no horário em que estiver indo a livraria.
Dama (ao cel.) – E vai
a livraria fazer o que? Você detesta ler.
Regininha (off/ cel.) – Arrumar
um emprego. Preciso me sustentar e, além do mais, é uma estratégia para que a
Vitória não me descubra por enquanto.
Do P.V. de Dama, ela percebe que Teresa está vindo em sua
direção e então desliga o celular rapidamente.
Teresa – Falava com alguém
importante?
Dama – Só com a minha
família mesmo. Minha mãe já é muito idosa e mora no Rio.
Teresa (desconfiada) – E
você veio parar justamente nesse fim de mundo? Qual o motivo?
Dama – O Rio de Janeiro,
assim como as grandes cidades do país, está muito perigoso. É assalto a toda
hora, mortes. Além de que, o trânsito é uma vergonha. O estresse só aumenta.
Prefiro cidades do interior, que são mais pacatas.
Teresa – Nisso você tem
razão. (T) Bem, agora vou preparar o café da dona Vitória. Ela vai tomar no
quarto mesmo, você me ajuda.
Dama – Mas é claro. Se
quiser, eu até levo pra você no quarto dela.
Teresa – Ai, você faria
isso por mim? Hoje acordei com minhas varizes atacadíssimas. Não tô aguentando
minhas pernas.
Dama (sorrindo) – Deixa
comigo. Levarei o desjejum até nossa querida patroa.
Teresa – Você é um anjo
Dama.
Dama – Ou um diabo.
Depende do ponto de vista.
Dama e Teresa caem na risada.
Corta para:
Cena 10. Praça Central/ Exterior/ Dia.
Clipe com várias pessoas fazendo caminhadas, outras se
exercitando na academia ao ar livre. Algumas pessoas conversam, outras passam
pelo local apenas. Tudo com sonoplastia. (Música “Boogie oogie oogie” – A Taste
of Houney).
Clipe vai terminando com a imagem de duas mulheres fazendo
corrida – na verdade a da frente corre e a de trás, totalmente exausta vai
tentando acompanhar.
(Fad out trilha “Boogie oogie oogie” – A Taste of Houney).
As duas mulheres da corrida são: Mafalda (a da frente) e
Marinês (a de trás).
Marinês (exaurida) – Por
favor, dona Mafalda, vamos parar. Não aguento mais.
Mafalda para e Marinês se senta no chão.
Marinês (ofegante) – Não
aguento mais dar um único passo. Chama a ambulância, o SAMU, ou até o Corpo de
Bombeiros pra me levar daqui. Não aguento mais.
Mafalda (se alongando) – Deixa
de ser frouxa. Você não queria ficar magérrima para o verão? Tudo na vida tem
seu esforço meu bem. É hora de suar a camisa, e literalmente.
Marinês – Não
aguento mais. Pode prosseguir, eu vou daqui alguns minutos, ou horas, ou dias.
Mafalda – Jamé
meu bem. Veio comigo, volta comigo. Hoje não vou completar a corrida toda não.
Tenho que ir ao salão. Marquei uma escova hoje.
Marinês se levanta com muita dificuldade.
Marinês – Ô
luta. Tenho sofrido.
Mafalda – Deixa
de ser fresca e bora correr até em casa.
Marinês (olhando para o céu) – Dê-me proteção senhor. Essa mulher um dia me mata.
Mafalda começa a correr e Marinês a segue, visivelmente
acabada.
Corta para:
Cena 11. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Teresa está tirando pó da estante.
Teresa (cantando) – “Uma
história de amor não acaba assim”
Miguel (gritando/ off) – Teresa
cadê minhas coisas?
Teresa faz cara de assustada.
Teresa (pra si) – Agora
eu tô lascada.
Miguel aparece no topo da escada, COM A MESMA ROUPA DA NOITE
ANTERIOR.
Miguel – Cadê as minhas
coisas? Por que é que meu quarto tá trancado e com cheiro de carvão?
Teresa – Foi a dona Milena.
Miguel – O que tem a
Milena? Vai dizer que ela fez churrasco no quarto?
Teresa – Basicamente isso.
Só que o prato principal não era picanha ou linguiça.
Miguel (descendo os degraus) – Assim até assusta. Mas então o que foi que a Milena fez
naquele quarto? Preciso tomar banho, trocar de roupa. Hoje o expediente na
empresa retoma.
Teresa – A dona Milena
ontem colocou fogo em tudo que era do senhor. As roupas, gravatas, sapatos,
perfumes... Exatamente tudo.
Miguel (surpreso) – Quer
dizer que... Eu tô sem nada?
Teresa – Eu fui cedo a rua,
tenho um amigo dono de uma boutique. Providenciei algumas peças para o senhor.
Miguel – Obrigado. Vou
acabar com a Milena. Ela que se prepare.
Close em Miguel com cara de ódio.
Corta para:
Takes da cidade
Corta para:
Cena 12. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Eva/ Interior/ Dia.
Eva está sentada pensativa, enquanto Tamara está de pé
mexendo em seu tablet.
Tamara – Tô aqui checando
nossos e-mails e várias editoras se interessaram no novo projeto.
Eva permanece pensativa
***INSERT DO FLASHBACK***
OBS: Apenas os diálogos, sem as imagens... Foco em Eva
pensativa
Flashback: Capítulo 06/cena: 08.
Fernanda – Mas
não pode Eva. Aquela família só trás ruindades. E eu não quero te ver sofrer.
Eva – Tia, mas sofrer
como? Me diz o motivo.
Fernanda – Não é
o momento. Mas escuta o que eu tô te falando, ou você poderá se arrepender
amargamente.
***Fim do Flashback***
Tamara (gritando) – Eva
acorda!
Eva leva um susto e volta a realidade.
Eva (assustada) – Que
foi Tamara?
Tamara – Tô aqui falando
com você e nada. Onde é que essa sua cabeça está?
Eva – Ah Tamara,
PROBLEMAS. Mas vamos lá. O que é que você tava falando?
Tamara – Eu estava dizendo
que várias editoras se interessaram pelo projeto, mas que você ainda não
definiu um nome. ÉR importante ter esse nome.
Eva – Vai se chamar:
“Café de leitura”. Um espaço onde as pessoas poderão ler, tomar um café e
encontrar outras pessoas. Acho que nada poderia ser melhor, o que acha?
Tamara – Perfeito. Vou
desenvolver um slogan pro projeto. Aliás, vou desenvolver um cartaz também, tá
sabendo?
Eva – Cartaz para que?
Tamara – O Zé Diogo vai
produzir um show na semana que vem no Bar Chegaí. Péricles ao vivo.
Eva – Nossa, que ótimo.
Com certeza estarei prestigiando esse sucesso.
Eva e Tamara continuam conversando com o áudio cortado.
Corta para:
Cena 13. Mansão Amadeu/ Quarto de Vitória/ Interior/ dia.
O quarto está vazio e com a cama desarrumada. Dama entra com
uma bandeja de café, a qual coloca na penteadeira e se senta na cama. Vitória
sai de seu banheiro enrolada em um Penhoar.
Vitória (surpresa) – Você
aqui de novo?
Dama – Qual a surpresa
queridinha? Agora eu moro aqui.
Vitória – Que
fique claro que será provisoriamente. Até você sumir da minha vista pra sempre.
Dama – Será que vou sumir
mesmo? Ando com uma vontade imensa de te pentelhar, de acabar com a sua raça e
você nem imagina.
Vitória – Experimenta
fazer isso pra ver o que te acontece. Eu matei a sua irmã e posso muito bem
matar você. Dessa vez nem precisarei sujar minhas mãos, terei quem faça.
Dama se assusta.
Vitória – Ficou
assustada? Me fala quem te trouxe até aqui, me diz quem bolou esse plano e
essas suas frases feitas. Te dou um bom dinheiro.
Dama – Eu tô nessa com um
grupo. O que eu quero você ainda não pode me dar, mas pode me adiantar, o que
acha?
Vitória – Pode
ser em cheque?
Dama – Se tratando de
grana meu amor, pode me dar até em produtos da JEQUITI. Faz o cheque que eu vou
descontar agora mesmo no banco.
Vitória pega sua carteira, tira o talão de cheques e começa a
preenchê-lo.
Vitória (entregando o cheque) – Tá aqui. Esse valor dará pra calar essa sua boca de lambari
do brejo por alguns dias. Toma e some da minha frente.
Dama – Vou descontá-lo
agora mesmo. Agora engole seu café sua vaca.
Dama sai do quarto e Vitória pega seu celular pra ligar.
Vitória (ao cel.) – Alô,
Meg? (PAUSA) Eu acho que hoje a
gente descobre quem está com a Dama. Corre aqui pra casa. Preciso de você e do
seu carro. Mas é pra correr mesmo.
Vitória desliga o celular.
Vitória (sorrindo) – Chegou
a hora de saber com quantos paus se faz uma canoa.
Corta para:
Cena 14. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Casa de Fernanda/ Rua/
Exterior/ Dia.
(Música
“Aceita, paixão” – Péricles) Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus
passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias,
periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys.
Close na fachada do Bar Chegaí, todo decorado em tijolinhos marrom, mesas e um
grupo de pagode na calçada. Takes de inúmeras casas do bairro, todas de classe
média baixa. CAM focaliza em uma casa amarela, único andar, com janelas de
grade, uma mureta na frente e sem portão, COM VÁRIAS casas ao lado. É a casa de
Fernanda. (Fad out “Aceita, paixão” – Péricles).
Corta para:
Cena 15.
Casa de Fernanda/ Sala/ Interior/ Dia.
Malu e Edu
estão se beijando.
Malu
(interrompendo) – Você tem vontade de casar?
Edu – Por que a
pergunta?
Malu – Tem ou não
tem?
Edu – Acho que
todo homem idealiza isso. Não nos mesmos moldes de uma mulher, mas eu quero
muito casar sim. Você não quer?
Malu – Ah, não
sei. Às vezes sim, outras não. Ainda quero viver muito. Ser mais livre, mais
light. Quando chegar o momento em que minha consciência pedir pra casar, aí eu
vou. Ponho vestido branco, faço bolo de três metros de comprimento e arrumo um
jeito de engravidar.
Edu – Mas não
penso em casar agora também não. Como diz minha mãe: “Mal sai dos cueiros ainda.”
Antes disso tudo eu quero ter profissão, ter casa. Tipo essas coisas que todo
mundo sonha em ter.
Malu – Entendi.
Isso aí, pé no chão mozão. Mas mudando de assunto, você sabe que o Zé Diogo vai
trazer aquele cantor de pagode aqui no CHEGAÍ?
Edu – Eu vi um
banner na internet. Todo poderoso, vai trazer Péricles. Tá com a moral lá em
cima.
Malu – É, eu vou,
aliás, nós vamos.
Edu
(surpreso) – Vamos? Como assim?
Malu – Meu bem,
aqui nessa cidade nunca tem nada, e quando tem, temos que aproveitar.
Edu – Se você
diz, tá bem.
Edu e Malu
trocam carícias, eis que Fernanda vem da cozinha e entra na sala. Fernanda está
visivelmente preocupada.
Fernanda – Oi Edu,
tudo bem?
Edu – Oi dona
Fernanda, tô bem sim e a senhora?
Fernanda – Na medida
do possível meu filho. Não vou atrapalhar o romance de vocês não.
Malu – Mãe a
senhora tá com uma aparência estranha.
Fernanda – Parece que
eu escutei a voz da Eva, ela tá aí?
Malu – Não, por
quê?
Fernanda – Quando ela
vier pra almoçar, pede pra dar uma chegadinha até meu quarto.
Malu – Falo sim.
Fernanda
volta para a cozinha.
Edu – Sua mãe tá
estranha.
Malu – Tá mesmo.
Edu e Malu se
olham receosas e depois voltam a acariciar-se.
Corta para:
Cena 16.
Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Dia.
Meg e
Vitória estão abaixadas e escondidas atrás do carro de Meg.
Meg – Tem certeza
de que ir atrás dessa mulher vai ser uma boa estratégia?
Vitória – Não sei,
mas é a nossa única chance no momento. Tem outra ideia?
Meg – Não.
Nenhuma.
Nesse
instante, no P.V. de Vitória, conseguimos enxergar Dama tomando um taxi no
portão.
Vitória
(entrando no carro) – Acelera. Chegou a hora de saber quem está
comandando essa vadia.
Meg entra
no carro, dá partida e sai a todo vapor.
Corta para:
Imagens da
cidade.
Corta para:
Cena 17.
Livraria Dom Casmurro/ Calçada/ Exterior/ Dia.
Dama desce
do táxi alguns metros antes e caminha falando ao celular até a porta de entrada
da livraria, onde fica parada.
Close em
Vitória a olhando de longe, dentro do carro.
Vitória
(para Meg) – Hoje ela não me escapa.
Dama
desliga o celular e alguns segundos depois, eis que aparece Regininha. Tudo
visto do P.V. de Vitória.
Dama
(entregando o cheque) – Tá aqui o início da nossa cascata da fortuna.
Regininha –
Eu
nem acredito nisso. Tá mandando muito bem tia.
Close em
Vitória assustada.
Vitória – É aquela
infeliz da Regininha. Eu não acredito nisso.
Meg – Era pra
termos desconfiado desde o início.
Vitória
abre a porta do carro.
Vitória – Eu vou lá
acabar com essa presepada toda.
Meg
(segurando Vitória) – Calma. Fica quieta. Faremos melhor e depois.
Vitória
continua olhando, com muito ódio.
Corta para:
Cena 18.
Casa de Fernanda/ Quarto/ Interior/ Dia.
Fernanda
está de pé olhando através da janela. Alguém bate a porta.
Fernanda – Pode
entrar.
Eva entra
no quarto.
Eva – Com licença
tia, mas a Malu pediu pra que.../
Fernanda – Isso mesmo.
Eu falei com a Malu que era pra você vir até aqui.
Eva – O que a
senhora quer?
Fernanda – O que disse
essa manhã. Quero que você largue esse Miguel e desvincule qualquer laço que te
ligue àquela família maldita.
Eva – Mas por
quê?
Fernanda
(rude) – Não importam as razões. Os fins sempre justificam os meios.
Eva – Eu amo o
Miguel e jamais vou me separar dele sem motivo.
Fernanda – Então é
motivo que lhe falta?
Eva – Muitos
motivos. Você encheu minha cabeça de coisas ocas. Disse um monte de coisas sem
comprovar nada.
Fernanda – Isso tudo é
pro seu bem.
Eva
(nervosa) – Se é pro meu bem, diga os motivos, as razões que
levaram a senhora a crer que ele não é bom o suficientemente pra mim.
Fernanda – Não faça
essa pergunta. Você não gostaria das respostas.
Eva – Fala de uma
vez.
Fernanda
(gritando) – O Miguel, esse seu diabinho em pele de Jesus é
casado. O Miguel é casado.
Eva
(chocada) – O que?
Fernanda – Casado.
Close em
Eva totalmente chocada e surpresa.
Corta para:
Maravilhoso Capítulo. Um gancho incrível. Parabéns Wesley, tô acompanhando e gostando muito da sua trama.
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