Cena 01.Casa de
Fernanda/ Quarto/ Interior/ Dia.
Continuação do Capítulo anterior.
Fernanda – Não faça
essa pergunta. Você não gostaria das respostas.
Eva – Fala de uma
vez.
Fernanda
(gritando) – O Miguel, esse seu diabinho em pele de Jesus é
casado. O Miguel é casado.
Eva
(chocada) – O que?
Fernanda – Casado.
Close em
Eva totalmente chocada e surpresa.
Eva
(decepcionada) –Isso só pode ser mentira. Não, eu não acredito
nisso.
Fernanda – Não
acredita? Então você acha que eu fantasiei tudo isso. Que eu fui lá e de
repente disse assim: “Ai não quero a minha sobrinha com esse rapaz, então vou
inventar que ele tem uma doença grave ou é casado.”. Para de show Eva
Magalhães, acha que eu seria capaz disso? Eu quero sua felicidade. Pra mim,
você é tão minha filha quanto a Maria de Lourdes.
Eva começa
a chorar e abraça Fernanda.
Eva
(abraçada) – Obrigada tia. Nem sei o que seria de mim sem a
senhora.
Eva se
distancia de Fernanda e olha pela janela, o movimento da rua.
Eva – Deixa eu
ficar aqui por um tempo? Me reestabelecer. Preciso colocar toda essa confusão
em ordem.
Fernanda – É claro que
sim. Com licença.
Fernanda
sai do quarto e fecha a porta. Eva deita na cama e começa a chorar.
(Música
“I’llTry” (instrumental) – Allan Jackson).
Corta para:
Cena 02.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Vaivém de
pessoas pelo local. Pequeno Vozerio. Tamara está no caixa da loja, enquanto
Lucas está organizando algumas prateleiras.
Tamara (pra
si) – Se eu fosse dona da livraria, nunca estaria como o Lucas,
organizando prateleiras.
Lucas
termina de organizar alguns livros e vem em direção a Tamara.
Lucas
(chegando) – Tamara, me dá o envelope aí.
Tamara pega
um envelope em tamanho A4 e entrega a Lucas.
Lucas – Quando a
Eva chegar, peça que vá até minha sala. Necessito urgentemente dela aqui.
Tamara – Deixa
comigo.
Lucas sobe
as escadas em direção a sua sala.
Tamara
assovia para chamar Téo.
Téo (se
aproximando) –Me chamou?
Tamara – Maninho,
vou precisar da sua ajuda.
Téo – Diga-me.
Tamara – Eu vou
aprontar pra cima da Eva. Vou armar pra conseguir ficar com o cargo de gerente
dessa empresa, o que acha?
Téo – Eu acho
você louca. Como assim você vai ficar com o lugar da Eva?
Tamara – Tá do meu
lado ou não?
Téo fica
pensativo.
Tamara – Cola em mim
que é sucesso.
Téo – O que você
não pede chorando, que eu não faça sorrindo, irmãzinha? Eu aceito!
Tamara
abraça Téo.
Corta para:
Cena 03.
Empresa La Salud/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Imagens de
um enorme prédio com um letreiro em tom esverdeado: “Grupo La Salud”. Movimento
normal de pessoas passando pela calçada, dois seguranças ao lado da enorme
porta de vidro que dá acesso ao interior do local.
Corta para:
Cena 04.
Empresa La Salud/ Sala da Presidência/ Interior/ Dia.
Miguel está
sentado na mesa em que era do seu pai, folheando alguns papeis. Alguém bate a
porta.
Miguel
(concentrado) – Pode entrar.
A pessoa
abre a porta e entra, é Álvaro.
Álvaro – Hum, já
está assumindo o posto deixado pelo Ângelo?
Miguel – Alguém tem
que continuar faturando aqui né? Não vejo ninguém na minha família mais
competente para isso.
Álvaro – O Fabrício
pode querer assumir a empresa, já que ele terá a mesma quantidade de ações que
você.
Miguel – O Fabrício
só quer saber dos livros dele e de ficar dando uma de namoradinho da Ana Rosa.
Álvaro – Tá com dor
de cotovelo porque perdeu a Ana Rosa?
Miguel – Eu que
dispensei a Ana Rosa. A hora que eu quiser, eu tenho ela em meus braços. É só
estalar os dedos. Não faço isso porque não tô afim.
Álvaro – Mas mudando
de assunto, tô aqui para dizer que amanhã oito horas, no fórum, será lido o
testamento deixado pelo seu pai. Vocês nem precisaram entrar com recursos, pois
o juiz mesmo já tinha feito essa notificação, uma vez que o contrato de
testamento foi estabelecido em vara cível.
Miguel – Quantas
pessoas devem estar?
Álvaro – Todas as
partes interessadas, juntamente com o advogado, no caso, eu.
Miguel – Mas quais
são as partes envolvidas?
Álvaro – Você, sua
mãe, o Fabrício e a Ana Rosa. O Antero também entra nessa partilha e mais uma
pessoa, que não foi localizada.
Miguel
(encucado) – Que pessoa é essa?
Álvaro – Ninguém
sabe, é um mistério.
Miguel – Alguma
coisa me diz que isso não vai dar certo.
Álvaro – Você é quem
mais vai sair lucrando nessa. Vai gerir sua parte e a parte do seu irmão. Você
tá com uma mina de ouro nas mãos.
Miguel se
levanta sorridente.
Miguel – Tem razão
Álvaro, eu tirei a sorte grande. Que Deus me perdoe, mas com certeza, a morte
do meu pai só me fez bem.
Miguel
comemora.
Miguel – Avisou a
todos?
Álvaro – Exceto a
outra parte não identificada.
Miguel – Essa pessoa
desconhecida, que morra. Agora tô indo resolver uns assuntos. Volto só amanhã.
Obrigado pela notícia.
Miguel vai
se encaminhando a porta de saída da sala.
Álvaro
(gritando) – Não vá se esquecer: oito horas amanhã no fórum.
Miguel sai
da sala.
Corta para:
Cena 05.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Fluxo
normal de clientes e vendedores. Tamara está apoiada no balcão do caixa,
conversando com uma vendedora. Conversa já em andamento.
Tamara – A chefa
ainda não chegou?
Vendedora –
Tá
falando da Eva?
Tamara – Não, tô
falando da Dilma Rousself. Mas é claro que é da Eva.
Vendedora –
Porque
você não pergunta ao Lucas? Eu tô cheia de serviço pra fazer aqui.
Tamara – Ignorante.
Se eu fosse tua chefa, eu ia.../
Lucas
(corta) – Tamara a Eva chegou?
Tamara – Ainda não.
Tô achando estranha essa demora dela, você não acha?
Lucas – Deve ter
acontecido algo.
Tamara – Mas cadê a
responsabilidade em avisar? Se eu fosse a gerente, certamente isso não
aconteceria.
Nesse
instante Eva entra na livraria apressada.
Eva (a
Lucas) – Sei que tínhamos uma reunião, me desculpe. Tive um probleminha e
me atrasei.
Tamara
percebe os que os olhos de Eva estão muito vermelhos e com a pálpebra inchada.
Tamara (a
Eva) – Você tava chorando?
Eva
(disfarçando) – Não, que isso. Problemas em casa mesmo.
Lucas – Vamos subir
e resolver nossas pendências profissionais então.
Eva, Tamara
e Lucas se encaminham ao segundo andar.
Corta para:
Cena 06. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Bar Chegaí/ Rua/
Exterior/ Dia.
(Música
“Aceita, paixão” – Péricles) Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus
passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias,
periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys.
Close na fachada do Bar Chegaí. Fad out trilha “Aceita, paixão”.
Diálogo da
cena posterior.
Mafalda
(off) –Então o show será aqui dentro?
Zé Diogo
(off) – A senhora acha o espaço pequeno?
A imagem da
fachada do Bar Chegaí se funde com:
Cena 07.
Bairro Elevado/ Subúrbio/ Bar Chegaí/ Salão/ Interior/ Dia.
No bar
estão apenas: Zé Diogo, Ondina e Mafalda, sentados em volta de uma mesa.
Mafalda
(olhando o local) – Vai ser difícil pra você poder articular as sua
vendas, o que afetaria no lucro.
Ondina – Eu tô
careca de falar pra esse homem que as coisas não são conforme ele pensa. A
gente num tem muito estudo. Eu sempre falei: ”Uma pessoa prevenida, vale
por...”, como é mesmo? Ih, gente esqueci.
Zé Diogo – Uma pessoa
prevenida vale por duas.
Ondina – Isso, isso
mesmo.
Mafalda – A questão
nem é essa dona Ondina. Aqui dentro do bar é muito pequeno para abrigar um show
desse porte. Além de muito pequeno, não tem saída de ar ou ventilação adequada
e muito menos o estéreo do som ficaria numa amplitude legal, para quem estiver
lá fora, possa ouvir com clareza. Fora que se sair uma briga, minha nossa, vão
destruir todo o seu bar. Digo e repito: é inviável que o show do Péricles aconteça
aqui dentro.
Zé Diogo – Mas onde
vou fazê-lo?
Ondina – Na rua aqui
em frente, acho que dá.
Zé Diogo – Deixa de
ser burra. Pra fazer o show aqui em frente, eu teria que fechar a rua, e duvido
que a prefeita liberaria uma ordem dessas pra mim.
Mafalda – Posso
contar um segredo a vocês?
Ondina (curiosa) – Claro.
Mafalda – A
prefeita, Meg Trajano, é minha irmã. Isso eu consigo pra vocês.
Zé Diogo – Perfeito
dona promotora de eventos. Quanto à senhora vai cobrar?
Mafalda – Meu nome é
Mafalda. Mafalda Trajano. Não vou cobrar nada, fica pela amizade e pelo carinho
que meu esposo tem por esse bar.
Ondina – Mas uma
senhora tão requintada, deve ter um marido empresário. Duvido que ele frequente
esse bar aqui.
Mafalda –Meu marido
é o Téo, aquele irmão da Tamara.
Zé Diogo e
Ondina se olham surpresos.
Zé Diogo –Então quer
dizer que, a dondoca do malandro é a senhora?
Mafalda – Em carne,
osso, beleza e formosura.
Ondina
(surpresa) – O Téo nasceu de bunda pra lua mesmo. Como diria
finado Eustáquio: “Uns com tantos e eu aqui,...”, Como é mesmo?
Mafalda – A senhora
esquece todos os ditados populares?
Ondina – Às vezes
só. Mas é raro disso acontecer.
Mafalda – Preciso ir
agora. Mas falarei com a minha irmã e venho pessoalmente dar a resposta a
vocês.
Mafalda se levanta.
Ondina
(levantando) – Obrigada por tudo. Aceita um caldo de mocotó?
Mafalda – Agradecida.
Preciso ir mesmo.
Mafalda vai
embora e Ondina se senta novamente.
Ondina (a
Zé) – Taí, exemplo de mulher endinheirada e simpática. Muito diferente
dessas dondocas da cidade.
Zé Diogo – Gostei
dela. Realmente é uma ótima promotora de eventos. Acho que o show do Péricles
vai bombar.
Ondina – Tomara
mesmo.
Zé e Ondina
continuam conversando com o áudio cortado.
Corta para:
Cena 08.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/ Dia.
Lucas e Eva
estão sentados à mesa, analisando alguns papeis.
Lucas
(olhando um currículo) – Você acha que devemos contratar essa Regina?
Eva – Deixa-me
dar uma passada de olho no currículo.
Lucas
entrega o currículo a Eva, que começa a olhar.
Eva
(analisando) – Ela tem ótimos cursos. Boas referências. Parece ser
muito competente mesmo.
Lucas – Então
contratamos?
Eva – Para ser a
minha assessora, minha secretária, meu braço direito.
Lucas – Mas a gente
nem a conhece direito.
Eva – Mas dar
cargo de vendedora pra ela, será desperdício de currículo. Ela entende do
assunto. Já trabalhou na maior livraria do país. Olha só que finése.
Lucas – Mas tem a
Tamara. Se a tal Regina ocupar esse cargo, a Tamara terá que voltar a ser
vendedora.
Eva – Nós nunca
escondemos isso dela. Ela é contratada para ser vendedora. Faz um bico aqui
como minha auxiliar, mas infelizmente, não tem um currículo memorável como o da
nossa candidata.
Lucas
(pegando o telefone) – Vou ligar agora e pedir para que essa Regina
Leão venha imediatamente para cá.
Eva volta a
analisar o currículo.
Corta para:
Cena 09.
Hotel/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Imagens
aéreas de um pequeno hotel, com a arquitetura levemente desgastada. Rua sem
movimento.
Corta para:
Cena 10.
Hotel/ Quarto/ Interior/ Dia.
Milena está
assistindo TV, deitada na cama, só de camisola. A campainha toca.
Milena (se
levantando e indo) – Odeio serviço de quarto, me atrapalham toda hora.
Milena abre
a porta e fica surpresa.
Milena
(surpresa) – Você?
Miguel
entra no quarto, aspecto muito sério e sombrio, fecha à porta, segura forte no
pescoço de Milena e a encurrala na parede.
Milena
(assustada) – Larga meu pescoço. Tá doendo.
Miguel
(sério) – Cala a boca. Eu nem comecei a te apertar.
Miguel
força mais suas mãos sobre o pescoço de Milena.
Miguel – Escuta o
que vou te dizer. Da próxima vez que der esses chiliques, e acabar com alguma
coisa minha, eu vou te matar. Desovo seu corpo no mato e ninguém vai ficar
sabendo quem foi. Entendeu?
Milena faz
que sim com a cabeça.
Miguel
(rude) – Se comportou feito uma puta. Fez escândalo no restaurante,
queimou minhas coisas e ainda decidiu se separar. Mas se livrar de mim não é
tão fácil não.
Milena (com
dificuldade) – Me larga... Tô ficando sem ar...
Miguel
retira Milena da parede, ainda com as mãos em seu pescoço, e a joga com força
em cima da cama.
CLOSE nos
hematomas no pescoço de Milena.
Milena
(chorando) – Como você me achou aqui?
Miguel – Você é tão
previsível. Toda vez que briga comigo, vem para esse pulgueiro. Tá na hora de mudar
né? Perdeu a graça.
Milena – O que
perdeu a graça foi você me trair sempre, quase que instantaneamente. No início
era a Ana Rosa, agora é essa tal Eva, que me agrediu.
Miguel – É claro que
agrediu. Você fez um carnaval com a cara dela.
Milena – E deveria
ter feito o que? Me sentado com vocês e ter comido. Ou um ménage a trois?
Miguel – Para com
esse drama Milena. Arruma suas coisas e vamos voltar pra casa. A Eva não passou
de uma diversão. Uma conquista rápida e barata. Você é minha mulher e jurou diante
de Deus e dos homens viver ao meu lado eternamente.
Milena – Mas e suas
traições?
Miguel – O que os
olhos não veem o coração não sente e a língua não fala. Vai comigo, ou prefere
viver nesse muquifo?
Milena
começa a arrumar sua mala.
Miguel
(sarcasmo) – Eu poderia até convidar a Eva pra um happy hour, o
que acha?
Milena olha
Miguel com raiva.
Corta para:
Cena 11.
Flores/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia
Música
(“Uma história de Amor” – Fanzine). Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um
clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com
suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na
seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada
e coberto por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”.
2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com
pessoas e animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e
brinquedos. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade,
com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado
por um grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores
campestres. 4º: Fachada da Prefeitura de Flores.
A imagem da
fachada da prefeitura se funde com a cena a seguir. (fad out trilha “Uma
história de amor” – Fanzine).
Corta para:
Cena 12.
Prefeitura/ Antessala da prefeita/ Interior/ Dia.
Lui está
enviando e-mails, sentado em sua mesa. Mafalda chega.
Mafalda – Fala Lui.
Meg está aí?
Lui para de
digitar e olha Mafalda dos pés a cabeça.
Mafalda
(rude) – Tá ou não tá?
Lui – Depende do
assunto, pode me adiantar?
Mafalda – Se eu te
adiantar você vai poder resolver?
Lui – Se passar
pela dona Meg não.
Mafalda – Então me
diz, por que eu teria que passar o meu assunto com a minha irmã, para você?
Lui –Grosseria
tá batendo a porta hein.
Mafalda – Faz o que
eu mandei, é urgente.
Lui – Só um
instante.
Lui disca
um número no telefone, sempre olhando para Mafalda.
Lui (ao
tel.) – Dona Méguiiiii, sua irmã tá aqui fora querendo falar com a
senhora. Disse que é urgente. (PAUSA) Tá
bem.
Lui (a
Mafalda) – Ela mandou a senhora entrar.
Mafalda – Tá!
Mafalda
entra.
Corta
rapidamente para:
Cena 13.
Prefeitura/ Gabinete de Meg/ Interior/ Dia.
Meg está
sentada em uma poltrona acariciando Boticários, quando Mafalda entra.
Meg – Veio me
fazer uma visita surpresa?
Mafalda – Para de
brincadeiras, eu vim por um motivo mais sério. Já que você brinca de
administração, acho melhor ouvir uma proposta que tenho e que pode lhe render
votos na próxima eleição.
Meg deixa
Boticário deitado na poltrona e se levanta, indo em direção a sua mesa.
Meg (se
sentando) – Vem minha irmã, se sente. Vamos conversar.
Mafalda
então se senta.
Corta para:
Cena 14.
Mansão Amadeu/ Cozinha/ Interior/ Dia.
Teresa e
Dama estão sentadas a mesa conversando.
Teresa – Então quer
dizer que você é nova aqui na cidade?
Dama – Eu sou. Eu
morava no Rio de Janeiro, mas a violência me fez migrar pro interior.
Teresa – Eu acho uma
cidade linda, mas igualmente perigosa. Nasci e quero morrer aqui, na minha
terrinha santa e calma.
Dama – Eu penso em
voltar pro Rio. Não quero fazer muito pouso por aqui não. Estou só de passagem
mesmo.
Teresa –Com o tempo
você se acostuma e gosta daqui, eu só não intendo o que você veio.../
Vitória
(entrando/ corta) – Não tem nada para entender Teresa. Vá arrumar meu
quarto, que por sinal, está uma bagunça.
Teresa (se
levantando) – Sim senhora.
Teresa sai
e Vitória e Dama ficam se olhando.
Dama – Vai ficar
aí me olhando?
Vitória – Eu tô admirando
sua beleza. Aliás, a falta dela. Sabe que você assim, de perfil, me lembra uma
pessoa.
Dama – Ah é? Que
pessoa?
Vitória – Me lembra
Madame Catalina. Vocês são tão parecidas. Até no modo bagaceiro de tentar me
passar para trás.
Dama – Eu não
estou entendendo Nameless. Pode me explicar?
Vitória – Na hora
certa você saberá. Só te digo uma coisa: “Quem brinca com fogo, acaba se
queimando.”.
Vitória sai
da cozinha e Dama fica atônita.
Corta para:
Cena 15.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/ Dia.
Lucas, Eva
e Regininha estão sentados a mesa conversando.
Lucas – Regina,
gostamos bastante do seu currículo e decidimos contratá-la. Você será
assistente da Eva, tudo bem?
Regininha
(FELIZ) – Tudo ótimo pra mim. Eu esperava ser contratada como vendedora ou
faxineira. Ser assessora da gerente é um prazer.
Eva – Não só de
prazeres você viverá aqui, mas trabalho árduo também. Agora, por exemplo, estou
focada no projeto Café de Leitura, que visa ampliar o espaço e torna-lo mais
sociável. Um ponto de encontro aqui.
Lucas – Então você
pode começar amanhã mesmo?
Regininha –Mas é
claro. Amanhã cedo estarei aqui prontíssima.
Eva – Perfeito.
Eva se
levanta.
Eva
(saindo) – Tenho que falar com a Tamara. Com licença.
Eva sai.
Lucas – Vamos às
questões burocráticas, a parte chata de se contratar alguém.
O áudio é
cortado. Lucas vai explicando a Regininha.
Corta para:
Cena 16. Mansão
Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
A sala está
vazia, quando Milena e Miguel chegam.
Milena – De volta ao
inferno.
Miguel – Tá dizendo isso
por causa da Ana Rosa?
Milena – A Ana Rosa,
a sua mãe. Essas duas fazem da minha vida um inferno.
Nesse
instante Vitória aparece.
Vitória – Voltou
norinha? Seja bem recepcionada no quarto de hóspedes, já que você queimou a
cama do Miguel.
Milena – Eu compro
outra. Dinheiro nunca foi problema pra mim, pois nunca tive.
Miguel – Eu compro
um dia desses.
Vitória – Meu filho, não
se esqueça da leitura do testamento amanhã hein.
Milena
(surpresa) – Amanhã? Miguel você é o mais novo milionário.
Vitória – Olha como é
interesseira. Já está pensando nos dólares né?
Milena – E se
estiver? Pelo menos eu sou gananciosa e demonstro. Pior é você que se esconde
atrás desse discurso politicamente correto aí.
Miguel pega
no braço de Milena e sobe as escadas a força com ela.
Corta para:
Cena 17.
Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia-Noite.
(Música
“BoogieOogieOogie”) Transposição do dia para a noite.
Corta para:
Cena 18.
Mansão Trajano/ Sala de Jantar/ Interior/ Noite.
Mafalda,
Téo, Meg e Álvaro estão sentados à mesa jantando.
Mafalda – Amanhã
mesmo vou procurar o Zé Diogo e contar que você liberou o fechamento da rua.
Esse show vai ser um sucesso.
Meg – Fiz isso
pra ter uns votinhos a mais, só! Nem lá vou dar minhas caras. Gravarei um vídeo
curto dizendo que amei o evento.
Mafalda – Téo e eu
estaremos sapateando lá. Adoro essas coisas gente.
Álvaro – Mas vai ser
show onde? De quem?
Meg – Aquele
subúrbio horroroso.
Téo – Peraí Meg,
nem é assim. Não fala mal do meu bairro não.
Álvaro – Mas é show
de quem gente?
Mafalda – Do
Péricles, aquele cantor de samba e pagode. Vai ser um mega show realizado pelo
Zé Diogo e por mim. Agora que voltei a ativa como produtora de eventos.
Meg
(irônica) – Vai ser um show espetacular. Imagina só, perder uma
noite ouvindo pagode de um gordo preto, tomando cerveja e ao lado aquela
gentinha cheia de suor. Realmente um programão!
Mafalda – Você está
sendo preconceituosa, ou melhor, burra. Porque gente preconceituosa em pleno
século XXI é gente burra. De nada adianta ser estudada, se tem a mente pequena.
Eu sinto pena de pessoas como você, Meg.
Meg – Vai me
agredir agora?
Téo – A Mafalda
não está te agredindo não. Você é que usou mal as palavras. Se não gosta de
pessoas da minha cor, é um direito seu, agora respeitar é uma obrigação sua.
Meg – Eu não
queria ter causado esse alvoroço todo gente.
Álvaro – Você é
cruel nas palavras.
Meg se
levanta irritada e sai.
Mafalda (a
Álvaro) –Não vai atrás dela não. Nem vale mais a pena.
Álvaro – Pode
confirmar uma mesinha lá pra mim. Eu vou nesse show Mafalda.
Mafalda
(alegre) – É assim que se fala!
Álvaro,
Mafalda e Téo continuam conversando.
Corta para:
Cena 19.
Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Noite.
CAM
percorre todo o jardim frontal, iluminado com cores quentes. Ana Rosa e
Fabrício passeiam pelo local.
Ana Rosa – Então eu
poderei te acompanhar?
Fabrício – Claro.
Amanhã será uma tortura pra mim. Odeio essa coisa de transferência de bens. Ler
esse maldito testamento. Eu não quero me tornar empresário, tampouco ficar
destilando dinheiro em bolsa de valores ou simplesmente, ficar com o rabo
sentado em uma poltrona dia após dia. Quero escrever meus livros, quero me
tornar um roteirista de cinema famoso.
Ana Rosa – Mas e a sua
parte da empresa?
Fabrício – O Miguel
sabe como ninguém, gerir esta empresa. Deixarei, momentaneamente, que ele cuide
das minhas ações e resolva assuntos relacionados a empresa.
Ana Rosa – Eu mal vejo
a hora de irmos embora. Não aguento mais a Milena, que, aliás, voltou pra cá.
Também tô tomando pavor da cara da Vitória.
Fabrício – Se tudo se
resolver amanhã, eu prometo que no dia seguinte estaremos voltando para o nosso
amado Rio de Janeiro.
Ana Rosa – Assim
espero.
Fabricio
abraça Ana Rosa e os dois trocam beijos e carícias.
De longe,
vemos Milena vigiando o casal, através da janela de seu quarto. Close em Milena
com cara de inveja.
Corta para:
Cena 20.
Mansão Amadeu/ Quarto de Milena/ Interior/ Noite.
Milena está
olhando pela janela, fiscalizando, COM O OLHAR, os passos de Milena e Fabrício,
enquanto Miguel está deitado.
Milena
(olhando pela janela) – E o idiota pensa que ela está com ele por amor.
Esse povo tem cada ideia.
Miguel – De quem
você tá falando?
Milena – Da sua
amadinha Ana Rosa e do abestado do seu irmão. É lógico que ela tá com ele por
dois motivos básicos: o primeiro é que ela nunca conseguiu te ter de verdade,
já o segundo, é que seu irmão é herdeiro de uma enorme fortuna.
Miguel – Deixa de
ser invejosa. A Ana Rosa nem pesa em você, já você tá se martirizando aí por ela.
Milena (se
deitando) – Não falo mais nada. Na hora que o Fabrício souber
que está chocando o ovo da serpente, aí vocês começarão a me dar o devido
valor.
O celular
de Miguel começa a tocar.
Miguel
(olhando o cel.) – É ela.
Milena –Me dá isso
aqui, acabo com essa presepada em dois tempos. Essa piranha não vai destruir
meu casamento.
Miguel – Calma,
deixa eu atender.
Miguel
atende o celular.
Miguel (ao
cel./ meigo) – Eva, boa noite! Tá tudo bem?
Eva (off) –
Eu
que te pergunto Miguel, tá tudo bem? Depois daquele incidente, você não me
ligou mais.
Miguel (ao
cel.) – Amanhã podemos almoçar juntos?
Milena
começa a dar vários tapas nas costas de Miguel.
Eva (off) –
Precisamos
mesmo. Tenho um assunto sério pra tratar contigo.
Miguel (ao
cel.) – Então tá bem. Beijos e boa noite.
Miguel
desliga o celular.
Milena
(brava) – Ridículo o que você fez, simplesmente ridículo. Como assim
almoçar amanhã? Só se for por cima do meu cadáver.
Miguel – Eu vou pra
terminar tudo com ela. Mas quero que seja sem escândalos, compreendeu?
Milena –Se você
estiver me enrolando, dessa vez eu coloco fogo em você.
Miguel – Ei, calma!
Sou bom moço. Te farei a mulher mais feliz daqui em diante.
Corta para:
Cena 21.
Mansão Amadeu/ Quarto de Empregados/ Interior/ Noite.
Dama está
deitada na cama, assistindo TV, com todas as luzes apagadas. A porta se abre
lentamente, e Eneida, irmã de Vitória, entra, fecha a porta e acende a luz.
Dama
(assustada) – Eneida?
Eneida – Búu. Pensou
que fosse quem? O meu fantasma?
Eneida
retira uma arma de sua bolsa e aponta para Dama.
Dama
(assustada/ chorando) – Não faça uma bobagem dessas.
Eneida – A balança
se inverteu Dama. Agora é você que está na linha de tiro.
Eneida
destrava a arma. Dama fica paralisada e com semblante de muito medo.
Corta para:
FIM
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