segunda-feira, 21 de março de 2016

Capítulo 07: Em nome do Filho

Cena 01.Casa de Fernanda/ Quarto/ Interior/ Dia.
Continuação do Capítulo anterior.
Fernanda – Não faça essa pergunta. Você não gostaria das respostas.
Eva – Fala de uma vez.
Fernanda (gritando) – O Miguel, esse seu diabinho em pele de Jesus é casado. O Miguel é casado.
Eva (chocada) – O que?
Fernanda – Casado.
Close em Eva totalmente chocada e surpresa.
Eva (decepcionada) –Isso só pode ser mentira. Não, eu não acredito nisso.
Fernanda – Não acredita? Então você acha que eu fantasiei tudo isso. Que eu fui lá e de repente disse assim: “Ai não quero a minha sobrinha com esse rapaz, então vou inventar que ele tem uma doença grave ou é casado.”. Para de show Eva Magalhães, acha que eu seria capaz disso? Eu quero sua felicidade. Pra mim, você é tão minha filha quanto a Maria de Lourdes.
Eva começa a chorar e abraça Fernanda.
Eva (abraçada) – Obrigada tia. Nem sei o que seria de mim sem a senhora.
Eva se distancia de Fernanda e olha pela janela, o movimento da rua.
Eva – Deixa eu ficar aqui por um tempo? Me reestabelecer. Preciso colocar toda essa confusão em ordem.
Fernanda – É claro que sim. Com licença.
Fernanda sai do quarto e fecha a porta. Eva deita na cama e começa a chorar.
(Música “I’llTry” (instrumental) – Allan Jackson).
Corta para:
Cena 02. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Vaivém de pessoas pelo local. Pequeno Vozerio. Tamara está no caixa da loja, enquanto Lucas está organizando algumas prateleiras.
Tamara (pra si) – Se eu fosse dona da livraria, nunca estaria como o Lucas, organizando prateleiras.
Lucas termina de organizar alguns livros e vem em direção a Tamara.
Lucas (chegando) – Tamara, me dá o envelope aí.
Tamara pega um envelope em tamanho A4 e entrega a Lucas.
Lucas – Quando a Eva chegar, peça que vá até minha sala. Necessito urgentemente dela aqui.
Tamara – Deixa comigo.
Lucas sobe as escadas em direção a sua sala.
Tamara assovia para chamar Téo.
Téo (se aproximando) –Me chamou?
Tamara – Maninho, vou precisar da sua ajuda.
Téo – Diga-me.
Tamara – Eu vou aprontar pra cima da Eva. Vou armar pra conseguir ficar com o cargo de gerente dessa empresa, o que acha?
Téo – Eu acho você louca. Como assim você vai ficar com o lugar da Eva?
Tamara – Tá do meu lado ou não?
Téo fica pensativo.
Tamara – Cola em mim que é sucesso.
Téo – O que você não pede chorando, que eu não faça sorrindo, irmãzinha? Eu aceito!
Tamara abraça Téo.
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Cena 03. Empresa La Salud/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Imagens de um enorme prédio com um letreiro em tom esverdeado: “Grupo La Salud”. Movimento normal de pessoas passando pela calçada, dois seguranças ao lado da enorme porta de vidro que dá acesso ao interior do local.
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Cena 04. Empresa La Salud/ Sala da Presidência/ Interior/ Dia.
Miguel está sentado na mesa em que era do seu pai, folheando alguns papeis. Alguém bate a porta.
Miguel (concentrado) – Pode entrar.
A pessoa abre a porta e entra, é Álvaro.
Álvaro – Hum, já está assumindo o posto deixado pelo Ângelo?
Miguel – Alguém tem que continuar faturando aqui né? Não vejo ninguém na minha família mais competente para isso.
Álvaro – O Fabrício pode querer assumir a empresa, já que ele terá a mesma quantidade de ações que você.
Miguel – O Fabrício só quer saber dos livros dele e de ficar dando uma de namoradinho da Ana Rosa.
Álvaro – Tá com dor de cotovelo porque perdeu a Ana Rosa?
Miguel – Eu que dispensei a Ana Rosa. A hora que eu quiser, eu tenho ela em meus braços. É só estalar os dedos. Não faço isso porque não tô afim.
Álvaro – Mas mudando de assunto, tô aqui para dizer que amanhã oito horas, no fórum, será lido o testamento deixado pelo seu pai. Vocês nem precisaram entrar com recursos, pois o juiz mesmo já tinha feito essa notificação, uma vez que o contrato de testamento foi estabelecido em vara cível.
Miguel – Quantas pessoas devem estar?
Álvaro – Todas as partes interessadas, juntamente com o advogado, no caso, eu.
Miguel – Mas quais são as partes envolvidas?
Álvaro – Você, sua mãe, o Fabrício e a Ana Rosa. O Antero também entra nessa partilha e mais uma pessoa, que não foi localizada.
Miguel (encucado) – Que pessoa é essa?
Álvaro – Ninguém sabe, é um mistério.
Miguel – Alguma coisa me diz que isso não vai dar certo.
Álvaro – Você é quem mais vai sair lucrando nessa. Vai gerir sua parte e a parte do seu irmão. Você tá com uma mina de ouro nas mãos.
Miguel se levanta sorridente.
Miguel – Tem razão Álvaro, eu tirei a sorte grande. Que Deus me perdoe, mas com certeza, a morte do meu pai só me fez bem.
Miguel comemora.
Miguel – Avisou a todos?
Álvaro – Exceto a outra parte não identificada.
Miguel – Essa pessoa desconhecida, que morra. Agora tô indo resolver uns assuntos. Volto só amanhã. Obrigado pela notícia.
Miguel vai se encaminhando a porta de saída da sala.
Álvaro (gritando) – Não vá se esquecer: oito horas amanhã no fórum.
Miguel sai da sala.
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Cena 05. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Fluxo normal de clientes e vendedores. Tamara está apoiada no balcão do caixa, conversando com uma vendedora. Conversa já em andamento.
Tamara – A chefa ainda não chegou?
Vendedora – Tá falando da Eva?
Tamara – Não, tô falando da Dilma Rousself. Mas é claro que é da Eva.
Vendedora – Porque você não pergunta ao Lucas? Eu tô cheia de serviço pra fazer aqui.
Tamara – Ignorante. Se eu fosse tua chefa, eu ia.../
Lucas (corta) – Tamara a Eva chegou?
Tamara – Ainda não. Tô achando estranha essa demora dela, você não acha?
Lucas – Deve ter acontecido algo.
Tamara – Mas cadê a responsabilidade em avisar? Se eu fosse a gerente, certamente isso não aconteceria.
Nesse instante Eva entra na livraria apressada.
Eva (a Lucas) – Sei que tínhamos uma reunião, me desculpe. Tive um probleminha e me atrasei.
Tamara percebe os que os olhos de Eva estão muito vermelhos e com a pálpebra inchada.
Tamara (a Eva) – Você tava chorando?
Eva (disfarçando) – Não, que isso. Problemas em casa mesmo.
Lucas – Vamos subir e resolver nossas pendências profissionais então.
Eva, Tamara e Lucas se encaminham ao segundo andar.
Corta para:
Cena 06. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Dia.
(Música “Aceita, paixão” – Péricles) Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias, periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys. Close na fachada do Bar Chegaí. Fad out trilha “Aceita, paixão”.
Diálogo da cena posterior.
Mafalda (off) –Então o show será aqui dentro?
Zé Diogo (off) – A senhora acha o espaço pequeno?
A imagem da fachada do Bar Chegaí se funde com:
Cena 07. Bairro Elevado/ Subúrbio/ Bar Chegaí/ Salão/ Interior/ Dia.
No bar estão apenas: Zé Diogo, Ondina e Mafalda, sentados em volta de uma mesa.
Mafalda (olhando o local) – Vai ser difícil pra você poder articular as sua vendas, o que afetaria no lucro.
Ondina – Eu tô careca de falar pra esse homem que as coisas não são conforme ele pensa. A gente num tem muito estudo. Eu sempre falei: ”Uma pessoa prevenida, vale por...”, como é mesmo? Ih, gente esqueci.
Zé Diogo – Uma pessoa prevenida vale por duas.
Ondina – Isso, isso mesmo.
Mafalda – A questão nem é essa dona Ondina. Aqui dentro do bar é muito pequeno para abrigar um show desse porte. Além de muito pequeno, não tem saída de ar ou ventilação adequada e muito menos o estéreo do som ficaria numa amplitude legal, para quem estiver lá fora, possa ouvir com clareza. Fora que se sair uma briga, minha nossa, vão destruir todo o seu bar. Digo e repito: é inviável que o show do Péricles aconteça aqui dentro.
Zé Diogo – Mas onde vou fazê-lo?
Ondina – Na rua aqui em frente, acho que dá.
Zé Diogo – Deixa de ser burra. Pra fazer o show aqui em frente, eu teria que fechar a rua, e duvido que a prefeita liberaria uma ordem dessas pra mim.
Mafalda – Posso contar um segredo a vocês?
Ondina (curiosa) – Claro.
Mafalda – A prefeita, Meg Trajano, é minha irmã. Isso eu consigo pra vocês.
Zé Diogo – Perfeito dona promotora de eventos. Quanto à senhora vai cobrar?
Mafalda – Meu nome é Mafalda. Mafalda Trajano. Não vou cobrar nada, fica pela amizade e pelo carinho que meu esposo tem por esse bar.
Ondina – Mas uma senhora tão requintada, deve ter um marido empresário. Duvido que ele frequente esse bar aqui.
Mafalda –Meu marido é o Téo, aquele irmão da Tamara.
Zé Diogo e Ondina se olham surpresos.
Zé Diogo –Então quer dizer que, a dondoca do malandro é a senhora?
Mafalda – Em carne, osso, beleza e formosura.
Ondina (surpresa) – O Téo nasceu de bunda pra lua mesmo. Como diria finado Eustáquio: “Uns com tantos e eu aqui,...”, Como é mesmo?
Mafalda – A senhora esquece todos os ditados populares?
Ondina – Às vezes só. Mas é raro disso acontecer.
Mafalda – Preciso ir agora. Mas falarei com a minha irmã e venho pessoalmente dar a resposta a vocês.
Mafalda se levanta.
Ondina (levantando) – Obrigada por tudo. Aceita um caldo de mocotó?
Mafalda – Agradecida. Preciso ir mesmo.
Mafalda vai embora e Ondina se senta novamente.
Ondina (a Zé) – Taí, exemplo de mulher endinheirada e simpática. Muito diferente dessas dondocas da cidade.
Zé Diogo – Gostei dela. Realmente é uma ótima promotora de eventos. Acho que o show do Péricles vai bombar.
Ondina – Tomara mesmo.
Zé e Ondina continuam conversando com o áudio cortado.
Corta para:
Cena 08. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/ Dia.
Lucas e Eva estão sentados à mesa, analisando alguns papeis.
Lucas (olhando um currículo) – Você acha que devemos contratar essa Regina?
Eva – Deixa-me dar uma passada de olho no currículo.
Lucas entrega o currículo a Eva, que começa a olhar.
Eva (analisando) – Ela tem ótimos cursos. Boas referências. Parece ser muito competente mesmo.
Lucas – Então contratamos?
Eva – Para ser a minha assessora, minha secretária, meu braço direito.
Lucas – Mas a gente nem a conhece direito.
Eva – Mas dar cargo de vendedora pra ela, será desperdício de currículo. Ela entende do assunto. Já trabalhou na maior livraria do país. Olha só que finése. 
Lucas – Mas tem a Tamara. Se a tal Regina ocupar esse cargo, a Tamara terá que voltar a ser vendedora.
Eva – Nós nunca escondemos isso dela. Ela é contratada para ser vendedora. Faz um bico aqui como minha auxiliar, mas infelizmente, não tem um currículo memorável como o da nossa candidata.
Lucas (pegando o telefone) – Vou ligar agora e pedir para que essa Regina Leão venha imediatamente para cá.
Eva volta a analisar o currículo.
Corta para:
Cena 09. Hotel/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Imagens aéreas de um pequeno hotel, com a arquitetura levemente desgastada. Rua sem movimento.
Corta para:
Cena 10. Hotel/ Quarto/ Interior/ Dia.
Milena está assistindo TV, deitada na cama, só de camisola. A campainha toca.
Milena (se levantando e indo) – Odeio serviço de quarto, me atrapalham toda hora.
Milena abre a porta e fica surpresa.
Milena (surpresa) – Você?
Miguel entra no quarto, aspecto muito sério e sombrio, fecha à porta, segura forte no pescoço de Milena e a encurrala na parede.
Milena (assustada) – Larga meu pescoço. Tá doendo.
Miguel (sério) – Cala a boca. Eu nem comecei a te apertar.
Miguel força mais suas mãos sobre o pescoço de Milena.
Miguel – Escuta o que vou te dizer. Da próxima vez que der esses chiliques, e acabar com alguma coisa minha, eu vou te matar. Desovo seu corpo no mato e ninguém vai ficar sabendo quem foi. Entendeu?
Milena faz que sim com a cabeça.
Miguel (rude) – Se comportou feito uma puta. Fez escândalo no restaurante, queimou minhas coisas e ainda decidiu se separar. Mas se livrar de mim não é tão fácil não.
Milena (com dificuldade) – Me larga... Tô ficando sem ar...
Miguel retira Milena da parede, ainda com as mãos em seu pescoço, e a joga com força em cima da cama.
CLOSE nos hematomas no pescoço de Milena.
Milena (chorando) – Como você me achou aqui?
Miguel – Você é tão previsível. Toda vez que briga comigo, vem para esse pulgueiro. Tá na hora de mudar né? Perdeu a graça.
Milena – O que perdeu a graça foi você me trair sempre, quase que instantaneamente. No início era a Ana Rosa, agora é essa tal Eva, que me agrediu.
Miguel – É claro que agrediu. Você fez um carnaval com a cara dela.
Milena – E deveria ter feito o que? Me sentado com vocês e ter comido. Ou um ménage a trois?
Miguel – Para com esse drama Milena. Arruma suas coisas e vamos voltar pra casa. A Eva não passou de uma diversão. Uma conquista rápida e barata. Você é minha mulher e jurou diante de Deus e dos homens viver ao meu lado eternamente.
Milena – Mas e suas traições?
Miguel – O que os olhos não veem o coração não sente e a língua não fala. Vai comigo, ou prefere viver nesse muquifo?
Milena começa a arrumar sua mala.
Miguel (sarcasmo) – Eu poderia até convidar a Eva pra um happy hour, o que acha?
Milena olha Miguel com raiva.
Corta para:
Cena 11. Flores/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia
Música (“Uma história de Amor” – Fanzine). Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores campestres. 4º: Fachada da Prefeitura de Flores.
A imagem da fachada da prefeitura se funde com a cena a seguir. (fad out trilha “Uma história de amor” – Fanzine).
Corta para:
Cena 12. Prefeitura/ Antessala da prefeita/ Interior/ Dia.
Lui está enviando e-mails, sentado em sua mesa. Mafalda chega.
Mafalda – Fala Lui. Meg está aí?
Lui para de digitar e olha Mafalda dos pés a cabeça.
Mafalda (rude) – Tá ou não tá?
Lui – Depende do assunto, pode me adiantar?
Mafalda – Se eu te adiantar você vai poder resolver?
Lui – Se passar pela dona Meg não.
Mafalda – Então me diz, por que eu teria que passar o meu assunto com a minha irmã, para você?
Lui –Grosseria tá batendo a porta hein.
Mafalda – Faz o que eu mandei, é urgente.
Lui – Só um instante.
Lui disca um número no telefone, sempre olhando para Mafalda.
Lui (ao tel.) – Dona Méguiiiii, sua irmã tá aqui fora querendo falar com a senhora. Disse que é urgente. (PAUSA) Tá bem.
Lui (a Mafalda) – Ela mandou a senhora entrar.
Mafalda – Tá!
Mafalda entra.
Corta rapidamente para:
Cena 13. Prefeitura/ Gabinete de Meg/ Interior/ Dia.
Meg está sentada em uma poltrona acariciando Boticários, quando Mafalda entra.
Meg – Veio me fazer uma visita surpresa?
Mafalda – Para de brincadeiras, eu vim por um motivo mais sério. Já que você brinca de administração, acho melhor ouvir uma proposta que tenho e que pode lhe render votos na próxima eleição.
Meg deixa Boticário deitado na poltrona e se levanta, indo em direção a sua mesa.
Meg (se sentando) – Vem minha irmã, se sente. Vamos conversar.
Mafalda então se senta.
Corta para:
Cena 14. Mansão Amadeu/ Cozinha/ Interior/ Dia.
Teresa e Dama estão sentadas a mesa conversando.
Teresa – Então quer dizer que você é nova aqui na cidade?
Dama – Eu sou. Eu morava no Rio de Janeiro, mas a violência me fez migrar pro interior.
Teresa – Eu acho uma cidade linda, mas igualmente perigosa. Nasci e quero morrer aqui, na minha terrinha santa e calma.
Dama – Eu penso em voltar pro Rio. Não quero fazer muito pouso por aqui não. Estou só de passagem mesmo.
Teresa –Com o tempo você se acostuma e gosta daqui, eu só não intendo o que você veio.../
Vitória (entrando/ corta) – Não tem nada para entender Teresa. Vá arrumar meu quarto, que por sinal, está uma bagunça.
Teresa (se levantando) – Sim senhora.
Teresa sai e Vitória e Dama ficam se olhando.
Dama – Vai ficar aí me olhando?
Vitória – Eu tô admirando sua beleza. Aliás, a falta dela. Sabe que você assim, de perfil, me lembra uma pessoa.
Dama – Ah é? Que pessoa?
Vitória – Me lembra Madame Catalina. Vocês são tão parecidas. Até no modo bagaceiro de tentar me passar para trás.
Dama – Eu não estou entendendo Nameless. Pode me explicar?
Vitória – Na hora certa você saberá. Só te digo uma coisa: “Quem brinca com fogo, acaba se queimando.”.
Vitória sai da cozinha e Dama fica atônita.
Corta para:
Cena 15. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/ Dia.
Lucas, Eva e Regininha estão sentados a mesa conversando.
Lucas – Regina, gostamos bastante do seu currículo e decidimos contratá-la. Você será assistente da Eva, tudo bem?
Regininha (FELIZ) – Tudo ótimo pra mim. Eu esperava ser contratada como vendedora ou faxineira. Ser assessora da gerente é um prazer.
Eva – Não só de prazeres você viverá aqui, mas trabalho árduo também. Agora, por exemplo, estou focada no projeto Café de Leitura, que visa ampliar o espaço e torna-lo mais sociável. Um ponto de encontro aqui.
Lucas – Então você pode começar amanhã mesmo?
Regininha –Mas é claro. Amanhã cedo estarei aqui prontíssima.
Eva – Perfeito.
Eva se levanta.
Eva (saindo) – Tenho que falar com a Tamara. Com licença.
Eva sai.
Lucas – Vamos às questões burocráticas, a parte chata de se contratar alguém.
O áudio é cortado. Lucas vai explicando a Regininha.
Corta para:
Cena 16. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
A sala está vazia, quando Milena e Miguel chegam.
Milena – De volta ao inferno.
Miguel – Tá dizendo isso por causa da Ana Rosa?
Milena – A Ana Rosa, a sua mãe. Essas duas fazem da minha vida um inferno.
Nesse instante Vitória aparece.
Vitória – Voltou norinha? Seja bem recepcionada no quarto de hóspedes, já que você queimou a cama do Miguel.
Milena – Eu compro outra. Dinheiro nunca foi problema pra mim, pois nunca tive.
Miguel – Eu compro um dia desses.
Vitória – Meu filho, não se esqueça da leitura do testamento amanhã hein.
Milena (surpresa) – Amanhã? Miguel você é o mais novo milionário.
Vitória – Olha como é interesseira. Já está pensando nos dólares né?
Milena – E se estiver? Pelo menos eu sou gananciosa e demonstro. Pior é você que se esconde atrás desse discurso politicamente correto aí.
Miguel pega no braço de Milena e sobe as escadas a força com ela.
Corta para:
Cena 17. Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia-Noite.
(Música “BoogieOogieOogie”) Transposição do dia para a noite.
Corta para:
Cena 18. Mansão Trajano/ Sala de Jantar/ Interior/ Noite.
Mafalda, Téo, Meg e Álvaro estão sentados à mesa jantando.
Mafalda – Amanhã mesmo vou procurar o Zé Diogo e contar que você liberou o fechamento da rua. Esse show vai ser um sucesso.
Meg – Fiz isso pra ter uns votinhos a mais, só! Nem lá vou dar minhas caras. Gravarei um vídeo curto dizendo que amei o evento.
Mafalda – Téo e eu estaremos sapateando lá. Adoro essas coisas gente.
Álvaro – Mas vai ser show onde? De quem?
Meg – Aquele subúrbio horroroso.
Téo – Peraí Meg, nem é assim. Não fala mal do meu bairro não.
Álvaro – Mas é show de quem gente?
Mafalda – Do Péricles, aquele cantor de samba e pagode. Vai ser um mega show realizado pelo Zé Diogo e por mim. Agora que voltei a ativa como produtora de eventos.
Meg (irônica) – Vai ser um show espetacular. Imagina só, perder uma noite ouvindo pagode de um gordo preto, tomando cerveja e ao lado aquela gentinha cheia de suor. Realmente um programão!
Mafalda – Você está sendo preconceituosa, ou melhor, burra. Porque gente preconceituosa em pleno século XXI é gente burra. De nada adianta ser estudada, se tem a mente pequena. Eu sinto pena de pessoas como você, Meg.
Meg – Vai me agredir agora?
Téo – A Mafalda não está te agredindo não. Você é que usou mal as palavras. Se não gosta de pessoas da minha cor, é um direito seu, agora respeitar é uma obrigação sua.
Meg – Eu não queria ter causado esse alvoroço todo gente.
Álvaro – Você é cruel nas palavras.
Meg se levanta irritada e sai.
Mafalda (a Álvaro) –Não vai atrás dela não. Nem vale mais a pena.
Álvaro – Pode confirmar uma mesinha lá pra mim. Eu vou nesse show Mafalda.
Mafalda (alegre) – É assim que se fala!
Álvaro, Mafalda e Téo continuam conversando.
Corta para:
Cena 19. Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Noite.
CAM percorre todo o jardim frontal, iluminado com cores quentes. Ana Rosa e Fabrício passeiam pelo local.
Ana Rosa – Então eu poderei te acompanhar?
Fabrício – Claro. Amanhã será uma tortura pra mim. Odeio essa coisa de transferência de bens. Ler esse maldito testamento. Eu não quero me tornar empresário, tampouco ficar destilando dinheiro em bolsa de valores ou simplesmente, ficar com o rabo sentado em uma poltrona dia após dia. Quero escrever meus livros, quero me tornar um roteirista de cinema famoso.
Ana Rosa – Mas e a sua parte da empresa?
Fabrício – O Miguel sabe como ninguém, gerir esta empresa. Deixarei, momentaneamente, que ele cuide das minhas ações e resolva assuntos relacionados a empresa.
Ana Rosa – Eu mal vejo a hora de irmos embora. Não aguento mais a Milena, que, aliás, voltou pra cá. Também tô tomando pavor da cara da Vitória.
Fabrício – Se tudo se resolver amanhã, eu prometo que no dia seguinte estaremos voltando para o nosso amado Rio de Janeiro.
Ana Rosa – Assim espero.
Fabricio abraça Ana Rosa e os dois trocam beijos e carícias.
De longe, vemos Milena vigiando o casal, através da janela de seu quarto. Close em Milena com cara de inveja.
Corta para:
Cena 20. Mansão Amadeu/ Quarto de Milena/ Interior/ Noite.
Milena está olhando pela janela, fiscalizando, COM O OLHAR, os passos de Milena e Fabrício, enquanto Miguel está deitado.
Milena (olhando pela janela) – E o idiota pensa que ela está com ele por amor. Esse povo tem cada ideia.
Miguel – De quem você tá falando?
Milena – Da sua amadinha Ana Rosa e do abestado do seu irmão. É lógico que ela tá com ele por dois motivos básicos: o primeiro é que ela nunca conseguiu te ter de verdade, já o segundo, é que seu irmão é herdeiro de uma enorme fortuna.
Miguel – Deixa de ser invejosa. A Ana Rosa nem pesa em você, já você tá se martirizando aí por ela.
Milena (se deitando) – Não falo mais nada. Na hora que o Fabrício souber que está chocando o ovo da serpente, aí vocês começarão a me dar o devido valor.
O celular de Miguel começa a tocar.
Miguel (olhando o cel.) – É ela.
Milena –Me dá isso aqui, acabo com essa presepada em dois tempos. Essa piranha não vai destruir meu casamento.
Miguel – Calma, deixa eu atender.
Miguel atende o celular.
Miguel (ao cel./ meigo) – Eva, boa noite! Tá tudo bem?
Eva (off) – Eu que te pergunto Miguel, tá tudo bem? Depois daquele incidente, você não me ligou mais.
Miguel (ao cel.) – Amanhã podemos almoçar juntos?
Milena começa a dar vários tapas nas costas de Miguel.
Eva (off) – Precisamos mesmo. Tenho um assunto sério pra tratar contigo.
Miguel (ao cel.) – Então tá bem. Beijos e boa noite.
Miguel desliga o celular.
Milena (brava) – Ridículo o que você fez, simplesmente ridículo. Como assim almoçar amanhã? Só se for por cima do meu cadáver.
Miguel – Eu vou pra terminar tudo com ela. Mas quero que seja sem escândalos, compreendeu?
Milena –Se você estiver me enrolando, dessa vez eu coloco fogo em você.
Miguel – Ei, calma! Sou bom moço. Te farei a mulher mais feliz daqui em diante.
Corta para:
Cena 21. Mansão Amadeu/ Quarto de Empregados/ Interior/ Noite.
Dama está deitada na cama, assistindo TV, com todas as luzes apagadas. A porta se abre lentamente, e Eneida, irmã de Vitória, entra, fecha a porta e acende a luz.
Dama (assustada) – Eneida?
Eneida – Búu. Pensou que fosse quem? O meu fantasma?
Eneida retira uma arma de sua bolsa e aponta para Dama.
Dama (assustada/ chorando) – Não faça uma bobagem dessas.
Eneida – A balança se inverteu Dama. Agora é você que está na linha de tiro.
Eneida destrava a arma. Dama fica paralisada e com semblante de muito medo.
Corta para:

FIM










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