Cena 01. Rua
Deserta/ Exterior/ Noite.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
Eneida e
Dama andam em direção ao carro, toda hora olhando assustadas para trás.
Eneida – Tô com a
impressão de estar sendo seguida.
Dama – Não me
deixa mais desesperada.
Eneida e
Dama param em frente ao carro. Eneida abre a porta do carro e as duas entram
nos bancos dianteiros.
Eneida dá
partida no carro e sente algo em sua nuca.
Close em
Antero apontando uma arma na nuca de Eneida.
Antero – Pode
desligar esse carro. Eu vou dizer pra onde iremos passear.
Dama e
Eneida ficam muito assustadas.
Dama
(assustada) – Por favor, Antero, não faça nada conosco.
Antero – Mas eu não
farei nada mesmo.
Eneida – Então
porque está aqui com essa arma apontada pra gente?
Antero – Liga essa
droga de carro e toca pro cemitério abandonado. Lá vocês terão uma conversinha
particular.
Eneida
respira fundo e dá partida com o carro.
Corta para:
Cena 02.
Casa de Fernanda/ Exterior/ Rua/ Noite.
Eva e
Miguel estão terminando de se beijarem.
Eva – Mas tem um,
porém.
Miguel – Mas que
tipo de, porém?
Eva – Eu só
aceito noivar com você, em um jantar reunindo a sua família e a minha família.
Quero conhecer sua mãe, seus irmãos, tios, primos e tudo mais.
Miguel fica
tenso e Eva percebe.
Eva – Por que tá
assim? O que tem a esconder de mim Miguel?
Miguel – Nada meu
amor. Você sempre duvidando de mim, sempre duvidando dos meus interesses e
sentimentos por você.
Eva – Você mentiu
uma vez. Mesmo que tenha sido pra poder aliviar a situação, mas mentiu.
Miguel – E que nunca
mentiu Eva? Quem nunca omitiu um fato, para tornar a situação mais dócil? Eu
espero apenas que você seja mais clara e que confie verdadeiramente em mim,
aliás, um relacionamento não se sustenta só no amor, ou só na cama. Ele se
sustenta na confiança diária e imedida que um deposita no outro.
Eva – Tem razão,
eu tô ficando neurótica com essas coisas de confiança, de mentiras e tudo mais.
Chega meu amor. Na boa da verdade, eu preciso dormir, preciso esfriar a cabeça,
tomar um banho bem gostoso e pular na cama. Amanhã é dia de trabalho pesado.
Daqui poucos dias, será a abertura do meu novo projeto na livraria e preciso
correr.
Miguel – Então vem
dar um cheiro no seu namorado, vem.
Eva e
Miguel se agarram e se beijam.
Eva
(saindo) – Preciso entrar. Boa noite.
Miguel – Beijos
gata. Almoçamos juntos amanhã?
Eva – Claro!
Miguel dá
uma piscada de olho pra Eva, entra em seu carro e sai.
Corta para:
Cena 03.
Carro de Eneida/ Interior/ Noite.
Eneida está
dirigindo, com semblante de medo, enquanto Antero continua com a arma apontada
para a cabeça dela.
Dama – É mais um
susto que a Vitória quer nos fazer passar, não é? Pode falar, eu sei que é.
Antero – Cala a sua
boca. Lá a gente acerta tudo.
Eneida
(assustada) – Tira essa arma da minha cabeça. Se me matar, vai
provocar um acidente e pode até morrer.
Antero – Eu não
tenho medo da morte. Aliás, a vida é muito mais perigosa, feia e inimiga, do
que a morte.
Dama – Se alguma
coisa me acontecer, aquele dossiê com a vida da Vitória, vai parar nas mãos da
polícia, da imprensa e se bobear, até nas mãos do FBI.
Antero ri
muito alto.
Antero – Acho que
você tem assistido demais a séries americanas. Isso daqui é Brasil, interior do
país. Aqui nada acontece minha filha. Quem tem dinheiro, poder e um peixe na
política, tá feito.
Dama começa
a se assustar.
Corta para:
Cena 04. Bar
Chegaí/ Rua/ Exterior/ Noite.
A rua e o
bar já estão com pouco movimento. O show já acabou, e os músicos estão
guardando seus instrumentos.
Regininha
está conversando com Álvaro.
Regininha –
Então
você é advogado?
Álvaro – Sou sim,
advogado na empresa La Salud.
Regininha –
Que
bacana.
Álvaro – E você, é o
que?
Regininha –
Sou
assistente na livraria Dom Casmurro.
Álvaro – É uma ótima
livraria, eu conheço o dono de lá. Muito gente boa.
Regininha
olha o relógio.
Regininha –
Tenho
que ir, já está tarde e amanhã eu pego cedo no serviço.
Álvaro – Também
tenho que ir. Tô de carro, quer uma carona?
Regininha –
Não,
obrigada. Eu moro aqui por perto mesmo. Vou a pé e rapidinho eu chego.
Álvaro – Já que é
assim. Prazer em te conhecer Helena.
Regininha –
O
prazer é todo meu Álvaro.
Regininha
estende a mão para se despedir de Álvaro, mas ele a agarra e lhe dá um abraço
apertado e um beijo na bochecha.
Álvaro
(cochichando no ouvido) – Eu acho que a gente ainda vai se ver muito.
Álvaro
solta Regininha e sai andando. Regininha fica parada, perplexa.
Corta para:
Cena 05.
Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Interior/ Noite.
Vitória e
Meg estão sentadas no sofá conversando. Conversa em andamento.
Meg – Tem que ter
muito sangue frio. Eu não conseguiria.
Vitória – Quando é a
sua pele que está em jogo, você é capaz de cometer os piores atos. É capaz de
ser a mais sórdida das criaturas. Eu ainda aguardo, ansiosamente, o momento em
que aquele maldito passado suma da minha frente, da minha vida.
Meg – É passado,
passou. Mas, infelizmente, ficará na memória. Na sua memória, na minha e na de
pessoas que viveram aquela época.
Vitória – Eu não
posso e não quero pensar no passado. O que farei esta noite é apenas o começo
da destruição daquela imundice que foi a minha juventude.
Meg (olhando
o celular) – Já está na hora marcada.
Vitória
respira fundo e se levanta.
Meg – Tem certeza
de que quer fazer isso? Tem certeza de que quer mais uma vez tentar enterrar e
calar esse passado que grita?
Vitória – Você sabe
que eu tentei a todo custo contornar essa situação, mas não dá mais. Acabou!
A-CA-BOU!
Nesse
instante Mafalda e Téo entram em casa.
Téo percebe
o clima tenso no ar.
Téo
(intrigado) – O que tá rolando aqui?
Meg – Nada!
Téo – Tem
certeza?
Meg – Certeza eu
só tenho da morte.
Mafalda – Engraçado
como gente ruim só se junta com gente ruim né. Garanto que as duas najas
estavam aqui falando mal do maravilhoso evento que foi o show do Péricles.
Vitória – Engano seu
querida, nós não perderíamos nosso precioso tempo falando de algo tão insignificante.
Mafalda – Mas aí
depende do ponto de vista, porque, insignificante pra mim é tentar a todo custo
passar uma imagem distorcida, do que a sua alma realmente representa.
Vitória
(rude) – Escuta aqui Mafalda, eu cuido da minha vida e você cuida da sua
e do seu michê.
Mafalda – Alto lar
pra falar do meu marido.
Vitória – Alto lar
você, que tem telhado de vidro e vive tentando atirar pedra no do vizinho.
Aprenda uma coisa Mafalda: Eu sou sobrevivente do inferno, e uma sobrevivente
do inferno é capaz de qualquer coisa pra ter o que quer.
Téo – Vamos nos
deitar Mafalda. Não fica se aborrecendo não.
Mafalda – Tem razão
amor. Vamos subir.
Mafalda e
Téo sobem as escadas em direção ao quarto.
Meg começa
a aplaudir.
Meg – Você calou
a Mafalda. Parabéns!
Vitória – A sua irmã
dá uma de boa samaritana, dá uma de metidona a besta, mas não passa de quenga.
Agora eu vou embora. Tenho que focar no meu plano. Nada pode dar errado hoje.
Vitória e
Meg se olham sérias.
Corta para:
Cena 06.
Bar Chegaí/ Interior/ Noite.
Zé Diogo e
o cantor Péricles estão sentados em uma mesa conversando e tomando cerveja.
Zé Diogo
(dando um gole de cerveja) – Geladinha! Agora sim. Enfim, vou
poder relaxar um pouco.
Péricles – Foi muito
gostoso fazer show aqui, a receptividade da galera e o alto astral, nossa muito
gratificante.
Zé Diogo – Eu que
agradeço pelo show maravilhoso que você fez. É mestre em tudo que faz mesmo.
Péricles – Olha, vou
recomendar aos meus amigos que venham ao Bar Chegaí. O melhor bar, no melhor
lugar.
Zé Diogo – Fico feliz
com suas palavras. É uma honra tê-lo aqui no Chegaí.
Nesse
instante, Ondina aparece com uma bandeja lotada de salgadinhos.
Ondina – Salgadinhos
pro senhor.
Ondina
coloca os salgadinhos na mesa e se senta junto a eles.
Ondina – Prova seu
Péricles. Vê se tá bom.
Péricles – Vou provar,
mas não precisa me chamar de seu Péricles. Só Péricles tá bom.
Péricles
prova, faz cara de suspense e em seguida faz sinal de aprovação.
Péricles – Tá uma
delícia Ondina. Você é quituteira de mão cheia, adorei essa coxinha.
Ondina – Então se
farte, porque te quibe, rissoles, enroladinho, bolinha de queijo, bomba de
salsicha.
Péricles – A senhora
caprichou no tempero e na quantidade.
Ondina – Como dizem
as más línguas: “antes sobrar do que...” Como que é mesmo? Esqueci gente.
Zé Diogo – Antes
sobrar do que faltar.
Ondina – Isso mesmo.
Quase me esqueci.
Péricles – Mas tá
divino esse salgado.
Corta para:
Cena 07.
Cemitério abandonado/ Portão/ Exterior/ Noite.
Vitória
para o carro bem em frente ao portão do cemitério, onde se encontram dois
homens. Ela desce do carro, abre o porta-malas e retira de lá: um galão cheio
de algum líquido, uma corda e dois pneus. Vitória coloca todos esses objetos no
chão, próximo ao carro.
Vitória
(aos homens) – Podem pegar.
Os dois
homens chegam e pegam os objetos e levam para o interior do cemitério. Vitória
entra no carro e o estaciona mais a frente, atrás de uma frondosa figueira. Ela
sai do carro e caminha em direção ao interior do cemitério.
Corta para:
Cena 08.
Cemitério Abandonado/ Interior/ Noite.
CAM abre em
uma lápide, deteriorada pelo tempo e perpassa por covas abandonadas e com muito
mato. Enquanto isso se ouve passos que demonstram que a cada vez está mais
perto, mais perto.
CAM fixa em
Vitória, próxima dos dois homens.
Vitória – O Antero já
passou o esquema pra vocês?
Homem 1 – Já, sim
senhora.
Vitória – Não quero
falhas, não quero nenhuma eventualidade que possa atrapalhar os meus planos.
Homem 2 – Fique
tranquila, somos profissionais.
Vitória – Eu espero
mesmo. Nem que eu me agarre a alma do capeta, mas hoje eu vou enterrar de vez o
meu passado.
Close em
Vitória, com o olhar diabólico.
Corta para:
Cena 09.
Cemitério Abandonado/ Portão/ Exterior/ Noite.
O carro de
Eneida para bem em frente ao portão. Em seguida o motor é desligado.
Corta para:
Cena 10.
Carro de Eneida/ Interior/ Noite.
Eneida está
com a chave do carro nas mãos, enquanto Antero continua apontando a arma para
ela. Dama está paralisada e muito assustada.
Antero (a
Eneida) – Muito lentamente, você vai me dar as chaves desse carro. Quando
eu disser três, vamos lá? Um.. Dois... Três.
Eneida
entrega a chave do carro vagarosamente. Antero pega as chaves e num rápido
golpe, dá uma coronhada em Dama, o que a faz desmaiar.
Eneida
(gritando/ desesperada) – Não. Acorda Dama.
Antero
aponta o revólver para Eneida.
Antero – Cala a boca
vadia. Fica aqui no carro quietinha, enquanto eu levo sua amiga pra um
bate-papo lá dentro.
Eneida
(assustada) – Vai me deixar aqui sozinha?
Antero – Não. As
almas infelizes, que rodeiam esse lugar vão te fazer companhia. Te garanto!
Antero
deixa a arma no banco traseiro onde está. Sai do carro, abre a porta do carona,
retira Dama, desacordada, e a carrega para dentro do cemitério.
Eneida – Meu Jesus
Cristo, não deixe que nada de mal aconteça com a Dama.
O celular
de Eneida toca, ela o pega e visualiza a tela.
Eneida
(desapontada) – É só o despertador.
Eneida
continua ouvindo um alarme de celular, ela procura pelo carro e encontra o
celular de Dama, no visor uma ligação de Regininha. Eneida atende.
Tela se
divide em duas: De um lado Eneida no carro e do outro, Regininha, dentro de um
táxi, na parte dianteira, banco do carona.
Eneida – Alô?
Regininha
estranha a voz e fica calada.
Eneida – Quer falar
com a Dama?
Regininha –
Quem
é?
Eneida – É você
Regininha?
Regininha –
Mas
quem tá falando?
Eneida – Eu não
tenho muito tempo, vou ser breve: A tua tia tá no cemitério abandonado,
correndo risco de vida nas mãos do Antero e da Vitória. Corre pra cá, só com
você aqui, podemos tentar impedir um desastre.
Regininha
fica chocada.
Eneida – Alô? Alô?
Taí Regininha?
Regininha –
Tô
voando até aí.
Eneida
desliga o celular. Tela abre toda em Regininha.
Regininha
totalmente em estado de choque.
Taxista – Vamos pra
onde moça?
Regininha –
O
cemitério abandonado, na saída da cidade, conhece?
Taxista – Sei onde é?
Regininha –
Então
toca pra lá o mais rápido possível. (séria) É questão de vida ou morte.
Regininha
fica totalmente em estado de choque.
Corta para:
Cena 11.
Mansão Trajano/ Entrada Principal/ EXT./ Noite.
O carro de
Álvaro para bem em frente a porta de entrada.
Corta para:
Cena 12.
Mansão Trajano/ Sala de Estar/ Ext./ Noite.
A sala está
toda escura. Álvaro entra e acende as luzes, se deparando com Meg, sentada no
sofá e acariciando Boticário.
Meg – Isso são
horas?
Álvaro – Eu estava
no Bar Chegaí. No show do Péricles.
Meg – A Mafalda e
o Téo já chegaram faz tempo. Tô aqui plantada feito dois de paus a horas.
Álvaro – Vai começar
a ladainha? Você tá cada dia mais chata, cada dia mais controladora, daqui a pouco
serei obrigado a...
Álvaro
interrompe sua própria fala.
Meg
(exaltada) – Obrigada a que? Fala Álvaro.
Álvaro – Eu serei
obrigado a implantar um chip no meu cérebro, para que você saiba onde estou e
melhor, no que estou pensando.
Meg – Sabe que
não é má ideia. Eu gostaria mesmo de ser dona dos seus pensamentos. E te punir,
caso tenha algum período de libertinagem fantasiosa com essas rameiras que
circulam pela empresa. Mas me admira você, um advogado renomado, que há anos
trabalha na maior empresa da região, acabou se rendendo ao desfrute de um
bairro suburbano e curtiu um show mequetrefe de pagode. É o fim dos tempos.
Álvaro – Eu não vejo
problema, muito pelo contrário, vejo solução. Tô cansado desses coquetéis em
que as pessoas vão de salto alto e roupa de festa. Que só comem caviar,
presunto de Parma. O bar Chegaí é uma alternativa pra quem não aguenta mais
essa tolice da classe A, que no fundo se odeia, são porcos fazendo as vezes de
gatos.
Meg
(desapontada) – Triste esse seu pronunciamento. Tá defecando pela
boca. Acho que você bebeu cerveja demais.
Álvaro – Pior que
não, mas deveria. Pra não ter que lembrar, que a minha esposa é uma caloteira.
É parte podre da política. Deveria ter tomado um porre, pra esquecer que você
deixou de ser uma garota mimada e se tornou um ser vil e abjeto. Eu não tenho
mais admiração por você.
Meg fica
totalmente chocada, assustada e muito triste.
Álvaro – Eu vou me
deitar.
Meg – Pegue seu
pijama, seu travesseiro e durma no quarto de hóspedes. Não vou dividir meu sono
com alguém que não me admira.
Álvaro – Como a
senhora quiser, doutora prefeita. São suas escolhas que te tornam desprezíveis.
Álvaro sobe
as escadas e Meg começa a chorar.
Corta para:
Cena 13.
Cemitério Abandonado/ Int./ Noite.
Dama está
amarrada com cordas a uma cruz de madeira, que está de pé em cima de uma cova.
Dama permanece desacordada. Vitória e Antero estão conversando, enquanto os
dois homens envolvem dois pneus no abdômen de Dama.
Vitória (a
Antero) – Digna de filmes de terror. Essa é a morte da nossa amiga. Cruzou
a minha vida três vezes, a quarta vai ser no umbral.
Antero – Temos que
ser rápidos, pode chegar alguém, ou a Eneida pode ligar pra polícia.
Vitória – Vamos
terminar com tudo isso de uma vez.
Vitória
pega uma garrafa pet com água e joga na cara de Dama, o que a faz acordar,
desnorteada.
Dama
(assustada) – Onde eu tô? Que tô fazendo aqui?
Vitória – Bem vida ao
seu pior pesadelo. Tá gostando da casa nova? Foi feita especialmente pra você.
Dama – Por favor,
me tira daqui Vitória.
Vitória – Agora você
conhece a palavra, “por favor,”? Que lindo, nada como desespero para mostrar a
boa educação. Porque eu tenho certeza que Madame Catalina te deu educação.
Dama – Será que
deu a mesma educação que deu a você?
Vitória
fica calada, sem esboçar reação.
Dama – Porque, do
mesmo inferno horroroso que eu vi, você também veio. Ou acha que me matando,
vai limpar esse seu passado imundo. Você, assim como eu, também foi uma
meretriz, uma rameira, uma puta. Você foi garota de programa, foi uma das
pombinhas da Madame Catalina.
Vitória – Só que eu
me dei bem, sai daquele lugar vil. Ganhei dinheiro, me reeduquei, me tornei
peça fundamental da elite Florense. E você? Deixou de ser puta pra ser
doméstica. Aí viu o meu crescimento, viu o meu deslumbre e deixou de ser doméstica
pra ser chantagista.
Dama – Esse circo
que você armou aqui, só mostra o quanto você está com medo do seu passado. Mas
ele vai vir a tona. Fatalmente virá. Lembra do dossiê?
Vitória – Aquele
dossiê não comprova nada.
Dama – Mas ele
cria a dúvida na cabeça das pessoas. Principalmente na cabeça do seu amado
filhinho Miguel.
Vitória – Já coloquei
uma pessoa pra seguir a sua sobrinha. Em menos de 24 horas, esse dossiê estará
nas minhas mãos, agora chega de papo. Você já gritou aos quatro cantos que fui prostituta,
da mesma forma que um dia você foi gente. Pode ir se despedindo. E olha bem pra
mim, porque esse rostinho lindo e sedutor, vai ser a última coisa que você verá
na vida.
Dama fica
assustada. Um dos homens entrega um galão para Vitória.
Vitória (sacudindo
o galão) – Tá vendo isso minha linda? É gasolina pura. Muitos
litros de um líquido inflamável e que queima um corpinho sedutor em questão de
minutos. Um churrasco de puta velha será que dá certo? Vamos experimentar.
Vitória
começa a espalhar gasolina por todo o corpo de Dama.
Corta para:
Cena 14.
Cemitério Abandonado/ Portão/ext. Noite.
Eneida está
parada de pé do lado de fora do carro, com o revólver de Antero na cintura. Um
táxi chega e Regininha desce desesperada.
Regininha –
Então
foi você que me ligou Eneida?
Eneida – Não há
tempo pra perder, vamos lá tentar salvar sua tia.
Regininha –
Só
se for agora.
Eneida e
Regininha entram no cemitério.
Corta para:
Cena 15.
Cemitério Abandonado/ Int./ Noite.
Dama está
completamente molhada de gasolina e com semblante de muito medo.
Vitória – Depois
psicografa pra mim como é o umbral. Ou melhor, baixa um santo num terreiro e
toma um champanhe comigo. Beijos e sonhe com o capeta.
CAM LENTA: Vitória
risca um fósforo, close na chama e ao fundo Dama desesperada.
Vitória – Queima
bebê.
Regininha
(chegando) – Se depender de mim não vai queimar porra nenhuma.
Vitória
olha surpresa. Eneida chega correndo e fica ao lado de Regininha.
Vitória
(sarcástica) – Pronto, chegou a cavalaria. Agora sim a festa ficou
animada, agora eu gostei. Tava tudo muito sem brilho, sem espectador pro grand
finale.
Regininha –
Deixa
a minha tia em paz, larga ela.
Antero (a
Vitória) – Posso mandar os rapazes darem um jeito nelas.
Vitória – Não. Eu
quero elas aqui, pra assistirem ao show. Vieram por causa do churrasco? Que
ótimo.
Eneida – Para com
isso Vitória.
Vitória – Que
bonitinho você defendendo a sua amiguinha de bordel. Mas ela bancou tanto a
justiceira, que eu quis dar uma morte semelhante ao que ela representava: Jesus
Cristo e Joana D’Arca. A Dama vai morrer queimada e crucificada. Não é lindo?
Eneida
(sacando a arma) – Basta Vitória, basta.
Eneida
aponta a arma para Vitória, porém, mantém suas mãos trêmulas.
Vitória
(rindo) – Tá com parkson? Tão novinha e tão doente. (RUDE) – Agora larga essa arma, senão te capo também, aqui e agora,
sem dó nem piedade.
Eneida
destrava a arma, olha nervosa para Vitória.
Corta para:
FIM
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