ABERTURA
[Narrado
por Rogério]
“Nos dias de hoje, cada vez
mais, acentua-se a necessidade de ser forte. Mas não há uma fórmula mágica que
nos faça chegar à força sem que antes tenhamos provado a fraqueza. Nenhuma luta
haverá jamais de me embrutecer, nenhum cotidiano será tão pesado a ponto de me
esmagar, nenhuma carga me fará baixar a cabeça. quero ser diferente. eu sou. e
se não for, me farei.”
Álvaro se desespera.
Álvaro: Minhas pernas. Eu não consigo mexer elas. O
que está acontecendo comigo? Porque não sinto as minhas pernas?
Lucas fica aflito em ver o desespero do
amigo.
Lucas: Calma, Álvaro, eu vou chamar alguém...
Álvaro: Que calma? Eu não sinto a porra das minhas
pernas. Eu to falando sério cara... Que droga ta acontecendo.
Uma enfermeira entra no quarto.
Enfermeira: O que está acontecendo?
Lucas: Eu não sei, ele acordou e está muito
agitado.
Álvaro: Moça, por favor, eu não sinto minhas
pernas... O que está acontecendo comigo? Me ajuda?
Enfermeira: Por favor, senhor, se retire. Vou pedir
para que o doutor venha vê-lo.
Lucas: Tudo bem.
Lucas sai do quarto enquanto Álvaro fica
chorando, sendo acalmado pela enfermeira.
Cena
2
Rômulo chega no colégio em seu carro, ao
mesmo tempo em que Cíntia chega. Ao tentarem estacionar, ambos acabam quase
colidindo os carros. Rômulo sai do carro e vai até o carro de Cíntia.
Rômulo: Você? Escuta, será que você comprou sua
habilitação?
Cíntia: O quê? Escuta aqui, não é porque você é o
diretor do colégio que você pode ficar agindo dessa forma.
Rômulo: Bem lembrado dona Cíntia. Eu sou o diretor
e esta vaga é minha. Portanto, ache outro lugar para estacionar sua caranga.
Rômulo volta para o seu carro. Cíntia fica
bufando de raiva. Eliane se aproxima do carro dela.
Eliane: Paciência colega. Ele é assim mesmo, é
melhor se acostumar.
Cíntia: Se ele soubesse o que estou passando ele
nem se quer dirigia a palavra para mim.
Eliane: Lá na frente tem uma vaga.
Cíntia: Obrigada!
Cíntia se dirige até o local indicado por
Eliane, que fica observando ela.
Cena
3
Marta chega com suas coisas e começa a montar
sua vendinha de salgados. Luis se aproxima dela.
Luis: Bom dia!
Marta: Oi, bom dia!
Luis: Você está melhor? Digo, depois do que
aconteceu ontem...
Marta: Não, está tudo bem. O Elias é assim mesmo.
Tem o gênio do pai. Mas eu não me deixo abater por isso.
Luis: Então quer dizer que nos veremos mais vezes
por aqui.
Marta abre um sorriso bobo.
Marta: Acho que sim.
Luis: Fico feliz. Aliás, me vê uma coxinha e um
café com leite.
Marta: É pra já.
Cena
4
Lucas vê o médico saindo do quarto de Álvaro
e vai ao encontro dele.
Lucas: Doutor, por favor, o que aconteceu com o
meu amigo?
Médico: Ainda é cedo para diagnósticos. Já mandei
fazer alguns exames e radiografias. Pode ser uma lesão em algum nervo ou apenas
alguma paralisia temporária. Mas não tem como dizer nada concreto ainda.
Lucas: Mas ele vai ficar bem?
Médico: Como disse, só posso dar um parecer depois
dos exames. Com licença.
O médico sai. Um homem se aproxima de Lucas.
Era o delegado que estava investigando o acidente.
Delegado: Bom dia! O senhor é o Lucas Chüazzerg?
Lucas: Sim, sou eu mesmo. E o senhor?
O delegado mostra o distintivo.
Delegado: Delegado de polícia. Estou investigando as
causas do acidente. Será que podemos conversar?
Lucas: Claro!
Lucas e o Delegado entram em uma sala que foi
cedida para que ele pudesse colher o depoimento de Lucas.
Delegado: E então, poderia me esclarecer exatamente o
que aconteceu?
Lucas: Sim! Estávamos voltando de uma festa, indo
para outra, na verdade. Então eu me distrai e acabei provocando o acidente.
Delegado: De acordo com o laudo médico o seu teor de
álcool estava bem alto. Sabe que não deve beber e dirigir, não é mesmo?
Lucas: Sim! Admito que sou culpado pelo acidente e
estou disposto a pagar por isso.
Delegado: Para sua sorte, este acidente não vitimou
ninguém, pelo menos ninguém foi a óbito. Mas, temos alguns lesionados que
poderão, se assim quiserem, entrar com um processo contra você por dirigir
alcoolizado.
Lucas: Eu serei preso?
Delegado: Não! Pelo menos por enquanto sua punição
será apenas a perca da habilitação e pagamento de uma multa.
Lucas: Entendo.
Delegado: Isso é tudo por enquanto. Mas se precisar
de qualquer informação voltarei a procurá-lo.
Lucas: Tudo bem.
Delegado: Passar bem.
Lucas se levanta e após apertar a mão do delegado,
ele sai da sala.
Cena
5
Na sala de aula, Sérgio, professor de
história, parecia estar com a cabeça em outro mundo.
Sérgio: A civilização egípcia se aglutinou em torno
de 3 150 a.C. com a unificação política do Alto e Baixo Egito, sob o primeiro faraó,
Narmer, e se desenvolveu ao longo dos três milênios seguintes. Paula, poderia
nos falar o porque deste faraó ser o primeiro na história a governar o Egito?
Paula: Bom, ele era considerado por alguns como
sendo o unificador do Egito e fundador da Primeira Dinastia, e portanto, o
primeiro faraó do Egito unificado.
Sérgio: Exatamente. Agora abram o livro na página
35 e respondam as questões.
Sérgio senta em sua cadeira fica pensativo.
Vanessa se aproxima de Paula.
Vanessa: Estou preocupada com o Lucas?
Paula: Eu também fiquei preocupada.
Vanessa: Estou pensando em ir ver ele quando sair da
aula, você vem?
Paula: Sinto muito amiga, mas não vou poder. Mas
manda um abraço por mim.
O sinal toca, anunciando o intervalo. Todos
começam a se mexer.
Sergio: Ok, tragam estas questões respondidas na
próxima aula. Vale ponto, não esqueçam.
Cena
6
Inaiá se aproxima de Marta.
Marta: Bom dia, vai um salgado?
Inaiá: Bom dia! Me vê um pastel de frango e um
copo de suco de laranja.
Marta: É pra já.
Inaiá: Você é nova por aqui.
Marta: Sim, comecei neste negócio agora. Mas te
garanto que meus produtos são de qualidade e saudáveis.
Inaiá: Acredito!
Marta: Está aqui.
Inaiá: Obrigada!
Inaiá dá uma mordida no pastel e fica
maravilhada com o sabor.
Inaiá: Menina, que maravilha. Esse pastel está
divino.
Marta: Obrigada!
Inaiá: Realmente você tem uma mão e tanto para
isso. Que delícia.
Cena
7
Cíntia entra na sala dos professores e
encontra Eliane.
Eliane: E aí, mais calma?
Cíntia: Depois de encher a cabeça dos alunos de
teorema de Pitágoras, estou ótima.
Eliane: Você tem que relaxar mulher. Percebi que
você anda sempre pisando em ovos aqui.
Cíntia: Queria ser mais paciente, porém as coisas
não estão sendo fáceis. Ontem mesmo por exemplo, recebi uma notificação. A
pensão onde estou será fechada. Já procurei alguns apartamentos mais não
encontrei nada ainda.
Eliane: Que chato isso.
Cíntia: Nem me fale.
Eliane pensa por alguns segundos.
Eliane: Espera, e se você viesse morar comigo?
Estava mesmo pensando em procurar alguém para dividir o apartamento. As
despesas são muito e se tivesse mais alguém aliviaria muito.
Cíntia: Está falando sério?
Elias: Claro! Moro sozinha, solteira e prometo que
não encho o saco. Acho que vamos nos dar bem juntas.
Cíntia: Nem sei o que dizer.
Eliane:
Apenas aceite e pronto.
Cíntia: Ai amiga, você caiu do céu.
As duas se abraçam.
Cena
8
Lucas fica impaciente. Ele observa os pais de
Álvaro na sala de espera, mas não tem coragem de ir falar com eles. O médico
passa e ele aborda.
Lucas: Doutor, por favor, tem alguma noticia do
meu amigo? Já fizeram os exames?
Médico: Sim! Estou indo falar com ele agora.
Lucas: Mas e o que deu? É grave?
Médico:
Diria que é muito sério. Seu
amigo precisa ser bem forte.
Lucas: O senhor está me assustando. O que ele tem?
Médico: Ao que tudo indica, no acidente seu amigo
teve uma lesão aguda na medula espinhal, frequente por fragmentos de ossos de
fraturas vertebrais. As fibras
motoras foram afetadas.
Lucas: Eu não entendo. O que isso significa
exatamente?
Médico: Significa que seu amigo ficou paraplégico.
Lucas fica chocado. Ele coloca as mãos sobre
a cabeça.
Lucas: Meu Deus, isso não pode ser verdade.
Médico: Lamento, mas é exatamente isso mesmo. Se
quiser me acompanhar será melhor para ele um apoio nestas horas.
Lucas: Claro.
Cena
9
No colégio, Fred sai do Box, no banheiro, e
vai lavar as mãos. Elias, Murilo e Denis entram e cercam ele.
Fred: O que vocês querem?
Elias: Terminar o servicinho de ontem.
Fred: Cara, na boa, eu não quero papo com vocês,
tudo bem?
Fred tenta sair mais Elias e Murilo seguram
ele.
Elias: Calminha mocinha. Ainda não terminamos.
Fred: Me larga, Elias.
Elias: Ta brabinho, ta?
Elias: Eu já mandei me soltar.
Fred luta para fugir, mas é imobilizado.
Elias: Joguem ele no Box.
Murilo e Denis empurram Fred dentro do Box,
que cai no chão ao lado da privada.
Elias: Isso é pra você nunca esquecer quem é que
manda nesse pedaço.
Elias abre o zíper da calça e faz xixi em
Fred. Murilo e Denis dão risada e Fred tenta se proteger. Elias fecha o zíper
da calça.
Elias: Até mais, mane. Vamos galera.
Elias, Murilo e Denis saem. Fred começa a
chorar e fica encolhido no canto do Box, com os braços curvados e a cabeça
abaixada.
Cena
10
Sérgio estava sentado na mesa do refeitório
conversando com Alfredo.
Sérgio: Eu não entendo porque ela decidiu isso?
Estava tudo tão bem.
Alfredo: Mulheres são assim mesmo meu amigo.
Sérgio: Mas se ao menos eu soubesse o que a deixa
infeliz, talvez eu pudesse fazer diferente.
Alfredo: Mas será que o problema é com você?
Sérgio: Como assim?
Alfredo: Ah, sei lá. De repente, é só uma hipótese,
mas... e se ela estiver gostando de outra pessoa? Já pensou por este lado?
Sérgio: Não! E sinceramente acho difícil de ser
isso.
Alfredo: Quer um conselho meu amigo, converse com
ela. Ela tem que te dizer o motivo. Mas você não pode forçá-la a nada.
Sérgio: Eu sei. Entendo.
O sinal toca, era o final do intervalo.
Alfredo: Bom, acho melhor irmos.
Sérgio: Obrigado por me ouvir.
Alfredo: Tranqüilo.
Cena
11
Omar estava sentado na beira da piscina lendo
o jornal. Simone, sua esposa, se aproxima dele e lhe dá um beijo.
Simone: Você precisava ver a cara de todos quando
você saiu da mesa hoje pela manhã.
Omar: Por mim! Quero que todos se explodam.
Simone: Tadinho do meu amor. Mas não fica assim. Eu
já sei como posso te ajudar.
Omar fecha o jornal e olha para Simone.
Omar: Como assim?
Simone: Deixa comigo. Te garanto que logo logo você
será o diretor do Colégio Alberto Villani.
Omar: Olha lá o que você vai fazer.
Simone: Não se preocupe. Apenas te darei o que é
seu por direito. Confia em mim.
Simone beija Omar e sai.
Cena
12
O médico entra no quarto de Álvaro, ao lado
de Lucas. Os pais dele estavam ao seu lado.
Mãe: Doutor, já fizeram os exames? O que deu?
Médico: Bem, tudo indica que o paciente perdeu os
movimentos dos membros inferiores.
Álvaro: O quê? Então quer dizer que...
Médico: Isso mesmo! O quadro indica paraplegia.
Sinto muito.
Álvaro: Paraplégico? Não pode ser... Não pode
ser... Por favor, me diz que não é verdade.
Os pais de Álvaro ficam aflitos. Lucas chora
ao ver o desespero do amigo. Álvaro grita de desespero.
Álvaro: Por favor, me diz que é mentira... Diz pra
mim que eu vou ficar bem, diz...
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