[Narrado
por Renato]
“Quando você
não tem nada a dizer, não diga nada. A confissão muda fere menos que a falada
ou escrita, e permite resolver as coisas em silêncio. Confissão não prova
arrependimento. Às vezes é apenas uma celebração.”
CENA 1
Marta fica surpresa com o modo de Elias ao falar com ela.
Elias: Me responde! Você está saindo com o porteiro?
Marta: Em primeiro lugar você baixa a sua voz quando falar comigo. Segundo,
eu não devo satisfação da minha vida para você, e terceiro, nunca mais repita
uma cena igual a essa novamente. Entendeu?
Elias: Não. Você não vai fugir do assunto.
Marta: Elias, eu não estou fugindo de nenhum assunto.
Paula: Para de gritar com a mamãe...
Elias: E você não se meta sua pirralha.
Marta: Chega! Acabou a palhaçada. Estou namorando com o Luís sim. E daí? O
que você tem haver com isso?
Elias: Então é verdade. Está se deitando com ele. Está traindo o papai.
Marta: O quê? Era só o que me faltava. Eu não tenho mais nada haver com o seu
pai, garoto. Da minha vida cuido eu.
Elias: Eu nunca vou aceitar isso, entendeu? Nunca.
Elias corre para o seu quarto. Marta senta no sofá e começa a chorar.
Paula se aproxima dela.
Paula: Não fica assim, mãe. O Elias é um idiota. Não liga para o que ele
fala.
Marta: Eu não sei porque o seu irmão é tão diferente de você minha filha. Não
sei onde errei com ele.
Paula: Você não errou com nenhum de nós, mãe. Acontece que somos responsáveis
por aquilo que fazemos. Não se sinta culpada. E quanto ao Luís, eu gosto dele. Fico
feliz que esteja com ele.
Marta: Obrigado, meu amor.
As duas se abraçam.
CENA 2
MANHÃ. Dia de céu ensolarado no Rio de Janeiro. Imagens do cristo
redentor, praia do Leblon e pão de açúcar. No colégio Alberto Villani, Omar
chega em seu carro e estaciona. Ele sai de dentro e olha para o colégio,
abrindo um vasto sorriso.
Omar: Cheguei.
Omar caminha pelo corredor em direção à sala da diretoria. Inaiá vem ao
seu encontro.
Inaiá: Bom dia. O senhor deve ser o seu Omar, o diretor temporário...
Omar: Por enquanto. E a senhora é a dona Inaiá.
Inaiá: Exatamente. A supervisora.
Inaiá fica com a mão estendida, porém Omar não aperta e entra na sua
sala. Inaiá vai atrás dele. Omar analisa cada canto da sala e depois olha para
Inaiá.
Inaiá: O que o senhor precisar é só me dizer. Estarei a disposição.
Omar: Ótimo. No momento apenas convoque os professores. Quero falar com
eles.
Inaiá: Claro. Com sua licença.
Inaiá se retira da sala. Omar caminha até a cadeira e senta. Ele abre um
sorriso e escora na cadeira.
Omar: Finalmente. Como esperei esse momento. Omar Villani, o diretor do
colégio Alberto Villani.
Omar começa a rir.
CENA 3
Na sala dos professores, todos eles estavam aguardando Omar para a
reunião. Omar chega na sala acompanhando de Inaiá.
Omar: Bom dia a todos. Gostaria de me apresentar. Meu nome é Omar Villani,
neto do fundador deste colégio, e serei o diretor temporário do colégio nos
próximos meses. Assumo o lugar do meu irmão por decisão do conselho. Quero que
saibam que estarei sempre a disposição de todos e espero contar com a
colaboração de todos para que este colégio continue sempre a trilhar esse
caminho tão bem planejado e idealizado pelo meu avô Alberto Villani. Desejo a
todos que tenha uma boa aula. Qualquer coisa, sabem onde me encontrar. Obrigado
pela atenção de todos.
Omar se retira da sala. Eliane olha para Cíntia.
Eliane: Mais um Villani.
Cíntia: E quem você esperava? Só espero que não tenha outro escândalo. Vamos
para a aula.
Eliane: Vamos.
CENA 4
Na casa dos Villanis, Bernardo se aproxima de Rômulo, que estava sentado
pensativo.
Bernardo: Filho! Está pensativo.
Rômulo: Estava refletindo sobre o que me aguarda no futuro.
Bernardo: Não precisa se preocupar quanto a isso. Sabe que estou do seu lado.
Rômulo: Eu sei, papai. Mas é difícil ficar tranquilo quando seu caráter é
julgado pelos outros.
Bernardo: Compreendo. Se não fosse essa maldita doença eu faria muito mais...
Rômulo: Não. O senhor já está fazendo tudo. Não quero que piore seu estado de
saúde por minha causa. Em primeiro lugar a sua saúde. Eu consigo me virar.
Rômulo respira profundamente.
Rômulo: Já marcaram a reunião do conselho para definição da diretoria do
colégio?
Bernardo: Sim. Daqui a dois meses.
Rômulo: Certo. Só espero conseguir provas de minha inocência até lá.
Bernardo: Não se preocupe. Eu darei o melhor de mim por você.
Rômulo: Obrigado, papai.
Os dois se abraçam.
CENA 5
No corredor do colégio, os alunos estavam se preparando para irem para
as salas de aula. Joana e Raquel estavam conversando.
Joana: Estou com muito medo, amiga. Contei para o Dênis, ontem, sobre a minha
gravidez.
Raquel: E como ele reagiu?
Joana: Como é que você acha? Ele tirou o corpo fora.
Raquel: Eu já imagina isso. E agora? O que você pretende fazer? Contar para os
seus pais?
Joana: Não. Isso de jeito nenhum. A única alternativa é tirar.
Raquel: O quê? Você está falando sério?
Joana: Muito sério.
Raquel: Mas você sabe que corre muito risco fazendo isso, não sabe?
Joana: Não me importo. Melhor morrer tentando me livrar dessa criança, do que
ter de encarar minha família toda.
Raquel: Sinto muito amiga.
Raquel abraça Joana. Em outro canto do corredor, Diego e Fred estavam
caminhando em direção à sala.
Fred: E você pretende um dia se assumir para o mundo? Digo, publicamente?
Diego: Ainda não sei. Sempre penso nisso, mas ai vejo muitas notícias de
ataques homofóbicos, sem falar no relato das mães que sofrem por perderem seus
filhos para esse mundo violento de preconceitos. Isso me faz recuar.
Fred: Mas você está certo, pelo menos por esse lado. Mas também não acho
justo deixar de viver para agradar o mundo. Temos o mesmo direito de ser feliz
amando quem quisermos.
Diego: Também acho isso, mas é um direito que nem todos enxergam.
Elias, Dênis e Murilo passam pelos dois e derrubam os livros de Fred.
Elias: Opa! Foi mal donzela.
Os três riem de Fred, enquanto ele recolhe os livros do chão.
Fred: Babacas. Mas um dia alguém ainda vai dar um basta nesses três.
Diego: Você tem razão. E talvez já esteja na hora de isso acontecer.
Fred: Como assim?
Diego: Me espera aqui.
Fred: Como assim? Aonde você vai?
Diego caminha até Inaiá.
Diego: Com licença.
Inaiá: Pois não? O que está fazendo fora da sala? Não sabe que já vai começar
as aulas?
Diego: EU sei. Mas tenho uma informação que é de extremo interesse. Eu sei
quem é o pixador.
Inaiá: Você o quê? E quem é?
Minutos depois, Inaiá se aproxima de Elias.
Inaiá: Elias? Por gentileza, queira me acompanhar até a sala do diretor.
Elias: Eu? Mas o que eu fiz?
Inaiá: É exatamente isso que iremos descobrir. Vamos?
Elias segue Inaiá até a sala de Omar, enquanto Fred e Diego observam ele
indo.
CENA 6
Na diretoria, Elias estava sentado em frente a Omar. Inaiá estava em pé
ao lado dele.
Omar: E então dona Inaiá, pode me explicar o que este garoto faz na minha
sala?
Inaiá: Com certeza. Recebi uma denúncia de que este garoto é o pichador que
anda sujando as paredes do colégio.
Elias fica surpreso.
Elias: Como é? Eu não sou pichador...
Omar: Silêncio. Vai falar quando eu disser q1ue pode. Entendeu?
Elias confirma que sim, com a cabeça.
Omar: Muito bem. E tem como provar o que está dizendo?
Inaiá: Talvez. Segundo o informante, este jovem porta tintas de spray na
mochila.
Elias: Isso é mentira...
Elias para de falar ao ver Omar fixando seus olhos nele.
Inaiá: Então não se importaria em mostrar sua mochila para nós. Não é mesmo.
Inaiá pega a mochila de Elias e abre. Ela encontra duas latas de spray e
mostra para Omar.
Inaiá: Está vendo? Acho que não estou tão enganada assim.
Elias fica tenso.
Omar: Pode me explicar o que faz com essas latas de spray na mochila?
Elias baixa a cabeça.
CENA 7
Minutos depois, Elias sai da sala de Omar. Dênis e Murilo vão ao
encontro dele.
Dênis: E então, cara? O que foi que deu lá na sala do diretor?
Elias: Alguém me dedurou. Alguém que sabia que eu era um dos pichadores me
entregou. Agora eu preciso saber quem?
Murilo: Eu acho que já sei quem foi. Antes da supervisora vir te buscar, o
Pablo disse que viu ela conversando com aquele amiguinho do Fred.
Elias: Claro. Só pode ter sido ele. Fez isso por causa do amiguinho. Mas eles
vão me pagar. Eu não vou deixar barato.
Elias dá um soco com o punho fechado contra a parede.
CENA 8
Prédios do Rio de Janeiro. Por do sol ao longo do morro do pão de
açúcar. Cidade iluminada. Amanhecer na praia de Copacabana. Pessoas fazendo
exercício. 2 MESES DEPOIS. Vanessa,
Paula, Fred, Diego, Renato e Rogério estavam sentados na grama em frente ao colégio.
Paula: Nem acredito que é amanhã o grande dia. Dia do nosso acampamento
anual. Estou tão ansiosa.
Vanessa: Eu também.
Renato: Este ano a gente tem que vencer nas provas.
Rogério: Vamos botar para quebrar.
Fred: E não esqueçam que agora temos mais um integrante na nossa equipe.
Paula: Claro. O Diego será nosso trunfo.
Diego: Capaz. Tentarei fazer o meu melhor.
Fred: OU seja, já ganhamos.
Eles começam a rir.
CENA 9
Na sala de reuniões do colégio, o conselho estava reunido. Rômulo e Omar
estavam presentes, juntamente com Bernardo e Teresa. O presidente do conselho
abre uma ata e olha para Rômulo.
Presidente: Muito bem. O conselho chegou a um consenso. Mas antes de proferir a
decisão, o senhor gostaria de manifestar algo, senhor Rômulo Villani?
Rômulo: Sim.
Rômulo apoia os braços sobre a mesa e olha nos olhos de cada um dos
conselheiros enquanto fala.
Rômulo: Não sei qual foi a decisão do conselho, mas seja qual for eu acatarei.
Sei da minha inocência e a mim só cabe limpar a minha imagem, sem que o colégio
sofra nenhum prejuízo. De fato me sinto injustiçado com tudo o que aconteceu,
embora seja muito difícil de mostrar a verdade para todos. Mas gostaria de
agradecer a todos que acreditam em mim e sabem do meu caráter. Obrigado.
Presidente: Muito bem. Agora vou ler a ata final desta reunião.
O presidente do conselho abre a ata.
Presidente: Fica instituído, nesta data, que Rômulo Villani será definitivamente
deposto do cargo de diretor do colégio Alberto Villani, tendo em vista que os
atos a ele incidido, não foram esclarecidos com devida clareza. Sendo assim, o
conselho aprova em unanimidade a nomeação definitiva de Omar Villani como o
novo diretor do colégio. Sem mais.
Rômulo abaixa a cabeça enquanto Omar vibra em silêncio. Rômulo sai da
sala e encontra Cíntia.
Cíntia: Rômulo? Já acabou a reunião?
Rômulo: Sim. Eles me depuseram do cargo. Acabou.
Cíntia: Eu sinto muito.
Cíntia abraça Rômulo.
CENA 10
Pedro, pai de Fred, estava sentado em frente a janela. Sônia se aproxima
dele.
Sônia: Precisamos conversar. É sobre o nosso filho e não aceito que você tire
o corpo fora. Agora você vai me ouvir.

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