quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Ironia do Destino: Capítulo 14


 APART. SABRINA à QUARTO à NOITE (18h:36min)
Sabrina tira os sapatos sentada em sua cama. Quando ela vai colocar o sapato debaixo da cama, percebe que há uma caixa lá embaixo. Ela pega a caixa e a abre.
SABRINA: O diário do Miguelito? Desde quando ele tinha um diário?
Sabrina folheia o diário e para em uma das páginas.
SABRINA: Não pode ser!
            Ricardo entra no quarto.
            RICARDO: Não pode ser o quê?
            Sabrina joga o diário rapidamente debaixo da cama.
            SABRINA: Ai, amor, que susto!
            RICARDO: Sabrina, você anda não me respondeu. Sobre o que você falava quando disse “Não pode ser”?
            SABRINA: É... é que eu... é... eu... é que a Titica deixou esse criado-mudo imundo! Olha só quanta poeira!
            RICARDO: É, realmente tá precisando de uma boa espanada. Mas eu tava vindo com outras intenções!
            SABRINA: Ah, é? Que intenções são essas, safadinho?
            RICARDO: As melhores possíveis!
            Ricardo joga Sabrina na cama e beija a amada.
            FAZENDA DE LOURIVAL à QUARTO à NOITE (18h:38min)
            Nandinha acorda, depois de ter sido adormecida por um sonífero de Lourival. A víbora vê o pote com o líquido sonífero em cima da cômoda.
            NANDINHA: Aquele velho cagão!
            Nandinha ouve as vozes de Zaqueu, Rosidalva e Lourival.
            ZAQUEU (off): Pai, se num fosse o sinhô, aquela víbora inda tava atazanando nóis.
            ROSIDALVA (off): É vredade, marido!
            LOURIVAL (off): É, mais num fiquem si alegrando ansim não, qui eu só botei ela pra drumi, num matei ninguém não!
            Nandinha levanta-se da cama e vai até a sala.
            FAZENDA DE LOURIVAL à SALA à NOITE (18h:39min)
            Nandinha chega à sala, onde Lourival, Zaqueu e Rosidalva estão assistindo televisão.
            NANDINHA: Quem são vocês?
            Os três se assustam.
            ROSIDALVA: Como ansim? Ocê num tá reconhecendo nóis?
            NANDINHA: Não. Que lugar é esse?
            ZAQUEU: Aqui é a fazenda, ocê num si lembra?
            LOURIVAL: Ô, fio, caiu um negócio aqui, vem ver!
            Lourival puxa Zaqueu a um canto da sala e conversa com ele.
            LOURIVAL (sussurra): Fio, eu acho qui o sonífero qui eu dei pra Nandinha feiz ela perdê a memória.
            ZAQUEU (sussurra): Ara, será?
            LOURIVAL (sussurra): Só pode! Mais ansim fica mió pra nóis, pruquê ela num vai mais ficá fazendo aquelas barbaridade.
            Lourival e Zaqueu voltam ao sofá.
            LOURIVAL: O seu nome é Fernanda. Mais nóis chama ocê di Nandinha.
            ZAQUEU: E você mora aqui cum nóis e cum a Karina, sua prima de segundo grau.
            NANDINHA: E cadê ela?
            ROSIDALVA: Ela saiu prum tar di jurgamento, mais vorta já, já.
            NANDINHA: Ah, entendi.
            Karina chega à casa.
            NANDINHA: Prima!!!
            A víbora corre para abraçar Karina, que não entende nada.
            KARINA: Como é que é?
            Zaqueu puxa Karina para o quarto.
            FAZENDA DE LOURIVAL à QUARTO à NOITE (18h:41min)
            Zaqueu entra no quarto dos pais com Karina.
            ZAQUEU: Finge que ela é sua prima!
            KARINA: É o quê? Como assim, eu...
            ZAQUEU: A Nandinha perdeu a memória dispois qui o pai deu um sonífero pra ela. Agora ela acha qui ocê é prima di segundo grau dela.
            KARINA: Gente, mas como ela perdeu a memória?
            Zaqueu dá de ombros, como sinal de que não sabe.
            CIDADE DE ESMERALDA à PONTOS PRINCIPAIS à NOITE/DIA
            (Música: Jason Derulo - Wiggle) As luzes das casas se apagam. Todos voltam para suas casas. Alguns casais se beijam na praça.
            Amanhece na cidade. As pessoas já saem para o trabalho. Pessoas telefonam no orelhão. Idosos jogam xadrez na mesinha da praça.
            PRESÍDIO à CELA à MANHÃ (10h:21min)
            Hector toma banho na cela do presídio. Hoje é o dia em que ele será liberado.
            Depois do banho, o marginal se olha no pequeno espelho da cela e penteia o cabelo.
            Um policial entra na cela e o chama.
            POLICIAL: Tá na sua hora! Vamo!
            Hector arruma uma mala e sai da cela.
            PRESÍDIO à FRENTE à MANHÃ (10h:29min)
            Hector sai do presídio acompanhado de um policial. Ele se vira e fica olhando seus companheiros tomando banho de sol.
            POLICIAL: Vamo, quer continuar mais uns meses aqui, é? Se manda!
            Hector caminha para longe do presídio.
            CIDADE DE ESMERALDA à RUA à MANHÃ (10h:31min)
            Hector pega seu celular e disca um número.
            HECTOR: Eu já saí daquele inferno! (TEMPO) Ótimo! Tô indo “praí”. (TEMPO) Tá, eu já sei! (TEMPO) Então tá, falou!
            Hector desliga o celular e o põe de volta no bolso.
            HECTOR: Bom dia, cidade! Eu voltei! (fade out: Wiggle)
            CASA DE JULIETTE à SALA à MANHÃ (10h:32min)
            Juliette está fazendo cafuné em seu gato, Aguinaldo Silva, que está em seu colo.
            JULIETTE: Ô Aguinaldinho, você quer mais raçãozinha, meu amor? Quer? Ah, eu vou buscar pra você papar, tá bom? Espera só um pouquinho!
            Juliette vai para a cozinha.
            GATO: Desse jeito eu vou estufar! Será que a Juliette não pensa, não?
            Dionísio desse as escadas.
            DIONÍSIO: É impressão minha ou eu vi aquele gato falando? Ah, que besteira! Gato não fala...
            Dionísio vai para a cozinha.
            CASA DE JULIETTE à COZINHA à MANHÃ (10h:34min)
            Dionísio vai entrando na cozinha, quando esbarra com Juliette, que, por sua vez, deixa a ração de Aguinaldo Silva cair.
            JULIETTE: Não olha por onde anda não?
            DIONÍSIO: Pô, Juju, foi sem querer. Desculpa.
            JULIETTE: Agora já foi, né? Deixa eu juntar isso aqui.
            DIONÍSIO: Deixa que eu junto pra você!
            Os dois se abaixam para pegar a ração e acabam pegando um na mão do outro. O rosto dos dois se aproxima. Dionísio e Juliette são interrompidos por um latido.
            “AU! AU! AU!”
            JULIETTE: Manoel Carlos!
           
DIONÍSIO: Quem?
            Juliette sai correndo para a sala.
            CASA DE JULIETTE à SALA à MANHÃ (10h:35min)
            Para desespero de Juliette, quando ela chega à sala, o cachorro Manoel Carlos está comendo a almofada, enquanto o gato Aguinaldo Silva está dormindo no sofá.
            JULIETTE (grita): NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOO!
            PARQUE DA CIDADE à MANHÃ (10h:35min)
            Leolina junta o lixo do parque da cidade com uma barra de ferro pontuda. Duas amigas passam e uma delas joga uma lata de refrigerante no chão.
            LEOLINA: Vocês sabem o trabalho que dá pra junta esse lixo, sua cachorra? Mas é muito sonsa mesmo... Queria ver se fosse você aqui, pagando de gari, juntando o lixo que os outros jogam no chão. Maldita a hora em que eu apareci com aquele revólver na casa do Golias. Maldita a hora!
            Golias chega ao parque.
            GOLIAS: Por que será que eu ouvi o meu nome?
            LEOLINA: Porque você tem ouvidos!
            GOLIAS: Como é que é?
            Leolina percebe que é o prefeito que está falando.
            LEOLINA: Err... digo... eu... prefeito Golias! Que honra receber o senhor aqui! Ah, mas não se importe com a minha sujeira. Estou imunda!
            GOLIAS: É, eu vi. (tira um maço de cigarros do bolso) Aceita?
            LEOLINA: Ah, não. Eu não fumo!
            GOLIAS: Então tá. (põe um cigarro na boca) Esse era o último mesmo.
            Leolina assente com a cabeça. Golias joga o maço de cigarro no chão e vai embora.
            LEOLINA: Ora, mas... UUURRGHH!
            Leolina junta o maço de cigarros. A mulher continua juntando o lixo do parque.
            APARTAMENTO DE SABRINA à SALA à MANHÃ (10h:37min)
            Sabrina está assistindo televisão. Ricardo chega ao apartamento.
            RICARDO: Oi, amor.
            SABRINA: Onde é que você tava?
            RICARDO: Tava lá na banca, ciumentinha. Eu fui comprar um jornal. Olha só essa manchete (mostra o jornal).
            Sabrina lê o que está escrito.
            SABRINA: “Suposto assassino de Augustus Narvalli é preso”. Meu Deus!
            RICARDO: Ué, o que foi?
            SABRINA: É... nada não! Nada! Eu... eu vou lá no quarto, tá?   
            RICARDO: Tá bom...
            Sabrina vai para o quarto. Ricardo senta no sofá e começa a ler o jornal.
            CADEIA à CELA à MANHÃ (10h:38min)
            Suíno dorme na cela. O carcereiro passa arrastando as chaves nas barras da cela, fazendo um barulho que acorda o preso.
            SUÍNO: Ei, eu sou inocente! Eu não matei ninguém, não!
            CARCEREIRO: Ah, claro que não... Você é completamente inocente. E eu sou o super-homem.
            O carcereiro vai embora.
            SUÍNO: Droga! Quando eu sair desse inferno eu juro que eu mato o responsável por esse crime que eu tô pagando. Eu juro!
            CASA DE EDGAR à SALA à MANHÃ (10h:40min)
            Hector chega à casa do mandante de seus crimes, Edgar.
            EDGAR: Então, quer dizer que tiveram piedade de você e só te deixaram preso uns dias.
            HECTOR: Pois é, mas agora vai ter um traste de um policial me vigiando 24 horas lá em casa.
            Edgar começa a rir.
            HECTOR: Qual é a graça?
            EDGAR: Rapaz, isso é só o começo. Eu, quando tinha sua idade, fazia pior. Já matei muita gente. Você mesmo diz que quer ser como eu.
            HECTOR: E quero mesmo.
            EDGAR: Mas me diga, Hector. O que te fez vir pra esse lado?
            HECTOR: Meus pais.
            EDGAR: Como assim?
            HECTOR: Eles me batiam todo santo dia.
            EDGAR: E por quê?
            HECTOR: Eu era bem levado, sabe? Uma vez, eu tava batendo uma bolinha dentro de casa, porque tava chovendo. Aí eu acabei quebrando o vaso que meu pai tinha trazido do México pra minha mãe. Resultou que eu apanhei e muito. Meu pai pegou o cinto de couro que ele trouxe da África do Sul e começou a me bater. Minha mãe me batia com o chinelo e eu só chorava. Até hoje eu tenho a cicatriz nas minhas costas.
            EDGAR: E como é que o seu pai conseguiu essas coisas? Esse vaso mexicano, esse cinto africano...
            HECTOR: Ele era viajante. Ele sempre tava em um país diferente. Só ficava em casa uma semana, e depois já ia pra outra viagem. Ele nunca foi um pai presente. E quanto mais eu ia crescendo mais ausente ele ficava. Até que um dia ele morreu num bombardeio no Iraque.
            EDGAR: E a sua mãe?
            HECTOR: Se matou. Se matou porque meu pai tinha morrido. Ela era uma aproveitadora, isso sim. Só casou com o meu pai porque ele era rico. Nunca gostou dele e muito menos de mim.
            EDGAR: E depois que os dois morreram, pra onde você foi?
            HECTOR: Eu fui pra um reformatório. Lá eu continuei apanhando, mas agora de gente desconhecida, que nem era da minha família. Desde o dia em que eu pisei naquela droga de reformatório, meu espírito de vingança foi se fortalecendo. E eu prometi que ia me vingar do mundo. E é isso que eu quero fazer. Vou me vingar a qualquer custo.
           
CLOSE NA EXPRESSÃO DE VINGANÇA DE HECTOR. O ROSTO DO MARGINAL VIRA UMA MOEDA.


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