APART.
SABRINA à QUARTO à NOITE (18h:36min)
Sabrina tira os sapatos sentada em sua cama. Quando ela vai colocar o
sapato debaixo da cama, percebe que há uma caixa lá embaixo. Ela pega a caixa e
a abre.
SABRINA: O diário do Miguelito? Desde quando ele tinha um diário?
Sabrina folheia o diário e para em uma das páginas.
SABRINA: Não pode ser!
Ricardo
entra no quarto.
RICARDO:
Não pode ser o quê?
Sabrina
joga o diário rapidamente debaixo da cama.
SABRINA:
Ai, amor, que susto!
RICARDO:
Sabrina, você anda não me respondeu. Sobre o que você falava quando disse “Não
pode ser”?
SABRINA:
É... é que eu... é... eu... é que a Titica deixou esse criado-mudo imundo! Olha
só quanta poeira!
RICARDO:
É, realmente tá precisando de uma boa espanada. Mas eu tava vindo com outras
intenções!
SABRINA:
Ah, é? Que intenções são essas, safadinho?
RICARDO:
As melhores possíveis!
Ricardo
joga Sabrina na cama e beija a amada.
FAZENDA DE LOURIVAL à QUARTO à NOITE (18h:38min)
Nandinha
acorda, depois de ter sido adormecida por um sonífero de Lourival. A víbora vê
o pote com o líquido sonífero em cima da cômoda.
NANDINHA: Aquele velho cagão!
Nandinha ouve as vozes de Zaqueu,
Rosidalva e Lourival.
ZAQUEU (off): Pai, se num fosse o
sinhô, aquela víbora inda tava atazanando nóis.
ROSIDALVA (off): É vredade, marido!
LOURIVAL (off): É, mais num fiquem
si alegrando ansim não, qui eu só botei ela pra drumi, num matei ninguém não!
Nandinha levanta-se da cama e vai
até a sala.
FAZENDA DE
LOURIVAL à SALA à NOITE (18h:39min)
Nandinha
chega à sala, onde Lourival, Zaqueu e Rosidalva estão assistindo televisão.
NANDINHA:
Quem são vocês?
Os
três se assustam.
ROSIDALVA:
Como ansim? Ocê num tá reconhecendo nóis?
NANDINHA:
Não. Que lugar é esse?
ZAQUEU:
Aqui é a fazenda, ocê num si lembra?
LOURIVAL:
Ô, fio, caiu um negócio aqui, vem ver!
Lourival
puxa Zaqueu a um canto da sala e conversa com ele.
LOURIVAL
(sussurra): Fio, eu acho qui o sonífero qui eu dei pra Nandinha feiz ela perdê
a memória.
ZAQUEU
(sussurra): Ara, será?
LOURIVAL
(sussurra): Só pode! Mais ansim fica mió pra nóis, pruquê ela num vai mais ficá
fazendo aquelas barbaridade.
Lourival
e Zaqueu voltam ao sofá.
LOURIVAL:
O seu nome é Fernanda. Mais nóis chama ocê di Nandinha.
ZAQUEU:
E você mora aqui cum nóis e cum a Karina, sua prima de segundo grau.
NANDINHA:
E cadê ela?
ROSIDALVA:
Ela saiu prum tar di jurgamento, mais vorta já, já.
NANDINHA:
Ah, entendi.
Karina
chega à casa.
NANDINHA:
Prima!!!
A
víbora corre para abraçar Karina, que não entende nada.
KARINA:
Como é que é?
Zaqueu
puxa Karina para o quarto.
FAZENDA DE LOURIVAL à QUARTO à NOITE (18h:41min)
Zaqueu
entra no quarto dos pais com Karina.
ZAQUEU:
Finge que ela é sua prima!
KARINA:
É o quê? Como assim, eu...
ZAQUEU:
A Nandinha perdeu a memória dispois qui o pai deu um sonífero pra ela. Agora
ela acha qui ocê é prima di segundo grau dela.
KARINA:
Gente, mas como ela perdeu a memória?
Zaqueu
dá de ombros, como sinal de que não sabe.
CIDADE DE ESMERALDA à
PONTOS PRINCIPAIS à
NOITE/DIA
(Música: Jason
Derulo - Wiggle)
As luzes das casas se apagam. Todos voltam para suas casas. Alguns casais se
beijam na praça.
Amanhece
na cidade. As pessoas já saem para o trabalho. Pessoas telefonam no orelhão.
Idosos jogam xadrez na mesinha da praça.
PRESÍDIO à CELA à
MANHÃ (10h:21min)
Hector toma banho na cela do presídio. Hoje é
o dia em que ele será liberado.
Depois
do banho, o marginal se olha no pequeno espelho da cela e penteia o cabelo.
Um
policial entra na cela e o chama.
POLICIAL:
Tá na sua hora! Vamo!
Hector
arruma uma mala e sai da cela.
PRESÍDIO à FRENTE à
MANHÃ (10h:29min)
Hector sai do presídio acompanhado de um
policial. Ele se vira e fica olhando seus companheiros tomando banho de sol.
POLICIAL:
Vamo, quer continuar mais uns meses aqui, é? Se manda!
Hector
caminha para longe do presídio.
CIDADE DE ESMERALDA à
RUA à
MANHÃ (10h:31min)
Hector pega seu celular e disca um número.
HECTOR:
Eu já saí daquele inferno! (TEMPO) Ótimo! Tô indo “praí”. (TEMPO) Tá, eu já
sei! (TEMPO) Então tá, falou!
Hector
desliga o celular e o põe de volta no bolso.
HECTOR:
Bom dia, cidade! Eu voltei! (fade out:
Wiggle)
CASA DE JULIETTE à
SALA à
MANHÃ (10h:32min)
Juliette está fazendo cafuné em seu gato,
Aguinaldo Silva, que está em seu colo.
JULIETTE:
Ô Aguinaldinho, você quer mais raçãozinha, meu amor? Quer? Ah, eu vou buscar
pra você papar, tá bom? Espera só um pouquinho!
Juliette
vai para a cozinha.
GATO:
Desse jeito eu vou estufar! Será que a Juliette não pensa, não?
Dionísio
desse as escadas.
DIONÍSIO:
É impressão minha ou eu vi aquele gato falando? Ah, que besteira! Gato não
fala...
Dionísio
vai para a cozinha.
CASA DE JULIETTE à
COZINHA à
MANHÃ (10h:34min)
Dionísio vai entrando na cozinha, quando
esbarra com Juliette, que, por sua vez, deixa a ração de Aguinaldo Silva cair.
JULIETTE:
Não olha por onde anda não?
DIONÍSIO:
Pô, Juju, foi sem querer. Desculpa.
JULIETTE:
Agora já foi, né? Deixa eu juntar isso aqui.
DIONÍSIO:
Deixa que eu junto pra você!
Os
dois se abaixam para pegar a ração e acabam pegando um na mão do outro. O rosto
dos dois se aproxima. Dionísio e Juliette são interrompidos por um latido.
“AU! AU! AU!”
JULIETTE: Manoel Carlos!
DIONÍSIO: Quem?
DIONÍSIO: Quem?
Juliette
sai correndo para a sala.
CASA DE JULIETTE à
SALA à
MANHÃ (10h:35min)
Para
desespero de Juliette, quando ela chega à sala, o cachorro Manoel Carlos está
comendo a almofada, enquanto o gato Aguinaldo Silva está dormindo no sofá.
JULIETTE
(grita): NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOO!
PARQUE DA CIDADE à
MANHÃ (10h:35min)
Leolina junta o lixo do parque da cidade com
uma barra de ferro pontuda. Duas amigas passam e uma delas joga uma lata de
refrigerante no chão.
LEOLINA:
Vocês sabem o trabalho que dá pra junta esse lixo, sua cachorra? Mas é muito
sonsa mesmo... Queria ver se fosse você aqui, pagando de gari, juntando o lixo
que os outros jogam no chão. Maldita a hora em que eu apareci com aquele
revólver na casa do Golias. Maldita a hora!
Golias
chega ao parque.
GOLIAS:
Por que será que eu ouvi o meu nome?
LEOLINA:
Porque você tem ouvidos!
GOLIAS:
Como é que é?
Leolina
percebe que é o prefeito que está falando.
LEOLINA:
Err... digo... eu... prefeito Golias! Que honra receber o senhor aqui! Ah, mas
não se importe com a minha sujeira. Estou imunda!
GOLIAS:
É, eu vi. (tira um maço de cigarros do bolso) Aceita?
LEOLINA:
Ah, não. Eu não fumo!
GOLIAS:
Então tá. (põe um cigarro na boca) Esse era o último mesmo.
Leolina
assente com a cabeça. Golias joga o maço de cigarro no chão e vai embora.
LEOLINA:
Ora, mas... UUURRGHH!
Leolina
junta o maço de cigarros. A mulher continua juntando o lixo do parque.
APARTAMENTO DE SABRINA à
SALA à
MANHÃ (10h:37min)
Sabrina está assistindo televisão. Ricardo
chega ao apartamento.
RICARDO:
Oi, amor.
SABRINA:
Onde é que você tava?
RICARDO:
Tava lá na banca, ciumentinha. Eu fui comprar um jornal. Olha só essa manchete
(mostra o jornal).
Sabrina
lê o que está escrito.
SABRINA:
“Suposto assassino de Augustus Narvalli é preso”. Meu Deus!
RICARDO:
Ué, o que foi?
SABRINA:
É... nada não! Nada! Eu... eu vou lá no quarto, tá?
RICARDO:
Tá bom...
Sabrina
vai para o quarto. Ricardo senta no sofá e começa a ler o jornal.
CADEIA à CELA à
MANHÃ (10h:38min)
Suíno dorme na cela. O carcereiro passa
arrastando as chaves nas barras da cela, fazendo um barulho que acorda o preso.
SUÍNO:
Ei, eu sou inocente! Eu não matei ninguém, não!
CARCEREIRO:
Ah, claro que não... Você é completamente inocente. E eu sou o super-homem.
O
carcereiro vai embora.
SUÍNO:
Droga! Quando eu sair desse inferno eu juro que eu mato o responsável por esse
crime que eu tô pagando. Eu juro!
CASA DE EDGAR à
SALA à
MANHÃ (10h:40min)
Hector chega à casa do mandante de seus
crimes, Edgar.
EDGAR:
Então, quer dizer que tiveram piedade de você e só te deixaram preso uns dias.
Edgar
começa a rir.
HECTOR:
Qual é a graça?
EDGAR:
Rapaz, isso é só o começo. Eu, quando tinha sua idade, fazia pior. Já matei
muita gente. Você mesmo diz que quer ser como eu.
HECTOR:
E quero mesmo.
EDGAR:
Mas me diga, Hector. O que te fez vir pra esse lado?
HECTOR:
Meus pais.
EDGAR:
Como assim?
HECTOR:
Eles me batiam todo santo dia.
EDGAR:
E por quê?
HECTOR:
Eu era bem levado, sabe? Uma vez, eu tava batendo uma bolinha dentro de casa,
porque tava chovendo. Aí eu acabei quebrando o vaso que meu pai tinha trazido
do México pra minha mãe. Resultou que eu apanhei e muito. Meu pai pegou o cinto
de couro que ele trouxe da África do Sul e começou a me bater. Minha mãe me
batia com o chinelo e eu só chorava. Até hoje eu tenho a cicatriz nas minhas
costas.
EDGAR:
E como é que o seu pai conseguiu essas coisas? Esse vaso mexicano, esse cinto
africano...
HECTOR:
Ele era viajante. Ele sempre tava em um país diferente. Só ficava em casa uma
semana, e depois já ia pra outra viagem. Ele nunca foi um pai presente. E
quanto mais eu ia crescendo mais ausente ele ficava. Até que um dia ele morreu num
bombardeio no Iraque.
EDGAR:
E a sua mãe?
HECTOR:
Se matou. Se matou porque meu pai tinha morrido. Ela era uma aproveitadora,
isso sim. Só casou com o meu pai porque ele era rico. Nunca gostou dele e muito
menos de mim.
EDGAR:
E depois que os dois morreram, pra onde você foi?
HECTOR:
Eu fui pra um reformatório. Lá eu continuei apanhando, mas agora de gente
desconhecida, que nem era da minha família. Desde o dia em que eu pisei naquela
droga de reformatório, meu espírito de vingança foi se fortalecendo. E eu
prometi que ia me vingar do mundo. E é isso que eu quero fazer. Vou me vingar a
qualquer custo.
CLOSE NA
EXPRESSÃO DE VINGANÇA DE HECTOR. O ROSTO DO MARGINAL VIRA UMA MOEDA.

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