segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Salto Alto: Capítulo 1


CENA 1: Sala de jantar da casa de Verônica, Urca, RJ. MANHÃ
Verônica está tomando o café da manhã, com os pais, Dayse e Roberto, e com  a irmã Agatha.
VERÔNICA: Karina, traga o café!
KARINA: Claro, dona Verônica.
Karina vai à cozinha e volta com o café.
KARINA: Aqui está, dona Verônica.
VERÔNICA: Pode voltar para a cozinha.
Karina volta para a cozinha.
DAYSE: Verônica, o que você vai fazer hoje?
VERÔNICA: Não sei, acho que vou andar por aí no nosso iate,talvez eu faça uma festinha.
AGATHA: Festinha?! Tô afim de uma festa, para descansar um pouco da chatice que é a escola.
ROBERTO: Mas Agatha, esse ano você se forma e estará livre para escolher  a melhor profissão, na sua opinião.
AGATHA: Vou ser decoradora.
ROBERTO: Que bom, pelo menos vai ter uma ocupação, um emprego.
VERÔNICA: Pai, isso foi uma indireta?
ROBERTO: Foi, porque você não se decide, não trabalha, não faz nada. Estou cansando disso.
DAYSE: Pega leve com ela, Roberto.
ROBERTO: Não pego leve não. Ela tem tudo na mão, é muito mimada e uma inútil.
VERÔNICA: Não fala assim de mim!
ROBERTO: Eu sou seu pai e te sustento, mas você não se esforça, só quer saber de festas,de balada, noitada. E a responsabilidade? Eu vou te dar um prazo: você tem dois dias para arrumar um emprego. Não importa se é de executiva, secretária, faxineira, ou qualquer outro, mas tem que ser digno.
VERÔNICA: E se eu não fizer isso?
ROBERTO:  Vou te expulsar de casa.
DAYSE: Roberto, fique calmo, não tome atitudes precipitadas.
ROBERTO: Eu estou bem calmo, mas eu estou cansado desse seu jeitinho, Verônica. Eu percebo todo dia a forma como você trata a Karina, que está trabalhando aqui há algum tempo. Você não tem respeito por ela e pelos outros funcionários da casa.
VERÔNICA: Duvido que você terá a coragem de me expulsar de casa.
ROBERTO: Acho melhor não duvidar.
VERÔNICA: Agora eu percebo o quanto você me odeia, pai. Por que será?
ROBERTO: Eu te amo e por isso quero que você seja uma boa pessoa.
VERÔNICA: Tá, tá, mas agora eu vou andar de iate e depois farei umas comprinhas.
ROBERTO: Está bem...
Verônica, Agatha e Dayse saem da casa e vão ao shopping. Na sala de jantar da casa restam somente Roberto e a empregada Karina.
KARINA: Sem querer me intrometer, doutor Roberto, mas por que o senhor deixou elas saírem para andar de iate e fazerem compras no shopping?
ROBERTO: Elas acham que vão fazer isso, mas vão ver o que aguarda elas.

CENA 2: Academia Mais Saúde , Urca, RJ. MANHÃ.
Paula está no centro da sua academia, muito preocupada, porque muitos funcionários pediram demissão e a academia está prestes a falir. Seu namorado, Hugo, abraça  a amada.
HUGO: Tudo vai dar certo, Paulinha.
PAULA: Não seja otimista, Hugo, porque está certo que a academia vai falir. Como será que vamos recuperar o prejuízo? Perdemos muitos funcionários. Estamos perdidos, amor.
HUGO: Você é muito pessimista. Podemos dar um jeito.
PAULA: Eu não sei se haverá jeito. A academia quase não tem clientes.
HUGO: Mas, Paula, não podemos desanimar.
SONOPLASTIA - Sonhar (MC Gui)
PAULA: Não sei mais, Hugo, porque estamos tentando tirar a Mais Saúde da lama, do fundo do poço, mas é muito difícil.
HUGO: Eu sei disso, Paula, mas não podemos desistir. Acho que poderíamos anunciar a nossa academia.
PAULA: Como assim?
HUGO: Em outdoors, redes sociais,nas rádios,...
PAULA: Sabia que eu te amo muito por essas ideias ótimas que você tem?
Paula se joga em Hugo, que carrega a namorada e os dois se beijam na sala da administração da academia.

CENA 3: Cafeteria em Petrópolis, RJ. MANHÃ.
As amigas Rejane e Ingrid servem os clientes da cafeteria. Quando o movimento diminui, elas conversam, no balcão.
REJANE: Ingrid, nosso dinheiro está acabando. Essa porcaria de cafeteria não tá ajudando muito  e esses fregueses são muito mão-de-vaca, mesquinhos, não dão nem um centavo de gorjeta.
INGRID: É, Rejane, a gente vai ter que sair aqui de Petrópolis. Precisamos arrumar dinheiro.
REJANE: Mas como, sua anta?
INGRID: Primeiro: as antas são animais inteligentes e segundo: acho que podemos ir para o Rio.
REJANE: Para o Rio? Lá a polícia vai ir atrás da gente. Aqui não tem tantos problemas assim e os golpes que cometemos nos velhotes não chegam à polícia.
INGRID: Mas no Rio a polícia está atenta aos traficantes, UPP, e outras coisas, por isso acho que lá será melhor para nós.
REJANE: Não estou convencida...
INGRID: Também lá existem muitos bairros com velhos, como Copacabana. Muitos desses velhotes têm doenças e muitos problemas, aí podemos inventar que somos babás e damos o golpe.
REJANE: Boa ideia, Ingrid. Pelo menos uma vez na vida, você teve uma boa ideia. Quando vamos falar com a Cínthia?
INGRID: A nossa chefa está em viagem, um tour pela Europa.
REJANE: Isso era tudo o que eu queria!
INGRID: Eu também queria, mas como disse Fernando Pessoa, querer não é poder.
REJANE: Filosofando, Ingrid?
INGRID: Sempre gostei de ler, mas agora vamos voltar a atender. Chegaram dois velhinhos na mesa 10.
REJANE: Tá. Deixa que eu vou lá.
As amigas continuam atendendo os clientes da cafeteria.

CENA 4: Shopping de luxo na Barra da Tijuca, RJ. MANHÃ.
No shopping, Dayse, Verônica e Agatha entram em lojas muito caras e luxuosas para comprarem roupas e acessórios. Logo na primeira loja que entram, escolhem muitas roupas.
SONOPLASTIA - Fancy (Iggy Azalea)
DAYSE: Eu vou pagar tudo em débito.
VENDEDORA: Senhora, o seu cartão não está passando!
DAYSE: Tente de novo.
VENDEDORA: Continua recusando.
DAYSE: Teste esses outros aqui!
Dayse dá vários cartões para a vendedora, que testa um a um.
VENDEDORA: Nenhum passa, continua com o mesmo problema.
VERÔNICA: O problema é desse máquina vagabunda, de loja de quinta categoria.
VENDEDORA: Não é problema com a máquina não, porque durante essa semana toda a máquina passou sem nenhum problema.
DAYSE: Posso falar com a gerente?
VENDEDORA: Vou chamá-la.
A gerente chega.
GERENTE: Senhora... é você, Dayse?
DAYSE: Sim, como vai, querida?
GERENTE: Muito bem.Eu fiquei sabendo que seus cartões não passaram!
DAYSE: É. Nenhum passou.
VERÔNICA: É essa porcaria de máquina!
CLIENTE 1 (RINDO) : Só porque não tem dinheiro fica culpando a máquina.
CLIENTE 2 (RINDO): Que ridícula. Só pode ser pobre,né?
AGATHA: Não fale assim da minha mãe e da minha irmã!
CLIENTE 1: A filha da rainha da farofa, a princesinha da farofa, resolveu abrir a boca.
CLIENTE 2: Acho melhor ficar de boquinha fechada,farofeira.
AGATHA: Vocês que estão se intrometendo na nossa vida. Como ouço na escola, a conversa não chegou no galinheiro.
CLIENTE 1: É, eu sei disso, porque nem saiu de lá.
GERENTE: Por favor, parem, se não todas vão sair da loja. Vou chamar a segurança!
VENDEDORA: E como estávamos falando antes,o problema não é com a máquina, mas irei investigar.Você possui dinheiro para o pagamento?
DAYSE: Eu não costumo sair com dinheiro.
VENDEDORA: Então como vai pagar? Não aceitamos cheque!
DAYSE: Posso reservar as roupas e amanhã volto aqui?
GERENTE: Claro.
DAYSE: Obrigada e tenha um bom dia.
Dayse e as filhas saem da loja. Frustrada, Dayse liga para Roberto.
DAYSE: Roberto, passei um dos meus maiores micos da minha vida.
ROBERTO: O que houve, Dayse?
DAYSE: Todos os meus cartões não passaram e eu não tinha dinheiro, então eu não comprei nada na loja. Passei uma vergonha. Todas ficaram rindo de mim e ainda ficaram chamando a gente de pobre, farofeira, rainha e princesa da farofa,...
ROBERTO (RINDO): São bem criativas essas pessoas! E o passeio de iate?
DAYSE: Você ainda ri dessa babaquice?! Nem me fale de iate agora, porque  eu quero saber porque meus cartões não passaram.
ROBERTO: Eu estou indo agora para a empresa. Me encontrem lá e explicarei tudo.
DAYSE: Estamos indo.
Mãe e filhas vão à empresa da família,na Urca.

CENA 5: Casa de Álvaro, Lapa, RJ. MANHÃ.
O aposentado Álvaro e sua esposa Viviane ensaiam, na sala de casa alguns passos para ''arrasarem'' à noite na Estudantina Musical,no centro da cidade.
ÁLVARO: Vamos arrasar hoje, Vivi.
VIVIANE: Claro! Estou muito feliz, principalmente por ter o show da Marrom.
ÁLVARO: Podemos fazer uma pausa agora no ensaio?
VIVIANE: Claro.
ÁLVARO: Ei, Rayane, você não vai procurar um emprego não?
RAYANE: A Karina ficou de arrumar um serviço lá na casa onde ela trabalha.
ÁLVARO: Que bom,mas saiba que eles são exigentes e você precisa treinar, porque você mal sabe fritar um ovo.
RAYANE: Ah, pai, me deixa!
ÁLVARO: Eu me preocupo com você, minha filha. E se você ficar vendo televisão o dia inteiro você não vai saber nada de serviços domésticos, aí quando chegar lá na casa dos patrões da tua irmã, vão te expulsar, te demitir.
RAYANE: Mas eu não fico o dia  e a noite só na TV!
ÁLVARO: Eu sei. Você fica o dia na TV e de noite lá no seu baile funk.
RAYANE: Por que você odeia tanto o baile funk? Você nunca foi lá.
ÁLVARO: Porque é uma safadeza geral, todos ficam se agarrando e essas roupas são muito curtas, parece uma periguete.
RAYANE: Então, você  e a Vivi podem dançar o samba de vocês, a Karina pode ir no baile charme  e eu não posso ir no baile funk.
ÁLVARO: É isso mesmo. Que bom que você sabe disso.
RAYANE: Desde pequena, eu aprendi na escola e nesses programas de intelectuais da TV que cada um tem seu tipo preferido de manifestação cultural, e eu tenho a minha: o funk.
ÁLVARO: E desde quando funk é cultura?
RAYANE: Eu não consigo conversar com você, pai, você vive reclamando do funk. Você pode querer me mudar, mas sempre saiba que eu nunca trocarei o funk. Na verdade, eu também tô indo no pagofunk. Conhece?
ÁLVARO: Não conheço.
RAYANE: Que pena! Depois vem falar que eu não tenho cultura.
ÁLVARO: Mas pagofunk também não é cultura!
RAYANE: Quer saber de uma coisa? Eu não quero mais falar disso com você agora. Eu vou lá no barzinho do Clécio e volto mais tarde.
ÁLVARO: Rayane, volta aqui. Eu não acabei de conversar com você.
Rayane sai correndo de casa e vai para o bar de  Clécio, no lado de sua casa.
VIVIANE: Deixa ela, Álvaro.
ÁLVARO: Não dá, Vivi. Eu acho que ela é rebelde por não ter uma mãe.
VIVIANE: Eu me esforço.
ÁLVARO: Eu sei,mas acho que a Elvira... Na verdade, toda mãe é insubstituível. A Rayane era muito apegada à mãe e com o sumiço dela, a Rayane ficou muito diferente.
VIVIANE: Imagino,mas vamos deixar o  passado de lado e vamos ensaiar?!
ÁLVARO: Claro!

CENA 6: Bar do Clécio, Lapa, RJ. MANHÃ.
RAYANE: Clécio, desce uma gelada aí pra mim!
CLÉCIO: Tá bom, Rayane. Mas o que houve, você parece meio estressada?
Clécio dá a cerveja para Rayane.
RAYANE: Ah, é o meu pai. Ele tava reclamando que eu não faço nada, que funk e pagofunk não é cultura,...
CLÉCIO: Você sabe, seu pai é de uma geração diferente da sua,né?
RAYANE: Eu sei, mas ele é muito preconceituoso, fica reclamando disso,mas lá na gafieira todo mundo dança com todo mundo. E outra: ele nunca foi no baile funk, nem no pagofunk e fica julgando tudo pela capa.
CLÉCIO: Nesse ponto eu concordo com você.

CENA 7: Empresa de artigos esportivos ''My body'', Urca, RJ. TARDE.
Dayse e as filhas entram na sala de Roberto.
VERÔNICA: Conta logo porque os cartões não passaram, queremos voltar pra fazer mais compras.
AGATHA: Fala logo, pai.
ROBERTO: Eu congelei os bens de vocês. Isso significa que vocês não poderão mexer no dinheiro de vocês por um tempo.
VERÔNICA: Ahhh? Você está maluco, pai?

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

Nenhum comentário:

Postar um comentário