CENA 1: Sala de
jantar da casa de Verônica, Urca, RJ. MANHÃ
Verônica
está tomando o café da manhã, com os pais, Dayse e Roberto, e com a irmã Agatha.
VERÔNICA:
Karina, traga o café!
KARINA:
Claro, dona Verônica.
Karina
vai à cozinha e volta com o café.
KARINA:
Aqui está, dona Verônica.
VERÔNICA:
Pode voltar para a cozinha.
Karina
volta para a cozinha.
DAYSE:
Verônica, o que você vai fazer hoje?
VERÔNICA:
Não sei, acho que vou andar por aí no nosso iate,talvez eu faça uma festinha.
AGATHA:
Festinha?! Tô afim de uma festa, para descansar um pouco da chatice que é a
escola.
ROBERTO:
Mas Agatha, esse ano você se forma e estará livre para escolher a melhor profissão, na sua opinião.
AGATHA:
Vou ser decoradora.
ROBERTO:
Que bom, pelo menos vai ter uma ocupação, um emprego.
VERÔNICA:
Pai, isso foi uma indireta?
ROBERTO:
Foi, porque você não se decide, não trabalha, não faz nada. Estou cansando
disso.
DAYSE:
Pega leve com ela, Roberto.
ROBERTO:
Não pego leve não. Ela tem tudo na mão, é muito mimada e uma inútil.
VERÔNICA:
Não fala assim de mim!
ROBERTO:
Eu sou seu pai e te sustento, mas você não se esforça, só quer saber de
festas,de balada, noitada. E a responsabilidade? Eu vou te dar um prazo: você
tem dois dias para arrumar um emprego. Não importa se é de executiva,
secretária, faxineira, ou qualquer outro, mas tem que ser digno.
VERÔNICA:
E se eu não fizer isso?
ROBERTO: Vou te expulsar de casa.
DAYSE:
Roberto, fique calmo, não tome atitudes precipitadas.
ROBERTO:
Eu estou bem calmo, mas eu estou cansado desse seu jeitinho, Verônica. Eu
percebo todo dia a forma como você trata a Karina, que está trabalhando aqui há
algum tempo. Você não tem respeito por ela e pelos outros funcionários da casa.
VERÔNICA:
Duvido que você terá a coragem de me expulsar de casa.
ROBERTO:
Acho melhor não duvidar.
VERÔNICA:
Agora eu percebo o quanto você me odeia, pai. Por que será?
ROBERTO:
Eu te amo e por isso quero que você seja uma boa pessoa.
VERÔNICA:
Tá, tá, mas agora eu vou andar de iate e depois farei umas comprinhas.
ROBERTO:
Está bem...
Verônica,
Agatha e Dayse saem da casa e vão ao shopping. Na sala de jantar da casa restam
somente Roberto e a empregada Karina.
KARINA:
Sem querer me intrometer, doutor Roberto, mas por que o senhor deixou elas
saírem para andar de iate e fazerem compras no shopping?
ROBERTO:
Elas acham que vão fazer isso, mas vão ver o que aguarda elas.
CENA 2: Academia
Mais Saúde , Urca, RJ. MANHÃ.
Paula
está no centro da sua academia, muito preocupada, porque muitos funcionários
pediram demissão e a academia está prestes a falir. Seu namorado, Hugo,
abraça a amada.
HUGO:
Tudo vai dar certo, Paulinha.
PAULA:
Não seja otimista, Hugo, porque está certo que a academia vai falir. Como será
que vamos recuperar o prejuízo? Perdemos muitos funcionários. Estamos perdidos,
amor.
HUGO:
Você é muito pessimista. Podemos dar um jeito.
PAULA:
Eu não sei se haverá jeito. A academia quase não tem clientes.
HUGO:
Mas, Paula, não podemos desanimar.
SONOPLASTIA - Sonhar (MC Gui)
PAULA:
Não sei mais, Hugo, porque estamos tentando tirar a Mais Saúde da lama, do
fundo do poço, mas é muito difícil.
HUGO:
Eu sei disso, Paula, mas não podemos desistir. Acho que poderíamos anunciar a
nossa academia.
PAULA:
Como assim?
HUGO:
Em outdoors, redes sociais,nas rádios,...
PAULA:
Sabia que eu te amo muito por essas ideias ótimas que você tem?
Paula
se joga em Hugo, que carrega a namorada e os dois se beijam na sala da
administração da academia.
CENA 3:
Cafeteria em Petrópolis, RJ. MANHÃ.
As
amigas Rejane e Ingrid servem os clientes da cafeteria. Quando o movimento
diminui, elas conversam, no balcão.
REJANE:
Ingrid, nosso dinheiro está acabando. Essa porcaria de cafeteria não tá
ajudando muito e esses fregueses são muito
mão-de-vaca, mesquinhos, não dão nem um centavo de gorjeta.
INGRID:
É, Rejane, a gente vai ter que sair aqui de Petrópolis. Precisamos arrumar
dinheiro.
REJANE:
Mas como, sua anta?
INGRID:
Primeiro: as antas são animais inteligentes e segundo: acho que podemos ir para
o Rio.
REJANE:
Para o Rio? Lá a polícia vai ir atrás da gente. Aqui não tem tantos problemas
assim e os golpes que cometemos nos velhotes não chegam à polícia.
INGRID:
Mas no Rio a polícia está atenta aos traficantes, UPP, e outras coisas, por
isso acho que lá será melhor para nós.
REJANE:
Não estou convencida...
INGRID:
Também lá existem muitos bairros com velhos, como Copacabana. Muitos desses
velhotes têm doenças e muitos problemas, aí podemos inventar que somos babás e
damos o golpe.
REJANE:
Boa ideia, Ingrid. Pelo menos uma vez na vida, você teve uma boa ideia. Quando
vamos falar com a Cínthia?
INGRID:
A nossa chefa está em viagem, um tour pela Europa.
REJANE:
Isso era tudo o que eu queria!
INGRID:
Eu também queria, mas como disse Fernando Pessoa, querer não é poder.
REJANE:
Filosofando, Ingrid?
INGRID:
Sempre gostei de ler, mas agora vamos voltar a atender. Chegaram dois velhinhos
na mesa 10.
REJANE:
Tá. Deixa que eu vou lá.
As
amigas continuam atendendo os clientes da cafeteria.
CENA 4: Shopping
de luxo na Barra da Tijuca, RJ. MANHÃ.
No
shopping, Dayse, Verônica e Agatha entram em lojas muito caras e luxuosas para
comprarem roupas e acessórios. Logo na primeira loja que entram, escolhem
muitas roupas.
SONOPLASTIA - Fancy (Iggy Azalea)
DAYSE:
Eu vou pagar tudo em débito.
VENDEDORA:
Senhora, o seu cartão não está passando!
DAYSE:
Tente de novo.
VENDEDORA:
Continua recusando.
DAYSE:
Teste esses outros aqui!
Dayse
dá vários cartões para a vendedora, que testa um a um.
VENDEDORA:
Nenhum passa, continua com o mesmo problema.
VERÔNICA:
O problema é desse máquina vagabunda, de loja de quinta categoria.
VENDEDORA:
Não é problema com a máquina não, porque durante essa semana toda a máquina
passou sem nenhum problema.
DAYSE:
Posso falar com a gerente?
VENDEDORA:
Vou chamá-la.
A
gerente chega.
GERENTE:
Senhora... é você, Dayse?
DAYSE:
Sim, como vai, querida?
GERENTE:
Muito bem.Eu fiquei sabendo que seus cartões não passaram!
DAYSE:
É. Nenhum passou.
VERÔNICA:
É essa porcaria de máquina!
CLIENTE
1 (RINDO) : Só porque não tem dinheiro fica culpando a máquina.
CLIENTE
2 (RINDO): Que ridícula. Só pode ser pobre,né?
AGATHA:
Não fale assim da minha mãe e da minha irmã!
CLIENTE
1: A filha da rainha da farofa, a princesinha da farofa, resolveu abrir a boca.
CLIENTE
2: Acho melhor ficar de boquinha fechada,farofeira.
AGATHA:
Vocês que estão se intrometendo na nossa vida. Como ouço na escola, a conversa
não chegou no galinheiro.
CLIENTE
1: É, eu sei disso, porque nem saiu de lá.
GERENTE:
Por favor, parem, se não todas vão sair da loja. Vou chamar a segurança!
VENDEDORA:
E como estávamos falando antes,o problema não é com a máquina, mas irei
investigar.Você possui dinheiro para o pagamento?
DAYSE:
Eu não costumo sair com dinheiro.
VENDEDORA:
Então como vai pagar? Não aceitamos cheque!
DAYSE:
Posso reservar as roupas e amanhã volto aqui?
GERENTE:
Claro.
DAYSE:
Obrigada e tenha um bom dia.
Dayse
e as filhas saem da loja. Frustrada, Dayse liga para Roberto.
DAYSE:
Roberto, passei um dos meus maiores micos da minha vida.
ROBERTO:
O que houve, Dayse?
DAYSE:
Todos os meus cartões não passaram e eu não tinha dinheiro, então eu não
comprei nada na loja. Passei uma vergonha. Todas ficaram rindo de mim e ainda
ficaram chamando a gente de pobre, farofeira, rainha e princesa da farofa,...
ROBERTO
(RINDO): São bem criativas essas pessoas! E o passeio de iate?
DAYSE:
Você ainda ri dessa babaquice?! Nem me fale de iate agora, porque eu quero saber porque meus cartões não
passaram.
ROBERTO:
Eu estou indo agora para a empresa. Me encontrem lá e explicarei tudo.
DAYSE:
Estamos indo.
Mãe
e filhas vão à empresa da família,na Urca.
CENA 5: Casa de
Álvaro, Lapa, RJ. MANHÃ.
O
aposentado Álvaro e sua esposa Viviane ensaiam, na sala de casa alguns passos
para ''arrasarem'' à noite na Estudantina Musical,no centro da cidade.
ÁLVARO:
Vamos arrasar hoje, Vivi.
VIVIANE:
Claro! Estou muito feliz, principalmente por ter o show da Marrom.
ÁLVARO:
Podemos fazer uma pausa agora no ensaio?
VIVIANE:
Claro.
ÁLVARO:
Ei, Rayane, você não vai procurar um emprego não?
RAYANE:
A Karina ficou de arrumar um serviço lá na casa onde ela trabalha.
ÁLVARO:
Que bom,mas saiba que eles são exigentes e você precisa treinar, porque você
mal sabe fritar um ovo.
RAYANE:
Ah, pai, me deixa!
ÁLVARO:
Eu me preocupo com você, minha filha. E se você ficar vendo televisão o dia
inteiro você não vai saber nada de serviços domésticos, aí quando chegar lá na
casa dos patrões da tua irmã, vão te expulsar, te demitir.
RAYANE:
Mas eu não fico o dia e a noite só na
TV!
ÁLVARO:
Eu sei. Você fica o dia na TV e de noite lá no seu baile funk.
RAYANE:
Por que você odeia tanto o baile funk? Você nunca foi lá.
ÁLVARO:
Porque é uma safadeza geral, todos ficam se agarrando e essas roupas são muito
curtas, parece uma periguete.
RAYANE:
Então, você e a Vivi podem dançar o
samba de vocês, a Karina pode ir no baile charme e eu não posso ir no baile funk.
ÁLVARO:
É isso mesmo. Que bom que você sabe disso.
RAYANE:
Desde pequena, eu aprendi na escola e nesses programas de intelectuais da TV
que cada um tem seu tipo preferido de manifestação cultural, e eu tenho a
minha: o funk.
ÁLVARO:
E desde quando funk é cultura?
RAYANE:
Eu não consigo conversar com você, pai, você vive reclamando do funk. Você pode
querer me mudar, mas sempre saiba que eu nunca trocarei o funk. Na verdade, eu
também tô indo no pagofunk. Conhece?
ÁLVARO:
Não conheço.
RAYANE:
Que pena! Depois vem falar que eu não tenho cultura.
ÁLVARO:
Mas pagofunk também não é cultura!
RAYANE:
Quer saber de uma coisa? Eu não quero mais falar disso com você agora. Eu vou
lá no barzinho do Clécio e volto mais tarde.
ÁLVARO:
Rayane, volta aqui. Eu não acabei de conversar com você.
Rayane
sai correndo de casa e vai para o bar de
Clécio, no lado de sua casa.
VIVIANE:
Deixa ela, Álvaro.
ÁLVARO:
Não dá, Vivi. Eu acho que ela é rebelde por não ter uma mãe.
VIVIANE:
Eu me esforço.
ÁLVARO:
Eu sei,mas acho que a Elvira... Na verdade, toda mãe é insubstituível. A Rayane
era muito apegada à mãe e com o sumiço dela, a Rayane ficou muito diferente.
VIVIANE:
Imagino,mas vamos deixar o passado de
lado e vamos ensaiar?!
ÁLVARO:
Claro!
CENA 6: Bar do
Clécio, Lapa, RJ. MANHÃ.
RAYANE:
Clécio, desce uma gelada aí pra mim!
CLÉCIO:
Tá bom, Rayane. Mas o que houve, você parece meio estressada?
Clécio
dá a cerveja para Rayane.
RAYANE:
Ah, é o meu pai. Ele tava reclamando que eu não faço nada, que funk e pagofunk
não é cultura,...
CLÉCIO:
Você sabe, seu pai é de uma geração diferente da sua,né?
RAYANE:
Eu sei, mas ele é muito preconceituoso, fica reclamando disso,mas lá na
gafieira todo mundo dança com todo mundo. E outra: ele nunca foi no baile funk,
nem no pagofunk e fica julgando tudo pela capa.
CLÉCIO:
Nesse ponto eu concordo com você.
CENA 7: Empresa
de artigos esportivos ''My body'', Urca, RJ. TARDE.
Dayse
e as filhas entram na sala de Roberto.
VERÔNICA:
Conta logo porque os cartões não passaram, queremos voltar pra fazer mais
compras.
AGATHA:
Fala logo, pai.
ROBERTO:
Eu congelei os bens de vocês. Isso significa que vocês não poderão mexer no
dinheiro de vocês por um tempo.
VERÔNICA:
Ahhh? Você está maluco, pai?
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

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