CRAZY FOR LIFE
ÚLTIMO EPISÓDIO (12)
Cena 01. Ext. Casa de Barro.
Frente. Tarde.
Marília está desesperada, pois Raul
entrou na casa de barro onde estava havendo algo misterioso.
MARÍLIA: Socorro! Socorro, alguém ajuda aqui!
Ninguém ouve os gritos
de Marília.
Cena 02. Int. Casa de Olga.
Sala. Tarde.
Dona Olga chega da escola e senta
no sofá. Ela olha para um retrato de Aristeu.
OLGA: Ai, Aristeu... que falta você me faz, meu amor! Mas um dia eu
vou estar aí com você.
Olga beija o retrato do
falecido marido.
Cena 03. Int. Academia
Friedrich. Interior. Tarde.
CAM mostra a academia de artes
vazia. Bilu e Tetéia estão sentados no palco, conversando.
TETÉIA: E não é que eu seja fofoqueira, longe de mim, mas que aquele
cabelo dela tava um horror, isso tava.
BILU: Mas ela mesma disse que fez a californiana pra ficar mais
bonita.
TETÉIA: Bilu, pra aquela garota ficar bonita, eu acho que nem nascendo
de novo.
Os dois riem. O celular
de Bilu toca.
BILU (atende): Alô? (pausa) Como assim? (pausa) Não, me explica direito que eu
não tô entendendo nada. (pausa) Tá, mas por que você ligou logo pra mim?
(pausa) Ah, então ninguém tava te atendendo, né? (pausa) Ok, tô indo pra aí.
Tchau.
Bilu guarda o celular
no bolso novamente.
TETÉIA: Ô Bilu, quem é que tava te ligando, posso saber?
BILU: Tá com ciúme é, Tetéia?
TETÉIA: Ciúme? Eu? Claro que não seu idiota. Mas me responde, quem é
que te ligou?
BILU: Era a Marília. Ela disse que o Raul tava passando apuros, uma
coisa que não deu pra entender direito. Só que ela pediu pra que eu fosse lá
onde ela tá.
TETÉIA: E onde é que ela tá?
BILU: Numa casinha mais afastada da cidade. Eu sei onde fica a
estrada porque quando eu era escoteiro eu acampava pra aqueles rumos. Mas chega
de conversa e vamo pra lá.
TETÉIA: Vamo! Não posso perder esse bafo bafônico por nada.
Os dois saem da
academia.
Cena 04. Int. Alberto
Villani. Escritório. Tarde.
Rômulo está em seu escritório
digitando alguns documentos. Cabeção entra de supetão, ofegante.
RÔMULO: Professor Artur, como é que você entra desse jeito na minha
sala? Quase me mata de susto!
CABEÇÃO: Me ajuda! Eu tô morrendo!
RÔMULO (levanta da cadeira): Como é que é?
Rômulo fica em choque.
Cena 05. Int. Oficina.
Interior. Tarde.
Celina está sozinha na oficina. Ela
pega o celular simples e vê uma foto de Rodrigo. Uma lágrima sai do olho da
garota. Tati chega na oficina.
TATI: Oi, com licença. Eu vim atrás do Nando, ele tá aqui?
CELINA: Ah, você que é a peguete dele, né? Não, ele não tá aqui. Hoje é
a folga dele. Quer deixar um recado?
TATI: Não, eu queria falar com ele mesmo. É um assunto meio
particular.
CELINA: Parece que não sou só eu que tô com problema de amor.
TATI: Como você sabe que...
CELINA (interrompe): Você estuda com o Rodrigo naquela birosca ali na frente, né?
Então deve conhecer ele bastante.
TATI: É, é verdade. A gente estuda junto desde que a gente era
pequeno.
CELINA: Então, eu queria saber, de mulher pra mulher, você acha que o
Rodrigo se interessaria em namorar alguém como eu?
TATI: Alguém como você? Desculpa, eu não entendi a sua pergunta.
CELINA: Ah, cê sabe. Uma menina pobre, que mora em um casebre velho, é
sustentada pela mixaria que ganha nessa droga de oficina.
TATI: Gata, o Rodrigo não é desses canalhas que se importa com
dinheiro. Apesar dele ser podre de rico, ele é muito humilde e não tá nem aí
pro poder aquisitivo de ninguém.
CELINA: É que nesses dias que ele passou desaparecido eu pensei em
pedir... pedir ele...
TATI (interrompe): Cê quer ser namorada dele, né?
CELINA: Ah, eu sou muito otária. É claro que ele não ia querer namorar
comigo. É a realidade e eu tenho que me acostumar.
TATI: Olha, eu não te conheço, mas eu posso ver que você tem um
coração muito bom. E, como eu já te disse, o Rodrigo não é canalha desse jeito.
Ele gosta das pessoas pelo que elas são, não pelo que elas têm.
CELINA: Será mesmo?
TATI: Vai por mim, gata. Agora se você quer mesmo namorar com ele,
vai ter que encontrar ele primeiro.
Nesse momento, Bilu e
Tetéia invadem a oficina.
TETÉIA: Tati, você ainda tá aí? A gente te avisou que o Raul tá
precisando de ajuda. Vamo logo!
CELINA: Vai lá ajudar seu amigo. Eu vou pra minha casa. Tchau, foi bom
conversar com você!
TATI: Tchau!
Tetéia puxa Tati.
Celina reflete um pouco antes de sair.
Cena 05. Ext. Praia. Tarde.
Batera e Gi estão na praia.
GI: Batera, valeuzão por ter me convidado pra vir na praia. Eu amo
mar, amo ver gente, amo muito tudo isso!
BATERA: Mas teve um motivo especial pra eu te convidar aqui.
GI: E que motivo é esse, eu posso saber?
BATERA: É que eu...
Nesse momento, Letícia
chega e interrompe a conversa dos dois.
LETÍCIA: Oi, pessoas! Quer dizer que vocês não me convidaram pra
reuniãozinha?
GI: Pra você ver como você não é nada importante.
LETÍCIA: Se não tem nada interessante pra falar, é melhor ficar calada,
queridinha. Não estou disposta pra brigar. Com licença!
BATERA: Desculpa, Lê. É que eu queria contar uma coisa pra Gi e resolvi
chamar só ela.
LETÍCIA: Ui, casalzinho do ano! Eu shippo GiTera.
GI: Tá com inveja, é recalcada?
LETÍCIA: RDecalcada é a
senhora sua avó. E pra sua informação, o Gago acabou de se declarar pra mim lá
na escola na hora da saída. E adivinha? A gente tá namorando!
GI: O Gago? Hahahaha!
LETÍCIA: Ih, parece que a invejosa aqui é você. Como diz a música, Deus
me proteja da sua inveja.
GI: Ei, ei, ei! Pode parar de copiar meu bordão! E, por favor,
deixa a gente continuar a conversa.
LETÍCIA: Ai, já tô saindo sua mal-educada.
Letícia vai embora.
BATERA: Posso continuar?
GI: Deve.
BATERA: Eu vim aqui pra me declarar pra você. Eu sempre fui apaixonado
por você mas nunca disse.
GI: Batera, eu...
BATERA (interrompe): Mas eu percebo que você não gosta de mim do jeito que eu gosto
de você. Só que eu quero que você saiba, de um jeito ou de outro.
Gi olha Batera
fixamente.
BATERA: O que foi? Eu falei alguma coisa errada? Eu sabia que eu não...
Gi interrompe a fala de
Batera com um beijo.
Cena 06. Ext. Casa de barro.
Frente. Tarde.
Bilu, Tetéia e Tati chegam na casa
de barro e encontram Marília.
MARÍLIA: Ai, que bom que vocês vieram.
BILU: Marília, não deu pra entender muito bem o que você falou na
ligação. Explica de novo, por favor.
MARÍLIA: O Raul viu uma confusão acontecendo naquele casebre velho e, de
tão curioso que ele é, entrou lá e não saiu mais. Daí, eu comecei a ouvir
barulhos de explosões, risadas e tal. Eu tô com muito medo do que pode
acontecer, gente!
TETÉIA: Calma, Marília! Tem mais alguém lá dentro além dele?
MARÍLIA: Eu não sei, eu não tive coragem de entrar lá ainda.
Bilu e Tetéia correm
até a casa. Tati fica sem saber o que fazer
TATI: Será que eu vou? Será que eu não vou?
MARÍLIA: Tati, se você não quiser ir eu entendo. Nem eu mesma quero ir.
As duas se olham.
Cena 07. Int. Casa de Barro.
Cômodo único. Tarde.
Bilu e Tetéia entram no pobre
casebre. Eles veem um monstro “engolindo” Rodrigo e sua família.
CAIO (grita): Socorro!
Raul tenta derrotar o
demônio, mas não tem sucesso.
MONSTRO: Tente, rapaz. Pode tentar o quanto quiser, mas você nunca vai
conseguir me vencer. Você é dos meus, já fez muita coisa ruim nessa vida!
BILU: Assume tudo, Raul!
RAUL: Assumir o que?
BILU: Eu já vi isso num filme. Se você confessar tudo de ruim que
você fez, o monstro vai perceber que você se arrepende disso.
MONSTRO: Mais dois pra minha coleção? Amo muito tudo isso! Rapazinho, o
Raul nunca vai dizer nada porque ele não é burro como vocês, bonzinhos.
RAUL: Eu confesso que fui eu quem atropelou o Rodrigo naquele dia!
MONSTRO: O que você está fazendo? Pare já com isso!
O demônio vai
enfraquecendo.
RAUL: E quando o Bilu e a Tetéia estavam tentando procurar alguma
pista pra chegar ao criminoso que atropelou o Rodrigo, eu acabei com a única
pista, que era uma foto do meu carro.
MONSTRO: Cala a boca!
O monstro começa a
diminuir.
TETÉIA: Safado! Então foi você, né? Mas vai, continua falando tudo de
ruim que você fez!
RAUL: Desde que eu entrei na academia, eu sinto inveja do Rodrigo
porque ele é o melhor ator que eu conheço!
O demônio morre.
MONSTRO (grita): Nãããão!!!
Rodrigo acorda com um
grito.
Cena 08. Int. Alberto
Villani. Escritório. Tarde.
Cabeção está apavorado, pensando
que vai morrer.
RÔMULO: Professor Artur, o que eu posso fazer? O que tá acontecendo?
Cabeção desmaia. Rômulo
se ajoelha e tenta reanima-lo.
CABEÇÃO (murmura): A capa branca é do mais próximo. O mais próximo tem a capa
branca.
RÔMULO: Como assim? De que capa branca você tá falando? Daquela que
você tava usando aquele dia?
CABEÇÃO (murmura): Pro Estado Islâmico ninguém mais vai, porque hoje o cinza é
derrotado pelo branco.
RÔMULO: Cacete! Eu não tô entendendo nada do que você tá falando!
CABEÇÃO: Encontre Rodrigo e o informe que eu sou o homem da capa branca.
Rômulo não entende
direito.
[Recado do autor: Querido
leitor, caso não tenha entendido direito o que essa cena quis mostrar, eu
explico com todo o prazer. Essa é a cena da revelação. O professor Cabeção é o
homem de capa branca e também o responsável por mandar os alunos para o Estado
Islâmico! Porém, com a morte do demônio que estava possuindo o professor para
que o mesmo faça tais atitudes, tudo isso acaba agora!]
Cena 09. Int. Casa de barro.
Cômodo único. Tarde.
Tudo já está calmo na casa de
barro. Rodrigo está acordado, sua família alegre e Raul cansado.
TAMARA: Rodrigo, meu filho! O que aconteceu? Por que você fugiu de
casa? Foi por causa do que eu disse, né? Mas filho, eu prometo que nunca mais
eu falo algo do tipo. Nunca mais! Me perdoa!
RODRIGO: Perdoo sim mãe. Nessa aventura que eu vivi ao longo desses
meses, eu aprendi muitas coisas. Eu aprendi a amar e respeitar a todos da minha
família! Eu te amo, mãe!
Mãe e filho se abraçam.
Logo após, Caio e Celso se juntam ao abraço coletivo. Marília e Tati chegam.
MARÍLIA: Raul!
Marília corre até o
namorado e se ajoelha.
MARÍLIA (chorando): Meu amor, nunca mais faz isso comigo! Eu te amo, tá?
Os dois se beijam.
RAUL: Marília, nesses poucos minutos eu tirei uma lição. Eu fiz muita
burrada nessa vida e tá na hora de eu pagar o preço.
MARÍLIA: Não fala assim, Raul. Todo mundo erra!
RAUL: Eu fiz mais que errar. Eu prejudiquei todos que eu podia! Eu
não posso me sair bem!
Raul olha para o lado e
avista uma faca.
MARÍLIA: Raul, o que você vai fazer?
RAUL: Perdão a todos por tudo o que eu fiz!
Raul pega a faca e
apunhala no próprio peito.
MARÍLIA (grita): Raul!!!!
Todos ficam espantados.
Bilu e Tetéia tapam os olhos.
Marília chora
descontroladamente. Nesse momento, Celina chega ao casebre.
CELINA: O que vocês estão fazendo na minha casa?
Todos olham para a
moça, surpresos.
Cena 08. Int. Academia
Friedrich. Interior. Manhã.
Aparece na tela o letreiro “Tempos
Depois”. Todos os alunos estão sentados na plateia. Celina também está lá, ao
lado de Caio. Rodrigo encena um monólogo. Ao terminar, todos aplaudem.
GERALDO: Esse é o Rodrigo que eu conheço! De onde estiver, o seu Aristeu
tá muito orgulhoso de você. Parabéns!
RODRIGO: Valeu, professor Geraldo.
Bilu e Tetéia se
beijam. Rodrigo vai ao encontro de Celina.
CELINA: Depois de tudo aquilo que você me falou lá na minha casa, depois
daquela confusão do tal de homem de capa branca, eu te aplaudo de pé por ter
conseguido interpretar tão bem esse personagem.
RODRIGO: Obrigado, amor. Mas eu só tenho uma dúvida. Se aquela era sua
casa, como você era sustentada, como vivia com aqueles espíritos rondando por
lá?
CELINA: Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode supor a
nossa vã filosofia.
RODRIGO: Frase que define muito bem a próxima novela do Rennan, Castelo de Cartas.
Os dois riem e se
beijam, ao som de aplausos. Uma sombra passa por eles e todos se arrepiam.
FIM
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