quarta-feira, 24 de junho de 2015

Capítulo 04: Estrada 34


Lana observa a viatura se distanciar e aproxima-se do corpo de Marta. Ela agacha-se e ri.

- Ela caiu direitinho. - Balançava o seu braço. - Vai arder no inferno como aquele traste do marido.
- Você é louca, Lana? - Pressionou o braço da aluna. - E se a garota der com a língua nos dentes?
- São duas pessoas ricas, da classe média alta contra uma criatura sem eira nem beira.
- Certo. - Olhou para os lados. - O que eu faço com o dinheiro?
- E eu vou saber? Você disse que lidaria com o dinheiro, portanto o problema é seu! - Pausou. - Mas para não parecer grossa, devolve o dinheiro. Inventa qualquer lorota para o velho. Não te deu de mão beijada a grana? Vai acreditar em qualquer outra história.
- Eu não quero perder meu emprego. Tenho uma
filha pra criar!
- Agora se preocupa com a sua filha? - Encarou o homem. - Faça o que achar melhor. A vida é sua. - Olhou para o corpo. - Vamos entrar antes que alguém desconfie.

- Oi, com licença. Vocês sabem como essa senhora morreu? Não chamaram a polícia? Não podem deixar o corpo na beira da rua! - Uma mulher desconhecida havia os abordado na rua.
- Não sei quem é. - Lana respondeu.
- Mas...
- Senhora, eu não posso fazer nada. Se te incomoda tanto, é só ir para o outro lado da rua. Com licença. - Os dois adentraram para a universidade, irritando a mulher.

***
Iolanda observa Beatriz pela frestinha da porta, que ingere todo o suco e leva o garfo, com um pouco de comida a boca, que acaba tendo uma parada cardíaca.

- Adeus, mamãe… - Iolanda fecha a porta e sai do hospital.

Um carro preto, baixo, de vidros escuros é estacionado em frente ao hospital. Iolanda, escorada num pilar, olha para os lados a procura do veículo quando o avista.

  - Trouxe a minha mala? - Indagou, sentando no banco de carona e buscando sua bolsa nos assentos de trás.
- Sim, está no porta-malas. - Disse, se dirigindo ao destino.
- Nesse exato momento, aquela velha deve estar morta! - Comemorou. Abriu a bolsa e pegou sua carteira, tirando um cheque. - Essa é a última parte do dinheiro. Foge com a sua família para qualquer buraco desse mundo o quanto antes.
- O senhor Roberto sabia desde cedo a vontade de sua esposa. - Disse, entrando no aeroporto. - Quando ler o testamento… Não quero nem ver. - Parou na porta.
- Ele terá que se contentar com o que ganhar, assim como o filho dele. Uma grana alta por sinal. - Saiu do carro e abriu o porta-malas, tirando duas malas de lá. Voltou para a porta, agachou-se e fitou Lauro. - Boa sorte. Ah, e desfaça qualquer contato profissional com meu pai depois disso, ok? Agora você trabalha para mim. Tenha uma boa tarde.
- Boa tarde. - Disse, observando Iolanda entrar no aeroporto.
   ***

Sentada numa cadeira, Fernanda é fitada por um homem alto, barbudo, de cabelos brancos, que move a cadeira para a esquerda e direita.
- Então? Não vai falar o porquê do roubo?
- EU NÃO ROUBEI NADA! – Fernanda gritou e apoiou suas mãos na mesa do delegado.
- Não é o que as testemunhas dizem. – Respirou fundo.
- Eu fui vítima de uma armação, delegado. Eu pedi um dinheiro a Lana e ela me disse que eu poderia pegar numa bolsa. Como eu ia imaginar que o dinheiro era de outra pessoa?!
- Não sei. - Pausou. - Refresque a memória e depois volte e me conte tudo. - Aproximou seu rosto a jovem. - Pode levá-la.
- O quê? Não! - O braço de Fernanda é pressionado por um policial, que a leva para fora da sala.
- Me solta! - Dizia, enquanto era arrastada para uma cela.
- Se der showzinho sua situação piora, entendeu? - Abriu a cela e a empurrou para dentro.

***

Lana Albuquerque sentara de pernas cruzadas na cadeira. Marcava respostas aleatórias na avaliação, olhando para os outros colegas, sem que Maurício a visse.
O sinal bateu. Lana aguardou todos saírem da sala.

 - Eu não devia me prestar a isso. - Disse, entregando a prova. - Pelo menos contigo.
- Como se você tivesse capacidade, não é? - Riu.     - Mas antes que saia, eu preciso ter um papo com você.
- Seja rápido!
- É sobre a Fernanda. - Trancou a porta.

Maurício beijou Lana, aproximando-se do pescoço, local que pressionara. A moça, assustada, tentara tirar a mão do professor na região de desconforto, mas tudo em vão.

- Você ta me machucando! Me solta! - Aumentava o tom da voz.
- Pra você não me dizer nada?
- Eu prometo que…
- NÃO FAÇA PROMESSAS! - Pressionou fortemente, sufocando-a. - Nunca cumpriu uma!
- O que você quer saber? - Perguntou. O professor havia soltado o pescoço e a empurrado para a parede ao lado da porta, impedindo qualquer chance de fuga.
- O motivo da prisão da Fernanda. - Parou e fitou Lana. - Eu sei que é algo mais sério e você não quer me contar. Diga. O que ela fez pra você?
- Eu… Bem, eu… É que… - Tentava dizer. As palavras não vinham e ela se lembrava de cada detalhe, enquanto caminhava pela sala.
- Lana? - Indagou.
- Eu conto. - Virou para o homem, exibiu um sorriso tímido e sentou-se numa carteira. A medida que ia contando, seus olhos enchiam-se de lágrimas.

***
Fernanda girava o dedo indicador em seus fios de cabelos escorados na parede, com as pernas encolhidas, olhando para uma parede cinza.

- Visita para você. - O carcereiro chegou, abrindo a cela e surpreendo Fernanda.
- Quem é?
- Um homem.

Na sala de visitas, Olívio a aguardava. Batia o pé para conter a ansiedade, quando ouviu a voz de uma mulher.

- Você? - Sentou-se. - Achei que estava com raiva de mim.
- Nunca estive, Fernanda. Só agi por impulso. Perdoa-me?
- Não guardo rancor de ninguém, senhor. Pode ficar tranqüilo.
- Mas não estou aqui por isso. - Fitou Fernanda, com um pequeno sorriso.
- Não? - Indagou surpresa.
- Eu conversei com o meu advogado. Pedi que cuidasse do seu caso. Pagarei sua fiança e ainda hoje você já sai daqui.
- Não sei nem o que dizer. - Fez uma pausa e pensou. - Obrigada.
- Não há de quê. Mas Fernanda… O que vai fazer ao sair daqui? A sua mãe morreu, não tem como freqüentar a universidade… Não tem emprego.
- Eu me viro senhor. E mesmo que tivesse alguma forma de eu voltar para a universidade, eu não iria aceitar. Veria a Lana todos os dias e o que eu quero evitar é ela. Se eu não conseguir nenhum trampo, eu procuro o senhor. Se não for importuno, é claro.
- Estarei às ordens. - Esticou sua mão, que fora apertada pela mulher. - Com licença.

UM MÊS DEPOIS
Fernanda, trajando uma camiseta branca e uma calça preta, com o cabelo loiro preso a um rabo de cavalo e segurando uma bolsa no ombro caminhava pelas ruas de Porto Alegre. Passara em alguns bares, lojas e bancas em busca de emprego, e os comerciantes negavam com a cabeça.
Por fim, parou em frente a um grande edifício. Passou a mão pela testa. Sua aparência indicava cansaço. Bateu na campainha que havia na mesa e aguardou.

- Bom dia. Em que posso ajudá-la? - O porteiro, com aproximadamente cinqüenta anos voltou para a recepção.
- Eu gostaria de saber se há algum morador do prédio precisando de faxineira.
- Se eu não me engano, o Dr. Carlos Henrique está à procura.
- Poderia me dizer o número do apartamento dele?!
- Se você tiver sorte, o encontra em casa ainda. É no 8º andar, número 804.
- Obrigada! - Puxou a porta do elevador.

Ao chegar ao andar, Fernanda procurou pelo apartamento. Ao encontrar, pôs o seu ouvido na porta para ter certeza que havia alguém em casa, quando escutou noticiário da televisão. Tocou a campainha.

- Bom dia. - A porta fora aberta. O homem trajava um roupão branco. - Quem seria?
- Disseram que o senhor estava procurando uma faxinei...
- Ainda estou. - Cortou-a.
- Então. Eu queria me candidatar à vaga.
- Ah, sim. Entre. - Revirou os olhos. - A minha esposa está viajando, volta em duas semanas. Conte-me sobre você.
- Meu nome é Fernanda, tranquei a faculdade de direito depois da morte da minha mãe e há um mês procuro emprego.
- Procurar emprego não é tão difícil aqui na cidade…
- Eu fui presa, senhor. Eu sei que o senhor pode não me aceitar na sua casa, mas eu não tenho nada a perder. Só preciso do emprego.
- Eu lhe entendo. Você tem um rosto bonito, com certeza a Lana gostará de você.
- Lana? - Indagou para si, sem que o homem pudesse ouvir. - Poderia me mostrar uma foto dela?
- Claro. - Pegou o retrato. - Aqui está. Você a conhece?
- Não. Acho que me enganei. - Mentiu. - Então? O senhor vai me contratar?
- Sim. Pode começar hoje. - Guardou o retrato. - Comece pela cozinha, ok?
- Como preferir. Será um prazer trabalhar para o senhor… E para sua mulher! - Sorriu.


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