Guilherme adentra em uma floricultura. Observa algumas flores,
as cheira e por fim aproxima-se do balcão. Uma mulher magra, de cabelo preto
preso a um rabo de cavalo o atende.
– Em que posso ajudá-lo, senhor? – Perguntara, com um sorriso
nos lábios, mostrando simpatia.
- Uma dúzia de rosas brancas, por favor. – Abrira a carteira e
dera cem reais para a moça, colocando de volta o troco. – Obrigado.
O homem parara na porta e retirara o celular de dentro do terno.
Selecionara um contato e aparecera a imagem de Bruna.
- Ué... Não me atendeu. O que aconteceu? – Pensa alto. Pega a
chave do carro e destranca o veículo, colocando as flores no banco de carona.
Alguns quilômetros adiante, uma casa média localizada num
condomínio começara a incendiar. Os vizinhos observavam a residência de longe,
cochichando entre si.
Dentro dela, uma mulher desacordada. Ao seu lado, o seu celular
vibrando com a imagem de Guilherme. E próximo dali, uma voz de criança podia
ser ouvida do banheiro.
***
Rafaela sai de um táxi. Enquanto o veículo se distancia, ela põe
a mão sobre o peito. Uma senhora, de aproximadamente setenta anos se aproxima.
- Tudo bem, moça? Precisa de ajuda? – Disse pondo sua mão sobre
o ombro de Rafaela.
- Não, senhora. Grata pela atenção. Foi uma dor no peito
repentina... Um mau pressentimento. Não sei explicar.
- Ah, eu já tive isso! Mas hoje meus filhos estão ótimos e
saudáveis... A gente se preocupa a toa!
- Não entendi senhora...
- Aposta quanto que esse mau pressentimento tem a ver com seu
filho? – Dera três batidas em seu ombro e continuara a caminhar. Rafaela
fitou-a, com a mão sobre o peito.
Estava à frente de uma penitenciária. Adentrara no local. Em poucos
minutos estava numa sala, em pé, virada de costas. A porta abrira e um homem,
com cabelo raspado, trajando uma camiseta branca e uma calça marrom.
- Que surpresa! – Estendeu os braços. Rafaela recuara e
sentara-se. – O tempo lhe fez mal. Quanta grosseria!
- Eu não estou aqui pra isso, Fausto. – Fitara-o com um olhar
fuzilante. – É sobre a minha filha.
- NOSSA filha você quer dizer.
- O que você quer, hein Fausto? Dinheiro? Porque se for eu dou
um jeito! Agora... Entrar na vida da menina depois de anos é pedir de mais.
- Eu já disse que estou arrependido! Por que não aceita? Ainda
estou pagando os meus erros que eu cometi na época.
- Eu sei que você não se arrependeu. O que você fez não tem
perdão!
- Você está sendo egoísta, Rafaela. A garota nunca teve um pai.
E já que eu sou...
- VOCÊ É NADA! Carrega nas costas um histórico de crimes
horríveis, tentativa de homicídio, estupro de crianças, tráfico de drogas... É
esse o exemplo que quer dar para ela?
- Ela não precisa saber. É um passado que não quero dividir com
ninguém.
- Sinto nojo de você, Fausto. Nojo! – Levantara-se. – E se
quiser encostar um dedo na MINHA filha, terá que passar por cima do meu cadáver
e da Bruna!
- Bruna? A sua irmã? Isso é uma ameaça?
- Sim. Ela mesma. A que conseguiu te colocar aqui, nesse lugar
nojento. E por mais que eu queira... Não. É um aviso. E ela tem autoridade para
te colocar aqui novamente. Vai arriscar? – Sorriu. Batera na porta, e um
carcereiro a abrira.
***
Rosa, trajando seu uniforme, e segurando uma bandeja branca com um
prato de comida com arroz, salada e carne com um copo de suco de laranja
adentra no quarto de Arthur e não o encontra na cama.
Fecha a porta, põe a bandeja sobre a cama e o observa jogar
vídeo game sentado em um puff de bola de futebol. Ela se aproxima do menino e
lhe beija na bochecha.
- Seu pai disse que você estava doente. Não é o que eu vejo! –
Falou, sentando-se em outro puff preto.
- Claro que eu estou doente. Ainda dói! Mas eu não gosto de
ficar na cama por muito tempo.
- Entendi... Eu trouxe o almoço. Você precisa comer.
- Mas eu não tenho vontade.
- Não se trata de ter vontade e sim precisar. Vamos, Arthur.
Assim você não vai conseguir brincar, jogar...
- A minha mãe nunca me obrigava a comer... – Falou, desativando
o controle e pondo sua cabeça sobre o colo de Rosa.
- Eu sei meu amor. Mas ela não está mais aqui, foi morar em
outro lugar. Muito mais bonito que esse, sabe? – Acariciava seus cabelos. –
Ficar assim, cabisbaixo só vai aumentar a sua dor. Eu sei o que você sente. Mas
a vida segue. A sua mãe estará sempre ao seu lado, mesmo que você não a veja.
Agora... Erga a cabeça. E mostre pra todos que você é um menino forte. E não
esqueça: a sua mãe continua viva. No seu coração! – Os dois se abraçaram
emocionados.
***
Carlos Henrique Casagrande, trajando roupas esportivas adentrara
em seu escritório particular, em sua casa, após retornar de uma partida de
futebol com seus amigos. Clarissa, trajando um belo vestido vermelho, estava
sentada numa poltrona em frente a sua mesa.
- Você aqui? Quantas vezes eu preciso dizer que detesto quando
invadem meu local de trabalho?
- Eu lhe conheço perfeitamente para saber que você odeia isso.
Mas não viria caso não fosse importante. – Levantara-se e ficara a frente do
homem.
- Seja rápida, Clarissa. O que aconteceu?
Lara, trajando uma blusa branca amarrada na frente com um short
jeans preto com um tênis preto aproximara-se da porta e pôde ouvir a conversa.
- Por que não me contou sobre a sua outra filha?
- Outra filha? Eu só tenho uma. A Lara!
- Até ontem. Por que hoje apareceu uma garota, de vinte e poucos
anos dizendo ser sua filha. Disse que a mãe dela teve um caso com você há uns
vinte anos... E não minta pra mim! Ela tem traços seus.
- Você só pode estar de brincadei... – Disse, tendo uma
lembrança da noite que se envolveu com Fernanda. – Não! Não pode ser...
Após ouvir, Lara saíra do local.
- Lembrou? – Cruzara os braços. – Enfim. O que você fez no
passado não importa desde que não interfira no futuro da Lara. Ou seja, se essa
garota receber um mísero centavo da herança da nossa filha... Carlos Henrique,
você será considerado um homem morto!
***
Maria Paula, trajando um vestido preto, de óculos escuros e uma
bolsa a tiracolo da mesma cor caminha nos corredores de um cemitério, carregando
um ramo de flores brancas.
Aproxima-se de um jazigo. Passa a mão pela lápide.
- Eu te amei tanto... Mas tanto!
Deixa as flores próximas à placa: Luciano Mendes.
***
Guilherme dirige o carro em uma velocidade alta, mas diminui ao
ver várias pessoas circularem pela rua. Ele enxerga uma casa em chamas e se
aproxima do local.
Estaciona o carro e o tranca. Aproxima-se da casa e de alguns
vizinhos.
- O que está acontecendo? – Indagou a um homem.
- Essa casa... Do nada pegou fogo. Eu vi a delegada, a irmã e a
sobrinha entrarem, mas nenhuma saiu de lá ainda!
- E os bombeiros? Não vieram?
- Ihh, vai ser difícil. Quer dizer, disseram que estavam a
caminho. Isso há dez minutos! Até quando vai ser assim? – Indagou a Guilherme,
porém o vira tirar o terno e entrar na casa.
Música: Sol
de Paz – Strike.
Guilherme fita Bruna, desacordada no sofá. Observa o incêndio e
após, pega Bruna no colo e a retira da casa, e não ouve os gritos da criança,
trancada no banheiro.
No lado de fora, Guilherme deita Bruna no chão e põe sua cabeça
em suas pernas, batendo levemente em seu rosto.
- Bruna! Por favor, Bruna! Reage! – A beijara na boca. Todos
permanecerem em silêncio por cerca de seis minutos. – Eu te amo... – Dera um
beijo em sua testa e logo após, Bruna recobrara a consciência tossindo muito.
Guilherme a fitara aliviado, enquanto ouvira o som de ambulância
e bombeiros.
Um táxi para em frente a casa em chamas. Rafaela sai, pegando
suas chaves na bolsa que carregava. Ela fita a residência, deixando cair a
bolsa e as chaves.
Sente novamente uma dor no peito. Olha para a ambulância e
enxerga a irmã recebendo primeiros-socorros e os bombeiros tentando controlar o
fogo.
- TEM UMA CRIANÇA DENTRO DA CASA! – Gritara, ao perceber a
ausência da filha.
- Moça, não tem ninguém na casa. Por favor, deixe-nos fazer
nosso trabalho em paz.
Antes de o bombeiro terminar sua frase, Rafaela entrara na casa,
assustando-se com o que caía em sua frente.
- Filha? Você está aí? Me responde! – Gritara.
- Mãe! – A voz estava sem força. – Aqui. No banheiro!
Rafaela abrira a porta. Giulia estava em pé, na pia. Pegara a
criança no colo e a levara para a porta, quando um lustre a acertara fazendo-a
desmaiar.
- Mãe? Mãe? Fala comigo! – Giulia, com pouca força, puxara a mãe
para o lado de fora, onde ficaram visíveis aos bombeiros e paramédicos. –
Alguém me ajuda! A minha mãe...
***
Música:
Esperta – Ana Carolina.
Iolanda Cavalcanti observara a ação dos bombeiros e paramédicos
dentro de seu carro, estacionado pouco a frente da casa. Aborda um homem que
caminha na rua.
- Ei, você. Sabe o que está acontecendo ali? – Mirou na casa de
Bruna. – Alguém morreu?
- Não dona... No máximo algumas escoriações. A delegada que mora
ali está fora de perigo, segundo os paramédicos. A outra moça e a criança estão
recebendo atendimento agora. Talvez a moça seja internada, mas nada sério.
- Obrigada. – Revirou os olhos, fechou o vidro e partira em
disparada.
***
Antônia, trajando uma blusa branca e calça jeans azul com
sapatilha preta, com o cabelo amarrado a um coque.
Ela adentra em uma sala, onde uma secretária mexe no computador.
- Boa tarde. Precisa de ajuda? – Indagou a secretária.
- A diretora marcou uma reunião comigo. Poderia avisá-la que
estou aqui? Não tenho muito tempo!
- Um minuto, senhora. – A secretária levantara-se e batera em
outra porta, em seguida entrara.
Em menos de dois minutos, Antônia estava sentada em frente à
diretora do colégio de Liz, Suzana Vieira.
- A minha filha se comportou mal? Foi mal em uma prova? O que
aconteceu, diretora?
- Não, Antônia. Nada com o desempenho da Liz no colégio. Aliás,
ela tem tirado ótimas notas. Todas acima da média. Parabéns! – Sorrira, mas
logo o fechara. – Eu lhe chamei aqui por outro motivo.
- Outro? Se não é sobre o comportamento da Liz é...
- Faz cinco meses que você não paga a mensalidade da menina...
Por isso, tive que tomar uma decisão.
- Que decisão? – Indagara preocupada.
- Caso as mensalidades atrasadas não sejam pagas até o final do
mês a matrícula dela será cancelada e não poderá mais frequentar a escola.
- Como?! – Apoiara seu cotovelo na mesa e passara a mão pela
testa. – A Liz adora o colégio, as amigas, os professores, os projetos. Passa
mais tempo aqui do que em casa!
- Eu poderia relevar se fosse o primeiro ou segundo mês,
Antônia. Eu adoro a sua filha. Ela é adorável! Mas eu não posso mais.
Entenda-me.
- Eu lhe entendo. Mas o prazo é curto. Falta pouco mais de uma
semana para o mês seguinte...
- Sinto muito, Antônia. É quitar a dividida de mil reais até o
final do mês ou a Liz deixa de ser aluna da instituição. – Fitou Antônia. – E
se for o caso, eu mesma cuido da transferência da menina. Conheço escolas
públicas ótimas.
Antônia concordara com a cabeça, e saíra sem dizer nada.
Enquanto Suzana a fitava entristecida.
***
Guilherme, trajando a camisa do terno, branca de manga comprida
segurando as rosas brancas senta-se em uma das poltronas da sala de espera do
hospital, enquanto Rafaela, Giulia e Bruna são levadas para atendimento.
Quinze minutos depois, Guilherme conversa com um médico e
aproxima-se do quarto onde Bruna, Rafaela e Giulia estão. A última recebe
apenas medicamentos. Rafaela continua desacordada e Bruna descansa na cama do
hospital.
Guilherme adentra no quarto e fita Bruna, que desperta aos
poucos e sorri ao ver Guilherme.
- Eu ia marcar para nós almoçarmos juntos e quase perdi você –
Guilherme cochicha, entregando as flores.
- São lindas, Guilherme. Não sei se estaria viva se não fosse
por você. Obrigada. De coração. – Ambos sorriem.
***
Um carro preto para em frente à sede da Revista Maxxes. O
motorista abre a porta direita do banco de passageiro. Um homem de
aproximadamente quarenta anos sai, ajeitando seu terno. Outro homem, de
sessenta anos ficara ao seu lado. Ambos fitaram a placa que havia no local,
indicando o nome da revista.
- Chegou a sua hora, Conrado. Chegou a hora de você tomar o que
é seu de direito!
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