quinta-feira, 7 de julho de 2016

Capítulo 7: Terra Livre

 
TERRA LIVRE
Capítulo 07


Novela de
JOÃO CARVALHO

Inspirada em “O Barba Azul”


Direção Geral
VITOR ABOU



CENA 1/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ ESCRITÓRIO.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior;
Maria Tereza espantada olhando para Luzia, que não demonstra reação alguma.
LUZIA – Ai chega. Cansei! Vamos falar de outra coisa... Querida irmã, a senhorita continua paparicando o Barão? Creio eu que sim!
M. TEREZA – Eu amo Afonso e você sabe muito bem disso, e mesmo assim não pensou duas vezes quando se deitou com ele anos atrás.
LUZIA – E você vai ficar lembrando de coisas que aconteceram há anos atrás. Olha, Maria Tereza... O meu trabalho é esse, é satisfazer os meus clientes. Como você diz, há anos atrás ele veio até mim e eu cumpri com o meu trabalho!
M. TEREZA – E você ainda ousa em chamar isso de trabalho.
LUZIA – É um trabalho sim. Enfim, não vou ficar discutindo com você. Não tenho tempo para isso.
M. TEREZA – Afonso teve aqui, não teve?
LUZIA – E saber isso vai mudar em que na sua vida? Me diga?
M. TEREZA – Não enrole. Diga logo... Afonso esteve aqui?
Luzia fica pensativa. TEMPO. Maria Tereza encarando Luzia, esperando resposta.
LUZIA – Sim... Ele esteve aqui!
M. TEREZA – Eu sabia! Você que fique sabendo... Não ouse roubar Afonso de mim, senão você vai pagar muito caro!
LUZIA – (ri) Ô, minha irmã... Não entende que Afonso não quer nada com você!
M. TEREZA – Pois ele vai querer quando descobrir o segredo! Isso se você já não abriu essa sua boca e contou tudo para ele.
LUZIA – Não sou fofoqueira feito você. O segredo continua bem guardado!
M. TEREZA – E é você a mulher que anda servindo o Afonso?
LUZIA – Não... Afonso é passado! Não sou eu!
M. TEREZA – Então quem é? Anda... Me diga!
LUZIA – Não vou te dizer nada, mas posso te falar que é uma loira linda e muito atraente. A nossa única loira. Agora, por favor, você já tomou bastante do meu tempo. Tenho que trabalhar!
M. TEREZA – Passar bem!
Maria Tereza se retira do local. Luzia receosa sentada na cadeira. FOCA em seu rosto de preocupação. CORTA PARA/
CENA 02/ FAZENDA DOS ZAPATTA/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
TODOS os funcionários da fazenda, cerca de quarenta (40), reunidos no meio do local. Gabriel no meio do círculo formado por eles.
GABRIEL – Primeiramente queria pedir desculpas a todos vocês por estar chamando todos justamente no momento onde todos deveriam estar descansando. Pois bem, eu quero que metade de vocês se junte e construa um muro... Isso mesmo, um muro que cerque toda a nossa plantação. Não quero mais nenhum funcionário da fazenda do Barão entrando em nossa propriedade.
EMPREGADO#1 – E a outra metade, Dr.?
GABRIEL – A outra metade permanece trabalhando nas plantações. Precisamos agilizar para voltarmos a vender.
EMPREGADO#1 – Mas um probleminha, Dr.!
GABRIEL – Diga!
EMPREGADO#1 – O período da seca está chegando e o prejuízo é maior do que pensávamos.
GABRIEL – Pois não fiquem preocupados com isso... Vou me reunir com Cristina, vou ver se podemos fechar uma parceria. Caso ela aceite já sei o que fazer. Ah, e eu vou pagar as horas extras que vocês precisarem utilizar para construir o muro.
EMPREGADO#2 – Não seria melhor esperar a chegada dos italianos, Dr.? Tá todo mundo dizendo que eles vão ser os novos escravos da terra. E vosso falecido pai foi um importante barão, se isso realmente acontecer, o Dr. Vai ter que adotar a escravidão nova.
GABRIEL – Eu não aceitarei... Não vou permitir que mais uma vez seres humanos sejam tratados como bichos... Em nossa fazenda só haverá trabalho justo. Pagaremos pelo trabalho. Não vamos ser como o Barão de Leroy quer que nós sejamos! Vamos à Luta! A nossa fazenda não vai parar por conta de um maldito barão falido!
FOCA no olhar confiante do Gabriel. CORTA PARA/
CENA 03/ STOCK-SHOTS/ EXT./ MONTE VELHO.
Sonoplastia: A PARTIR DE HOY – MARCO DI MAURO feat. MAITE PERRONI
TAKES DO AMANHECER EM MONTE VELHO. PESSOAS ABRINDO SUAS LOJAS. OUTRAS INDO E VINDO. PADARIAS ABRINDO AS PORTAS. TAKE FINAL NA FACHADA DA FAZENDA DA FAMÍLIA ZAPATTA. CORTA PARA/
CENA 04/ FAZENDA DOS ZAPATTA/ DIA/ INT./ SALA DE JANTAR.
Gabriel, vestido com um terno preto, sentado à mesa tomando café. Adelina, a empregada, em pé ao lado dele. BATIDAS NA PORTA.
GABRIEL – Deve ser Cristina... Atenda e peça que ela entre, por favor, Adelina.
ADELINA – Claro, Dr. Gabriel!
Adelina vai em direção à sala. Gabriel continua a tomar seu café. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA 05/ FAZENDA DOS ZAPATTA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Cristina, de pé, frente a Gabriel. Eles se abraçam felizes.
GABRIEL – Mas quanto tempo que não nos vemos, Cristina. Vejo que está muito mais madura. Estou certo?
CRISTINA – Creio que sim! (sorri) Como é bom poder te ver de novo!
Os dois ficam se encarando. TEMPO.
GABRIEL – Ah, perdoe-me o mau jeito, sente-se!
Cristina se senta. Ele se senta a frente dela.
CRISTINA – Vim o mais rápido que pude. Um de seus empregados me avisou que queria falar comigo. O que houve?
GABRIEL – Não sei se sabe, mas sofri um ataque muito cruel dos capangas da fazenda do Barão Afonso.
CRISTINA – (indignada) Não me diga? E que tipo de ataque foi esse?
GABRIEL – Passaram por trás da fazenda e colocaram fogo nas minhas plantações de café. Quando cheguei logo me deparei com as contas de minha família afundadas em um poço sem fim.
CRISTINA – Já em minha fazenda os problemas são outros.
GABRIEL – Quais?
CRISTINA – Desde que meus pais morrerão deixei a fazenda nas mãos de meu marido, mas estamos nos separando.
GABRIEL – Vai se separar? Não acha ousado demais? Não quero nem pensar no que a sociedade diria de uma mulher separada.
CRISTINA – Isto é o que menos me importa agora. O que quero é vender a minha fazenda... Chega... Não dá mais para seguir com uma coisa que não me faz bem, e pior, não me trás tanto lucro.
GABRIEL – Não! Não faça isso! Vender uma fazenda em períodos difíceis é trocar o certo pelo duvidoso.
CRISTINA – Não tenho opção, Gabriel. Não sou um mestre dos negócios como meu pai foi.
Adelina chega à sala com uma xícara de café para Cristina/
CRISTINA – (cont./ a Adelina) Obrigada!
Adelina se retira.
GABRIEL – Pois então... Pedi que você viesse aqui, pois tenho uma solução para os nossos problemas.
CRISTINA – (hesita) Solução?
GABRIEL – Sim! Veja bem... Estudei anos e anos de minha vida para me tornar um empresário de sucesso... Voltei agora e você me diz que sua fazenda não anda bem nos negócios. Se juntássemos a minha administração com a qualidade que você tem em seu cafezal, com toda certeza lucraríamos muito. E quando o meu cafezal estiver completamente replantado, teríamos lucros dobrados.
CRISTINA – Você está me propondo uma união. É isso?
GABRIEL – Exatamente!
Cristina se levanta, anda pelo local, se vira para Gabriel, que também levanta, e estende a mão.
CRISTINA – Pois então aceito... Não venderei a fazenda!
GABRIEL – (feliz) Não irá se arrepender. Tenha certeza disso!
Gabriel sorri e aperta a mão de Cristina. CORTA PARA/
CENA 06/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Comandante com o revólver apontado para todos. Lorenzo dá um passo à frente, chegando perto do ouvido dele.
LORENZO – (sussurra) Per favore, pense bem! Imagina o luxo que você non terá se me poupar... Irá comigo para o Brasil e claro morar na mansão de mio primo. Nada mal, non?
COMANDANTE – Você non vai conseguir me comprar, Lorenzo Leroy. Non vai! Anda... Se afasta daqui ou tomará um tiro no meio da testa!
LORENZO – Tudo bem. Io non quero te comprar, mas pense bem! É a única coisa que te peço. Você vai se dar mal quando chegar no Brasil. Eles já vão estar te esperando. Você terá que passar o resto de tua vida na cadeia.
COMANDANTE – Io non me importo! Non me importo se serei preso, se ficarei solto. O que io quero agora é fazer o que quero fazer. Custe o que custar!
SILÊNCIO. Comandante olha fixamente para Helena. Vicente a parte sem entender. Helena receosa, respirando ofegante.
HELENA – Por que está me olhando?
COMANDANTE – Ainda non tinha percebido toda essa sua beleza, ragazza. Agora entendo porque dois rapazes brigam por você!
VICENTE – Você non fazer nada com ela!
COMANDANTE – (grita) CALA A SUA BOCA!
Comandante aponta a arma para Vicente, e vai se aproximando de Helena. Ele passa a mão no rosto dela carinhosamente, em silêncio.
COMANDANTE – (CONT.) Você vem comigo...
Comandante a pega pelo braço e vai levando-a. Helena grita. Vicente tentando ir atrás, mas sendo segurado pela mãe. Valter chora desesperadamente.
GERMANA – (chorando) Dio... Io non vou agüentar perder mais uma filha!
Helena e Comandante entram. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA 07/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
Comandante entra e joga Helena contra parede. Sonoplastia tensa. Ele se aproxima e rasga a roupa dela. Helena completamente nua, logo tampa os seios com o braço. Ele fazendo gestos sexuais com a boca. Logo vai tirando sua roupa. Helena ofegante, com medo.
HELENA – Io imploro! Non faça nada comigo!
COMANDANTE – Io juro que non vai doer em nada!
O Comandante se aproxima dela. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA 08/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Vicente nervoso. Chiara segurando-o forte. Valter chorando e Germana o abraçando.
VICENTE – Me solte, madre. Io preciso salvar Helena!
Chiara o solta. Vicente vai em direção a Valter. Germana se afasta. CAM vem rasteira, mostrando Vicente e Valter debaixo para cima.
VICENTE – (a Valter) Pegue a arma... Io vou enfrentar questo maledetto!
Valter sai disfarçadamente. Vicente continua no local.
Corte descontínuo: CAM rasteira. Vicente parado. Valter chega perto de Vicente e entrega disfarçadamente o revólver nas mãos dele. CAM ergue. Vicente coloca o revólver na calça e se aproxima da porta da sala de comando. FOCA em Vicente decidido. CORTA PARA/
CENA 09/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
Helena gritando de dor. Comandante gemendo de prazer. CAM abaixa e vê o revólver caído no chão. Vicente arromba a porta e aponta a arma para o Comandante, que larga Helena e logo veste sua calça. Helena nua, arranhada, tampando os seios a parte. Chora muito.
VICENTE – Deixe minha mulher em paz! Ou senão io te mato agora aqui, maledetto!
COMANDANTE – (ri) Impressionante. O mesmo gênio de tuo padre. Parece que estou vendo ele em minha frente. Non sabe como me dá gosto em ver tuo filho, tuo sagrado filho quase morto por mim. Matteo... Você perdeu mais uma vez!
VICENTE – Você é sujo. Io tenho pena de você! Pena desse mau caráter que você é!
O Comandante se abaixa rapidamente e pega o revólver no chão, aponta na cabeça de Helena, que grita e chora.
COMANDANTE – Solta essa arma! Io estou mandando... Solta essa arma!
Vicente deixa o revólver no chão e ergue os braços.
COMANDANTE – (cont.) Pois agora estão os dois nas minhas mãos. Quem vai ir primeiro?
Closes alternados. CORTA PARA/
CENA 10/ MATA/ DIA/ EXT.
Maria Tereza à frente de vários capangas. Todos armados. Uns com facões, outros com revólver.
M. TEREZA – Foi aqui que encontramos ele da última vez. Pode ser que ele tenha se escondido aqui de novo.
CAPANGA#1 – Me desculpe dizer, dona Maria Tereza. Mas eu acho que o irmão do Barão não vai ta aqui não. Ele não ia ser burro de esconder no mesmo lugar que se escondeu da última vez.
M. TEREZA – Você pode ter razão. Mas eu ainda acho que ele não foi tão longe. Vamos continuar procurando.
Eles continuam andando, adentrando mais ainda. Maria Tereza olha para o chão e vê um casaco encardido e velho no chão. Ela abaixa e pega.
M. TEREZA – (olhando para o casaco) Estamos bem perto! Esse é o casaco dele. Estamos perto de encontrar o canalha do Domingos.
Eles continuam andando. CORTA PARA/
CENA 11/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
Eles se encarando. Comandante ainda com a arma na cabeça de Helena.
COMANDANTE – Io vou te dar a última chance de continuar vivo... Saindo daqui!
VICENTE – Pois fique sabendo que io sou homem de verdade, e que non vou deixar Helena sozinha.
COMANDANTE – Ragazzo... Escuta o que estou lhe falando. É uma oportunidade de você continuar vivo e ela também.
VICENTE – Non... Io non vou largar Helena sozinha!
CORTE RÁPIDO PARA/
CENA 12/ NAVIO/ DIA/ INT./ CAPELA.
Lorenzo entra no local. Sonoplastia dramática. Olhar pesado. Vários santos na frente. Uma imagem ampla de São Francisco de Assis à frente. Lorenzo se ajoelha frente ao santo. Uma vela ao lado, com uma caixa de fósforo. Ele olha para o lado, acende a vela e coloca em pé.
LORENZ0 – Dio Santo... São Francisco de Assis... Perdoname... Perdoname por tudo que fiz. Apenas agora passando por isso io sei... Io sei que fiz tudo errado, que fui contra todos. Io non merece viver!
CAM gira em volta de Lorenzo, ajoelhado e olhos fechados. Desce uma lágrima de seu olho. CORTA PARA/
CENA 13/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Chiara chorando desesperada, chega perto de Valter, que dá um abraço nela. Germana, cara fechada, a parte.
CHIARA – Io estou com muito medo, Valter. Estou com medo de perder mio Vicente... Mio único tesouro!
VALTER – (chorando) Io também tenho medo... Medo de perder Helena. Já non sei o que fazer.
CHIARA – Se mio filho morrer, eu non vou agüentar. Io morro junto, Valter.
VALTER – Io non tenho mais esperanzas! Acho que todos vão morrer! Todos nós!
Os dois ainda abraçados. FOCA neles. CORTA PARA/
CENA 14/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ ESCRITÓRIO DE LUZIA.
Luzia sentada em sua cadeira tomando uma taça cheia de vinho. BATIDAS NA PORTA.
LUZIA – Entre!
Raquel entra no local e se senta na cadeira a frente de Luzia.
LUZIA – (mostrando o vinho) Aceita?
RAQUEL – Não, obrigada. Não estou mais bebendo! Vim o mais rápido que pude. Me falaram que você queria conversar comigo.
LUZIA – Sim, mas não é algo tão sério. Não precisava vir correndo.
RAQUEL – É algo comigo? Vai me demitir?
LUZIA – Não. Muito pelo contrário! Bom, na verdade... Lembra que eu te disse que tinha uma irmã que morava aqui em Monte Velho?
RAQUEL – Claro, claro. Me lembro inclusive do nome. Maria Tereza, não é?
LUZIA – Isso mesmo. Só que eu esqueci de te falar que Maria Tereza trabalha para o Barão Afonso, aquele que teve uma noite com você.
RAQUEL – Mas em que isso muda?
LUZIA – Maria Tereza trabalha anos e anos com Afonso e por isso acabou nutrindo uma paixão doentia por ele. Há muitos anos atrás, eu tive que ir embora, pois Afonso queria se casar comigo e Maria Tereza estava a ponto do suicídio.
RAQUEL – Então isso não é amor. Isso é doença! É obsessão.
LUZIA – O problema é que ela descobriu que uma de nós teve uma noite de sexo com Afonso e ela quer saber quem é essa mulher de qualquer jeito.
RAQUEL – (com medo) Ai meu Deus. E agora? O que eu faço?
LUZIA – Calma. Também não é assim. Não precisa se preocupar! Mas quero que você fique de olho aberto. Ela vai te procurar. Pois negue.... Negue até a morte que esteve com Afonso. Apesar de não querer nada com ela, Afonso sabe da loucura da minha irmã e nunca vai revelar a identidade de suas amantes.
Raquel logo se levanta.
RAQUEL – Farei o que me pede, mas tenha total certeza. Nunca mais me deito com esse velho nojento. Nunca mais!
Raquel sai do local. FOCA em Luzia pensativa. CORTA PARA/
CENA 15/ MONTE VELHO/ EXT.
Sonoplastia: AMOR SEM MEDIDAS – Matheus e Kauan
TAKES DO AMANHECER. PESSOAS INDO PARA SEUS TRABALHOS. AUTOMÓVEIS DA ÉPOCA CIRCULANDO, JUNTOS AS CARROÇAS. TAKE FINAL NA FACHADA A MANSÃO DE CRISTINA. CORTA PARA/
MÚSICA CESSA AQUI;
CENA 16/ MANSÃO DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE JANTAR.
Mesa farta. Cristina sentada na ponta da mesa. Seus funcionários distribuídos na mesa.
FUNCIONÁRIO#1 – (colocando manteiga no pão) Agradecido, patroa. Mas, que mal a pergunte, por que a senhora ta deixando a gente comer aqui? Justamente na mesa!
CRISTINA – Porque foi assim que eu vivi grande parte da minha vida. Meu pai lutou muito... Lutou muito para chegar onde hoje estou. Já choramos sangue, já sofremos muito mesmo. Não nasci em berço de ouro. Sou como vocês. Apenas uma pobre mulher que apesar de ter dinheiro continua pobre. Mas na verdade eu tenho uma coisa muito importante pra dizer e por isso os reuni todos aqui.
FUNCIONÁRIO#2 – (com a boca cheia de queijo) Então diga, dona Cristina!
CRISTINA – Eu andei conversando com o Dr. Gabriel Zapata e tomei uma decisão... Não vou mais vender a fazenda. Não vou destruir o que o meu pai tanto lutou para construir! A fazenda continua firme, forte e viva!
Todos aplaudem. Cristina se emociona e chora. CORTA PARA/
CENA 17/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Afonso lendo um livro. Maria Tereza desce as escadas com um casaco na mão.
AFONSO – (hesita) O que é isso?
M. TEREZA – Encontramos o casaco de Domingos na mata... Os capangas já acordaram cedo pra procurá-lo.
AFONSO – Então quer dizer que meu irmãozinho está bem mais perto do que imaginávamos.
M. TEREZA – Sim! Domingos foi mais burro do que nunca e seguiu do mesmo caminho que fez da última vez que fugiu.
AFONSO – Dessa vez ele não escapa.
FOCA no olhar carregado de Afonso. CORTA PARA/
CENA 18/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Todos acordados. Uns carregando caixas e outros descascando frutas em uma mesa imensa. Helena aparece subindo do porão. Ela observa a todos. Olha para o lado e vê uma mulher deitada de longe. Helena vai se aproximando e abaixa ao lado da mulher.
HELENA – Ei... Levanta-se. O dia está lindo! Temos que aproveitar. Non sabemos o que vai acontecer com a gente.
A mulher não responde. Helena a cutuca. A mulher continua sem responder. Helena vira ela e vê a mulher com a boca cheia de espuma.
HELENA – (assustada) Dio santo... Essa mulher está morta... Ela foi envenenada! Dio tenha piedade de nós, per favore!
Helena começa a chorar em cima da mulher. CAM do alto mostrando a cena. Sonoplastia dramática. CORTA PARA/
OUTRO LADO DO NAVIO/ Corte descontínuo – Helena e Vicente frente a frente. Ela bem abatida.
VICENTE – Non fica assim, Helena. O que aconteceu non vai mudar em nada entre a gente.
HELENA – Io sei, Vicente. Mas estou preocupada. Hoje o Comandante nos deixou descansar, mas esses dias foram muito cansativos. Foram tristes... Acabei de ver uma mulher morta, envenenada.
VICENTE – Dio santo... Quando isso vai acabar?
HELENA – Quando um de nós tomarmos coragem e matarmos esse maledetto comandante.
Vicente coloca a mão no rosto de Helena carinhosamente. Os dois se encaram. Helena se entregando aos poucos.
VICENTE – Io non quero pensar em mais nada. Io quero é amar você, Helena. Sem pensar em nada!
Sonoplastia: NO SOY EL AIRE – Thalía
Os dois vão se aproximando ainda mais e se beijam apaixonadamente. CAM fixando de todos os ângulos, formando 360 graus em volta deles.
A MÚSICA CESSA AQUI;
Lorenzo aparece e aplaude. Vicente logo se afasta de Helena.
LORENZO – Então quer dizer que é isso... Io me esforçando para ser o melhor homem. Me arrependendo de mios pecados e você faz isso comigo?!
HELENA – Perdoname, Lorenzo, mas io non te amo mais/
Lorenzo interrompe Helena com um tapa na cara dela. Vicente pega Lorenzo pelo pescoço, quase o enforcando.
VICENTE – Nunca mais... Nunca mais ouse em tocar essas suas mãos imundas em Helena. Nunca mais!
Vicente solta-o. Helena firma frente a Lorenzo.
HELENA – Io non me importo. Pode me dar todos os tapas possíveis e nada vai mudar o que io sinto por Vicente. Nada vai mudar!
LORENZO – Traidora... Traidora... Você me traiu, Helena. Traiu quem sempre te deu apoio!
HELENA – Io non posso trair meu coração, Lorenzo. Io estaria te traindo se ficasse com você!
LORENZO – Io non me importaria. Só tendo você do meu lado seria ótimo para mim!
HELENA – Io amo Vicente e nós vamos ficar juntos!
Vicente abraça Helena. Lorenzo observando. CORTA PARA/
CENA 19/ MONTE VELHO/ EXT.
TAKES DO ANOITECER. SONOPLASTIA DENSA. PESSOAS FECHANDO SUAS LOJAS. TAKE FINAL NA FACHADA DO MONTE PRAZER. PESSOAS ENTRANDO NO LOCAL. CORTA PARA/
CENA 20/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ SALÃO.
Maria Tereza entra disfarçadamente e se esconde atrás da escada.
M. TEREZA – A única loira do Monte Prazer... Quem será essa loira?!
Raquel entra deslumbrante, deixa sua bolsa cair, vira para trás, abaixa e pega. Maria Tereza olha para ela e se assusta. FLASHS de uma menina de 3 anos sendo entregue por Maria Tereza a Luzia. Maria Tereza desesperada. Chora muito.
M. TEREZA – É Raquel! É minha filha! Raquel é a amante de Afonso! A minha filha é amante do próprio pai!
FOCA em Maria Tereza espantada.
EFEITO FINAL: CONGELA EM MARIA TEREZA CHORANDO.


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