TERRA LIVRE
Capítulo 07
Novela de
JOÃO CARVALHO
Inspirada em “O Barba Azul”
Direção Geral
VITOR ABOU
CENA 1/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ ESCRITÓRIO.
Continuação
imediata da última cena do capítulo anterior;
Maria Tereza
espantada olhando para Luzia, que não demonstra reação alguma.
LUZIA – Ai chega. Cansei! Vamos
falar de outra coisa... Querida irmã, a senhorita continua paparicando o Barão?
Creio eu que sim!
M. TEREZA – Eu amo Afonso e
você sabe muito bem disso, e mesmo assim não pensou duas vezes quando se deitou
com ele anos atrás.
LUZIA – E você vai ficar
lembrando de coisas que aconteceram há anos atrás. Olha, Maria Tereza... O meu
trabalho é esse, é satisfazer os meus clientes. Como você diz, há anos atrás
ele veio até mim e eu cumpri com o meu trabalho!
M. TEREZA – E você ainda ousa
em chamar isso de trabalho.
LUZIA – É um trabalho sim.
Enfim, não vou ficar discutindo com você. Não tenho tempo para isso.
M. TEREZA – Afonso teve aqui,
não teve?
LUZIA – E saber isso vai
mudar em que na sua vida? Me diga?
M. TEREZA – Não enrole. Diga
logo... Afonso esteve aqui?
Luzia fica
pensativa. TEMPO. Maria Tereza encarando Luzia, esperando resposta.
LUZIA – Sim... Ele esteve
aqui!
M. TEREZA – Eu sabia! Você que
fique sabendo... Não ouse roubar Afonso de mim, senão você vai pagar muito
caro!
LUZIA – (ri) Ô, minha irmã...
Não entende que Afonso não quer nada com você!
M. TEREZA – Pois ele vai
querer quando descobrir o segredo! Isso se você já não abriu essa sua boca e
contou tudo para ele.
LUZIA – Não sou fofoqueira
feito você. O segredo continua bem guardado!
M. TEREZA – E é você a mulher
que anda servindo o Afonso?
LUZIA – Não... Afonso é
passado! Não sou eu!
M. TEREZA – Então quem é?
Anda... Me diga!
LUZIA – Não vou te dizer
nada, mas posso te falar que é uma loira linda e muito atraente. A nossa única
loira. Agora, por favor, você já tomou bastante do meu tempo. Tenho que
trabalhar!
M. TEREZA – Passar bem!
Maria Tereza se
retira do local. Luzia receosa sentada na cadeira. FOCA em seu rosto de
preocupação. CORTA PARA/
CENA
02/ FAZENDA DOS ZAPATTA/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
TODOS os
funcionários da fazenda, cerca de quarenta (40), reunidos no meio do local.
Gabriel no meio do círculo formado por eles.
GABRIEL – Primeiramente
queria pedir desculpas a todos vocês por estar chamando todos justamente no
momento onde todos deveriam estar descansando. Pois bem, eu quero que metade de
vocês se junte e construa um muro... Isso mesmo, um muro que cerque toda a
nossa plantação. Não quero mais nenhum funcionário da fazenda do Barão entrando
em nossa propriedade.
EMPREGADO#1 – E a outra metade,
Dr.?
GABRIEL – A outra metade
permanece trabalhando nas plantações. Precisamos agilizar para voltarmos a
vender.
EMPREGADO#1 – Mas um
probleminha, Dr.!
GABRIEL – Diga!
EMPREGADO#1 – O período da seca
está chegando e o prejuízo é maior do que pensávamos.
GABRIEL – Pois não fiquem
preocupados com isso... Vou me reunir com Cristina, vou ver se podemos fechar
uma parceria. Caso ela aceite já sei o que fazer. Ah, e eu vou pagar as horas
extras que vocês precisarem utilizar para construir o muro.
EMPREGADO#2 – Não seria melhor
esperar a chegada dos italianos, Dr.? Tá todo mundo dizendo que eles vão ser os
novos escravos da terra. E vosso falecido pai foi um importante barão, se isso
realmente acontecer, o Dr. Vai ter que adotar a escravidão nova.
GABRIEL – Eu não
aceitarei... Não vou permitir que mais uma vez seres humanos sejam tratados
como bichos... Em nossa fazenda só haverá trabalho justo. Pagaremos pelo
trabalho. Não vamos ser como o Barão de Leroy quer que nós sejamos! Vamos à
Luta! A nossa fazenda não vai parar por conta de um maldito barão falido!
FOCA no olhar
confiante do Gabriel. CORTA PARA/
CENA
03/ STOCK-SHOTS/ EXT./ MONTE VELHO.
Sonoplastia: A PARTIR
DE HOY – MARCO DI MAURO feat. MAITE PERRONI
TAKES DO AMANHECER EM
MONTE VELHO. PESSOAS ABRINDO SUAS LOJAS. OUTRAS INDO E VINDO. PADARIAS ABRINDO
AS PORTAS. TAKE FINAL NA FACHADA DA FAZENDA DA FAMÍLIA ZAPATTA. CORTA
PARA/
CENA
04/ FAZENDA DOS ZAPATTA/ DIA/ INT./ SALA DE JANTAR.
Gabriel, vestido
com um terno preto, sentado à mesa tomando café. Adelina, a empregada, em pé ao
lado dele. BATIDAS NA PORTA.
GABRIEL – Deve ser
Cristina... Atenda e peça que ela entre, por favor, Adelina.
ADELINA – Claro, Dr.
Gabriel!
Adelina vai em
direção à sala. Gabriel continua a tomar seu café. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA
05/ FAZENDA DOS ZAPATTA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Cristina, de pé,
frente a Gabriel. Eles se abraçam felizes.
GABRIEL – Mas quanto tempo
que não nos vemos, Cristina. Vejo que está muito mais madura. Estou certo?
CRISTINA – Creio que sim!
(sorri) Como é bom poder te ver de novo!
Os dois ficam se
encarando. TEMPO.
GABRIEL – Ah, perdoe-me o
mau jeito, sente-se!
Cristina se senta.
Ele se senta a frente dela.
CRISTINA – Vim o mais rápido
que pude. Um de seus empregados me avisou que queria falar comigo. O que houve?
GABRIEL – Não sei se sabe,
mas sofri um ataque muito cruel dos capangas da fazenda do Barão Afonso.
CRISTINA – (indignada) Não me
diga? E que tipo de ataque foi esse?
GABRIEL – Passaram por trás
da fazenda e colocaram fogo nas minhas plantações de café. Quando cheguei logo
me deparei com as contas de minha família afundadas em um poço sem fim.
CRISTINA – Já em minha
fazenda os problemas são outros.
GABRIEL – Quais?
CRISTINA – Desde que meus
pais morrerão deixei a fazenda nas mãos de meu marido, mas estamos nos
separando.
GABRIEL – Vai se separar?
Não acha ousado demais? Não quero nem pensar no que a sociedade diria de uma
mulher separada.
CRISTINA – Isto é o que menos
me importa agora. O que quero é vender a minha fazenda... Chega... Não dá mais
para seguir com uma coisa que não me faz bem, e pior, não me trás tanto lucro.
GABRIEL – Não! Não faça
isso! Vender uma fazenda em períodos difíceis é trocar o certo pelo duvidoso.
CRISTINA – Não tenho opção,
Gabriel. Não sou um mestre dos negócios como meu pai foi.
Adelina chega à
sala com uma xícara de café para Cristina/
CRISTINA – (cont./ a Adelina)
Obrigada!
Adelina se retira.
GABRIEL – Pois então... Pedi
que você viesse aqui, pois tenho uma solução para os nossos problemas.
CRISTINA – (hesita) Solução?
GABRIEL – Sim! Veja bem...
Estudei anos e anos de minha vida para me tornar um empresário de sucesso...
Voltei agora e você me diz que sua fazenda não anda bem nos negócios. Se
juntássemos a minha administração com a qualidade que você tem em seu cafezal,
com toda certeza lucraríamos muito. E quando o meu cafezal estiver
completamente replantado, teríamos lucros dobrados.
CRISTINA – Você está me
propondo uma união. É isso?
GABRIEL – Exatamente!
Cristina se levanta,
anda pelo local, se vira para Gabriel, que também levanta, e estende a mão.
CRISTINA – Pois então
aceito... Não venderei a fazenda!
GABRIEL – (feliz) Não irá se
arrepender. Tenha certeza disso!
Gabriel sorri e
aperta a mão de Cristina. CORTA PARA/
CENA
06/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Comandante com o
revólver apontado para todos. Lorenzo dá um passo à frente, chegando perto do
ouvido dele.
LORENZO – (sussurra) Per
favore, pense bem! Imagina o luxo que você non terá se me poupar... Irá comigo
para o Brasil e claro morar na mansão de mio primo. Nada mal, non?
COMANDANTE – Você non vai
conseguir me comprar, Lorenzo Leroy. Non vai! Anda... Se afasta daqui ou tomará
um tiro no meio da testa!
LORENZO – Tudo bem. Io non
quero te comprar, mas pense bem! É a única coisa que te peço. Você vai se dar
mal quando chegar no Brasil. Eles já vão estar te esperando. Você terá que
passar o resto de tua vida na cadeia.
COMANDANTE – Io non me importo!
Non me importo se serei preso, se ficarei solto. O que io quero agora é fazer o
que quero fazer. Custe o que custar!
SILÊNCIO.
Comandante olha fixamente para Helena. Vicente a parte sem entender. Helena
receosa, respirando ofegante.
HELENA – Por que está me
olhando?
COMANDANTE – Ainda non tinha
percebido toda essa sua beleza, ragazza. Agora entendo porque dois rapazes
brigam por você!
VICENTE – Você non fazer
nada com ela!
COMANDANTE – (grita) CALA A
SUA BOCA!
Comandante aponta
a arma para Vicente, e vai se aproximando de Helena. Ele passa a mão no rosto dela
carinhosamente, em silêncio.
COMANDANTE – (CONT.) Você vem
comigo...
Comandante a pega
pelo braço e vai levando-a. Helena grita. Vicente tentando ir atrás, mas sendo
segurado pela mãe. Valter chora desesperadamente.
GERMANA – (chorando) Dio...
Io non vou agüentar perder mais uma filha!
Helena e
Comandante entram. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA
07/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
Comandante entra e
joga Helena contra parede. Sonoplastia tensa. Ele se aproxima e rasga a roupa
dela. Helena completamente nua, logo tampa os seios com o braço. Ele fazendo
gestos sexuais com a boca. Logo vai tirando sua roupa. Helena ofegante, com
medo.
HELENA – Io imploro! Non
faça nada comigo!
COMANDANTE – Io juro que non
vai doer em nada!
O Comandante se
aproxima dela. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA
08/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Vicente nervoso.
Chiara segurando-o forte. Valter chorando e Germana o abraçando.
VICENTE – Me solte, madre.
Io preciso salvar Helena!
Chiara o solta.
Vicente vai em direção a Valter. Germana se afasta. CAM vem rasteira, mostrando
Vicente e Valter debaixo para cima.
VICENTE – (a Valter) Pegue a
arma... Io vou enfrentar questo maledetto!
Valter sai
disfarçadamente. Vicente continua no local.
Corte descontínuo:
CAM
rasteira. Vicente parado. Valter chega perto de Vicente e entrega
disfarçadamente o revólver nas mãos dele. CAM ergue. Vicente coloca o revólver
na calça e se aproxima da porta da sala de comando. FOCA em Vicente decidido. CORTA
PARA/
CENA
09/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
Helena gritando de
dor. Comandante gemendo de prazer. CAM abaixa e vê o revólver caído no chão.
Vicente arromba a porta e aponta a arma para o Comandante, que larga Helena e
logo veste sua calça. Helena nua, arranhada, tampando os seios a parte. Chora
muito.
VICENTE – Deixe minha mulher
em paz! Ou senão io te mato agora aqui, maledetto!
COMANDANTE – (ri)
Impressionante. O mesmo gênio de tuo padre. Parece que estou vendo ele em minha
frente. Non sabe como me dá gosto em ver tuo filho, tuo sagrado filho quase
morto por mim. Matteo... Você perdeu mais uma vez!
VICENTE – Você é sujo. Io
tenho pena de você! Pena desse mau caráter que você é!
O Comandante se
abaixa rapidamente e pega o revólver no chão, aponta na cabeça de Helena, que
grita e chora.
COMANDANTE – Solta essa arma!
Io estou mandando... Solta essa arma!
Vicente deixa o
revólver no chão e ergue os braços.
COMANDANTE – (cont.) Pois agora
estão os dois nas minhas mãos. Quem vai ir primeiro?
Closes alternados.
CORTA PARA/
CENA
10/ MATA/ DIA/ EXT.
Maria Tereza à
frente de vários capangas. Todos armados. Uns com facões, outros com revólver.
M. TEREZA – Foi aqui que
encontramos ele da última vez. Pode ser que ele tenha se escondido aqui de
novo.
CAPANGA#1 – Me desculpe dizer,
dona Maria Tereza. Mas eu acho que o irmão do Barão não vai ta aqui não. Ele
não ia ser burro de esconder no mesmo lugar que se escondeu da última vez.
M. TEREZA – Você pode ter
razão. Mas eu ainda acho que ele não foi tão longe. Vamos continuar procurando.
Eles continuam
andando, adentrando mais ainda. Maria Tereza olha para o chão e vê um casaco
encardido e velho no chão. Ela abaixa e pega.
M. TEREZA – (olhando para o
casaco) Estamos bem perto! Esse é o casaco dele. Estamos perto de encontrar o
canalha do Domingos.
Eles continuam
andando. CORTA PARA/
CENA
11/ NAVIO/ DIA/ INT./ SALA DE COMANDO.
Eles se encarando.
Comandante ainda com a arma na cabeça de Helena.
COMANDANTE – Io vou te dar a
última chance de continuar vivo... Saindo daqui!
VICENTE – Pois fique sabendo
que io sou homem de verdade, e que non vou deixar Helena sozinha.
COMANDANTE – Ragazzo... Escuta
o que estou lhe falando. É uma oportunidade de você continuar vivo e ela
também.
VICENTE – Non... Io non vou
largar Helena sozinha!
CORTE RÁPIDO PARA/
CENA
12/ NAVIO/ DIA/ INT./ CAPELA.
Lorenzo entra no
local. Sonoplastia dramática. Olhar pesado. Vários santos na frente. Uma
imagem ampla de São Francisco de Assis à frente. Lorenzo se ajoelha frente ao
santo. Uma vela ao lado, com uma caixa de fósforo. Ele olha para o lado, acende
a vela e coloca em pé.
LORENZ0 – Dio Santo... São
Francisco de Assis... Perdoname... Perdoname por tudo que fiz. Apenas agora
passando por isso io sei... Io sei que fiz tudo errado, que fui contra todos.
Io non merece viver!
CAM gira em volta
de Lorenzo, ajoelhado e olhos fechados. Desce uma lágrima de seu olho. CORTA
PARA/
CENA
13/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Chiara chorando
desesperada, chega perto de Valter, que dá um abraço nela. Germana, cara
fechada, a parte.
CHIARA – Io estou com muito
medo, Valter. Estou com medo de perder mio Vicente... Mio único tesouro!
VALTER – (chorando) Io
também tenho medo... Medo de perder Helena. Já non sei o que fazer.
CHIARA – Se mio filho
morrer, eu non vou agüentar. Io morro junto, Valter.
VALTER – Io non tenho mais
esperanzas! Acho que todos vão morrer! Todos nós!
Os dois ainda
abraçados. FOCA neles. CORTA PARA/
CENA
14/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ ESCRITÓRIO DE LUZIA.
Luzia sentada em
sua cadeira tomando uma taça cheia de vinho. BATIDAS NA PORTA.
LUZIA – Entre!
Raquel entra no
local e se senta na cadeira a frente de Luzia.
LUZIA – (mostrando o
vinho) Aceita?
RAQUEL – Não, obrigada. Não
estou mais bebendo! Vim o mais rápido que pude. Me falaram que você queria
conversar comigo.
LUZIA – Sim, mas não é
algo tão sério. Não precisava vir correndo.
RAQUEL – É algo comigo? Vai
me demitir?
LUZIA – Não. Muito pelo
contrário! Bom, na verdade... Lembra que eu te disse que tinha uma irmã que morava
aqui em Monte Velho?
RAQUEL – Claro, claro. Me
lembro inclusive do nome. Maria Tereza, não é?
LUZIA – Isso mesmo. Só que
eu esqueci de te falar que Maria Tereza trabalha para o Barão Afonso, aquele
que teve uma noite com você.
RAQUEL – Mas em que isso
muda?
LUZIA – Maria Tereza
trabalha anos e anos com Afonso e por isso acabou nutrindo uma paixão doentia
por ele. Há muitos anos atrás, eu tive que ir embora, pois Afonso queria se
casar comigo e Maria Tereza estava a ponto do suicídio.
RAQUEL – Então isso não é
amor. Isso é doença! É obsessão.
LUZIA – O problema é que
ela descobriu que uma de nós teve uma noite de sexo com Afonso e ela quer saber
quem é essa mulher de qualquer jeito.
RAQUEL – (com medo) Ai meu
Deus. E agora? O que eu faço?
LUZIA – Calma. Também não
é assim. Não precisa se preocupar! Mas quero que você fique de olho aberto. Ela
vai te procurar. Pois negue.... Negue até a morte que esteve com Afonso. Apesar
de não querer nada com ela, Afonso sabe da loucura da minha irmã e nunca vai
revelar a identidade de suas amantes.
Raquel logo se
levanta.
RAQUEL – Farei o que me
pede, mas tenha total certeza. Nunca mais me deito com esse velho nojento.
Nunca mais!
Raquel sai do
local. FOCA em Luzia pensativa. CORTA PARA/
CENA
15/ MONTE VELHO/ EXT.
Sonoplastia: AMOR SEM
MEDIDAS – Matheus e Kauan
TAKES DO AMANHECER.
PESSOAS INDO PARA SEUS TRABALHOS. AUTOMÓVEIS DA ÉPOCA CIRCULANDO, JUNTOS AS
CARROÇAS. TAKE FINAL NA FACHADA A MANSÃO DE CRISTINA. CORTA PARA/
MÚSICA CESSA AQUI;
CENA
16/ MANSÃO DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE JANTAR.
Mesa farta.
Cristina sentada na ponta da mesa. Seus funcionários distribuídos na mesa.
FUNCIONÁRIO#1 – (colocando
manteiga no pão) Agradecido, patroa. Mas, que mal a pergunte, por que a senhora
ta deixando a gente comer aqui? Justamente na mesa!
CRISTINA – Porque foi assim
que eu vivi grande parte da minha vida. Meu pai lutou muito... Lutou muito para
chegar onde hoje estou. Já choramos sangue, já sofremos muito mesmo. Não nasci
em berço de ouro. Sou como vocês. Apenas uma pobre mulher que apesar de ter
dinheiro continua pobre. Mas na verdade eu tenho uma coisa muito importante pra
dizer e por isso os reuni todos aqui.
FUNCIONÁRIO#2 – (com a boca cheia
de queijo) Então diga, dona Cristina!
CRISTINA – Eu andei
conversando com o Dr. Gabriel Zapata e tomei uma decisão... Não vou mais vender
a fazenda. Não vou destruir o que o meu pai tanto lutou para construir! A
fazenda continua firme, forte e viva!
Todos aplaudem.
Cristina se emociona e chora. CORTA PARA/
CENA
17/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Afonso lendo um
livro. Maria Tereza desce as escadas com um casaco na mão.
AFONSO – (hesita) O que é
isso?
M. TEREZA – Encontramos o
casaco de Domingos na mata... Os capangas já acordaram cedo pra procurá-lo.
AFONSO – Então quer dizer
que meu irmãozinho está bem mais perto do que imaginávamos.
M. TEREZA – Sim! Domingos foi
mais burro do que nunca e seguiu do mesmo caminho que fez da última vez que
fugiu.
AFONSO – Dessa vez ele não
escapa.
FOCA no olhar
carregado de Afonso. CORTA PARA/
CENA
18/ NAVIO/ DIA/ INT./ PARTE DE CIMA DA EMBARCAÇÃO.
Todos acordados.
Uns carregando caixas e outros descascando frutas em uma mesa imensa. Helena
aparece subindo do porão. Ela observa a todos. Olha para o lado e vê uma mulher
deitada de longe. Helena vai se aproximando e abaixa ao lado da mulher.
HELENA – Ei... Levanta-se.
O dia está lindo! Temos que aproveitar. Non sabemos o que vai acontecer com a
gente.
A mulher não
responde. Helena a cutuca. A mulher continua sem responder. Helena vira ela e
vê a mulher com a boca cheia de espuma.
HELENA – (assustada) Dio
santo... Essa mulher está morta... Ela foi envenenada! Dio tenha piedade de
nós, per favore!
Helena começa a
chorar em cima da mulher. CAM do alto mostrando a cena. Sonoplastia dramática.
CORTA PARA/
OUTRO LADO DO
NAVIO/ Corte descontínuo – Helena e Vicente frente a frente. Ela bem abatida.
VICENTE – Non fica assim,
Helena. O que aconteceu non vai mudar em nada entre a gente.
HELENA – Io sei, Vicente.
Mas estou preocupada. Hoje o Comandante nos deixou descansar, mas esses dias
foram muito cansativos. Foram tristes... Acabei de ver uma mulher morta,
envenenada.
VICENTE – Dio santo...
Quando isso vai acabar?
HELENA – Quando um de nós
tomarmos coragem e matarmos esse maledetto comandante.
Vicente coloca a
mão no rosto de Helena carinhosamente. Os dois se encaram. Helena se entregando
aos poucos.
VICENTE – Io non quero
pensar em mais nada. Io quero é amar você, Helena. Sem pensar em nada!
Sonoplastia: NO SOY
EL AIRE – Thalía
Os dois vão se
aproximando ainda mais e se beijam apaixonadamente. CAM fixando de todos os
ângulos, formando 360 graus em volta deles.
A MÚSICA CESSA AQUI;
Lorenzo aparece e
aplaude. Vicente logo se afasta de Helena.
LORENZO – Então quer dizer
que é isso... Io me esforçando para ser o melhor homem. Me arrependendo de mios
pecados e você faz isso comigo?!
HELENA – Perdoname,
Lorenzo, mas io non te amo mais/
Lorenzo interrompe
Helena com um tapa na cara dela. Vicente pega Lorenzo pelo pescoço, quase o
enforcando.
VICENTE – Nunca mais...
Nunca mais ouse em tocar essas suas mãos imundas em Helena. Nunca mais!
Vicente solta-o.
Helena firma frente a Lorenzo.
HELENA – Io non me importo.
Pode me dar todos os tapas possíveis e nada vai mudar o que io sinto por
Vicente. Nada vai mudar!
LORENZO – Traidora...
Traidora... Você me traiu, Helena. Traiu quem sempre te deu apoio!
HELENA – Io non posso trair
meu coração, Lorenzo. Io estaria te traindo se ficasse com você!
LORENZO – Io non me
importaria. Só tendo você do meu lado seria ótimo para mim!
HELENA – Io amo Vicente e
nós vamos ficar juntos!
Vicente abraça
Helena. Lorenzo observando. CORTA PARA/
CENA
19/ MONTE VELHO/ EXT.
TAKES DO ANOITECER.
SONOPLASTIA DENSA. PESSOAS FECHANDO SUAS LOJAS. TAKE FINAL NA
FACHADA DO MONTE PRAZER. PESSOAS ENTRANDO NO LOCAL. CORTA PARA/
CENA
20/ MONTE PRAZER/ NOITE/ INT./ SALÃO.
Maria Tereza entra
disfarçadamente e se esconde atrás da escada.
M. TEREZA – A única loira do
Monte Prazer... Quem será essa loira?!
Raquel entra
deslumbrante, deixa sua bolsa cair, vira para trás, abaixa e pega. Maria Tereza
olha para ela e se assusta. FLASHS de uma menina de 3 anos sendo entregue por
Maria Tereza a Luzia. Maria Tereza desesperada. Chora muito.
M. TEREZA – É Raquel! É minha
filha! Raquel é a amante de Afonso! A minha filha é amante do próprio pai!
FOCA em Maria
Tereza espantada.
EFEITO FINAL: CONGELA EM MARIA
TEREZA CHORANDO.
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