segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Capítulo 11: Terra Livre









CENA 1/ HOSPITAL/ NOITE/ INT./ QUARTO.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior;
A enfermeira entra no local. Maria Tereza se assusta. A enfermeira olha desconfiada para ela.
ENFERMEIRA – O que está fazendo aqui? O horário de visitas já terminou!
M. TEREZA – Perdoe-me! Vim dar uma força para minha amiga... Estava muito preocupada, mas isso não vai mais se repetir. Eu prometo!
ENFERMEIRA – Está bem!
M. TEREZA – Acho melhor eu me retirar. Com licença!
Maria Tereza sai do local. A enfermeira fica sem entender. Helena amedrontada. CORTA PARA/
CENA 2/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Maria Tereza entra. Afonso sentado em sua poltrona em silêncio.
AFONSO – Demorou!
M. TEREZA – Que susto! Não sabia que você estava aí!
AFONSO – Preciso conversar com você!
M. TEREZA – Amanhã conversamos... Estou exausta/
AFONSO – (corta/ GRITA) AGORA!
M. TEREZA – Está bem! Pois então me diga o que quer!
Afonso se levanta e fica a frente de Maria Tereza. Ele dá um tapa em sua face.
AFONSO – Burra! Idiota!
M. TEREZA – (com a mão no rosto) O que eu fiz?
AFONSO – Está colocando tudo a perder... Perdeu o controle, o limite de sanidade! Tentou matar Helena... Justo Helena, Maria Tereza.
M. TEREZA – Justo Helena?! Afonso... Só você não consegue enxergar. Essa mulher pode colocar tudo a perder. Essa vontade de revolução que ela tem vai nos deixar no fundo do poço!
AFONSO – Quem não consegue enxergar aqui é você! Precisamos de Helena do nosso lado, e você é tão burra que não vê!
M. TEREZA – Enquanto essa mulher estiver viva... Teremos uma pedra em nosso caminho! Ela precisa morrer...
Afonso pega Maria Tereza pelo braço, possesso de raiva.
AFONSO – Escuta aqui! Se você fizer mais alguma coisa contra Helena ou contra qualquer que seja, quem vai morrer aqui é você!
Afonso a solta. Ela o encara e sobe as escadas. CORTA PARA/
CENA 3/ MANSÃO DE AFONSO/ NOITE/ EXT./ FACHADA.
Tudo escuro. Domingos aparece. CAM gira em 360 graus em volta dele.
DOMINGOS – Afonso Leroy... Afonso Leroy!
FOCA em Domingos. CORTA PARA/
CENA 4/ SENZALA/ NOITE/ INT./ SALA.
Vicente come uma banana sentado no sofá, aflito. Chiara ao seu lado.
VICENTE – As minhas coisas já estão prontas! Partirei amanhã!
CHIARA – Tem certeza que é isso mesmo que você quer, meu filho?
VICENTE – É o que mais quero, mãe. Meu pai... Matteo Fragnani, me ensinou há alguns anos atrás que eu nunca deveria abaixar a minha cabeça para outro homem... Seja ele quem quer que seja. Eu não vou abaixar a cabeça para esse Barão! Não vou!
CHIARA – Se é essa a sua escolha... Eu apoio e irei com você!
VICENTE – Obrigado, mãe. Obrigado pelo apoio!
Os dois se abraçam. CORTA PARA/
CENA 5/ STOCK SHOTS/ EXT.
TAKES DO AMANHECER EM MONTE VELHO. PESSOAS ABRINDO SUAS LOJAS. TAKE FINAL NA FACHADA DO HOSPITAL. CORTA PARA/
CENA 6/ HOSPITAL/ DIA/ INT./ QUARTO.
Vicente bate na porta do local, que já está aberta, entra e fica ao lado de Helena.
VICENTE – E aí? Como foi sua noite?
HELENA – Mais ou menos.
VICENTE – Por quê? Aconteceu alguma coisa?
HELENA – Maria Tereza!
VICENTE – O que tem ela?
HELENA – A desgraçada invadiu meu quarto ontem... Veio terminar o serviço!
VICENTE – (indignado) Nós vamos precisar tomar muito cuidado, Helena. Muito cuidado! Sairei hoje da fazenda. Minha mãe irá junto!
HELENA – Pode contar comigo... Irei junto! Não quero ficar mais um segundo sequer naquela fazenda.
Vicente beija a testa de Helena, preocupado. CORTA PARA/
CENA 7/ MONTE PRAZER/ DIA/ INT./ ESCRITÓRIO.
Luzia fazendo contas. Maria Tereza entra, calma.
LUZIA – O que você está fazendo aqui? Pensei que já tínhamos conversado tudo o que tínhamos pra conversar há alguns meses atrás!
M. TEREZA – Conversar sim, mas não entramos em um acordo, irmãzinha querida.
LUZIA – Não terá acordo nenhum, Maria Tereza. Será que você não consegue enxergar isso?! Você não criou Raquel... Eu não vou contar nada pra ela!
M. TEREZA – Eu não criei Raquel porque você nunca me deixou assumir o meu papel de mãe. Imagina o que Raquel não vai pensar de você se souber que você não deixou ela conhecer a verdadeira mãe e ainda obrigou ela a fazer trabalho sexual. Parece que não sou eu o monstro dessa história toda.
Luzia dá um tapa na cara de Maria Tereza, que retribui com outro.
LUZIA – Eu tenho nojo de você! Nojo!
M. TEREZA – Eu te darei um mês para contar sua versão da história e dizer que sou mãe de Raquel... Senão eu contarei a minha versão e aí você nunca mais vai vê-la! Passar bem!
Maria Tereza se retira. Luzia fica preocupada.
LUZIA – Raquel precisa sair da cidade... Urgentemente!
FOCA em Luzia pensando. CORTA PARA/
CENA 8/ HOSPITAL/ DIA/ INT./ QUARTO.
Helena deitada na cama. Vicente ao lado. O médico entra no local.
MÉDICO – Trago boas notícias!
HELENA – É o que mais estou precisando!
MÉDICO – A senhorita estará de alta ainda hoje!
HELENA – Graças a Deus... Já não agüentava mais. Obrigada, doutor!
VICENTE – Viu, Helena. As coisas estão começando a dar certo para nós!
Os dois se encaram. CORTA PARA/
CENA 9/ CAFEZAL/ DIA/ EXT.
Germana colhendo café e colocando em uma cesta. Afonso aparece silenciosamente e observa. Ela percebe sua presença.
AFONSO – Vejo que está bem empenhada, dona Germana. É assim que gosto de vê meus empregados!
GERMANA – Sim, Barão. Faço da melhor forma possível.
AFONSO – Fico feliz! Mas enfim... Vim até aqui com outro propósito! Preciso conversar com a senhora.
GERMANA – Nossa, e a que lhe devo a honra?!
AFONSO – É a respeito de sua filha... Helena! Quero me casar com ela!
Germana fica espantada. Afonso com um leve sorriso cínico no rosto.
GERMANA – Nunca poderia imaginar que o senhor iria querer se casar com minha filha.
AFONSO – Mas não quero isso a troco de nada... Darei a senhora e ao seu marido uma casa mobiliada na cidade, além de um dinheiro como dote. A senhora aceita?!
Germana estende as mãos. Afonso também, e os dois apertam um a mão do outro.
GERMANA – Claro! Claro que eu aceito!
AFONSO – Pois então fechado... Assinaremos um acordo e logo marcarei a data de nosso casamento!
Germana com os olhos brilhando. Afonso cínico. Closes alternados. CORTA PARA/
CENA 10/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Cristina lendo um livro sentada no sofá. BATIDAS NA PORTA. Ela vai atender. É Gabriel.
CRISTINA – (espantada) Gabriel?!
GABRIEL – Posso entrar?
CRISTINA – É claro!
Gabriel entra. Os dois ficam de frente um para o outro no meio da sala.
GABRIEL – Vim te pedir desculpas.
CRISTINA – Desculpas?! Pelo que?!
GABRIEL – Pelo beijo que te dei! Sei que foi errado!
CRISTINA – (ri) Não tem motivo para pedir desculpas. Eu nunca pensei que diria isso, mas... Mas eu estou completamente apaixonada por você, Gabriel.
Gabriel se assusta, mas pega na mão de Cristina e olha dentro de seus olhos.
GABRIEL – Eu também estou louco de amor por você, Cristina... É em você que eu penso todos os dias.
Eles se aproximam e se beijam apaixonadamente. BATIDAS NA PORTA. Eles se afastam.
CRISTINA – Quem será?!
Cristina abre a porta. É Vicente, desesperado.
CRISTINA – Olá!
VICENTE – Bom dia, dona Cristina. Eu sou da fazenda do Barão Afonso. Me chamo Vicente, mas passei por alguns problemas graves por lá e queria saber se a senhora aceitaria a mim e mais duas mulheres aqui!
CRISTINA – Mas é claro! Aqui todos são sempre bem vindos! Entre!
Vicente entra. Cumprimenta Gabriel. Todos se sentam no sofá.
GABRIEL – Seja bem-vindo, rapaz.
VICENTE – Obrigado!
GABRIEL – Mas o que aconteceu pra você largar a fazenda do Barão?
VICENTE – Humilhação, preconceito e muitas outras coisas.
CRISTINA – Isso já era de se esperar!
GABRIEL – Afonso já colocou fogo no meu cafezal. Tive que me juntar a Cristina para voltarmos a crescer. E insatisfeito ele tentou colocar fogo na fazenda de Cristina!
VICENTE – (indignado) MONSTRO! Ele é um monstro! Eu não posso deixar minha mulher mais um segundo naquela fazenda... Me perdoem, mas vou buscá-la!
Vicente sai correndo, assustado. Cristina e Gabriel se encaram preocupados. CORTA PARA/
CENA 11/ SENZALA/ DIA/ EXT./ VARANDA.
Valter fuma no portão. Germana chega animada e fica ao seu lado.
VALTER – Posso saber que cara é essa de felicidade?!
GERMANA – É claro, marido. Consegui fazer o que sempre quis.
VALTER – E o que é que você sempre quis?!
GERMANA – O Barão me fez uma proposta... Ele quer se casar com Helena. E eu permiti e aceitei.
VALTER – (nervoso) E você vendeu sua própria filha, Germana? Você está louca! Louca!
Valter entra para a senzala. Chiara assustada atrás da porta. CORTA PARA/
CENA 12/ STOCK SHOTS/ DIA.
TAKES DE FLORIANÓPOLIS. TAKE FINAL NA FACHADA DE UM HOSPITAL. CORTA PARA/
CENA 13/ HOSPITAL DE FLORIANÓPOLIS/ DIA/ INT./ CONSULTÓRIO.
A empregada em frente ao médico que analisa alguns exames. Ambos preocupados.
EMPREGADA – E aí, doutor? O que os exames dizem?
MÉDICO – O senhor Rubens não tem muito tempo de vida. Precisa ver o filho... Ele está esperando isso para partir.
EMPREGADA – (chorando) Como eu vou conseguir trazer o filho dele aqui?! Eles são inimigos, doutor. Afonso detesta o pai.
MÉDICO – Infelizmente não sei. Mas nós estamos alertando... Senhor Rubens não viverá mais que 1 mês.
FOCA na empregada preocupada. CORTA PARA/
CENA 14/ SENZALA/ DIA/ INT./ COZINHA.
Chiara limpando louça. Vicente entra e pega água no filtro.
VICENTE – Está preocupada com alguma coisa, mãe? O que houve?
CHIARA – Escutei uma coisa que me deixou indignada, meu filho.
VICENTE – E que coisa é essa?
CHIARA – Germana vendeu Helena para o Barão... Eles terão que se casar!
Vicente fica assustado. CAM FOCA em seu rosto, com sua respiração alterada.
VICENTE – Helena não pode voltar a morar aqui, mãe. Eu não posso deixar!
FOCA em Vicente, decidido. CORTA PARA/
CENA 15/ HOSPITAL/ DIA/ INT./ QUARTO.
Vicente entra no local. Helena já sentada na cama.
HELENA – Já recebi alta, Vicente. O médico já fez os últimos exames e estou ótima.
VICENTE – Que bom!
HELENA – Está ofegante, suando. O que aconteceu?
VICENTE – Sua mãe, Helena. Sua mãe a vendeu para o Barão... Você terá que se casar com ele. Nós precisamos fugir.
Helena fica apavorada, levanta-se da cama e vai em direção a porta.
HELENA – (nervosa) Ela não pode ter feito isso comigo... Minha própria mãe me traiu!
VICENTE – Nós vamos ter que ir embora daqui, Helena. Vamos fugir agora... Eu já trouxe o cavalo. Nós vamos ir e depois eu pedirei ajuda a dona Cristina.
HELENA – Então vamos logo!
Helena e Vicente saem do local rapidamente. CORTA PARA/
CENA 16/ HOSPITAL/ DIA/ EXT.
Vicente e Helena saem do local. Helena debilitada. Um cavalo a frente. Vicente a coloca sentada no cavalo e os dois seguem. CORTA PARA/
CENA 17/ BARRACO/ DIA/ INT.
Vicente e Helena entram juntos. O local é simples. Uma cama de casal no centro, e uma entrada para o banheiro.
VICENTE – Nós vamos ter que ficar aqui... Pelo menos até tudo se acertar. A dona Cristina vai nos ajudar, eu tenho certeza.
HELENA – Dona Cristina é aquela da fazenda ao lado?
VICENTE – Sim... Ela está disposta a nos aceitar lá.
HELENA – Graças a Deus.
VICENTE – O que não podemos é deixar que sua mãe assina um acordo com o Barão, senão estamos perdidos! Eu vou voltar até a cidade pra vê se resolvo alguma coisa e já volto. Fica quietinha aí!
Vicente dá um beijo em Helena e sai em seguida. CORTA PARA/
CENA 18/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Vicente entra no local, nervoso. Cristina e Gabriel sentados no sofá.
CRISTINA – Você está tão nervoso. Deu alguma coisa errado?
VICENTE – Sim, dona Cristina. A mãe de Helena a vendeu para o Barão... Ele quer se casar com ela a qualquer custo e eu já não sei mais o que fazer.
GABRIEL – Calma... Existe uma solução.
VICENTE – Que solução?!
GABRIEL – Encontrar Domingos, irmão de Afonso. Desde que eu era pequeno já sabia da briga entre os dois. Somente Domingos seria capaz de colocar Afonso na cadeia, e assim você conseguiria se livrar dele.
VICENTE – Pois então eu vou encontrar esse Domingos... Nem que para isso eu precise ir até o inferno!

EFEITO FINAL: VICENTE DECIDIDO

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