Cena 01.
Livraria Dom Casmurro/ Salão de Vendas/ Interior/ Dia.
Continuação
do capítulo anterior. Téo desliga o celular e olha para Eva, que está chorando.
Eva
(chorando) – Não tem mais jeito, ele morreu...
CAM LENTA:
Eva deixa cair uma lágrima sobre Ângelo.
Nesse
instante vários funcionários chegam ao local, inclusive Tamara.
Tamara
(assustada) – É o magnata Ângelo Salles.
Eva
(chorando) – Tamara... Liga pra polícia e pra família dele.
Tamara – É pra já!
Tamara sai.
Eva (se
levantando) – Busca um lençol pra cobrir o corpo, Téo, por favor.
Téo – Mas é
claro.
Eva se
levanta e sai junto com Téo.
Close no
corpo de Ângelo, no chão.
Corta para:
Cena 02.
Casa de Edu/ Cozinha/ Interior/ Dia.
Julieta,
César e Lucído estão tomando café.
Julieta – Ontem eu
fui ao cruzeiro buscar nosso filho César.
César – Por quê?
Julieta – Ele tá de
namorico com aquela filha da Fernanda. Você sabe que sou contra. Fui lá e disse
umas poucas e boas praquela menina.
César – Deixa de
ser desaforada Juju. Você não pode se meter assim na vida do nosso filho.
Julieta – Enquanto
ele morar debaixo do meu teto, comer da minha comida e vestir as roupas que eu
patrocino, vai ser do meu jeito. E o meu jeito é esse, eu não quero que ele
namore a filha da quenga.
Lucído – Julieta, se
meter assim só piora a situação. Você tá apagando a fogueira com álcool.
César – Meu pai tem
razão Julieta. Você não pode ficar se metendo na relação dos dois. Assim você
só os desafia a ficarem juntos.
Julieta – Duvido.
Vamos ver quem vai ter razão no final.
Nesse
instante Eduardo chega e se senta a mesa.
Edu
(triste) – Bom dia.
Julieta (a
Eduardo) – Hoje tem curso?
Edu
(emburrado) – Uhum.
Julieta – E você vai?
Edu – Uhum.
Julieta
(nervosa) – Vai ficar de cara feia comigo até quando?
Edu a olha
e continua tomando café.
Julieta – Não espere
que eu peça desculpas. Eu estou fazendo isso pelo seu bem.
Lucído – Você é
muito controladora Julieta. Deixa meu neto em paz. Sendo desse jeito, você só o
distancia de você.
Julieta – Você criou
seu filho, agora deixe que eu crie o meu.
César – Não fala
assim com o papai.
Julieta – Eu sou
sempre a errada dessa casa né. Deixe-me ir para o quartinho, que tenho
atendimento agora cedo.
Julieta se
levanta e sai.
César (a
Eduardo) – Ei, liga pra sua mãe não. Você sabe que ela é
impulsiva desse jeito né?
Edu (meigo)
– Eu
só consigo suportar a mãe, porque tenho você e o vovô. Amo vocês demais.
César faz
carinho no filho.
Lucído – Não
querendo quebrar o clima, mas já quebrando, tá na sua hora César. Você sabe que
o Ângelo detesta atrasos.
César
(eufórico) – Tem razão pai. Vou nessa. Beijos e amo vocês.
César se
levanta e sai rapidamente.
Lucído – Liga o
computador pra mim. Preciso achar a minha Helena hoje.
Edu – O senhor
não cansa né vô? Há anos cheio de esperança.
Edu fica
triste.
Lucído – Não deixa a
sua mãe atrapalhar seu romance. Vá em busca do seu sonho. Você merece ser
feliz.
Edu sorri
para Lucído.
Corta para:
Cena 03. Mansão
Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Dia.
CAM
percorre o imenso jardim, repleto de flores e bancos.
Vitória
está sentada em um banco, com sua muleta ao lado, lendo revista VOGUE.
Nesse
instante Teresa chega.
Teresa – Com licença
dona Vitória. Mas tem uma moça querendo falar com a senhora.
Vitória – Que moça?
Teresa – Ela não
quis dizer o nome. Disse apenas que você a conhece bem.
Vitória – Diz que eu
não tô com tempo pra atender ninguém hoje. Manda voltar na outra semana.
Regininha
(chegando) – Não tem semana que vem porcaria nenhuma. Eu vou
falar com você hoje, ou prefere que eu faça um escândalo?
Vitória
fica assustada e Teresa percebe.
Corta
rápido para:
Cena 04.
Prefeitura/ Antessala/ Interior/ Dia.
Lui está
conversando com o cachorro Boticário.
Lui – Mas que
bafo né viado? Imagina só, o Ângelo tá morto. Ao menos foi o que todo mundo
comentou. Só Jesus na causa. Pra morrer basta estar vivo.
Boticário
fica imóvel olhando Lui.
Lui – Que tá me
olhando com essa cara de cachorro? Eu só disse a verdade. A próxima a fechar o
paletó, ir pra cidade dos pés junto, pode ser a senhora, tá?
Meg chega.
Meg – O
Boticário, diferentemente de você Lui, é macho com m de Meg. (a Boticário) – Vem com a mamãe vem.
Boticário
pula no colo de Meg.
Lui
(gritando) – Dona Méguiiiii.
Meg – Para de
gritar. Isso aqui é uma prefeitura. Não aqueles bares que você costuma
frequentar.
Lui – Sabia que o
Ângelo, ex da Vitória, bateu a caçoleta?
Meg
(perplexa) – Mentira bicha.
Lui – É verdade
verdadeira. Lá na Dom Casmurro. Dizem que tá o fervo aqui lá. Adoro!
Meg fica
paralisada.
Corta para:
Cena 05.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
A livraria
está de portas fechadas. Apenas os funcionários estão no local, entre eles:
Tamara, Téo e Eva.
Eva (a
Tamara) – Já era pra polícia ter chegado, ou algum familiar. Você
conseguiu entrar em contato com a família?
Tamara – Liguei pro
filho dele, o Miguel. Ele estava chegando à empresa e disse que viria na hora.
Eva caminha
em direção ao corpo de Ângelo, que está coberto por um lençol branco, se
ajoelha e começa a rezar.
CAM ALTERNA
ENTRE A CONVERSA DE Téo e Tamara e a imagem de Eva ajoelhada rezando próxima ao
corpo.
Tamara
(deboche) – Lá foi a boa samaritana interpretar seu papel de
Madre Tereza. Daqui a pouco ela ressuscita o finado.
Téo – Você é boba
Tamara. Ela só está tentando se acalmar. Rezar faz bem.
Tamara – Duvido que
seja isso. Ela tá querendo é bancar a heroína, a boazinha da história. Conheço
esse tipo de gente de longe.
Nesse
instante alguém bate a porta de entrada.
Téo – Eu atendo.
Téo abre a
porta e Miguel entra, chorando.
Miguel
(transtornado) – Cadê meu pai? Onde ele tá? Diz que é mentira... Diz
que é mentira, pelo amor de Deus.
Téo aponta
para a direção do corpo.
Miguel
corre até lá e se ajoelha perante o corpo do pai. Eva continua rezando.
Miguel
(gritando/ chorando) – Pai acorda, pelo amor de Deus. Anda, levanta
desse chão. Nós precisamos de você, a empresa precisa de você. Para de
brincadeira pai.
Miguel
começa a chorar compulsivamente e Eva o abraça.
Eva – Calma.
Acalma seu coração moço. Sua família vai precisar muito de você nesse momento.
Miguel vai
parando de chorar e olha nos olhos de Eva.
(Música “I’ll Try” – Allan Jackson)
Eva (meiga)
– Não
vai ser fácil daqui pra frente, mas tenta manter a calma, seu pai ainda
precisará de você para ser enterrado com dignidade.
Miguel e
Eva se olham calados. Os enfermeiros e a polícia chegam.
Policial – Deem licença
do corpo, por favor.
Eva e
Miguel se levantam e se afastam. Nesse instante dois enfermeiros chegam com uma
maca, colocam o corpo sobre ela.
Policial – Quem o viu
pela última vez com vida?
Eva – Eu.
Policial – Será que
podemos conversar?
Eva – Claro.
Vamos a minha sala.
Enfermeiro
(a Miguel) – Estamos levando o corpo para o IML, você pode nos
acompanhar?
Miguel faz
que sim com a cabeça.
Eva (a
Miguel) – Você tá bem? Precisa de ajuda?
Miguel
abraça forte Eva.
Miguel – Eu vou lá
resolver tudo. Obrigado!
Miguel sai
junto com os enfermeiros, que carregam o corpo de seu pai.
Corta para:
Cena 06. Mansão
Amadeu/ Escritório/ Interior/ Dia.
Vitória
está entrando no escritório, de muleta, acompanhada por Regininha.
Regininha
(fechando a porta) – Assim que eu gosto.
Vitória – Diz logo o
que te trouxe aqui. Tô sem tempo e sem paciência pra você.
Regininha –
Eu
não estou com pressa. Vim passar uma boa temporada aqui na cidade.
Vitória – Você não se
meta a besta comigo.
Regininha –
Eu
trouxe um presente comigo. Trouxe a minha tia Dama.
Vitória
(surpresa) – O que? A Dama está aqui com você?
Regininha –
Aqui
não. Ela tá muito bem escondida, porque sei do que você é capaz. Mas ela vai
vir morar aqui, na sua casa.
Vitória
(rindo) – Você deve estar louca Regininha.
Regininha –
Não
é brincadeira não. Eu estou dizendo a verdade. Dama irá morar aqui, irá
trabalhar aqui.
Vitória – E se eu não
aceitar? Vai fazer o que?
Regininha –
Eu
não sou mulher de meias palavras. Cão que ladra, não morde. Você sabe do que
sou capaz e de quais armas eu tenho para te destruir. Por isso, não meça força
comigo. Para de assunto e desocupe um quarto de empregados para a Dama.
Vitória
pega o telefone e disca um único número.
Vitória (ao
tel.) Vem aqui no escritório Teresa.
Vitória
desliga o telefone.
Regininha –
Inicialmente
também vou querer um dinheiro. Cinquenta mil reais, pra começar.
Vitória – Eu não
tenho essa quantia.
Regininha –
Se
vira.
Nesse
instante Teresa entra.
Teresa – Com
licença, pois não dona Vitória.
Vitória – Teresa,
ajeite um quarto de empregados próximo ao seu, eu contratei uma nova ajudante
pra você.
Teresa
(olhando para Regininha) – É esta moça?
Regininha –
Veja
lá se eu vou limpar chão de dondoca.
Vitória – É pra uma
conhecida. Agora já pode ir.
Teresa
(saindo) – Com licença!
Regininha –
Também
vou nessa. E nunca se esqueça de mim, amorzinho.
Regininha
vai embora.
Vitória
(irritada) – Inferno! Vou fazer essa garota voltar pra
garrafinha. Ah vou!
Corta para:
Cena 07.
Bairro Elevado/ Casa de Fernanda/ Rua/ Exterior/ Dia.
Edu está
sentado na calçada, em frente a casa de Malu. Ele está triste, pensativo. Até
que a menina sai.
Malu
(indignada) – Ah não, você aqui não.
Edu (se
levantando) – Malu deixa eu te explicar uma coisa.
Malu – Eu não
quero saber de nada Eduardo. Me esquece cara. Você preferiu viver debaixo da
asa da mamãezinha, não foi? Então fica lá. Eu cansei.
Edu – Me dá uma
última chance, por favor. Eu prometo que vou te fazer muito feliz.
Malu – última
chance. Se você voltar a ceder aos caprichos da sua mãe, eu juro que nunca mais
olho na sua cara.
Edu
(abraçando Malu) – Dona Julieta é coisa do passado meu amor.
(Música
“Relicário” – Nando Reis e Cassia Eller)
Edu e Malu
se beijam.
Corta para:
Cena 08.
Mansão Amadeu/ Sala de Ginástica/ Interior/ Dia.
Milena está
correndo na esteira, seu celular toca e ela então para de corre.
Alternância
de imagens entre a Sala de ginástica e A Recepção do IML, onde está Miguel.
Milena (ao
cel.) – Alô.
Miguel (ao
cel.) – Milena sou eu.
Milena (ao
cel.) – Aconteceu alguma coisa amor? Você tá estranho.
Miguel (ao
cel./ chorando) – Meu pai morreu. Tô desesperado, vem pra cá, por
favor!
Milena (ao
cel.) – Calma, eu vou sim. Onde você está?
Miguel (ao
cel.) – No IML. Estou aqui esperando a liberação do corpo dele. Vem pra
cá.
Milena (ao
cel.) – Tá, eu vou. Espera aí, não saia.
Milena
desliga o celular e sai correndo.
Corta para:
Imagens
aéreas da cidade.
Corta para:
Cena 09.
Livraria Dom Casmurro/ Gerência/ Interior/ Dia.
Eva e
Tamara estão sentadas conversando. Conversa já iniciada.
Eva – E foi isso
que eu disse a ele.
Tamara – Mas esse
policial achou que um de nós foi quem matou o Ângelo? Cara sem noção.
Eva – Nada disso,
Tamara. É o trabalho dele, estar a par das mortes que ocorrem fora dos
hospitais, ou até dentro deles, quando é de forma suspeita.
Tamara – Ah, menos
mal então.
Eva – Eu já
avisei o Lucas sobre o ocorrido. Mas como ele está no Rio, não poderá chegar a
tempo.
Tamara – Estamos
dispensados por hoje?
Eva – Sim. Vise o
pessoal que podem ir embora.
Tamara – Amanhã será
normal?
Eva – Sim,
normal.
Tamara se
levanta.
Tamara
(saindo) – Beijos e até amanhã.
Corta para:
Cena 10.
Praça Central/ Exterior/ Dia.
Mafalda
está sentada em um banco admirando a paisagem e tomando água de coco.
Mafalda – A gente
precisa disso pra ser feliz. Precisamos aprender a dar valor às coisas simples
da vida. Viva esse sol maravilhoso, essa vista linda!
Nesse
instante Marinês chega perto dela com duas sacolas de compras.
Marinês – Dona
Mafalda.
Mafalda – Diga
coração.
Marinês – Tava lá na
feira e ouvi uma fofoca das grandes.
Mafalda – Conta,
conta, conta.
Marinês
(cochichando) – Tá todo mundo comentando que o tal do Ângelo Salles
vai comer grama pela raiz a partir de agora.
Mafalda – Fala no bom
e velho português menina, sabe que não entendo esse linguajá de vocês.
Marinês olha
para os dois lados e se senta.
Marinês – O tal do
Ângelo, magnata lá, foi pra cidade dos pés juntos, morreu mesmo.
Mafalda
(chocada) – Mentira?
Marinês – Mas num tô
lhe dizendo? É verdade nua, crua e pura. Assim disseram as fofoqueiras lá da
feira. Sabe que não gosto de fofoca, apenas comento pequenos detalhes pessoais.
Mafalda – Uhum, eu
sei.
Marinês e
Mafalda permanecem sentadas conversando.
Corta para:
Cena 11.
Rio de Janeiro/ Exterior/ Dia.
(Música
“Águas de Março” – Tom Jobim e Elis Regina)
Imagens do
Rio de Janeiro, com seus pontos turísticos, seu trânsito caótico. As imagens
vão se alternando, até chegarem a um prédio na próximo a Praça XV, no centro.
Apartamento com o letreiro “Edifício Pedacinho do Céu”.
Corta para:
Cena 12.
Rio de Janeiro/ Edifício/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Ana Rosa
está sentada, cabisbaixa e com o celular na mão. Fabrício chega em casa.
Fabrício – Meu livro
tá vendendo que nem água.
Ana Rosa
permanece calada.
Fabrício – Vamos sair
pra comemorar? Sei lá, comer alguma coisa num restaurante bom. Você vivia
falando que eu ficava só dentro de casa, o que acha?
Ana Rosa
permanece cala e imóvel. Fabrício então se ajoelha e fica de frente para ela.
Fabricio – Ei, Ana,
vamos sair? Comemorar? Meu sucesso.
Ana Rosa – Seu irmão
ligou. Pediu pra irmos urgentemente a Flores.
Fabrício – Mas logo
agora? Ah não, eu não vou. Agora que meu livro tá sendo sucesso, que estou
conseguindo divulgar ele em alguns meios de comunicação. Não volto pra lá nem
amarrado. Dessa vez não vou ceder aos caprichos do Miguel não.
Ana Rosa – É sobre seu
pai. Ele faleceu esta manhã.
Fabrício
(assustado) – Como é que é?
Ana Rosa
abraça Fabrício, que cai em um choro descompensado.
Fabrício
(chorando) – Meu pai não. Olha só o que aconteceu, eu não
acredito Ana Rosa. Diz que é mentira, por favor!
Ana Rosa – É verdade.
Infelizmente é verdade.
Fabrício – Precisamos
voltar a Flores. Vamos pegar a estrada hoje mesmo, agora mesmo. Vamos arrumar
nossas malas. Eu preciso ver meu pai.
Ana Rosa – Fica aí
sentado, quieto. Eu arrumo nossas malas e eu mesma dirijo o carro. Você está
sem condições emocionais para isso.
Ana Rosa
sai em direção ao quarto. Fabrício se senta no sofá, totalmente desolado e
começa a relembrar sua infância.
***Insert
do Flashback a ser gravado***
Praia de
Ipanema/ Areia/ Ano 1988.
Fabrício,
com apenas 10 anos, corre em direção ao mar. Seu pai, Ângelo, o pega pelas
pernas antes que o garoto consiga entrar na água.
Fabrício
(bravo) – Pai, eu nunca vim à praia antes, preciso entrar na água.
Ângelo – Dizem que
quem vem à praia pela primeira vez na vida, inicia uma nova vida. E eu quero
fazer parte dessa nova vida ao seu lado, quero ser feliz com você. Por isso,
entrarei na água junto de ti. Nos molharemos juntos.
Ângelo e
Fabrício entram na água felizes. Ambos começam a brincar de guerrinha de água.
Muito sorridentes.
Corta para:
Floresta da
Tijuca/ Trilha/ Ano 1994.
Fabrício,
agora com 16 anos, está sentado em meio a uma trilha na Floresta da Tijuca, com
um caderno e um lápis, escrevendo. Ângelo aparece perto do menino.
Ângelo – Eu não
acredito que você está mais uma vez estragando seu passeio de aniversário com
uma bobagem dessas.
Fabrício – Eu escrevi
meu primeiro conto pai. Ele se chama “Ângelo Angel, um anjo de pai”. Foi feito
pra você.
Ângelo
(emocionado/ feliz) – Pra mim? Você sempre me surpreendendo.
Fabrício – Posso ler?
Ângelo se
senta ao seu lado.
Ângelo – Leia meu
filho.
Fabrício
(lendo) – “Ele não foi tirado de nenhum conto de fadas, ou
muito menos, de algum gibi de super-herói. Ele é meu pai, meu porto seguro. Não
é nenhum Deus, mas sim um de seus anjos. Por isso seu nome tão angelical. Anjo
Ângelo, amor meu...”.
Fabrício
continua a ler sem áudio. Ângelo fica muito emocionado, e ao final dá um grande
abraço carinhoso em Fabrício.
***Fim
do Flashback***
Fabrício
está sentado se debulhando em lágrimas.
Corta para:
Cena 13.
IML/ SALA DE ESPERA/ Interior/ Dia.
Miguel está
sentado em uma poltrona, sozinho na sala. Está bastante abalado.
Nesse instante
Milena chega totalmente esbaforida.
Milena – Amor
cheguei.
Miguel se
levanta e dá um longo abraço em Milena, depois volta a chorar.
Milena – Se acalma,
por favor! Senta ali, vou atrás de um café pra você.
Miguel (se
sentando) – Não precisa de café não. Só sente-se aqui comigo.
Milena se
senta ao lado de Miguel e o abraça.
Corta para:
Cena 14.
Bairro Elevado/ Casa de Fernanda/ Sala/ Interior/ Dia.
Fernanda
está assistindo TV, quando Eva entra, totalmente abalada.
Eva
(triste) – Boa tarde tia.
Fernanda – Você em
casa esta hora? Aconteceu alguma coisa?
Eva – Aconteceu.
O tal Ângelo Salles morreu na livraria.
Fernanda
(abismada) – O que? Não acredito.
Eva (se
sentando) – Mas é verdade.
Fernanda – Como assim,
me conte os detalhes.
Eva – Ele morreu
nos meus braços. Foi horrível, tia. Horrível.
Fernanda – Quer dizer
que o ex-marido da Vitória morreu nos seus braços?
Eva – E eu lá sei
quem é Vitória?
Fernanda – É bom não
conhecer mesmo. Quanto maior a distância, melhor.
Eva (se
levantando) – Eu vou tomar um banho, tomar um remédio e deitar um
pouco, minha cabeça parece que vai explodir.
Fernanda – Vai sim
minha flor, nada melhor como um bom banho e um bom cochilo.
Eva sai da
sala em direção a seu quarto.
Corta para:
Cena 15.
Cidade Flores/ Exterior/ Dia.
Imagens
aéreas da cidade. (Música “Uma História de Amor” – Fanzine)
Corta para:
Cena 16.
Casa desconhecida/ Fachada /Exterior/Dia.
Imagem de
um casebre muito antigo e com ares de abandonado.
Corta para:
Cena 17.
Casa desconhecida/ Sala/ Interior/ Dia.
A sala está
totalmente suja e com apenas um sofá velho e empoeirado no local. Dama e
Regininha conversam de pé.
Regininha –
Amanhã
você começa lá tia.
Dama
(preocupada) – Tô achando que a Vitória aceitou rápido demais...
Ela deve ter algum plano pra acabar com a gente.
Regininha –
Vá
sem medo. Mostre a mulher que você é. Não deixa ela te amedrontar. Nosso plano
vai dar certo.
Dama – Que plano?
Nós sequer temos um plano. Não sei nem o que fazer naquela casa.
Regininha –
A
gente vai arrumar um jeito de destruir a Vitória aos poucos. Com você na casa
ela já se sentirá ameaçada.
Dama – Tem razão.
Regininha
sorri.
Corta para:
Cena 18.
Mansão Amadeu/ Escritório/ Interior/ Dia.
Vitória e
Antero estão sentados conversando. Papo já em transição.
Vitória
(feliz) – Mas essa é a melhor notícia que você poderia ter me dado. Então
quer dizer que o velhote empacotou?
Antero – Isso mesmo.
Partiu dessa pra uma melhor. Agora você está rica Vitória Amadeu.
Vitória – Agora eu
preciso influenciar o Miguel. E pra começar, vou consolá-lo. Mas antes preciso
falar um assunto muito sério.
Alguém bate
a porta. Meg entra esbaforida.
Meg – Vim o mais
rápido que pude. Aquela prefeitura tá cheia de problemas e o Lui não resolve
nada.
Vitória – Também
pudera, você colocou aquela mariposa pra ser seu assistente.
Meg – Mas qual é
o assunto de extrema urgência?
Vitória – Melhor se
sentar, ou vai cair dura quando souber.
Meg se
senta ao lado de Antero.
Vitória – A Dama
voltou, e voltou com aquela sobrinha oportunista.
Meg e
Antero ficam chocados.
Antero – Mas como
assim?
Meg – Diz que
você tá brincando. Não, isso só pode ser uma brincadeira.
Vitória – É verdade.
Ela voltou cheia de ameaças. Dessa vez a Regininha e a Dama não estão pra
brincadeira.
Meg – E o que
faremos?
Vitória – De início?
Nada. Eu darei corda para que elas mesmas se enforquem.
Antero – Esse seu
maldito passado fica te assombrando. Acaba com essas mentiras de uma vez.
Vitória – Se eu
contar tudo que fiz, o Miguel jamais irá me aceitar, assim como, passarei anos
atrás das grades.
Meg – E onde elas
estão?
Vitória – A Regininha
eu não sei onde vai se enfiar, mas a Dama, vai trabalhar aqui em casa de
doméstica.
Meg olha
assustada para Vitória.
Meg – Mas você
deixou? Vitória, você não percebe que a situação só está indo de mal a pior?
Vitória – Eu não tive
escolha. Mas é melhor mantê-la debaixo das minhas asas, enquanto penso em como
destruí-la.
Meg e
Antero se olham assustados. Vitória fica imóvel olhando para o nada.
Corta para:
Cena 18.
Rio de Janeiro/ Rodovia Presidente Dutra/ Carro de Fabrício/ Interior/Dia.
Ana Rosa
está dirigindo o carro pela rodovia, enquanto Fabrício está totalmente calado e
cabisbaixo no banco do carona.
Ana Rosa – Quanto
tempo você pretende ficar em Flores?
Fabrício – Não tive
nem tempo pra pensar nisso. Aliás, não consegui pensar em nada.
Ana Rosa – Eu te
entendo. Saiba que pode sempre contar comigo.
Fabrício dá
um beijo na bochecha de Ana Rosa, que sorri.
Fabrício – Obrigado
por estar ao meu lado me dando força nesse momento dificílimo.
Ana Rosa – Eu gosto
muito de você. E quero que saiba, que este é um dos vários momentos que quero
passar ao seu lado.
Fabrício
sorri e eles seguem viagem.
Corta para:
Cena 19.
Casa de Edu/ Sala de Atendimento/ Interior/ Dia.
Uma sala
escura, com uma mesa redonda e duas cadeiras. Tamara está sentada em uma,
olhando ansiosamente para o relógio.
Nesse
instante Julieta entra com um baralho em mãos e se senta de frente para Tamara.
Julieta
(acendendo incenso) – Você me desculpe o atraso, mas não a esperava
nesse momento.
Tamara – Eu acabei
tirando parte do dia de folga, aí resolvi vir de última hora mesmo, e acabei
dando sorte.
Julieta – Você
trabalhava na empresa do Ângelo?
Tamara – Não, por
quê?
Julieta – Meu esposo
chegou agorinha em casa dizendo que ele faleceu, aí achei que você trabalhava
lá, por causa da folga que teve de última hora.
Tamara – Ele faleceu
na livraria onde trabalho. Por isso, fechamos as portas hoje.
Julieta – Entendi.
Julieta
organiza as cartas em um só monte e as coloca em cima da mesa.
Julieta – Pense em
algo que quer muito e diga para mim em apenas uma única palavra o que é.
Tamara (de
olhos fechados/ convicta) – Trabalho.
Julieta – Agora
divida este monte em três montes menores, pegue uma carta de cada um deles e
coloque-as em uma ordem que muito deseja.
Tamara faz
o que é pedido.
Julieta – Agora
virarei as três cartas que você escolheu.
Julieta
vira as três cartas e as analisa minuciosamente. Tamara olha aflita.
Julieta – O que te
move é a cobiça pelo que é do outro. Você tem em si uma inveja muito grande de
uma mulher. Mas isso só te afasta das boas oportunidades que a vida tem. Você
tem que escolher entre fazer o bem ou semear o mal. Entre o esforço, ou a
recompensa rápida.
Tamara – Eu irei
pelo mais rápido, mais fácil. Dessa vida eu não quero muito, eu quero é tudo.
Julieta – Não siga
seu instinto. Você vai ter o que deseja, mas vai se dar muito mal ainda. É um
recado dos astros.
Julieta
olha insistentemente para Tamara, que está olhando as cartas.
Corta para:
Cena 20.
Mansão Amadeu/ Sala de estar/ Interior/ Dia.
Vitória
está sentada na sala lendo revista, quando Milena chega, pela porta principal.
Vitória – Estava
fazendo compras norinha?
Milena – Você não
esconde a empolgação pela morte do velho né?
Vitória – E por que
eu esconderia? Estou suficientemente satisfeita com as tramas que o destino
teceu para a vida do Ângelo.
Milena – Seu filho
tá mal. Precisa do seu apoio. O corpo foi liberado, a funerária estava
terminando de aprontar tudo quando sai de lá. Esta na capela já.
Vitória – Eu vou me
arrumar e vou para a capela com você.
Milena – Daqui duas
horas estarei indo para lá.
Vitória – Tá bem,
querida.
Milena sobe
as escadas em direção ao seu quarto.
Vitória
(cochichando) – Hipócrita. Eu ainda farei a Ana Rosa destruir de vez
esse seu casamento.
Vitória
volta a ler sua revista.
Corta para:
Cena 21.
Bairro Elevado/ Casa de Fernanda/ Sala/ Interior/ Dia.
Malu e Edu
estão sentados no sofá assistindo a um filme e se beijando.
Malu – Preciso
arrumar um emprego.
Edu – Porque não
pede a sua prima que tente uma vaga pra você lá na livraria?
Malu – É mesmo,
boa ideia. Vou pedir a Eva.
Edu – Boa ideia
seria se você se casasse comigo.
Malu – Um dia meu
lindo.
Edu e Malu
se beijam e Fernanda entra na sala preocupada.
Fernanda – Vocês viram
a Eva?
Malu – Não, por
quê?
Fernanda – Ela disse
que iria dormir um pouco, que não estava bem, por causa da morte do Ângelo.
Então eu também fui tirar um rápido cochilo, quando levantei, não encontrei
mais a danada.
Edu – Ela não
está no banho não?
Fernanda – Nada. Eva
saiu... Só me resta saber pra onde.
Close na
face de Fernanda, preocupada.
Corta para:
Cena 22.
Capela Mortuária/ Sala de Velório/ Interior/ Dia.
O caixão em
que Ângelo está se encontra no meio da sala. Na lateral alguns bancos vazios.
Algumas velas acesas e cinco enormes coroas de flores. Miguel é o único a estar
no local.
Miguel está
de pé, próximo ao caixão.
Miguel
(chorando) – ô pai, por que você foi embora?
Nesse
instante uma sombra por trás de Miguel vai se aproximando. É Eva.
Miguel
(surpreso) – Você aqui?
Eva o
abraça fortemente.
Miguel
(abraçado) – Como eu precisava desse abraço. Você está sendo
fundamental nesse momento. Obrigado.
Eva (meiga)
– Não
precisa dizer nada. Você pode me abraçar o quanto quiser.
Miguel – Na
correria, eu nem perguntei o seu nome.
Eva – Me
registraram como Eva.
Miguel dá
um sorriso.
Miguel – Eva, nome da
primeira mulher a viver nesse mundo. É um nome lindo. Eu sou Miguel.
Eva – Nome de
anjo. Anjo Miguel, enviado de Deus, com a missão de nos trazer paz e amor.
Miguel – Posso te
pedir mais um abraço?
Eva – Pode pedir
até dois. Eu vim aqui porque não parei de pensar em você um único minuto. O
quão frágil você está, e o quanto precisa de carinho.
(Música “I’ll Try” – Allan Jackson)
Eva e Miguel se beijam com doçura.
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