segunda-feira, 7 de março de 2016

Capítulo 3: Em Nome do Filho



Cena 01. Livraria Dom Casmurro/ Salão de Vendas/ Interior/ Dia.
Continuação do capítulo anterior. Téo desliga o celular e olha para Eva, que está chorando.
Eva (chorando) – Não tem mais jeito, ele morreu...
CAM LENTA: Eva deixa cair uma lágrima sobre Ângelo.
Nesse instante vários funcionários chegam ao local, inclusive Tamara.
Tamara (assustada) – É o magnata Ângelo Salles.
Eva (chorando) – Tamara... Liga pra polícia e pra família dele.
Tamara – É pra já!
Tamara sai.
Eva (se levantando) – Busca um lençol pra cobrir o corpo, Téo, por favor.
Téo – Mas é claro.
Eva se levanta e sai junto com Téo.
Close no corpo de Ângelo, no chão.
Corta para:
Cena 02. Casa de Edu/ Cozinha/ Interior/ Dia.
Julieta, César e Lucído estão tomando café.
Julieta – Ontem eu fui ao cruzeiro buscar nosso filho César.
César – Por quê?
Julieta – Ele tá de namorico com aquela filha da Fernanda. Você sabe que sou contra. Fui lá e disse umas poucas e boas praquela menina.
César – Deixa de ser desaforada Juju. Você não pode se meter assim na vida do nosso filho.
Julieta – Enquanto ele morar debaixo do meu teto, comer da minha comida e vestir as roupas que eu patrocino, vai ser do meu jeito. E o meu jeito é esse, eu não quero que ele namore a filha da quenga.
Lucído – Julieta, se meter assim só piora a situação. Você tá apagando a fogueira com álcool.
César – Meu pai tem razão Julieta. Você não pode ficar se metendo na relação dos dois. Assim você só os desafia a ficarem juntos.
Julieta – Duvido. Vamos ver quem vai ter razão no final.
Nesse instante Eduardo chega e se senta a mesa.
Edu (triste) – Bom dia.
Julieta (a Eduardo) – Hoje tem curso?
Edu (emburrado) – Uhum.
Julieta – E você vai?
Edu – Uhum.
Julieta (nervosa) – Vai ficar de cara feia comigo até quando?
Edu a olha e continua tomando café.
Julieta – Não espere que eu peça desculpas. Eu estou fazendo isso pelo seu bem.
Lucído – Você é muito controladora Julieta. Deixa meu neto em paz. Sendo desse jeito, você só o distancia de você.
Julieta – Você criou seu filho, agora deixe que eu crie o meu.
César – Não fala assim com o papai.
Julieta – Eu sou sempre a errada dessa casa né. Deixe-me ir para o quartinho, que tenho atendimento agora cedo.
Julieta se levanta e sai.
César (a Eduardo) – Ei, liga pra sua mãe não. Você sabe que ela é impulsiva desse jeito né?
Edu (meigo) – Eu só consigo suportar a mãe, porque tenho você e o vovô. Amo vocês demais.
César faz carinho no filho.
Lucído – Não querendo quebrar o clima, mas já quebrando, tá na sua hora César. Você sabe que o Ângelo detesta atrasos.
César (eufórico) – Tem razão pai. Vou nessa. Beijos e amo vocês.
César se levanta e sai rapidamente.
Lucído – Liga o computador pra mim. Preciso achar a minha Helena hoje.
Edu – O senhor não cansa né vô? Há anos cheio de esperança.
Edu fica triste.
Lucído – Não deixa a sua mãe atrapalhar seu romance. Vá em busca do seu sonho. Você merece ser feliz.
Edu sorri para Lucído.
Corta para:
Cena 03. Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Dia.
CAM percorre o imenso jardim, repleto de flores e bancos.
Vitória está sentada em um banco, com sua muleta ao lado, lendo revista VOGUE.
Nesse instante Teresa chega.
Teresa – Com licença dona Vitória. Mas tem uma moça querendo falar com a senhora.
Vitória – Que moça?
Teresa – Ela não quis dizer o nome. Disse apenas que você a conhece bem.
Vitória – Diz que eu não tô com tempo pra atender ninguém hoje. Manda voltar na outra semana.
Regininha (chegando) – Não tem semana que vem porcaria nenhuma. Eu vou falar com você hoje, ou prefere que eu faça um escândalo?
Vitória fica assustada e Teresa percebe.
Corta rápido para:
Cena 04. Prefeitura/ Antessala/ Interior/ Dia.
Lui está conversando com o cachorro Boticário.
Lui – Mas que bafo né viado? Imagina só, o Ângelo tá morto. Ao menos foi o que todo mundo comentou. Só Jesus na causa. Pra morrer basta estar vivo.
Boticário fica imóvel olhando Lui.
Lui – Que tá me olhando com essa cara de cachorro? Eu só disse a verdade. A próxima a fechar o paletó, ir pra cidade dos pés junto, pode ser a senhora, tá?
Meg chega.
Meg – O Boticário, diferentemente de você Lui, é macho com m de Meg. (a Boticário) – Vem com a mamãe vem.
Boticário pula no colo de Meg.
Lui (gritando) – Dona Méguiiiii.
Meg – Para de gritar. Isso aqui é uma prefeitura. Não aqueles bares que você costuma frequentar.
Lui – Sabia que o Ângelo, ex da Vitória, bateu a caçoleta?
Meg (perplexa) – Mentira bicha.
Lui – É verdade verdadeira. Lá na Dom Casmurro. Dizem que tá o fervo aqui lá. Adoro!
Meg fica paralisada.
Corta para:
Cena 05. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
A livraria está de portas fechadas. Apenas os funcionários estão no local, entre eles: Tamara, Téo e Eva.
Eva (a Tamara) – Já era pra polícia ter chegado, ou algum familiar. Você conseguiu entrar em contato com a família?
Tamara – Liguei pro filho dele, o Miguel. Ele estava chegando à empresa e disse que viria na hora.
Eva caminha em direção ao corpo de Ângelo, que está coberto por um lençol branco, se ajoelha e começa a rezar.
CAM ALTERNA ENTRE A CONVERSA DE Téo e Tamara e a imagem de Eva ajoelhada rezando próxima ao corpo.
Tamara (deboche) – Lá foi a boa samaritana interpretar seu papel de Madre Tereza. Daqui a pouco ela ressuscita o finado.
Téo – Você é boba Tamara. Ela só está tentando se acalmar. Rezar faz bem.
Tamara – Duvido que seja isso. Ela tá querendo é bancar a heroína, a boazinha da história. Conheço esse tipo de gente de longe.
Nesse instante alguém bate a porta de entrada.
Téo – Eu atendo.
Téo abre a porta e Miguel entra, chorando.
Miguel (transtornado) – Cadê meu pai? Onde ele tá? Diz que é mentira... Diz que é mentira, pelo amor de Deus.
Téo aponta para a direção do corpo.
Miguel corre até lá e se ajoelha perante o corpo do pai. Eva continua rezando.
Miguel (gritando/ chorando) – Pai acorda, pelo amor de Deus. Anda, levanta desse chão. Nós precisamos de você, a empresa precisa de você. Para de brincadeira pai.
Miguel começa a chorar compulsivamente e Eva o abraça.
Eva – Calma. Acalma seu coração moço. Sua família vai precisar muito de você nesse momento.
Miguel vai parando de chorar e olha nos olhos de Eva.
(Música “I’ll Try” – Allan Jackson)
Eva (meiga) – Não vai ser fácil daqui pra frente, mas tenta manter a calma, seu pai ainda precisará de você para ser enterrado com dignidade.
Miguel e Eva se olham calados. Os enfermeiros e a polícia chegam.
Policial – Deem licença do corpo, por favor.
Eva e Miguel se levantam e se afastam. Nesse instante dois enfermeiros chegam com uma maca, colocam o corpo sobre ela.
Policial – Quem o viu pela última vez com vida?
Eva – Eu.
Policial – Será que podemos conversar?
Eva – Claro. Vamos a minha sala.
Enfermeiro (a Miguel) – Estamos levando o corpo para o IML, você pode nos acompanhar?
Miguel faz que sim com a cabeça.
Eva (a Miguel) – Você tá bem? Precisa de ajuda?
Miguel abraça forte Eva.
Miguel – Eu vou lá resolver tudo. Obrigado!
Miguel sai junto com os enfermeiros, que carregam o corpo de seu pai.
Corta para:
Cena 06. Mansão Amadeu/ Escritório/ Interior/ Dia.
Vitória está entrando no escritório, de muleta, acompanhada por Regininha.
Regininha (fechando a porta) – Assim que eu gosto.
Vitória – Diz logo o que te trouxe aqui. Tô sem tempo e sem paciência pra você.
Regininha – Eu não estou com pressa. Vim passar uma boa temporada aqui na cidade.
Vitória – Você não se meta a besta comigo.
Regininha – Eu trouxe um presente comigo. Trouxe a minha tia Dama.
Vitória (surpresa) – O que? A Dama está aqui com você?
Regininha – Aqui não. Ela tá muito bem escondida, porque sei do que você é capaz. Mas ela vai vir morar aqui, na sua casa.
Vitória (rindo) – Você deve estar louca Regininha.
Regininha – Não é brincadeira não. Eu estou dizendo a verdade. Dama irá morar aqui, irá trabalhar aqui.
Vitória – E se eu não aceitar? Vai fazer o que?
Regininha – Eu não sou mulher de meias palavras. Cão que ladra, não morde. Você sabe do que sou capaz e de quais armas eu tenho para te destruir. Por isso, não meça força comigo. Para de assunto e desocupe um quarto de empregados para a Dama.
Vitória pega o telefone e disca um único número.
Vitória (ao tel.) Vem aqui no escritório Teresa.
Vitória desliga o telefone.
Regininha – Inicialmente também vou querer um dinheiro. Cinquenta mil reais, pra começar.
Vitória – Eu não tenho essa quantia.
Regininha – Se vira.
Nesse instante Teresa entra.
Teresa – Com licença, pois não dona Vitória.
Vitória – Teresa, ajeite um quarto de empregados próximo ao seu, eu contratei uma nova ajudante pra você.
Teresa (olhando para Regininha) – É esta moça?
Regininha – Veja lá se eu vou limpar chão de dondoca.
Vitória – É pra uma conhecida. Agora já pode ir.
Teresa (saindo) – Com licença!
Regininha – Também vou nessa. E nunca se esqueça de mim, amorzinho.
Regininha vai embora.
Vitória (irritada) – Inferno! Vou fazer essa garota voltar pra garrafinha. Ah vou!
Corta para:
Cena 07. Bairro Elevado/ Casa de Fernanda/ Rua/ Exterior/ Dia.
Edu está sentado na calçada, em frente a casa de Malu. Ele está triste, pensativo. Até que a menina sai.
Malu (indignada) – Ah não, você aqui não.
Edu (se levantando) – Malu deixa eu te explicar uma coisa.
Malu – Eu não quero saber de nada Eduardo. Me esquece cara. Você preferiu viver debaixo da asa da mamãezinha, não foi? Então fica lá. Eu cansei.
Edu – Me dá uma última chance, por favor. Eu prometo que vou te fazer muito feliz.
Malu – última chance. Se você voltar a ceder aos caprichos da sua mãe, eu juro que nunca mais olho na sua cara.
Edu (abraçando Malu) – Dona Julieta é coisa do passado meu amor.
(Música “Relicário” – Nando Reis e Cassia Eller)
Edu e Malu se beijam.
Corta para:
Cena 08. Mansão Amadeu/ Sala de Ginástica/ Interior/ Dia.
Milena está correndo na esteira, seu celular toca e ela então para de corre.
Alternância de imagens entre a Sala de ginástica e A Recepção do IML, onde está Miguel.
Milena (ao cel.) – Alô.
Miguel (ao cel.) – Milena sou eu.
Milena (ao cel.) – Aconteceu alguma coisa amor? Você tá estranho.
Miguel (ao cel./ chorando) – Meu pai morreu. Tô desesperado, vem pra cá, por favor!
Milena (ao cel.) – Calma, eu vou sim. Onde você está?
Miguel (ao cel.) – No IML. Estou aqui esperando a liberação do corpo dele. Vem pra cá.
Milena (ao cel.) – Tá, eu vou. Espera aí, não saia.
Milena desliga o celular e sai correndo.
Corta para:
Imagens aéreas da cidade.
Corta para:
Cena 09. Livraria Dom Casmurro/ Gerência/ Interior/ Dia.
Eva e Tamara estão sentadas conversando. Conversa já iniciada.
Eva – E foi isso que eu disse a ele.
Tamara – Mas esse policial achou que um de nós foi quem matou o Ângelo? Cara sem noção.
Eva – Nada disso, Tamara. É o trabalho dele, estar a par das mortes que ocorrem fora dos hospitais, ou até dentro deles, quando é de forma suspeita.
Tamara – Ah, menos mal então.
Eva – Eu já avisei o Lucas sobre o ocorrido. Mas como ele está no Rio, não poderá chegar a tempo.
Tamara – Estamos dispensados por hoje?
Eva – Sim. Vise o pessoal que podem ir embora.
Tamara – Amanhã será normal?
Eva – Sim, normal.
Tamara se levanta.
Tamara (saindo) – Beijos e até amanhã.
Corta para:
Cena 10. Praça Central/ Exterior/ Dia.
Mafalda está sentada em um banco admirando a paisagem e tomando água de coco.
Mafalda – A gente precisa disso pra ser feliz. Precisamos aprender a dar valor às coisas simples da vida. Viva esse sol maravilhoso, essa vista linda!
Nesse instante Marinês chega perto dela com duas sacolas de compras.
Marinês – Dona Mafalda.
Mafalda – Diga coração.
Marinês – Tava lá na feira e ouvi uma fofoca das grandes.
Mafalda – Conta, conta, conta.
Marinês (cochichando) – Tá todo mundo comentando que o tal do Ângelo Salles vai comer grama pela raiz a partir de agora.
Mafalda – Fala no bom e velho português menina, sabe que não entendo esse linguajá de vocês.
Marinês olha para os dois lados e se senta.
Marinês – O tal do Ângelo, magnata lá, foi pra cidade dos pés juntos, morreu mesmo.
Mafalda (chocada) – Mentira?
Marinês – Mas num tô lhe dizendo? É verdade nua, crua e pura. Assim disseram as fofoqueiras lá da feira. Sabe que não gosto de fofoca, apenas comento pequenos detalhes pessoais.
Mafalda – Uhum, eu sei.
Marinês e Mafalda permanecem sentadas conversando.
Corta para:
Cena 11. Rio de Janeiro/ Exterior/ Dia.
(Música “Águas de Março” – Tom Jobim e Elis Regina)
Imagens do Rio de Janeiro, com seus pontos turísticos, seu trânsito caótico. As imagens vão se alternando, até chegarem a um prédio na próximo a Praça XV, no centro. Apartamento com o letreiro “Edifício Pedacinho do Céu”.
Corta para:
Cena 12. Rio de Janeiro/ Edifício/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Ana Rosa está sentada, cabisbaixa e com o celular na mão. Fabrício chega em casa.
Fabrício – Meu livro tá vendendo que nem água.
Ana Rosa permanece calada.
Fabrício – Vamos sair pra comemorar? Sei lá, comer alguma coisa num restaurante bom. Você vivia falando que eu ficava só dentro de casa, o que acha?
Ana Rosa permanece cala e imóvel. Fabrício então se ajoelha e fica de frente para ela.
Fabricio – Ei, Ana, vamos sair? Comemorar? Meu sucesso.
Ana Rosa – Seu irmão ligou. Pediu pra irmos urgentemente a Flores.
Fabrício – Mas logo agora? Ah não, eu não vou. Agora que meu livro tá sendo sucesso, que estou conseguindo divulgar ele em alguns meios de comunicação. Não volto pra lá nem amarrado. Dessa vez não vou ceder aos caprichos do Miguel não.
Ana Rosa – É sobre seu pai. Ele faleceu esta manhã.
Fabrício (assustado) – Como é que é?
Ana Rosa abraça Fabrício, que cai em um choro descompensado.
Fabrício (chorando) – Meu pai não. Olha só o que aconteceu, eu não acredito Ana Rosa. Diz que é mentira, por favor!
Ana Rosa – É verdade. Infelizmente é verdade.
Fabrício – Precisamos voltar a Flores. Vamos pegar a estrada hoje mesmo, agora mesmo. Vamos arrumar nossas malas. Eu preciso ver meu pai.
Ana Rosa – Fica aí sentado, quieto. Eu arrumo nossas malas e eu mesma dirijo o carro. Você está sem condições emocionais para isso.
Ana Rosa sai em direção ao quarto. Fabrício se senta no sofá, totalmente desolado e começa a relembrar sua infância.
***Insert do Flashback a ser gravado***
Praia de Ipanema/ Areia/ Ano 1988.
Fabrício, com apenas 10 anos, corre em direção ao mar. Seu pai, Ângelo, o pega pelas pernas antes que o garoto consiga entrar na água.
Fabrício (bravo) – Pai, eu nunca vim à praia antes, preciso entrar na água.
Ângelo – Dizem que quem vem à praia pela primeira vez na vida, inicia uma nova vida. E eu quero fazer parte dessa nova vida ao seu lado, quero ser feliz com você. Por isso, entrarei na água junto de ti. Nos molharemos juntos.
Ângelo e Fabrício entram na água felizes. Ambos começam a brincar de guerrinha de água. Muito sorridentes.
Corta para:
Floresta da Tijuca/ Trilha/ Ano 1994.
Fabrício, agora com 16 anos, está sentado em meio a uma trilha na Floresta da Tijuca, com um caderno e um lápis, escrevendo. Ângelo aparece perto do menino.
Ângelo – Eu não acredito que você está mais uma vez estragando seu passeio de aniversário com uma bobagem dessas.
Fabrício – Eu escrevi meu primeiro conto pai. Ele se chama “Ângelo Angel, um anjo de pai”. Foi feito pra você.
Ângelo (emocionado/ feliz) – Pra mim? Você sempre me surpreendendo.
Fabrício – Posso ler?
Ângelo se senta ao seu lado.
Ângelo – Leia meu filho.
Fabrício (lendo) – “Ele não foi tirado de nenhum conto de fadas, ou muito menos, de algum gibi de super-herói. Ele é meu pai, meu porto seguro. Não é nenhum Deus, mas sim um de seus anjos. Por isso seu nome tão angelical. Anjo Ângelo, amor meu...”.
Fabrício continua a ler sem áudio. Ângelo fica muito emocionado, e ao final dá um grande abraço carinhoso em Fabrício.
***Fim do Flashback***
Fabrício está sentado se debulhando em lágrimas.
Corta para:
Cena 13. IML/ SALA DE ESPERA/ Interior/ Dia.
Miguel está sentado em uma poltrona, sozinho na sala. Está bastante abalado.
Nesse instante Milena chega totalmente esbaforida.
Milena – Amor cheguei.
Miguel se levanta e dá um longo abraço em Milena, depois volta a chorar.
Milena – Se acalma, por favor! Senta ali, vou atrás de um café pra você.
Miguel (se sentando) – Não precisa de café não. Só sente-se aqui comigo.
Milena se senta ao lado de Miguel e o abraça.
Corta para:
Cena 14. Bairro Elevado/ Casa de Fernanda/ Sala/ Interior/ Dia.
Fernanda está assistindo TV, quando Eva entra, totalmente abalada.
Eva (triste) – Boa tarde tia.
Fernanda – Você em casa esta hora? Aconteceu alguma coisa?
Eva – Aconteceu. O tal Ângelo Salles morreu na livraria.
Fernanda (abismada) – O que? Não acredito.
Eva (se sentando) – Mas é verdade.
Fernanda – Como assim, me conte os detalhes.
Eva – Ele morreu nos meus braços. Foi horrível, tia. Horrível.
Fernanda – Quer dizer que o ex-marido da Vitória morreu nos seus braços?
Eva – E eu lá sei quem é Vitória?
Fernanda – É bom não conhecer mesmo. Quanto maior a distância, melhor.
Eva (se levantando) – Eu vou tomar um banho, tomar um remédio e deitar um pouco, minha cabeça parece que vai explodir.
Fernanda – Vai sim minha flor, nada melhor como um bom banho e um bom cochilo.
Eva sai da sala em direção a seu quarto.
Corta para:
Cena 15. Cidade Flores/ Exterior/ Dia.
Imagens aéreas da cidade. (Música “Uma História de Amor” – Fanzine)
Corta para:
Cena 16. Casa desconhecida/ Fachada /Exterior/Dia.
Imagem de um casebre muito antigo e com ares de abandonado.
Corta para:
Cena 17. Casa desconhecida/ Sala/ Interior/ Dia.
A sala está totalmente suja e com apenas um sofá velho e empoeirado no local. Dama e Regininha conversam de pé.
Regininha – Amanhã você começa lá tia.
Dama (preocupada) – Tô achando que a Vitória aceitou rápido demais... Ela deve ter algum plano pra acabar com a gente.
Regininha – Vá sem medo. Mostre a mulher que você é. Não deixa ela te amedrontar. Nosso plano vai dar certo.
Dama – Que plano? Nós sequer temos um plano. Não sei nem o que fazer naquela casa.
Regininha – A gente vai arrumar um jeito de destruir a Vitória aos poucos. Com você na casa ela já se sentirá ameaçada.
Dama – Tem razão.
Regininha sorri.
Corta para:
Cena 18. Mansão Amadeu/ Escritório/ Interior/ Dia.
Vitória e Antero estão sentados conversando. Papo já em transição.
Vitória (feliz) – Mas essa é a melhor notícia que você poderia ter me dado. Então quer dizer que o velhote empacotou?
Antero – Isso mesmo. Partiu dessa pra uma melhor. Agora você está rica Vitória Amadeu.
Vitória – Agora eu preciso influenciar o Miguel. E pra começar, vou consolá-lo. Mas antes preciso falar um assunto muito sério.
Alguém bate a porta. Meg entra esbaforida.
Meg – Vim o mais rápido que pude. Aquela prefeitura tá cheia de problemas e o Lui não resolve nada.
Vitória – Também pudera, você colocou aquela mariposa pra ser seu assistente.
Meg – Mas qual é o assunto de extrema urgência?
Vitória – Melhor se sentar, ou vai cair dura quando souber.
Meg se senta ao lado de Antero.
Vitória – A Dama voltou, e voltou com aquela sobrinha oportunista.
Meg e Antero ficam chocados.
Antero – Mas como assim?
Meg – Diz que você tá brincando. Não, isso só pode ser uma brincadeira.
Vitória – É verdade. Ela voltou cheia de ameaças. Dessa vez a Regininha e a Dama não estão pra brincadeira.
Meg – E o que faremos?
Vitória – De início? Nada. Eu darei corda para que elas mesmas se enforquem.
Antero – Esse seu maldito passado fica te assombrando. Acaba com essas mentiras de uma vez.
Vitória – Se eu contar tudo que fiz, o Miguel jamais irá me aceitar, assim como, passarei anos atrás das grades.
Meg – E onde elas estão?
Vitória – A Regininha eu não sei onde vai se enfiar, mas a Dama, vai trabalhar aqui em casa de doméstica.
Meg olha assustada para Vitória.
Meg – Mas você deixou? Vitória, você não percebe que a situação só está indo de mal a pior?
Vitória – Eu não tive escolha. Mas é melhor mantê-la debaixo das minhas asas, enquanto penso em como destruí-la.
Meg e Antero se olham assustados. Vitória fica imóvel olhando para o nada.
Corta para:
Cena 18. Rio de Janeiro/ Rodovia Presidente Dutra/ Carro de Fabrício/ Interior/Dia.
Ana Rosa está dirigindo o carro pela rodovia, enquanto Fabrício está totalmente calado e cabisbaixo no banco do carona.
Ana Rosa – Quanto tempo você pretende ficar em Flores?
Fabrício – Não tive nem tempo pra pensar nisso. Aliás, não consegui pensar em nada.
Ana Rosa – Eu te entendo. Saiba que pode sempre contar comigo.
Fabrício dá um beijo na bochecha de Ana Rosa, que sorri.
Fabrício – Obrigado por estar ao meu lado me dando força nesse momento dificílimo.
Ana Rosa – Eu gosto muito de você. E quero que saiba, que este é um dos vários momentos que quero passar ao seu lado.
Fabrício sorri e eles seguem viagem.
Corta para:
Cena 19. Casa de Edu/ Sala de Atendimento/ Interior/ Dia.
Uma sala escura, com uma mesa redonda e duas cadeiras. Tamara está sentada em uma, olhando ansiosamente para o relógio.
Nesse instante Julieta entra com um baralho em mãos e se senta de frente para Tamara.
Julieta (acendendo incenso) – Você me desculpe o atraso, mas não a esperava nesse momento.
Tamara – Eu acabei tirando parte do dia de folga, aí resolvi vir de última hora mesmo, e acabei dando sorte.
Julieta – Você trabalhava na empresa do Ângelo?
Tamara – Não, por quê?
Julieta – Meu esposo chegou agorinha em casa dizendo que ele faleceu, aí achei que você trabalhava lá, por causa da folga que teve de última hora.
Tamara – Ele faleceu na livraria onde trabalho. Por isso, fechamos as portas hoje.
Julieta – Entendi.
Julieta organiza as cartas em um só monte e as coloca em cima da mesa.
Julieta – Pense em algo que quer muito e diga para mim em apenas uma única palavra o que é.
Tamara (de olhos fechados/ convicta) – Trabalho.
Julieta – Agora divida este monte em três montes menores, pegue uma carta de cada um deles e coloque-as em uma ordem que muito deseja.
Tamara faz o que é pedido.
Julieta – Agora virarei as três cartas que você escolheu.
Julieta vira as três cartas e as analisa minuciosamente. Tamara olha aflita.
Julieta – O que te move é a cobiça pelo que é do outro. Você tem em si uma inveja muito grande de uma mulher. Mas isso só te afasta das boas oportunidades que a vida tem. Você tem que escolher entre fazer o bem ou semear o mal. Entre o esforço, ou a recompensa rápida.
Tamara – Eu irei pelo mais rápido, mais fácil. Dessa vida eu não quero muito, eu quero é tudo.
Julieta – Não siga seu instinto. Você vai ter o que deseja, mas vai se dar muito mal ainda. É um recado dos astros.
Julieta olha insistentemente para Tamara, que está olhando as cartas.
Corta para:
Cena 20. Mansão Amadeu/ Sala de estar/ Interior/ Dia.
Vitória está sentada na sala lendo revista, quando Milena chega, pela porta principal.
Vitória – Estava fazendo compras norinha?
Milena – Você não esconde a empolgação pela morte do velho né?
Vitória – E por que eu esconderia? Estou suficientemente satisfeita com as tramas que o destino teceu para a vida do Ângelo.
Milena – Seu filho tá mal. Precisa do seu apoio. O corpo foi liberado, a funerária estava terminando de aprontar tudo quando sai de lá. Esta na capela já.
Vitória – Eu vou me arrumar e vou para a capela com você.
Milena – Daqui duas horas estarei indo para lá.
Vitória – Tá bem, querida.
Milena sobe as escadas em direção ao seu quarto.
Vitória (cochichando) – Hipócrita. Eu ainda farei a Ana Rosa destruir de vez esse seu casamento.
Vitória volta a ler sua revista.
Corta para:
Cena 21. Bairro Elevado/ Casa de Fernanda/ Sala/ Interior/ Dia.
Malu e Edu estão sentados no sofá assistindo a um filme e se beijando.
Malu – Preciso arrumar um emprego.
Edu – Porque não pede a sua prima que tente uma vaga pra você lá na livraria?
Malu – É mesmo, boa ideia. Vou pedir a Eva.
Edu – Boa ideia seria se você se casasse comigo.
Malu – Um dia meu lindo.
Edu e Malu se beijam e Fernanda entra na sala preocupada.
Fernanda – Vocês viram a Eva?
Malu – Não, por quê?
Fernanda – Ela disse que iria dormir um pouco, que não estava bem, por causa da morte do Ângelo. Então eu também fui tirar um rápido cochilo, quando levantei, não encontrei mais a danada.
Edu – Ela não está no banho não?
Fernanda – Nada. Eva saiu... Só me resta saber pra onde.
Close na face de Fernanda, preocupada.
Corta para:
Cena 22. Capela Mortuária/ Sala de Velório/ Interior/ Dia.
O caixão em que Ângelo está se encontra no meio da sala. Na lateral alguns bancos vazios. Algumas velas acesas e cinco enormes coroas de flores. Miguel é o único a estar no local.
Miguel está de pé, próximo ao caixão.
Miguel (chorando) – ô pai, por que você foi embora?
Nesse instante uma sombra por trás de Miguel vai se aproximando. É Eva.
Miguel (surpreso) – Você aqui?
Eva o abraça fortemente.
Miguel (abraçado) – Como eu precisava desse abraço. Você está sendo fundamental nesse momento. Obrigado.
Eva (meiga) – Não precisa dizer nada. Você pode me abraçar o quanto quiser.
Miguel – Na correria, eu nem perguntei o seu nome.
Eva – Me registraram como Eva.
Miguel dá um sorriso.
Miguel – Eva, nome da primeira mulher a viver nesse mundo. É um nome lindo. Eu sou Miguel.
Eva – Nome de anjo. Anjo Miguel, enviado de Deus, com a missão de nos trazer paz e amor.
Miguel – Posso te pedir mais um abraço?
Eva – Pode pedir até dois. Eu vim aqui porque não parei de pensar em você um único minuto. O quão frágil você está, e o quanto precisa de carinho.
(Música “I’ll Try” – Allan Jackson)
Eva e Miguel se beijam com doçura.


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