sexta-feira, 4 de março de 2016

Capítulo 02: Em Nome do Filho

Cena 1. Rio de Janeiro/ Bairro Jardim Botânico/ Sanatório/ Quarto de Repouso/ Interior/ Dia.
Continuação do capítulo anterior. Dama Surpresa com a visita inesperada de Regininha.
Regininha – Chegou a nossa hora Dama.
Dama olha para Regininha totalmente assustada. (Música de suspense)
Dama (assustada/ perplexa) – É você?
Regininha – Em carne e osso. Chegou a hora da nossa vingança querida. É hora de jogar pedra em uns telhados de vidro.
Close em Regininha convicta. Close em Dama perplexa.
Dama – Você só pode estar desatinando. Sai do meu quarto, ou eu faço pano de chão disto que você chama de roupa.
Regininha se aproxima de Dama.
Regininha – Tia tenta me entender. Por favor, precisamos muito unir nossas forças nesse momento.
Dama volta seu olhar para a janela.
Dama – Você quer dinheiro rápido e fácil. Dessa vez eu não vou cair no seu jogo sujo, me esquece.
Regininha (triste) – Essa história não é só por mim. É por nós duas, ou melhor, por nós três. Eu, a senhora e a mãe.
Dama volta a encarar Regininha.
Dama (firme) – Perdeu seu tempo. Eu não vou revirar passado nenhum.
Regininha – Mas essa minha história não pode ficar incompleta. Eu preciso de justiça. Nós precisamos.
Dama (nervosa) – Essa história que você diz que é sua, essa história, não vai ter um bom final. Aliás, já não teve no passado. Eu não quero que volte a se repetir.
Regininha ajoelha-se na frente de Dama e deixa cair algumas lágrimas. Close em seu olhar de piedade.
Regininha – Você me criou a vida toda com esse desejo de justiça. Me fez sentir a mágoa que você sentia, toda essa revolta que te embriagava. Agora que eu comecei a remar, eu não vou morrer na praia. Se não fizer por mim, que te castiguei e te coloquei nesse mausoléu horroroso... Faça pela minha mãe, faça pela alma da sua irmã que foi inocente e caiu de idiota nessa história.
Close em Dama de pé olhando, com dúvida, os olhos de Regininha, que permanece ajoelhada.
Corta para:
Cena 2. Livraria Dom Casmurro/ Porta de entrada/ Exterior/ Dia.
Fluxo natural de pessoas passando pelo local, algumas olhando a vitrine da livraria, que está de portas fechadas. Téo (mesmo traje da cena 13 do capítulo 1) aparece no local, com cara de ressaca e junto com Tamara.
Téo – Caramba, esqueci meu uniforme lá em casa.
Tamara – Lá em casa?
Téo – Claro que não Tamara. Na minha casa aqui no centro da cidade.
Tamara – Casa da ricaça lá. Aliás, não sei como ela não apareceu lá em casa pra te procurar. Tem tanto ciúme de você, nunca vi.
Nesse instante um carro importado na cor preta, estaciona na calçada bem em frente aos dois.
Close em quem sai do carro, na câmera lenta: é Mafalda. Que para diante dos dois muda e séria.
Téo se assusta.
Tamara (irônica)– Tava demorando pra rainha ausentar-se de seu castelo e vir até nós mortais buscar seu precioso chocolate.
Mafalda – Eu vou fingir que não ouvi essa sua ironia. Aliás, isso nem é ironia. Porque ironia subentende-se que venha de uma pessoa fina, inteligente, o que não é o seu caso.
Tamara (indignada) – Escuta aqui minha senhora...
Mafalda (corta) – Escuta aqui você. Eu não vou ficar aturando suas picuinhas. Já encheu o saco por hoje. Chega!
Téo tenta abraçar Mafalda, que se esquiva.
Mafalda (a Téo) – E o senhor está no meu caderno. Logo a gente conversa.
Téo – Peraí mozão.
Mafalda – Eu não vou discutir com você aqui, logo a gente conversa. Já disse.
Mafalda entra no seu carro e sai a toda velocidade.
Tamara – Sinto lhe informar irmãozinho, mas hoje tu tá em maus lençóis.
Téo – É, tô mesmo. Mas cadê o Lucas pra abrir a livraria? Será que ele deu folga?
Lucas chega por trás de Téo.
Lucas (abrindo a porta) – Bom dia, bom dia, bom dia. Nada de feriado, hoje é trabalho duro.
Lucas termina de abrir a porta e entra. Ele é seguido por Tamara e Téo.
Corta para:
Cena 03. Livraria Dom Casmurro/ Salão de vendas/ Exterior/ Dia.
Lucas (entrando) – Preciso que as faxineiras mudem o cheiro desse desinfetante, me faz passar mal.
Tamara e Téo o seguem.
Lucas – Tamara abra a sala de reuniões e peça que todos os funcionários, assim que chegarem, se encaminhem para lá.
Tamara – Claro, é pra já!
Téo – Vai ter festinha?
Tamara – Você só pensa em festa né?
Lucas – Não vai ter festa não. Eu vou dizer quem é a nova gerente da livraria.
Lucas pisca o olho pra Tamara, que sorri. Lucas começa a subir as escadas e a CAM o perde de vista.
Tamara – Esse posto é meu Téo. Trabalhei durante anos aqui. Fiz curso, faculdade. Garanto que essa vaga é minha.
Téo – Opa, vida mansa.
Tamara – Pra mim.
Tamara sobe as escadas em direção à sala de reuniões.
Close em Téo, com jeito malandro, olhando para uns livros a sua volta.
Corta para:
Cena 04. Mansão Trajano/ Sala de Jantar/ Interior/ Dia.
Meg e Álvaro estão sentados à mesa tomando café da manhã. Mesa repleta de pães, bolos, frutas, sucos, café e leite.
Álvaro – Tá a fim de ir ao Frigideira hoje?
Meg – Pra que?
Álvaro – Jantar.
Meg – Ah não. Lá tem um monte de pseudo burgueses que se acham no direito de me cobrarem um plano de carreira.
Álvaro – Mas eles estão certos, você é a prefeita dessa cidade, tem que apresentar seus projetos de trabalho.
Meg – Ah Álvaro, me poupe você também. Tá cansado de saber que eu só entrei pra essa prefeitura a fim de enriquecer ainda mais e deter poder.
Nesse instante Marinês entra com o telefone sem fio em mãos.
Marinês – Com licença dona Meg. É a senhora Vitória.
Meg pega o telefone rapidamente.
Meg (ao tel.) – Estou indo a sua casa, precisamos conversar seriamente.
Meg desliga o telefone e o entrega a Marinês, que pega e sai.
Álvaro – Você e a Vitória estão sempre cheias de muitos segredinhos, o que andam aprontando?
Meg – Toda mulher tem seus segredos, eu não seria diferente. São coisas nossas, só nossas.
Álvaro – Vai entender a cabeça feminina. Eu não me arrisco.
Nesse instante Mafalda chega bufando de ódio, e se senta com força a mesa.
Álvaro – Bom dia!
Mafalda (rude) – Só se for pra você.
Álvaro – Que bicho te picou hoje?
Meg – O nome disso aí é Téo. Ele não dormiu em casa.
Mafalda – Vejo que a sua relação tá mais fria que a Antártida mesmo. Ficar a noite inteira vigiando o que eu faço, ou deixo de fazer.
Meg – Irmãzinha linda, quantas vezes eu já te disse pra você largar esse gigolô?
Mafalda – E quantas vezes eu já te mandei cuidar da sua vida? Me esquece.
Álvaro – Você deveria arrumar um canto e sumir com o seu Téo. Não aguento mais ouvir brigas de vocês.
Mafalda – Incomodados que se mudem. Eu já te avisei inúmeras vezes que essa casa é minha, ao menos metade dela.
Álvaro se levanta da mesa.
Álvaro – Tô indo trabalhar. Depois de uma dessas, nada mais tem como piorar.
Álvaro beija Meg e sai.
Meg (rude) – Você arruma seus rolos e vem descontar na gente.
Mafalda – Tá na hora de você ir brincar de administração. Vá cuidar da sua prefeitura, vá passear com seu cachorro e com aquele viado extravagante, vai!
Meg (se levantando/ indignada) – Ninguém te merece.
Meg sai da sala de jantar.
Mafalda (comendo) – Ninguém me ama mesmo.
Nesse instante Marinês aparece trazendo em uma bandeja de prata uma xícara com algo quente.
Marinês – Chá ou café?
Mafalda – Café.
Marinês (entregando a xícara) – Errou, é chá.
Mafalda – Quando eu digo que ninguém me ama, é verdade.
Marinês e Mafalda começam a rir.
Corta para:
Cena 05. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Reunião/ Interior/ Dia.
Vários funcionários se encontram sentados em volta da mesa, exceto na cabeceira, que está vaga, assim com mais três lugares nos assentos normais. Entre eles está Téo, sorridente e muito atencioso a uma conversa que está rolando. Vozerio. CAM percorre toda a sala, tendo como destaque sempre Téo sorridente e participativo.
Corta para:
Cena 06. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/Dia.
Lucas está sentado em sua mesa, digitando algo no computador. Eva e Tamara permanecem de pé olhando-o.
Lucas (desligando o PC) – Pronto! Armazenado e salvo. Não teremos mais problema quanto à nova linha de livros infantis.
Tamara – Não querendo acabar com sua comemoração, mas já está na hora de irmos à reunião.
Lucas – Tem razão Tamara, vamos lá.
Tamara olha para Eva e sorri.
Corta para:
Cena 07. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Reunião/ Interior/ Dia.
A mesma coisa da cena 5. CAM focaliza em Téo sorrido para os colegas de trabalho. De repente Téo cria um ar mais sério. Lucas entra, seguido por Eva e Tamara, se senta na cabeceira da mesa, e as duas se sentam nos lugares restantes. Tudo fica em silêncio.
Lucas (brincando) – Quando o gato sai, os ratos fazem a festa. Então é assim que vocês ficam quando eu saio?
Todos permanecem em silêncio.
Lucas – Brincadeiras a parte, eu os convoquei para essa reunião de caráter ordinário, para dizer a vocês que já escolhi a nova gerente.
Começa um burburinho.
Lucas – Sim, meus senhores. Pela primeira vez, em seu centenário, a Livraria Dom Casmurro terá uma mulher a frente do gerenciamento e empreendedorismo.
Close em Tamara cheia de si, sorridente.
Lucas – Peço uma salva de palmas para Eva Magalhães.
Todos aplaudem sorridentes, exceto Tamara que fica surpresa e frustrada, ao mesmo tempo com a notícia.
Tamara (pra si) – Não pode ser.
Eva se levanta educadamente, mas permanece em seu lugar.
Eva – Gostaria de agradecer a Deus, ao Lucas, a minha família e a todos vocês pela maravilhosa oportunidade de conviver e experimentar o prazer que é trabalhar com histórias, fábulas. (Emocionada) Eu só tenho que agradecer por tudo e prometo dar o melhor de mim.
Close em Eva feliz.
Corta para:
Cena 08. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Exterior/ Dia.
Vitória e Meg sentadas no sofá conversando. Conversa já iniciada.
Vitória (chocada) – Não pode ser.
Meg – Assim a Mafalda me disse ontem. Ela foi à prefeitura só pra me falar isso.
Vitória – Você contou pra Mafalda?
Meg – Tá louca Vivi? Eu jamais falaria pra ela um assunto desses.
Vitória respira aliviada.
Vitória – Pensei que iria ter que sumir com a sua irmã do mapa também.
Meg – Por falar em irmã, por onde anda a sua?
Vitória – Eneida? Tá no Rio. Vem semana que vem, já ligou.
Meg – Ela sabe do nosso segredo. Tenho medo que conte.
Vitória – Quanto a Eneida fique tranquila. Aquela lá sabe do que sou capaz e não se meteria a besta comigo. Nosso foco agora é Dama Albuquerque, essa sim pode nos colocar em maus lençóis.
Meg – Precisamos pensar em algo e rápido.
Meg e Vitória ficam quietas se olhando.
Corta para:
Cena 9. Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia.
(Música “Relicário” Cássia Eller e Nando Reis”)
CAM abre com vista aérea do local, que é situado no morro mais alto da cidade. Fluxo de casais namorando, famílias passeando e tirando fotos, pessoas caminhando.
CAM percorre tudo isso e para em um banco qualquer, onde estão Malu e Edu, que estão sentados e abraçados, um de frente para o outro.
Edu – Que saudade de você meu amor.
Edu e Malu se beijam.
Malu – Ah, Edu, você também some. Não gosto disso não.
Edu – É a minha mãe, você sabe como ela tá esses dias. Atiçada que nem brasa.
Malu – Sua mãe me detesta mesmo. Eu fico chocada com tamanho desprezo que ela tem por mim.
Edu – Mas vamos parar de falar nela e aproveitar o tempo que temos juntinhos.
Edu e Malu se beijam e logo em seguida, se abraçam e ficam quietinhos. CAM desfoca deles, mostra um carro antigo estacionando na estrada. Julieta desce do carro, avista Edu e vai calada, mas com semblante de aborrecida.
(Fad out trilha “Relicário” – Cássia Eller e Nando Reis).
Julieta – Pra casa Eduardo.
A mulher olha sério o filho, ignorando a presença de Malu.
Edu – Mãe eu não vou. Já não é mais surpresa que a senhora me siga e queira me aprisionar em casa, feito um criminoso. A novidade fica por conta, que dessa vez eu não vou.
Julieta – Eu ainda sou sua mãe e você me deve obediência, por tanto, você vai sim.
Julieta segura no braço de Edu. Malu coloca a mão por cima.
Malu (intervindo) – Solta, o deixa ficar dona Juju.
Julieta – Juju não. Juju eu sou pro meu marido e pros meus amigos. Pra você é Julieta Garcia. Aliás, nem dirija a palavra a mim.
Edu – Não seja grosseira mãe.
Julieta – Eu estou sendo sincera. Não sou a favor desse namoro. Vocês não vão ficar juntos e ponto. Quero ver quem vai provar o contrário?
Julieta puxa Edu com força do banco.
Julieta (a Edu) – Agora some, vai pro carro.
Edu – Desculpa Malu. Mas terei que ir.
Malu (olhos marejados) – Você vai ceder mais uma vez aos caprichos da sua mãe? Não tô acreditando Eduardo.
Edu (triste) – Depois a gente se fala.
Julieta (ar de superior) – Viu só quem ganhou? Eu sou mãe e patrocinadora dos caprichos dele. Tava na cara que essa disputa seria moleza.
Julieta sai andando na frente de Edu em direção ao carro.
Edu – Depois a gente se fala Malu.
Malu (reprovação) – Frouxo!
Edu anda em direção ao carro e entra, o carro dá partida e sai.
Malu fica arrasada. Close nos olhos tristes dela.
Corta para:
Cena 10. Flores/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia
Música “Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos.
Corta para:
Cena 11. Livraria Dom Casmurro/ Salão de vendas/ Exterior/ Dia.
Fluxo normal de clientes e funcionários da loja. Corte da CAM para Tamara, apoiada em uma prateleira qualquer, totalmente mal humorada. Téo se aproxima já vestido com o uniforme.
(Fad out da trilha “Uma história de Amor” – Fanzine.). Close no diálogo.
Téo – Que cara é essa?
Tamara – Ainda pergunta? Eu não fui à escolhida. O Lucas preferiu a Eva, que é mais nova, mais inexperiente, mais chata.
Téo – Expediente acabando, bora lá tomar uma cerveja no Chegaí?
Tamara – Não tô com ânimo pra comemoração não. E acho bom tu ir direto pra casa da ricaça, antes que ela te descasque vivo.
Téo (assustado) – Ela seria capaz?
Tamara – Uma mulher com ódio é capaz de tudo, nunca duvide.
Close no olhar sinistro de Tamara.
Corta para:
Cena 12. Flores/ Elevado/ Subúrbio/ Exterior/ Dia - Noite.
(Música “Aceita, paixão” – Péricles).
Transição do dia para a noite com as seguintes imagens: Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias, periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys. Close na fachada do Bar Chegaí.
Corta para:
Cena 13. Bairro Elevado/ Bar Chegaí/ Interior/ Noite.
CAM percorre todo o salão com uma mesa de sinuca em um canto com dois homens jogando. Algumas mesas espalhadas pelo salão e ocupadas por diversos homens e pouquíssimas mulheres.
Balcão: Zé Diogo está do lado de dentro do balcão, servindo cachaça a um homem, entre 45 e 50 anos, desdentado, roupas esfarrapadas e sujas, pele clara, porém bastante maltratada pelo tempo e pelo sol em excesso de sol.
Zé Diogo (servindo) – Essa é a última, toma e risca fora daqui.
Zé Diogo termina de servir e o homem toma a pinga numa golada só.
Homem – Pendura na conta pra mim.
Zé Diogo – E quando é que eu não pendurei?
O homem vira-se e sai sem esboçar qualquer reação. Zé Diogo pega um pano e começa a limpar o balcão. Nesse instante Lui entra junto de Bebê e se encaminha até o balcão.
Lui – Ô Zé, tem refrigerante diet aí?
Zé Diogo – Num tava saindo muito, só você que comprava de vez em quando, aí parei de pegar.
Lui (desmunhecando) – Eu não acredito José Diogo de Oliveira. Bate duas vezes na minha cara, mas não me deixa sem o refri diet, please.
Zé Diogo – Deixa de frescuragem, que tu bebe coisa pior.
Lui – Olha o respeito comigo Zé.
Zé Diogo – Tu é muito espaçoso.
Lui – Sou espaçosa, sou espaventosa, (a Rapaz) Num sou Bebê?
Bebê – Uhum.
Lui – Tanto sou, que essa birosca não me compreende, vou embora.
Zé Diogo – Calma Lui. Tenho suco natural de laranja aqui.
Bebê – Eu detesto laranja.
Lui – Tá vendo, o Bebê não gosta de suco de laranja.
Zé Diogo – Mas que porra de bebê é essa? Esse marmanjo que tu tá sustentando agora se chama Bebê?
Lui – Belarmino Altamirano Da Cruz Valadão. Pelo tamanho do nome, tu já pode imaginar a potência. Aí eu chamo de Bebê.
Bebê (a Zé Diogo) – Se quiser, pode me chamar assim também.
Zé Diogo – Que isso rapaz, sou cabra macho. É Belarmino e olhe lá.
Bebê – Tu que sabe. Mas eu prefiro Bebê.
Lui – Chega de enrolação Zé, e manda dois litros de suco pra mim e quatro croquetes.
Zé Diogo – Já já eu peço a Ondina pra levar lá.
Lui – Satisfeito. Beijinho na cabeça e até terça!
Lui manda beijo pra Zé Diogo, que faz cara feia.
Lui e Bebê vão embora do bar.
Corta para:
Cena 14. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Noite.
A sala está totalmente vazia, mas com as luzes acesas. A campainha toca. Teresa vai atender. É Ângelo.
Teresa (surpresa) – O senhor aqui?
Ângelo caminha até o sofá e se senta.
Ângelo – Vá chamar meu filho.
Teresa fecha a porta.
Teresa – Sim senhor! Só um momento.
Teresa sobe as escadas depressa. Vitória vem saindo da cozinha, caminhando com sua muleta.
Vitória – Ângelo Sales de Queirós, na minha casa. A que devo a honra desta ilustre visita?
Ângelo – Seja menos hipócrita. Essa casa, caso você não saiba, foi comprada com o meu dinheiro, portanto é minha.
Vitória fica de pé na frente de Ângelo.
Vitória – Continua o mesmo grosso de sempre.
Ângelo – E você, a mesma interesseira e falsa de anos atrás.
Vitória – Aceita algo pra beber? Um uísque?
Ângelo – Prefiro veneno, a ter que beber. Essa sua imitação de schot escocês.
Vitória – Eu vou subir e descansar. Fique aí sozinho, ou melhor, morra.
Ângelo – Esse gostinho eu não vou te dar, ainda. Fiz exames e estou ótimo de saúde.
Vitória (saindo) – Até os médicos se enganam. Pra morrer basta estar vivo. Gente velha é assim, morre por qualquer coisinha.
Vitória sorri maliciosamente e sobe as escadas em direção a seu quarto.
Ângelo – Vagabunda.
Corta para:
Cena 15. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Eva/ Interior/ Noite.
Inúmeras caixas de papelão fechadas. Uma escrivaninha cheia de poeira e com um notebook em cima.
Tamara e Eva estão transportando as caixas de qualquer outro local para lá. Tamara traz a última caixa e a joga no chão exaurida.
Tamara (exausta) – Se tivesse mais uma caixa, eu juro que cairia aqui no chão, mortinha da Silva.
Eva sorri e conta a quantidade de caixa.
Eva – Em meia hora fizemos uma mudança grande.
Tamara (cinismo/ FELICIDADE) – Seja bem vinda, gerente!
Eva – Seja bem vinda, secretária!
Tamara dá as costas para Eva e faz cara feia.
Tamara (meiga) – Adorei a escolha do Lucas. Não tinha pessoa mais capacitada pro cargo, te juro.
Eva – Obrigada! Sabe, as vezes eu penso que é muito bom estar aqui, mostra que meu esforço não foi em vão.
Tamara (olhando o relógio) – Vamos embora?
Eva – Agora!
Eva e Tamara pegam suas bolsas e saem.
Corta para:
Cena 16. Mansão Amadeu. Sala de estar. Interior. Noite.
Ângelo e Miguel estão sentados no sofá conversando. Conversa já iniciada.
Miguel (chocado) – Não pode ser pai. Não tô acreditando que o senhor fez uma coisa dessas.
Ângelo – Eu fiz o que era certo. Já estou cansado de comandar aquela empresa.
Miguel – Eu sei pai, são anos a frente da La Salud, mas não precisava vendê-la. Podia apenas ter repassado o cargo de presidência.
Ângelo – Quem decide essas coisas sou eu. Mas ainda não fechei negócio com a “W Coração” ainda. Vou repensar a proposta deles.
Miguel – Repense mesmo. Dinheiro é muito, mas não é tudo.
Ângelo – Não quero falar em dinheiro por agora. Quero falar sobre o novo livro do Fabricio. Já chegou a livraria daqui.
Miguel faz cara de tédio.
Miguel – O que ele tá falando dessa vez? Pássaros e seus cantos? Não, obrigado.
Ângelo – Eu não pude ir ao Rio de Janeiro, na coletiva de autógrafos, mas amanhã mesmo irei cedinho a livraria comprar o livro.
Miguel – Ele sempre foi seu predileto né pai?
Ângelo – Comigo não existe essa de predileção não. Eu gosto de vocês dois igualmente.
Ângelo se levanta.
Ângelo – Vou embora. Amanhã nos vemos.
Miguel (se levantando) – Eu o acompanho até a porta.
Ângelo – Morei mais de 30 anos nessa casa, conheço a saída como a palma da minha mão.
Ângelo vai embora e Miguel fica de cara feia. Nesse instante Milena desce as escadas.
Milena – Eu ouvi toda a conversa.
Miguel – Então você sabe que meu império está ameaçado né? Sabe que meu pai pensa em vender a empresa.
Milena começa a fazer uma massagem em Miguel.
Milena – E o que há de mal nisso? O dinheiro vai ficar pra você mesmo.
Miguel – Eu quero poder, quero a empresa. É com ela que o dinheiro vem. Mas meu medo maior é que meu pai esteja querendo enfiar esse dinheiro nos projetos malucos do Fabrício.
Milena – Acho que é hora de interditar seu pai.
Miguel a olha assustado.
Milena – É sim. Você conhece aquela Ellen do sanatório do Rio, e pode muito bem pedir a ela um laudo dizendo que seu pai não está muito bem da cabeça.
Miguel (sorridente) – E com isso eu passo a administrar a empresa.
Milena – Justamente.
Miguel (abraçando Milena) – Você é brilhante.
Os dois se beijam.
Corta para:
Cena 17. Mansão Trajano. Quarto de Mafalda. Interior. Noite.
Téo está deitado na cama, coberto por lençol, enquanto Mafalda está sentada de frente a penteadeira passando creme no rosto.
Téo – Vem pra cama meu amor.
Mafalda – Eu esperei 36 horas pra você voltar pra casa, agora você pode muito bem esperar 15 minutos.
Téo – Ih, vai começar a mesma ladainha de sempre?
Mafalda se vira para Téo.
Mafalda – Você repete as mesmas asneiras, aí eu já tenho mesmo discurso. Faça favor né Téo, eu não aguento mais essa situação. É minha irmã rindo de mim, meu cunhado jogando indiretas, e até aquela cretina da sua irmã tá se metendo a besta comigo, e tudo por culpa de quem? Sua.
Téo – Eu prometo que jamais voltarei a fazer isso, sem te falar antes.
Mafalda (indo deitar) – Então tá. Quero só ver.
Mafalda se deita e começa a beijar Téo.
Corta para:
Cena 18. Pórtico da cidade. Exterior. Noite/Dia.
(Música “Vivendo e aprendendo a jogar” Elis Regina.)
Imagens aéreas do Pórtico, com a transição da noite para o dia.
Corta para:
Cena 19. Rodoviária de Flores. Exterior. Dia.
Movimento natural de pessoas e ônibus. Close em um ônibus, que estaciona na plataforma de desembarque, com seu letreiro “Rio de Janeiro x Flores”.
Alguns passageiros descem, logo em seguida desse Regininha e atrás dela, Dama.
Dama (convicta) – E muitos anos depois eu voltei. Chegou a hora da onça beber água.
Regininha (sorridente) – É assim que se fala tia. Agora vamos pra um hotel.
Regininha pega suas malas no bagageiro do ônibus e caminha em direção a um táxi.
Corta para:
Cena 20. Livraria Dom Casmurro/ Salão de Vendas/ Interior/ Dia.
Téo está colocando alguns livros na prateleira, enquanto Tamara, com um bloquinho e caneta, segue Eva.
Eva (andando) – Tamara, ligue para a editora dos livro Samuelli e peça para mandar a tabela com os livros e preços. Também ligue para aquela editora do Rio e peça que me mande mais exemplares do livro do Fabrício Queirós. Estão quase esgotados.
Tamara (irritada) – Deseja algo mais?
Eva – Não. Pode ir a minha sala e ligar, por favor!
Tamara sobe as escadas, enquanto isso Eva continua fiscalizando todo o trabalho da livraria. Nesse instante Ângelo chega e se dirige até a moça.
Ângelo – Bom dia. Gostaria de saber onde está o livro “Filho” do Fabrício Queirós.
Eva – Bom dia. Venha que eu mostro ao senhor.
Eva começa a andar por entre as prateleiras de livros e é seguida por Ângelo.
Eva (pegando o livro) – É este. Tá vendendo feito água.
Ângelo pega o livro e olha emocionado.
Ângelo (emocionado) – O meu filho é um artista. Primeiro livro dele.
Ângelo sente uma forte dor no lado esquerdo do peito e cai desacordado.
Eva (assustada) – Meu Deus, moço, por favor, acorda.
Eva se abaixa e começa a sacudir Ângelo, que permanece imóvel.
Eva (gritando) – Socorro! Chamem a ambulância, ele tá morrendo. Socorro!
Eva puxa Ângelo para seus braços. Téo chega rapidamente ao local.
Téo (assustado) – É o Ângelo. Meu Deus.
Eva (nervosa/ chorando) – Chama a ambulância, por favor!
Téo pega o celular e disca.
Téo (ao cel) – Alô, uma ambulância rápido pra livraria Dom Casmurro. Tem um homem morrendo.
Téo desliga o celular e olha para Eva, que está chorando.
Eva (chorando) – Não tem mais jeito, ele morreu...
CAM LENTA: Eva deixa cair uma lágrima sobre Ângelo.


FIM

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