Cena 1. Rio
de Janeiro/ Bairro Jardim Botânico/ Sanatório/ Quarto de Repouso/ Interior/
Dia.
Continuação
do capítulo anterior. Dama Surpresa com a visita inesperada de Regininha.
Regininha –
Chegou
a nossa hora Dama.
Dama olha
para Regininha totalmente assustada. (Música de suspense)
Dama
(assustada/ perplexa) – É você?
Regininha –
Em
carne e osso. Chegou a hora da nossa vingança querida. É hora de jogar pedra em
uns telhados de vidro.
Close em
Regininha convicta. Close em Dama perplexa.
Dama – Você só
pode estar desatinando. Sai do meu quarto, ou eu faço pano de chão disto que
você chama de roupa.
Regininha
se aproxima de Dama.
Regininha –
Tia
tenta me entender. Por favor, precisamos muito unir nossas forças nesse
momento.
Dama volta
seu olhar para a janela.
Dama – Você quer
dinheiro rápido e fácil. Dessa vez eu não vou cair no seu jogo sujo, me
esquece.
Regininha
(triste) – Essa história não é só por mim. É por nós duas, ou
melhor, por nós três. Eu, a senhora e a mãe.
Dama volta
a encarar Regininha.
Dama
(firme) – Perdeu seu tempo. Eu não vou revirar passado nenhum.
Regininha –
Mas
essa minha história não pode ficar incompleta. Eu preciso de justiça. Nós
precisamos.
Dama
(nervosa) – Essa história que você diz que é sua, essa história,
não vai ter um bom final. Aliás, já não teve no passado. Eu não quero que volte
a se repetir.
Regininha
ajoelha-se na frente de Dama e deixa cair algumas lágrimas. Close em seu olhar
de piedade.
Regininha –
Você
me criou a vida toda com esse desejo de justiça. Me fez sentir a mágoa que você
sentia, toda essa revolta que te embriagava. Agora que eu comecei a remar, eu
não vou morrer na praia. Se não fizer por mim, que te castiguei e te coloquei
nesse mausoléu horroroso... Faça pela minha mãe, faça pela alma da sua irmã que
foi inocente e caiu de idiota nessa história.
Close em
Dama de pé olhando, com dúvida, os olhos de Regininha, que permanece ajoelhada.
Corta para:
Cena 2.
Livraria Dom Casmurro/ Porta de entrada/ Exterior/ Dia.
Fluxo
natural de pessoas passando pelo local, algumas olhando a vitrine da livraria,
que está de portas fechadas. Téo (mesmo traje da cena 13 do capítulo 1) aparece
no local, com cara de ressaca e junto com Tamara.
Téo – Caramba,
esqueci meu uniforme lá em casa.
Tamara – Lá em casa?
Téo – Claro que
não Tamara. Na minha casa aqui no centro da cidade.
Tamara – Casa da
ricaça lá. Aliás, não sei como ela não apareceu lá em casa pra te procurar. Tem
tanto ciúme de você, nunca vi.
Nesse
instante um carro importado na cor preta, estaciona na calçada bem em frente
aos dois.
Close em
quem sai do carro, na câmera lenta: é Mafalda. Que para diante dos dois muda e
séria.
Téo se
assusta.
Tamara
(irônica)– Tava demorando pra rainha ausentar-se de seu castelo
e vir até nós mortais buscar seu precioso chocolate.
Mafalda – Eu vou
fingir que não ouvi essa sua ironia. Aliás, isso nem é ironia. Porque ironia
subentende-se que venha de uma pessoa fina, inteligente, o que
não é o seu caso.
Tamara
(indignada) – Escuta aqui minha senhora...
Mafalda
(corta) – Escuta aqui você. Eu não vou ficar aturando suas picuinhas. Já
encheu o saco por hoje. Chega!
Téo tenta
abraçar Mafalda, que se esquiva.
Mafalda (a
Téo) – E o senhor está no meu caderno. Logo a gente conversa.
Téo – Peraí
mozão.
Mafalda – Eu não vou
discutir com você aqui, logo a gente conversa. Já disse.
Mafalda
entra no seu carro e sai a toda velocidade.
Tamara – Sinto lhe
informar irmãozinho, mas hoje tu tá em maus lençóis.
Téo – É, tô
mesmo. Mas cadê o Lucas pra abrir a livraria? Será que ele deu folga?
Lucas chega
por trás de Téo.
Lucas
(abrindo a porta) – Bom dia, bom dia, bom dia. Nada de feriado, hoje é
trabalho duro.
Lucas
termina de abrir a porta e entra. Ele é seguido por Tamara e Téo.
Corta para:
Cena 03.
Livraria Dom Casmurro/ Salão de vendas/ Exterior/ Dia.
Lucas
(entrando) – Preciso que as faxineiras mudem o cheiro desse
desinfetante, me faz passar mal.
Tamara e
Téo o seguem.
Lucas – Tamara abra
a sala de reuniões e peça que todos os funcionários, assim que chegarem, se
encaminhem para lá.
Tamara – Claro, é
pra já!
Téo – Vai ter
festinha?
Tamara – Você só
pensa em festa né?
Lucas – Não vai ter
festa não. Eu vou dizer quem é a nova gerente da livraria.
Lucas pisca
o olho pra Tamara, que sorri. Lucas começa a subir as escadas e a CAM o perde
de vista.
Tamara – Esse posto
é meu Téo. Trabalhei durante anos aqui. Fiz curso, faculdade. Garanto que essa
vaga é minha.
Téo – Opa, vida
mansa.
Tamara – Pra mim.
Tamara sobe
as escadas em direção à sala de reuniões.
Close em
Téo, com jeito malandro, olhando para uns livros a sua volta.
Corta para:
Cena 04.
Mansão Trajano/ Sala de Jantar/ Interior/ Dia.
Meg e
Álvaro estão sentados à mesa tomando café da manhã. Mesa repleta de pães,
bolos, frutas, sucos, café e leite.
Álvaro – Tá a fim de
ir ao Frigideira hoje?
Meg – Pra que?
Álvaro – Jantar.
Meg – Ah não. Lá
tem um monte de pseudo burgueses que se acham no direito de me cobrarem um
plano de carreira.
Álvaro – Mas eles
estão certos, você é a prefeita dessa cidade, tem que apresentar seus projetos
de trabalho.
Meg – Ah Álvaro,
me poupe você também. Tá cansado de saber que eu só entrei pra essa prefeitura
a fim de enriquecer ainda mais e deter poder.
Nesse
instante Marinês entra com o telefone sem fio em mãos.
Marinês – Com licença
dona Meg. É a senhora Vitória.
Meg pega o
telefone rapidamente.
Meg (ao tel.)
– Estou
indo a sua casa, precisamos conversar seriamente.
Meg desliga
o telefone e o entrega a Marinês, que pega e sai.
Álvaro – Você e a
Vitória estão sempre cheias de muitos segredinhos, o que andam aprontando?
Meg – Toda mulher
tem seus segredos, eu não seria diferente. São coisas nossas, só nossas.
Álvaro – Vai
entender a cabeça feminina. Eu não me arrisco.
Nesse
instante Mafalda chega bufando de ódio, e se senta com força a mesa.
Álvaro – Bom dia!
Mafalda
(rude) – Só se for pra você.
Álvaro – Que bicho
te picou hoje?
Meg – O nome
disso aí é Téo. Ele não dormiu em casa.
Mafalda – Vejo que a
sua relação tá mais fria que a Antártida mesmo. Ficar a noite inteira vigiando
o que eu faço, ou deixo de fazer.
Meg – Irmãzinha
linda, quantas vezes eu já te disse pra você largar esse gigolô?
Mafalda – E quantas
vezes eu já te mandei cuidar da sua vida? Me esquece.
Álvaro – Você
deveria arrumar um canto e sumir com o seu Téo. Não aguento mais ouvir brigas
de vocês.
Mafalda – Incomodados
que se mudem. Eu já te avisei inúmeras vezes que essa casa é minha, ao menos
metade dela.
Álvaro se
levanta da mesa.
Álvaro – Tô indo
trabalhar. Depois de uma dessas, nada mais tem como piorar.
Álvaro
beija Meg e sai.
Meg (rude)
– Você
arruma seus rolos e vem descontar na gente.
Mafalda – Tá na hora
de você ir brincar de administração. Vá cuidar da sua prefeitura, vá passear
com seu cachorro e com aquele viado extravagante, vai!
Meg (se
levantando/ indignada) – Ninguém te merece.
Meg sai da
sala de jantar.
Mafalda
(comendo) – Ninguém me ama mesmo.
Nesse
instante Marinês aparece trazendo em uma bandeja de prata uma xícara com algo
quente.
Marinês – Chá ou
café?
Mafalda – Café.
Marinês
(entregando a xícara) – Errou, é chá.
Mafalda – Quando eu
digo que ninguém me ama, é verdade.
Marinês e
Mafalda começam a rir.
Corta para:
Cena 05.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Reunião/ Interior/ Dia.
Vários
funcionários se encontram sentados em volta da mesa, exceto na cabeceira, que
está vaga, assim com mais três lugares nos assentos normais. Entre eles está
Téo, sorridente e muito atencioso a uma conversa que está rolando. Vozerio. CAM
percorre toda a sala, tendo como destaque sempre Téo sorridente e
participativo.
Corta para:
Cena 06.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/Dia.
Lucas está
sentado em sua mesa, digitando algo no computador. Eva e Tamara permanecem de
pé olhando-o.
Lucas
(desligando o PC) – Pronto! Armazenado e salvo. Não teremos mais
problema quanto à nova linha de livros infantis.
Tamara – Não
querendo acabar com sua comemoração, mas já está na hora de irmos à reunião.
Lucas – Tem razão
Tamara, vamos lá.
Tamara olha
para Eva e sorri.
Corta para:
Cena 07.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Reunião/ Interior/ Dia.
A mesma
coisa da cena 5. CAM focaliza em Téo sorrido para os colegas de trabalho. De
repente Téo cria um ar mais sério. Lucas entra, seguido por Eva e Tamara, se
senta na cabeceira da mesa, e as duas se sentam nos lugares restantes. Tudo
fica em silêncio.
Lucas
(brincando) – Quando o gato sai, os ratos fazem a festa. Então é
assim que vocês ficam quando eu saio?
Todos
permanecem em silêncio.
Lucas – Brincadeiras
a parte, eu os convoquei para essa reunião de caráter ordinário, para dizer a
vocês que já escolhi a nova gerente.
Começa um
burburinho.
Lucas – Sim, meus
senhores. Pela primeira vez, em seu centenário, a Livraria Dom Casmurro terá
uma mulher a frente do gerenciamento e empreendedorismo.
Close em
Tamara cheia de si, sorridente.
Lucas – Peço uma
salva de palmas para Eva Magalhães.
Todos
aplaudem sorridentes, exceto Tamara que fica surpresa e frustrada, ao mesmo
tempo com a notícia.
Tamara (pra
si) – Não pode ser.
Eva se
levanta educadamente, mas permanece em seu lugar.
Eva – Gostaria de
agradecer a Deus, ao Lucas, a minha família e a todos vocês pela maravilhosa
oportunidade de conviver e experimentar o prazer que é trabalhar com histórias,
fábulas. (Emocionada) Eu só tenho que agradecer por tudo e prometo dar o melhor
de mim.
Close em
Eva feliz.
Corta para:
Cena 08.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Exterior/ Dia.
Vitória e
Meg sentadas no sofá conversando. Conversa já iniciada.
Vitória
(chocada) – Não pode ser.
Meg – Assim a
Mafalda me disse ontem. Ela foi à prefeitura só pra me falar isso.
Vitória – Você contou
pra Mafalda?
Meg – Tá louca
Vivi? Eu jamais falaria pra ela um assunto desses.
Vitória
respira aliviada.
Vitória – Pensei que
iria ter que sumir com a sua irmã do mapa também.
Meg – Por falar
em irmã, por onde anda a sua?
Vitória – Eneida? Tá
no Rio. Vem semana que vem, já ligou.
Meg – Ela sabe do
nosso segredo. Tenho medo que conte.
Vitória – Quanto a
Eneida fique tranquila. Aquela lá sabe do que sou capaz e não se meteria a
besta comigo. Nosso foco agora é Dama Albuquerque, essa sim pode nos colocar em
maus lençóis.
Meg – Precisamos
pensar em algo e rápido.
Meg e
Vitória ficam quietas se olhando.
Corta para:
Cena 9.
Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia.
(Música
“Relicário” Cássia Eller e Nando Reis”)
CAM abre
com vista aérea do local, que é situado no morro mais alto da cidade. Fluxo de
casais namorando, famílias passeando e tirando fotos, pessoas caminhando.
CAM
percorre tudo isso e para em um banco qualquer, onde estão Malu e Edu, que
estão sentados e abraçados, um de frente para o outro.
Edu – Que saudade
de você meu amor.
Edu e Malu
se beijam.
Malu – Ah, Edu,
você também some. Não gosto disso não.
Edu – É a minha
mãe, você sabe como ela tá esses dias. Atiçada que nem brasa.
Malu – Sua mãe me
detesta mesmo. Eu fico chocada com tamanho desprezo que ela tem por mim.
Edu – Mas vamos
parar de falar nela e aproveitar o tempo que temos juntinhos.
Edu e Malu
se beijam e logo em seguida, se abraçam e ficam quietinhos. CAM desfoca deles,
mostra um carro antigo estacionando na estrada. Julieta desce do carro, avista
Edu e vai calada, mas com semblante de aborrecida.
(Fad out
trilha “Relicário” – Cássia Eller e Nando Reis).
Julieta – Pra casa
Eduardo.
A mulher
olha sério o filho, ignorando a presença de Malu.
Edu – Mãe eu não
vou. Já não é mais surpresa que a senhora me siga e queira me aprisionar em
casa, feito um criminoso. A novidade fica por conta, que dessa vez eu não vou.
Julieta – Eu ainda
sou sua mãe e você me deve obediência, por tanto, você vai sim.
Julieta
segura no braço de Edu. Malu coloca a mão por cima.
Malu
(intervindo) – Solta, o deixa ficar dona Juju.
Julieta – Juju não.
Juju eu sou pro meu marido e pros meus amigos. Pra você é Julieta Garcia.
Aliás, nem dirija a palavra a mim.
Edu – Não seja
grosseira mãe.
Julieta – Eu estou
sendo sincera. Não sou a favor desse namoro. Vocês não vão ficar juntos e
ponto. Quero ver quem vai provar o contrário?
Julieta
puxa Edu com força do banco.
Julieta (a
Edu) – Agora some, vai pro carro.
Edu – Desculpa
Malu. Mas terei que ir.
Malu (olhos
marejados) – Você vai ceder mais uma vez aos caprichos da sua
mãe? Não tô acreditando Eduardo.
Edu
(triste) – Depois a gente se fala.
Julieta (ar
de superior) – Viu só quem ganhou? Eu sou mãe e patrocinadora dos
caprichos dele. Tava na cara que essa disputa seria moleza.
Julieta sai
andando na frente de Edu em direção ao carro.
Edu – Depois a
gente se fala Malu.
Malu
(reprovação) – Frouxo!
Edu anda em
direção ao carro e entra, o carro dá partida e sai.
Malu fica
arrasada. Close nos olhos tristes dela.
Corta para:
Cena 10.
Flores/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia
Música “Uma
história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe
dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves
emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte
ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto
por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça
Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e
animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos.
Corta para:
Cena 11.
Livraria Dom Casmurro/ Salão de vendas/ Exterior/ Dia.
Fluxo
normal de clientes e funcionários da loja. Corte da CAM para Tamara, apoiada em
uma prateleira qualquer, totalmente mal humorada. Téo se aproxima já vestido
com o uniforme.
(Fad out da
trilha “Uma história de Amor” – Fanzine.). Close no diálogo.
Téo – Que cara é
essa?
Tamara – Ainda
pergunta? Eu não fui à escolhida. O Lucas preferiu a Eva, que é mais nova, mais
inexperiente, mais chata.
Téo – Expediente acabando,
bora lá tomar uma cerveja no Chegaí?
Tamara – Não tô com
ânimo pra comemoração não. E acho bom tu ir direto pra casa da ricaça, antes
que ela te descasque vivo.
Téo
(assustado) – Ela seria capaz?
Tamara – Uma mulher
com ódio é capaz de tudo, nunca duvide.
Close no
olhar sinistro de Tamara.
Corta para:
Cena 12.
Flores/ Elevado/ Subúrbio/ Exterior/ Dia - Noite.
(Música
“Aceita, paixão” – Péricles).
Transição
do dia para a noite com as seguintes imagens: Tomadas do bairro suburbano
Elevado. Ônibus passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e
quinquilharias, periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e
velhos e motoboys. Close na fachada do Bar Chegaí.
Corta para:
Cena 13.
Bairro Elevado/ Bar Chegaí/ Interior/ Noite.
CAM
percorre todo o salão com uma mesa de sinuca em um canto com dois homens
jogando. Algumas mesas espalhadas pelo salão e ocupadas por diversos homens e
pouquíssimas mulheres.
Balcão: Zé Diogo está do lado de dentro do balcão,
servindo cachaça a um homem, entre 45 e 50 anos, desdentado, roupas
esfarrapadas e sujas, pele clara, porém bastante maltratada pelo tempo e pelo
sol em excesso de sol.
Zé Diogo
(servindo) – Essa é a última, toma e risca fora daqui.
Zé Diogo
termina de servir e o homem toma a pinga numa golada só.
Homem – Pendura na
conta pra mim.
Zé Diogo – E quando é
que eu não pendurei?
O homem
vira-se e sai sem esboçar qualquer reação. Zé Diogo pega um pano e começa a
limpar o balcão. Nesse instante Lui entra junto de Bebê e se encaminha até o balcão.
Lui – Ô Zé, tem
refrigerante diet aí?
Zé Diogo – Num tava
saindo muito, só você que comprava de vez em quando, aí parei de pegar.
Lui
(desmunhecando) – Eu não acredito José Diogo de Oliveira. Bate duas
vezes na minha cara, mas não me deixa sem o refri diet, please.
Zé Diogo – Deixa de
frescuragem, que tu bebe coisa pior.
Lui – Olha o
respeito comigo Zé.
Zé Diogo – Tu é muito
espaçoso.
Lui – Sou
espaçosa, sou espaventosa, (a Rapaz) Num sou Bebê?
Bebê – Uhum.
Lui – Tanto sou,
que essa birosca não me compreende, vou embora.
Zé Diogo – Calma Lui.
Tenho suco natural de laranja aqui.
Bebê – Eu detesto
laranja.
Lui – Tá vendo, o
Bebê não gosta de suco de laranja.
Zé Diogo – Mas que
porra de bebê é essa? Esse marmanjo que tu tá sustentando agora se chama Bebê?
Lui – Belarmino
Altamirano Da Cruz Valadão. Pelo tamanho do nome, tu já pode imaginar a
potência. Aí eu chamo de Bebê.
Bebê (a Zé
Diogo) – Se quiser, pode me chamar assim também.
Zé Diogo – Que isso
rapaz, sou cabra macho. É Belarmino e olhe lá.
Bebê – Tu que
sabe. Mas eu prefiro Bebê.
Lui – Chega de
enrolação Zé, e manda dois litros de suco pra mim e quatro croquetes.
Zé Diogo – Já já eu
peço a Ondina pra levar lá.
Lui – Satisfeito.
Beijinho na cabeça e até terça!
Lui manda
beijo pra Zé Diogo, que faz cara feia.
Lui e Bebê
vão embora do bar.
Corta para:
Cena 14.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Noite.
A sala está
totalmente vazia, mas com as luzes acesas. A campainha toca. Teresa vai
atender. É Ângelo.
Teresa
(surpresa) – O senhor aqui?
Ângelo caminha
até o sofá e se senta.
Ângelo – Vá chamar
meu filho.
Teresa
fecha a porta.
Teresa – Sim senhor!
Só um momento.
Teresa sobe
as escadas depressa. Vitória vem saindo da cozinha, caminhando com sua muleta.
Vitória – Ângelo
Sales de Queirós, na minha casa. A que devo a honra desta ilustre visita?
Ângelo – Seja menos
hipócrita. Essa casa, caso você não saiba, foi comprada com o meu dinheiro,
portanto é minha.
Vitória
fica de pé na frente de Ângelo.
Vitória – Continua o
mesmo grosso de sempre.
Ângelo – E você, a
mesma interesseira e falsa de anos atrás.
Vitória – Aceita algo
pra beber? Um uísque?
Ângelo – Prefiro
veneno, a ter que beber. Essa sua imitação de schot escocês.
Vitória – Eu vou
subir e descansar. Fique aí sozinho, ou melhor, morra.
Ângelo – Esse
gostinho eu não vou te dar, ainda. Fiz exames e estou ótimo de saúde.
Vitória
(saindo) – Até os médicos se enganam. Pra morrer basta estar
vivo. Gente velha é assim, morre por qualquer coisinha.
Vitória
sorri maliciosamente e sobe as escadas em direção a seu quarto.
Ângelo – Vagabunda.
Corta para:
Cena 15.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Eva/ Interior/ Noite.
Inúmeras
caixas de papelão fechadas. Uma escrivaninha cheia de poeira e com um notebook
em cima.
Tamara e
Eva estão transportando as caixas de qualquer outro local para lá. Tamara traz
a última caixa e a joga no chão exaurida.
Tamara
(exausta) – Se tivesse mais uma caixa, eu juro que cairia aqui
no chão, mortinha da Silva.
Eva sorri e
conta a quantidade de caixa.
Eva – Em meia
hora fizemos uma mudança grande.
Tamara
(cinismo/ FELICIDADE) – Seja bem vinda, gerente!
Eva – Seja bem
vinda, secretária!
Tamara dá
as costas para Eva e faz cara feia.
Tamara
(meiga) – Adorei a escolha do Lucas. Não tinha pessoa mais capacitada pro
cargo, te juro.
Eva – Obrigada!
Sabe, as vezes eu penso que é muito bom estar aqui, mostra que meu esforço não
foi em vão.
Tamara
(olhando o relógio) – Vamos embora?
Eva – Agora!
Eva e
Tamara pegam suas bolsas e saem.
Corta para:
Cena 16.
Mansão Amadeu. Sala de estar. Interior. Noite.
Ângelo e
Miguel estão sentados no sofá conversando. Conversa já iniciada.
Miguel
(chocado) – Não pode ser pai. Não tô acreditando que o senhor
fez uma coisa dessas.
Ângelo – Eu fiz o
que era certo. Já estou cansado de comandar aquela empresa.
Miguel – Eu sei pai,
são anos a frente da La Salud, mas não precisava vendê-la. Podia apenas ter
repassado o cargo de presidência.
Ângelo – Quem decide
essas coisas sou eu. Mas ainda não fechei negócio com a “W Coração” ainda. Vou
repensar a proposta deles.
Miguel – Repense
mesmo. Dinheiro é muito, mas não é tudo.
Ângelo – Não quero
falar em dinheiro por agora. Quero falar sobre o novo livro do Fabricio. Já
chegou a livraria daqui.
Miguel faz
cara de tédio.
Miguel – O que ele
tá falando dessa vez? Pássaros e seus cantos? Não, obrigado.
Ângelo – Eu não pude
ir ao Rio de Janeiro, na coletiva de autógrafos, mas amanhã mesmo irei cedinho
a livraria comprar o livro.
Miguel – Ele sempre
foi seu predileto né pai?
Ângelo – Comigo não
existe essa de predileção não. Eu gosto de vocês dois igualmente.
Ângelo se
levanta.
Ângelo – Vou embora.
Amanhã nos vemos.
Miguel (se
levantando) – Eu o acompanho até a porta.
Ângelo – Morei mais
de 30 anos nessa casa, conheço a saída como a palma da minha mão.
Ângelo vai
embora e Miguel fica de cara feia. Nesse instante Milena desce as escadas.
Milena – Eu ouvi
toda a conversa.
Miguel – Então você
sabe que meu império está ameaçado né? Sabe que meu pai pensa em vender a
empresa.
Milena
começa a fazer uma massagem em Miguel.
Milena – E o que há
de mal nisso? O dinheiro vai ficar pra você mesmo.
Miguel – Eu quero
poder, quero a empresa. É com ela que o dinheiro vem. Mas meu medo maior é que
meu pai esteja querendo enfiar esse dinheiro nos projetos malucos do Fabrício.
Milena – Acho que é
hora de interditar seu pai.
Miguel a
olha assustado.
Milena – É sim. Você
conhece aquela Ellen do sanatório do Rio, e pode muito bem pedir a ela um laudo
dizendo que seu pai não está muito bem da cabeça.
Miguel
(sorridente) – E com isso eu passo a administrar a empresa.
Milena – Justamente.
Miguel
(abraçando Milena) – Você é brilhante.
Os dois se
beijam.
Corta para:
Cena 17.
Mansão Trajano. Quarto de Mafalda. Interior. Noite.
Téo está
deitado na cama, coberto por lençol, enquanto Mafalda está sentada de frente a penteadeira
passando creme no rosto.
Téo – Vem pra
cama meu amor.
Mafalda – Eu esperei
36 horas pra você voltar pra casa, agora você pode muito bem esperar 15
minutos.
Téo – Ih, vai
começar a mesma ladainha de sempre?
Mafalda se
vira para Téo.
Mafalda – Você repete
as mesmas asneiras, aí eu já tenho mesmo discurso. Faça favor né Téo, eu não
aguento mais essa situação. É minha irmã rindo de mim, meu cunhado jogando
indiretas, e até aquela cretina da sua irmã tá se metendo a besta comigo, e
tudo por culpa de quem? Sua.
Téo – Eu prometo
que jamais voltarei a fazer isso, sem te falar antes.
Mafalda
(indo deitar) – Então tá. Quero só ver.
Mafalda se
deita e começa a beijar Téo.
Corta para:
Cena 18.
Pórtico da cidade. Exterior. Noite/Dia.
(Música
“Vivendo e aprendendo a jogar” Elis Regina.)
Imagens
aéreas do Pórtico, com a transição da noite para o dia.
Corta para:
Cena 19.
Rodoviária de Flores. Exterior. Dia.
Movimento
natural de pessoas e ônibus. Close em um ônibus, que estaciona na plataforma de
desembarque, com seu letreiro “Rio de Janeiro x Flores”.
Alguns
passageiros descem, logo em seguida desse Regininha e atrás dela, Dama.
Dama
(convicta) – E muitos anos depois eu voltei. Chegou a hora da
onça beber água.
Regininha
(sorridente) – É assim que se fala tia. Agora vamos pra um hotel.
Regininha
pega suas malas no bagageiro do ônibus e caminha em direção a um táxi.
Corta para:
Cena 20.
Livraria Dom Casmurro/ Salão de Vendas/ Interior/ Dia.
Téo está
colocando alguns livros na prateleira, enquanto Tamara, com um bloquinho e
caneta, segue Eva.
Eva
(andando) – Tamara, ligue para a editora dos livro Samuelli e
peça para mandar a tabela com os livros e preços. Também ligue para aquela
editora do Rio e peça que me mande mais exemplares do livro do Fabrício
Queirós. Estão quase esgotados.
Tamara
(irritada) – Deseja algo mais?
Eva – Não. Pode
ir a minha sala e ligar, por favor!
Tamara sobe
as escadas, enquanto isso Eva continua fiscalizando todo o trabalho da
livraria. Nesse instante Ângelo chega e se dirige até a moça.
Ângelo – Bom dia.
Gostaria de saber onde está o livro “Filho” do Fabrício Queirós.
Eva – Bom dia.
Venha que eu mostro ao senhor.
Eva começa
a andar por entre as prateleiras de livros e é seguida por Ângelo.
Eva
(pegando o livro) – É este. Tá vendendo feito água.
Ângelo pega
o livro e olha emocionado.
Ângelo
(emocionado) – O meu filho é um artista. Primeiro livro dele.
Ângelo
sente uma forte dor no lado esquerdo do peito e cai desacordado.
Eva
(assustada) – Meu Deus, moço, por favor, acorda.
Eva se
abaixa e começa a sacudir Ângelo, que permanece imóvel.
Eva
(gritando) – Socorro! Chamem a ambulância, ele tá morrendo.
Socorro!
Eva puxa
Ângelo para seus braços. Téo chega rapidamente ao local.
Téo
(assustado) – É o Ângelo. Meu Deus.
Eva
(nervosa/ chorando) – Chama a ambulância, por favor!
Téo pega o
celular e disca.
Téo (ao
cel) – Alô, uma ambulância rápido pra livraria Dom Casmurro. Tem um
homem morrendo.
Téo desliga
o celular e olha para Eva, que está chorando.
Eva
(chorando) – Não tem mais jeito, ele morreu...
CAM LENTA:
Eva deixa cair uma lágrima sobre Ângelo.
FIM
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