segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Capítulo 01: Em nome do Filho





Cena 1. Livraria Dom Casmurro/ Fachada/ Exterior/ dia. 


Fluxo natural de pessoas circulando pela calçada. Na livraria um mostruário em vidro com diversos livros.

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Cena 2. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Lucas/ Interior/ dia. 

Eva e Lucas estão sentados à mesa conversando.

Lucas – Parabéns Eva, você é a nova gerente da livraria.

Eva (surpresa) – Lucas, me belisca. Isso só pode ser sonho. Eu jamais imaginei que de vendedora da livraria, eu me tornaria gerente.

Lucas – Você provou inúmeras vezes que está apta a gerir a livraria. Eu mesmo me surpreendi com a sua agilidade nas vendas, flexibilização no horário e ainda por cima fez marketing da nossa livraria no Colégio Felicidade.

Eva – Agradeço seus elogios. Trabalharei ao máximo para que tudo saia da melhor maneira possível.

Lucas – Você passa a ocupar a sala que está vaga, ao lado da minha. Também te arrumei uma assistente, se não se importa, chamei a Tamara.

Eva – A Tamara é ótima. Não poderia ter tido escolha melhor. E eu começo quando?

Lucas – Amanhã. Hoje quero que vá pra sua casa e descanse, porque amanhã será prova de fogo.

Eva – Mal posso esperar por amanhã.

Eva e Lucas cumprimentam-se com um aperto de mão amigável. Com o brilho nos olhos da moça.

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Cena 3. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ dia.

Vitória está sentada no sofá, com sua muleta ao lado e Antero está de pé. Eles estão conversando.

Vitória – Essa é a melhor notícia que você poderia ter me dado Antero. Eu quero ver aquele velho comendo grama pela raiz.

Antero – Eu se fosse você não ia me animando tanto não Vitória. O Ângelo só teve um mal estar.

Vitória – Eu conheço o Ângelo como a palma da minha mão e sei que ele já está partindo. Ele é muito velho e não aguenta mais o tranco.

Antero – Eu duvido muito Vitória, mas enfim, a herança dele é o que importa né?

Vitória – Eu quero ver o Miguel na presidência. Quero voltar a ter status e dinheiro. A miséria que recebo de pensão, mal dá pra sustentar essa casa e pagar a empregada.

Nesse instante Miguel entra pela porta principal da casa.

Miguel – Boa tarde mãe, boa tarde Antero!

Vitória (intrigada) – Não era pra você estar na empresa?

Miguel – Era mãe, era sim. Mas eu decidi sair mais cedo pra comemorar com a Milena.

Antero – Ai que saudade da minha juventude. Hoje em dia eu pago pra não sair de casa.

Miguel (a Antero) – Não é o que parece. Você vive enfurnado aqui em casa.

Vitória (repreende) – Para de graça! O Antero é meu amigo, é amigo da família e braço direito do seu pai.

Miguel – Seu amigo? Conta outra mãe. O Antero tá é te querendo, mas isso eu não vou deixar.

Antero – Eu e sua mãe somos somente amigos Miguel.

Vitória – Para de assunto Miguel. E me diz pra onde você e a Milena vão e porquê vão.

Miguel – Nós estamos fazendo dois anos de casados hoje.

Vitória faz cara feia.

Antero (sorridente) – Quem diria que a Milena iria te suportar hein. Eu jurava que em duas semanas vocês iriam se separar.

Miguel (seco) – Mas não foi como você pensava. A gente se dá bem sim.

Vitória – Então ninguém janta em casa hoje?

Miguel faz que não com a cabeça.

Vitória – Ótimo! Farei o jejum do chá.

Antero (curioso) – Mas que chá?

Vitória – Água e alface chá pra lá. Hambúrguer e refri chá pra cá.

Miguel e Antero riem.

Miguel – Deixa eu subir pra ver a Milena.

Miguel sobe as escadas em direção ao quarto.

Vitória (cochichando) – Sabe que às vezes, eu tenho pena da Milena. Tão traída, tão imbecil.

Vitória ri diabolicamente.

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Cena 4. Flores/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia

(Música “Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores campestres. 4º: Fachada da Prefeitura de Flores.

A imagem da fachada da prefeitura se funde com a cena a seguir. (fad out trilha “Uma história de amor” – Fanzine). 

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Cena 5. Prefeitura/ Porta de Entrada/ Exterior/ dia.

Eva vai passando pela calçada, em frente à prefeitura, quando leva um grande esbarrão de Meg, o que a faz cair no chão.

Eva (indignada) – Ei, não vai me pedir desculpas?

Meg (rude) – Eu não fiz nada, foi você que passou na minha frente. 

Eva – Uhum, sei. Ao menos me ajude a levantar.

Meg mostra suas unhas muito bem feitas em um tom de vermelho vivo.

Meg – Nem posso te ajudar. Acabei de vir da manicure filhinha.

Eva se levanta com raiva.

Eva – Saiba que a senhora é muito mal educada.

Meg – Senhora só no céu querida. Eu sou Meg Trajano, a prefeita dessa cidade.

Eva a olha com desdém.

Eva – Pois por mim poderia ser até a presidenta da Rússia, não me mete medo em nada.

Nesse instante Lui sai de dentro da prefeitura, com um cachorro no colo, para saber o que está acontecendo.

Lui (ASSUSTADO) – Dona Méguiiiii.

Meg (rude) – Pra dentro bicha.

Lui – O que tá acontecendo aqui?

Eva – Essa aspirante à perua e mal educada me derrubou.

Lui – Ui, que badalo! Você se machucou florzinha?

Meg – Essa moça se confundiu. Ela passou na minha frente e acabou esbarrando em mim.

Eva – Não distorça a história. Foi você que não olhou por onde andava e acabou me derrubando.

Lui – Ai gente, para com o show. Parece até que alguém morreu.

Eva (a Meg) – Você é muito da mal educada, sabia? Se precisar do meu voto, nunca terá!

Eva sai pisando duro.

Meg (gritando) – Não preciso do seu voto, sua sem noção. Louca, esquisita, estranha, colorida.

Meg fica encarando Lui, que retribui a encarada.

Meg (nervosa) – Que tá olhando? Perdeu um dente aqui?

Lui – Ai, calma patroinha.

Meg – Me dá o Boticário aqui. Só ele me acalma.

Lui entrega o cachorro a Meg, que vai adentrando a prefeitura. Ele a segue.

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Cena 06. Prefeitura/Gabinete de Meg/ Antessala/Interior/ Dia.

CAM abre em Mafalda sentada na cadeira de Meg e olhando uma foto dela com o cachorro.

Corta para: Antessala.

Com pouca movimentação de pessoas pelo local.
Meg chegando ao local com seu cachorro.

Meg (voz de bebê) – Sabia que mamãe tá doida pra você ter uma esposa. Tão lindinho.

Lui (chegando) – Dona Méguiiiii. 

Meg (normal) – O que foi rainha da bateria?

Lui – Fala assim não que eu gamo. Tum ti tum tum, tum ti tum tum. 

Lui começa a sambar.

Meg (gritando) – Para viado.

Lui para.

Meg – O que você queria me dizer?

Lui – Entre e veja com seus próprios olhos.

Meg entrega Boticário para Lui e bafora com raiva.

Corta para: Gabinete.

Mafalda continua na mesma posição. Meg entra abrindo a porta com força. Porta continua aberta. Meg fica séria e de pé diante da mulher.

Meg (séria) – Mais uma vez não. Agora toda semana vai ser essa porcaria Mafalda? Você se acha no direito de invadir o meu local de trabalho a hora que quiser e se apossar da minha sala.

Mafalda – Boa tarde irmã querida!

Meg – Só se for pra você, meu dia tá péssimo.

Mafalda (sarcasmo) – Eu imagino. Ter que ir a manicure e as compras é algo realmente cruel.

Meg – Você tem o dom de me fazer perder a paciência.

Mafalda – Fecha essa porta.

Meg – Não. Você já está de saída.

Mafalda – Então eu conto em alto e bom som pra todo mundo ouvir, o que me trouxe aqui.

Meg continua parada a olhando seriamente.

Mafalda – A Dama ligou.

Meg rapidamente fecha a porta e fica desesperada.

Meg – E o que ela disse? O que ela queria?

Mafalda – Ela disse que vai retornar mais tarde. E deixou um aviso: que é pra você abrir o olho da sua amiguinha, pois ela vai voltar com força total.

Meg fica visivelmente assustada.

Mafalda – Por que essa mulher te assusta tanto? Tem algum segredo aí?

Meg (disfarçando) – Não...nada...é que ela é maluca mesmo.

Mafalda (se levantando) – Seja como for, o recado tá dado. Eu fui. Quero estar em casa antes do Téo. Bye!

Mafalda abre a porta e sai. Meg fica aflita. Close no desespero de Meg. 

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Cena 7. Flores/ Elevado/ Subúrbio/ Exterior/ Dia.

(Música “Aceita, paixão” – Péricles) Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias, periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys. Close na fachada do Bar Chegaí, todo decorado em tijolinhos marrom, mesas e um grupo de pagode na calçada. Takes de inúmeras casas do bairro, todas de classe média baixa. CAM focaliza em uma casa amarela, único andar, com janelas de grade, uma mureta na frente e sem portão, COM VÁRIAS casas ao lado. É a casa de Fernanda. (Fad out “Aceita, paixão” – Péricles)

Cena 8. Casa de Fernanda/ Cozinha/ Interior/ Dia.

Fernanda está de pé cozinhando, enquanto Malu está sentada a mesa falando ao celular.

Malu (cel.) – Ah amor, vê se me pega amanhã pra gente ir ao cinema. Tô cansada de ficar em casa. (PAUSA)- Por favor, mozão.

Fernanda – Diz que tô mandando um beijo.

Malu (cel.) – Tá bem. Então a gente ai assistir aquele filme de terror.

Fernanda (falando mais alto) – Diz que tô mandando um beijo.

Malu (cel.) – Então beijo, até amanhã e sonhe comigo hoje.

Malu desliga o celular.

Fernanda – Poxa vida. Custava ter mandado meu beijo Maria de Lourdes?

Malu – Fala sério mãe, eu me chamo Malu. Além do mais, é péssimo ficar falando ao telefone: a minha mãe, o periquito, o papagaio e a zebra estão mandando beijo. Amanhã ele vem aqui e a senhora mesma dá o beijo nele.

Fernanda – Quanta bobeira Maria de Lourdes.

Malu – Eu me chamo Malu mãe, Ma-lu.

Fernanda – Seja como for. Na identidade é Maria de Lourdes, nome da minha finada vozinha. 

Malu faz cara de tédio e Fernanda volta a mexer suas panelas no fogo. 

CAM focaliza a entrada comemorativa de Eva.

Eva (pulando) – Me tornei gerente na livraria, viva!

Fernanda e Malu olham assustadas.

Fernanda – É sério?

Eva – E eu iria brincar com uma coisa dessas titia? Nunquinha!

Fernanda sorri e abraça Eva com ternura.

Malu – Que notícia boa de se ouvir prima. Parabéns!

Malu se levanta e também a abraça.

Fernanda – Tem uma sidra na geladeira, tô assando uma asinha de galinha no jeito. Hoje a janta merece uma comemoração.

Eva – Eu vou só tomar uma chuveirada rápida e volto pra gente comemorar.

Eva sai e Fernanda e Malu se olham contentes.

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Cena 9. Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Noite.

Imagens do cruzeiro todo iluminado e com algumas pessoas conversando e outras tirando foto.

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Cena 10. Mansão Amadeu/ Sala de estar/ Interior/ Noite.

Miguel está sentado no sofá, impaciente, olhando seu relógio a toda hora e balançando a perna.

Vitória caminha com sua Muleta, vindo do escritório no térreo.

Vitória (andando) – Ainda não foi?

Miguel (nervoso) – O que você acha?

Vitória termina de caminhar até o sofá e se senta.

Vitória – Eu acho que você está respondão demais. Você tem que me respeitar Miguel, sou sua mãe, e não, essas messalinas com quem você costuma se deitar por aí.

Miguel (falando baixo) – Fala baixo mãe. A Milena pode escutar.

CAM desfoca de Miguel e Vitória e foca em Milena, que está parada no meio da escada e calada, sem produzir qualquer som.

Vitória – A Milena já está cansada de saber.

Milena – Cansada de saber o que?

Close no rosto de Miguel surpreso e no rosto de Vitória séria. Close novamente em Milena, descendo o restante da escada.

Milena – E então, não vão me responde? A Milena tá cansada de saber o que?

Miguel (meigo) – Nada meu dengo. Sabe que a minha mãe surta de vez em quando. (ríspido) Né mãe?

Vitória – Não coloque palavras na minha boca Miguel. Nós três sabemos que você é.../

Milena (corta) – Se vai revirar o passado, é melhor nem começar dona Vitória. 

Vitória – Taí, provou que não é tão masoquista quanto eu pensava. Ponto pra Milena.

Miguel (puxando Milena) – Vamos amor. Não deixe a minha mãe estragar a nossa noite.

Miguel e Milena saem e batem a porta com força.

Vitória (feliz) – Última maldade do dia concluída. Hora do repouso Vitória Amadeu.

Vitória se levanta pega sua muleta e começa a subir as escadas.

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Cena 11. Casa de Fernanda/ Cozinha/ Interior/ Noite.

A mesa está arrumada com três pratos, além das asinhas de frango assadas, arroz, salada e suco de laranja.

Close no semblante de Fernanda e Malu apreensivas.

Eva (off) – Três, dois, um...

CAM aérea mostra Eva estourando uma sidra e se molhando um pouco. Muita gritaria das três ao estourar a champanhe.

Malu – Eu pego os copos.

Fernanda – Vem Eva, vamos nos sentar.

Fernanda e Eva se sentam. Malu volta com três taças de vidro e também se senta a mesa.

Fernanda (resmungando) – Minhas taças não. Tem copo limpo em cima da pia.

Malu – Mãe, é pra uma ocasião especial, deixa.

Fernanda (sorrindo) – Tem razão, é verdade. Eva merece comemoração com tudo do bom e do melhor.

Eva – Eu sou muito feliz de ter a senhora e a Malu como minha família, minha única família.

Malu enche as taças e entrega uma a cada.

Malu (erguendo a taça) – Um brinde!

Fernanda e Eva também erguem as taças. (Música “Trás de mí” – Grupo RBD)

Fernanda – Um brinde a conquista da Eva.

Eva – Um brinde a nossa conquista. Um brinde a nossa família. Um brinde a nossa felicidade.

As três brindam felizes e a imagem congela.

(Fad out trilha “Trás de Mí” – Grupo RBD)

Efeito de quebrar vidro, aplicar na imagem.

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Cena 12. Mansão Trajano/ Sala de Jantar/ Interior/ Noite.

Mafalda, Meg, o cachorrinho Boticário e Álvaro, que estão sentados a mesa jantando.

Meg (ao homem) – Como foi seu dia amor?

Álvaro – Péssimo. Aquele Ângelo tá maluco. Querendo vender a rede de farmácias e construir um resort aqui, nessa cidade palerma.

Meg – O Ângelo tá velho, não sabe mais o que faz.

Álvaro – A boa da verdade é que ele tá milionário e não sabe onde enfiar a grana que tem, e eu feito idiota, tenho que ficar babando ovo daquele velhote.

Mafalda – Baba ovo porque não se garante, se fosse competente e profissional no que faz, garanto que não precisar estar passando por essas humilhações. Você é podre Álvaro.

Álvaro – Olha quem fala em se garantir. Você é a última pessoa que pode dizer isso pra mim Mafalda. Você vive aí mendigando o amor do Téo, vive aí atrás dele, com muito ciúme, sufocando seu michê.

Mafalda – Alto lar, michê não. O Téo só é mais novo.

Álvaro – Sei. Só isso. É novo, é pobre, e achou uma quarentona que o banque.

Meg – Parem os dois, eu exijo.

Adentra a sala de jantar: uma moça, 25 anos, morena, altura mediana, magra, cabelo em coque, roupas de empregada, rosto com algumas espinhas.

Empregada (a Meg) – Deseja mais alguma coisa?

Meg – Não.

Mafalda – Eu desejo Marinês. 

Marinês – Pois não dona Mafalda.

Mafalda – Me trás um café sem açúcar.

Marinês – Sim senhora!

Marinês sai em direção à cozinha.

Meg – Ui, já vi que está a fim de emoções fortes.

Mafalda (Preocupada) – É o Téo que não chegou até agora.

Close na inquietação de Mafalda.

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Cena 13. Bairro Elevado/ Bar Chegaí/ Exterior / Noite.

(Música “Aceita, paixão” – Péricles) Fluxo pequeno de pessoas na porta de entrada do bar. Algumas mesas espalhadas pela calçada. Téo está sentado em uma mesa, acompanhado de duas mulatas muito atraentes.

A mesa lotada de garrafas de cerveja e os três copos cheios.

Rapaz – Olha, como eu trabalhei hoje.

Mulata 1 – Ah para, você nem trabalha. A dondoca é que te banca Téo.

Téo – Quem me dera. Ela me dá luxo, conforto. Mas grana mesmo? É mão-de-vaca pra cacete.

Mulata 2 – E por que você está com ela?

Téo – Status. Foi através dela que eu consegui o emprego na livraria do Lucas lá no centro. Além de conhecer gente influente.

Mulata 1 – Seja como for Téo, você deveria estar com alguém que você gosta e na sua comunidade.

Téo (olhando com desejo) – Mas eu estou com quem eu gosto e na minha comunidade.

Mulata 2 – Ê Téo, tô fora!

Mulata 2 se levanta e vai embora.

Téo – Olha ela, não aguentou o papo.

Mulata 1 (ao pé do ouvido) – Mas eu aguento, tudo!

Téo – Ui, assim que eu gosto. Tu é das minhas nega.

Mulata 1 sorri maliciosamente.

Téo (gritando) – Zé Diogo, traz mais uma loura gelada aí pra mim.

Mulata 1 (debochando) – É hoje que a ricaça faz pedacinho de você.

Téo – Eu prefiro que você me rasgue todo.

Téo agarra a Mulata e lhe dá um beijão.

Nesse instante Zé Diogo chega.

Zé Diogo (abrindo a garrafa) – Tá na mão sua cerveja leque.

Téo – Ô Zé, tu não falha nunca. Tá gelada?

Zé Diogo – Minhas louras estão nevando leque. Não espuma nunca.

Téo – É assim que eu gosto.

Homem (off) - Ô Zé, traz uma dose de conhaque aqui pra mim. E uma cerva pra dona Maria.

Zé Diogo (com Téo) – Deixa eu ir lá atender minha clientela. Sacomé né?

Zé Diogo sai. Téo volta a beijar e acariciar a Mulata.

(Fad out Trilha “Aceita, paixão” – Péricles).

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Cena 14. Restaurante Frigideira/ Fachada/ Exterior/ Noite.

Letreiro com o nome do restaurante em neon e com o símbolo de uma frigideira. Fluxo de casais adentrando ao recinto.

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Cena 15. Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Noite.

PLANOS GERAIS do ambiente, muito requintado, pouco barulho. Close no palco, onde uma banda de BLUE JAZZ faz um som em baixo volume e muito bem sincronizado. CAM continua percorrendo, até achar ao fundo do salão, uma mesa com iluminação a velas. Lá estão Miguel e Milena sentados, conversando.

Na conversa, mas a imagem permanece de longe, Milena de costas para a CAM.

Milena – Eu adoro quando você me traz ao Frigideira. Ambiente tão requintado, tão aconchegante.

Miguel – Você merece. E hoje é um dia mais do que especial, dois anos de casados.

Milena – Parece que foi ontem.

Close da cena de perto agora.

Miguel – Eu queria estar num cruzeiro pelo Atlântico Sul, mas a situação financeira não anda muito bem.

Milena – Seu pai tem soltado pouca verba?

Miguel – Ele tem me dado apenas o salário, nada a mais.

Milena (surpresa) – Mas você é filho dele.

Miguel – Ele só solta verba pra patrocinar os livros que o Fabrício escreve. Pra mim, nada!

Milena – Seu pai ama muito o Fabrício. A gente percebe de longe que ele prefere aquele escritor meia boca.

Miguel – Mas eu ainda serei o presidente da Rede de Farmácias La Salud. Pode apostar que serei.

Close em Miguel, cara de ambicioso.

Milena – Mas viemos aqui pra comemorar, falar de nós, ou passar a noite falando do seu Ângelo e daquele aspirante a Machado de Assis?

Miguel – Tem razão meu dengo, viemos pra comemorar. (meigo) – Tenho um presente pro meu dengo.

Milena (curiosa/feliz) – O que é?

Miguel tira do bolso uma pequena caixa recoberta por veludo vermelho.

Miguel (abrindo) – Pra simbolizar nosso amor.

Foco no que há na caixa: um anel banhado a ouro e com uma pedra azul celeste.

Miguel – É uma ametista africana. Dizem que quem ganha uma dessas, inicia uma nova fase na vida.

Close em Milena olhando fascinada para a joia.

(Música “Luxúria” – Isabella Taviani).

Miguel coloca o anel lentamente no dedo indicador direito de Milena, que sorri felicíssima.

Close na joia. 

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Cena 16. Rio de Janeiro/ Cristo Redentor/ Exterior/ Noite-Dia.


(Música “Águas de Março” – Elis Regina e Tom Jobim) Imagens aéreas do Cristo Redentor, por todos os ângulos possíveis. Longe e perto do monumento. Transposição da Noite para o dia. Corte da Música.

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Cena 17. Rio de Janeiro/ Bairro Jardim Botânico/ Exterior/ Dia.

Tomada com imagens do bairro. Pessoas caminhando, conversando, indo trabalhar. Takes das principais ruas do Bairro. CAM dá seu último take em uma mansão, toda branca e deteriorada pelo tempo, com um muro imenso (entre 4 e 5 metros) e um portão de grade da mesma altura. Ao lado uma campainha. É um SANATÓRIO.

Corta para:

Cena 18. Rio de Janeiro/ Bairro Jardim Botânico/ Sanatório/ Portão de entrada/ Exterior/ Dia.

Nenhum movimento pela rua, um ônibus para em frente e desce Regininha. Ela caminha até o portão, segura firme na grade e fica olha para o interior do local.

Regininha – É aqui, cheguei!

Regininha TOCA A CAMPAINHA.

Corta para:

Cena 19. Rio de Janeiro/ Bairro Jardim Botânico/ Sanatório/ Corredor – Quarto de Repouso/ Interior/ Dia.

Ellen vai conduzindo Regininha por um enorme corredor branco. Elas vão passando por internos e funcionários.

Mulher – Há dois dias ela não come, não conversa com ninguém.

Jovem – Comigo ela vai conversar, ela tem que conversar.

Mulher – Ela não tem nenhum outro parente?

Jovem – Não, ela só me tem. Aliás, essa é a primeira vez que venho visita-la desde a internação.

Mulher – Eu sou a enfermeira responsável por essa casa de psiquiatria. Sou Ellen Duarte, qual o seu nome?

Jovem – Me chamo Regina. (Convicta) Regina Leão.

Corta para: Quarto de Repouso.

Regininha e Ellen adentram o quarto sem serem notadas por Dama, que está de pé e olhando o movimento pela janela.

Regininha olha para Ellen, que sai de fininho, fechando a porta com cuidado. A idosa não percebe nada.

Regininha – Chegou a nossa hora, Dama.

Dama olha para Regininha totalmente assustada. (Música de suspense)

Dama (assustada/ perplexa) – É você?

Regininha – Em carne e osso. Chegou a hora da nossa vingança querida. É hora de jogar pedra em uns telhados de vidro.

Close em Regininha convicta. Close em Dama, perplexa.

FIM DO CAPÍTULO

4 comentários:

  1. Uhuuuuul! Bom saber que ainda existem autores que prezam por um bom roteiro. Bacana a história, vou acompanhar.

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  2. Que bom que você gostou da nossa novela Diogo!

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  3. Muito obrigado Diogo e Janete e continuem acompanhando as emoções de "Em nome do Filho"

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