CENA 01. APARTAMENTO
DE URBANO. SALA. INTERIOR. NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
URBANO VAI ATÉ A
SALA. ELA SEGUE, APRESSADA.
JULIANA – Não vai me contar?
URBANO SE VIRA DE
UMA VEZ.
URBANO – Juliana, eu te amo. Te amo!
JULIANA RI.
INCRÉDULA.
JULIANA – Como é que é? Cê tá maluco?
URBANO – Tô. Por você. Desde o dia em que você pisou na
Apollo! E cê tá morando aqui já faz dois meses, nós ficamos próximos/
JULIANA – (por cima, compreensiva) Mas eu nunca dei a
entender que nós teríamos qualquer coisa.
URBANO – Sim, muito pelo contrário. Você sempre deixou bem
claro que não estava pronta pra uma relação. Mas isso há meses. Você nunca
estará pronta?
JULIANA – (seca) Se você soubesse das coisas que eu passei/
URBANO – (corta/esperançoso) Só vou saber se você me
disser, se você dividir. Confia em mim, Juliana!
JULIANA SENTA NO
SOFÁ, CABEÇA BAIXA. ELE FAZ O MESMO.
JULIANA – Eu confio, mas não tô pronta. Desculpa.
URBANO – Eu te ajudo a ficar pronta, Juliana. Eu me
apaixonei por você de um jeito que nem eu pensei ser capaz. Te amo!
ELE TENTA SE
APROXIMAR, ELA VIRA O ROSTO.
JULIANA – Nós nos conhecemos praticamente outro dia/
URBANO – (entusiasmo) Sim, é uma loucura! Um amor louco,
travesso, bonito. É puro, Jú! Eu gosto de te olhar, de ver você. Só isso basta
pra me realizar. Mas eu sinto que falta mais. Mais de você na minha vida!
JULIANA – (receosa) O que você quer dizer?
URBANO SE AJOELHA.
URBANO – Que pra minha vida ficar completa, só se você for
minha esposa. Casa comigo, Juliana?
JULIANA DESVIA O
OLHAR, MEIO EMOTIVA. URBANO NA EXPECTATIVA.
JULIANA – Urbano, eu não sei o que falar/
URBANO – (por cima/sorrindo) É sim ou não, Jú! E,
sinceramente, eu adoraria ouvir um sim. Que tal?
JULIANA PEGA NAS
MÃOS DELE.
JULIANA – Não dá. Não dá pra dizer sim, meu querido. Olha,
você foi um amor esse tempo todo comigo, me ajudou, me alegrou, mas... Não dá.
Que tal a gente dar tempo ao tempo? Por enquanto eu não tô pronta.
URBANO SE LEVANTA.
SORRI AMARGO.
URBANO – Claro, Juliana. Todo o tempo que você precisar.
Mas pensa com carinho. E deixa o quarto por minha conta.
URBANO VAI PRO
QUARTO. JULIANA ALI, PENSATIVA. A CAMPAINHA TOCA, ELA ATENDE. VITORIA.
JULIANA – Vitória! Nem esperava você aqui.
VITORIA – Desculpa, eu deveria ter ligado. Jú, cê tava
chorando?
JULIANA DISFARÇA,
ENXUGA ALGUMAS LAGRIMAS.
JULIANA – Nada de mais. Saudades de você sabe quem.
ELAS ENTRAM E VÃO
ATÉ O SOFÁ.
VITORIA – Vim justamente falar sobre nós sabemos quem.
JULIANA – (preocupada) Aconteceu alguma coisa com a
Mariana?
VITORIA – (acalma) Não, não. Quer dizer, ainda não, e
depende do que você encara como ‘acontecer alguma coisa’/
JULIANA – (corta, impaciente) Diz logo, Vitória.
VITORIA – Calma, louca! Bem, vamos lá. Você vai torcer meu
belo pescoço por eu não ter dito antes, mas eu realmente não sabia se era
certo.
JULIANA – Fala!
VITORIA – (rápida) Ela vai casar. Com o Bruno, claro.
JULIANA ESTARRECIDA.
VITORIA RECEOSA.
JULIANA – Casar? Casar no papel, na/
VITORIA – (completa) Igreja não. Pelo menos eu acho. E sim,
com véu, grinalda, e tudo o que uma noiva tem direito.
JULIANA – Eu não acredito! A minha filha tão nova já
casando. Isso... Isso tem dedo da Amanda. Só pode!
VITORIA – Não duvido. O Bruno é de família tradicional,
rica. Esse casamento, pra Amanda, pode acabar sendo o evento do ano!
JULIANA – Eu não posso deixar a minha filha fazer uma coisa
séria dessas apenas pra alimentar o ego da Amanda. Não posso e não vou.
VITORIA – O que você vai fazer?
JULIANA – Não sei, mas vou. Obrigada por me avisar,
Vitória.
VITORIA – Minha obrigação.
AS DUAS SE ABRAÇAM.
JULIANA PREOCUPADA.
JULIANA – Eu vou atrás da Amanda.
VITORIA – Não vai adiantar, amiga!
JULIANA – Eu tenho que tentar. Ver se faço ela desistir
dessa ideia!
VITORIA – Então eu vou junto/
JULIANA – Não. Preciso fazer isso sozinha.
AS DUAS SE
ENCARANDO.
VITORIA – Pelo menos eu te deixo na boate.
JULIANA – (concorda) Tá. Mas vamos logo, Vitória, antes que
a Amanda saia de lá. Não quero pegar ela em casa.
AS DUAS SAEM.
CORTA PARA:
CENA
02. SHOPPING. INTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA: “ROLLING IN THE DEEP” –
ARETHA FRANKLIN.
VÁRIAS PESSOAS
ANDANDO PRA LÁ E PRA CÁ, ENTRANDO EM LOJAS, ETC. CLOSE NA ESCADA ROLANTE, DE
ONDE VEM VINDO CELINA, PODEROSA, SEM A CADEIRA DE RODAS, CHEIA DE SACOLAS. ELA
ENTRA EM UMA DAS LOJAS.
DO PV DE ALGUÉM: CELINA ENTRA NA JOALHERIA, VAI ATÉ O
BALCÃO E EXPERIMENTA UM COLAR DE BRILHANTES. COMPRA.
CELINA, SEM NOTAR A
PESSOA, VAI EMBORA. REVELA ENTÃO NATALIA, PERPLEXA, COM UM CELULAR EM MÃOS,
DANDO A ENTENDER QUE GRAVOU TUDO. ELA SORRI.
NATALIA – (confiante) A casa caiu, falsa aleijada. Agora você
vai pedir pra parar de andar de verdade!
NATALIA SORRI. NELA,
CONFERINDO O VIDEO PELO CELULAR. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA:
CENA 03. MANSÃO
LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. NOITE
A CAMPAINHA TOCANDO.
FRANKLIN VAI ABRIR. É CARMINHA.
FRANKLIN – Carminha? Entra!
ELA ENTRA. VÃO ATÉ O
SOFÁ.
CARMINHA – Boa noite, Franklin. Tá tudo bem?
FRANKLIN – Tá, sim. Celina saiu. Fico feliz que ela esteja
se adaptando à nova condição.
CARMINHA – Que maravilha! Ela é uma mulher muito forte. Mas
eu vim por outra coisa, sabe. Agradecer, em nome de toda a minha família, pela
ajuda que o senhor/ (se corrige) Que você deu pra gente.
FRANKLIN – Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, e fico
feliz que tenha ajudado.
CARMINHA – Ajudou muito! O banco ligou, não vai mais tomar a
casa. Aumentaram nosso prazo de pagamento, agora as coisas estão mais
confortáveis pra todos.
FRANKLIN – Fico feliz.
FRANKLIN SE APROXIMA
DE CARMINHA, QUE FICA DESCONFORTAVEL.
SONOPLASTIA: “STILL LOVING YOU” –
SCORPIONS.
FRANKLIN – Você é uma mulher de ouro, Carminha. Eu vi o
quanto você dá duro pra cuidar da família, por isso quis ajudar.
CARMINHA – Eu, é? Que nada, Franklin. Faço o que tá ao meu
alcance/
FRANKLIN – (corta) Não. Você faz muito mais. Você é uma
mulher magnífica, uma mulher perfeita. Sensacional!
CARMINHA SEM GRAÇA.
CARMINHA – Franklin, eu/
FRANKLIN – Fala nada, não.
FRANKLIN VAI SE
APROXIMANDO MAIS. CARMINHA ATÉ TENTA RECUAR, MAS ACABA CEDENDO. OS DOIS ACABAM
SE BEIJANDO.
DE INICIO CARMINHA
TENTA SAIR, MAS ACABA RETRIBUINDO. SEM FOLEGO, OS DOIS VÃO SE AFASTANDO AOS
POUCOS.
CELINA ENTRA.
FRANKLIN E CARMINHA SE AFASTAM, TENTANDO DISFARÇAR, CELINA SUSPEITANDO. SONOPLASTIA
OFF.
CELINA – Será que eu tô atrapalhando alguma coisa?
CLOSES ALTERNADOS.
CELINA ENCARANDO OS DOIS.
CORTA PARA:
CENA 04. BARONESA
GLAM. SALA DA GERÊNCIA. INTERIOR. NOITE
AMANDA ASSINANDO UNS
PAPÉIS. BATIDAS NA PORTA.
AMANDA – Entra.
JULIANA ENTRA.
AMANDA LEVANTA, INCRÉDULA.
AMANDA – Você? Como é que você tem a cara de pau de me
procurar?
JULIANA – Nós precisamos ter uma conversa, Amanda/
AMANDA – Eu não quero falar com a sua cara. Vai embora
daqui!
JULIANA – Não enquanto a gente não conversar.
AMANDA – Eu chamo a segurança/
JULIANA – (desafiando) Então chama, Amanda. Eu saio daqui
arrastada, mas faço o maior escândalo lá embaixo. A casa tá cheia de filhinho
de papai, jornalista. Vai querer escândalo envolvendo teu nome?
AMANDA – (considerando) Pode sentar. A cadeira é
importada, mas depois eu mando passarem um desinfetante. Sabe como é, né?
Cheiro de cadeia fica impregnado. Talvez seja melhor queimar.
JULIANA – Você não perde a arrogância.
AMANDA – Nem o bom senso! Deixa disso, Juliana. Eu não me
acho arrogante. Eu sou apenas sincera! E realidade é realidade, doa a quem
doer.
JULIANA – Cala a boca, Amanda. Fecha essa matraca! Eu quero
saber tudo sobre essa história de a Mariana estar noiva. Isso tem dedo seu, não
tem?
AMANDA VOLTA A
SENTAR. JULIANA FAZ O MESMO.
AMANDA – Rádio fofoca, desde a época de Cristo sendo o
serviço que mais deu certo pra humanidade. O que você tem a ver com a minha
vida?
JULIANA – Com a sua, nada. Por mim, você se explode. Mas a
Mariana é minha filha. Minha!
AMANDA – Ela é? Me poupa, garota! Olha, Juliana, eu
realmente não quero entrar nessa discussão com você. Vou responder sua pergunta
pra você vazar logo daqui. Sim, a (frisa) minha filha vai se casar. Ela já é
uma mulher. Mas eu entendo sua confusão, você não acompanhou a infância dela,
nem nada/
JULIANA – (corta/abalada) E você acha que eu me orgulho
disso? O peso de não ter visto minha filha crescer me martela todo santo dia,
Amanda!
AMANDA – Problema o seu. Continuando, ela vai, sim, casar.
E porque ela quer. Pronto, já pode ir embora/
JULIANA – Ela é muito nova, Amanda! Eu tenho certeza que
tem dedo seu nisso.
AMANDA – Ela é nova sim. Mas não é porque ela tem seu
sangue que ela vai seguir seus passos, virar uma drogada e matar o próprio
marido/
JULIANA LEVANTA,
CHEIA DE ODIO, E DÁ UM TAPA EM AMANDA. AMBAS SE ENCARANDO, FURIOSAS. AMANDA
REVIDA O TAPA. EM JULIANA.
CORTA PARA:
CENA 05. APARTAMENTO
DE CONRADO. QUARTO. INTERIOR. NOITE
GUIDA E CONRADO AOS
BEIJOS, SOBRE A CAMA. ELE PÁRA, DISTANTE.
GUIDA – (percebendo) O que houve?
CONRADO – Hã? Houve o que?
GUIDA – Isso que eu quero saber. O que tá acontecendo com você? Parece que tá
distante.
CONRADO – Bobagem. Problemas pessoais.
GUIDA – Bobagem mesmo é você não compartilhas esses tais problemas com a sua
namorada. Fala. O que tá te exigindo atenção?
CONRADO A ENCARA,
PENSATIVO. SORRI AMARELO.
CONRADO – Problemas financeiros. Não se preocupa. Vai
melhorar a situação.
GUIDA – Sei...
CONRADO A BEIJA.
NELA, NÃO CONVENCIDA.
CORTA PARA:
CENA 06. BARONESA
GLAM. SALA DA GERÊNCIA. INTERIOR. NOITE
Continuação cena 04.
AMANDA FURIOSA, DE
DEDO PARA JULIANA, QUE ESFREGA O ROSTO, COM RAIVA.
AMANDA – Nunca mais encosta esse dedo de favelada em mim,
sua desgraçada!
JULIANA – E você nunca mais joga o passado na minha cara,
Amanda. Eu quebro essa sua cara.
AMANDA SENTA.
AMANDA – Nunca perde o jeito de suburbana, né?
Barraqueira, ridícula. Pode ir embora de uma vez.
JULIANA SENTA,
CONFRONTANDO.
JULIANA – Vai ter que me tirar daqui.
AMANDA – E pegar uma micose? Deus me livre. Vamos voltar
ao assunto? Vamos! A Mariana tá super realizada com o noivado, ela adora o
Bruno. E isso é tudo/
JULIANA – (por cima) Não é tudo. Eu tenho certeza que seus
interesses particulares estão em jogo, Amanda.
AMANDA – Claro que sim. Vai ser ótimo pro meu nome e pros
meus negócios. Mas isso não muda o fato de que eles se gostam.
JULIANA – Amanda, você vai acabar com esse casamento. Vai
convencer a Mariana de desistir.
AMANDA RI.
AMANDA – Ficou maluca? Voltou a se drogar? Eu não vou
fazer isso.
JULIANA – Vai sim, Amanda. Pro seu bem!
AMANDA – Vai me matar, é? Tô morrendo de medo.
JULIANA – Eu não sou você, Amanda. As minhas armas não
machucam, mas fazem arder.
AMANDA – Sai da Baronesa! Anda, se manda/
JULIANA – Eu vou, mas porque não aguento mais olhar pra
essa sua cara. Apenas saiba que jogo é jogo, guerra é guerra. É bom você se
preparar.
AMANDA AMEAÇADA.
AMANDA – Vai, se manda!
JULIANA VAI SAINDO.
AMANDA – Jogo é jogo e guerra é guerra. Se no jogo, eu uso
da estratégia, na guerra eu não tenho dó de ninguém. Vale tudo. Se você fizer
alguma coisa que eu não goste... Você vai voltar pra cadeia, Juliana.
JULIANA SE VIRA. AS
DUAS SE ENCARANDO.
JULIANA – Que seja por um bom motivo.
JULIANA SAI. AMANDA
SENTA, PENSATIVA. FICA NELA, QUE DERRUBA AS COISAS DA MESA.
CORTA PARA:
CENA 07. MANSÃO
LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
Continuação cena 03.
CARMINHA TOMA A
DIANTEIRA.
CARMINHA – De jeito nenhum, dona Celina. Eu vim agradecer o
Franklin pela ajuda.
CELINA – Tarde assim? Não sei. As pessoas podem não
encarar com bons olhos. (provocando) E também não é bom andar na rua essa hora.
Sabe como é, né? Sempre pode acontecer algo de ruim com gente desavisada.
CARMINHA – Eu já tô indo. Obrigado de novo, Franklin.
CARMINHA SORRI E
SAI. CELINA GARGALHA. FRANKLIN ESTRANHANDO.
CELINA – De romance com a suburbana, Franklin? Não me
espanta se daqui uns dias você invadir a favela em busca de uma segunda esposa.
FRANKLIN – Vai te catar, Celina. Não há nada entre eu e a
Carminha.
FRANKLIN SAI,
IRRITADO. CELINA FECHA A CARA.
CELINA – Veremos, meu amor. Veremos.
NELA, DESCONFIADA.
CORTA PARA:
CENA 08. RIO DE
JANEIRO. EXTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA: “SUGAR” – MAROON 5.
AMANHECE NO RIO DE
JANEIRO. TAKES DE JOVENS ANDANDO DE SKATE, SURFANDO, PULANDO DE PARA QUEDAS.
ÚLTIMO TAKE EM FRENTE À MANSÃO PRATINI. JULIANA ESCONDIDA ATRÁS DE UM POSTE. O
CARRO DE AMANDA SAI E ELA APROVEITA PRA ENTRAR, SEM SER VISTA.
CORTA PARA:
CENA 09. MANSÃO
PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
MARIANA PENTEANDO O
CABELO NA CAMA. BATIDAS NA PORTA.
SONOPLASTIA OFF.
MARIANA – Pode entrar, tá aberta!
JULIANA ENTRA.
MARIANA SEM ENTENDER.
MARIANA – Cristina? Como é que você me achou?
JULIANA – Eu tenho muita explicação pra você, Mariana.
MARIANA – Olha, desculpa se eu não te mandei um convite pro
meu casamento. É que era uma festa fechada e./
JULIANA – Não é nada disso, Mariana. Eu não vim pro seu
casamento. Pelo contrário! Eu vim tentar fazer com que você desista dessa
loucura!
MARIANA – Como é?
AS DUAS SE ENCARAM.
CLOSES ALTERNADOS. EM JULIANA.
CORTA PARA:
CENA 10. MANSÃO
PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
MÚSICA SUAVE DE
FUNDO. PLANO GERAL DO
JARDIM, TODO ENFEITADO, COM RENDAS BRANCAS, QUE DÃO EM UM PÚLPITO, ONDE SERÁ
REALIZADA A CERIMÔNIA. UMA TENDA COM FITAS COLORIDAS, PARA RECEPÇÃO DOS NOIVOS.
MUITAS POLTRONAS BRANCAS, ENFILEIRADAS PELO JARDIM, PARA ASSISTIR AO CASAMENTO.
ARRANJOS DE ROSAS BRANCAS E VERMELHAS SENDO ALOCADOS ALI. MUITA MOVIMENTAÇÃO
PARA DEIXAR TUDO PRONTO.
CORTA PARA UMA MESA
COM DOCES, SENDO POSTA, EM UMA ÁREA COBERTA. CELINA POR ALI, COORDENANDO O
PESSOAL. CORTES DESCONTÍNUOS E UM TEMPO POR ALI.
CORTA PARA:
CENA 11. MANSÃO
PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
Continuação cena 09.
MARIANA LEVANTA-SE E
ENCARA JULIANA DE FRENTE.
MARIANA – Cristina, eu não tô entendendo. Como você sabe
onde era a minha casa? Quem é você?!
JULIANA COM LÁGRIMAS
NOS OLHOS.
JULIANA – O meu nome não é Cristina!
MARIANA DÁ UM PASSO
PARA TRÁS, TEMEROSA. JULIANA VAI ALCANÇAR E MARIANA PEGA UM OBJETO.
MARIANA – Não se aproxima de mim! Quem é você? Eu vou
chamar a polícia!
JULIANA – (suplica) Eu não quero te fazer mal. Por favor, me
escuta.
MARIANA CONSIDERA,
BAIXA A GUARDA.
JULIANA – Você não pode se casar! Você não vai ser feliz
com esse rapaz, Mariana!
MARIANA – E quem você pensa que é? Bom, na verdade, nem eu
sei quem você é. Isso é loucura! Você se aproxima de mim, me engana, e acha que
tem o direito de vir me falar um monte de coisas, de querer mandar na minha
vida? Afinal, quem é você?!
JULIANA RESPIRA
FUNDO, TOMANDO CORAGEM.
JULIANA – Eu sempre
soube que você morava aqui. Eu te conheço antes mesmo daquela noite no bar na
Lapa.
MARIANA – Como assim?
JULIANA – Eu conheço a sua mãe há muitos anos. Nós
brigamos. Mas eu sempre senti sua falta, Mariana, eu juro.
MARIANA – Me explica direito. Vocês são amigas?
JULIANA ENCARA
MARIANA.
JULIANA – Nós somos irmãs.
TENSÃO. BAQUE DE
MARIANA.
MARIANA – (Gagueja) Você... Você é minha tia?
JULIANA – (Chorando) Não, Mariana. Não sou sua tia. (Pausa)
Eu sou Juliana. Eu sou a sua mãe biológica!
JULIANA COMEÇA A CHORAR.
MARIANA INCRÉDULA. FICA NELAS, TENSAS.
CORTA PARA:
CENA 12. CARRO DE
AMANDA. INTERIOR. DIA
AMANDA DIRIGINDO, EM
SILÊNCIO. O CELULAR COMEÇA A TOCAR. ELA ATENDE.
AMANDA – (Tel.) Wilson? Fala rápido, tô indo buscar o
vestido da Mariana. A Celina tá aí te ajudando com a decoração, não tá?
WILSON – (V.O) Por aqui tá tudo bem sim, madame. Ou quase
bem...
AMANDA – (Tel.) Fala o que é, exu?!
WILSON – (V.O) Aquela moça... A Juliana.
AMANDA FAZ EXPRESSÃO
DE CHOQUE E REDUZ A VELOCIDADE.
AMANDA – (Tel.) O que tem a Juliana?
WILSON – (V.O) Madame, me desculpa, mas eu sei que a
senhora e ela... Bom, eu sei que vocês são irmãs e./
AMANDA – (Tel./ Berra) Fala logo, bicha!
WILSON – (V.O) Madame... A Juliana subiu no quarto da
Mariana e as duas parecem estar em uma conversa bem séria.
EXPRESSÃO PERPLEXA
DE AMANDA.
CORTA PARA:
CENA 13. MANSÃO
PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
WILSON PARADO,
CELULAR EM MÃOS. À SUA VOLTA, VÁRIAS MESAS E CADEIRAS. MOVIMENTAÇÃO. CELINA EM
SEGUNDO PLANO.
WILSON – (Tel.) Madame? Tá me ouvindo?
CELINA SE APROXIMA
SORRATEIRA.
CELINA – Algum problema?
WILSON SE VIRA.
DESLIGA O CELULAR E SORRI AMARELO.
WILSON – Talvez. Os convidados?
CELINA – Quase chegando. A Amanda foi buscar o vestido,
não foi? A maquiadora já chegou, vou mandar subir no quarto da Mariana.
WILSON – Melhor não. Não agora. (Sorri) Vamos esperar
madame Amanda voltar.
CELINA O OLHA,
DESCONFIADA.
CELINA – Aconteceu algo que eu deva saber?
WILSON – Em absoluto. Tudo na mais perfeita ordem.
CELINA CONSIDERA.
SORRI COM DEBOCHE.
CELINA – Isso está com cara de festa grega, isso sim.
CELINA SE AFASTA.
WILSON FECHA A CARA.
WILSON – Fuxiqueira!
NELE, IRRITADO.
CORTA PARA:
CENA 14. MANSÃO
PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
Continuação cena 11.
JULIANA DESESPERADA.
MARIANA SEM ACREDITAR.
MARIANA – Você tá louca! Maluca! Vai embora daqui!
JULIANA – Eu nunca me senti tão lúcida quanto hoje, minha
filha./
JULIANA VAI ABRAÇAR
MARIANA, QUE SE ESQUIVA COMPLETAMENTE.
MARIANA – (Atônita) Não! Não encosta em mim, não chega
perto. Não dirige uma só palavra a mim, seja lá quem você for. Eu não quero
saber, eu não acredito que... Eu não posso acreditar!
JULIANA – (Doce) Eu sei que você sente que o que eu te falo
é verdade. Que você sente que eu sou a sua mãe.
MARIANA – (Berra) Você não é a minha mãe!
AS DUAS SE ENCARAM.
CORTA PARA:
CENA 15. MANSÃO
PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
MOVIMENTAÇÃO POR
ALI. BANDA JÁ NO PALCO, TOCANDO ALGUMA BOSSA AO FUNDO. CONVIDADOS COMEÇAM A
CIRCULAR PELO JARDIM. CELINA SE APROXIMA DE WILSON, QUE PERMANECE INQUIETO.
CELINA – Parece que os convidados já estão chegando, e a
Amanda nada...
WILSON – A senhora vai recepcioná-los?
CELINA – De cadeira de rodas? Isso aqui é um casamento e
não uma palestra motivacional para inválidos.
WILSON QUASE RI, MAS
SE SEGURA.
CELINA – Quem vai fazer isso é Bruno e Franklin. Estão ai
pra isso. Meu papel nesse espetáculo é figurativo. Apenas entrar com o Bruno e
levá-lo até o altar.
WILSON – Ele vai entrar de cadeira de rodas também?
CELINA FUZILA WILSON
COM O OLHAR.
CELINA – Tenho que me maquiar.
CELINA VAI SAIR, MAS
VOLTA. SORRI IRÔNICA.
CELINA – E a Mariana que ainda não saiu daquele quarto
hoje, hein?
WILSON – (Nervoso) Está se arrumando. Coisas de noiva.
CELINA DESCONFIADA.
WILSON DISFARÇA. CÂM VAI BUSCAR FRANKLIN E BRUNO, PARADOS, PRÓXIMO AO PÚLPITO
ONDE SE DARÁ A CERIMÔNIA.
FRANKLIN – O grande dia da vida do meu filho caçula. Hora de
virar homem pra valer! Tá certo sobre isso, meu filho?
BRUNO – Claro que sim. Não faz meu tipo desistir de última hora.
FRANKLIN – Menos mal, filhão.
ALBERICO, FÁTIMA,
ÁUREA, EDGAR, CARMINHA, INÊS, PAULINA, GUIDA E CONRADO CHEGAM. VÃO ATÉ FRANKLIN
E BRUNO. CARMINHA MAIS AFASTADA.
FÁTIMA – Olá. Eu falei pro Alberico pra sairmos mais cedo,
mas ele é teimoso feito uma mula. Já chegou muita gente?
BRUNO – Vocês na verdade, são quase os primeiros a chegar. Obrigado pela
presença.
ALBERICO – Nós que agradecemos o convite. Felicidades aos
noivos.
ÁUREA – E a noiva? Muito nervosa?
BRUNO – Eu ainda não a vi. Dá azar ver a noiva antes do casamento, diz a tradição.
FRANKLIN – Pelo sim, pelo não. Melhor não arriscar.
TODOS RIEM.
FRANKLIN – Que tal vocês irem se acomodando?
TODOS VÃO POR ALI
DISPERSANDO E SENTANDO NAS POLTRONAS, DE FRENTE AO PÚLPITO. BRUNO SEGURA A MÃO
DE INÊS, QUE SE VOLTA PARA ELE.
BRUNO – Inês.
INÊS – Oi cunhadinho. Felicidades pelo casamento. E o seu irmão?
BRUNO – O Cadú deve estar chegando. Foi buscar o terno e ficou preso no
trânsito. Espero que chegue a tempo.
INÊS – Espero mesmo, porque se não, quem passa vergonha sou eu.
INÊS RI. BRUNO OLHA
EM VOLTA.
BRUNO – A Vitória não veio?
INÊS – Bruno... A Vitória gosta de você, sempre gostou. Ela não viria pro seu
casamento com a Mariana, não é?
BRUNO ENTENDE.
BALANÇA A CABEÇA E SORRI. INÊS O CUMPRIMENTA E VAI SENTAR COM OS OUTROS. CORTA
PARA FRANKLIN, SE APROXIMA DE CARMINHA.
FRANKLIN – Carminha.
CARMINHA – Oi, Franklin.
OS DOIS SORRIDENTES
UM PARA O OUTRO.
FRANKLIN – Fico feliz que tenha vindo.
CARMINHA – Imagina. Eu não iria deixar de prestigiar o
casamento do Bruno. Fico feliz pela família de vocês.
FRANKLIN – Ou o que sobrou da nossa família.
CARMINHA ASSENTE,
MEIO CONSTRANGIDA.
FRANKLIN – Mas vá se acomodar com a sua família. Não quero
te prender aqui.
CARMINHA – Nem é muito ortodoxo. Você deixar seus convidados
pra ficar papeando comigo.
FRANKLIN – O que seria um prazer muito maior.
ELA SORRI,
CONSTRANGIDA E VAI SE SENTAR. CELINA SE APROXIMA DE FRANKLIN, ANALISANDO A
SAÍDA DE CARMINHA.
CELINA – A favela em peso. Que decadência!
FRANKLIN FAZ POUCO
CASO.
FRANKLIN – Gente feliz, de bem com a vida. Estão certos
eles. Afinal, é festa ou enterro?
CELINA – Festa e enterro! A Amanda festeja a união entre a
escurinha e o meu filho, enquanto a minha dignidade é enterrada.
FRANKLIN – Estranho, Celina. Pensei que estivesse feliz com
esse casamento, pelo menos, foi o que você deu a entender esse tempo todo. E,
de uma hora pra outra, você e a Amanda viraram melhores amigas. Tem algo que eu
não sei dessa historia?
CELINA – (Impaciente) Não enche, Franklin. É que eu tô
irritada com a ausência da Amanda, só isso. Mas pode ter certeza que eu faço
muito gosto desse casamento.
FRANKLIN – (Desconfiado) Entendi... Acho.
CÂM BUSCA PAULINA E
CARMINHA, SENTADAS, LADO A LADO.
PAULINA – Um bofe e tanto, Carminha.
CARMINHA – (Desentendida) Oi?
PAULINA – Oi, oi, oi.
Dança Kuduro! Ah, não se faz de boba, tô falando do ricaço ali.
CARMINHA – Não inventa, Paulina. Tá vendo a mulher dele?
Numa cadeira de rodas. Sem chance!
PAULINA – E daí? Não é com o corpo dela que você vai./
CARMINHA – Nem ouse terminar a frase. Paulina, me poupe das
suas gracinhas tá? Eu também tenho noivo, bem ou mal. Aliás, o Jamil tá pra
chegar.
PAULINA – Nem seja boba de trocar um ricaço/
CARMINHA – (Corta) Casado.
PAULINA – (Continua) Por um pobretão, tá bem? Até porque,
se bobeou, eu pulo em cima. Esse Franklin é bem meu tipo.
CARMINHA RI. CORTA
PARA ALBERICO E FÁTIMA.
ALBERICO – Festão, hein?
FÁTIMA – Nunca vi uma igual.
ALBERICO – É assim mesmo, festa de gente rica. Isso me deu
uma idéia.
FÁTIMA – Não começa!
ALBERICO – Calma, nada disso. Seguinte: Vai catando os doces
e salgados que estiverem ao alcance. Acumula tudo na bolsa, se precisar, coloca
até no vestido. Não é todo dia que a gente tem a chance.
FÁTIMA – (Constrangida) Eu não vou fazer isso, Alberico. E
pelo amor de Nossa Senhora, não me faz passar vergonha.
ALBERICO IRRITADO
CONCORDA. FÁTIMA FICA OLHANDO DISFARÇADAMENTE, CONRADO. OS DOIS TROCAM OLHARES.
CORTA PARA:
CENA 16. MANSÃO
PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
Continuação cena 14.
MARIANA DESCONTROLADA.
MARIANA – (Tom alto) Você é uma estranha! Uma completa
estranha, desconhecida! Você não faz parte da minha vida, não fez parte da
minha infância, você... (Chora) Você não é a minha mãe!
JULIANA RECUA,
ABALADA. CHORA.
JULIANA – Eu esperava que você tivesse essa reação.
MARIANA ENXUGA AS
LÁGRIMAS, COM RAIVA.
MARIANA – (Corta) Cala a boca! Chega! Para de falar,
acabou. Você é uma mentirosa, uma louca que eu não sei o que quer de mim.
Talvez seja dinheiro, que é o que sempre querem quando se aproximam de mim.
JULIANA – Não! Não é nada disso! Eu nunca quis o seu
dinheiro!
MARIANA – Mentirosa! Seu show acaba aqui! Seja você quem
for.
JULIANA – (Suplicante) Me dá uma chance, por favor! Você
precisa acreditar em mim!
MARIANA ANDA PELO
QUARTO, NERVOSA. NÍVEL ALTO DE TENSÃO.
MARIANA – Mesmo... Mesmo que você esteja falando a verdade,
que você seja mesmo. (Hesita) Que você tenha me parido. Que porra de diferença
isso faz agora, hein? (Berra) Hein, Juliana?!
MARIANA RI, MEIO
DESCONTROLADA.
MARIANA – É como diz aquela frase melosa: “Mãe é quem cria,
não quem dá a luz”.
JULIANA – (Derrotada) Eu sei! Eu não tenho o menor direito
de entrar na sua vida e pedir pra ser eleita a mãe do ano. Eu sei de tudo isso
e não vim pleitear nada, mas eu quero apenas conversar com você. Minha filha.
MARIANA RI, AMARGA.
MARIANA – Então, vamos lá.
MARIANA SENTA-SE NA
CADEIRA.
MARIANA – Pode começar o seu teatro. Eu quero saber.
JULIANA – Saber?
MARIANA – A história do meu abandono! O que te levou a dar
a própria filha pra irmã descompensada? Foi grana, não foi?
JULIANA – (Ofendida) Não! Nunca! Não diz uma besteira
dessas, eu nunca faria isso! Eu tive minhas motivações para... Para te deixar
com a Amanda!
MARIANA – (Agressiva) Então é verdade a historia que eles
sempre me disseram! A Amanda sempre me disse que você tinha me deixado pra
seguir carreira na Europa, agenciando turnês! Era tudo verdade!
JULIANA SE COLOCA
PRÓXIMA DE MARIANA.
JULIANA – Não, não! Pelo amor de Deus! Essa foi uma
historia estapafúrdia que a Amanda inventou. Inventou pra não te contar toda a
verdade! Mais uma historia da Amanda, aliás!
MARIANA CHOCADA.
MARIANA – Era mentira?
JULIANA HUMILHADA
ENCARA A FILHA.
JULIANA – Eu... Eu sempre fui uma garota pobre, a Amanda e
eu crescemos em um subúrbio. Eu fui uma adolescente problemática, com pais
ausentes, displicentes... Eu comecei a usar drogas ainda muito cedo.
MARIANA AVALIANDO
JULIANA COM NOJO.
JULIANA – Era só uma menina jovem, cabeça fraca. Eu não
quero me perder nos detalhes, Mariana. As lembranças me machucam, elas fazem
arder. Mas eu... Eu acabei provocando a morte do seu pai. Foi durante um surto
e./
JULIANA SE
INTERROMPE, COMEÇA A CHORAR. MARIANA VAI ATÉ ELA, NÃO DEMONSTRANDO REAÇÃO. FICA
AVALIANDO A MÃE.
MARIANA – Você é uma covarde!
E MARIANA DÁ UMA
FORTE BOFETADA EM JULIANA, QUE DESABA HORRORIZADA.
JULIANA – (Chocada) Você me bateu! Você bateu na sua mãe!
AS DUAS SE
ENCARANDO. EM JULIANA, HUMILHADA.
CORTA PARA:
EFEITO
FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.
FIM
DO CAPÍTULO 22.
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