Cena 01.
Cemitério Abandonado/ Int./ Noite.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
Eneida
(sacando a arma) – Basta Vitória, basta.
Eneida
aponta a arma para Vitória, porém, mantém suas mãos trêmulas.
Vitória
(rindo) – Tá com parkson? Tão novinha e tão doente. (RUDE) – Agora larga essa arma, senão te capo também, aqui e agora,
sem dó nem piedade.
Eneida
destrava a arma, olha nervosa para Vitória.
Vitória
(gritando) – Atira! Atira se você tem coragem de matar a sua
irmã. Atira em quem te deu colo quando você tinha medo. Atira em quem tentou te
tirar da vida de rameira. Vai sua ingrata, atira na minha cabeça. Se você não
me matar, eu mato a sua amiga.
Nesse
instante um dos homens passa por trás de Eneida, sem que ela ou Regininha
percebam.
Eneida – Para com
isso, você não vê que matar a Dama só piora a sua situação?
Vitória – E melhora
quando? Quando eu a deixo me subornar? Melhora quando ela faz chantagem barata?
Quando ela diz que vai me destruir?
Eneida – Assim, você
se afasta das boas virtudes. Esse gesto de faz uma pessoa má. Algo que sei que
não vem de você. Não vem dos princípios da nossa mãe. Você não pode ser má.
Vitória – Que princípios?
Mandar as duas filhas pra um bordel é ter princípios? Não sabia dessa. E você
para com essa ideia obsessiva de medir de que lado estou. Quando estamos nas
últimas consequências, não existe bem ou mal, existe a sobrevivência.
SO-BRE-VI-VÊN-CIA. No dia em que você passar por tudo que eu passei você vai me
dar razão.
Eneida
deixa cair uma lágrima e quando ameaça atirar, o homem que está atrás dela, em
um gesto brusco a imobiliza, o que faz a arma cair no chão. Regininha corre
para pegar, mas Antero corre e pisa em seu pé.
Dama
(gritando em desespero) – Socorro! Me ajudem!
Vitória – Acabou pra
você Joana D’Arc. Dizem que cada um tem a morte que cultivou a vida toda. Você
sempre se achou acima do bem e do mal, como Jesus Cristo. E se achava a
justiceira, como Joana D’Arc. E no fim, vai morrer em parte como os dois.
Crucificada e queimada.
Vitória
acende outro fósforo e joga no corpo de Dama.
O fogo
começa a pegar e logo se alastra por todo o corpo de Dama, que começa a gritar
desesperada...
Close em
Regininha, chorando compulsivamente.
Corta para:
Cena 02.
Casa de Fernanda/ Fachada/ Exterior/ Noite.
(Música
“Relicário” – Nando Reis) Tomadas do bairro suburbano Elevado. CAM focaliza em
uma casa amarela, único andar, com janelas de grade, uma mureta na frente e sem
portão, COM VÁRIAS casas ao lado.
Corta para:
Cena 03.
Casa de Fernanda/ Quarto de Fernanda/ Int. Noite.
Fernanda
está deitada na cama, coberta, lendo um livro. Apenas o abajur do criado mudo é
que ilumina o local. Malu entra no quarto sorrateiramente e triste.
Malu (tom
baixo) – Mãe?
Fernanda
para de ler.
Malu – Posso me
deitar com você?
Fernanda
(MEIGA) – Mas é claro que pode. Perdeu o sono como eu?
Malu (se
deitando) – Nem consegui dormir, foi tudo tão avassalador. Não
dá pra mim. Prometi a mim mesma que não vou sofrer por amor.
Malu
recosta sua cabeça no colo de Fernanda.
Malu – Foi
horrível ver o meu namorado beijando a Tamara. Só faltou a Julieta aplaudir, só
faltou ela chamar o padre e casar os dois ali na minha frente.
Fernanda – Fique assim
não minha filha. Não se rebaixe por ninguém. O Edu provou que não te merece.
Malu – Mas deixa
isso pra lá, hoje quero dormir com você, posso?
Fernanda
(feliz) – Mas é claro. Isso me lembra quando você era pequena e amava se
enfiar nas minhas cobertas. Ah que delícia! O tempo passa e a gente nem se dá
conta.
Malu – Mas o que
você estava lendo mãe?
Fernanda – Tribo do
Amor. É um livro lindo e acho que combina perfeitamente com o seu momento. A
autora é uma Valenciana maravilhosa, a Pit Larah. Fantástica! Sabe filha,
existem pessoas carregando fardos gigantescos, escondendo dores enormes e mesmo
assim, elas sabem espalhar o amor!
Malu
(espantada) – Nossa mãe, que lindo!
Fernanda – É o
fascículo do livro, mas garanto que você vai gostar. Tribo do Amor. Da Pit
Larah.
Malu – Vou amanhã
mesmo na Dom Casmurro comprar.
Fernanda
abre o livro e começa a ler para Malu, com o áudio cortado.
Corta para:
Cena 04.
Cemitério Abandonado/ Exterior/ Noite.
Antero está
com a arma apontada para Regininha e Eneida. Vitória vem saindo de dentro do
cemitério.
Antero – Pra onde
vamos agora Vitória?
Vitória – Deixei seus
capangas cuidando da limpeza lá dentro. Não quero nenhum vestígio aqui. Agora
nós vamos para a casa da Regininha. Vamos leva-la em casa e procurar um
documento que me pertence.
Regininha –
Você
não sabe onde eu moro. Não vou te mostrar.
Vitória
chega perto dela e lhe dá um tapão no rosto, o que faz Regininha cair no chão.
Vitória (a
Regininha) – Você vai sim. Sei que tem amor a sua vida. (a Antero) – Coloca a Regininha no
carro, no banco traseiro e vai monitorando ela Antero.
Antero
coloca r=Regininha dentro do carro e entra ao seu lado, e continua apontando a
arma para a cabeça dela.
Eneida – E eu
Vitória? Vou no banco da frente com você? Você me deixa em casa antes?
Vitória – Você vai
até o ponto de ônibus esperar o primeiro que passar. Vai caminhando e
refletindo em tudo que fez essa noite... Fez papel de louca? Fiquei com inveja
e fiz papel de carrasca.
Vitória
entra no carro, dá partida e sai acelerada. Eneida tenta correr atrás.
Eneida
(gritando/ correndo) – Não me deixa aqui sua maldita! Volta, me busca.
Eneida
para, ofegante.
Corta para:
Cena 05.
Flores/ Pontos Turísticos/ Ext.
(Música “Uma
história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe
dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves
emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte
ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, , com o letreiro “Bem vindo à Flores”
. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, e uma iluminação toda
sincronizada e colorida. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto
da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação
interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de
diversas flores campestres.
Corta para:
Cena 06.
Casa da Regininha/ Fachada/ Exterior/ Noite.
O carro de
Eneida para no local. Vitória sai, em seguida Antero empurra Regininha para
fora do carro e continua lhe apontando a arma. Todos entram na casa.
Corta
rápido para:
Cena 07.
Casa da Regininha/ Sala. Int. Noite.
Vitória
abre a porta com força e adentra o local. Em seguida Regininha e Antero também entram.
Vitória
(com desdém) – Mas que toca você foi se enfiar. Um casebre cafona,
sujo e caindo aos pedaços. Triste esse seu fim.
Regininha –
Fim?
Não creio que seja meu fim.
Vitória (a
Antero) – Coloca essa garota naquela cadeira ali.
Antero
senta Regininha na cadeira e aponta a arma para ela. Vitória sai da sala em
direção a rua.
Regininha –
Então
você vai me fuzilar aqui? Dois tiros na cabeça?
Antero – Tá dando
uma de durona, mas no fundo é uma borra-botas. Tá com medinho de ser morta.
Vitória
volta a sala com uma corda e um vidro de pimenta nas mãos.
Vitória
entrega a corda a Antero.
Vitória – Amarra essa
garota aí.
Antero
começa a amarrar Regininha.
Vitória – Onde está o
dossiê? Eu quero o original. Onde está?
Regininha –
Não
vou falar.
Vitória – Se não
falar, eu queimo essa casa com você junto. E aí? Vai dizer ou prefere ter o
mesmo fim que a sua tia?
Antero
termina de amarrar Regininha.
Regininha –
Tá
ali, em baixo do sofá.
Antero
levanta o sofá e pega o tal dossiê. Vitória, em um gesto brusco, retira das
mãos dele e enfia em sua bolsa.
Antero – Pra que
essa pimenta?
Vitória (a
Regininha) – Você e sua tia falaram demais. Mas agora não tem
como comprovar nada.
Vitória
abre o vidro de pimenta, enche a mão e passa na boca de Regininha.
Regininha
(em desespero) – Para sua louca! Me tira daqui, socorro! Tá ardendo
minha boca.
Vitória
enche a mão de pimenta novamente e passa nos olhos de Regininha.
Vitória – O que os
olhos nãos veem a boca não fala.
Regininha
(gritando) – Socorro! Eu não tô enxergando nada.
Vitória (a
Antero) – Pode desamarrar essa infeliz.
Vitória sai
da casa e Antero começa a desamarrar Regininha.
Corta para:
Cena 08.
Mansão Trajano/ Jardim Frontal/ Ext./ Noite-Dia.
(Música
“Combustível” – Ana Carolina) O Jardim todo iluminado vai dando lugar ao clarão
do sol com a transposição da noite para o dia.
Corta para:
Cena 09.
Mansão Trajano/ Sala de Jantar/ Int./ Dia.
Meg e
Mafalda estão sentadas a mesa, tomando café da manhã. Marinês as serve.
Meg – De pé tão
cedo?
Mafalda – Tô sentada!
Meg (séria)
– Você
entendeu o que eu quis dizer.
Mafalda – Vou
organizar mais um evento. Fui convidada.
Meg – Não
acredito que aquele bar ordinário tem cacife pra bancar mais um show de pagode
ou algo do tipo.
Mafalda – E se tiver?
É da sua conta? Mas não é lá não. É na livraria. Vai ter um novo evento chamado
“Momento Leitura”.
Meg – Até que
enfim, algo vai prestar nessa cidade.
Mafalda – O que não
presta, não é a origem humilde das pessoas, ou o gosto pelo pagode. O que não
presta, são representantes políticos corruptos que só pensam em si. O que não
presta, é em pleno século XXI, existir preconceito, xenofobia ou auto ego.
Meg faz
cara feia e continua tomando seu café, em silêncio.
Marinês – Dona
Mafalda, a senhora quer ovos mexidos?
Mafalda – Não meu
bem, obrigada. Só quero que você se mexa e abra a garagem pra mim, vou sair
agora.
Marinês – Sim
senhora.
Marinês sai
em direção à cozinha.
Meg – Já que está
indo para a livraria, por que não dá carona a seu marido?
Mafalda – Ele acordou
agora e demora eternidades no banheiro. Eu vou indo mais cedo pra falar com o
Lucas e com a gerente da livraria.
Meg – Ah tá bem!
Mafalda se
levanta e vai saindo.
Meg
(pensativa) – Tomando banho?
Meg se
levanta apressadamente e sai.
Corta para:
Cena 10.
Mansão Trajano/ Quarto de Mafalda/ Banheiro/ Int./ dia.
Téo está
tomando banho de chuveiro, se ensaboando.
Corta para
o QUARTO.
Meg para na
porta, olha para os dois lados e em seguida entra bem sorrateiramente, fecha a
porta e caminha em direção ao banheiro. Ela chega até a porta e fica escondida,
admirando Téo tomar banho, fazendo gestos de abano.
Meg
(cochichando pra si) – Ai que delícia. Que ébano. Deus seja mais que
louvado, seja exaltado.
Em seguida
Meg sai sorrateiramente do quarto.
Corta para:
Cena 11.
Casa de Edu/ Cozinha/ Int./ Dia.
Lucído,
Julieta e César estão tomando café.
Lucído – Tudo que eu
quero é que a manhã passe rápido.
César – Por que
papai?
Lucído – Eu vou me
encontrar com a Eneida e finalmente saber por onde anda a minha Helena.
Julieta – Quem é
Eneida? Já sei, mais uma pra sua coleção de “Mulheres desconhecidas”.
Lucído – Na hora
certa vocês saberão.
Julieta – Será que
saberemos mesmo Seu Lucído? Isso não é nenhuma fantasia da sua fértil
imaginação não?
César
(repreendendo) – Para com isso Juju.
Julieta – Eu só estou
perguntando o que você morre de vontade de saber.
Lucído – Vá
perguntar pra suas cartas. Vá fazer suas bruxarias e descobrir. Você não se diz
ser a melhor cartomante daqui? Então vá!
Julieta se
levanta e sai nervosa.
César – Meça suas
palavras com a Juju. Ela fica ofendida a toa.
Lucído – Eu tô
dentro da minha casa. Ela se quiser, fique a vontade para sair. Vou continuar
falando ao meu modo. Já passou do tempo, a Julieta vive falando asneiras por aí
com quem bem entende e você passa a mão na cabeça dela. É sua esposa, mas
comigo não tira farinha.
César – Você quem
sabe papai.
Lucído – A
propósito, eu vi seus olhares para cima da Fernanda. Eu senti o clima.
César tenta
disfarçar.
César – Eu sou
casado pai.
Lucído – Mal casado
você quis dizer. César saia desse casamento enquanto é tempo. A Julieta é uma
louca desaforada. Vocês não se ama a muito tempo. E não digo só amor na parte
sentimental não. Digo amor de pele, coisa carnal. Sexo mesmo. Há quanto tempo
vocês não transam?
César – Pai, por
favor, modere as palavras. A Julieta tá em casa.
Lucído – Bom que ela
escuta e fica a par de tudo nessa casa. Ou você tenta resgatar seu casamento,
ou você afunda esse navio de vez e parte na próxima expedição.
César
(pensativo) – Não sei pai, mas tem algo na Fernanda que me chama a
atenção. Algo que eu nunca senti pela Juju.
Lucído – Não seria a
hora de procura-la e tentar algo?
César – É isso que
eu vou fazer, eu vou na casa dela agora.
César se
levanta e sai confiante.
Lucído (pra
si) – Esse é meu garoto.
Close em
Julieta, ouvindo tudo do outro lado da parede.
Corta para:
Cena 12.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Eneida está
sentada no sofá em estado de choque. Pouco tempo depois Ana Rosa, Fabrício,
Vitória, Milena e Miguel chegam ao local, vindos da sala de jantar.
Miguel – Ué tia,
achei que estivesse dormindo. Nem foi tomar café com a gente.
Eneida
encara Vitória.
Eneida – Tava sem
fome. Estômago embrulhado.
Vitória – Pode ser
gravidez.
Eneida – Só se for
do Divino Espírito Santo.
Ana Rosa – Eu queria
todos aqui mesmo. Fabrício e eu temos um comunicado importante a ser feito.
Todos ficam
calados.
Fabrício – Após o
falecimento e a leitura do testamento de meu pai, eu resolvi voltar para o Rio
de Janeiro com a Ana Rosa.
Milena
(feliz) – Deus seja louvado.
Fabrício – Quero me
dedicar ao meu novo livro e voltar a ser voluntário nas ONGS. E a minha casa é
no Rio. Não quero mais ficar nessa cidade, que me lembra muito o papai.
Miguel – Essa é a
sua última decisão meu irmão?
Fabrício – É sim.
Miguel – Então quero
lhe dizer que as portas da minha casa vão estar sempre abertas e quero que
volte para nos visitar mais vezes.
Fabrício – Mas é claro
que volto. Férias, festas de fim de ano.
Milena – Mas vocês
vão embora quando?
Ana Rosa – Pra sua
felicidade Milena, hoje mesmo a tarde.
Milena – Esperei
ansiosamente por este dia, nada com você Fabrício, mas por questão de
segurança, para que nenhuma falsa viesse a tentar seduzir meu marido novamente.
Ana Rosa – Sua
indireta foi recebida com sucesso, pena que estou a um patamar bem mais alto e
não quero discutir com quem não merece.
Milena olha
Ana Rosa com ódio.
Eneida – E essa casa
vai ficar vazia mais uma vez.
Vitória – Mas tem
você, tem eu, o Miguel e essa esposa dele.
Eneida – Eu vou me
mudar pra um apartamento. Quero ter minha liberdade, quero ser sozinha. Como
diz o ditado: Antes só do que mal acompanhada.
Vitória – Você quem
sabe. Eu não vou crucificar ou queimar ninguém.
Eneida olha
espantada. Miguel, Fabrício e Ana Rosa caem na gargalhada.
Miguel – E quem
seria a louca de crucificar e queimar alguém?
Eneida
(séria) – Um psicopata. Um psicopata é capaz de fazer isso e agir
naturalmente em questão de minutos após o ato. A cada cem pessoas, uma é
psicopata. Sabia que pode ter um psicopata aqui no meio de nós?
Vitória se
sente desconfortável.
Fabrício – Eu vou
arrumar minhas malas. Vamos Ana Rosa.
Ana Rosa – Só se for
agora.
Fabrício e
Ana Rosa sobem as escadas. Vitória e Eneida se olham sérias.
Corta para:
Cena 13.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Int. Dia.
Fluxo
pequeno de clientes. Tamara e Téo estão conversando próximos ao caixa. Conversa
já em andamento.
Tamara – E esse é
meu plano pra destruir aquela idiotinha.
Téo
(cabreiro) – Você não acha muito arriscado? E se descobrirem que
foi você? Sabia que pode ser presa?
Tamara – Fica
tranquilo, vou fazer meu dever de casa direitinho. Nada vai sair errado.
Téo – Eu tenho
minhas dúvidas.
Tamara – Cola em mim
que é sucesso. Me ajude nesse plano, que te ajudarei mais tarde.
Téo fica
ressabiado.
Close em
Tamara, confiante e altiva.
Corta para:
Cena 14.
Livraria Dom Casmurro/ Sala de Reuniões/ Int./Dia.
Lucas e
Mafalda estão na sala conversando. Áudio cortado. Logo depois, Eva entra na
sala junto com Regininha, que está com os olhos bastante vermelhos e
lacrimejantes.
Lucas – Bom dia
Eva, essa daqui é a produtora de eventos Mafalda Trajano.
Eva
(sorridente) – Prazer em conhecê-la dona Mafalda.
Mafalda – O prazer é
todo meu. Sente-se conosco e compartilhe das ideias que quer para o evento.
Eva e
Regininha se sentam.
Mafalda (a
Regininha) – Mas minha filha, o que houve com seus olhos?
Regininha –
É
uma alergia brava que tenho. Vira e mexe tô com olhos assim.
Eva – Tem que ver
isso.
Regininha –
É,
já marquei uma consulta para ver. Só sei que meus olhos queimam como pimenta.
Lucas – Mas então
Eva, no que você estava pensando?
Eva – Pensei em
um coquetel simples e chique, o que acham?
Mafalda – Acho ótimo,
afinal, o verdadeiro requinte está na simplicidade inteligente.
Eva – Eu quero
que o conteúdo seja mais visado, mais notado que a embalagem propriamente dita,
sabe? Quero um coquetel para poucas pessoas, mas com uma boa comida, e uma boa
apresentação literária. Com exposição de livros, lançamentos e tarde de
autógrafos.
Mafalda – Tô gostando
muito da ideia.
Eva – Quero que
os convidados se sintam em uma praça. Mas não qualquer praça. A praça literária
me entende?
Mafalda – Perfeitamente.
Eva – Agora é
agilizar as questões burocráticas. Já enviei convites para as editoras e os
representantes literários. Só estou esperando a confirmação até amanhã. Mas não
passam de cinquenta pessoas.
Mafalda – Vai ser
aberto ao público?
Eva – No primeiro
momento não. Quero apresentar a ideia a quem vai nos patrocinar e se for
aprovado, aí sim vou abrir para a comunidade Florense.
Mafalda – Você tem um
talento indiscutível, parabéns! Já vi que vamos nos dar super bem.
Eva sorri.
Corta para:
Cena 15.
Praça Central/ Ext./ dia.
Malu está
passeando pela praça, cabisbaixa, quando de repente, uma mão a segura no ombro.
É Edu.
Edu – Podemos
conversar?
Malu
(séria) – Não há nada o que conversar. Tudo já foi disto e sentido ontem.
Edu – Eu sei que
fui errado, mas é que...
Malu
(corta) – Eu não estou afim de ouvir suas desculpas. Ontem estava aos
beijos com a descarada da Tamara e hoje tá aqui querendo me explicar tudo. Eu
não sou cega, eu vi tudo.
Edu – Foi impulso
de momento. Eu não queria fazer aquilo. Tanto, que disse a Tamara que foi um
erro.
Malu – Não queria,
mas fez. E a vida é igual ao jogo Super Mário, quando erra, já era. Game Over!
Edu – Não faz
isso comigo. Eu te amo.
Malu – Vai pro
inferno. Corre pra barra da saia da mamãe. Não é lá que o homenzinho frouxo se
esconde?
Edu – Você está
sendo egoísta. Não está me dando o direito de resposta.
Malu – Egoísta
não. Eu tô tendo é amor próprio. Chega de querer bancar a idiota e tentar
arrumar motivos pra te perdoar. Dessa vez acabou pra valer.
Malu
continua sua caminhada. Edu fica parado, triste.
(Música “Relicário”
– Nando Reis).
Corta para:
Takes da
cidade.
Corta para:
Cena 16.
Bairro Elevado/ Subúrbio/ Ext./ Dia.
(Música
“Aceita, paixão” – Péricles) Tomadas do bairro suburbano Elevado. Ônibus
passando pelos pontos, camelôs ambulantes vendendo salgados e quinquilharias,
periguetes circulando pelas ruas, em meio a carros antigos e velhos e motoboys.
Close na fachada do Bar Chegaí, todo decorado em tijolinhos marrom, mesas e um
grupo de pagode na calçada. Takes de inúmeras casas do bairro, todas de classe média
baixa. CAM focaliza em uma casa amarela, único andar, com janelas de grade, uma
mureta na frente e sem portão, COM VÁRIAS casas ao lado. É a casa de Fernanda.
(Fad out “Aceita, paixão” – Péricles).
Corta para:
Cena 17.
Casa da Fernanda/ Sala/ Int./ Dia.
A sala está
vazia e de repente a campainha toca. Fernanda vem da cozinha com uma panela na
mão.
Fernanda – Aposto que
é a Maria de Lourdes. Sempre esquece a chave em casa.
Fernanda
abre a porta e fica surpresa. Ela dá alguns passos para trás, César entra,
deixa a porta aberta e dá um grande beijo em Fernanda, que deixa a Panela cair
no chão.
(Música “Dona”
– Roupa Nova).
Corta para:
Cena 18.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Eva está
sozinha em sua sala analisando alguns documentos, quando alguém bate a porta.
Eva – Pode
entrar!
A porta se
abre e Milena entra, em seguida fecha a porta com força.
Eva (rude)
– O
que você quer aqui?
Milena – Sabe quem
sou eu? Milena.
Eva – Você é a
...
Milena – Eu mesma. E
vim aqui pra certar as contas com você. Chega de fugir!
Milena e
Eva se olham sérias. Clima tenso no ar.
Corta para:
FIM
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