Cena 01.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
Eva está
sozinha em sua sala analisando alguns documentos, quando alguém bate a porta.
Eva – Pode
entrar!
A porta se
abre e Milena entra, em seguida fecha a porta com força.
Eva (rude)
– O
que você quer aqui?
Milena – Sabe quem
sou eu? Milena.
Eva – Você é a...
Milena – Eu mesma. E
vim aqui pra acertar as contas com você. Chega de fugir!
Milena e
Eva se olham sérias. Clima tenso no ar.
Eva se
levanta, com o olhar fixo em Milena.
Eva – Eu não
tenho nada pra falar com você, aliás, nós nunca teremos contas a acertar.
Milena – Engano seu.
Porque permaneço casada no civil e no religioso, como manda a boa formação
moral, de modo que a imitação, a outra é você.
Eva – Você só
pode estar desatinando. Saia da minha sala, ou não respondo por mim.
Milena – Deixa de
ser sonhadora. Ao menos uma vez na vida, você tem que enfrentar a realidade. Eu
tô aqui diante de você tentando levar uma conversa de mulher pra mulher.
Tentando resolver de uma vez essa situação complicada.
Eva – Não há
situação complicada. Eu não lhe devo satisfação da minha vida. Você é apenas a
ex-mulher do meu namorado. Fora que, se eu tivesse que esclarecer algo, seria
com ele e não com você. Agora dá o fora daqui.
Milena – Eu vou
morrer. É o fim da linha pra mim.
Eva olha
Milena com piedade.
Corta para:
Cena 02.
Casa da Fernanda/ Sala/ Int./ Dia.
Fernanda e
César continuam se beijando. CAM desfoca dos dois e mostra Julieta entrando na
casa.
César, sem
parar de beijar, joga Fernanda no sofá e os dois continuam se beijando, só que
agora deitados.
Julieta
(aplaudindo) – E o filme pornográfico vai começar minha gente,
comprem suas pipocas e escolham suas poltronas!
César e
Fernanda param de se beijar, imediatamente e olham assustados para Julieta.
César
(assustado) – O que você tá fazendo aqui Juju?
Julieta se
abaixa lentamente, tira um pé de seu sapato e anda em direção a César.
Fernanda – Saiam da
minha casa, os dois.
Julieta dá
uma sapatada no rosto de César.
Julieta – Anos de
casamento e a vida fica assim? É assim que eu mereço viver? Chifres e mais
chifres, onde isso vai parar César? E pior, com a minha maior inimiga.
Fernanda – Por que eu
sou sua maior inimiga? Agora eu quero saber, quais motivos, eu te dei para que
você me odiasse tanto, desde a juventude você me detesta Julieta.
Julieta – Você sempre
cobiçou meus namorados, vai dizer que não é?
Fernanda – A história
é oposta. Você sempre gostou do que era meu. Queria ter as roupas que eu tinha,
as amigas que me cercavam. Até meus namoros você ficava zicando, querendo que
os homens olhassem para você. Uma pena, mas é a mim que eles amam.
Julieta dá
uma gargalhada alta.
César – Por que
você tá rindo?
Julieta – A Fernanda
já está pagando bem caro por tudo que me fez a vida toda. Eu destruí a sua
vida. E na hora certa você saberá.
Fernanda
olha espantada para Julieta.
César – Seja mais
clara Julieta. O que você tá querendo dizer com isso?
Julieta – Na hora
certa a Fernanda vai saber. Aguarde as cenas dos próximos capítulos. Essa
história ainda vai render muito choro.
Fernanda – Fala de uma
vez o que você quer. Que mistério todo é esse? Colocou cicuta na minha bebida?
Já sei, vai implodir a minha casa comigo dentro. Poupe-me das suas falas
vazias. Dos seus sentimentos de ódio baratos. Até pra ser uma pessoa ruim tem
que ter personalidade, o que não é o seu caso.
Julieta
(saindo) – Se você se sente melhor assim, aguarde. Não há bem
que dure uma vida toda.
Julieta sai
da casa rapidamente.
César – Eu vou pra
casa. Vou tentar descobrir que segredo é esse?
Fernanda – Tá. Agora
me deixa sozinha.
César sai e
Fernanda se senta no sofá, intrigada.
Corta para:
Cena 03.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Interior/ Dia.
Continuação
da cena 01.
Eva – Eu já sei
do seu aneurisma. O Miguel já me contou porque vocês ainda moram na mesma casa.
Milena
(cabisbaixa) – Não é fácil pra mim: perdi o amor da minha vida e
ainda por cima, descubro que tenho uma bomba relógio dentro da minha cabeça,
prestes a explodir a qualquer instante.
Eva – Você não
deveria pensar nisso. Deveria era viver um dia de cada vez com toda a
intensidade positivista. Deixa de ser evasiva e frustrada. Você é nova Milena,
ainda pode ser feliz. Ainda pode amar alguém.
Milena – O meu amor
se chama Miguel de Amadeu Queirós. É ele que eu desejo todos os minutos.
Eva – Mas ele é
meu agora e se lhe convém, nós estamos planejando noivar. Espero que você não
tente impedi-lo com chantagem barata.
Milena – Eu jamais
faria isso, espero realmente que vocês sejam felizes. Se ele não foi feliz
comigo, que seja feliz com outra pessoa. Quando a gente ama muito uma pessoa, a
gente só quer a felicidade dessa pessoa, e é só isso que me importa nesse
momento: A felicidade do Miguel.
Eva – Que bom.
Agora saia, por favor, você está atrapalhando o andamento do meu trabalho.
Milena – Será que um
dia seremos amigas?
Eva (séria)
– Duvido
muito. Mas se isso te consola, eu não guardo mágoas ou ressentimentos de você.
Nesse
instante Regininha entra na sala.
Regininha
(sem graça) – Desculpa se incomodo.
Milena – Eu já
estava de saída mesmo. Até mais Eva!
Milena sai
da sala. Regininha fecha a porta e faz cara de surpresa.
Regininha –
Tô
passada mulher. Essa não é a Milena Queirós?
Eva
(sentando) – Em carne e osso. Veio com um papo brabo pro meu
lado. Disse tanta coisa, mas não explicou nada. A boa da verdade é que ela quer
que eu entregue o Miguel de bandeja pra ela, mas isso eu não farei. Eu amo meu
namorado.
Regininha
(surpresa) – Você namora o Miguel Queirós? Filho do Ângelo e da
Vitória?
Eva – O próprio.
Mas a mãe dele eu não conheço.
Regininha –
É
uma víbora. Megera de primeira linha.
Eva – Nós vamos
noivar daqui a pouco.
Regininha –
Desejo
felicidade. Mas agora temos que focar no evento. Tá chegando o dia.
Eva – Tem razão.
Aquele fornecedor tá aí?
Regininha –
O
fornecedor e o rapaz do bufê. Mando quem entrar primeiro.
Eva faz
cara de dúvida.
Corta para:
Cena 04.
Prefeitura/ Calçada/ Exterior/ Dia.
Fluxo
normal de pessoas passando pelo local. Um ônibus para no ponto em frente,
descem algumas pessoas, entre elas: Lui e Bebê.
Lui e Bebê
param bem em frente à porta de entrada da prefeitura.
Bebê – Será que
sua patroa vai me aceitar?
Lui – Ela tem que
aceitar Bebê. Afinal de contas, você quer trabalhar pra calar a boca daquele
povo, então precisamos muito conseguir essa vaga de segurança.
Bebê – Deus te
ouça.
Lui – Deixa
comigo gato. Não há nada que Lui Aparecido Martins Rêgo não consiga. Agora me
acompanha.
Lui e Bebê
adentram a prefeitura.
Corta para:
Cena 05.
Prefeitura/ Antessala/ Interior/ Dia.
Lui e Bebê
chegam ao local. Lui se senta em sua mesa e Bebê em uma poltrona próxima.
Bebê – Ela demora
muito a chegar?
Lui – Hoje sim.
Antes ela iria levar o Boticário pra tosar o pelo.
Bebê – Essas
madames são muito frescas, isso sim.
Lui – Ai meu
querido, fique assim não. Já já a dondoca tá aí e a gente resolve de uma vez
essa situação. Esse emprego já é seu.
Bebê – Tomara
mesmo.
Lui – Nem que eu
tenha que rodar bolsinha na Avenida da Luz. Nem que eu vire uma travesti de
calçada, ou melhor, uma dama da casa de prazeres.
Bebê – Não
exagera.
Lui – Tá com
ciúme amor?
Bebê
(encabulado) – Que mané ciúme o que.
Corta para:
Cena 06.
Mansão Amadeu/ Jardim Frontal/ Exterior/ Dia.
Um táxi
está parado em frente a porta de entrada da mansão.
Diálogo
da cena posterior:
Ana Rosa – Pronto!
Acho que isso é tudo.
Fabrício – Pegou tudo
que é seu? Por que acho que demoraremos a voltar em Flores.
Ana Rosa – Tudo tá
aqui.
Corta para:
Cena 07.
Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Fabrício e
Ana Rosa estão conversando, com várias malas em volta.
Fabrício – Falta nos
despedirmos da turma.
Ana Rosa – A Eneida já
me deu tchau, ela disse que precisava sair. Agora só falta o Miguel e a
Vitória.
Vitória
começa a descer as escadas.
Vitória – Então vocês
já vão?
Ana Rosa – E o melhor
pra gente. Aqui não é a nossa casa e isso dificulta toda e qualquer situação. O
nosso lugar é no Rio. Fazendo nosso trabalho voluntário.
Vitória – Já que
decidiram assim. Não vou negar que adoro ver minha casa vazia.
Fabrício (a
Vitória) – Posso te dar um abraço?
Vitória
(estendendo a mão) – Acho que isso basta.
Vitória e
Fabrício se despedem com um aperto de mão.
Ana Rosa
(puxando as malas) – Até mais dona Vitória.
Vitória – Adeus! Pena
que não fomos sogra e nora. Acho que iríamos nos dar bem.
Fabrício e
Ana Rosa pegam as malas e saem.
Corta para:
Cena 08.
Cidade/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia.
(Música “Te
esperando” – Luan Santana)
(Música
“Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um
clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com
suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na
seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, com o letreiro “Bem vindo a
Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, e uma iluminação
toda sincronizada e colorida. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais
alto da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação
interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de
diversas flores campestres.
Corta para:
Cena 09.
Praça Central/ Chafariz/ Ext./ Dia.
Lucído está
sentado em um banco de frente para o chafariz, envolvido em seus pensamentos,
ele admira a beleza da água que é jorrada. Ao fundo, por detrás de Lucído,
vemos o carro de Eneida estacionando próximo à calçada. Ela desce e vem em
direção a Lucído.
(Fad out
trilha “Te Esperando” – Luan Santana).
Eneida
tampa os olhos de Lucído com a mão, em gesto de brincadeira.
Lucído
(feliz) – Eu sabia que você viria, minha doce Eneida.
Eneida tira
as mãos dos olhos de Lucído e se senta ao seu lado e começa a admirar a beleza
do chafariz.
Eneida – Sabe que eu
nunca tinha me dado conta da beleza desse chafariz? Tantas coisas lindas a
gente deixa escapar aos nossos olhos. Tantos momentos de puro prazer à gente
sucumbi.
Lucído – A pressa do
alfaiate, faz a gente esquecer-se de apreciar um belo vestido.
Eneida – Tem razão
Lucído, a gente se deixa esquecer-se de tudo por causa da pressa.
Lucído – A vida é
longa. É um jogo longo e tudo tem sua hora, seu espaço e sua beleza. Basta a
gente saber sincronizar cada coisa a seu tempo.
Eneida – Eu não
sabia que você era tão poético assim.
Lucído – E não sou.
Mas a beleza deste lugar me fez ficar mais sensível, mais radiante, entende?
Eneida – Aqui a
gente esquece a vida, os problemas. Eu poderia passar horas aqui admirando esta
beleza. Horas sem pronunciar uma palavra ou me lembrar de qualquer problema.
Lucído
encara Eneida.
Lucído – Mas não dá
pra viver na fantasia. O que nos trouxe aqui é um problema. Um problema muito
sério e que me aflige há muitos anos.
Eneida – Helena.
Lucído fica
com os olhos cheios de lágrimas.
Lucído
(triste) – Já estou velho e não sei mais por quanto tempo vou
resistir. Acho que o que me fez permanecer de pé e lúcido até hoje, foi o fato
de querer conhecer a Helena. Lá em casa, todos acham que a Helena é uma ficção
minha, que estou ficando pirado.
Eneida – E é melhor
que pensem assim. É melhor que você esqueça a Helena, que esqueça o passado.
Revirar tudo isso, só nos faz mal.
Lucído – Eu tenho o
direito de saber. A Helena é minha filha. Por favor, não me negue esse direito
Eneida. Eu quero saber quem é a nossa filha. Quero saber se ela está bem.
Eneida – Deixa essa
história para trás. Comece do zero. Você em uma família linda. Olha tudo que
você construiu.
Lucído – Eu te
suplico, por favor!
Lucído se
ajoelha diante de Eneida.
Eneida – Para com
isso.
Lucído – Atenda esse
pedido meu. Pode ser o último, aliás, é a última coisa que eu quero na vida.
Lucído
permanece ajoelhado e imóvel, olhando para Eneida com piedade.
Corta para:
Cena 10.
Prefeitura/ Antessala-Gabinete/ Int./ Dia.
Lui está digitando
algo em seu computador, enquanto Bebê está de pé olhando os quadros com fotos
de homens.
Bebê – Quem são
esses?
Lui para de
digitar, se levanta e fica próximo a Bebê.
Lui – Esses são
os antigos prefeitos da cidade.
Bebê – Então a
dondoca aí é a primeira prefeita?
Lui – Uhum. E
pior: pretende se reeleger.
Bebê – Mas você
não faz parte da comitiva real dela?
Lui – Eu trabalho
pra ela, mas detesto o governo dela. Olha nosso bairro como é? Um horror. Falta
saneamento básico, falta uma escola lá. Falta geração de emprego, para que a
renda per capita cresça e a nossa cidade seja desenvolvida. A gente precisa
sair do nível básico e ir para o avançado. É gerir com competência.
Bebê – Falou
bonito. Se candidata.
Lui – Eu? Pobre e
gay? Você acha que tenho alguma chance Bebê?
Bebê – Só vai
descobrir, quando se candidatar.
Lui – Vou pensar
no seu caso. Mas eu gostaria muito mais de ser a Senhora Primeira Dama de
Flores. Usar vestido bege em cerimônias oficiais. Ia ser lindo.
Bebê – Hum. Eu
aprovo.
Bebê dá um
tapinha no bumbum de Lui.
Lui (excitação)
– Bate
mais que eu gamo, minha delícia.
Nesse
instante Meg chega.
Lui
(gritando) – Dona Méguiiiii. Olha quem tá aqui.
Meg olha
Bebê de cima em baixo e faz cara de reprovação.
Meg – Quem é esse
sujeito.
Lui – É meu
namorado. Belarmino Altamirano.
Bebê – Mas pode me
chamar de Bebê. Eu gosto.
Meg – O que essa
criatura veio fazer aqui? Vai dizer que aqui virou desfile de músculos?
Lui – Ele veio
tentar a vaga de segurança que a senhora disponibilizou.
Meg olha
discretamente com desejo para Bebê.
Meg – Tá
contratado rapaz. Esteja aqui amanhã as sete em ponto.
Meg entra
para seu gabinete.
Lui e Bebê
comemoram.
Corta para:
Cena 11.
Praça Central/ Exterior/ Dia.
Continuação
da cena 09: Lucído de Joelhos perante Eneida.
Eneida – Levanta
Lucído. As pessoas começaram a olhar.
Ainda de
joelhos, Lucído olha para todos os lados e percebe que as pessoas estão
olhando, e algumas, comentando discretamente.
Lucído – Não devo
nada a essa cambada de fofoqueiros. Mas você me deve uma resposta. Diz pra esse
velho aqui, onde ele pode encontrar a filha dele.
Eneida – Esse tempo
já passou. Eu dei a Helena pra adoção e você sabe muito bem disso.
Lucído – Mas você
sabe em que família ela está. Você sabe onde localizar a minha Heleninha.
Eneida – E o que
isso importa agora?
Lucído – Pra você,
pode não fazer muita diferença, mas pra mim faz. Eu quero ver a minha filha.
Quero apresentá-la a minha família e dizer: Galera, esta é a Helena, minha
filha. Que foi gerada com muito amor.
Eneida (sem
jeito) – Esse passado só piora tudo.
Lucído se
levanta.
Lucído – O dia que
você deixar de ser covarde, deixar de ser egocêntrica e pensar no quanto está
me privando de ser feliz, você me procura e me diz onde está a minha filha. Mas
se eu morrer, ou por algum acaso, descobrir o paradeiro dela por conta própria,
saiba que eu jamais vou te perdoar. Que jamais vou te deixar em paz. Você vai
sofrer de remorso e vai acabar na solidão.
Lucído sai
andando depressa.
Eneida (pra
si) – Eu queria que tudo fosse muito fácil.
Eneida fica
cabisbaixa e com os olhos marejados.
Corta para:
Cena 12.
Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Int./ Dia.
Clima muito
requintado. Poucas pessoas pelo local. Sem música ambiente. Close na Mesa de
Miguel e Eva.
Eva – Eu não via
a hora de chegar aqui.
Miguel – No caminho
eu notei você meio angustiada, o que foi?
Eva – A Milena
esteve na livraria hoje.
Miguel
(surpreso) – O que? Mas, o que ela foi fazer lá.
Eva – Tô tentando
entender até agora. Mas uma coisa eu sei, não dá pra viver a sombra de uma
mulher. Por mais que ela esteja doente Miguel, não dá pro nosso namoro ser
sucumbido por uma ex. Você tem que tomar alguma providência.
Miguel – Eu vou
fazer isso o mais rápido possível. Mas o que você acha da gente dar um pulinho
no motel agora? Tô morto de saudade de você.
Eva
(contente) – Tá bem meu amor.
Eva e
Miguel trocam carícias.
Corta para:
Cena 13.
Casa de Edu/ Sala/ Interior/ Dia.
Edu está
sentado no sofá assistindo TV, quando Julieta aparece com um travesseiro e
roupas de cama e joga em cima do sofá.
Edu
(assustado) – Que isso mãe?
Julieta – A cama do
seu pai é aí agora. Ele que viva nesse sofá. Que tenha dor nas costas, que
durma mal a noite toda. Se ele pedir desculpas, se ele se mostrar arrependido
pelo que fez, ganha o direito de dormir na minha cama novamente, mas caso
contrário, vai viver dia e noite com a coluna torta.
Edu – O que o pai
fez?
Julieta – O seu amado
pai estava beijando a Fernanda na casa dela. E se eu não chego, eles teriam
deitado e rolado, se é que me entende.
Edu fica
perplexo.
Julieta – Ficou
surpreso? Eu tanto que avisei que aquelas duas não valiam nada. Tal mãe, tal
filha. Você deveria me agradecer por eu ter te tirado daquela roubada. Garota
estúpida, vai virar piranha igual a mãe.
Edu – Antes de
qualquer coisa, a Malu é honesta e gosta de mim de verdade. Eu é que vacilei
feio com ela dessa vez.
Julieta – O que eu
sei é que você deveria namorar a Tamara. É bonita, tem um emprego e não vive em
conto de fadas. Ela sim é a mulher certa pra te colocar nos eixos.
Edu – Mas eu não
amo a Tamara.
Julieta – Amor, amor.
No fim das contas, esse tal amor fica de coadjuvante na história. De nada
adianta amor, se o relacionamento é frágil. Você precisa é de segurança,
estabilidade, e isso a Tamara pode te dar.
Edu – E passar
vinte anos casada com ela e no fim das contas, descobrir que ela me traiu? Não
mãe, obrigado. Não quero seguir a sua linha.
Julieta – O que eu
sei é que com aquela filha da piranha, você não vai ficar. Eu juro!
Julieta sai
da sala pisando duro e Edu fica pensativo.
Corta para:
Cena 14.
Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia-Noite.
Imagens
aéreas do Cruzeiro. (Música “Uma história de amor” – Fanzine). Transposição do
dia para a noite várias vezes. Letreiro com: “SEMANAS DEPOIS”
Corta para:
Cena 15.
Casa de Fernanda/ Quarto de Eva/ Int./ Noite.
Malu está
de pijama deitada na cama de Eva comendo brigadeiro. Eva aparece se olhando no
espelho, com um vestido preto de paetê, um coque muito charmoso e uma maquiagem
perfeita.
Eva (se
olhando no espelho) – É hoje!
Malu – Vai dar
tudo certo.
Eva – Tem que
dar. Hoje é a noite mais glamorosa da minha vida. É a minha virada
profissional. Se tudo der certo, eu vou ter uma carreira promissora.
Malu – Profetiza
isso prima. Já deu certo.
Ouve-se uma
buzina de carro.
Eva – Deve ser o
táxi que eu pedi.
Malu – Que Jesus
te proteja e guie esse passo importante que você está dando na sua vida.
Eva – Amém e que
assim seja.
Malu – Tchau.
Eva se
despede de Malu com um beijo e sai.
Corta para:
Cena 16.
Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Noite.
Ouve-se o
barulho de um vozerio e da música que ambienta o coquetel no andar de baixo.
Tamara está colocando uma garrafa de champanhe no balde com gelo, ao lado tem
duas taças. Nesse instante Téo entra.
Tamara
(ansiosa) – Conseguiu comprar as paradas com o Gabu?
Téo – Estão aqui,
mas custou uma fortuna.
Tamara – Não tem
importância, seremos muito bem recompensados depois. Mas cadê o negócio?
Téo tira do
bolso duas cápsulas e entrega Tamara.
Tamara
(sorridente) – A sua carreira acabou Eva Magalhães. A-CA-BOU!
Tamara
serve uma taça de champanhe e em seguida coloca o pó das duas cápsulas dentro
da garrafa de champanhe.
Téo
(assustado) – E se der errado? Se alguém descobrir?
Tamara – Ninguém vai
perceber nada. Agora some daqui. Quero estar eu mesma na hora da derrocada.
Tamara
começa a gargalhar diabolicamente.
Corta para:
Cena 17.
Livraria Dom Casmurro/ Entrada/ Exterior/ Noite.
A fachada
totalmente iluminada, mais do que o habitual, com um tapete vermelho que vai da
calçada a porta de entrada. Um segurança de cada lado da porta e Regininha na
porta pegando o convite das pessoas. Alguns fotógrafos e curiosos pelo lado de
fora. Um táxi para em frente e Eva desce do carro, deslumbrante. Eva dá alguns
passos e é abordada por um fotógrafo.
Fotógrafo –
Pode
dar uma rápida entrevista?
Eva
(retraída) – Eu tô atrasada.
O fotógrafo
começa a bater muitas fotos de Eva.
Eva (firme)
– Eu
tô ficando tonta, desliga essa porcaria.
O fotógrafo
para de tirar fotos e Eva caminha até a entrada.
Eva
(estranhando) – Regininha, você aqui? Cadê a Tamara?
Regininha –
Tá
lá dentro, me pediu pra ficar meia hora aqui, ela tá na sua sala, quis te fazer
uma surpresa.
Eva (meiga)
– E
eu pensando mal da garota. Vou lá agradecer o carinho e apoio que ela tem me
dado.
Regininha –
Entra
pela parte de trás, senão jamais conseguirá chegar até a sua sala. Tem
jornalista, representantes de editoras e até algumas subcelebridades no local.
Eva – Boa ideia.
Vou dar a volta.
Eva sai
andando pela lateral da livraria.
Corta para:
Cena 18.
Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Int./ Noite.
Planos
gerais da festa. Convidados chegando sob flashes dos fotógrafos. Vozerio, muita
movimentação, muitos convidados, clima chique, noite elegante. De um lado vemos
Lucas, muito bem vestido, dando entrevista a um jornalista.
Lucas – E essa é só
mais uma das grandes transformações que a Livraria vai passar. O mérito e da
Eva. Ela que foi a idealizadora desse magnífico projeto.
Jornalista
– A
livraria representa um grande apego dos seus antecedentes em levar ao povo a
literatura, mas hoje o que você pretende nos brindar?
Lucas
(descontraído) – Ah, mas isso é surpresa da Eva. A grande estrela da
noite é ela. Só estamos aguardando a chegada dela.
Lucas
continua dando a entrevista. Close na conversa de Téo e Mafalda.
Mafalda
(aflita) – Será que aconteceu alguma coisa? Tô preocupada com a
Eva. O atraso já está ficando grande.
Téo – Calma. A
moça tem esse direito, afinal de contas, a noite é dela.
Mafalda – Engano seu,
a batalha ainda não está ganha. Tem muita coisa a ser feita. Essa é a noite de
fortes emoções.
Téo – Isso eu
garanto.
Um garçom
passa com uma bandeja de champanhe e Mafalda pega duas taças e vira na mesma
hora, mas continua muito aflita.
Corta para:
Sala da
Gerência.
Tamara está
com sua taça de champanhe, cheia, nas mãos e andando de um lado para o outro.
Eis que Eva entra.
Tamara
(aliviada) – Achei que não iria vir aqui. Pedi a Regininha
encarecidamente que te desse meu recado.
Eva – Ela deu.
Mas afinal, qual é a surpresa?
Tamara
abraça Eva.
Tamara – Parabéns
minha amiga e felicidades. Eu te desejo todo o sucesso.
Tamara pega
a outra taça vazia e coloca champanhe da garrafa (a mesma batizada).
Eva – Não posso
beber, tenho o projeto para apresentar.
Tamara
(ENTREGANDO A TAÇA) – Um golinho não faz mal e depois você chupa uma
bala pra disfarçar o hálito. A noite é sua.
Eva – Tem razão.
Eu mereço.
Tamara
(brindando com Eva) – As fortes emoções de hoje.
Eva bebe
tudo numa golada só. Tamara sorri.
Eva – Agora
vamos?
Tamara – Sim, mas
deixa sua bolsa aqui.
Eva – Tem razão.
Eu tranco a sala.
Eva deixa a
bolsa e vai saindo, Tamara, disfarçadamente, coloca um saquinho transparente
contendo um pó branco, dentro da bolsa de Eva.
Eva – Vamos?
Tamara – É hora do
show.
Eva e
Tamara saem da sala. Close na garrafa de champanhe.
Corta para:
SALÃO
Principal.
A festa
continua. Planos gerais. Abre em Eva descendo as escadas. Mafalda de longe a
avista e respira aliviada. Mafalda caminha em direção ao palco improvisado,
fala algo no ouvido do DJ que para a música. Lucas pega o microfone.
Lucas – Boa noite
senhoras e senhores. Peço a atenção de vocês para lhes mostrar um projeto
inovador. Vem falar Eva.
Eva passa
sorridente por entre as pessoas e em seguida chega ao palco, onde é aplaudida.
Pega o microfone.
Eva (a
todos) – Boa Noite! É com grande alegria, que eu venho aqui apresentar um
projeto que é meu, mas que sem a ajuda de muitas pessoas, não seria possível a
sua...
Eva começa
a se sentir mal, coloca a mão na cabeça e fecha os olhos. Mafalda estranha.
Eva deixa o
microfone cair e em seguida cai no chão desmaiada.
Close em
Tamara, ao fundo, satisfeita. Close final em Eva caída no chão.
Corta para:
FIM
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