segunda-feira, 11 de abril de 2016

Capítulo 13: Em nome do filho

Cena 01. Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Dia.
Continuação imediata do capítulo anterior.
Eva está sozinha em sua sala analisando alguns documentos, quando alguém bate a porta.
Eva – Pode entrar!
A porta se abre e Milena entra, em seguida fecha a porta com força.
Eva (rude) – O que você quer aqui?
Milena – Sabe quem sou eu? Milena.
Eva – Você é a...
Milena – Eu mesma. E vim aqui pra acertar as contas com você. Chega de fugir!
Milena e Eva se olham sérias. Clima tenso no ar.
Eva se levanta, com o olhar fixo em Milena.
Eva – Eu não tenho nada pra falar com você, aliás, nós nunca teremos contas a acertar.
Milena – Engano seu. Porque permaneço casada no civil e no religioso, como manda a boa formação moral, de modo que a imitação, a outra é você.
Eva – Você só pode estar desatinando. Saia da minha sala, ou não respondo por mim.
Milena – Deixa de ser sonhadora. Ao menos uma vez na vida, você tem que enfrentar a realidade. Eu tô aqui diante de você tentando levar uma conversa de mulher pra mulher. Tentando resolver de uma vez essa situação complicada.
Eva – Não há situação complicada. Eu não lhe devo satisfação da minha vida. Você é apenas a ex-mulher do meu namorado. Fora que, se eu tivesse que esclarecer algo, seria com ele e não com você. Agora dá o fora daqui.
Milena – Eu vou morrer. É o fim da linha pra mim.
Eva olha Milena com piedade.
Corta para:
Cena 02. Casa da Fernanda/ Sala/ Int./ Dia.
Fernanda e César continuam se beijando. CAM desfoca dos dois e mostra Julieta entrando na casa.
César, sem parar de beijar, joga Fernanda no sofá e os dois continuam se beijando, só que agora deitados.
Julieta (aplaudindo) – E o filme pornográfico vai começar minha gente, comprem suas pipocas e escolham suas poltronas!
César e Fernanda param de se beijar, imediatamente e olham assustados para Julieta.
César (assustado) – O que você tá fazendo aqui Juju?
Julieta se abaixa lentamente, tira um pé de seu sapato e anda em direção a César.
Fernanda – Saiam da minha casa, os dois.
Julieta dá uma sapatada no rosto de César.
Julieta – Anos de casamento e a vida fica assim? É assim que eu mereço viver? Chifres e mais chifres, onde isso vai parar César? E pior, com a minha maior inimiga.
Fernanda – Por que eu sou sua maior inimiga? Agora eu quero saber, quais motivos, eu te dei para que você me odiasse tanto, desde a juventude você me detesta Julieta.
Julieta – Você sempre cobiçou meus namorados, vai dizer que não é?
Fernanda – A história é oposta. Você sempre gostou do que era meu. Queria ter as roupas que eu tinha, as amigas que me cercavam. Até meus namoros você ficava zicando, querendo que os homens olhassem para você. Uma pena, mas é a mim que eles amam.
Julieta dá uma gargalhada alta.
César – Por que você tá rindo?
Julieta – A Fernanda já está pagando bem caro por tudo que me fez a vida toda. Eu destruí a sua vida. E na hora certa você saberá.
Fernanda olha espantada para Julieta.
César – Seja mais clara Julieta. O que você tá querendo dizer com isso?
Julieta – Na hora certa a Fernanda vai saber. Aguarde as cenas dos próximos capítulos. Essa história ainda vai render muito choro.
Fernanda – Fala de uma vez o que você quer. Que mistério todo é esse? Colocou cicuta na minha bebida? Já sei, vai implodir a minha casa comigo dentro. Poupe-me das suas falas vazias. Dos seus sentimentos de ódio baratos. Até pra ser uma pessoa ruim tem que ter personalidade, o que não é o seu caso.
Julieta (saindo) – Se você se sente melhor assim, aguarde. Não há bem que dure uma vida toda.
Julieta sai da casa rapidamente.
César – Eu vou pra casa. Vou tentar descobrir que segredo é esse?
Fernanda – Tá. Agora me deixa sozinha.
César sai e Fernanda se senta no sofá, intrigada.
Corta para:
Cena 03. Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Interior/ Dia.
Continuação da cena 01.
Eva – Eu já sei do seu aneurisma. O Miguel já me contou porque vocês ainda moram na mesma casa.
Milena (cabisbaixa) – Não é fácil pra mim: perdi o amor da minha vida e ainda por cima, descubro que tenho uma bomba relógio dentro da minha cabeça, prestes a explodir a qualquer instante.
Eva – Você não deveria pensar nisso. Deveria era viver um dia de cada vez com toda a intensidade positivista. Deixa de ser evasiva e frustrada. Você é nova Milena, ainda pode ser feliz. Ainda pode amar alguém.
Milena – O meu amor se chama Miguel de Amadeu Queirós. É ele que eu desejo todos os minutos.
Eva – Mas ele é meu agora e se lhe convém, nós estamos planejando noivar. Espero que você não tente impedi-lo com chantagem barata.
Milena – Eu jamais faria isso, espero realmente que vocês sejam felizes. Se ele não foi feliz comigo, que seja feliz com outra pessoa. Quando a gente ama muito uma pessoa, a gente só quer a felicidade dessa pessoa, e é só isso que me importa nesse momento: A felicidade do Miguel.
Eva – Que bom. Agora saia, por favor, você está atrapalhando o andamento do meu trabalho.
Milena – Será que um dia seremos amigas?
Eva (séria) – Duvido muito. Mas se isso te consola, eu não guardo mágoas ou ressentimentos de você.
Nesse instante Regininha entra na sala.
Regininha (sem graça) – Desculpa se incomodo.
Milena – Eu já estava de saída mesmo. Até mais Eva!
Milena sai da sala. Regininha fecha a porta e faz cara de surpresa.
Regininha – Tô passada mulher. Essa não é a Milena Queirós?
Eva (sentando) – Em carne e osso. Veio com um papo brabo pro meu lado. Disse tanta coisa, mas não explicou nada. A boa da verdade é que ela quer que eu entregue o Miguel de bandeja pra ela, mas isso eu não farei. Eu amo meu namorado.
Regininha (surpresa) – Você namora o Miguel Queirós? Filho do Ângelo e da Vitória?
Eva – O próprio. Mas a mãe dele eu não conheço.
Regininha – É uma víbora. Megera de primeira linha.
Eva – Nós vamos noivar daqui a pouco.
Regininha – Desejo felicidade. Mas agora temos que focar no evento. Tá chegando o dia.
Eva – Tem razão. Aquele fornecedor tá aí?
Regininha – O fornecedor e o rapaz do bufê. Mando quem entrar primeiro.
Eva faz cara de dúvida.
Corta para:
Cena 04. Prefeitura/ Calçada/ Exterior/ Dia.
Fluxo normal de pessoas passando pelo local. Um ônibus para no ponto em frente, descem algumas pessoas, entre elas: Lui e Bebê.
Lui e Bebê param bem em frente à porta de entrada da prefeitura.
Bebê – Será que sua patroa vai me aceitar?
Lui – Ela tem que aceitar Bebê. Afinal de contas, você quer trabalhar pra calar a boca daquele povo, então precisamos muito conseguir essa vaga de segurança.
Bebê – Deus te ouça.
Lui – Deixa comigo gato. Não há nada que Lui Aparecido Martins Rêgo não consiga. Agora me acompanha.
Lui e Bebê adentram a prefeitura.
Corta para:
Cena 05. Prefeitura/ Antessala/ Interior/ Dia.
Lui e Bebê chegam ao local. Lui se senta em sua mesa e Bebê em uma poltrona próxima.
Bebê – Ela demora muito a chegar?
Lui – Hoje sim. Antes ela iria levar o Boticário pra tosar o pelo.
Bebê – Essas madames são muito frescas, isso sim.
Lui – Ai meu querido, fique assim não. Já já a dondoca tá aí e a gente resolve de uma vez essa situação. Esse emprego já é seu.
Bebê – Tomara mesmo.
Lui – Nem que eu tenha que rodar bolsinha na Avenida da Luz. Nem que eu vire uma travesti de calçada, ou melhor, uma dama da casa de prazeres.
Bebê – Não exagera.
Lui – Tá com ciúme amor?
Bebê (encabulado) – Que mané ciúme o que.
Corta para:
Cena 06. Mansão Amadeu/ Jardim Frontal/ Exterior/ Dia.
Um táxi está parado em frente a porta de entrada da mansão.
Diálogo da cena posterior:
Ana Rosa – Pronto! Acho que isso é tudo.
Fabrício – Pegou tudo que é seu? Por que acho que demoraremos a voltar em Flores.
Ana Rosa – Tudo tá aqui.
Corta para:
Cena 07. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Fabrício e Ana Rosa estão conversando, com várias malas em volta.
Fabrício – Falta nos despedirmos da turma.
Ana Rosa – A Eneida já me deu tchau, ela disse que precisava sair. Agora só falta o Miguel e a Vitória.
Vitória começa a descer as escadas.
Vitória – Então vocês já vão?
Ana Rosa – E o melhor pra gente. Aqui não é a nossa casa e isso dificulta toda e qualquer situação. O nosso lugar é no Rio. Fazendo nosso trabalho voluntário.
Vitória – Já que decidiram assim. Não vou negar que adoro ver minha casa vazia.
Fabrício (a Vitória) – Posso te dar um abraço?
Vitória (estendendo a mão) – Acho que isso basta.
Vitória e Fabrício se despedem com um aperto de mão.
Ana Rosa (puxando as malas) – Até mais dona Vitória.
Vitória – Adeus! Pena que não fomos sogra e nora. Acho que iríamos nos dar bem.
Fabrício e Ana Rosa pegam as malas e saem.
Corta para:
Cena 08. Cidade/ Pontos Turísticos/ Exterior/ Dia.
(Música “Te esperando” – Luan Santana)
(Música “Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, com o letreiro “Bem vindo a Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, e uma iluminação toda sincronizada e colorida. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores campestres.
Corta para:
Cena 09. Praça Central/ Chafariz/ Ext./ Dia.
Lucído está sentado em um banco de frente para o chafariz, envolvido em seus pensamentos, ele admira a beleza da água que é jorrada. Ao fundo, por detrás de Lucído, vemos o carro de Eneida estacionando próximo à calçada. Ela desce e vem em direção a Lucído.
(Fad out trilha “Te Esperando” – Luan Santana).
Eneida tampa os olhos de Lucído com a mão, em gesto de brincadeira.
Lucído (feliz) – Eu sabia que você viria, minha doce Eneida.
Eneida tira as mãos dos olhos de Lucído e se senta ao seu lado e começa a admirar a beleza do chafariz.
Eneida – Sabe que eu nunca tinha me dado conta da beleza desse chafariz? Tantas coisas lindas a gente deixa escapar aos nossos olhos. Tantos momentos de puro prazer à gente sucumbi.
Lucído – A pressa do alfaiate, faz a gente esquecer-se de apreciar um belo vestido.
Eneida – Tem razão Lucído, a gente se deixa esquecer-se de tudo por causa da pressa.
Lucído – A vida é longa. É um jogo longo e tudo tem sua hora, seu espaço e sua beleza. Basta a gente saber sincronizar cada coisa a seu tempo.
Eneida – Eu não sabia que você era tão poético assim.
Lucído – E não sou. Mas a beleza deste lugar me fez ficar mais sensível, mais radiante, entende?
Eneida – Aqui a gente esquece a vida, os problemas. Eu poderia passar horas aqui admirando esta beleza. Horas sem pronunciar uma palavra ou me lembrar de qualquer problema.
Lucído encara Eneida.
Lucído – Mas não dá pra viver na fantasia. O que nos trouxe aqui é um problema. Um problema muito sério e que me aflige há muitos anos.
Eneida – Helena.
Lucído fica com os olhos cheios de lágrimas.
Lucído (triste) – Já estou velho e não sei mais por quanto tempo vou resistir. Acho que o que me fez permanecer de pé e lúcido até hoje, foi o fato de querer conhecer a Helena. Lá em casa, todos acham que a Helena é uma ficção minha, que estou ficando pirado.
Eneida – E é melhor que pensem assim. É melhor que você esqueça a Helena, que esqueça o passado. Revirar tudo isso, só nos faz mal.
Lucído – Eu tenho o direito de saber. A Helena é minha filha. Por favor, não me negue esse direito Eneida. Eu quero saber quem é a nossa filha. Quero saber se ela está bem.
Eneida – Deixa essa história para trás. Comece do zero. Você em uma família linda. Olha tudo que você construiu.
Lucído – Eu te suplico, por favor!
Lucído se ajoelha diante de Eneida.
Eneida – Para com isso.
Lucído – Atenda esse pedido meu. Pode ser o último, aliás, é a última coisa que eu quero na vida.
Lucído permanece ajoelhado e imóvel, olhando para Eneida com piedade.
Corta para:
Cena 10. Prefeitura/ Antessala-Gabinete/ Int./ Dia.
Lui está digitando algo em seu computador, enquanto Bebê está de pé olhando os quadros com fotos de homens.
Bebê – Quem são esses?
Lui para de digitar, se levanta e fica próximo a Bebê.
Lui – Esses são os antigos prefeitos da cidade.
Bebê – Então a dondoca aí é a primeira prefeita?
Lui – Uhum. E pior: pretende se reeleger.
Bebê – Mas você não faz parte da comitiva real dela?
Lui – Eu trabalho pra ela, mas detesto o governo dela. Olha nosso bairro como é? Um horror. Falta saneamento básico, falta uma escola lá. Falta geração de emprego, para que a renda per capita cresça e a nossa cidade seja desenvolvida. A gente precisa sair do nível básico e ir para o avançado. É gerir com competência.
Bebê – Falou bonito. Se candidata.
Lui – Eu? Pobre e gay? Você acha que tenho alguma chance Bebê?
Bebê – Só vai descobrir, quando se candidatar.
Lui – Vou pensar no seu caso. Mas eu gostaria muito mais de ser a Senhora Primeira Dama de Flores. Usar vestido bege em cerimônias oficiais. Ia ser lindo.
Bebê – Hum. Eu aprovo.
Bebê dá um tapinha no bumbum de Lui.
Lui (excitação) – Bate mais que eu gamo, minha delícia.
Nesse instante Meg chega.
Lui (gritando) – Dona Méguiiiii. Olha quem tá aqui.
Meg olha Bebê de cima em baixo e faz cara de reprovação.
Meg – Quem é esse sujeito.
Lui – É meu namorado. Belarmino Altamirano.
Bebê – Mas pode me chamar de Bebê. Eu gosto.
Meg – O que essa criatura veio fazer aqui? Vai dizer que aqui virou desfile de músculos?
Lui – Ele veio tentar a vaga de segurança que a senhora disponibilizou.
Meg olha discretamente com desejo para Bebê.
Meg – Tá contratado rapaz. Esteja aqui amanhã as sete em ponto.
Meg entra para seu gabinete.
Lui e Bebê comemoram.
Corta para:
Cena 11. Praça Central/ Exterior/ Dia.
Continuação da cena 09: Lucído de Joelhos perante Eneida.
Eneida – Levanta Lucído. As pessoas começaram a olhar.
Ainda de joelhos, Lucído olha para todos os lados e percebe que as pessoas estão olhando, e algumas, comentando discretamente.
Lucído – Não devo nada a essa cambada de fofoqueiros. Mas você me deve uma resposta. Diz pra esse velho aqui, onde ele pode encontrar a filha dele.
Eneida – Esse tempo já passou. Eu dei a Helena pra adoção e você sabe muito bem disso.
Lucído – Mas você sabe em que família ela está. Você sabe onde localizar a minha Heleninha.
Eneida – E o que isso importa agora?
Lucído – Pra você, pode não fazer muita diferença, mas pra mim faz. Eu quero ver a minha filha. Quero apresentá-la a minha família e dizer: Galera, esta é a Helena, minha filha. Que foi gerada com muito amor.
Eneida (sem jeito) – Esse passado só piora tudo.
Lucído se levanta.
Lucído – O dia que você deixar de ser covarde, deixar de ser egocêntrica e pensar no quanto está me privando de ser feliz, você me procura e me diz onde está a minha filha. Mas se eu morrer, ou por algum acaso, descobrir o paradeiro dela por conta própria, saiba que eu jamais vou te perdoar. Que jamais vou te deixar em paz. Você vai sofrer de remorso e vai acabar na solidão.
Lucído sai andando depressa.
Eneida (pra si) – Eu queria que tudo fosse muito fácil.
Eneida fica cabisbaixa e com os olhos marejados.
Corta para:
Cena 12. Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Int./ Dia.
Clima muito requintado. Poucas pessoas pelo local. Sem música ambiente. Close na Mesa de Miguel e Eva.
Eva – Eu não via a hora de chegar aqui.
Miguel – No caminho eu notei você meio angustiada, o que foi?
Eva – A Milena esteve na livraria hoje.
Miguel (surpreso) – O que? Mas, o que ela foi fazer lá.
Eva – Tô tentando entender até agora. Mas uma coisa eu sei, não dá pra viver a sombra de uma mulher. Por mais que ela esteja doente Miguel, não dá pro nosso namoro ser sucumbido por uma ex. Você tem que tomar alguma providência.
Miguel – Eu vou fazer isso o mais rápido possível. Mas o que você acha da gente dar um pulinho no motel agora? Tô morto de saudade de você.
Eva (contente) – Tá bem meu amor.
Eva e Miguel trocam carícias.
Corta para:
Cena 13. Casa de Edu/ Sala/ Interior/ Dia.
Edu está sentado no sofá assistindo TV, quando Julieta aparece com um travesseiro e roupas de cama e joga em cima do sofá.
Edu (assustado) – Que isso mãe?
Julieta – A cama do seu pai é aí agora. Ele que viva nesse sofá. Que tenha dor nas costas, que durma mal a noite toda. Se ele pedir desculpas, se ele se mostrar arrependido pelo que fez, ganha o direito de dormir na minha cama novamente, mas caso contrário, vai viver dia e noite com a coluna torta.
Edu – O que o pai fez?
Julieta – O seu amado pai estava beijando a Fernanda na casa dela. E se eu não chego, eles teriam deitado e rolado, se é que me entende.
Edu fica perplexo.
Julieta – Ficou surpreso? Eu tanto que avisei que aquelas duas não valiam nada. Tal mãe, tal filha. Você deveria me agradecer por eu ter te tirado daquela roubada. Garota estúpida, vai virar piranha igual a mãe.
Edu – Antes de qualquer coisa, a Malu é honesta e gosta de mim de verdade. Eu é que vacilei feio com ela dessa vez.
Julieta – O que eu sei é que você deveria namorar a Tamara. É bonita, tem um emprego e não vive em conto de fadas. Ela sim é a mulher certa pra te colocar nos eixos.
Edu – Mas eu não amo a Tamara.
Julieta – Amor, amor. No fim das contas, esse tal amor fica de coadjuvante na história. De nada adianta amor, se o relacionamento é frágil. Você precisa é de segurança, estabilidade, e isso a Tamara pode te dar.
Edu – E passar vinte anos casada com ela e no fim das contas, descobrir que ela me traiu? Não mãe, obrigado. Não quero seguir a sua linha.
Julieta – O que eu sei é que com aquela filha da piranha, você não vai ficar. Eu juro!
Julieta sai da sala pisando duro e Edu fica pensativo.
Corta para:
Cena 14. Cruzeiro Municipal/ Exterior/ Dia-Noite.
Imagens aéreas do Cruzeiro. (Música “Uma história de amor” – Fanzine). Transposição do dia para a noite várias vezes. Letreiro com: SEMANAS DEPOIS”
Corta para:
Cena 15. Casa de Fernanda/ Quarto de Eva/ Int./ Noite.
Malu está de pijama deitada na cama de Eva comendo brigadeiro. Eva aparece se olhando no espelho, com um vestido preto de paetê, um coque muito charmoso e uma maquiagem perfeita.
Eva (se olhando no espelho) – É hoje!
Malu – Vai dar tudo certo.
Eva – Tem que dar. Hoje é a noite mais glamorosa da minha vida. É a minha virada profissional. Se tudo der certo, eu vou ter uma carreira promissora.
Malu – Profetiza isso prima. Já deu certo.
Ouve-se uma buzina de carro.
Eva – Deve ser o táxi que eu pedi.
Malu – Que Jesus te proteja e guie esse passo importante que você está dando na sua vida.
Eva – Amém e que assim seja.
Malu – Tchau.
Eva se despede de Malu com um beijo e sai.
Corta para:
Cena 16. Livraria Dom Casmurro/ Sala da Gerência/ Int./ Noite.
Ouve-se o barulho de um vozerio e da música que ambienta o coquetel no andar de baixo. Tamara está colocando uma garrafa de champanhe no balde com gelo, ao lado tem duas taças. Nesse instante Téo entra.
Tamara (ansiosa) – Conseguiu comprar as paradas com o Gabu?
Téo – Estão aqui, mas custou uma fortuna.
Tamara – Não tem importância, seremos muito bem recompensados depois. Mas cadê o negócio?
Téo tira do bolso duas cápsulas e entrega Tamara.
Tamara (sorridente) – A sua carreira acabou Eva Magalhães. A-CA-BOU!
Tamara serve uma taça de champanhe e em seguida coloca o pó das duas cápsulas dentro da garrafa de champanhe.
Téo (assustado) – E se der errado? Se alguém descobrir?
Tamara – Ninguém vai perceber nada. Agora some daqui. Quero estar eu mesma na hora da derrocada.
Tamara começa a gargalhar diabolicamente.
Corta para:
Cena 17. Livraria Dom Casmurro/ Entrada/ Exterior/ Noite.
A fachada totalmente iluminada, mais do que o habitual, com um tapete vermelho que vai da calçada a porta de entrada. Um segurança de cada lado da porta e Regininha na porta pegando o convite das pessoas. Alguns fotógrafos e curiosos pelo lado de fora. Um táxi para em frente e Eva desce do carro, deslumbrante. Eva dá alguns passos e é abordada por um fotógrafo.
Fotógrafo – Pode dar uma rápida entrevista?
Eva (retraída) – Eu tô atrasada.
O fotógrafo começa a bater muitas fotos de Eva.
Eva (firme) – Eu tô ficando tonta, desliga essa porcaria.
O fotógrafo para de tirar fotos e Eva caminha até a entrada.
Eva (estranhando) – Regininha, você aqui? Cadê a Tamara?
Regininha – Tá lá dentro, me pediu pra ficar meia hora aqui, ela tá na sua sala, quis te fazer uma surpresa.
Eva (meiga) – E eu pensando mal da garota. Vou lá agradecer o carinho e apoio que ela tem me dado.
Regininha – Entra pela parte de trás, senão jamais conseguirá chegar até a sua sala. Tem jornalista, representantes de editoras e até algumas subcelebridades no local.
Eva – Boa ideia. Vou dar a volta.
Eva sai andando pela lateral da livraria.
Corta para:
Cena 18. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Int./ Noite.
Planos gerais da festa. Convidados chegando sob flashes dos fotógrafos. Vozerio, muita movimentação, muitos convidados, clima chique, noite elegante. De um lado vemos Lucas, muito bem vestido, dando entrevista a um jornalista.
Lucas – E essa é só mais uma das grandes transformações que a Livraria vai passar. O mérito e da Eva. Ela que foi a idealizadora desse magnífico projeto.
Jornalista – A livraria representa um grande apego dos seus antecedentes em levar ao povo a literatura, mas hoje o que você pretende nos brindar?
Lucas (descontraído) – Ah, mas isso é surpresa da Eva. A grande estrela da noite é ela. Só estamos aguardando a chegada dela.
Lucas continua dando a entrevista. Close na conversa de Téo e Mafalda.
Mafalda (aflita) – Será que aconteceu alguma coisa? Tô preocupada com a Eva. O atraso já está ficando grande.
Téo – Calma. A moça tem esse direito, afinal de contas, a noite é dela.
Mafalda – Engano seu, a batalha ainda não está ganha. Tem muita coisa a ser feita. Essa é a noite de fortes emoções.
Téo – Isso eu garanto.
Um garçom passa com uma bandeja de champanhe e Mafalda pega duas taças e vira na mesma hora, mas continua muito aflita.
Corta para:
Sala da Gerência.
Tamara está com sua taça de champanhe, cheia, nas mãos e andando de um lado para o outro. Eis que Eva entra.
Tamara (aliviada) – Achei que não iria vir aqui. Pedi a Regininha encarecidamente que te desse meu recado.
Eva – Ela deu. Mas afinal, qual é a surpresa?
Tamara abraça Eva.
Tamara – Parabéns minha amiga e felicidades. Eu te desejo todo o sucesso.
Tamara pega a outra taça vazia e coloca champanhe da garrafa (a mesma batizada).
Eva – Não posso beber, tenho o projeto para apresentar.
Tamara (ENTREGANDO A TAÇA) – Um golinho não faz mal e depois você chupa uma bala pra disfarçar o hálito. A noite é sua.
Eva – Tem razão. Eu mereço.
Tamara (brindando com Eva) – As fortes emoções de hoje.
Eva bebe tudo numa golada só. Tamara sorri.
Eva – Agora vamos?
Tamara – Sim, mas deixa sua bolsa aqui.
Eva – Tem razão. Eu tranco a sala.
Eva deixa a bolsa e vai saindo, Tamara, disfarçadamente, coloca um saquinho transparente contendo um pó branco, dentro da bolsa de Eva.
Eva – Vamos?
Tamara – É hora do show.
Eva e Tamara saem da sala. Close na garrafa de champanhe.
Corta para:
SALÃO Principal.
A festa continua. Planos gerais. Abre em Eva descendo as escadas. Mafalda de longe a avista e respira aliviada. Mafalda caminha em direção ao palco improvisado, fala algo no ouvido do DJ que para a música. Lucas pega o microfone.
Lucas – Boa noite senhoras e senhores. Peço a atenção de vocês para lhes mostrar um projeto inovador. Vem falar Eva.
Eva passa sorridente por entre as pessoas e em seguida chega ao palco, onde é aplaudida. Pega o microfone.
Eva (a todos) – Boa Noite! É com grande alegria, que eu venho aqui apresentar um projeto que é meu, mas que sem a ajuda de muitas pessoas, não seria possível a sua...
Eva começa a se sentir mal, coloca a mão na cabeça e fecha os olhos. Mafalda estranha.
Eva deixa o microfone cair e em seguida cai no chão desmaiada.
Close em Tamara, ao fundo, satisfeita. Close final em Eva caída no chão.
Corta para:
FIM






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