domingo, 3 de maio de 2015

Episódio 11: Lúcia

A Cuca

        
         Eram seis horas da manhã quando voltamos para o castelo. Não aguentávamos mais de tanto sono:
         - Acho que eu vou entrar em coma de tanto sono! - exclamou Leticia deitando-se na cama sem tirar a roupa. O dormitório estava cheio, pois era um feriado de "A queda das trevas”.
         - Eu vou tomar um banho antes! - disse- Estou imunda de tanto suor e quero tirar todos os vestígios daquela casa nojenta!
         Tomei um banho e deitei-me na cama. Dormir como uma pedra...

         Acordei ao meio dia e vinte, fui rastejando os pés até o banheiro, joguei uma água no rosto e desci para o salão principal do grupo Água.  Tinha uma meia dúzia de alunos, uns conversando, outros fazendo os deveres e Amanda lendo o livro que pegara na biblioteca para tentar descobrir sobre a profecia:
         - Descobriu algo, Amandinha? - perguntei ao me aproximar dela e sentar ao seu lado
         - Ainda não há provas concretas! - disse ela sem tirar os olhos do livro- Mas estou no caminho certo, precinto isso!
         - Vou tomar um café no refeitório, vem comigo? - falei indo em direção a porta
         - Está bem! - disse ela fechando o livro e o carregando- Gosto de tomar um Clooc's lendo um bom livro!
         No caminho para o refeitório vimos Aldin com uma pequena bomba na mão, ele estava levando em direção a sala dos professores. Ele não nos viu e como ninguém queria a antipatia dele, saímos de perto o quanto antes.
         De repente, um estrondo que tremeu toda estrutura do castelo, fazendo com que os pássaros e fadas ao redor do castelo fugisse para o mais longe possível.
         - ALANDIN! - gritou a professora Suzy, que nos ensinava a voar, ela estava com o rosto todo empoeirado- Cadê esse saci de uma figa? Eu mato ele!
         - Calma professora! - disse meu padrasto com as vestes imundas- Ele é só um menino!
         - Ele é um sabichão! Mas ele me paga! Me paga! Vou tomar o capuz dele! - esbravejou a professora. Amanda e eu saímos correndo com um livro enorme na mão.
         Só o vimos escondido atrás de uma pilastra dando risada e fumando o seu cachimbo
         O refeitório era logo a frente e novamente vimos Aladin, mas agora ele parecia comportado, estava voando pelo refeitório comendo uma maçã e sorrindo para os alunos.
         Sentamos em uma mesa e Amanda enfiou a cara no livro. Já estavam servindo o almoço, mas eu preferi tomar um chocolate quente com pão de abobora recheado com frango e catupiry.
         Enquanto conversávamos o mesmo garoto esquisito que me olhava na festa, estava novamente me olhando de longe, ele estava sentado com outros alunos do grupo fogo:
         - Aquele menino está me olhando novamente! - falei para Amanda que voltara a por os olhos no livro
         - Ele é bem esquisito, apesar de ser um gato! - disse Amanda olhando disfarçadamente
         - Tenho medo dele! - falei como um desabafo
         - Alunos e Alunas! -disse minha avó interrompendo a gente e fazendo o silencio no refeitório- No mês que vem teremos um acampamento para que aprendam mais sobre animais mágicos, ervas mágicas, ciência das fadas e se defenderem das artes do mal! E quem quiser participar, serão cinco dias. É só fazer as inscrições aqui! - ao lado dela tinha um pergaminho e uma pena flutuante. - O acampamento será na floresta negra!
         Muitos e muitos alunos formaram fila para se inscrever.
         - É para lá que iremos! - disse Amanda entusiasmada- Não há lugar melhor para saber sobre mistérios do que a floresta e quem sabe não achamos alguma coisa sobre a profecia!
         Marcos vem de longe com uma faixa enrolada na cabeça, e manquitolando:
         - Levei uma mordida do boitatá na perna e ele enfiou um espinho gigantesco na minha cabeça! - disse ele sentando ao nosso lado
         - Mas o que a médica Beatriz Santana disse? - perguntou Amanda sem tirar os olhos do livro
         - Disse nada, apenas me enfaixou- respondeu ele pegando um prato de comida que flutuava por cima de sua cabeça para chegar do outro lado  do refeitório, na mesa dos alunos do grupo Ar
         - Bom dia... - disse Leticia mal-humorada puxando uma cadeira.
         - Nós vamos para o acampamento! - decidiu Amanda
         - Como assim, Acampamento!? - Leticia e Marcos não sabiam da história de acampamento, ele estava na ala hospitalar e ela, dormindo.
         - É um acampamento para nos ajudar nos estudos e algumas coisas a mais! Quero que todos os amigos vão!
         - E onde será esse acampamento? - perguntou Leticia relutante
         - Na Floresta Negra! - falei indo em direção a fila para nos inscrever.
         - Ela vai inscrever todos! Precisamos achar umas coisas importantíssimas para o mundo mágico! - impôs Amanda.

         Passamos o feriado quase todo dentro da biblioteca, investigando sobre a profecia da justiça. Resolvi contar para Leticia, Rafael, Miguel e para a Alana sobre o que aconteceu no dia em que desapareci da festa:
         - Nosssa que interessante! - admirou-se Miguel
         - Mas você acredita mesmo ser a filha do Cavaleiro das Trevas? - perguntou Leticia
         - Eu não vejo razões para ela não acreditar! - disse Alana quando eu ia abrindo a boca para falar
         - Gente! - falou Marcos inquieto- Já são cinco horas da tarde e não fizemos nada nesse bendito feriado! Vamos lá para fora! Vamos sair desse inferno cheio de livros!
         Não precisou nem sairmos, a dona Matilda veio até nós, sua cara de rato estava mais medonha que de costume:
         - Crianças, o diretor quer vê-los!
         - Todos nós? - perguntou Rafael
         - Todos! - respondeu ela com um ar de que aprontamos algo
         Olhamos um para cara do outro, Amanda fechou os cinco livros e levantou, colocando-os dentro de sua bolsa sem fundo.
         - O que estamos esperando? - perguntou ela indo em direção a porta da biblioteca- O diretor nos espera!
         Eu não sabia o porquê dele nos chamar, mas da ultimas vez que fomos chamados lá foi porque ajudamos Miguel e Rafael. O diretor, ou como costumamos chamar, o Mestre sempre nos mostrou ser uma pessoa boa e muito simples. Ele era muito baixo e sua voz era fina, mas seu coração era maior que seu corpo de tão bom e generoso que ele era. Sempre compreensivo, sendo ele um dos pioneiros em formar bruxos e feiticeiros no mundo alternativo.
         Subimos uma enorme escadaria, pois a sala dele era na torre do sul e acima de todas as salas, de lá dava para ver toda a redondeza de Magiscovs, desde o lago dos pássaros azuis, até o bico da torre do castelo do Conde Drácula Lúcifer.
         - Parece que nunca iremos chegar nessa sala! - reclamou Marcos, que estava exausto de tanto subir escadas.
         - Deveria ter elevadores! - completou Rafael bufando de tanto suar
         - Parem de reclamar meninos! - falei- Daqui duas escadarias a gente chega!
         - Duas?! - indagou Marcos com uma cara de terror como se eu tivesse acabado de virar a Cuca ou o Lobo-Mau.
         - Claro que não- ri- É aqui! - apontei para uma enorme porta, onde havia duas enormes armaduras postas na porta de madeira pura.
         - Ufa! - disse Miguel aliviado, tirando o suor do rosto.
         Antes que eu pudesse bater na porta, ela se abriu e o Diretor Antônio mandou entrarmos. Ele não estava sozinho, o Mago (presidente da republica), minha avó (ou melhor, a subdiretora dona Sonia), mamãe, o meu padrasto ( professor Luiz), Xamã e um homem de pele clara e olhos bem pretos, alto e corpulento estavam lá.
         - Entrem! Entrem! - disse o mestre- Precisamos falar com vocês! - ele estava absurdamente sério- Acomodem-se pois o papo será longo!
         Todos estavam sérios, minha mãe estava com os olhos vermelhos, minha avó também, deviam estar chorando.
         - Chamamos todos aqui porque o Conde Drácula está atrás da Lucia! - disse o mago- Ele quer algo que não conseguiu da ultima vez que esteve com você! Ele quer o seu colar da ressureição!
         - Colar da ressurreição? -perguntei- Eu não tenho esse colar! O único colar que tenho é esse! - mostrei um pequeno colar em forma de quadrado e uma pedra verde brilhante dentro.
         - Mas é esse mesmo! - falou o mestre- Esse colar faz parte da profecia e se você não percebeu, quando você estava no castelo do Lucifer, o colar desapareceu! - ele estava calmo e benevolente- O colar foi parar em cima de minha mesa no mesmo momento. Ele magicamente percebeu a zona de perigo e apareceu aqui, nessa mesa!
         - Mas por que ele quer a pedra da ressurreição? - Leticia entrou na conversa
         - Para ressuscitar O Cavaleiro das Trevas! - respondeu Amanda- Ele quer a volta do rei das trevas ao poder!
         - O que eu quero saber é sobre essa tal profecia! - falei- A partir de agora, ou vocês me falam, ou não farei mais nada de bom e de ruim!
         - A profecia fala que - começou o mago a falar- "O herdeiro do cavaleiro das trevas é aquele que salvará ou destruirá o mundo mágico, esse destruirá o cavaleiro assim que nascer, mas ele retornará do mundo dos mortos para trazer a ruina. Cabe o seu herdeiro reinar nas trevas ou na luz!" - disse o mago- Você Lucia é a única pessoa que o mundo das trevas tem interesse, e o colar da ressureição é a única coisa conhecida no mundo mágico que trás alguém do mundo dos mortos!
         - Se ele me quer é porque depende de mim! Eu nunca vou querer ir para o lado dele!
         - Minha querida, - falou a professora Rosa- Ele não quer saber, ele a obrigará a fazer o que quer, os vampiros são astuciosos e se não fizer por bem, fará por mal. Só Dumber para salva-la do Conde Drácula!
         - E o que quer que façamos? - perguntei- Por que chamaram eles?
         - Porque você já tinha contado! - disse o diretor com simplicidade- E como eles sabem,  também estão metidos nessa história! Deixarei chegar às ferias de inverno que é daqui um mês, irão todos para a casa da família Lobos!
         - Para a minha casa!? - indagou Marcos surpreso- Mas por quê?
         - Lobo e vampiro não se dão! E lá Lucia estará segura por algum tempo - respondeu minha avó que até então não dissera nada- Eu já estou à beira da morte e sua mãe, bom... Sua mãe precisa cuidar de seu irmão!
         Vovó estava falando, mas parecia que estava escondendo algo de mim.
         - Não quero que saiam da redondeza do colégio e os curupiras que os protegem estarão vinte quatro horas a mais de olho em vocês para que nenhum seja levado! Pois o Lúcifer sabe que vocês estão sabendo de tudo! - disse o mago
        

         Passaram-se um mês, as folhas das arvores da floresta que rodeava o castelo tinham caidos, os passaros estavam piando pouco, julho era o mês mais frio do ano e por causa disso todos os animais mágicos estavam entocados, o único que ficava pela floresta era o Mapinguari:
         - O que é um Mapingu... Sei lá o nome? - indagou Marcos quando estava Amanda ele e eu sentados conversando, perto da janela do quarto que escorria a chuva intensa e mostrava o céu nublado e bem escuro (apesar de que eram dez horas da manhã).
         - Se não me falha a memoria- disse Amanda sem tirar os olhos de um exemplar do "Tire suas Dúvidas Sobre os Botos-Cor-de-Rosa" - Ele é um dos únicos animais magicos a resistir o frio, ele é parente do lobisomem, só que parece com um macaco, mais alto que um homem, de pelo escuro, com grande focinho que lembra o de um cachorro, garras pontiagudas, uma pele de jacaré, um ou dois olhos e que exala um forte mau cheiro! - ela olhou para a janela- Ele grunhe assim quando está atrás de comida, ou quando sente o medo se aproximar!
         - E ele tem medo do que? - perguntei mais curiosa que o Marcos que estava se pelando de medo
         - Do Corpo- seco! - ela estava com uma voz tremula para assustar mais o Marcos
         - Eu sei o que é!  - falei-  É uma espécie de zumbi, mas do mal que perambula por ai atrás de pessoas para comer! Dizem que ele é tão mau que nem o diabo quis ele e seu corpo tão amargo que nem a terra o comeu depois de sua morte!
         - Para gente! - falou marcos- Estou ficando assustado! - um grunhido surgiu da floresta, sabíamos que era Mapinguari. Marcos pulou de medo na cama.
        
         Era a nossa ultima semana em Magiscovs, nós iriamos entrar de férias, quem estivesse autorizado iria para o acampamento, menos a gente que o Mago nos proibiu de sair da redondeza do castelo, deixando Amanda muito aborrecida:
         - Acho isso desnecessário! - disse Amanda quando entravamos na sala de aula de defesa contra as forças do mal.
         - Eu também queria ir! - falei entristecida
         - Ainda bem que não vamos! Já estava em cóleras! - respondeu Leticia que estava sentada na cadeira a frente a de Amanda
         - Cadê o professor? - perguntou Alana
         - Foi buscar uma coisa para dar aula! Não sei o que é... mas ele disse para que ficássemos quietos que ele já vinha! - respondeu Heitor, um garoto do grupo Ar que era mestiço de gnomo, por isso era baixo como um.
         - Olá turma! - disse o professor entrando e puxando uma velha amarrada, ela tinha a forma de um jacaré. Seus dentes enormes rosnavam para nós. Os alunos que estavam nas cadeiras da frente, saíram rapidamente dali indo para a parte de trás da sala- Não tenham medo! Calma! - disse o professor Edgar. - Alguém pode me dizer o que é isso?
         - Um monstro? - disse Edmundo. Um aluno do grupo Água, ele era filho da sereia Iara com bruxo.
         - Não! - respondeu o professor- Ou melhor, quase isso!
         - Isso é uma Cuca! - respondeu Amanda sentindo-se orgulhosa por se a única, a saber,
         - Parabéns, Amanda! Um ponto na sua média!- disse o professor- E a senhorita sabe dizer o que ela faz?
         - Ela fica sempre atrás de crianças e animais pequenos. É capaz de comer ou apenas matar com seus dentes e poderes!
         - Muito bem! Mais dois pontos na sua média! - falou o Edgar. Todos se contorciam e olhavam feio para Amanda que se sentia o máximo.
         - O que eu os ensinarei hoje é se defender da Cuca, do bicho-papão e do Velho-do-saco que são da mesma família! A diferença é que o bicho papão se transforma no que você mais teme, já os outros dois são aquilo que vocês mais temem! Eu soltarei a Cuca e vocês irão lançar um feitiço nela fazendo com que ela vire uma poça d' água!
         - Mas ela vai nos atacar! - disse Marcos se tremendo
          - Pelo amor de Dumber, Marcos! -  disse o professor irritado- Você é filho de lobisomem, não deve ter medo!
           - O senhor falou certo, sou filho, não o lobisomem! - falou Marcos
           - Bom! - ele fingiu não ter ouvido Marcos- Peguem a varinha de vocês, depois digam "Risos Aquaticos"! Façam! - todos fizeram com pouco entusiasmo- Novamente! Pois se não fizerem certo ela não funciona! Vocês precisam soltar a voz e falar com mais vontade! -  todos falaram com muita determinação e o professor ficou satisfeito- Muito bem! Muito bem! Agora façam uma roda em volta! Rápido! Rápido!  - todos nós começamos a fazer a roda e ele foi até a Cuca e com a varinha apontou para ela e a corda soltou-se da Cuca. Ouviu-se então uma risada estridente, era uma risada de arrepiar.
           A cuca foi até o Marcos, pois sentiu o cheiro do seu medo e disse se aproximando dele:
           - Está com medo, rapazinho? - sua voz era estridente e maldosa- Venha comigo!
           Marcos apontou a varinha para ela, tremendo, e gritou "Risos Aquaticos!" ela foi derretendo e virou uma poça de água no meio da roda. Todos aplaudiram e o professor orgulhoso de Marcos o cumprimentou e  apontou a varinha para a poça que voltou a se materializar virando novamente Cuca.
           Ela agora correu de Marcos, pois ficou com medo dele e foi na direção em que eu estava eu já estava preparada para que se ela se aproximasse. Não deu outra, Cuca veio para cima de mim dizendo:

           - A filha daquele que é temido por todos! A herdeira do mal! Venha para mim! Venha! - a minha varinha caiu de minha mão, minhas forças tinham ido embora eu estava tonta e de repente... Apaguei!

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