Personagens
deste episódio:
Ádamo
Beto
Branco
Carlão
Cigana
Alba
Cíntia
Das
Dores
Donna
Entidade
Nefertiti
Glória
Luís
Renato
Sandra
Participação
Especial:
Faxineira
1
Faxineira
2
Moça
Continuação do Episódio anterior.
Cena
01. Discoteca CELEBRARE/ SALA de Renato/ Int./ Dia.
Das
Dores está vasculhando todas as gavetas da sala. Procurando em estantes,
fazendo uma verdadeira bagunça. Ela abre uma última gaveta e começa a fuçar em
tudo lá, quando Renato aparece de surpresa.
Renato
(sério) – O que você está procurando na minha gaveta? Perdeu algo?
Das Dores
olha surpresa para Renato, que a olha sério.
Das Dores
(sem graça) – Meu amor, que bom que você chegou.
Das Dores
vai até Renato e o beija, sem que ele esboce interesse.
Renato – Você ainda
não me respondeu Das Dores, o que estava procurando no meio das minhas coisas?
Das Dores
(acuada) – Eu tava... Tava procurando um... Um batom... É isso,
um batom. Um batom vermelho que eu perdi ontem. Aí achei que poderia estar
aqui, já que você me deixou horas plantada aqui.
Renato – E achou o
que procurava?
Das Dores –
Não.
Deve estar na casa da Donna.
Renato – Posso te
pedir um último favor?
Das Dores
(meiga) – Quantos você quiser meu amor.
Renato – Pega a sua
bolsa e sai daqui.
Das Dores –
Antes
eu posso te fazer uma pergunta?
Renato – Promete que
depois vai me deixar em paz para trabalhar?
Das Dores
faz que sim com a cabeça.
Renato – Então diz
logo.
Das Dores –
Tem
alguma outra mulher na sua vida?
Renato fica
tenso, mas disfarça muito bem.
Renato – Tem sim!
Das Dores
fica chocada e Renato sério.
Corta para:
Cena 02.
Casa de Cíntia/ Sala/ Int./ Dia.
Glória e
Luís estão assistindo TV.
Glória – Ah meu
querido, ando preocupada com a Cíntia.
Luís – O que essa
rebelde sem causa tem aprontado?
Glória – Nada. Mas é
isso que tem me assombrado. Eu ando com medo Luís, medo dessa menina estar
aprontando alguma por debaixo dos panos, entende?
Luís – Acho que
não Glória. A Cíntia não saiu ontem, hoje passou o dia no quarto.
Glória – E você acha
normal essa passividade? Ela é adolescente. E adolescente sempre quer se
rebelar.
Luís – Mas toda
regra há sua exceção, além do mais, você sempre disse a Cíntia que ela não era
como todo mundo. Vai ver ela realmente percebeu isso.
Glória
(pensativa) – Eu ainda acho que nesse angu tem caroço. Jesus há de
me mostrar essa luz.
Glória fica
pensativa e Luís volta seu olhar a TV.
Corta para:
Cena
03. Discoteca CELEBRARE/ SALA de Renato/ Int./ Dia.
Das Dores
visivelmente irritada e Renato com aspecto calmo.
Das Dores
(séria) – Tô esperando você dizer quem é a outra mulher, anda, fala.
Renato – Ué, sempre
existiu outra na minha vida. Sempre teve outra no meu coração.
Das Dores –
Safado,
como é que você tem a coragem de me dizer isso na maior cara dura?
Renato – Porque você
sempre soube. Você sempre aceitou.
Das Dores
(nervosa) – Eu não aceitei merda nenhuma Renato. Você não passa
de um crápula.
Renato – Crápula por
eu ter outro amor? Das Dores, meu outro amor, minha outra mulher é a minha mãe.
Das Dores
fica paralisada por alguns instantes.
Das Dores –
Não
era o momento pra piadinhas.
Renato – Não são
piadinhas. Eu disse a verdade. Eu divido o meu coração entre mamãe e você. Ela
é a outra da minha vida.
Das Dores
(pegando a bolsa) – Odeio esse seu humor negro, sem graça, sem sentido.
Renato – Você não
vai me beijar?
Das Dores
(saindo) – Beija a sua mãe.
Das Dores
sai da sala, muito irritada.
Corta para:
Cena 04.
Jardim de Cima/ Ext./ Dia-Noite.
(Música
“Livin’ On A Payer” – Bon Jovi). Imagens de várias pessoas sentadas nos bancos
do jardim, conversando. Crianças passeiam de bicicleta. Algumas pessoas, apenas
passam pelo local. Transposição do dia para a noite.
Close na
lua cheia. (Fad out música).
Corta para:
Cena 05.
Rua dos Mineiros/ Ext./ Noite.
Bar do
Santana está fechado e com isso, pouco movimento de pessoas pelo local. Sandra
está sentada em um banco, sozinha, com um buquê de rosas vermelhas.
Algum tempo
depois, Cíntia aparece, muito apreensiva.
Sandra – Consegui
suas rosas vermelhas.
Cíntia
(amedrontada) – Acho que não vou mais.
Sandra – Vai
desistir agora?
Cíntia – É que meu
ódio pelo Renato só cresce. Assim como o amor.
Sandra – Ou vamos
agora, ou você esquece esse homem de vez.
Cíntia
pensa, anda de um lado para o outro.
Sandra – Já passa
das oito, melhor a gente desistir.
Cíntia
(convicta) – Esse homem me fez muito mal, chegou a hora dele cair
do cavalo. Vamos achar um táxi e chegar a esse terreiro.
Cíntia e
Sandra se encaminham até um táxi.
Corta para:
Cena 06.
Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Int./ Noite.
No salão
estão apenas duas faxineiras, terminando de limpar o salão, quando Renato
aparece.
Renato (as
faxineiras) – Tudo certo por aqui?
Faxineira 1
– Tudo
nos conforme doutor. Estamos terminando de limpar aqui e já iremos embora. O
senhor nos espera?
Renato – Não vou
esperar não. Quero fazer uma surpresa para minha noiva hoje.
Faxineira 2
– Então
amanhã a gente entrega a chave pro senhor, pode ser?
Renato – Pode. Agora
me deixe correr pra casa da Das Dores.
Renato sai
apressado.
Faxineira 2
– Aposto
que fez merda e vai tentar consertar.
Faxineira 1
– Homem
é tudo igual. Defeito de fabricação.
As duas
continuam conversando e limpando.
Corta para:
Cena 07.
Terreiro de Magias/ Ext./ Noite.
O táxi para
na frente de um enorme portão de grades. Cíntia e Sandra descem e o táxi vai
embora. O local é no meio de um matagal e na porta tem duas imagens de demônios
vermelhos.
Sandra (com
medo) – Quero ir embora.
Cíntia
(forte) – Não! Chegamos muito longe pra voltar sem minha vingança.
Cíntia
empurra o portão e entra, sendo seguida por Sandra.
Corta para:
Cena 08.
Terreiro de Magias/ Int./ Noite.
Um enorme
terreiro de chão batido, com um semicírculo cheio de velas vermelhas acesas. No
meio do semicírculo tem uma cruz de madeira, com uma cabeça de boi na ponta.
Inúmeras mulheres estão dançando e cantando na parte de fora do semicírculo. No
meio está uma mulher, 50 anos, morena clara, baixa e com vestido vermelho
rodado, uma rosa vermelha na cabeça, muitas pulseiras de ouro balançando e uma
taça vermelha na mão.
Todos no
local cantam: Barraca Velha – Ponto da Pomba-gira.
Cíntia
chega com o Buquê, e atrás dela Sandra. Ambas estão receosas. A mulher do meio
do círculo é a Entidade Nefertiti, que dança muito, roda seu vestido, mexe suas
pulseiras e toma seu champanhe. A Entidade percebe a presença das moças.
Nefertiti
(de costas) – Até que enfim né.
Cíntia se
aproxima mais. As mulheres do local se ajoelham e começam a gargalhar.
Nefertiti
(balançando suas pulseiras) – Há muito tempo que eu estava te
esperando. Aquele perna de calça quase acabou com você hein.
Nefertiti
começa a gargalhar e toma um pouco de champanhe.
Cíntia
(convicta) – É esse mesmo!
Nefertiti –
Pode
correr mundo moça, bater em tudo quanto for porta e pedir pra quem for, mas o
que você quer, só eu posso te dar.
Cíntia – Eu quero
ver ele arrasado, derrubado, destruído. Você faz?
Nefertiti –
Aí
depende moça, depende!
Cíntia – Depende do
que?
Nefertiti –
O
que você me dá?
Cíntia – O que você
quiser.
Sandra
chega próxima de Cíntia.
Sandra
(cochichando) – Champanhe.
Cíntia (a
Nefertiti) – Champanhe.
Nefertiti
(debochando) – Ah, é pouco!
Cíntia – Eu te dou
brincos, argolas, pulseiras.
Nefertiti
(gargalhando) – É pouco, é muito pouco.
Sandra
(cochichando a Cíntia) – Flores.
Cíntia – Eu te dou
rosas, muitas rosas. Vermelhas, amarelas, as cores que você quiser.
Nefertiti -
É
muito pouco.
Cíntia – Eu quero
esse homem comendo na palma da minha mão.
Nefertiti –
Eu
faço melhor: coloco-o se arrastando aos seus pés. Pra você fazer dele o que
você quiser. Mas para isso, você tem que me dar o que eu pedir.
Cíntia – E o que é
que você quer de mim?
Nefertiti –
Eu
quero é a tua alma.
Sandra fica
muito assustada.
Corta para:
Cena 09.
Mansão Guimarães/ Sala de Estar/ Int./ Noite.
Branco,
Donna, Das Dores e uma mulher de meia idade, alta, loura, com vestido verde
musgo e muita elegância, é América, estão sentados em um grandioso sofá na sala.
Branco – Eu pedi a
empregada para trazer champanhe.
Das Dores –
Champanhe
pra que gente?
Donna – A sua mãe
sabe.
América (a
Donna) – Você sempre me colocando em maus lençóis.
Das Dores –
Eu
não estou entendendo nada, alguém pode me explicar?
Nesse instante,
Renato entra pela porta principal, com uma caixinha de veludo em mãos. Todos se
levantam.
Das Dores –
Você
não iria pra São Paulo contratar alguns DJ’s?
Renato
(abrindo a caixinha) – Das Dores Guimarães, você aceita ser
oficialmente a minha noiva? Para que possamos realizar os nossos planos juntos,
não como duas pessoas, mas sim como um casal?
Todos se
alegram.
Das Dores
(embasbacada) – Eu... Eu aceito sim meu amor.
Renato
coloca uma aliança no dedo anelar da mão direita de Das Dores, que em seguida
faz o mesmo com ele, em seguida eles se beijam.
Branco – Isso sim
merece uma baita comemoração.
América
(saindo) – Vou a cozinha buscar champanhe.
América sai
em direção à cozinha.
Donna – Mas esse
pedido de casamento tem que ser oficializado numa baita festança lá na
CELEBRARE, o que acham?
Das Dores –
Não.
É uma coisa intimista e pra mim já está de bom tamanho.
Renato – Meu broto é
que manda.
Das Dores –
Que
hoje a nossa união seja muito celebrada.
América vem
com uma bandeja, onde contém 5 taças e uma garrafa de champanhe.
Branco – Agora sim.
Aprendam uma coisa: quando fecharem negócios, noivarem, casarem, qualquer
festividade, comemore com champanhe. Dá sorte!
América
serve a todos e se serve.
Renato
(erguendo a taça) – Eu, Renato Kalil, quero brindar a felicidade de
agora fazer parte da família Guimarães e de poder fazer a minha boneca feliz.
Um brinde ao amor.
Todos
levantam suas taças em brindam felizes.
Corta para:
Cena 10.
Terreiro de Magias/ Int./ Noite.
Continuação
da cena 08. Entidade Nefertiti de frente para Cíntia. Clima com bastante
suspense.
Os rapazes
começam a bater os atabaques e Nefertiti começa a dançar.
Cíntia
(convicta) – Eu te dou a minha alma.
Sandra
(assustada) – Não Cintia, isso não.
Nefertiti –
Tá
fechado. Mas olha moça, depois que fizer o acordo comigo, não poderá mais se
arrepender. Não tem agrado, não tem um chá, não tem despacho e nem santo que dê
jeito. É caminho sem volta.
Cíntia – Eu não vou
me arrepender não. Eu quero esse homem aqui, na palma da minha mão.
Nefertiti –
Tem
coragem mesmo moça? Olha que se falhar comigo, eu cobrarei um preço muito caro.
Cíntia – Eu sei.
Nefertiti
(séria) – Te dou esse homem de volta. Esse e todos os outros que você
quiser ter. Só não poderá se ligar a nenhum deles por sentimentos. Se se
apaixonar por algum deles, você estará me arrancando de dentro de você.
Cíntia – Eu já
passei tudo que eu tinha que passar por causa de homem. Todo o sentimento que
existia dentro de mim, ele matou. Tá bom, eu topo, pra mim tá fechado.
Cíntia
estende a mão para Nefertiti, que debocha.
Nefertiti –
Pacto
com uma entidade não se faz com a boca. Vamos fechar, mas vai ser na minha
banda. Sangue com sangue. O meu sangue se misturando com o seu.
Cíntia fica
assustada.
Nefertiti –
Você
não quer o homem? Arrastar homem para mulher é comigo mesmo, esse poder eu
tenho. Eu não tenho é um corpo pra ter os homens que eu quero, esse poder você
tem. A gente faz uma troca.
Nefertiti
vai para próximo da cruz, e Cíntia vai seguindo-a, quando Sandra tenta impedir.
Sandra
(desesperada) – Não Cíntia, por favor, não!
Cíntia dá
alguns tapas em Sandra e segue a entidade.
Nefertiti
(estendendo as mãos) – Vem moça!
Nefertiti
segura nas mãos de Cíntia e começa a dançar. De repente, o céu fica vermelho, e
os homens começam a tocar o atabaque mais forte ainda.
Um homem,
que está todo de branco, traz uma galinha branca e um canivete. Ele entrega o
canivete nas mãos de Nefertiti, levanta a galinha e em seguida, a coloca de
frente para a Entidade.
Nefertiti
corta o pescoço da galinha e em seguida, bebe o sangue que jorra.
Nefertiti
(a Cíntia) – Este sangue me dará forças para fazer o que eu
quero. Agora não tem mais volta. Eu vou deixar a minha marca no teu corpo, pra
você nunca mais se esquecer, que estou dentro de você.
Nefertiti
pega o braço direito de Cíntia, e faz um desenho de tridente, com o canivete,
no pulso.
Close no
Tridente, marcado pelo sangue muito vermelho.
Nefertiti –
Nesse
momento moça, o meu sangue vai estar se misturando ao seu.
Nefertiti
coloca uma pulseira de ouro no braço direito de Cíntia.
Nefertiti –
No
prazo de sete meses, nem um dia a mais, você vai ter esse homem pra você.
Cíntia – Eu o quero
em minhas mãos.
Nefertiti –
A
seus pés.
Cíntia
(vitoriosa) – Pra eu fazer dele o que quiser. Quero o Renato feito
um boneco na minha mão.
Nefertiti
(séria) – Escuta bem moça, de hoje em diante quando eu encostar em você,
todo homem vai te olhar e vai te querer, mesmo contra a vontade dele, mesmo
contra o entendimento dele.
Cíntia – E eu não
vou amar nenhum. Nunca mais homem nenhum vai ter poder sobre mim. Eu só quero
eles ali, naquela hora e depois, eu que domino.
Nefertiti –
Me
dá sua mão.
Cíntia
entrega sua mão e Nefertiti coloca um anel com uma pedra grande e vermelha.
Cíntia – Eu quero
uma prova! Eu quero uma prova!
Nefertiti –
Eu
dou!
Nefertiti
encosta em Cíntia, que começa a tremer, em seguida fica imóvel e depois começa
a dançar, a sensualizar igual a Entidade Nefertiti.
Corta para:
Cena 11.
Jardim de Cima/ Ext./ Dia.
(Música
“Celebration”). Imagens do dia amanhecendo, com pessoas caminhando pelo jardim,
passando para ir trabalhar. Rapidamente o jardim se enche de estudantes.
(Fade out
trilha “Celebration”).
Corta para:
Cena 12.
Colégio Theodorico Fonseca/ Pátio/ Ext./ Dia.
O pátio
lotado de alunos com uniformes, uns passando pelo pátio, outros sentados
conversando e alguns de pé.
CAM
perpassar por todos até chegar a Cíntia, Sandra e Beto.
Beto – Onde as
madames estavam ontem à noite?
Sandra – A gente
tava dando um rolé por aí. Qual foi broto, vai pegar no nosso pé agora?
Beto – Eu só
queria saber, uai, posso não?
Cíntia – Você já
estudou pra prova de química?
Beto
(indignado) – Odeio química, odeio o professor!
Cíntia – Química é
ruim mesmo, mas o professor, ah, esse é um tesão da porra. Eu pegaria ele
fácil, fácil.
Sandra (assustada)
– Que
palavreado mais chulo.
Cíntia – Entre ser
fina e idiota, ou ser desbocada e aproveitadora, eu fico com a segunda opção, é
mais fácil.
O sinal
toca e todos os alunos, incluindo os três, se encaminham para as salas de aula.
Corta para:
Cena 13.
Colégio Theodorico/ Sala de aula/ int./ Dia.
Vários
alunos estão entrando na sala, entre eles: Beto, Sandra e Cíntia. Todos se
sentam. Beto senta no fundo, já Cíntia senta na primeira carteira, e Sandra,
logo atrás dela.
Cíntia (a
Sandra) – Eu vi no hall, que hoje depois da nossa aula, o professor de
química tem um horário vago.
Sandra – E o que tem
isso?
Cíntia – Eu sempre o
achei um tesão, não foi? Então hoje eu vou ver se o poder da Nefertiti está em
mim mesmo.
Sandra
(preocupada) – Cíntia, Cíntia, toma cuidado menina.
Cíntia
sorri maliciosamente. Um homem alto, loiro, olhos verdes e atlético
(aparentando ter 32 anos) entra na sala, é o professor.
Cíntia (a
Sandra/ cochichando) – Diz que você nunca teve um desejo proibido por
ele?
Sandra – A ponto de tentar
ataca-lo na escola? Eu nunca.
Cíntia – Um dia você
será uma mulher como eu, Sandra. Aí você verá o que é poder.
Cíntia
vira-se para frente.
Professor –
Bom
dia classe, espero que todos tenham estudado para a nossa avaliação de Química
Orgânica. Tá bem fácil. Vamos lá!
O professor
começa a distribuir as avaliações por toda a classe.
Corta para:
Cena 14.
Apartamento de Donna/ quarto/ int./ dia.
Donna está
deitada na cama, com a maquiagem toda borrocada, ao seu lado, também na cama,
está uma garrafa de conhaque, totalmente vazia. A campainha toca
insistentemente.
Donna
(sonolenta) – De madrugada? Deus seja louvado!
Com muita
dificuldade, Donna se levanta e atende a porta.
Donna (sem
ânimo) – Ah, é você!
Nesse
instante Das Dores adentra ao quarto, totalmente esfuziante.
Das Dores –
Que
cara de urso panda hein.
Donna fecha
a porta.
Das Dores –
Eu
vim aqui, porque preciso da sua ajuda.
Donna – Para?
Das Dores –
Ir
comigo em algumas lojas, preciso ver alguns vestidos de noiva, baby!
Donna – Acorda Das
Dores, você ficou noiva ontem à noite. Noiva!
Das Dores –
Sim,
fiquei noiva. Subentende-se que se fiquei noiva, o objetivo maior é o
casamento, não é?
Donna – Eu não
acredito que estou ouvindo isso. Não, não pode ser. Acho que bebi muito
conhaque e fumei muita erva, só pode. Como assim você tá pensando em casamento?
Das Dores –
Daqui
a sete meses, nem mais um dia, eu quero uma aliança aqui no meu dedo anelar
esquerdo. E quando eu digo que quero, é porque eu quero. Você me conhece e sabe
muito bem do que sou capaz de fazer.
Donna olha
preocupada.
Corta para:
Cena 15.
Colégio Theodorico/ Fachada/ Ext./ Dia.
(Música
“Ciganinha eu preciso de você”). Localização do colégio, com fluxo de carros na
rua à frente. Logo depois, ouvimos o sinal tocar.
Corta para:
Cena 16. Colégio
Theodorico/ sala de aula/ Int./ Dia.
O professor
está terminando de recolher as provas.
Professor –
Vou
estar de horário vago agora e tentarei corrigir as provas e dar notas a vocês
até o fim da aula, tudo bem?
O professor
sai da sala. Cíntia vira-se para Sandra.
Cíntia – Eu acho que
chegou a hora da Pomba-gira que existe em mim colocar esse poder de sedução pra
cantar.
Sandra – Isso é
pecado, por favor não tenta nada contra ele aqui na escola, você pode se
prejudicar e acabar prejudicando ele também.
Cíntia – O primeiro
pecado, o Pecado Original da vida humana é a SEDUÇÃO. Eu não posso fugir do meu
destino, não posso fugir do que a Entidade Nefertiti escreveu pra mim, é mais
forte do que eu.
Cíntia se
levanta e sai.
Corta para:
Cena 17.
Colégio Theodorico/ Banheiro Feminino/ Int./ Dia.
Cíntia
chega com sua mochila, algumas meninas que estavam no banheiro, saem ao ouvirem
um outro sinal tocar. Cíntia vai até a porta e a tranca, voltando seu olhar
para o espelho.
Cíntia – Entidade
Nefertiti, que pelo poder da Pomba-gira e das sete mulheres da encruzilhada, dê-me
toda a sua sedução, todo o seu sex appeal.
Cíntia
começa a balançar a pulseira que ganhou da Entidade Nefertiti e a cantar a
música “Barraca Velha” – Tema da Pomba-gira. Em poucos segundos ela começa a
dançar, maliciosamente, pelo banheiro. Tira de sua mochila um batom
extremamente vermelho e começa a passar nos lábios.
Corta para:
Cena 18.
Rua dos Mineiros/ Ext./ dia.
No meio de
muitas pessoas, Donna e Das Dores estão caminhando e conversando.
Donna – Eu ainda
acho que essa ideia de ir atrás de vestido de noiva, é de uma falta de senso
terrível.
Das Dores –
Donna,
você é minha amiga ou não? Parece estar sempre zicando o meu relacionamento. Tá
sempre com pensamento negativo, puxando pra trás. Só um recadinho minha
querida: é pra frente que se anda.
Donna – Eu não
estou puxando seu relacionamento, suas vontades ou suas ideias para trás, por
ser sua amiga, eu tenho que ser sensata e dizer isso. Você está passando dos limites,
Das Dores.
Das Dores –
Eu
quero é me casar e dar um jeito de sumir dessa cidade provinciana e nunca mais
ter que por os pés aqui. Sair, ficar longe desse povo que me faz mal.
Donna - Quem desiste das suas raízes, perde todas as lembranças
conquistadas. Pensa nisso.
Nesse instante, Das Dores vê uma loja de noivas, puxa Donna e
as duas entram apressadamente.
Corta para:
Cena 19. Colégio Theodorico/ Sala dos Professores/ Int./ dia.
O professor de química está sentado a enorme mesa, sozinho no
local, corrigindo algumas avaliações.
Cíntia (off) – Professor?
O professor olha para a porta e fica surpreso. Cíntia está
com os cabelos soltos, um batom bem vermelho nos lábios e um vestido roxo,
muito sensual. Ela está parada na porta.
Cíntia (com sedução) – Como tem passado professor?
Professor (sem jeito) – Eu não terminei de corrigir as provas ainda.
Cíntia entra na sala e fecha a porta.
Professor – Cíntia,
por favor.../
Cíntia (com malícia) – Ah, não! Não me chame de Cíntia, eu não gosto. Vai, me chame de Carmem,
me chame de Rainha da Sedução.
O professor fica sem jeito, se levanta e tenta sair da sala,
quando Cíntia, totalmente incorporada pela Entidade Nefertiti, o pega pelo
braço e lhe dá um longo beijo.
Corta para:
Cena 20. Ponto de Táxi/ Rua/ Ext./ dia.
Entre vários taxistas está Ádamo, conversando, quando Carlão
chega ao local.
Carlão – E aí meu amigo,
topa dar um rolê por aí?
Ádamo – Poxa, agora não
dá. Tô esperando duas madames, elas pediram pra eu esperar aqui, foram às
compras. Mas enquanto não vem, vamos bater um papo aqui mesmo.
Carlão (feliz) – Poxa
cara, tenho que te contar, eu peguei a patricinha ontem.
Ádamo (sorridente) – Aquela
que você tava fissurado?
Carlão – Essa mesmo.
Cara, que broto aquela mina. Uma loucura na cama.
Ádamo – Cuidado, o Pecado
Original dessa vida é a sedução, você pode se envolver numa teia difícil de
sair.
Carlão – Por ela eu me
envolvo em teia, em floresta, seja no que for. Aquela mina é tudo.
Ádamo ri e os dois continuam conversando.
Corta para:
Cena 21. Colégio Theodorico/ Sala dos professores/ Int./ dia.
Cíntia está deitada na mesa, somente de calcinha e sutiã,
enquanto o professor vem desnudo, sobe na mesa e começa a beijá-la com muita
excitação.
Professor (alucinado) – O que você está fazendo comigo Cíntia?
Cíntia – Aqui eu sou
Carmem. A boboca da Cíntia tá morta nesse momento.
Professor – Olha
onde estamos, olha o que estamos fazendo.
Cíntia olha dentro dos olhos do professor.
Cíntia – Cala a boca,
esquece o mundo ao redor. Eu sei que é isso aqui que você quer. Anda, vem
aproveitar esse momento.
Os dois continuam se beijando e fazendo movimentos
promíscuos. Até que o professor retira o sutiã de Cíntia. E os dois começam a
transar.
Corta para:
Cena 22. Loja de Noivas/ Int./ Dia.
Enquanto Das Dores está no provador, Donna fica sentada,
visivelmente impaciente. Uma funcionária se aproxima.
Funcionária (a Donna) – Sua amiga está radiante com o casamento, né?
Donna (desanimada) – É.
Funcionária – Ela
escolheu modelos divinos. Todos aqueles vestidos são a última moda na Europa e
exclusivos aqui no Brasil.
Donna – Esse papo a
gente encontra um a cada loja, mas vem cá, tô com sede, não tem nada pra beber
aí não?
Funcionária – água
ou refrigerante.
Donna – Conhaque ou
Martini, você tem?
A funcionária fica espantada.
Funcionária – Só
temos champanhe.
Donna – Champanhe de
loja é sidra, né? Não quero não. Tem café pelo menos?
Funcionária – Sim.
Donna – Me traz um, bem
quente e sem açúcar.
A funcionária sai em direção à cozinha. Nesse instante,
Cigana Alba entra na loja e vai até outra funcionária.
Funcionária (ríspida) – Quantas vezes mais, eu vou ter que dizer que a Paola não trabalha mais
aqui? Agora chispa fora, sua cigana charlatã.
Cigana Alba fica cabisbaixa, mas vai saindo da loja, quando
Donna a vê e vai atrás dela.
Donna (gritando) – Dona
Alba, Dona Alba, me espera!
Donna sai da loja.
Corta para:
Cena 23. Loja de Noivas/ Rua/ Ext./ Dia.
Cigana Alba está na calçada da loja, quando Donna a apanha e
a segura pelo braço.
Donna – Graças a Deus
encontrei a senhora.
Cigana Alba (sem reconhecer) – Quem é você?
Donna – Eu estive na sua
tenda com uma amiga minha há poucos dias.
Cigana Alba – E o
que quer de mim? Me bater?
Donna – Eu preciso que a
senhora ajude a minha amiga, ela tá ficando alucinada por causa do noivo.
Cigana Alba – Hoje
às 8 da noite na minha Tenda.
Donna – Tá ok!
Cigana Alba – Leva
um dinheiro também, tô precisando de ajuda.
Donna – Mas é claro.
Estaremos lá às oito.
Donna sorri amigavelmente.
Corta rápido para:
Cena 24. Mansão Guimarães/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Das Dores chega em casa com uma imensa sacola nas mãos, Donna
está atrás dela.
Das Dores – Não
Donna, eu não vou voltar novamente naquela mulher.
Donna – Eu acho que a
gente precisa.
Das Dores deixa a sacola em cima da mesa e se senta.
Das Dores – Tem
três dias que estivemos lá, eu não vou voltar.
Donna – Você quem sabe,
não vou discutir com você. Só não me chame mais para fazer compras, ou para
servir de psicóloga das suas desilusões amorosas. Eu encerro aqui a fase de
tentar te ajudar.
Donna sai da casa e Das Dores fica pensativa. Nesse instante
América desce as escadas.
América – Você
e Donna brigaram?
Das Dores (triste) – Ah
mãe, a Donna não aceita meu relacionamento com o Renato.
América se senta ao lado da filha.
América – Tem
certeza que é isso mesmo?
Das Dores – É
sim, mãe. Tudo que ele faz, pra ela é errado. Não aguento mais ficar dividida
entre meu noivo e minha única amiga.
América – Você
já tentou dar o mínimo de credibilidade para a Donna? Talvez ela esteja certa.
A gente, minha filha, muitas vezes fica cega de amor e não enxerga um palmo a
nossa frente.
Das Dores – Eu
vou pensar, vou ver o que faço. Deixa-me subir, tomar um banho e relaxar,
preciso disso.
Das Dores se levanta, pega a sacola e sobe as escadas em
direção ao quarto. América fica ali, pensativa.
Corta para:
Cena 25. Cidade
Valença/ Pontos Turísticos/ Exterior Dia/ Noite.
(Música
“Boogie Oogie Oogie” – Taste of houney). CLIP com imagens da Catedral de Nossa
Senhora da Glória, Cruzeiro Municipal, Serra dos Mascates, Rua dos Mineiros
(movimentação), Açude da Concórdia e terminando no Jardim de Cima, mostrando o
entardecer e, posteriormente, à noite.
Corta
para:
Cena
26. Casa de Cíntia/ Quarto/ Int./ Noite.
Cíntia
está deitada na cama, conversando com Sandra, que está sentada em uma poltrona
ao lado.
Sandra
(incrédula) – Então quer dizer que você pegou o.../
Cíntia
(corta) – Peguei o bonitão do professor.
Sandra
fica boquiaberta.
Sandra
– Tô
boba. Mas me conta, com toda a riqueza de detalhes possível, como é que foi? O
que teve de bom nisso aí?
Cíntia
– Não
consigo me lembrar de muita coisa, lembro-me dele me abraçando, sinto até agora
o seu hálito quente na minha nuca, o suor escorrendo entre nós, mas do sexo
mesmo, eu não lembro.
Sandra
– Como
não? Você pega um Deus Grego daqueles e se esquece disso?
Cíntia
– É
que essa parte da sedução é com a Entidade Nefertiti, ela encosta em mim, então
não lembro muito.
Sandra
– Você
tá dizendo que essa entidade do além incorpora em você na hora do sexo?
Cíntia
– É.
Mas eu sinto tudo. Tanto sinto que estou com minhas partes baixas em chamas. O
professor era muito dotado.
Sandra
faz cara de desespero.
Cíntia
– Ah,
para! Um dia você vai experimentar as delícias da vida carnal, e te garanto:
nunca mais vai querer saber de outra coisa.
Sandra
– Eu
não sei por que você ainda não queimou na fogueira.
Cíntia
– Porque
eu me chamo Cíntia, e não Joana D’Arc.
As
duas começam a rir.
Corta
para:
Cena
27. Mansão Guimarães/ Quarto de Das Dores/ Int./ Noite.
Das
Dores está vindo do banheiro enrolada em um penhoar e com os cabelos molhados.
Ela se senta de frente para o espelho de sua penteadeira e começa a pentear seu
cabelo, envolvida em seus pensamentos.
***INSERT
do Flashback gravado: Episódio 3, cena 24***
Mansão Guimarães/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Das Dores chega em casa com uma imensa sacola nas mãos, Donna
está atrás dela.
Das Dores – Não
Donna, eu não vou voltar novamente naquela mulher.
Donna – Eu acho que a
gente precisa.
Das Dores deixa a sacola em cima da mesa e se senta.
Das Dores – Tem
três dias que estivemos lá, eu não vou voltar.
Donna – Você quem sabe,
não vou discutir com você. Só não me chame mais para fazer compras, ou para
servir de psicóloga das suas desilusões amorosas. Eu encerro aqui a fase de
tentar te ajudar.
***FIM DO FLASHBACK***
Das Dores está pensativa, olhando sua imagem no espelho.
Das Dores (pra si/ pensativa) – Será que ela tem razão? Será que eu devo procurar uma ajuda
espiritual?
Corta para:
Cena 28. Apto. de Donna/ Int./ Noite.
Donna está deitada na cama, assistindo TV e com o telefone do
lado. Ela disca alguns números.
Donna (ao tel.) – Boa
Noite, queria que me mandassem aí do bar, uma garrafa de conhaque, uma garrafa
de Martini e meia dúzia de croquetes. Entregar no quarto da cantora Donna.
Obrigada!
Donna desliga o telefone e volta a assistir a TV. Pouco tempo
depois, a campainha toca.
Donna (pra si) – Que
povo evoluído, rapidinho tudo chega!
A campainha toca novamente. Donna se levanta da cama. A
campainha toca outra vez.
Donna (gritando) – Já vou,
calma.
A campainha toca insistentemente outras vezes. Donna abre a
porta e fica surpresa.
Donna – Entra!
Nesse instante Das Dores entra, cabisbaixa.
Das Dores – Eu
vim aqui, porque eu precisava.../
Donna (corta) – Precisava
terminar de pisar em mim, tô certa?
Das Dores – Tão
errada, quanto a teoria do Big Bang. Eu vim aqui pra te pedir desculpas e dizer
que eu topo ir a casa, tenda, barraca, sei lá o que dessa cigana.
Donna (séria) – É
muito fácil pra você né? Tudo anda pra você conforme a dança, não é? É, porque
você faz um show danado, aí depois vem com essa cara de cachorro sem dono, pede
desculpas e acha que é assim.
Das Dores – Você
sabe que meu jeito é assim, vai me ajudar ou não?
Donna fica pensativa.
Corta para:
Cena 29. .
Tenda Cigana/ Int./ Dia.
Um
quarto todo escuro, iluminado apenas por velas, várias imagens ciganas e
estátuas de faraós espalhadas pelo local. Ao fundo um tapete no teto e embaixo
dele: Uma mesa redonda com uma cadeira de cada lado, em cima da mesa tem um
baralho e uma bola de cristal.
Das Dores e Donna chegam ao local. Das Dores, especialmente,
está muito receosa, olhando para tudo. Um
barulho de castanholas invade o local, de repente, aparece uma mulher morena,
com um turbante vermelho na cabeça e uma pequena pedra ametista no centro da
testa. Olhos bem marcados e roupas características de ciganas.
Cigana Alba
– Sentem-se!
Donna – Dessa vez
eu posso ficar?
Cigana Alba
– Dessa
vez você deve ficar!
Das Dores e
Donna se sentam.
Cigana Alba
também se senta, de frente para elas.
Cigana Alba
começa a olhar e massagear sua bola de cristal, que rapidamente vai tendo uma
cor cada vez mais fluorescente.
Cigana Alba
– Então
a dondoca noivou?
Das Dores e
Donna se olham.
Das Dores –
Sim,
noivei!
Cigana Alba
– O
que é feito na pressa e por ganância, pode ter um resultado muito ruim.
Das Dores –
Como
assim?
Cigana Alba
– As
pessoas acham que a ganância é só por dinheiro e bens materiais, mas não é. A
ganância pode ser afetiva também. Você criou uma dependência, quase uma
loucura, uma obsessão nesse homem.
Das Dores –
Eu
o amo. Nós vamos casar. Aliás, nem sei por que me dei ao trabalho de vir aqui.
Das Dores
se levanta e se encaminha para sair.
Cigana Alba
– Você
nunca vai casar com esse homem.
Das Dores
olha para trás assustada.
Das Dores –
O
que?
A Cigana
Alba levanta duas cartas de seu baralho: a Dama de Copas e a imagem do Caixão.
CLOSE em
Das Dores assustada.
Corta
para:
FIM
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