segunda-feira, 25 de maio de 2015

Episódio 3: Pecado Original

Personagens deste episódio:


Ádamo
Beto
Branco
Carlão
Cigana Alba
Cíntia
Das Dores
Donna
Entidade Nefertiti
Glória
Luís
Renato
Sandra


Participação Especial:
Faxineira 1
Faxineira 2
Moça




Continuação do Episódio anterior.
Cena 01. Discoteca CELEBRARE/ SALA de Renato/ Int./ Dia.
Das Dores está vasculhando todas as gavetas da sala. Procurando em estantes, fazendo uma verdadeira bagunça. Ela abre uma última gaveta e começa a fuçar em tudo lá, quando Renato aparece de surpresa.
Renato (sério) – O que você está procurando na minha gaveta? Perdeu algo?
Das Dores olha surpresa para Renato, que a olha sério.
Das Dores (sem graça) – Meu amor, que bom que você chegou.
Das Dores vai até Renato e o beija, sem que ele esboce interesse.
Renato – Você ainda não me respondeu Das Dores, o que estava procurando no meio das minhas coisas?
Das Dores (acuada) – Eu tava... Tava procurando um... Um batom... É isso, um batom. Um batom vermelho que eu perdi ontem. Aí achei que poderia estar aqui, já que você me deixou horas plantada aqui.
Renato – E achou o que procurava?
Das Dores – Não. Deve estar na casa da Donna.
Renato – Posso te pedir um último favor?
Das Dores (meiga) – Quantos você quiser meu amor.
Renato – Pega a sua bolsa e sai daqui.
Das Dores – Antes eu posso te fazer uma pergunta?
Renato – Promete que depois vai me deixar em paz para trabalhar?
Das Dores faz que sim com a cabeça.
Renato – Então diz logo.
Das Dores – Tem alguma outra mulher na sua vida?
Renato fica tenso, mas disfarça muito bem.
Renato – Tem sim!
Das Dores fica chocada e Renato sério.
Corta para:
Cena 02. Casa de Cíntia/ Sala/ Int./ Dia.
Glória e Luís estão assistindo TV.
Glória – Ah meu querido, ando preocupada com a Cíntia.
Luís – O que essa rebelde sem causa tem aprontado?
Glória – Nada. Mas é isso que tem me assombrado. Eu ando com medo Luís, medo dessa menina estar aprontando alguma por debaixo dos panos, entende?
Luís – Acho que não Glória. A Cíntia não saiu ontem, hoje passou o dia no quarto.
Glória – E você acha normal essa passividade? Ela é adolescente. E adolescente sempre quer se rebelar.
Luís – Mas toda regra há sua exceção, além do mais, você sempre disse a Cíntia que ela não era como todo mundo. Vai ver ela realmente percebeu isso.
Glória (pensativa) – Eu ainda acho que nesse angu tem caroço. Jesus há de me mostrar essa luz.
Glória fica pensativa e Luís volta seu olhar a TV.
Corta para:
Cena 03. Discoteca CELEBRARE/ SALA de Renato/ Int./ Dia.
Das Dores visivelmente irritada e Renato com aspecto calmo.
Das Dores (séria) – Tô esperando você dizer quem é a outra mulher, anda, fala.
Renato – Ué, sempre existiu outra na minha vida. Sempre teve outra no meu coração.
Das Dores – Safado, como é que você tem a coragem de me dizer isso na maior cara dura?
Renato – Porque você sempre soube. Você sempre aceitou.
Das Dores (nervosa) – Eu não aceitei merda nenhuma Renato. Você não passa de um crápula.
Renato – Crápula por eu ter outro amor? Das Dores, meu outro amor, minha outra mulher é a minha mãe.
Das Dores fica paralisada por alguns instantes.
Das Dores – Não era o momento pra piadinhas.
Renato – Não são piadinhas. Eu disse a verdade. Eu divido o meu coração entre mamãe e você. Ela é a outra da minha vida.
Das Dores (pegando a bolsa) – Odeio esse seu humor negro, sem graça, sem sentido.
Renato – Você não vai me beijar?
Das Dores (saindo) – Beija a sua mãe.
Das Dores sai da sala, muito irritada.
Corta para:
Cena 04. Jardim de Cima/ Ext./ Dia-Noite.
(Música “Livin’ On A Payer” – Bon Jovi). Imagens de várias pessoas sentadas nos bancos do jardim, conversando. Crianças passeiam de bicicleta. Algumas pessoas, apenas passam pelo local. Transposição do dia para a noite.
Close na lua cheia. (Fad out música).
Corta para:
Cena 05. Rua dos Mineiros/ Ext./ Noite.
Bar do Santana está fechado e com isso, pouco movimento de pessoas pelo local. Sandra está sentada em um banco, sozinha, com um buquê de rosas vermelhas.
Algum tempo depois, Cíntia aparece, muito apreensiva.
Sandra – Consegui suas rosas vermelhas.
Cíntia (amedrontada) – Acho que não vou mais.
Sandra – Vai desistir agora?
Cíntia – É que meu ódio pelo Renato só cresce. Assim como o amor.
Sandra – Ou vamos agora, ou você esquece esse homem de vez.
Cíntia pensa, anda de um lado para o outro.
Sandra – Já passa das oito, melhor a gente desistir.
Cíntia (convicta) – Esse homem me fez muito mal, chegou a hora dele cair do cavalo. Vamos achar um táxi e chegar a esse terreiro.
Cíntia e Sandra se encaminham até um táxi.
Corta para:
Cena 06. Discoteca CELEBRARE/ Salão Principal/ Int./ Noite.
No salão estão apenas duas faxineiras, terminando de limpar o salão, quando Renato aparece.
Renato (as faxineiras) – Tudo certo por aqui?
Faxineira 1 – Tudo nos conforme doutor. Estamos terminando de limpar aqui e já iremos embora. O senhor nos espera?
Renato – Não vou esperar não. Quero fazer uma surpresa para minha noiva hoje.
Faxineira 2 – Então amanhã a gente entrega a chave pro senhor, pode ser?
Renato – Pode. Agora me deixe correr pra casa da Das Dores.
Renato sai apressado.
Faxineira 2 – Aposto que fez merda e vai tentar consertar.
Faxineira 1 – Homem é tudo igual. Defeito de fabricação.
As duas continuam conversando e limpando.
Corta para:
Cena 07. Terreiro de Magias/ Ext./ Noite.
O táxi para na frente de um enorme portão de grades. Cíntia e Sandra descem e o táxi vai embora. O local é no meio de um matagal e na porta tem duas imagens de demônios vermelhos.
Sandra (com medo) – Quero ir embora.
Cíntia (forte) – Não! Chegamos muito longe pra voltar sem minha vingança.
Cíntia empurra o portão e entra, sendo seguida por Sandra.
Corta para:
Cena 08. Terreiro de Magias/ Int./ Noite.
Um enorme terreiro de chão batido, com um semicírculo cheio de velas vermelhas acesas. No meio do semicírculo tem uma cruz de madeira, com uma cabeça de boi na ponta. Inúmeras mulheres estão dançando e cantando na parte de fora do semicírculo. No meio está uma mulher, 50 anos, morena clara, baixa e com vestido vermelho rodado, uma rosa vermelha na cabeça, muitas pulseiras de ouro balançando e uma taça vermelha na mão.
Todos no local cantam: Barraca Velha – Ponto da Pomba-gira.
Cíntia chega com o Buquê, e atrás dela Sandra. Ambas estão receosas. A mulher do meio do círculo é a Entidade Nefertiti, que dança muito, roda seu vestido, mexe suas pulseiras e toma seu champanhe. A Entidade percebe a presença das moças.
Nefertiti (de costas) – Até que enfim né.
Cíntia se aproxima mais. As mulheres do local se ajoelham e começam a gargalhar.
Nefertiti (balançando suas pulseiras) – Há muito tempo que eu estava te esperando. Aquele perna de calça quase acabou com você hein.
Nefertiti começa a gargalhar e toma um pouco de champanhe.
Cíntia (convicta) – É esse mesmo!
Nefertiti – Pode correr mundo moça, bater em tudo quanto for porta e pedir pra quem for, mas o que você quer, só eu posso te dar.
Cíntia – Eu quero ver ele arrasado, derrubado, destruído. Você faz?
Nefertiti – Aí depende moça, depende!
Cíntia – Depende do que?
Nefertiti – O que você me dá?
Cíntia – O que você quiser.
Sandra chega próxima de Cíntia.
Sandra (cochichando) – Champanhe.
Cíntia (a Nefertiti) – Champanhe.
Nefertiti (debochando) – Ah, é pouco!
Cíntia – Eu te dou brincos, argolas, pulseiras.
Nefertiti (gargalhando) – É pouco, é muito pouco.
Sandra (cochichando a Cíntia) – Flores.
Cíntia – Eu te dou rosas, muitas rosas. Vermelhas, amarelas, as cores que você quiser.
Nefertiti - É muito pouco.
Cíntia – Eu quero esse homem comendo na palma da minha mão.
Nefertiti – Eu faço melhor: coloco-o se arrastando aos seus pés. Pra você fazer dele o que você quiser. Mas para isso, você tem que me dar o que eu pedir.
Cíntia – E o que é que você quer de mim?
Nefertiti – Eu quero é a tua alma.
Sandra fica muito assustada.
Corta para:
Cena 09. Mansão Guimarães/ Sala de Estar/ Int./ Noite.
Branco, Donna, Das Dores e uma mulher de meia idade, alta, loura, com vestido verde musgo e muita elegância, é América, estão sentados em um grandioso sofá na sala.
Branco – Eu pedi a empregada para trazer champanhe.
Das Dores – Champanhe pra que gente?
Donna – A sua mãe sabe.
América (a Donna) – Você sempre me colocando em maus lençóis.
Das Dores – Eu não estou entendendo nada, alguém pode me explicar?
Nesse instante, Renato entra pela porta principal, com uma caixinha de veludo em mãos. Todos se levantam.
Das Dores – Você não iria pra São Paulo contratar alguns DJ’s?
Renato (abrindo a caixinha) – Das Dores Guimarães, você aceita ser oficialmente a minha noiva? Para que possamos realizar os nossos planos juntos, não como duas pessoas, mas sim como um casal?
Todos se alegram.
Das Dores (embasbacada) – Eu... Eu aceito sim meu amor.
Renato coloca uma aliança no dedo anelar da mão direita de Das Dores, que em seguida faz o mesmo com ele, em seguida eles se beijam.
Branco – Isso sim merece uma baita comemoração.
América (saindo) – Vou a cozinha buscar champanhe.
América sai em direção à cozinha.
Donna – Mas esse pedido de casamento tem que ser oficializado numa baita festança lá na CELEBRARE, o que acham?
Das Dores – Não. É uma coisa intimista e pra mim já está de bom tamanho.
Renato – Meu broto é que manda.
Das Dores – Que hoje a nossa união seja muito celebrada.
América vem com uma bandeja, onde contém 5 taças e uma garrafa de champanhe.
Branco – Agora sim. Aprendam uma coisa: quando fecharem negócios, noivarem, casarem, qualquer festividade, comemore com champanhe. Dá sorte!
América serve a todos e se serve.
Renato (erguendo a taça) – Eu, Renato Kalil, quero brindar a felicidade de agora fazer parte da família Guimarães e de poder fazer a minha boneca feliz. Um brinde ao amor.
Todos levantam suas taças em brindam felizes.
Corta para:
Cena 10. Terreiro de Magias/ Int./ Noite.
Continuação da cena 08. Entidade Nefertiti de frente para Cíntia. Clima com bastante suspense.
Os rapazes começam a bater os atabaques e Nefertiti começa a dançar.
Cíntia (convicta) – Eu te dou a minha alma.
Sandra (assustada) – Não Cintia, isso não.
Nefertiti – Tá fechado. Mas olha moça, depois que fizer o acordo comigo, não poderá mais se arrepender. Não tem agrado, não tem um chá, não tem despacho e nem santo que dê jeito. É caminho sem volta.
Cíntia – Eu não vou me arrepender não. Eu quero esse homem aqui, na palma da minha mão.
Nefertiti – Tem coragem mesmo moça? Olha que se falhar comigo, eu cobrarei um preço muito caro.
Cíntia – Eu sei.
Nefertiti (séria) – Te dou esse homem de volta. Esse e todos os outros que você quiser ter. Só não poderá se ligar a nenhum deles por sentimentos. Se se apaixonar por algum deles, você estará me arrancando de dentro de você.
Cíntia – Eu já passei tudo que eu tinha que passar por causa de homem. Todo o sentimento que existia dentro de mim, ele matou. Tá bom, eu topo, pra mim tá fechado.
Cíntia estende a mão para Nefertiti, que debocha.
Nefertiti – Pacto com uma entidade não se faz com a boca. Vamos fechar, mas vai ser na minha banda. Sangue com sangue. O meu sangue se misturando com o seu.
Cíntia fica assustada.
Nefertiti – Você não quer o homem? Arrastar homem para mulher é comigo mesmo, esse poder eu tenho. Eu não tenho é um corpo pra ter os homens que eu quero, esse poder você tem. A gente faz uma troca.
Nefertiti vai para próximo da cruz, e Cíntia vai seguindo-a, quando Sandra tenta impedir.
Sandra (desesperada) – Não Cíntia, por favor, não!
Cíntia dá alguns tapas em Sandra e segue a entidade.
Nefertiti (estendendo as mãos) – Vem moça!
Nefertiti segura nas mãos de Cíntia e começa a dançar. De repente, o céu fica vermelho, e os homens começam a tocar o atabaque mais forte ainda.
Um homem, que está todo de branco, traz uma galinha branca e um canivete. Ele entrega o canivete nas mãos de Nefertiti, levanta a galinha e em seguida, a coloca de frente para a Entidade.
Nefertiti corta o pescoço da galinha e em seguida, bebe o sangue que jorra.
Nefertiti (a Cíntia) – Este sangue me dará forças para fazer o que eu quero. Agora não tem mais volta. Eu vou deixar a minha marca no teu corpo, pra você nunca mais se esquecer, que estou dentro de você.
Nefertiti pega o braço direito de Cíntia, e faz um desenho de tridente, com o canivete, no pulso.
Close no Tridente, marcado pelo sangue muito vermelho.
Nefertiti – Nesse momento moça, o meu sangue vai estar se misturando ao seu.
Nefertiti coloca uma pulseira de ouro no braço direito de Cíntia.
Nefertiti – No prazo de sete meses, nem um dia a mais, você vai ter esse homem pra você.
Cíntia – Eu o quero em minhas mãos.
Nefertiti – A seus pés.
Cíntia (vitoriosa) – Pra eu fazer dele o que quiser. Quero o Renato feito um boneco na minha mão.
Nefertiti (séria) – Escuta bem moça, de hoje em diante quando eu encostar em você, todo homem vai te olhar e vai te querer, mesmo contra a vontade dele, mesmo contra o entendimento dele.
Cíntia – E eu não vou amar nenhum. Nunca mais homem nenhum vai ter poder sobre mim. Eu só quero eles ali, naquela hora e depois, eu que domino.
Nefertiti – Me dá sua mão.
Cíntia entrega sua mão e Nefertiti coloca um anel com uma pedra grande e vermelha.
Cíntia – Eu quero uma prova! Eu quero uma prova!
Nefertiti – Eu dou!
Nefertiti encosta em Cíntia, que começa a tremer, em seguida fica imóvel e depois começa a dançar, a sensualizar igual a Entidade Nefertiti.
Corta para:
Cena 11. Jardim de Cima/ Ext./ Dia.
(Música “Celebration”). Imagens do dia amanhecendo, com pessoas caminhando pelo jardim, passando para ir trabalhar. Rapidamente o jardim se enche de estudantes.
(Fade out trilha “Celebration”).
Corta para:
Cena 12. Colégio Theodorico Fonseca/ Pátio/ Ext./ Dia.
O pátio lotado de alunos com uniformes, uns passando pelo pátio, outros sentados conversando e alguns de pé.
CAM perpassar por todos até chegar a Cíntia, Sandra e Beto.
Beto – Onde as madames estavam ontem à noite?
Sandra – A gente tava dando um rolé por aí. Qual foi broto, vai pegar no nosso pé agora?
Beto – Eu só queria saber, uai, posso não?
Cíntia – Você já estudou pra prova de química?
Beto (indignado) – Odeio química, odeio o professor!
Cíntia – Química é ruim mesmo, mas o professor, ah, esse é um tesão da porra. Eu pegaria ele fácil, fácil.
Sandra (assustada) – Que palavreado mais chulo.
Cíntia – Entre ser fina e idiota, ou ser desbocada e aproveitadora, eu fico com a segunda opção, é mais fácil.
O sinal toca e todos os alunos, incluindo os três, se encaminham para as salas de aula.
Corta para:
Cena 13. Colégio Theodorico/ Sala de aula/ int./ Dia.
Vários alunos estão entrando na sala, entre eles: Beto, Sandra e Cíntia. Todos se sentam. Beto senta no fundo, já Cíntia senta na primeira carteira, e Sandra, logo atrás dela.
Cíntia (a Sandra) – Eu vi no hall, que hoje depois da nossa aula, o professor de química tem um horário vago.
Sandra – E o que tem isso?
Cíntia – Eu sempre o achei um tesão, não foi? Então hoje eu vou ver se o poder da Nefertiti está em mim mesmo.
Sandra (preocupada) – Cíntia, Cíntia, toma cuidado menina.
Cíntia sorri maliciosamente. Um homem alto, loiro, olhos verdes e atlético (aparentando ter 32 anos) entra na sala, é o professor.
Cíntia (a Sandra/ cochichando) – Diz que você nunca teve um desejo proibido por ele?
Sandra – A ponto de tentar ataca-lo na escola? Eu nunca.
Cíntia – Um dia você será uma mulher como eu, Sandra. Aí você verá o que é poder.
Cíntia vira-se para frente.
Professor – Bom dia classe, espero que todos tenham estudado para a nossa avaliação de Química Orgânica. Tá bem fácil. Vamos lá!
O professor começa a distribuir as avaliações por toda a classe.
Corta para:
Cena 14. Apartamento de Donna/ quarto/ int./ dia.
Donna está deitada na cama, com a maquiagem toda borrocada, ao seu lado, também na cama, está uma garrafa de conhaque, totalmente vazia. A campainha toca insistentemente.
Donna (sonolenta) – De madrugada? Deus seja louvado!
Com muita dificuldade, Donna se levanta e atende a porta.
Donna (sem ânimo) – Ah, é você!
Nesse instante Das Dores adentra ao quarto, totalmente esfuziante.
Das Dores – Que cara de urso panda hein.
Donna fecha a porta.
Das Dores – Eu vim aqui, porque preciso da sua ajuda.
Donna – Para?
Das Dores – Ir comigo em algumas lojas, preciso ver alguns vestidos de noiva, baby!
Donna – Acorda Das Dores, você ficou noiva ontem à noite. Noiva!
Das Dores – Sim, fiquei noiva. Subentende-se que se fiquei noiva, o objetivo maior é o casamento, não é?
Donna – Eu não acredito que estou ouvindo isso. Não, não pode ser. Acho que bebi muito conhaque e fumei muita erva, só pode. Como assim você tá pensando em casamento?
Das Dores – Daqui a sete meses, nem mais um dia, eu quero uma aliança aqui no meu dedo anelar esquerdo. E quando eu digo que quero, é porque eu quero. Você me conhece e sabe muito bem do que sou capaz de fazer.
Donna olha preocupada.
Corta para:
Cena 15. Colégio Theodorico/ Fachada/ Ext./ Dia.
(Música “Ciganinha eu preciso de você”). Localização do colégio, com fluxo de carros na rua à frente. Logo depois, ouvimos o sinal tocar.
Corta para:
Cena 16. Colégio Theodorico/ sala de aula/ Int./ Dia.
O professor está terminando de recolher as provas.
Professor – Vou estar de horário vago agora e tentarei corrigir as provas e dar notas a vocês até o fim da aula, tudo bem?
O professor sai da sala. Cíntia vira-se para Sandra.
Cíntia – Eu acho que chegou a hora da Pomba-gira que existe em mim colocar esse poder de sedução pra cantar.
Sandra – Isso é pecado, por favor não tenta nada contra ele aqui na escola, você pode se prejudicar e acabar prejudicando ele também.
Cíntia – O primeiro pecado, o Pecado Original da vida humana é a SEDUÇÃO. Eu não posso fugir do meu destino, não posso fugir do que a Entidade Nefertiti escreveu pra mim, é mais forte do que eu.
Cíntia se levanta e sai.
Corta para:
Cena 17. Colégio Theodorico/ Banheiro Feminino/ Int./ Dia.
Cíntia chega com sua mochila, algumas meninas que estavam no banheiro, saem ao ouvirem um outro sinal tocar. Cíntia vai até a porta e a tranca, voltando seu olhar para o espelho.
Cíntia – Entidade Nefertiti, que pelo poder da Pomba-gira e das sete mulheres da encruzilhada, dê-me toda a sua sedução, todo o seu sex appeal.
Cíntia começa a balançar a pulseira que ganhou da Entidade Nefertiti e a cantar a música “Barraca Velha” – Tema da Pomba-gira. Em poucos segundos ela começa a dançar, maliciosamente, pelo banheiro. Tira de sua mochila um batom extremamente vermelho e começa a passar nos lábios.
Corta para:
Cena 18. Rua dos Mineiros/ Ext./ dia.
No meio de muitas pessoas, Donna e Das Dores estão caminhando e conversando.
Donna – Eu ainda acho que essa ideia de ir atrás de vestido de noiva, é de uma falta de senso terrível.
Das Dores – Donna, você é minha amiga ou não? Parece estar sempre zicando o meu relacionamento. Tá sempre com pensamento negativo, puxando pra trás. Só um recadinho minha querida: é pra frente que se anda.
Donna – Eu não estou puxando seu relacionamento, suas vontades ou suas ideias para trás, por ser sua amiga, eu tenho que ser sensata e dizer isso. Você está passando dos limites, Das Dores.
Das Dores – Eu quero é me casar e dar um jeito de sumir dessa cidade provinciana e nunca mais ter que por os pés aqui. Sair, ficar longe desse povo que me faz mal.
Donna - Quem desiste das suas raízes, perde todas as lembranças conquistadas. Pensa nisso.
Nesse instante, Das Dores vê uma loja de noivas, puxa Donna e as duas entram apressadamente.
Corta para:
Cena 19. Colégio Theodorico/ Sala dos Professores/ Int./ dia.
O professor de química está sentado a enorme mesa, sozinho no local, corrigindo algumas avaliações.
Cíntia (off) – Professor?
O professor olha para a porta e fica surpreso. Cíntia está com os cabelos soltos, um batom bem vermelho nos lábios e um vestido roxo, muito sensual. Ela está parada na porta.
Cíntia (com sedução) – Como tem passado professor?
Professor (sem jeito) – Eu não terminei de corrigir as provas ainda.
Cíntia entra na sala e fecha a porta.
Professor – Cíntia, por favor.../
Cíntia (com malícia) – Ah, não! Não me chame de Cíntia, eu não gosto. Vai, me chame de Carmem, me chame de Rainha da Sedução.
O professor fica sem jeito, se levanta e tenta sair da sala, quando Cíntia, totalmente incorporada pela Entidade Nefertiti, o pega pelo braço e lhe dá um longo beijo.
Corta para:
Cena 20. Ponto de Táxi/ Rua/ Ext./ dia.
Entre vários taxistas está Ádamo, conversando, quando Carlão chega ao local.
Carlão – E aí meu amigo, topa dar um rolê por aí?
Ádamo – Poxa, agora não dá. Tô esperando duas madames, elas pediram pra eu esperar aqui, foram às compras. Mas enquanto não vem, vamos bater um papo aqui mesmo.
Carlão (feliz) – Poxa cara, tenho que te contar, eu peguei a patricinha ontem.
Ádamo (sorridente) – Aquela que você tava fissurado?
Carlão – Essa mesmo. Cara, que broto aquela mina. Uma loucura na cama.
Ádamo – Cuidado, o Pecado Original dessa vida é a sedução, você pode se envolver numa teia difícil de sair.
Carlão – Por ela eu me envolvo em teia, em floresta, seja no que for. Aquela mina é tudo.
Ádamo ri e os dois continuam conversando.
Corta para:
Cena 21. Colégio Theodorico/ Sala dos professores/ Int./ dia.
Cíntia está deitada na mesa, somente de calcinha e sutiã, enquanto o professor vem desnudo, sobe na mesa e começa a beijá-la com muita excitação.
Professor (alucinado) – O que você está fazendo comigo Cíntia?
Cíntia – Aqui eu sou Carmem. A boboca da Cíntia tá morta nesse momento.
Professor – Olha onde estamos, olha o que estamos fazendo.
Cíntia olha dentro dos olhos do professor.
Cíntia – Cala a boca, esquece o mundo ao redor. Eu sei que é isso aqui que você quer. Anda, vem aproveitar esse momento.
Os dois continuam se beijando e fazendo movimentos promíscuos. Até que o professor retira o sutiã de Cíntia. E os dois começam a transar.
Corta para:
Cena 22. Loja de Noivas/ Int./ Dia.
Enquanto Das Dores está no provador, Donna fica sentada, visivelmente impaciente. Uma funcionária se aproxima.
Funcionária (a Donna) – Sua amiga está radiante com o casamento, né?
Donna (desanimada) – É.
Funcionária – Ela escolheu modelos divinos. Todos aqueles vestidos são a última moda na Europa e exclusivos aqui no Brasil.
Donna – Esse papo a gente encontra um a cada loja, mas vem cá, tô com sede, não tem nada pra beber aí não?
Funcionária – água ou refrigerante.
Donna – Conhaque ou Martini, você tem?
A funcionária fica espantada.
Funcionária – Só temos champanhe.
Donna – Champanhe de loja é sidra, né? Não quero não. Tem café pelo menos?
Funcionária – Sim.
Donna – Me traz um, bem quente e sem açúcar.
A funcionária sai em direção à cozinha. Nesse instante, Cigana Alba entra na loja e vai até outra funcionária.
Funcionária (ríspida) – Quantas vezes mais, eu vou ter que dizer que a Paola não trabalha mais aqui? Agora chispa fora, sua cigana charlatã.
Cigana Alba fica cabisbaixa, mas vai saindo da loja, quando Donna a vê e vai atrás dela.
Donna (gritando) – Dona Alba, Dona Alba, me espera!
Donna sai da loja.
Corta para:
Cena 23. Loja de Noivas/ Rua/ Ext./ Dia.
Cigana Alba está na calçada da loja, quando Donna a apanha e a segura pelo braço.
Donna – Graças a Deus encontrei a senhora.
Cigana Alba (sem reconhecer) – Quem é você?
Donna – Eu estive na sua tenda com uma amiga minha há poucos dias.
Cigana Alba – E o que quer de mim? Me bater?
Donna – Eu preciso que a senhora ajude a minha amiga, ela tá ficando alucinada por causa do noivo.
Cigana Alba – Hoje às 8 da noite na minha Tenda.
Donna – Tá ok!
Cigana Alba – Leva um dinheiro também, tô precisando de ajuda.
Donna – Mas é claro. Estaremos lá às oito.
Donna sorri amigavelmente.
Corta rápido para:
Cena 24. Mansão Guimarães/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Das Dores chega em casa com uma imensa sacola nas mãos, Donna está atrás dela.
Das Dores – Não Donna, eu não vou voltar novamente naquela mulher.
Donna – Eu acho que a gente precisa.
Das Dores deixa a sacola em cima da mesa e se senta.
Das Dores – Tem três dias que estivemos lá, eu não vou voltar.
Donna – Você quem sabe, não vou discutir com você. Só não me chame mais para fazer compras, ou para servir de psicóloga das suas desilusões amorosas. Eu encerro aqui a fase de tentar te ajudar.
Donna sai da casa e Das Dores fica pensativa. Nesse instante América desce as escadas.
América – Você e Donna brigaram?
Das Dores (triste) – Ah mãe, a Donna não aceita meu relacionamento com o Renato.
América se senta ao lado da filha.
América – Tem certeza que é isso mesmo?
Das Dores – É sim, mãe. Tudo que ele faz, pra ela é errado. Não aguento mais ficar dividida entre meu noivo e minha única amiga.
América – Você já tentou dar o mínimo de credibilidade para a Donna? Talvez ela esteja certa. A gente, minha filha, muitas vezes fica cega de amor e não enxerga um palmo a nossa frente.
Das Dores – Eu vou pensar, vou ver o que faço. Deixa-me subir, tomar um banho e relaxar, preciso disso.
Das Dores se levanta, pega a sacola e sobe as escadas em direção ao quarto. América fica ali, pensativa.
Corta para:
Cena 25. Cidade Valença/ Pontos Turísticos/ Exterior Dia/ Noite.
(Música “Boogie Oogie Oogie” – Taste of houney). CLIP com imagens da Catedral de Nossa Senhora da Glória, Cruzeiro Municipal, Serra dos Mascates, Rua dos Mineiros (movimentação), Açude da Concórdia e terminando no Jardim de Cima, mostrando o entardecer e, posteriormente, à noite.
Corta para:
Cena 26. Casa de Cíntia/ Quarto/ Int./ Noite.
Cíntia está deitada na cama, conversando com Sandra, que está sentada em uma poltrona ao lado.
Sandra (incrédula) – Então quer dizer que você pegou o.../
Cíntia (corta) – Peguei o bonitão do professor.
Sandra fica boquiaberta.
Sandra – Tô boba. Mas me conta, com toda a riqueza de detalhes possível, como é que foi? O que teve de bom nisso aí?
Cíntia – Não consigo me lembrar de muita coisa, lembro-me dele me abraçando, sinto até agora o seu hálito quente na minha nuca, o suor escorrendo entre nós, mas do sexo mesmo, eu não lembro.
Sandra – Como não? Você pega um Deus Grego daqueles e se esquece disso?
Cíntia – É que essa parte da sedução é com a Entidade Nefertiti, ela encosta em mim, então não lembro muito.
Sandra – Você tá dizendo que essa entidade do além incorpora em você na hora do sexo?
Cíntia – É. Mas eu sinto tudo. Tanto sinto que estou com minhas partes baixas em chamas. O professor era muito dotado.
Sandra faz cara de desespero.
Cíntia – Ah, para! Um dia você vai experimentar as delícias da vida carnal, e te garanto: nunca mais vai querer saber de outra coisa.
Sandra – Eu não sei por que você ainda não queimou na fogueira.
Cíntia – Porque eu me chamo Cíntia, e não Joana D’Arc.
As duas começam a rir.
Corta para:
Cena 27. Mansão Guimarães/ Quarto de Das Dores/ Int./ Noite.
Das Dores está vindo do banheiro enrolada em um penhoar e com os cabelos molhados. Ela se senta de frente para o espelho de sua penteadeira e começa a pentear seu cabelo, envolvida em seus pensamentos.

***INSERT do Flashback gravado: Episódio 3, cena 24***
Mansão Guimarães/ Sala de Estar/ Int./ Dia.
Das Dores chega em casa com uma imensa sacola nas mãos, Donna está atrás dela.
Das Dores – Não Donna, eu não vou voltar novamente naquela mulher.
Donna – Eu acho que a gente precisa.
Das Dores deixa a sacola em cima da mesa e se senta.
Das Dores – Tem três dias que estivemos lá, eu não vou voltar.
Donna – Você quem sabe, não vou discutir com você. Só não me chame mais para fazer compras, ou para servir de psicóloga das suas desilusões amorosas. Eu encerro aqui a fase de tentar te ajudar.
***FIM DO FLASHBACK***
Das Dores está pensativa, olhando sua imagem no espelho.
Das Dores (pra si/ pensativa) – Será que ela tem razão? Será que eu devo procurar uma ajuda espiritual?
Corta para:
Cena 28. Apto. de Donna/ Int./ Noite.
Donna está deitada na cama, assistindo TV e com o telefone do lado. Ela disca alguns números.
Donna (ao tel.) – Boa Noite, queria que me mandassem aí do bar, uma garrafa de conhaque, uma garrafa de Martini e meia dúzia de croquetes. Entregar no quarto da cantora Donna. Obrigada!
Donna desliga o telefone e volta a assistir a TV. Pouco tempo depois, a campainha toca.
Donna (pra si) – Que povo evoluído, rapidinho tudo chega!
A campainha toca novamente. Donna se levanta da cama. A campainha toca outra vez.
Donna (gritando) – Já vou, calma.
A campainha toca insistentemente outras vezes. Donna abre a porta e fica surpresa.
Donna – Entra!
Nesse instante Das Dores entra, cabisbaixa.
Das Dores – Eu vim aqui, porque eu precisava.../
Donna (corta) – Precisava terminar de pisar em mim, tô certa?
Das Dores – Tão errada, quanto a teoria do Big Bang. Eu vim aqui pra te pedir desculpas e dizer que eu topo ir a casa, tenda, barraca, sei lá o que dessa cigana.
Donna (séria) – É muito fácil pra você né? Tudo anda pra você conforme a dança, não é? É, porque você faz um show danado, aí depois vem com essa cara de cachorro sem dono, pede desculpas e acha que é assim.
Das Dores – Você sabe que meu jeito é assim, vai me ajudar ou não?
Donna fica pensativa.
Corta para:
Cena 29. . Tenda Cigana/ Int./ Dia.
Um quarto todo escuro, iluminado apenas por velas, várias imagens ciganas e estátuas de faraós espalhadas pelo local. Ao fundo um tapete no teto e embaixo dele: Uma mesa redonda com uma cadeira de cada lado, em cima da mesa tem um baralho e uma bola de cristal.
Das Dores e Donna chegam ao local. Das Dores, especialmente, está muito receosa, olhando para tudo. Um barulho de castanholas invade o local, de repente, aparece uma mulher morena, com um turbante vermelho na cabeça e uma pequena pedra ametista no centro da testa. Olhos bem marcados e roupas características de ciganas.
Cigana Alba – Sentem-se!
Donna – Dessa vez eu posso ficar?
Cigana Alba – Dessa vez você deve ficar!
Das Dores e Donna se sentam.
Cigana Alba também se senta, de frente para elas.
Cigana Alba começa a olhar e massagear sua bola de cristal, que rapidamente vai tendo uma cor cada vez mais fluorescente.
Cigana Alba – Então a dondoca noivou?
Das Dores e Donna se olham.
Das Dores – Sim, noivei!
Cigana Alba – O que é feito na pressa e por ganância, pode ter um resultado muito ruim.
Das Dores – Como assim?
Cigana Alba – As pessoas acham que a ganância é só por dinheiro e bens materiais, mas não é. A ganância pode ser afetiva também. Você criou uma dependência, quase uma loucura, uma obsessão nesse homem.
Das Dores – Eu o amo. Nós vamos casar. Aliás, nem sei por que me dei ao trabalho de vir aqui.
Das Dores se levanta e se encaminha para sair.
Cigana Alba – Você nunca vai casar com esse homem.
Das Dores olha para trás assustada.
Das Dores – O que?
A Cigana Alba levanta duas cartas de seu baralho: a Dama de Copas e a imagem do Caixão.
Cigana Alba – Esse homem nunca será seu. Nunca!
CLOSE em Das Dores assustada.
Corta para:
FIM









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