segunda-feira, 1 de junho de 2015

Capítulo 2: Estrada 34

Pôs o copo plástico na lixeira a sua direita, e caminhou lentamente ao banheiro, onde lavara seu rosto.
O primeiro sinal tocou. Fernanda Amorim dirigiu-se a sala de aula, e sentou-se na última fileira, observando atentamente cada movimento de Lana. A sala tinha cerca de dezesseis alunos, todos prestando atenção nas explicações da professora.
Relembrava todos os momentos que esteve com ela, e não ouvia o que a professora dizia.
– Fernanda, eu lhe fiz uma pergunta. – A professora retirou seus óculos e posicionou sua mão sobre seu braço, balançando-o. Possuía cerca de cinqüenta anos, um pouco acima do peso e cabelos grisalhos que chegavam ao ombro. – Responda!
– Desculpa. – Levou um susto. – A senhora poderia me explicar?
– Pelo visto não sabe nem do que estou falando. – Antes de finalizar a frase, o último sinal havia tocado. – Estude mais.
– Com licença. – Fernanda correu para o corredor.
***
Lana Albuquerque bebia um suco de laranja enquanto andava por uma rua afastada da universidade. Fernanda escondia-se atrás de árvores de grandes frutos para não ser vista, quando viu um carro ser estacionado um pouco a frente dela. Pertencia a Maurício Almeida.
– Vagabunda! – Por mais que quisesse gritar, falava com um som inaudível.
– Você não devia ter vindo no carro, podem desconfiar e... – As palavras de Lana foram interrompidas por um beijo. Ninguém andava naquela rua, não havia casas nem comércios.
– Desconfiar... Do que, Lana? – Fernanda aproximou-se do casal, carregando alguns livros.
 – O que você está fazendo aqui, criatura? A sua casa é do outro lado! – Lana mostrou-se preocupada diante Fernanda. Não podia fazer muita coisa, a não ser se afastar do professor.
– Assim como a sua.
– Não interessa, sai daqui antes que eu chame a polícia! – Lana caminhou até um orelhão e a ameaçou.
– Pode ligar. Isso é uma área pública, e por mais que tenha voz, não tem provas!
– Diga o que você quer Fernanda. E nos deixe em paz!
– Dinheiro.
– Dinheiro?! Você não está pensando em...
– Para ser mais clara, Lana. Eu sei que pretende me tirar do seu caminho. E proponho um acordo. – Mirou seu olhar a Maurício. Ele segurava uma bolsa preta. – A sós.
***
Iolanda Cavalcanti apoiava seus braços na janela do quarto hospitalar, enquanto aguardava sua mãe acordar. Vestia uma blusa vermelha e uma calça jeans preta. Não esboçava nenhuma preocupação com a mãe, estava ali acatando ordens de seu pai.
– Iolanda... – Beatriz balbuciava o nome da primogênita. – Eu preciso... Preciso do advogado.
– Mãe, a senhora não tem condições, descanse... O testamento está pronto, não? – Acariciou os belos fios castanhos da mãe.
– Não!– Beatriz deu um leve grito.
– Sendo assim, eu irei ligar. Fique deitada, descanse um pouco.
– Não será preciso, Iolanda. – Um homem abriu a porta. Vestia um terno preto e segurava uma maleta da mesma cor. – Assim que soube o estado de saúde de sua mãe, me prontifiquei e trouxe os papéis para ela assinar. – O advogado posicionou a frente de Beatriz.
– Vou deixá-los a sós. – Iolanda retirou-se.
– Senhor, não queria falar na frente da Iolanda... Mas quero mudar uma cláusula no testamento. Disse que a presidência da Maxxes ficaria com ela, mas pensei melhor... Ela é irresponsável, e apesar da idade, imatura. Quero o meu filho na sala da direção. Conrado será o herdeiro que ficará responsável pela empresa. Assim, minha filha ganhará alguns milhões, o que ela sempre quis.
– Maldita! – Iolanda saiu atrás da porta, caminhando escorada nas paredes dos corredores, com a mão fechada perto da boca. – Vai ter volta dona Beatriz!
***
– Dez mil reais? – Maurício encarava Lana. Estavam sentados numa mesa de bar, tomando um café. Todos que passavam por eles imaginavam que eram pai e filha.
– Se eu der esse valor, ela garante silêncio. É pegar ou largar. – Pausou. – Eu devia fazer alguma coisa pra calar ela... Mas o que? – Perguntou-se.
– Ela é pobre, Lana, uma morta de fome! Se você der o dinheiro, ela gasta tudo em pouco tempo e depois te ameaça. Extermine com ela, resolve dois problemas de uma vez.
– Maurício, não é só por ela ter visto nosso beijo e escutado que eu queria exterminar com ela. A Fernanda sabe de muita coisa ao meu respeito. É claro que ela ia aproveitar a oportunidade e colocar tudo no ventilador! – Olhou seriamente para o homem. – A mãe dela também sabe de muita coisa. Se eu matar ela, a mãe vai dar com a língua nos dentes. – Parou por um momento. – Precisamos fazer algo que faça a Fernanda sofrer e matar a mamãezinha dela. Logo, não teremos culpa de nada.
– Entendo. – Pensou um pouco. – E se ela roubasse o dinheiro invés de você dar? – Indagou o professor, ingerindo alguns goles de café.
– Explique-se. – Lana adicionava um pouco de açúcar na xícara e mexia com uma colher de plástico.
– Você vai armar para a Fernanda ser presa. – A fitava. – Nisso, nós pagamos de inocente e a mãe enfarta.
– Tudo bem. – Sorriu. – Onde vai arranjar a grana?
– Eu dou um jeito. Não se preocupe. – Tascou-lhe um beijo. – Preciso ir. – Levantou-se da cadeira indo ao seu carro, estacionado a frente do estabelecimento.

***
Olívio Brandão estava sentado em sua cadeira, lendo alguns documentos. Sua mesa era decorada com retratos da família e a sala com livros de diversos autores. Dirigia a universidade há três anos. Era um homem bom, apesar de transparecer a imagem de durão.
– Entre. – Disse, em voz alta, ao ouvir batidas na porta. – Maurício?
– Bom dia senhor. Eu preciso da sua ajuda.
– Diga, está me deixando aflito! – Convidou o professor a se sentar.
– Então. A minha irmã. – Mentiu. – Foi diagnosticada com uma grave doença. Todas as despesas custarão dez mil reais. Sem querer ser indiscreto, você poderia me emprestar esse dinheiro?
– Entendo. Maurício, você é um excelente profissional, nunca recebi reclamações ao seu respeito, mas entenda, esse é um valor altíssimo. E mesmo que eu quisesse... Como eu vou justificar a retirada?
– Por favor, senhor. Eu lhe imploro! – Fingiu o choro.
– Espero que eu não me arrependa. – Levantou-se, empurrou um móvel e abriu um cofre. Retirou inúmeros maços de dinheiro. – Fique atento, se alguém lhe ver com isso, pode roubá-lo, e eu não serei paciente.
– Obrigado. Tenha um bom dia! – Terminou de colocar o dinheiro em sua mochila marrom.
***
Iolanda Cavalcanti aguardava na lanchonete do hospital o advogado da família. Lia o jornal local da região. Seus cabelos eram loiros, chegavam à altura do peito. Seu olhar era de cor escura. Sua beleza chamava atenção de alguns jovens que passavam por sua mesa.
– Iolanda? – O advogado estendeu a mão. – A enfermeira disse que queria falar comigo. Pois não?
– Lauro. Eu ouvi quando a minha mãe disse que passaria a empresa para o meu irmão. Preciso de uma forma para desfazer a burrada dela.
– Desculpe-me, mas você não pode alterar um testamento para benefício próprio.
– Eu não, mas você... – Retirou da bolsa um pacote marrom amarrado a um laço fino e pequeno. – Tenho certeza que fará com urgência.
– Eu não posso aceitar Iolanda. Vai contra...
– Você sabe mais do que ninguém que o Conrado nunca mereceu droga nenhuma. Ele vai destruir o que os meus pais construíram! Seja coerente, Lauro. Posso te dar muito mais que esse valor. E pra ser sincera, você só está trabalhando para ela pelo dinheiro. Nenhum cliente lhe paga um valor tão alto como dona Beatriz. Ela vai morrer logo. – Iolanda elevou a voz.
– Não sei, é melhor... – O advogado levantou-se.
– Eu tenho um pessoal espalhado pela cidade. Hoje mesmo eles matam a sua família. Vai me ajudar ou não? – Iolanda o segurou pelo braço, fitando-o nos olhos.
– Trato feito. – Lauro sorriu, pegou o pacote e apertou a mão de Iolanda. – Amanhã volto a falar com você.
***
Fernanda Amorim aguardava Lana no auditório da universidade, lotada de alunos aguardando para uma palestra. Folheava uma revista deixando no banco ao lado.
Na porta, afastada de Fernanda, Maurício e Lana conversavam sobre a situação. O professor segurava uma pequena câmera.
– Veja. A mochila com a grana está numa mesa do palco. É a marrom. Só peça pra ela tirar a grana de dentro e colocar em outra. E você tira as fotos.
A jovem moveu a cabeça positivamente, pegou a câmera, e a colocou em sua bolsa. Dirigiu-se a Fernanda, sentando-se ao seu lado.
– Cadê o dinheiro? – Fernanda jogou a revista no chão.
– Na mochila marrom, na mesa que está no palco. Tire o dinheiro que está dentro e coloque em outra disfarcadamente.
– Ao contrário de você, eu sei ser discreta. – Levantou-se da cadeira.
– Vai arder no inferno, ladra! – Pensou alto, ligando a câmera e tirando as fotos que as incriminariam. – Vai se arrepender de ter mexido comigo.
            

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