Duas horas. Foi o tempo que Lana gastara revelando as fotos.
Voltou á universidade em um táxi, e na entrada da instituição, Maurício a
esperava.
– Se demorasse mais um minuto, o plano iria por água abaixo. –
Maurício pegou as fotografias, observando uma a uma. – Perfeito!
– E agora? – Lana indagava enquanto dava quinze reais ao
taxista. – A ladrazinha desconfiou de alguma coisa?
– Não. – Caminhou para dentro da instituição. – Agora saia daqui
antes que alguém nos veja juntos. O fim do plano é por minha conta. – Seguiu
para a sala diretiva.
***
Maurício bateu três vezes na porta
da diretoria. Olívio tomava um café enquanto lia uma revista sentado numa
poltrona. Ao ouvir, fechou-a e colocou-a sobre o assento.
– Maurício? – Olívio abrira a
porta. – Pensei que já estivesse saído.
– Já teria saído se não tivessem me
roubado. –Mentiu.
– Como assim? – Sentou-se na
cadeira. – Roubaram o dinheiro que lhe dei?
– Houve uma palestra mais cedo.
Deixei a mochila na mesa e quando os alunos foram liberados, ela estava vazia!
- Você tem alguma suspeita? –
Perguntou.
- Uma aluna minha conseguiu
fotografar a delinqüente. Tudo indica que se trata da Fernanda Amorim. – Entregou o envelope
com as fotos. – Gostaria que tomasse as devidas providências.
- Claro. – Olívio depositou as
fotos de volta ao envelope e o colocou em uma gaveta. – Tratarei do assunto com
urgência.
-
Obrigado. – Maurício levantou-se e pôs a mão na maçaneta. – Até mais.
***
Iolanda Cavalcanti – Trajando um
vestido vermelho. - analisava um frasco com um líquido incolor. Estava sentada
a uma mesa de bar, na companhia de um homem. Colocou-o em sua bolsa e pegou alguns
maços de dinheiro.
– Tem certeza que vai funcionar? –
Perguntou.
- É só colocar a droga desse
líquido num suco, numa comida, num chá... A pessoa morre em instantes. – O
homem era careca, uma barriga avantajada, usava uma bermuda cinza e uma regata
branca.
- Sendo assim, aqui está a primeira
parte. - Entregou os maços de dinheiro. – Depois do enterro eu lhe recompenso.
- Esse não foi o combinado.
Prometeu que me daria todo o dinheiro quando entregasse a encomenda.
- Eu não prometi nada! – Começou a
rir. – Agora anda. Sai daqui. Se aquela velha doente morrer, o dinheiro entra
na sua conta no mesmo dia. – Bebeu a cerveja que estava no copo. – Vaza!
***
- Fernanda. Eu lhe chamei aqui por
uma denúncia. – Olívio unia as mãos uma à outra e as apoiava na mesa da
diretoria.
- Denúncia? – Fernanda indagou. –
Do que?
- Disseram-me que havia roubado um
valor em dinheiro considerável de um professor da universidade. É verdade?
- Não! – Fernanda segurava com
força a sua bolsa.
- Tem certeza? – Espalhou as fotos
sobre a mesa. – É você, não é?
- Não!
Olívio parou por um momento.
Fuzilou Fernanda com os olhos e deu voltas na sala, cercando-a. Percebeu que a
mesma segurava uma bolsa de couro preta. Sentou-se ao seu lado e arrancou de
seus braços.
- Ei! Você não pode fazer isso!
Olívio levantou-se. Abriu a bolsa e
colocou sobre a mesa alguns livros e cadernos. Por fim, a balançou e caíram por
volta de dez maços de dinheiro.
- Pode me explicar o que esse
dinheiro está fazendo na sua bolsa? – Bateu a mão na mesa. – Não me diga que
surgiu magicamente! – Pausou. – Não, melhor nem abrir essa boca! Você, uma
aluna tão direita, tão humilde e educada se prestar a isso? Está precisando de
uma ajuda?
- Senhor... Foi a Lana que...
- Não coloque a sua colega no meio
da história. O fato é: você roubou o dinheiro da universidade! –Elevou o tom de
voz. – Não tem vergonha?
- O senhor deve estar se
confundido. Esse dinheiro é meu!
- Não sei o que andou bebendo. Esse
dinheiro nunca foi seu garota! Acorda! Você é pobre. É bolsista. Não tem
dinheiro nem para uma passagem de ônibus.
- Eu não sei dessa história de
roubo. A Lana... – Olívio a interrompeu.
- A Lana não tem nada a ver com
essa história menina. – Bufou.
- Eles me enganaram. Como fui tonta!
– Falou baixo. – O que o senhor vai fazer comigo?
- Eu devia chamar a polícia. –
Pensou um pouco. – Mas não farei isso. – Você será expulsa.
- Mas eu farei! – Lana escutava
atrás da porta toda a conversa entre Olívio e Fernanda.
***
Beatriz, um pouco cansada, assina o último documento do
testamento. Iolanda adentra no quarto e troca olhares com o advogado. Trajava
um vestido preto. Seu cabelo estava preso a um rabo de cavalo.
- Esta foi a última papelada, dona Beatriz. – O advogado colocou
os papéis em sua mala. – Tenha um bom dia. – Fechou a porta.
- Filha... Você aqui? – Disse, com pouco de dificuldade. – Achei
que não viria.
- Como não? – Beijou sua testa. – Vou ter que fazer uma viagem
de emergência. Vim aqui para me despedir.
- Iolanda... Não precisava se dar ao trabalho de vir ao
hospital. Vou ficar bem!
- Você cuidou tão bem de mim. É apenas uma retribuição. –
Sorriu. – É um prazer ficar com você.
A porta fora aberta por uma enfermeira. Ela trazia o almoço.
Beatriz levantou-se, com auxílio de Iolanda e observava a comida.
- Eu preciso ir ao banheiro. – Beatriz disse com uma voz fraca.
- Eu lhe ajudo. – A enfermeira pôs a bandeja na cama e a levou
para o banheiro.
Iolanda aproximou-se da bandeja: havia um suco de laranja e uma
comida que não identificara qual. Tirou do bolso o pequeno frasco. Olhou para a
porta do banheiro. Relembrou a conversa que teve com o homem horas atrás:
– Tem certeza que vai funcionar?
- É só colocar a droga desse líquido num suco,
numa comida, num chá... A pessoa morre em instantes.
Adicionou o líquido no suco e uma
parte na comida. Pegou uma colher e mexia lentamente, com um sorriso sarcástico
no rosto.
Beatriz voltava do banheiro. Iolanda
parou de mexer e sentou-se no sofá, um pouco afobada. A enfermeira auxiliara
Beatriz a deitar-se na cama e em seguida, pôs a bandeja em seu colo e saiu do
quarto.
- Mãe. Preciso ir, senão eu perco o vôo. – Beijou na
bochecha. - Quando voltar quero lhe ver melhor, está bem? – A mulher balançou a
cabeça positivamente e ingeriu goles do suco, enquanto Iolanda fechava a porta.
***
Uma viatura da policia havia estacionado logo a frente da
universidade. Uma mulher, de cabelos escuros, se aproximara do carro.
- Fernanda? – A mulher, usava uma calça jeans azul e uma blusa
branca – Pode me explicar o que está acontecendo?
- Mãe. É tudo um mal entendido. – Fernanda olhava para a mãe. – Não
acredita neles!
- Ainda não entendi Fernanda. O que esse policial está fazendo
com você?
- A sua filha está sendo detida por roubo. – O policial abriu a
porta do carro da viatura. – Vamos. Não tenho o dia todo.
- Espera! – Marta pôs a mão no peito. – Você chegou a esse
ponto? Roubar para se sentir vitoriosa? – A mulher levou sua mão para o rosto
da jovem.
- Você me bateu! – Fernanda passava a mão no rosto.
- Bati, e bateria mil vezes! Bandida! – A dor no peito aumentava
mais.
- Você não acredita em mim, não é? – Sorriu. – Era de se
esperar. Bandida ou não, esse dinheiro seria para pagar os seus remédios. –
Virou-se para Lana. – Mas ela me traiu!
Marta caiu no chão. Fernanda empurrou o policial e tentou ajudar
a mãe, que balbuciava algumas palavras.
- Eu te amo... – Marta parou de falar. Fernanda, num ato de
desespero, sacudira seu corpo, sem chorar. Por fim, abraçou e beijou sua mão,
já gélida.
- Você... Você matou a minha mãe! – Fernanda levantou e cuspiu
no rosto de Lana.
- Menos um gasto. – Riu, pondo a mão no rosto, limpando o cuspe
enquanto observava Fernanda entrar na viatura.
- Cutucou a
onça com a vara curta. – Fernanda pensou para si. – Aproveite a vidinha
enquanto há tempo, ela será mais curta do que imagina.
gente :o
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