quinta-feira, 25 de junho de 2015

Episódio 05: Pecado Original


Cena 01. Discoteca CELEBRARE/BAR/ INT./ Noite.
Continuação imediata do capítulo anterior.
Renato chega e dá um soco em Carlão, derrubando-o no chão.
Renato – Quem é piranha aqui?
Das Dores fica assustada e Renato com muito ódio.
Das Dores – Para com isso, Renato. Violência não leva a nada.
Renato – Você ouve bem, Das Dores? Esse morto de fome te chamou de piranha, e você acha que vai ficar por isso mesmo? Não vai não.
Renato parte para cima de Carlão e lhe dá mais dois socos. Todas as pessoas próximas ficam assustadas.
Das Dores (gritando) – Para com isso, por favor!
Carlão consegue se levantar, meio cambaleante, e acerta um soco bem forte em Renato. Os dois rolam no chão entre socos e insultos.
Corta para: PALCO.
Donna está cantando “Street Life”, quando percebe a movimentação estranha. Ela faz sinal e os músicos param de tocar, fazendo um silêncio na discoteca. De longe, ela percebe a briga e corre para lá.
Donna (chegando) – O que tá acontecendo aqui?
América – Não sei direito, só vi esses dois se engalfinhando feito cão e gato.
Donna – E ninguém foi chamar os seguranças?
Donna se afasta e vai em direção aos seguranças, quem vem logo em seguida e separam, colocando um para cada lado. Os dois estão com o rosto bastante ensanguentado.
Carlão – Isso não vai ficar assim, seu playboy.
Renato – Tem razão, vai ficar inchado e muito, mas muito dolorido.
Carlão é levado para fora do da discoteca.
Corta para:
Cena 02. Discoteca CELEBRARE/ Calçada/ Ext./ Noite.
Rua sem movimento algum, dois seguranças vem do interior da discoteca e jogam Carlão na calçada.
Carlão (aos seguranças) – Avisa ao chefinho de vocês que eu vou voltar, pode aguardar.
Carlão vai saindo, quando Donna vem atrás dele.
Donna – Ei, moço, espera!
Carlão olha para trás, vê Donna e para.
Dona (se aproximando) – Machucou muito?
Carlão – O suficiente pra saber que meu lugar não é aí, com essa gente metida a besta.
Donna – Mas o que aconteceu?
Carlão – É tudo culpa dela...Aquela vadiazinha, eu me deixei levar, fui curtindo. Aí deu nisso, sangue, confusão.
Donna – Das Dores, você tá falando dela, não é?
Carlão – Tá tão na cara assim?
Donna – Sei que você gosta dela, tá mais visível que seus ferimentos. Olha, a gente pode conversar, tomar um conhaque e eu faço um curativo no seu rosto, pode ser?
Carlão – Melhor não, acho que chega por hoje.
Carlão vai saindo, quando Donna segura firme em sua mão. Os dois se olham por um tempo, calados.
Donna – E vai pra casa? Vai ficar remoendo essa história? Vai chegar em casa com essa cara lavada de sangue? Fica um pouco comigo, me faz companhia no meu apartamento, bebe, joga conversa fora. Nesse momento você tá precisando de álcool e boa companhia.
Carlão – Desculpa, mas eu não sei se serei boa companhia.
Donna – Você não precisa ser boa companhia, você precisa ter boa companhia. E modéstia a parte, sou uma ótima companhia. Anda, vem comigo.
Donna puxa Carlão pelo braço e eles saem andando.
Corta para:
Cena 03. Discoteca CELEBRARE/ Sala Renato/ Int./ Noite.
Renato está sentado em uma cadeira, enquanto Das Dores faz um curativo nele.
Das Dores – Que papelão, Renato. Que papelão...
Renato – E você ainda briga comigo? Te defendi daquele canalha, e você ainda banca a valentona aqui.
Das Dores – Eu deveria era ter chamado a polícia, ou melhor, os donos de zoológicos, porque vocês dois não pareciam gente, pareciam dois animais se engalfinhando por causa da fêmea. Lastimável a noite de hoje, que não se repita nunca mais.
Renato – Não vai se repetir. Aquele aspirante à jornalista não pisa mais aqui. No que depender de mim, ele não faz mais uma matéria nessa cidade.
Das Dores – Para de pensar nele e pensa na boate, o povo foi todo embora, meus pais devem estar lá fora nos esperando.
Corta para: Salão.
Local praticamente vazio. As pessoas poucas pessoas do local estão indo embora, faxineiras varrem o salão. Ao longe, num canto isolado, está América, conversando com um DJ,
América – Você viu o doutor Branco aí?
DJ – Não vi não.
América se afasta do DJ. Logo mais a frente, ela vê Branco, arrumando a braguilha da calça. Ela se aproxima dele.
América (brava) – E o doutorzinho some a festa inteira, desaparece como fumaça. Que bonito, não acha?
Branco (sem jeito) – Eu tava ali, conversando com uns amigos... Nossa, aqui esvaziou rápido.
América – Se você não tivesse tão entretido com seus amiguinhos, saberia a confusão que rolou.
Branco – Mas que confusão?
Nesse instante Das Dores e Renato, com um enorme curativo, se aproximam.
Das Dores – Renato, dando uma de justiceiro, quebrou a cara literalmente.
América – Vamos sair daqui? Quero a minha casa.
Renato – Espero que esse jornalista nunca mais apareça.
Das Dores – Vem, vamos!
Das Dores puxa Renato pra a saída e todos vão embora.
Corta para:
Cena 04. AP. Donna/ INT./ Noite.
Carlão está sentado na cama, quando Dona traz uma garrafa de conhaque.
Carlão – Nossa, outra garrafa?
Donna (enchendo os copos) – Nossa segunda. Acho que hoje merecemos.
Donna entrega o copo cheio a Carlão. Os dois bebem e se entreolham.
Donna – Você gosta mesmo da Das Dores, né?
Carlão – Acho que sim, sei lá. Não sei se era amor, tesão ou vontade de conquistar. É um misto de sentimentos. A Das Dores é muito bipolar.
Donna – Ela é mimada, tem um gênio difícil de lidar. Sabe, eu não sei como ela vive assim. E o pior, ela tem sempre tudo do melhor: homens a disputando, dinheiro a perder de vista. Essa nasceu de quina pra lua.
Carlão – Mas chega de falar dela, e vamos falar de algo mais interessante: você.
Donna – Eu, interessante? Acho que os socos que o Renato te acertou, não lhe fizeram muito bem. Eu sou normal, não tenho família, vivo nesse hotel aqui, canto na discoteca, bebo meu conhaque. Sou bem na minha.
Carlão – E você acha isso pouco? Você é cantora, é independente. Vive a sua vida.
Donna – Eu acho que já fui mais autentica. Hoje em dia, como fixei o mastro na cidade, e com a amizade que criei com a Das Dores, eu me anulei bastante. Passei a viver a vida dela, a tentar resolver os conflitos dela... E a minha vida ficou ali, estacionada, me esperando, quando eu cair em mim, eu a pego de volta.
Carlão – Então eu acho que chegou a hora da Donna viver de verdade. Chega de ser sombra dos outros.
Donna – Eu nem sei por onde começar.
Carlão – Mas eu sei.
Carlão puxa Donna para a cama e os dois se beijam. Em seguida começam a tirar a roupa um do outro. Ficam entre beijos e amaços mais quentes.
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Cena 05. Pontos Turísticos/ Ext./ Noite-Dia.
(Música “A noite vai chegar” – Lady Zu). Imagens do Cruzeiro Municipal, Catedral de Nossa Senhora da Glória, Serra dos Mascates, Rua dos Mineiros e terminando no Jardim de cima. Transposição da noite para o dia.
Cíntia, Beto e Sandra estão sentados em um banco, no Jardim de Cima, de um uniforme.
Beto – E como ficou a discoteca ontem?
Cíntia – Ficou ótima, melhor impossível.
Sandra olha “atravessado” para Cíntia.
Beto – Fiquei sabendo que teve briga.
Sandra – É, dizem que teve. Eu não vi muito, não sei com quem foi. Mas ouvi dizer que foi briga de socos mesmo.
Cíntia – Dias com pimenta, são melhores do que dias sem açúcar.
Beto (se levantando) – Eu vou por aí, a gente se esbarra na aula de geometria.
Beto sai.
Sandra – Nunca mais cometa aquele tipo de loucura, você pode cair feio. Podem descobrir, levar até seus pais e você leva uma coça e fica de castigo.
Cíntia – E o velhote gostou, quer hoje novamente. E eu vou, ontem ele me deu um bom dinheiro.
Sandra – Você tá se vendendo? Tá arrumando homem por dinheiro? Essa cidade é pequena. Daqui a pouco ele conta pra um amigo, que conta pra um vizinho, que deixa escapar pra um primo, e daqui a pouco a cidade toda vai estar te taxando de...
Cíntia – Vão estar me chamando de puta? De rameira? Eu não ligo, no fundo eu até gosto, causa um fetiche nos homens.
Cíntia começa a debochar.
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Cena 06. Mansão Guimarães/ Sala de Jantar/ Int./ Dia.
América e Branco tomam café em silêncio, quando Renato adentra a sala, meio sem jeito. Ele se senta a mesa.
Renato – Bom dia.
Branco olha para Renato com reprovação.
América – Aceita mais leite, Branco?
Branco – Que papelão ontem, hein senhor Renato Kalil. Saindo na mão com cliente.
Renato – Ele desrespeitou a sua filha. Tratou com grosseria.
Branco – Nada justifica isso. Violência não resolve as coisas. Como é que você quer ser empresário de sucesso? Tem certos sapos que a gente deve engolir, ainda mais no início. Engolir sem água e sem reclamar.
Renato – Eu fui um inconsequente mesmo. Mas ver a minha noiva naquela situação foi forte demais.
Branco – Se quer ter sucesso no mundo dos negócios, aprenda a ser frio, ser calculista. Poderia ter se vingado desse menino depois, ter agenciado uns trombadinhas para darem uma lição nele. Mas ali, na frente de todo mundo e com a casa cheia, ah não.
Renato (cabisbaixo) – Desculpa seu Branco, não vai voltar a acontecer mais.
Branco – Assim espero.
Renato – Onde está a Das Dores?
América – Saiu. Disse que estava estressada e que iria chamar a Donna pra fazer umas compras.
Renato – Minha inconsequência respingou em todos.
América – Não é pra tanto. Para de se crucificar e vá trabalhar. Só se repara o erro com trabalho.
Corta para:
Cena 07. AP. DONNA/ Int./ Dia.
Donna e Carlão estão deitados na cama, apenas em trajes íntimos. A campainha toca insistentemente.
Donna – É o menino do café da manhã.
Carlão – Pra mim pode ser só café preto mesmo. Acho que to numa ressaca do conhaque.
Donna dá um beijo em Carlão, coloca seu hobby e abre a porta.
Das Dores – Oi amiga, vim te buscar pra gente bater perna.
Donna fica surpresa e visivelmente assustada.
Das Dores – Que foi? Parece que viu um fantasma. Já sei, tá com um boy magia aí... Deixa eu ver quem é.
Das Dores passa por Dona e vai se encaminhando em direção a cama.
Donna – Das Dores, agora não, por favor!
Das Dores se encaminha, sorrindo. Ao avistar o homem e ver que ele é Carlão, ela fica perplexa e desfaz o sorriso.
Das Dores e Carlão se olham.
Corta para:
Cena 08. Casa de Cíntia/ Sala/ Int./ Dia.
Glória está varrendo o local, quando Luís desce as escadas, todo arrumado e com uma maleta.
Glória – Mas onde é que tu vai, Luís?
Luís – Eu vou trabalhar.
Glória – Mas hoje você não pegaria só depois do almoço?
Luís – Era, mas a Kátia, secretária do doutor Branco, disse que ele solicitou a minha presença urgentemente. Vou ter que ir, querendo ou não.
Glória – Esses ricos acham quem podem tudo né. Você tem um horário, no momento de folga tem outras coisas a fazer. Não vive a mercê deles.
Luís – Manda quem pode, obedece quem é ajuizado. Fui!
Luís sai e Glória volta a varrer.
Corta para:
Cena 09. AP. Donna/ Int./ Dia.
Das Dores olha para Carlão, que não se intimida.
Donna – Das Dores, acho melhor você ir, conversamos uma outra hora.
Das Dores – Então você se aproveitou da confusão pra trazer o Carlão pra cama.
Donna – Não foi bem assim, olha só, eu me sensibilizei com a questão dele. Quis preservá-lo.
Das Dores – Mas ele não é natureza pra ser preservado. Você quis dar o bote, se aproveitou da situação e trouxe um homem pra cama.
Carlão – A Donna não trouxe ninguém pra cama, eu vi porque quis, por que me senti a vontade, como continuo me sentindo.
Das Dores – Já sei, não precisa me explicar nada. Você quis se vingar de mim e por isso saiu com a Donna.
Carlão – Não é nada disso, Das Dores. Eu senti uma afinidade, um conforto, um carinho, que mulher nenhuma, nem você soube me proporcionar. Mas também, como eu poderia esperar de uma patricinha deslumbrada, algo que ela não possui: humanidade. Nossos mundos são outros. Tô feliz de ter passado a noite com a Donna. Ela é muito mais do que sexo. É companheira, é a pessoa ideal.
Das Dores fica com os olhos marejados, segurando o choro.
Donna – Eu não to tentando competir com você, Das Dores, mas é que eu senti uma afinidade, um carinho maior com o Carlão. E além do mais, você tá noiva, vai casar com o Renato, não pode ficar ofendida.
Das Dores – Não foi uma ofensa, mas enfim, fiquem aí se engolindo.
Das Dores sai.
Donna – Acho que aqui acabou uma amizade.
Carlão – Liga não. Eu to com você.
Donna deita na cama e os dois se beijam.

FIM!

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