Cena 01.
Discoteca CELEBRARE/BAR/ INT./ Noite.
Continuação
imediata do capítulo anterior.
Renato
chega e dá um soco em Carlão, derrubando-o no chão.
Renato – Quem é
piranha aqui?
Das Dores
fica assustada e Renato com muito ódio.
Das Dores –
Para
com isso, Renato. Violência não leva a nada.
Renato – Você ouve
bem, Das Dores? Esse morto de fome te chamou de piranha, e você acha que vai
ficar por isso mesmo? Não vai não.
Renato
parte para cima de Carlão e lhe dá mais dois socos. Todas as pessoas próximas
ficam assustadas.
Das Dores
(gritando) – Para com isso, por favor!
Carlão
consegue se levantar, meio cambaleante, e acerta um soco bem forte em Renato.
Os dois rolam no chão entre socos e insultos.
Corta para:
PALCO.
Donna está
cantando “Street Life”, quando percebe a movimentação estranha. Ela faz sinal e
os músicos param de tocar, fazendo um silêncio na discoteca. De longe, ela
percebe a briga e corre para lá.
Donna
(chegando) – O que tá acontecendo aqui?
América – Não sei
direito, só vi esses dois se engalfinhando feito cão e gato.
Donna – E ninguém
foi chamar os seguranças?
Donna se
afasta e vai em direção aos seguranças, quem vem logo em seguida e separam,
colocando um para cada lado. Os dois estão com o rosto bastante ensanguentado.
Carlão – Isso não
vai ficar assim, seu playboy.
Renato – Tem razão,
vai ficar inchado e muito, mas muito dolorido.
Carlão é
levado para fora do da discoteca.
Corta para:
Cena 02.
Discoteca CELEBRARE/ Calçada/ Ext./ Noite.
Rua sem
movimento algum, dois seguranças vem do interior da discoteca e jogam Carlão na
calçada.
Carlão (aos
seguranças) – Avisa ao chefinho de vocês que eu vou voltar, pode
aguardar.
Carlão vai
saindo, quando Donna vem atrás dele.
Donna – Ei, moço,
espera!
Carlão olha
para trás, vê Donna e para.
Dona (se
aproximando) – Machucou muito?
Carlão – O
suficiente pra saber que meu lugar não é aí, com essa gente metida a besta.
Donna – Mas o que
aconteceu?
Carlão – É tudo
culpa dela...Aquela vadiazinha, eu me deixei levar, fui curtindo. Aí deu nisso,
sangue, confusão.
Donna – Das Dores,
você tá falando dela, não é?
Carlão – Tá tão na
cara assim?
Donna – Sei que
você gosta dela, tá mais visível que seus ferimentos. Olha, a gente pode
conversar, tomar um conhaque e eu faço um curativo no seu rosto, pode ser?
Carlão – Melhor não,
acho que chega por hoje.
Carlão vai
saindo, quando Donna segura firme em sua mão. Os dois se olham por um tempo,
calados.
Donna – E vai pra
casa? Vai ficar remoendo essa história? Vai chegar em casa com essa cara lavada
de sangue? Fica um pouco comigo, me faz companhia no meu apartamento, bebe,
joga conversa fora. Nesse momento você tá precisando de álcool e boa companhia.
Carlão – Desculpa,
mas eu não sei se serei boa companhia.
Donna – Você não
precisa ser boa companhia, você precisa ter boa companhia. E modéstia a parte,
sou uma ótima companhia. Anda, vem comigo.
Donna puxa
Carlão pelo braço e eles saem andando.
Corta para:
Cena 03.
Discoteca CELEBRARE/ Sala Renato/ Int./ Noite.
Renato está
sentado em uma cadeira, enquanto Das Dores faz um curativo nele.
Das Dores –
Que
papelão, Renato. Que papelão...
Renato – E você
ainda briga comigo? Te defendi daquele canalha, e você ainda banca a valentona
aqui.
Das Dores –
Eu
deveria era ter chamado a polícia, ou melhor, os donos de zoológicos, porque
vocês dois não pareciam gente, pareciam dois animais se engalfinhando por causa
da fêmea. Lastimável a noite de hoje, que não se repita nunca mais.
Renato – Não vai se
repetir. Aquele aspirante à jornalista não pisa mais aqui. No que depender de
mim, ele não faz mais uma matéria nessa cidade.
Das Dores –
Para
de pensar nele e pensa na boate, o povo foi todo embora, meus pais devem estar
lá fora nos esperando.
Corta para:
Salão.
Local
praticamente vazio. As pessoas poucas pessoas do local estão indo embora,
faxineiras varrem o salão. Ao longe, num canto isolado, está América,
conversando com um DJ,
América – Você viu o
doutor Branco aí?
DJ – Não vi não.
América se
afasta do DJ. Logo mais a frente, ela vê Branco, arrumando a braguilha da
calça. Ela se aproxima dele.
América
(brava) – E o doutorzinho some a festa inteira, desaparece como fumaça.
Que bonito, não acha?
Branco (sem
jeito) – Eu tava ali, conversando com uns amigos... Nossa, aqui esvaziou
rápido.
América – Se você não
tivesse tão entretido com seus amiguinhos, saberia a confusão que rolou.
Branco – Mas que
confusão?
Nesse
instante Das Dores e Renato, com um enorme curativo, se aproximam.
Das Dores –
Renato,
dando uma de justiceiro, quebrou a cara literalmente.
América – Vamos sair
daqui? Quero a minha casa.
Renato – Espero que
esse jornalista nunca mais apareça.
Das Dores –
Vem,
vamos!
Das Dores
puxa Renato pra a saída e todos vão embora.
Corta para:
Cena 04. AP. Donna/ INT./ Noite.
Carlão está
sentado na cama, quando Dona traz uma garrafa de conhaque.
Carlão – Nossa,
outra garrafa?
Donna
(enchendo os copos) – Nossa segunda. Acho que hoje merecemos.
Donna
entrega o copo cheio a Carlão. Os dois bebem e se entreolham.
Donna – Você gosta
mesmo da Das Dores, né?
Carlão – Acho que
sim, sei lá. Não sei se era amor, tesão ou vontade de conquistar. É um misto de
sentimentos. A Das Dores é muito bipolar.
Donna – Ela é
mimada, tem um gênio difícil de lidar. Sabe, eu não sei como ela vive assim. E
o pior, ela tem sempre tudo do melhor: homens a disputando, dinheiro a perder
de vista. Essa nasceu de quina pra lua.
Carlão – Mas chega
de falar dela, e vamos falar de algo mais interessante: você.
Donna – Eu,
interessante? Acho que os socos que o Renato te acertou, não lhe fizeram muito
bem. Eu sou normal, não tenho família, vivo nesse hotel aqui, canto na
discoteca, bebo meu conhaque. Sou bem na minha.
Carlão – E você acha
isso pouco? Você é cantora, é independente. Vive a sua vida.
Donna – Eu acho que
já fui mais autentica. Hoje em dia, como fixei o mastro na cidade, e com a
amizade que criei com a Das Dores, eu me anulei bastante. Passei a viver a vida
dela, a tentar resolver os conflitos dela... E a minha vida ficou ali,
estacionada, me esperando, quando eu cair em mim, eu a pego de volta.
Carlão – Então eu
acho que chegou a hora da Donna viver de verdade. Chega de ser sombra dos
outros.
Donna – Eu nem sei
por onde começar.
Carlão – Mas eu sei.
Carlão puxa
Donna para a cama e os dois se beijam. Em seguida começam a tirar a roupa um do
outro. Ficam entre beijos e amaços mais quentes.
Corta para:
Cena 05.
Pontos Turísticos/ Ext./ Noite-Dia.
(Música “A
noite vai chegar” – Lady Zu). Imagens do Cruzeiro Municipal, Catedral de Nossa
Senhora da Glória, Serra dos Mascates, Rua dos Mineiros e terminando no Jardim
de cima. Transposição da noite para o dia.
Cíntia,
Beto e Sandra estão sentados em um banco, no Jardim de Cima, de um uniforme.
Beto – E como
ficou a discoteca ontem?
Cíntia – Ficou
ótima, melhor impossível.
Sandra olha
“atravessado” para Cíntia.
Beto – Fiquei
sabendo que teve briga.
Sandra – É, dizem
que teve. Eu não vi muito, não sei com quem foi. Mas ouvi dizer que foi briga
de socos mesmo.
Cíntia – Dias com
pimenta, são melhores do que dias sem açúcar.
Beto (se
levantando) – Eu vou por aí, a gente se esbarra na aula de
geometria.
Beto sai.
Sandra – Nunca mais
cometa aquele tipo de loucura, você pode cair feio. Podem descobrir, levar até
seus pais e você leva uma coça e fica de castigo.
Cíntia – E o velhote
gostou, quer hoje novamente. E eu vou, ontem ele me deu um bom dinheiro.
Sandra – Você tá se
vendendo? Tá arrumando homem por dinheiro? Essa cidade é pequena. Daqui a pouco
ele conta pra um amigo, que conta pra um vizinho, que deixa escapar pra um
primo, e daqui a pouco a cidade toda vai estar te taxando de...
Cíntia – Vão estar
me chamando de puta? De rameira? Eu não ligo, no fundo eu até gosto, causa um
fetiche nos homens.
Cíntia
começa a debochar.
Corta para:
Cena 06.
Mansão Guimarães/ Sala de Jantar/ Int./ Dia.
América e
Branco tomam café em silêncio, quando Renato adentra a sala, meio sem jeito.
Ele se senta a mesa.
Renato – Bom dia.
Branco olha
para Renato com reprovação.
América – Aceita mais
leite, Branco?
Branco – Que papelão
ontem, hein senhor Renato Kalil. Saindo na mão com cliente.
Renato – Ele
desrespeitou a sua filha. Tratou com grosseria.
Branco – Nada
justifica isso. Violência não resolve as coisas. Como é que você quer ser
empresário de sucesso? Tem certos sapos que a gente deve engolir, ainda mais no
início. Engolir sem água e sem reclamar.
Renato – Eu fui um
inconsequente mesmo. Mas ver a minha noiva naquela situação foi forte demais.
Branco – Se quer ter
sucesso no mundo dos negócios, aprenda a ser frio, ser calculista. Poderia ter
se vingado desse menino depois, ter agenciado uns trombadinhas para darem uma
lição nele. Mas ali, na frente de todo mundo e com a casa cheia, ah não.
Renato
(cabisbaixo) – Desculpa seu Branco, não vai voltar a acontecer
mais.
Branco – Assim
espero.
Renato – Onde está a
Das Dores?
América – Saiu. Disse
que estava estressada e que iria chamar a Donna pra fazer umas compras.
Renato – Minha
inconsequência respingou em todos.
América – Não é pra
tanto. Para de se crucificar e vá trabalhar. Só se repara o erro com trabalho.
Corta para:
Cena 07.
AP. DONNA/ Int./ Dia.
Donna e
Carlão estão deitados na cama, apenas em trajes íntimos. A campainha toca insistentemente.
Donna – É o menino
do café da manhã.
Carlão – Pra mim
pode ser só café preto mesmo. Acho que to numa ressaca do conhaque.
Donna dá um
beijo em Carlão, coloca seu hobby e abre a porta.
Das Dores –
Oi
amiga, vim te buscar pra gente bater perna.
Donna fica
surpresa e visivelmente assustada.
Das Dores –
Que
foi? Parece que viu um fantasma. Já sei, tá com um boy magia aí... Deixa eu ver
quem é.
Das Dores
passa por Dona e vai se encaminhando em direção a cama.
Donna – Das Dores,
agora não, por favor!
Das Dores
se encaminha, sorrindo. Ao avistar o homem e ver que ele é Carlão, ela fica
perplexa e desfaz o sorriso.
Das Dores e
Carlão se olham.
Corta para:
Cena 08.
Casa de Cíntia/ Sala/ Int./ Dia.
Glória está
varrendo o local, quando Luís desce as escadas, todo arrumado e com uma maleta.
Glória – Mas onde é
que tu vai, Luís?
Luís – Eu vou
trabalhar.
Glória – Mas hoje
você não pegaria só depois do almoço?
Luís – Era, mas a
Kátia, secretária do doutor Branco, disse que ele solicitou a minha presença urgentemente.
Vou ter que ir, querendo ou não.
Glória – Esses ricos
acham quem podem tudo né. Você tem um horário, no momento de folga tem outras
coisas a fazer. Não vive a mercê deles.
Luís – Manda quem
pode, obedece quem é ajuizado. Fui!
Luís sai e Glória
volta a varrer.
Corta para:
Cena 09.
AP. Donna/ Int./ Dia.
Das Dores
olha para Carlão, que não se intimida.
Donna – Das Dores,
acho melhor você ir, conversamos uma outra hora.
Das Dores –
Então
você se aproveitou da confusão pra trazer o Carlão pra cama.
Donna – Não foi bem
assim, olha só, eu me sensibilizei com a questão dele. Quis preservá-lo.
Das Dores –
Mas
ele não é natureza pra ser preservado. Você quis dar o bote, se aproveitou da
situação e trouxe um homem pra cama.
Carlão – A Donna não
trouxe ninguém pra cama, eu vi porque quis, por que me senti a vontade, como
continuo me sentindo.
Das Dores –
Já
sei, não precisa me explicar nada. Você quis se vingar de mim e por isso saiu
com a Donna.
Carlão – Não é nada
disso, Das Dores. Eu senti uma afinidade, um conforto, um carinho, que mulher
nenhuma, nem você soube me proporcionar. Mas também, como eu poderia esperar de
uma patricinha deslumbrada, algo que ela não possui: humanidade. Nossos mundos
são outros. Tô feliz de ter passado a noite com a Donna. Ela é muito mais do
que sexo. É companheira, é a pessoa ideal.
Das Dores
fica com os olhos marejados, segurando o choro.
Donna – Eu não to
tentando competir com você, Das Dores, mas é que eu senti uma afinidade, um
carinho maior com o Carlão. E além do mais, você tá noiva, vai casar com o
Renato, não pode ficar ofendida.
Das Dores –
Não
foi uma ofensa, mas enfim, fiquem aí se engolindo.
Das Dores
sai.
Donna – Acho que
aqui acabou uma amizade.
Carlão – Liga não.
Eu to com você.
Donna deita
na cama e os dois se beijam.
FIM!
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