quinta-feira, 25 de junho de 2015

Episódio 03: Reaper


— Chase, o que você tem feito? Caçado? – Ele pergunta em tom irônico.
Morte olha para trás e vê Luna e Kitana encarando para ele. Ele se levanta no ônibus, anda até o fundo e senta ao lado de Luna. A garota do meu lado fica apreensiva, e eu seguro a mão dela.
— Obrigada. – Ela diz bem baixo.
— Acalme-se. – Sussurro.
Hesito em virar para trás. Embora eu não queira que mais ninguém no ônibus fique ferido, eu não quero que, especialmente Luna, fique ferida. Meu medo atual é que algo de bastante ruim aconteça e eu não possa fazer nada a não ser observar.
— Você tem um fone de ouvido aí? – Digo, bastante baixo.
— Tenho sim. – Ela responde no mesmo tom.
— Coloque-o numa música bastante alta. Não o tire por nada. Não olhe para trás.
Ela assente com a cabeça e me obedece. Levanto do meu assento e ando em direção à Luna e Morte, que estão sentados em silêncio, embora seja perceptível o quanto Luna está estressada com a situação. Morte puxa o seu sobretudo para o lado e eu vejo uma pistola semiautomática embaixo de sua calça, deixando apenas a parte do gatilho para cima de fora. Ele pega arma e atira contra a garota sentada ao lado de Kitana, que cai morta no chão.
— Você não precisa fazer isso. – Digo, ficando cara a cara com ele.
— Não preciso? Deixa eu lhe dar uma refrescada na memória: Você converteu o meu melhor soldado, criou um exército, me fez parar no inferno para procurar por uma saída e me aprisionou numa caixa de Pandora. É, eu acho que eu tenho direito.
— Agora você está fazendo birra. – Luna retruca.
— Escuta aqui loirinha... – Ele encosta a arma na cabeça dela, mas depois a afasta, pondo de volta abaixo de sua calça – Eu estou cansado de vocês ferrando com os meus planos. Lilith está à solta e ela vai liberar o maior mal de todos aqui na Terra. Nenhum de nós tem poderes suficientes para impedí-la.
— Deixa de papo-furado. – Respondo. – O que é que você quer?
— Por hora? Uma aliança. Proponho que nos aliemos para acabar com Lilith antes que seja tarde demais.
— Eu passo. – Rebato. – Podemos nos virar muito bem sem você.
— Você e que exército? Davenport, a CIA, NSA, FBI... Todos estão procurando vocês. Sozinhos, vocês não têm a menor chance.
— Nem você. – Luna diz, puxando a arma da calça dele e apontando. – Não esperava por essa, não é?
— Na verdade, sim.
Morte chuta a mão de Luna e a arma paira no ar. Ele pega a arma e dá uma coronhada nela, que cai no chão. Impulsiono-me para um soco, mas ele puxa a minha mão para trás e também me dá uma coronhada, me jogando de cara no chão do ônibus. Vejo o leque de Luna escorregando até minhas mãos no chão, enquanto Morte se aproxima da garota com quem eu estava sentado. Kitana levanta e tenta brigar com ele de corpo a corpo, mas acaba levando uma surra. Atiro o leque contra ele, e este fica preso em suas costas. Luna murmura algo e o leque fica grudado lá. Morte começa a perder as forças, mas ainda dispara tiros para todos os lugares. O motorista do ônibus vira bruscamente e joga todos nós contra o lado direito do veículo, o que empurrou ainda mais para dentro o leque nas costas de Morte. Com ele desnorteado, Kitana dá uma série de socos e cruzados, finalizando com um pontapé, que o joga perto de mim.
Ele cai no chão com sangue escorrendo da boca e seus olhos pálidos.
Luna levanta com dificuldade e se apoia num banco do fundo. Ela olha cuidadosamente para o corpo no chão.
— É uma miragem. – Ela diz.
— Como? – Kitana pergunta.
— É uma distração. Aposto que Lilith está causando tudo isso. Temos que chegar em Salida o mais rápido possível e sumir com Jared. Ela está tentando descobrir onde estamos.
— Luna, acalme-se. Lilith não vai descobrir onde estamos. Não era uma miragem. – Digo.
Ela se abaixa e pega algo no chão. Ela me mostra o leque de Luna.
— Não vê? Não há sangue. É uma miragem. Alguém aqui neste ônibus fez um encantamento para nos distrair. E eu aposto que sei quem foi.
Luna anda em passos firmes até a garota com quem eu estava. Ela puxa o pino do fone e começamos a ouvir um feitiço em alto e bom som saindo do telefone da garota. Luna pega ela pelos cabelos e a joga no chão, depois, a cobre de chutes.
— Para! – Ela grita.
— Quem é você e o que você quer conosco?! – Luna grita.
— Meu pai me enviou para espionar vocês. Eu venho te seguindo desde Georgetown. Meu nome é Trish.
— Bom Trish, eu aconselho que você saia daqui antes que eu corte a sua garganta, entendeu?!
Trish desaparece em fumaça. Luna senta num banco, enfurecida.
Kitana volta ao nosso encontro.
— O motorista disse que já chegamos.

[...]

Andamos por mais de vinte minutos da rodoviária de Salida até o local para encontrarmos com Jared. De Salida à Aspen serão duas horas, pois vamos por um atalho que Kitana conhece. Chegamos à um ferro velho e logo avistamos o trailer de Jared. Kitana corre para abraça-lo. Nós chegamos até Jared mais ou menos cinco segundos depois.
— É bom ver vocês de novo. – Ele aperta a minha mão e dá um abraço rápido em Luna. – Entrem, é bom eu ir atualizando vocês.
Obedecemos.
Jared tranca a porta.
Kitana senta numa cadeira ao fundo, Luna e eu nos encostamos à bancada do armário. Jared olha por uma fresta nas cortinas para ter certeza de que não fomos seguidos e tira a sua camisa para por na janela do outro lado do trailer. Jared se senta num caixote de madeira e vira o olhar para nós.
— O que você já falou para eles? – Jared pergunta à Kitana.
— Que já faz um ano que o portal se abriu. – Ela responde.
— É. Como raios isso foi acontecer? – Pergunto.
— Não sabemos. – Ele responde. – Depois que os Deuses nos salvaram do inferno, Kitana e eu cuidamos de Chloe e Zoe por um tempo, vigiando-as, mas aí a Chloe se mudou de cidade e eu não consegui mais localizar Zoe. Estávamos numa caçada quando tivemos que nos refugiar no castelo de Sarah e ela nos contou que alguém tinha aberto um portal e haviam almas saindo do inferno a todo o momento. A princípio, ficamos animados com a ideia de vocês chegarem, mas logo começaram a surgir em todos os noticiários que quem quer que fosse de carne e osso estava sendo capturado pelas autoridades e torturados por informações.
— Íris e Ryan. – Luna diz.
— Isso. Os dois chegaram com minutos de diferença no cemitério, mas nós ainda estávamos longe de lá para conseguirmos ajuda-los de qualquer jeito. Kratos procurou por informações de uns amigos do exército e descobriu que eles foram levados para Area 51. Não podíamos arriscar entrar lá então apenas continuamos monitorando tudo.
— E Ariel? E.D.?
— E.D. provavelmente está na Area 51 também. Vimos Ariel assim que chegamos ao cemitério. Ela estava liderando um exército, mas logo teve que recuar. Ao menos sabemos que ela também não tem poderes.
Suspiro.
— Há um problema nisso. Luna e eu conseguimos utilizar nossas habilidades sobrenaturais desde que chegamos aqui, embora não pudéssemos utilizá-las em força total.
Jared parece surpreso. O walkie talkie dele começa a fazer uns ruídos e ele o pega para se comunicar com a pessoa do outro lado da linha. Kitana volta-se para nós e parece apreensiva.
— Temos que dar um jeito de recuperar a sua foice. Deve estar no cemitério. – Ela diz.
— Não. Ela foi destruída. – Digo, e Kitana arregala os olhos. – A porta estava se fechando e Luna ainda não tinha passado, então eu usei a foice para impedir que a porta fechasse, e então, ela se partiu no meio.
— Talvez possamos falar com Sarah ou alguém do tipo para criar outra. Também preciso de um cajado novo.
— Não dá, Luna. Morte é quem nos fornece as foices, não é algo que você compra numa loja. – Rebato.
— E que tal uma espada? – Jared diz, segurando uma espada bem grande e larga em mãos. – Parece bem mais legal, não acha?

[...]

Chegamos à Aspen. Estamos famintos e cansados ao mesmo tempo. Jared para o trailer na entrada de uma mansão e o portão se abre. Nós entramos com o trailer e Jared o para no estacionamento. Todos nós descemos e acompanhamos Kitana até a porta.
 Kitana abre a porta com sua chave e empurra-a primeiro, pedindo que nós aguardemos. Um machado gigante passa na porta em forma lateral. Era uma armadilha.
— Típico. – Kitana diz, nos confundindo.
Todos nós entramos e olhamos cautelosamente onde estamos pisando. Uma mulher loira, alta e de mais ou menos trinta e seis anos desce as escadas com uma escopeta em mãos.
— Oi mãe. – Kitana diz.
— Chegaram bem a tempo do jantar. – A mulher completa.



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