— Chase, o que
você tem feito? Caçado? – Ele pergunta em tom irônico.
Morte olha para
trás e vê Luna e Kitana encarando para ele. Ele se levanta no ônibus, anda até
o fundo e senta ao lado de Luna. A garota do meu lado fica apreensiva, e eu
seguro a mão dela.
— Obrigada. – Ela
diz bem baixo.
— Acalme-se. –
Sussurro.
Hesito em virar
para trás. Embora eu não queira que mais ninguém no ônibus fique ferido, eu não
quero que, especialmente Luna, fique ferida. Meu medo atual é que algo de
bastante ruim aconteça e eu não possa fazer nada a não ser observar.
— Você tem um fone
de ouvido aí? – Digo, bastante baixo.
— Tenho sim. – Ela
responde no mesmo tom.
— Coloque-o numa
música bastante alta. Não o tire por nada. Não olhe para trás.
Ela assente com a
cabeça e me obedece. Levanto do meu assento e ando em direção à Luna e Morte,
que estão sentados em silêncio, embora seja perceptível o quanto Luna está
estressada com a situação. Morte puxa o seu sobretudo para o lado e eu vejo uma
pistola semiautomática embaixo de sua calça, deixando apenas a parte do gatilho
para cima de fora. Ele pega arma e atira contra a garota sentada ao lado de
Kitana, que cai morta no chão.
— Você não precisa
fazer isso. – Digo, ficando cara a cara com ele.
— Não preciso?
Deixa eu lhe dar uma refrescada na memória: Você converteu o meu melhor
soldado, criou um exército, me fez parar no inferno para procurar por uma saída
e me aprisionou numa caixa de Pandora. É, eu acho que eu tenho direito.
— Agora você está
fazendo birra. – Luna retruca.
— Escuta aqui
loirinha... – Ele encosta a arma na cabeça dela, mas depois a afasta, pondo de
volta abaixo de sua calça – Eu estou cansado de vocês ferrando com os meus
planos. Lilith está à solta e ela vai liberar o maior mal de todos aqui na
Terra. Nenhum de nós tem poderes suficientes para impedí-la.
— Deixa de
papo-furado. – Respondo. – O que é que você quer?
— Por hora? Uma
aliança. Proponho que nos aliemos para acabar com Lilith antes que seja tarde
demais.
— Eu passo. –
Rebato. – Podemos nos virar muito bem sem você.
— Você e que
exército? Davenport, a CIA, NSA, FBI... Todos estão procurando vocês. Sozinhos,
vocês não têm a menor chance.
— Nem você. – Luna
diz, puxando a arma da calça dele e apontando. – Não esperava por essa, não é?
— Na verdade, sim.
Morte chuta a mão
de Luna e a arma paira no ar. Ele pega a arma e dá uma coronhada nela, que cai
no chão. Impulsiono-me para um soco, mas ele puxa a minha mão para trás e
também me dá uma coronhada, me jogando de cara no chão do ônibus. Vejo o leque
de Luna escorregando até minhas mãos no chão, enquanto Morte se aproxima da
garota com quem eu estava sentado. Kitana levanta e tenta brigar com ele de
corpo a corpo, mas acaba levando uma surra. Atiro o leque contra ele, e este
fica preso em suas costas. Luna murmura algo e o leque fica grudado lá. Morte
começa a perder as forças, mas ainda dispara tiros para todos os lugares. O
motorista do ônibus vira bruscamente e joga todos nós contra o lado direito do
veículo, o que empurrou ainda mais para dentro o leque nas costas de Morte. Com
ele desnorteado, Kitana dá uma série de socos e cruzados, finalizando com um
pontapé, que o joga perto de mim.
Ele cai no chão
com sangue escorrendo da boca e seus olhos pálidos.
Luna levanta com
dificuldade e se apoia num banco do fundo. Ela olha cuidadosamente para o corpo
no chão.
— É uma miragem. –
Ela diz.
— Como? – Kitana
pergunta.
— É uma distração.
Aposto que Lilith está causando tudo isso. Temos que chegar em Salida o mais
rápido possível e sumir com Jared. Ela está tentando descobrir onde estamos.
— Luna, acalme-se.
Lilith não vai descobrir onde estamos. Não era uma miragem. – Digo.
Ela se abaixa e
pega algo no chão. Ela me mostra o leque de Luna.
— Não vê? Não há
sangue. É uma miragem. Alguém aqui neste ônibus fez um encantamento para nos
distrair. E eu aposto que sei quem foi.
Luna anda em
passos firmes até a garota com quem eu estava. Ela puxa o pino do fone e
começamos a ouvir um feitiço em alto e bom som saindo do telefone da garota. Luna
pega ela pelos cabelos e a joga no chão, depois, a cobre de chutes.
— Para! – Ela
grita.
— Quem é você e o
que você quer conosco?! – Luna grita.
— Meu pai me
enviou para espionar vocês. Eu venho te seguindo desde Georgetown. Meu nome é
Trish.
— Bom Trish, eu
aconselho que você saia daqui antes que eu corte a sua garganta, entendeu?!
Trish desaparece
em fumaça. Luna senta num banco, enfurecida.
Kitana volta ao
nosso encontro.
— O motorista
disse que já chegamos.
[...]
Andamos por mais
de vinte minutos da rodoviária de Salida até o local para encontrarmos com
Jared. De Salida à Aspen serão duas horas, pois vamos por um atalho que Kitana
conhece. Chegamos à um ferro velho e logo avistamos o trailer de Jared. Kitana
corre para abraça-lo. Nós chegamos até Jared mais ou menos cinco segundos
depois.
— É bom ver vocês
de novo. – Ele aperta a minha mão e dá um abraço rápido em Luna. – Entrem, é
bom eu ir atualizando vocês.
Obedecemos.
Jared tranca a
porta.
Kitana senta numa
cadeira ao fundo, Luna e eu nos encostamos à bancada do armário. Jared olha por
uma fresta nas cortinas para ter certeza de que não fomos seguidos e tira a sua
camisa para por na janela do outro lado do trailer. Jared se senta num caixote
de madeira e vira o olhar para nós.
— O que você já
falou para eles? – Jared pergunta à Kitana.
— Que já faz um
ano que o portal se abriu. – Ela responde.
— É. Como raios
isso foi acontecer? – Pergunto.
— Não sabemos. –
Ele responde. – Depois que os Deuses nos salvaram do inferno, Kitana e eu
cuidamos de Chloe e Zoe por um tempo, vigiando-as, mas aí a Chloe se mudou de
cidade e eu não consegui mais localizar Zoe. Estávamos numa caçada quando
tivemos que nos refugiar no castelo de Sarah e ela nos contou que alguém tinha
aberto um portal e haviam almas saindo do inferno a todo o momento. A
princípio, ficamos animados com a ideia de vocês chegarem, mas logo começaram a
surgir em todos os noticiários que quem quer que fosse de carne e osso estava
sendo capturado pelas autoridades e torturados por informações.
— Íris e Ryan. –
Luna diz.
— Isso. Os dois
chegaram com minutos de diferença no cemitério, mas nós ainda estávamos longe
de lá para conseguirmos ajuda-los de qualquer jeito. Kratos procurou por
informações de uns amigos do exército e descobriu que eles foram levados para
Area 51. Não podíamos arriscar entrar lá então apenas continuamos monitorando
tudo.
— E Ariel? E.D.?
— E.D.
provavelmente está na Area 51 também. Vimos Ariel assim que chegamos ao
cemitério. Ela estava liderando um exército, mas logo teve que recuar. Ao menos
sabemos que ela também não tem poderes.
Suspiro.
— Há um problema
nisso. Luna e eu conseguimos utilizar nossas habilidades sobrenaturais desde
que chegamos aqui, embora não pudéssemos utilizá-las em força total.
Jared parece
surpreso. O walkie talkie dele começa
a fazer uns ruídos e ele o pega para se comunicar com a pessoa do outro lado da
linha. Kitana volta-se para nós e parece apreensiva.
— Temos que dar um
jeito de recuperar a sua foice. Deve estar no cemitério. – Ela diz.
— Não. Ela foi
destruída. – Digo, e Kitana arregala os olhos. – A porta estava se fechando e
Luna ainda não tinha passado, então eu usei a foice para impedir que a porta
fechasse, e então, ela se partiu no meio.
— Talvez possamos
falar com Sarah ou alguém do tipo para criar outra. Também preciso de um cajado
novo.
— Não dá, Luna.
Morte é quem nos fornece as foices, não é algo que você compra numa loja. –
Rebato.
— E que tal uma
espada? – Jared diz, segurando uma espada bem grande e larga em mãos. – Parece
bem mais legal, não acha?
[...]
Chegamos à Aspen.
Estamos famintos e cansados ao mesmo tempo. Jared para o trailer na entrada de
uma mansão e o portão se abre. Nós entramos com o trailer e Jared o para no
estacionamento. Todos nós descemos e acompanhamos Kitana até a porta.
Kitana abre a porta com sua chave e empurra-a
primeiro, pedindo que nós aguardemos. Um machado gigante passa na porta em
forma lateral. Era uma armadilha.
— Típico. – Kitana
diz, nos confundindo.
Todos nós entramos
e olhamos cautelosamente onde estamos pisando. Uma mulher loira, alta e de mais
ou menos trinta e seis anos desce as escadas com uma escopeta em mãos.
— Oi mãe. – Kitana
diz.
— Chegaram bem a
tempo do jantar. – A mulher completa.
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