CAPÍTULO 2
O triunfo de Rebecca, veio da angústia da filha...
CENA
1/ EMPRESA PASTEUR BRASIL/ TARDE/ INT./ HELIPONTO.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior;
Impressionados,
todos observam tudo ao seu redor. Orlando a parte, olhar pesado, observa
Rebecca.
ORLANDO - Do que adianta toda essa
maravilha que é o Brasil se eu não posso andar!
Rebecca
em silêncio. Orlando com um olhar triste. Maya e Carolina abaixam a cabeça como
sinal de respeito. Rebecca olha novamente para Orlando/
REBECCA - Sem estresse! Viemos para
descansar, para aproveitar todo dinheiro que nós temos! Vamos pensar em coisas
boas!
CORTA PARA/
CENA
2/ MANSÃO DOS PASTEUR BRASIL/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Todos
entram na casa. Maya e Carolina sobem as escadas, em direção ao quarto. Rebecca
empurra a cadeira de Orlando até perto do sofá, e se senta em seguida, tirando
os óculos escuros.
REBECCA - Enfim, chegamos!
ORLANDO - Até agora eu não engoli o
fato de nós voltarmos ao Brasil assim, tão rapidamente, sem sequer arrumarmos
decentemente nossas roupas.
REBECCA - Eu quis fazer uma
surpresa, meu amor... Agora vamos parar com esse drama todo! Estamos no Rio de
Janeiro... Temos que aproveitar!
ORLANDO - De um certo ponto você tem
razão!
REBECCA - Olha... Eu agora vou
subir... Tenho coisas muito importantes para realizar amanhã de manhã, sem
contar que precisa ainda dar as caras na nossa filial aqui no Brasil! Agora...
Passar bem! Qualquer coisa grite uma de nossas empregadas!
Rebecca
sobe as escadas. Orlando confuso a parte/
Corta para:
CENA
3/ STOCK-SHOTS/ NOITE – DIA.
Imagens
do nascer do Sol no Rio de Janeiro. A câmera é levada até a fachada azul da
mansão dos Pasteur/
CENA
4/ MANSÃO DOS PASTEUR/ DIA/ INT/ COZINHA.
Orlando
solitário tomando seu café da manhã. Rebecca, aparentemente com pressa e bem
vestida, senta-se a mesa, junto a ele.
ORLANDO - O que houve? Vai sair?
REBECCA - (pegando o pão e a geleia)
Sim... Vou ver se consigo ir até o banco! Parece que o pagamento já saiu!
ORLANDO - Ah sim!
Rebecca
morde o pão, olha para o relógio e se apressa. Ela se levanta e se recompõe/
REBECCA - Preciso ir... Além do
mais, tenho que ir até o banco. Tenho reunião com novos agenciadores! Tenha um
bom dia, Orlando!
Rebecca
sai rapidamente. Orlando observa-a desconfiado/
Corta para:
CENA
5/ BANCO/ DIA/ INT.
Sonoplastia: INFILTRADO –
BAJOFONDO.
Rebecca
entra sorrateiramente no banco. Várias pessoas na fila. Ela se aproxima do
balcão de informações e retira uma senha, voltando e se sentando em um sofá. As
horas vão se passando/
MULHER - Dona Rebecca Pasteur...
Está aí?
REBECCA - Sim! Sou eu!
MULHER - Queira me acompanhar, por
favor!
Rebecca
se levanta e segue a mulher/
Corta para:
CENA
6/ BANCO/ DIA/ INT./ SALA DE ATENDIMENTO.
Local
frio, coisas modernas. Rebecca entra e senta-se a frente de uma mulher (olhos
castanhos e brilhantes, cabelos presos em um coque, vestido formal, com um belo
blazer azul), que está à frente de um computador, sem desviar o olhar/
MULHER - O que a senhora quer de
tão importante... Pensei até que fosse algo relacionado ao dinheiro que a
senhora tem em sua poupança... Mandei analisar tudo, mas me parece que estudo
anda bem, como o planejado... Portanto, o que trás a senhora até aqui?
Rebecca
tira de sua bolsa um papel, e entrega diretamente as mãos da mulher, que começa
a ler.
REBECCA - Como à senhora deve estar
lendo aí, venho em nome da minha tia! Coitada, tão jovem, e acabou falecendo
deste maldito câncer! Toda minha família está muito abalada, senhora, portanto
tomei a iniciativa de vir até aqui e pegar a quantia a qual me é de direito!
A
mulher se silencia por segundos, mas entrega o papel novamente a Rebecca/
MULHER - Está bem! Na verdade, eu
não poderia estar fazendo isso, mas como à senhora sempre está nos ajudando
muito, e eu na condição de gerente desse banco, deixarei que a senhora retire a
quantia a qual lhe é de direito... Mas, por precaução, eu preciso que a senhora
me apresente algum documento que prove tal parentesco, mesmo que seja apenas no
sobrenome. Afinal, não é qualquer um que possui ‘Pasteur’ no nome!
Rebecca
tira os documentos, também da bolsa, e entrega novamente as mãos da mulher. A
mulher sorri, e devolve-os nas mãos de Rebecca.
MULHER - (cont.) Ótimo!
Está bem! Agora pode ir! Está tudo andando perfeitamente... Pode retirar a sua
quantia em dinheiro!
REBECCA - Muito obrigada! Com
licença!
Rebecca
levanta-se e se retira do local.
Corta para:
CENA
7/ BANCO/ DIA/ INT/ SALA DE COFRE.
Um
homem ABRE a porta, e Rebecca ENTRA na sala (escura e sombria) com cofres, que
mais parecem gavetas.
HOMEM - Na segunda gaveta,
senhora. Olha, pode ficar tranquila, os cofres são medidas bem seguras para que
não haja nenhuma invasão tecnológica!
REBECCA - Por favor, agora eu
prefiro que o senhor se retire! O que tem nesse cofre é muito mais valioso do
que você imagina.
O
homem sai da sala, e fecha-a. Um enorme ECO no momento em que a porta se fecha.
Rebecca localiza a sequência 1408. O cofre se abre. Vários bolos de dinheiro.
Os olhos de Rebecca brilhando, refletindo todo dinheiro. Ela pega um bolo de
dinheiro nas mãos, e o aperta fundo/
REBECCA - (sussurrando/ emocionada) EU
ESTOU AINDA MAIS RICA!
A
câmera se aproxima no olhar doentio de Rebecca/
Corta para:
CENA
8/ STOCK-SHOTS/ DIA.
Sonoplastia: ABSURDA –
ANAHÍ.
Imagens
do Rio de Janeiro e Londres respectivamente. A evolução das cidades.
Londres – 2015
CENA
9/ FESTIVAL MEDICINA/ NOITE/ INT.
Um
IMENSO salão. Várias pessoas em volta. A maioria de brasileiros. Um GRANDE
palanque no fim do salão. Carolina (olhos claros e seguros, cabelos loiros e
cacheados, um longo vestido azul, aproximadamente uns vinte anos, boca carnuda
e vermelha) sobe no palanque, e pega o microfone.
CAROLINA - É um grande orgulho poder
estar aqui, junto a vocês, em um momento tão especial para mim. Ser médico é
poder transformar vidas, mudar destinos, e isso foi o que eu escolhi para mim!
Com a ajuda do meu pai, da minha irmã, que também resolveu salvar vidas! Um
pouco diferente de mim, afinal, ser uma delegada está muito além de apenas
salvar vidas, é também entregar a própria vida como garantia de um crime. Então
queria mandar um grande abraço para ela!
Todos
aplaudem. A câmera acompanha os passos de Rebecca, agora mais velha, chegando
de vestido preto e um salto alto preto.
Ela
para frente do palanque. Carolina, lá de cima, encara a mãe/
REBECCA - Pensou que eu não viria,
meu amor?!
CAROLINA - Não... Claro que não! Eu
sabia que a senhora iria vir... Não poderia perder a chance de me ver em cima
de um palanque, da mesma forma que meu pai subiu quando anunciou que a senhora
estava grávida! É uma grande chance de a senhora poder acompanhar uma vida
pública, a qual nunca acompanhou com o meu pai, não?!
Rebecca
fica sem graça. Carolina com um sorriso no rosto. Todos em volta observam o
clima. Todos aplaudem em seguida. Carolina desce do palanque.
Corta para:
CENA
10/ JATINHO/ NOITE/ INT.
Carolina
mexe em um notebook. Rebecca ao lado com uma cara nada agradável.
Carolina
olha para Rebecca e percebe a tensão. Ela fecha o notebook.
CAROLINA - Está bem... Chega! Agora
me fale... O que está acontecendo, mamãe?
REBECCA - É você mais uma vez,
Carolina... Está se achando sempre no direito de me confrontar, como se eu tivesse
culpa da situação de seu pai!
CAROLINA - Não tenho nada contra a
senhora, só acho que poderia dar um pouco mais de atenção para o papai... A
senhora sabe que ele além da idade passa por tudo isso, mãe! É uma questão de
sentimento!
REBECCA - (ri ironicamente) Que
sentimento? Não seja ingênua, minha filha... Há muitos anos que você sabe que o
meu relacionamento com Orlando não passa de negócios.
CAROLINA - O mais impressionante é
ver como vocês dois falam isso naturalmente!
REBECCA - Qual o problema?
CAROLINA - Prefiro não dar mais
opinião sobre tal assunto, mãe!
REBECCA - Sabe qual é o problema?
Você fica se metendo na minha vida... Deveria seguir o exemplo da Maya... Vá
trabalhar, viver a sua vida, sem ter que se preocupar comigo ou com o Orlando!
CAROLINA - É praticamente
impossível... Você veio para Londres simplesmente para me bisbilhotar, ver o
que eu estava fazendo... Além do mais que depois de ouvir tudo isso que você
disse a respeito do papai, aí mesmo que não posso deixá-lo sozinha!
Rebecca
se vira para a janela/
REBECCA - Você sofre de um mal muito
grande, minha filha... É boa demais, e isso não faz bem nos dias de hoje!
Carolina
encara Rebecca silenciosamente/
CENA
11/ MANSÃO DE CAROLINA/ NOITE/ INT/ SALA DE ESTAR.
Carolina,
cansada, abre a porta da casa. Ela segue no escuro, até que acende a luz. Maya
(cabelos pretos e ondulados, vestido branco básico, olhos fundos e pretos) com
as mãos esticadas, e um lindo buquê de rosas vermelhas. Carolina sorri/
MAYA - Para você, minha irmã!
CAROLINA - Só você mesmo... Está
sempre salvando esse cansaço interior, que você sabe muito bem quem causa.
MAYA - Deixa eu adivinhar...
Rebecca Pasteur?! Acertei?
Carolina
sorri, abraça Maya, e pega o buquê/
CAROLINA - Muito obrigada... É sério,
você me faz bem... Eu ouço muitas pessoas dizerem que irmãs sempre estão em pé
de guerra, mas parece que com a gente foi bem diferente!
As
duas se afastam, e se sentam no sofá em seguida.
MAYA - Agora chega de
lenga-lenga... Conta! Como foi lá?
CAROLINA - Foi mágico, Maya... Todos
me aplaudiam, e você sabe mais do que ninguém o quanto eu gosto da profissão
que eu tenho... Aliás, e você? Como vêm sendo o seu trabalho esses dias?
MAYA - Muito complicado, mas eu
estou dando conta de tudo! Acredita que agora me veio uma tarefa bem
complicada... Parece que crianças estão sendo traficadas, apenas para que delas
sejam retirados os órgãos e o sangue. Acredita?
CAROLINA - (assustada) Gente!
Como podem existir pessoas tão cruéis assim? Mas vocês já conseguiram
identificar quem são as pessoas que estão fazendo isso?
MAYA - Por incrível que pareça
não... Pelo o que eu pesquisei, as pessoas que fazem essas coisas são muito
difíceis de serem identificadas... Elas se escondem atrás de uma pele de
cordeiro!
CAROLINA - (preocupada) Pois
então tome cuidado! Nunca se sabe onde está o inimigo, não é mesmo?
MAYA - Sim! Você tem toda razão!
As
duas se abraçam novamente.
Corta para:
FADE
OUT.
CENA
12/ MANSÃO DOS COSTA DUTRA/ NOITE/ EXT./ FACHADA.
Fade
in. Uma imensa
mansão, cheia de flores nas grades e envolvendo a casa.
Corta para:
CENA
13/ MANSÃO DOS COSTA DUTRA/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Móveis
e objetos de madeira escuros, mais antigos. Olga (senhora de aproximadamente
uns sessenta anos, cabelos loiros, olhos azuis e sofridos, calça social preta e
blusa branca com botões) desce as escadas, e se senta no sofá. Um jornal jogado
ao lado do sofá. Ela pega e começa a lê.
Prostitutas de luxo! Mulheres se prostituem por puro prazer e chocam a
sociedade!
Muitas mulheres, em
busca de dinheiro fácil, estão se prostituindo por puro prazer. O motivo foi
constatado quando uma rica jovem, filha de um delegado federal, é encontrada se
prostituindo no Leblon. A sociedade carioca lamenta tal fato. Algumas pessoas,
inclusive, estão pedindo intervenção da Polícia, para que os barulhos e a hora
de funcionamento da tal “boate moderna” sejam reformulados.
São várias as
denúncias de moradores locais. Religiosos dizem que as meninas podem estar
fazendo apenas um ato rebelde contra os pais, mas estão afetando diretamente o
nome de Deus.
Olga
indignada. Herbert (senhor de aproximadamente uns oitenta anos, cabelos
grisalhos, gordo, olhos castanhos e fundos) desce as escadas com um pouco de
dificuldade, e estranha Olga/
HERBERT - O que foi, minha filha?
Que cara é essa?
OLGA - Estou lendo uma matéria,
papai... E posso te afirmar que estou muito indignada! Parece que existem
mulheres se prostituindo no Leblon, e pior, por puro prazer!
HERBERT - Realmente é algo que deixa
qualquer um indignado, mas não podemos fazer nada, afinal, não passamos de
pobres cidadãos!
OLGA - Tem razão... Isso é coisa
que a polícia deve fazer. O senhor me conhece, sabe que eu não julgo ninguém,
mas fazer uma coisa como essa por pura diversão é algo que chega até mesmo doer
na gente!
HERBERT - Você viu o Tadeu ou a
Cecília por aí?
OLGA - Não... Ele me disse que ia
dormir na casa de um amigo!
Corte descontínuo para/
CENA
14/ MOTEL/ NOITE/ INT.
CÂMERA
LONGE. Cecília (cabelos pretos e longos, olhos castanhos e atraentes, nua,
aproximadamente uns vinte anos) quica na cama, em cima de um homem
(aproximadamente uns trinta anos, olhos azuis e cabelos loiros). Altos gemidos.
Cecília e o homem mordendo os lábios. Corte
descontínuo. Cecília e homem jogados em cima da cama, exaustos, respirando
ofegantes/
HOMEM - Muito bom... Muito bom
mesmo!
CECÍLIA - (ofegante) Nossa...
De tantas homens você foi um dos melhores!
HOMEM - Agora vem cá... Por que
você se prostitui? Não parece que você tenha necessidade, ou algo assim!
CECÍLIA - Eu faço porque gosto... Me
sinto superior! Imagine... Tantas pessoas ralando um ano inteiro só para ganhar
o que eu consigo em uma noite. Vai dizer que isso não é algo muito
gratificante?!
HOMEM - Bom, nesse ponto de
vista...
CECÍLIA - Enfim, agora acho melhor
eu ir... Já transamos, agora é melhor eu descansar... Amanhã tem muita coisa
pela frente!
Cecília
se levanta e começa a se vestir. O homem se estica na cama e vê toda
movimentação com cara de safado. Ela termina de se arrumar, com um vestido
preto colado no corpo, manda beijo para ele e sai do quarto/
Corta para:
CENA
15/ PRAIA/ NOITE/ EXT.
Vários
jovens de todos os sexos em volta de fogueiras a beira da praia. A câmera
procura, até achar Tadeu (cabelos pretos, olhos pretos e salientes, branco,
corpo bem definido, camiseta preta e short jeans) sentado na areia, solitário,
com uma garrafa de wiski na mão. Demétrius (cabelos pretos e curtos, olhos castanhos
claros, forte, moreno, de sunga preta) observa Tadeu sentado, morde a boca com
sinal de excitação e vai até ele.
Demétrius
se senta ao lado de Tadeu, que olha para ele silenciosamente, com excitação.
Ele começa a passar a mão no pênis de Demétrius/
DEMÉTRIUS - Oi!
TADEU - Oi!
DEMÉTRIUS - (excitado) Que
isso, hein?! Não sabia que os cariocas eram tão gostosos e ao mesmo tempo tão
atrevidos!
TADEU - (mordendo os lábios) Quanto
aos cariocas serem gostosos, eu agradeço, quanto ao nos chamar de atrevidos, só
somos com quem realmente merece!
Os
dois se encaram, e se beijam calorosamente.
DEMÉTRIUS - Que tal irmos para um
lugar mais reservado?
TADEU - Sim! Pode ser!
Corte descontínuo/
CENA
16/ MOTEL/ NOITE/ INT.
Corte descontínuo para: Tadeu realizando sexo oral em
Demétrius, que geme de prazer.
DEMÉTRIUS - (geme/ prazer) Ohh!
Para! Para! Agora eu vou gozar!
A
câmera mostra apenas o rosto de Demétrius, que demonstra muito prazer. Tadeu se
levanta e beija Demétrius calorosamente/
DEMÉTRIUS - Eu não errei ao falar que
os cariocas são gostosos e atrevidos!
TADEU - Em meio a todo esse calor
me esqueci de perguntar o seu nome... Desculpa!
DEMÉTRIUS - Demétrius! E o seu?
TADEU - Tadeu... Tadeu Costa
Dutra!
Tadeu
se abaixa e vemos todo o seu corpo (incluindo o pênis e a bunda). Ele prega um
cartão no bolso da calça, e entrega para Tadeu.
TADEU - (cont.) Aqui
está... Nesse cartão está o meu telefone... Quando estiver à toa, sem o que
fazer, é só me telefonar!
Tadeu
e Demétrius se beijam novamente/
Corta para:
CENA
17/ STOCK-SHOTS/ NOITE – DIA.
Imagens
aéreas do amanhecer no Rio de Janeiro.
CENA
18/ MANSÃO DOS PASTEUR/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Orlando,
mais idoso, na cadeira de rodas, assiste TV. A campainha toca/
ORLANDO - Estão apertando a
campainha... Alguém atenda a porta!
Uma
das empregadas abre a porta. Carolina entra na mansão, e abraça Orlando/
CAROLINA - A Maya já deve ter lhe
dado a notícia, não é mesmo papai?
ORLANDO - Sim, minha filha... Sei
lá, eu prefiro não me frustrar!
CAROLINA - Pare com isso! É a chance
que o senhor tem para voltar a andar... Imagine como não seria perfeito, depois
de tanto tempo o senhor poder andar por aí novamente, sem precisar de ninguém!
ORLANDO - Estou velho... Não preciso
mais!
CAROLINA - Bom falando em estar
velho, eu preciso buscar os seus documentos que comprovem a sua idade, enfim, a
identidade e o CPF. Antes ficavam na primeira gaveta do guarda-roupa da
mamãe... Eu vou procurar e já volto!
Carolina
sobe rapidamente as escadas/
Corta para:
CENA
19/ MANSÃO DOS PASTEUR/ DIA/ INT./ QUARTO DO CASAL.
Carolina
entra no quarto. Ela vai até o guarda-roupa, que fica a frente da cama, e abre
a primeira gaveta. Por segundos ela revira a gaveta, mas vê uma carta. Ela se
assusta.
OBS.:
É a mesma carta da tia do Orlando.
CAROLINA - (assustada) Gente...
Isso é uma fortuna!
Corta para:
CENA
20/ BANCO/ DIA/ INT./ SALA DE ATENDIMENTO.
Carolina
entra na sala de atendimento. Ela observa tudo a sua volta, e se senta a frente
de uma mulher – (a mesma mulher que atendeu Rebecca). Elas se encaram
por alguns segundos/
CAROLINA - Olá... Bom, eu trouxe os
meus documentos, porque na verdade eu vim atrás de um dinheiro que há dez anos
foi deixado para Orlando Pasteur. Ele é meu pai!
A
mulher olha para Carolina/
MULHER - Bom... Senhora?
CAROLINA - Carolina!
MULHER - Bom Dona Carolina, esse
dinheiro não está mais em nossa conta!
CAROLINA - (assustada) Como
assim não está mais na conta? A senhora tem ideia da quantidade de dinheiro que
estamos falando... São milhões de dólares!
MULHER - Nós sabemos, senhora! Eu
mesma estava aqui quando uma senhora há dez anos esteve nos cofres particulares
do nosso banco... Não me esqueço desse dia, até porque eu já conhecia essa
mulher da TV... O nome dela é Rebecca... Rebecca Pasteur!
A
câmera se aproxima em Carolina indignada e assustada/
Corta para:
CENA
21/ MANSÃO DOS PASTEUR/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Carolina,
abismada, entra na mansão e se senta silenciosamente no sofá. Rebecca entra em
seguida. Carolina encara Rebecca, que não entende/
REBECCA - O que foi? Viu algum
fantasma?
CAROLINA - Digamos que sim... Vi um
fantasma quando fui ver a conta da tal Tia Maria Fernanda!
Rebecca
assustada. A câmera alterando na reação das duas.
Corta para:
CENA
22/ DELEGACIA/ DIA/ INT./ TIRO AO ALVO.
Maya,
toda equipada, realiza vários tiros ao alvo, e acerta todos. Um policial abre a
porta da sala/
POLICIAL - Delegada!
Maya
retira os óculos de proteção, e o tampão dos ouvidos/
MAYA - Sim!
POLICIAL - Seu pai está a sua espera
em sua sala.
MAYA - Meu pai? O que será que
ele quer?!
Maya
sai da sala/
Corta para:
CENA
23/ DELEGACIA/ DIA/ INT./ SALA DA DELEGACIA.
Orlando,
com sua cadeira de rodas, sentado à frente da mesa de Maya. Ela entra na sala,
dá um beijo na testa do pai, e se senta em sua cadeira.
MAYA - Sim, papai! Agora pode
dizer... Está acontecendo alguma coisa?
ORLANDO - Sim, minha filha... A sua
irmã! Eu estou muito preocupado com ela... Ela foi lá em casa, subiu até o
quarto de sua mãe, e depois saiu desesperada, correndo feito uma atleta!
MAYA - Realmente é muito
estranho, mas pode ficar tranquilo... Eu vou procurar saber o que está
acontecendo com a Carolina e te aviso!
ORLANDO - Obrigado, meu amor... Eu
sabia que você me ajudaria!
MAYA - Sempre! Sempre, papai!
Os
dois sorriem um para o outro.
Corta para:
CENA
24/ MANSÃO DOS PASTEUR/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Rebecca
e Carolina se encaram friamente/
REBECCA - (se fazendo de desentendida) Ham?
Do que você está falando?
CAROLINA - Eu estou falando de
traição, de roubo, de ódio... Você cometeu todos os crimes possíveis com apenas
uma atitude... Como você pôde ter sido tão cruel, tão sórdida, tão nojenta! Por
dinheiro foi capaz de vender o próprio caráter!
Rebecca
engole seco e se assusta/
REBECCA - (grita) Você está me
ofendendo!
CAROLINA - Não se faça de
desentendida! Eu quero que você me explique perfeitamente... Como foi que você
conseguiu esconder por tanto tempo que roubou toda a herança que a tia Maria
Fernanda deixou para o papai... ANDAA... FALAA!
Maya
e Orlando entram em casa. O clima fica tenso e pesado.
MAYA - Está acontecendo alguma
coisa por aqui?
REBECCA - Não... Eu só estava
parabenizando a sua irmã pelo evento em Londres, filha!
MAYA - Ah sim... Eu também não me
canso de parabenizá-la!
REBECCA - Agora eu vou subir...
Tenho que descansar... Tive um dia muito longo e pesado na Empresa, e ainda tem
a tarde toda pela frente... Com licença!
Rebecca
sobe as escadas. Carolina continua no sofá. Orlando assustado a parte. Maya
encara Carolina.
ORLANDO - Eu vou dar um pulo até na
cozinha e já volto!
Orlando
vai em direção à cozinha. Maya se senta no sofá/
MAYA - Agora que todo mundo já
saiu... Me conta! O que estava acontecendo entre você e a mamãe!
CAROLINA - Eu não posso falar ainda,
mas já fique em alerta, porque vem bomba!
Carolina
se levanta do sofá e vai embora da casa. Maya, desconfiada, sentada no sofá.
Corta para:
CENA
25/ CONSULTÓRIO DE CAROLINA/ DIA/ INT./ SALA DE CAROLINA.
Consultório
bem organizado. Coisas claras, quase todas brancas. Carolina sentada
prescrevendo uma receita. Batem na porta.
CAROLINA - Pode entrar!
Olga
entra no consultório. Carolina fica surpresa. Olga se senta a frente de
Carolina.
CAROLINA - (cont.) A senhora por aqui?
A que devo a honra de sua ilustre visita, Dona Olga?
OLGA - Pode ficar tranquila que
eu não vim trazer nenhuma criança, até porque os meus já estão grandes, da sua
idade!
As
duas riem/
OLGA - (cont.) Mas
agora falando sério... Carol, você estudou, é amiga da Cecília, será que não
poderia me ajudar em uma coisa?
CAROLINA - Pode falar, dona Olga...
Se estiver ao meu alcance, com toda certeza!
OLGA - Eu estou estranhando muito
as atitudes da Cecília. Ontem ela chegou tarde em casa. O Tadeu não é de se
estranhar, pois além de ser homem, sempre gostou de sair! Agora a Cecília? É
muito estranho ela terminar com o namorado, e agora estar chegando em casa
tarde da noite... Eu estou muito preocupada!
CAROLINA - Realmente é de se
estranhar, mas a senhora não deve ficar preocupada com as atitudes de uma
menina de dezenove anos... Apesar de ter estudado com a Cecília, ela sempre foi
mais infantil, e parece que só agora cresceu... Dona Olga, o que eu fiz na
minha adolescência, ela está fazendo agora aos dezenove anos!
Olga
pensativa. Carolina observa sua reação/
OLGA - Vendo por esse lado você
tem razão! Muito obrigada, Carol!
CAROLINA - Agora, pode ficar
tranquila, qualquer coisa que eu ficar sabendo, eu vou logo te contar... Não
esconderei nada, tudo bem?
OLGA - Sim! Obrigada, meu anjo!
Agora eu preciso ir... Papai me pediu para comprar algumas coisinhas no mercado!
Olga
sai do consultório. Carolina fecha a porta/
Corta para:
CENA
26/ EMPRESA PASTEUR/ DIA/ INT./ RECEPÇÃO.
Ambiente
requintado. Gioconda (recepcionista, cabelos presos, uniforme, olhos
arregalados e castanhos) sentada a frente de um balcão. Olavo (cabelos
grisalhos, olhos castanhos e cruéis, terno preto), com um retrato nas mãos, se
aproxima da bancada/
GIOCONDA - O que é isso que você tem
na mão, Olavo?
OLAVO - É uma foto... A foto do
amor da minha vida, Gioconda!
Olavo
vira a foto para Gioconda, que se assusta/
GIOCONDA - (sussurrando) Você
tá maluco? Vai ficar por aí andando com a foto da filha da patroa na mão...
Você sabe o que pode acontecer!
OLAVO - (sussurrando) Fique
tranquila... Eu arrumei um jeito de amansar a fera... Descobri um segredo dos
cabeludos... Rebecca que me aguarde!
Corta para:
CENA
27/ EMPRESA PASTEUR/ DIA/ INT./ PRESIDÊNCIA.
Rebecca,
com uma expressão nada agradável, sentada em sua cadeira, a frente da mesa.
Olavo entra na sala de Rebecca. Ela se assusta/
REBECCA - Como você pode ter a
audácia de entrar na minha sala assim, sem se quer avisar?!
OLAVO - Então é melhor ir se
acostumando... Isso será constante a partir de agora!
REBECCA - (confusa) Ham?
Como assim?
OLAVO - Acabou o show, Rebecca...
Você está D-E-S-M-A-S-C-A-R-A-D-A!
Olavo
se aproxima de Rebecca, que engole seco.
OLAVO - (sussurrando) Pensou
que esse seu sórdido lazer nunca iria ser descoberto?
REBECCA - Mas do que você está
falando?
OLAVO - Eu já sei que você é uma
assassina! Sei que você mata pessoas por puro prazer!
Rebecca
dá um tapa na cara de Olavo, que se vira com um sorriso cínico.
REBECCA - (com raiva) Canalha!
OLAVO - O que eu quero é muito
simples... Apenas o seu apoio para ter o coração de Carolina!
REBECCA - Você já é casado... Eu não
quero confusão com a Valéria!
OLAVO - Se eu conseguir ganhar o
coração da sua filha, eu irei me separar da Valéria, e esse segredo irá morrer
no meu túmulo!
Os
dois se encaram. Olavo se retira da sala. Rebecca vai até a porta. Olavo
conversando “em off” com Gioconda. Rebecca começa a escutar/
OLAVO - (em off) Pronto!
Consegui! Agora eu preciso ir... Hoje a noite preciso ir à casa da Carol... Vou
fazer o possível para ter uma noite de amor com ela!
Rebecca
volta, e pega seu celular em cima da mesa. Ela disca/
REBECCA - (tel.) Alô?! Carolina?!
Então... O seu pai estava se queixando de dores de cabeça hoje de manhã... Eu
estou um pouco preocupada, mas tenho uma reunião muito importante às oito da
noite. Será que teria como você ficar com ele pra mim? (pausa) Ótimo! Ótimo! Então fica combinado assim! As oito eu vou à
reunião e você fica lá em casa com o seu pai! Tchau!
A
CAM. FOCA em Rebecca, com os olhos vermelhos, simulando ódio.
Corta para:
CENA
28/ STOCK-SHOTS/ DIA-NOITE.
Sonoplastia: SOM DE PIANO ACELERADO,
COM TOM DE MISTÉRIO.
Imagens
aéreas do anoitecer no Rio de Janeiro.
CENA
29/ MANSÃO DE CAROLINA/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Ambiente
sem iluminação. A porta se abre lentamente. Olavo aparece, e estranha. Ele
acende a luz/
OLAVO - Será que ela não vai
dormir em casa hoje?
Olavo
olha a sua volta, e apaga a luz em seguida.
OLAVO - (cont.) Acho
melhor eu ir esperá-la no quarto!
Olavo
sobe as escadas. Novamente a porta se abre. Um ranger mais sombrio, com um
pequeno eco. Rebecca acende a luz. Ela, lentamente, coloca uma luva preta, mas
rapidamente pega uma faca de sua bolsa. Rebecca apaga a luz. Um barulho de uma
pessoa que desce as escadas.
OLAVO - Tem alguém aí?
Olavo
acende a luz. Rebecca sentada no sofá. Olavo se assusta. Ela com um sorriso
cínico/
REBECCA - Surprise!
OLAVO - Você? Aqui?
Rebecca
se levanta e fica de frente a Olavo. Ele assustado/
OLAVO - Por favor... Não faça nada
comigo! Eu juro que não falo nada pra ninguém!
REBECCA - Anda... Corra! Ainda dá
tempo! Frouxo!
Rebecca
dá uma gargalhada/
REBECCA - (cont.) Eis que lhe digo o
mesmo que me falastes hoje... Eu mato por prazer! Ah, e sem me esquecer...
Realmente... É... Realmente esse segredo morrerá no seu túmulo! Que tal se
fizesse isso de uma vez?
Rebecca
vira sua faca, que está as suas costas. Olavo sente a sombra e se vira para
ela.
Rebecca,
espumando ódio, enfia a faca na barriga de Olavo, que coloca a mão na barriga e
vai caindo aos poucos. Olavo cai no chão, e morre, com os olhos abertos.
REBECCA - Parabéns! Conseguiu me
fazer voltar ao mundo do crime... Há muito tempo eu não matava alguém com as
minhas próprias mãos!
Rebecca
tira a faca da barriga de Olavo, pega em sua bolsa um pano, e coloca a faca
novamente em cima da barriga de Olavo. Ela sai correndo da casa, em seguida/
Corta para:
CENA
30/ MANSÃO DOS PASTEUR/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Carolina
sentada no sofá. Orlando ao seu lado. Os dois se divertem. Carolina mostra
preocupação/
CAROLINA - Você não acha que a mamãe
está demorando demais? Já é meia-noite... Eu já não sei o que fazer, amanhã
tenho que trabalhar!
Rebecca
entra ofegante e preocupada em casa. Carolina e Orlando a observam. Ela beija
os dois/
REBECCA - Mil desculpas, Carolina...
A reunião demorou mais do que o previsto... Você acredita que um dos acionistas
ficou me questionando, quanto ao projeto de críticas do novo book que estamos
preparando! Cara ridículo... Enfim, não quero te segurar aqui... Muito
obrigada, filha!
CAROLINA - De nada, mãe... Qualquer
coisa!
REBECCA - Está bem, minha filha!
Obrigada!
CAROLINA - Agora eu realmente preciso
ir!
CORTE
IMEDIATO PARA A PRÓXIMA CENA/
CENA
31/ MANSÃO DE CAROLINA/ NOITE/ INT./ SALA DE ESTAR.
Local
totalmente escuro. Carolina entra ainda na escuridão. Apenas o barulho de seu
salto. Ela acende a luz. A CAM. FOCA no rosto de Carolina, assustada, pálida.
CAROLINA - Mas o que é isso?! O que
aconteceu aqui?
A
CAM. vai andando e localiza o corpo de Olavo, todo ensanguentado, estirado no
chão.
Carolina,
em off, grita.
FADE OUT.
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