segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Capítulo 01: Castelo de Cartas

ESTREIA

CENA 01/INTRODUÇÃO
Cena embalada por um instrumental de mistério, mas ao mesmo tempo calmo.
Vê-se um bebê sendo colocado nas mãos de uma jovem mulher, cujo rosto não é revelado. Ouvem-se gritos, tiros, choro, desespero.
A cena é narrada por Lima Duarte.
NARRAÇÃO – Quem abre o coração a ambição, fecha-o a felicidade.
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CENA 02/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA DE JANTAR/NOITE
    Toda a família Trindade está reunida. Otávio na cabeceira, Ingrid ao seu lado direito, Lucas ao lado da avó e Maria Fernanda na outra cabeceira.
    As empregadas observam o jantar comemorativo.
OTÁVIO (levanta-se) – Eu gostaria de propor um brinde a minha filha, Maria Fernanda, que hoje completa seus 50 aninhos!
MARIA FERNANDA – Papai, mas que falta de educação dizer minha idade!
    Todos riem e levantam-se, brindando as taças.
INGRID – Não é pra ter vergonha da sua idade, minha filha. Foram 50 anos de vida que se passaram e graças a Deus você tem saúde e está firme e forte para viver mais 50. Eu já tive a sua idade, agora falta você ter a minha.
LUCAS – E essa data não podia passar em branco. Eu trouxe um presente pra mãe mais linda do mundo!
    Lucas, o filho de Maria Fernanda, entrega uma caixa de presente para a mãe.
MARIA FERNANDA – Ai, obrigada filho!
    Fernanda beija Lucas, que novamente se senta. A empregada Madalena se aproxima.
MADALENA – O que será que tem dentro dessa caixa?
MARIA FERNANDA – O que tem ou o que deixa de ter, não é da sua conta, ô gafanhoto da favela.
OTÁVIO – Fernanda, minha filha. A Madalena só te fez uma pergunta, não precisa ser grosseira com ela.
MARIA FERNANDA – Estes são assuntos da família Trindade, não da criadagem. Madalena, já que você não tem nada pra fazer, vai pegar uma taça daquele vinho branco que eu mandei você comprar hoje de manhã.
MADALENA – Sim, senhora.
    Madalena vai até a cozinha.
INGRID – Bem, são as emoções não é? Mas voltando pro nosso jantar, eu ainda não dei um abraço de parabéns na minha filhinha querida.
MARIA FERNANDA – É o que eu estou esperando.
    Mãe e filha se levantam e dão um abraço amoroso. A empregada Madalena observa tudo da cozinha, desconfiada.
OTÁVIO – Bem, então vamos cantar os parabéns?
MARIA FERNANDA – Ai, papai! “Parabéns pra você” é tão démodé, tão piegas. Mas já que a tradição é essa, vão em frente.
    Toda a família Trindade começa a cantar parabéns.
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CENA 03/EXT./RIO DE JANEIRO/RUA/NOITE
    (Sonoplastia: Kátia Flávia – Fausto Fawcett)
Kátia Flávia, a namorada de Lucas, anda desengonçada pela rua, quase caindo do salto.
KÁTIA FLÁVIA - Ai, eu vou chegar atrasada no jantar de aniversário da minha sogrinha. Tudo por causa dessa maldita chave que resolveu se esconder debaixo do sofá e me deixou horas procurando.
    Kátia Flávia passa em frente a um mendigo.
MENDIGO - Ô, lá em casa!
KÁTIA FLÁVIA - Te enxerga, espanto da meia-noite. Nem casa você tem. Só podia ser mendigo mesmo, não tem capacidade nem pra fazer uma cantada que preste.
MENDIGO - Revoltou, madame? Vem aqui do meu lado que quando os nossos corações se encontrarem, você fica calminha.
KÁTIA FLÁVIA - O que vai se encontrar é o meu punho com o teu olho. Vê se me esquece, ô criatura decadente.
    Kátia Flávia vai embora.
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CENA 04/INT./SALÃO DE EVENTOS/PASSARELA/NOITE
    Acontece um desfile de moda. Em meio a vários flashes e palmas, modelos desfilam com as mais modernas roupas.
    Chega a vez de Vitória Vasconcellos, uma conhecida modelo do Rio de Janeiro que já fez desfiles internacionais.
    A modelo veste um vestido branco com um grande decote e com bainha diagonal. Todos aplaudem. Vitória volta para o camarim.
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CENA 05/INT./SALÃO DE EVENTOS/CAMARIM/NOITE
    Ao chegar no camarim, Vitória senta-se na cadeira e olha-se no espelho rodeado por pequenas lâmpadas. O estilista responsável pelo desfile entra.
ESTILISTA - Vitória, você foi esplêndida! Eu disse esplêndida!
VITÓRIA - Que bom que você gostou, Jean. Eu dei o melhor de mim. Bom, eu vou tirar esses dois quilos de maquiagem que já tá coçando na minha cara.
ESTILISTA - Entendo, meu amor. Mas se faz tudo pela arte, não é? Beijinho!
    O estilista sai.
VITÓRIA - Mais um sucesso de desfile! Obrigado, meu Deus!
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CENA 06/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA DE JANTAR/NOITE
    A família Trindade continua comemorando o aniversário de Maria Fernanda. Kátia Flávia chega.
KÁTIA FLÁVIA – Oi, família!
    Todos olham para ela.
KÁTIA FLÁVIA – Gente, mil desculpas por ter me atrasado. É que eu perdi a chave de casa, depois eu tive uma discussão com um mendigo. Enfim, mas eu tô aqui não tô? E quem é a sogrinha mais linda desse mundo?
    Kátia Flávia abraça Maria Fernanda.
KÁTIA FLÁVIA – Só 50 anos de vida. Nossa, nem parece. Com essas ruguinhas que estão saltando do seu rosto, parecem 60.
LUCAS – Kátia Flávia, menos! Bem menos!
KÁTIA FLÁVIA – Ai, eu nem falei com você, amoreco. Boa noite, Luquinhas!
    Kátia Flávia beija Lucas.
KÁTIA FLÁVIA – Dona Ingrid, seu Otávio. Tudo bem com vocês também? Ah, comigo tá tudo ótimo. Vocês acreditam que a minha prisão de ventre foi embora? Foi só tomar aquele remedinho que passa na televisão e foi tiro e queda.
    Madalena chega da cozinha com o vinho.
MADALENA (servindo) – Tá aqui o vinho.
KÁTIA FLÁVIA – Ai, que bom que você veio, doméstica. Eu já ia te chamar pra pegar uma lixa de unha. Sabe como é, eu não tive tempo de cuidar dos meus dedinhos. Pega pra mim, amor?
MARIA FERNANDA – Não ouviu a garota, Madalena? Faz o que ela tá te mandando!
    Madalena vai até o quarto.
INGRID – Bom, Kátia Flávia. Eu acho que você chegou atrasa demais. O jantar já estava acabando.
OTÁVIO – É verdade. Daqui a pouco a mesa já vai estar tirada e...
KÁTIA FLÁVIA (interrompe) - Como assim acabando? Meus queridos, quando Kátia Flávia chega a festa só começa.
LUCAS – Com licença, eu vou pro meu quarto.
KÁTIA FLÁVIA – Ai, Luquinhas. Logo agora que o vinho branco chegou? Ô sogrinha, de que marca é? Ih, dessa marca aqui não presta, o vinho fica com gosto de mijo. Mas já que é o que a gente tem pra hoje, eu me contento com isso. Lucas, eu vou colocar uma taça pra você.
    Lucas senta-se novamente.
KÁTIA FLÁVIA – Eu vou colocar só um pouquinho, tá? Vinho demais também faz mal.
    Kátia Flávia enche a taça inteira e ainda derrama o vinho na mesa.
LUCAS – Isso é só um pouquinho, Kátia Flávia? Então eu não quero nem ver quando for bastante.
    Madalena chega com a lixa de unha.
MADALENA – Aqui está a lixa que você me pediu. Mais alguma coisa?
KÁTIA FLÁVIA – Olha, não é nada pra pedir, não. Mas eu tô te achando muito submissa, muito pra baixo. Você tem que achar um namorado, tá precisando de noites mais animadas, mais calientes. Você ainda consegue?
    Madalena fica sem-graça.
INGRID – Bem, agora quem perdeu o apetite fui eu. Me deem licença.
    Ingrid sobe as escadas e vai para o seu quarto.
KÁTIA FLÁVIA – Ué, foi alguma coisa que eu disse?
    Todos olham para Kátia Flávia.
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CENA 07/INT./CASA DE ARTURO/SALA/NOITE
    Arturo, um senhor idoso, está sentado na poltrona assistindo leilão de boi. Ele veste um pijama azul e uma touca de mesma cor.
ARTURO – Mas quem diabos vai comprar esse boi aí? Só tem pele, nem carne tem. Estão perdendo tempo anunciando isso aí.
    Nenê, a filha de Arturo, sai do quarto e entra na sala.
NENÊ – Assistindo o leilão de boi, papai?
ARTURO – Não, eu tô assistindo o programa da Xuxa.
NENÊ – Ai, papai. Não precisa ser grosso, eu só fiz uma pergunta.
    Nenê começa a sentir um cheiro estranho.
NENÊ – Papai, você tá sentindo esse cheiro?
ARTURO – Agora que você falou, eu tô sentindo também.
NENÊ – Parece cheiro de... cocô.
    Nenê olha para Arturo e vê suas calças todas sujas.
ARTURO – Tá olhando o que, Nenê? Nunca me viu?
NENÊ – Papai, você se borrou todo!
ARTURO – Então era por isso que eu tava sentindo essa poltrona meio fria e melequenta.
NENÊ – Não era a poltrona, era você. Papai, você esqueceu de pôr suas fraldas!
ARTURO – Fazer o quê? Você tava na casa de uma tal de Sandra e eu não sou contorcionista pra colocar minhas fraldas sozinhas. Agora deu no que deu.
NENÊ – Sandra...
ARTURO – Sim, a Sandra mesmo. Mas não mude de assunto, minha filha. A culpa de eu estar todo sujo desse jeito é sua, viu?
NENÊ – Papai, você tá precisando de alguém pra cuidar de você quando eu não estiver aqui.
ARTURO – Você quer dizer uma babá?
NENÊ – Exatamente. E eu até já sei quem vai ser essa babá.
ARTURO – Nenê, eu não sou um moleque pra precisar de babá. Eu não...
    Nenê sai de casa.
ARTURO – Nenê? Filha, volta aqui! Poxa, me deixou falando sozinho. É uma falta de educação tremenda.
    Arturo volta a assistir televisão.
ARTURO – Mas como assim venderam o boi? Quem foi o idiota que comprou esse bendito boi?
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CENA 08/INT./CASA DE ROSICLER/SALA/NOITE
    Társis, um adolescente rebelde de 19 anos, e Nínive, uma meiga garota de 17 anos, assistem TV em sua casa.
NÍNIVE – Társis, você não acha que já tá na hora de tirar desse canal de porradaria? Eu acho que a novela já começou.
TÁRSIS – Olha a minha cara de preocupado.
NÍNIVE – Chato como sempre. Me dá aqui esse controle!
    Nínive vai para cima de Társis e tenta pegar o controle remoto. Começa uma confusão. Rosicler, a mãe dos dois, chega em casa cheia de sacolas.
ROSICLER – Mas que confusão é essa, meu Deus do céu? É só eu sair dois minutinhos que esses dois aprontam todas.
TÁRSIS – Pra mim esse dois minutinhos tão mais pra duas horinhas.
ROSICLER – Não mude de assunto, Társis! Vocês já são bem grandinhos pra ficarem brigando feito duas crianças, viu? Qual é o motivo da vez?
NÍNIVE – O Társis tá assistindo esse campeonato de karatê faz um tempão e...
TÁRSIS (interrompe) – Não é karatê, é muay-thai.
NÍNIVE – Tanto faz, tudo isso mostra um monte de homem suado sem camisa brigando.
ROSICLER – Homem suado? Partiu ver karatê!
TÁRSIS – É muay-thai, já falei.
ROSICLER – Que seja. Társis, meu filho, tem como dar zoom no tanquinho desse lutador?
NÍNIVE – Mãe, você tá me ouvindo? O Társis não deixa eu assistir o que eu quero.
ROSICLER – Tá bom, Nínive. Depois mamãe te dá o dinheiro, agora deixa eu assistir esse festival de tigrões.
NÍNIVE – Fala sério, mãe! Você também já é bem grandinha pra ficar babando por homem.
TÁRSIS – Eu não acho. Como dizem por aí, panela velha é que faz comida boa.
NÍNIVE – Mas e o papai? Você ainda é casada com ele legalmente, mãe.
ROSICLER – O seu pai já morreu, minha filha. Eu sou viuvíssima da silva.
NÍNIVE – Errado! O papai não morreu, ele só ainda não voltou do garimpo pra onde ele disse que ia.
TÁRSIS – Você acha mesmo que ele ia passar 13 anos num garimpo sem dar nem sinal de vida? Fala sério, Nínive. Você é ingênua demais.
NÍNIVE – Vocês não entendem nada mesmo!
    Nínive sobe as escadas e vai para o seu quarto, com raiva.
ROSICLER – Gostoso! Lindo! Ô aqui em casa!
    Társis ri da mãe.
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CENA 09/INT./CASA DE VITÓRIA/SALA/NOITE
    Vitória chega em casa após a noite de desfile. A modelo senta-se no sofá e suspira.
VITÓRIA – Enfim, lar doce lar!
    Vitória vê um retrato de seus pais.
VITÓRIA – Papai, mamãe... que saudade de vocês. Mas de onde quer que vocês estejam, eu espero que tenham orgulho de mim. Eu amo vocês!
    Vitória beija o retrato e o põe novamente no lugar.
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CENA 10/INT./MANSÃO TRINDADE/QUARTO INGRID/NOITE
    Ingrid está deitada em sua cama. Lucas bate na porta.
LUCAS – Vó? Posso entrar?
INGRID – Pode sim, meu amor.
    Lucas entra e senta-se na cama.
LUCAS – É a Kátia Flávia, não é?
INGRID – Do que você está falando?
LUCAS – Vó, eu sei que a minha namorada é muito inconveniente e não bate bem da cabeça. Mas eu não entendi o que ela te fez pra você sair daquele jeito da mesa.
INGRID – Não, não foi nada que a sua namorada falou. Eu realmente perdi o apetite.
LUCAS – Tem certeza? Não quer desabafar nada, vó?
INGRID – Lucas, o que eu posso te dizer é apenas uma frase famosa. Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode supor a nossa vã filosofia.
LUCAS – E o que isso quer dizer?
INGRID – Você só vai descobrir isso vivendo, encaixando as peças desse grande quebra-cabeça que é a vida, montando esse castelo de cartas. Mas muito cuidado, porque se bater um vento, o castelo vai cair!
    Ingrid levanta-se, dá um beijo no neto e vai embora. Lucas fica pensativo.
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CENA 11/INT./MANSÃO TRINDADE/SALA/NOITE
    Maria Fernanda está sentada no sofá. Kátia Flávia arruma as coisas para ir embora.
KÁTIA FLÁVIA – Ai, sogrinha, esse seu jantar foi top do top! Uma chiqueza só. Eu já tô indo embora, só vou esperar meu namorado descer pra dar um beijo de despedida nele.
    Nesse momento, Ingrid desce as escadas.
INGRID – Pois pode esperar sentada, garota. O Lucas resolveu ficar um pouco sozinho, refletindo, o que é muito bom pra ele.
KÁTIA FLÁVIA – Ah, então sendo assim, manda um beijo pra ele, tá? Tchau!
    Kátia Flávia vai embora. Otávio entra na sala.
OTÁVIO – Folgada essa menina, hein? Onde será que o Lucas arrumou essa daí? Hahaha.
MARIA FERNANDA – Num hospício, só pode. Mais louca que essa daí eu não conheço.
    Ouve-se o som de um prato quebrando.
MARIA FERNANDA – Retiro o que eu disse. Quem foi a louca irresponsável que quebrou o prato?
    Fernanda vai até a cozinha.
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CENA 12/INT./MANSÃO TRINDADE/COZINHA/NOITE
    Madalena está apavorada por ter quebrado um prato. Maria Fernanda chega.
MARIA FERNANDA – Só podia ter sido você mesmo, hein Madalena? Incompetente! Pode ter certeza que o seu salário vai diminuir esse mês!
MADALENA – Desculpa, dona Maria Fernanda. Foi sem querer, eu juro.
MARIA FERNANDA – Eu não quero suas desculpas. Eu quero que você limpe essa sujeira que você fez agora!
MADALENA – Sim, senhora.
    Madalena se ajoelha e começa a juntar os cacos do prato.
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CENA 13/INT./CASA DE ARTURO/QUARTO/NOITE
Arturo está sentado na cama. Nenê chega do banho.
ARTURO - Nenê, minha filha. Eu já disse que eu não preciso de babá nenhuma! Eu sei me cuidar.
NENÊ – Será que sabe mesmo? Não foi isso que eu vi lá na sala. Papai, você precisa de alguém pra cuidar de você. A minha amiga Sandra tava atrás de um emprego e eu vou já ligar pra ela perguntando se ela aceita ser sua babá.
ARTURO – Aposto que essa Sandra é uma tribufu, mais feia que a Gretchen acordando.
NENÊ – Vamo ver se o senhor vai continuar achando isso.
Nenê mostra uma foto de Sandra em seu celular.
ARTURO – Por falar em Gretchen, a minha congalaconga deu uma animada!
    Nenê ri.
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CENA 14/EXT./RJ/CLIPE DE IMAGENS/NOITE-DIA
    (Sonoplastia: Agora eu já sei – Ivete Sangalo)
    Amanhece no Rio de Janeiro. Clipe com várias imagens da cidade maravilhosa. O Cristo Redentor é visitado por muitas pessoas. Uma mulher caminha empurrando um carrinho com seu bebê. Um homem faz caminhada no calçadão de Copacabana. O bondinho se mexe. Um casal se beija. Um homem passa vendendo água de coco na praia.
    (Sonoplastia: Fade Out – Agora eu já sei)
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CENA 15/EXT./PRAIA DE COPACABANA/DIA
    Lucas anda de mãos dadas com Kátia Flávia pela areia da praia.
KÁTIA FLÁVIA – Luquinhas, meu amor, eu amei essa sua ideia de me trazer na praia. Eu tava mesmo precisando ver gente, me divertir, enfim.
LUCAS – Eu também tava precisando vir aqui refletir um pouco, pensar na vida.
KÁTIA FLÁVIA – É impressão minha ou você tá com algum problema? Não vai dizer que é comigo. Foi alguma coisa que eu fiz? Porque se for eu te peço...
LUCAS (interrompe) – Não, Kátia Flávia, não é nada com você. É coisa minha mesmo, sabe? Vamo sentar?
    Kátia Flávia faz que sim com a cabeça. O casal se senta em cadeiras coloridas, debaixo de um guarda-sol.
    Do outro lado da praia, Vitória caminha de biquíni.
VITÓRIA – Nada como curtir uma praia depois de mais um sucesso de desfile. Eu preciso descarregar, ficar mais leve, deixar a vida me levar.
    Vitória mergulha no mar.
    De longe, Lucas avista Vitória e, logo atrás, uma lancha em alta velocidade.
LUCAS – Kátia Flávia, é impressão minha ou você também tá vendo aquela lancha andando rápido demais?
KÁTIA FLÁVIA – Agora que você falou, eu também tô reparando. Mas por que a preocupação? Pode ficar tranquilo que as chances de a lancha vir para a areia são mínimas, amoreco.
LUCAS – Não é isso, Kátia Flávia. É que uma moça mergulhou ali e a lancha tá muito próxima dela.
KÁTIA FLÁVIA – Ah, mas com certeza ela percebeu a lancha. Ela não é doida de entrar na frente e morrer atropelada.
LUCAS – Será?
    Lucas continua observando.
    A lancha é pilotada por um homem bêbado ao lado de seu amigo. Enquanto isso, Vitória nada nas águas do mar de Copacabana, sem perceber a lancha em alta velocidade. A lancha acaba atropelando Vitória, que fica desacordada.
LUCAS – A garota foi atropelada!
KÁTIA FLÁVIA – E não é que o motorista tava alucicrazy mesmo? Mas não se preocupa, que o salva-vidas já deve estar indo.
LUCAS – Nada disso. A moça tá correndo perigo de vida.
    Lucas tira a camisa, corre até o mar e salva Vitória. Ele traz a moça carregada até a areia, onde a deita e começa a fazer respiração boca-a-boca. O motorista bêbado da lancha aproveita a oportunidade e foge.
KÁTIA FLÁVIA – Respiração boca-a-boca? Fala sério, Lucas!
    Vitória vomita a água.
LUCAS – Você tá bem?
    Vitória olha para Lucas fixamente.

FIM DO CAPÍTULO

Um comentário:

  1. Sensacional *-----*
    Esse garoto é um prodígio... Parabéns Rennan! :3

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