CENA
01/INT/HOSPITAL/SALA/DIA
FADE IN.
Vitória deitada numa maca.
Lucas e um médico em pé, esperando ela acordar.
LUCAS - Foi grave, doutor?
MÉDICO - Não, nada grave. Ela só
deve ter tido uma tontura. O que eu recomendo é só repouso mesmo.
LUCAS - Menos mal! Vitória abre
os olhos lentamente.
MÉDICO - Olha só, ela já tá
acordando. Vitória, tá tudo bem?
VITÓRIA - Ai, que tontura! Onde é
que eu tô?
LUCAS - No hospital. Você
desmaiou no meio do desfile, então eu te trouxe pra cá e o doutor...
MÉDICO - Astolfo!
LUCAS - O doutor Astolfo disse
que o desmaio é decorrido de uma tontura, e pelo que você falou parece que foi
só isso mesmo.
VITÓRIA - É, eu tô meio tonta sim.
Ainda dá tempo de voltar pro desfile, doutor?
MÉDICO - Nada disso! Você tem que repousar
pra evitar um novo desmaio. Aliás, essa vida de modelo é o que provavelmente
causou a tontura. Você se alimenta pouco pra manter o corpo magro, não é?
VITÓRIA - Bom, ser magra é um dos
requisitos pra entrar na agência em que eu trabalho.
MÉDICO - É, mas é preciso maneirar
nas dietas. Olha só o que aconteceu.
LUCAS - Isso mesmo. Sem desfile
por uns dias.
VITÓRIA - Eu já posso ir pra casa,
doutor?
MÉDICO - Primeiro você vai receber
um soro. Me acompanhe, por favor.
Lucas ajuda Vitória a se
levantar. Ela e o médico saem. Lucas suspira.
Corta
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CENA 02/INT./MANSÃO
TRINDADE/QUARTO LUCAS/DIA
Continuação da penúltima
cena do capítulo anterior.
MARIA FERNANDA - Anda, menina, responde!
Quem é você?
ANGÉLICA - Angélica Maria
Torremolinos, encantada. E você, quem é?
MARIA FERNANDA - Eu não te devo satisfação
de quem eu sou. Quem te deixou entrar?
ANGÉLICA - Ninguém, eu entrei
escondida. Angélica olha para Kátia Flávia.
KÁTIA FLÁVIA - Tá olhando o quê? Nunca viu sua mãe de calcinha e sutiã
não?
ANGÉLICA - Já. Mas ela não fica
tirando a roupa pela casa igual uma safada.
KÁTIA FLÁVIA - Olha que desaforo! Quem
te ensinou isso? Menininha feia!
ANGÉLICA - Você é bem infantil, né?
KÁTIA FLÁVIA - Eu quero ver se você vai
pensar isso quando eu te der umas boas palmadas, sua/
MARIA FERNANDA - (corta) Ei, as duas crianças vão
parar com a rixa ou não? Menina, como é que você entra escondida nas casas
alheias?
ANGÉLICA - Entrando, ué. Mas na
verdade, a minha tia trabalha aqui. Isso me dá o direito de entrar e sair
quando quiser, certo?
MARIA FERNANDA - Claro que não, pirralha.
Quem é sua tia?
ANGÉLICA - O nome dela é Madalena.
MARIA FERNANDA - Só podia ser... Vai,
menina, vai embora! Some da minha frente!
ANGÉLICA - Calma, sua mal-educada.
Não vai nem me convidar pra um cafezinho?
MARIA FERNANDA - Vaza! Angélica vai
embora.
KÁTIA FLÁVIA - O que aconteceu?
MARIA FERNANDA - O que vai acontecer é a
pergunta, minha cara.
Corte
descontínuo.
Madalena e Maria Fernanda
frente a frente.
MADALENA - Despedida? A senhora não
pode fazer isso!
MARIA FERNANDA - Não só posso como estou
fazendo. A casa é minha, meu pai deixou no meu nome, lembra? Agora pode arrumar
seus trapinhos e ir pro olho da rua!
MADALENA - Maria Fernanda, eu não
tenho mais onde trabalhar. Como eu vou me sustentar?
MARIA FERNANDA - Pensasse nisso antes de
deixar sua sobrinha sair toda serelepe por aí invadindo as casas dos outros.
Construção silábica: Ra-re-ri-ro-rua! Rua, Madalena!
(Sonoplastia: Blues da
Piedade - Cazuza)
Madalena sai, chorando.
CENA 03/EXT./RIO DE
JANEIRO/RUA/DIA
SONOPLASTIA CONTINUA.
SLOW MOTION. Madalena
caminha chorando. Angélica ao seu lado, esboçando arrependimento. (Music fade)
Corta
para:
CENA 04/INT./SHOPPING/ESTACIONAMENTO/DIA
Greg leva Rosicler para
dentro do carro. Nenê estranha.
NENÊ - Quem é essa, totoso?
GREG - É a Rosicler, uma amiga
minha.
ROSICLER - Ah, pra que essas
formalidades, Greg? Nós somos mais que/
GREG - (corta) É... então... Você se machucou?
ROSICLER - Nada, foram só uns
arranhãozinhos. Mas se você cuidasse de mim eu não ia reclamar nem um pouco.
SOBE SONOPLASTIA:
"MUITO GELO E POUCO WHISKY - MÁRCIA FELLIPE"
NENÊ - Ei, que assanhamento é
esse pra cima do meu namorado?
ROSICLER - Como assim seu namorado?
Ele é meu ficante, nós tivemos uma noite alucinante. Ui, me arrepio só de
lembrar.
NENÊ - Uma noite? Que história é
essa, Gregório?
As duas procuram Greg. Ele
está correndo, já longe.
ROSICLER - (grita) Pega ele!
As duas saem correndo atrás
dele.
FADE OUT SONOPLASTIA.
Corta
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CENA 05/INT./EMPRESA
TRINDADE/SAGUÃO/DIA
Vários funcionários
desempenhando suas funções. Entra Maria Fernanda.
MARIA FERNANDA - Boa tarde, alforriados!
Vocês devem lembrar que ontem eu anunciei que sou a nova dona da Trindade e que
viria fazer uma vistoria. Pois bem, cá estou. Vamos começar aqui embaixo.
Maria Fernanda olha todos os
móveis, passando o dedo e esfregando. Ela encontra um vaso quebrado.
MARIA FERNANDA - Quem é o responsável por
isso?
Silêncio.
MARIA FERNANDA - Respondam, infelizes! Quem
foi que quebrou esse vaso? Uma faxineira vai até Maria Fernanda.
FAXINEIRA - Fui eu, dona Fernanda.
MARIA FERNANDA - Ah, então foi você. E não
tinha nada melhor pra fazer do que sair por aí quebrando os vasos da empresa?
Até porque você não é paga pra isso.
FAXINEIRA - Mas senhora, foi uma boa
intenção. Eu ia colocar o vaso numa posição mais interess/
MARIA FERNANDA - (corta) De boa intenção o inferno
tá cheio, minha querida! Espero que você não quebre nada na sua casa quando
chegar lá com suas contas.
FAXINEIRA - O que a senhora quer
dizer?
MARIA FERNANDA - Você é burra? Tá
despedida, amor! Bye, bye!
FAXINEIRA - A senhora não pode fazer
isso. Eu tenho seis filhos pra sustentar!
MARIA FERNANDA - Ah, que dó. Aproveita e
vai trabalhar na Jontex pra ter vergonha na cara.
FAXINEIRA - (ajoelha) Eu suplico, dona Fernanda,
não faça isso! Pelo amor de Deus!
MARIA FERNANDA - (fria) Sai daqui.
FAXINEIRA - Por favor, eu/
MARIA FERNANDA - (grita) Fora daqui! Fora! Fora! Xô
da minha empresa! Vai embora! Sai! Sai daqui!
Maria Fernanda chuta a
faxineira, que sai, humilhada.
MARIA FERNANDA - E isso serve de exemplo
pra vocês, tão me ouvindo? Essa é a segunda pessoa que eu demito hoje e eu
terei o maior prazer em ter que despedir uma terceira. Olho vivo!
Fernanda entra no elevador.
A faxineira chora no ombro de outro empregado.
NO ELEVADOR
Maria Fernanda aperta em um
botão. O elevador para.
MARIA FERNANDA - O que é isso? Alguém me
tira daqui! Socorro! Maria Fernanda bate nas paredes do elevador.
Corta
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CENA 06/INT./CASA DE
ARTURO/SALA/DIA
Arturo entra com sacolas na
mão. Para um minuto.
ARTURO - Que silêncio!
Ele olha em volta.
ARTURO - Ihhh, isso tá me
cheirando a sem-vergonhice. Kátia Flávia, tu não tá trepando não, né?
Silêncio.
ARTURO - Kátia Flávia, cadê você?
Tá na cozinha?
Arturo vai até a cozinha,
põe as sacolas em cima do balcão e olha. Ninguém. Volta para a sala.
ARTURO - Cadê essa menina, minha
gente?
Arturo procura por todos os
cantos da casa.
ARTURO - Mas só pode ser um
milagre! Pela primeira vez em anos eu tô sozinho em casa! Aleluia! Aleluia!
(Sonoplastia: Le Freak -
CHIC)
Arturo se esbalda.
DIVISÃO DE QUADRO.
Arturo tira a roupa e fica
só de cueca, come pipoca, suja a casa, dança em cima da mesa de centro. Sandra
entra.
SANDRA - Seu Arturo, o que
significa isso?
Sonoplastia cessa
rapidamente.
Sandra olha fixamente para
Arturo.
Corta
para:
CENA
07/EXT./HOSPITAL/FRENTE/DIA
Vitória e Lucas saem do
hospital.
LUCAS - Que susto, hein dona
Vitória? Inventou de desmaiar bem no meio do desfile.
VITÓRIA - E só de imaginar que eu
não posso mais desfilar por uns tempos já me dá uma tristeza.
LUCAS - Você sabe que é pro seu
bem, não sabe?
VITÓRIA - Eu sei, fofo!
Lucas dá um selinho em
Vitória.
VITÓRIA - Que é isso, safado? Você
tá muito saidinho pro meu gosto!
LUCAS - Ué, mas a gente não tá
namorando?
VITÓRIA - Estamos? Ué, sabe que eu
não recebi nenhum pedido...
LUCAS - Não seja por isso.
Lucas ajoelha e pega a mão
de Vitória.
VITÓRIA - Lucas, logo aqui?
LUCAS - Vitória Vasconcelos, você
aceita namorar comigo?
Vitória ri.
VITÓRIA - Claro que eu aceito!
Lucas levanta e os dois se
beijam.
Corta
para:
CENA 08/EXT./RIO DE
JANEIRO/STOCK SHOTS/DIA-NOITE
(Sonoplastia: Agora eu já
sei - Ivete Sangalo)
Anoitece. Começa uma fina
garoa.
Corta
para:
CENA 09/INT./EMPRESA
TRINDADE/SAGUÃO/NOITE
MUSIC FADE.
Um técnico arruma o
elevador.
MARIA FERNANDA - (off) Vamos logo com isso! Eu já
tô há três horas aqui dentro!
TÉCNICO - Calma senhora, o processo
não é tão rápido assim.
MARIA FERNANDA - (off) Mas pra parar o elevador
foi num estalar de dedos, não é verdade?
TÉCNICO - Mas eu não tenho culpa se
o elevador deu falha. Agora pode ir se acalmando que eu já consertei.
A porta do elevador abre e
Maria Fernanda sai.
MARIA FERNANDA - Finalmente, hein? Me diz
o que aconteceu nessa joça. Por que parou de funcionar de uma hora pra outra?
TÉCNICO - Na verdade eu não sei,
até porque eu só consegui abrir o elevador, mas ele continua parado. Deve ser
problema no sistema.
MARIA FERNANDA - Sistema, sistema,
sistema! Técnico só fala no tal do sistema, eu hein. Enfim, eu vou dar um jeito
de arrumar um técnico de verdade pra consertar o elevador. Você tá dispensado!
O técnico sai. Os
funcionários ficam olhando para Fernanda.
MARIA FERNANDA - Tão olhando o quê? Já
enjoei da cara chata de vocês.
Fernanda sai.
Corta
para:
CENA 10/INT./CASA DE
ROSICLER/SALA/NOITE
Rosicler sentada no sofá ao
lado de Nínive e Danilo.
NÍNIVE - Duas mulheres? Então o
seu ficante é bígamo?
ROSICLER - Exatamente, minha filha.
Pra você ver como homem não presta!
DANILO - Ei!
ROSICLER - Toda regra tem sua
exceção, Dandan. E aqui, o que aconteceu durante o dia?
NÍNIVE - O Danilo inventou de
trabalhar, acredita? Mas eu disse pra ele que não precisa e ele acabou não
indo.
DANILO - Depois do ocorrido com o
Társis eu até esqueci.
ROSICLER - Társis? Ah não, ele
voltou pra cá?
DANILO - Veio, dona Rosicler. Veio
buscar umas coisas.
NÍNIVE - Pode ter vindo buscar
algumas coisas, mas o juízo esqueceu dentro da gaveta. Ele partiu pra cima do
Danilo, mãe!
ROSICLER - O quê? Eu não posso
acreditar. E por que ele bateu no pobre do Danilo?
(Sonoplastia:
A Thousand Years - Cristina Perri)
Danilo e Nínive coram.
NÍNIVE - Eu e o Danilo... a
gente...
DANILO - Ah, eu lembrei que... que
eu tenho que fazer alguma coisa lá no quarto. Fui!
Danilo sobe as escadas.
ROSICLER - Ih, já vi tudo. Prevejo
casalsinho novo. Bom, mas eu quero esquecer de tudo, pra amanhã matar aquele
desgraçado do Greg!
Fade out sonoplastia.
Corta
para:
CENA 11/INT./CASA DE
ARTURO/SALA/NOITE
Nenê, Greg, Sandra e Arturo
- já vestido - de pé.
NENÊ - Dançando de cueca? Papai,
você não tem mais idade pra isso.
ARTURO - Dançar na minha casa eu
não posso, mas passar o dia fora com um certo presente de grego...
SANDRA - Onde você tava, Nenê? E
cadê aquela... quadrúpede?
NENÊ - Da Kátia Flávia eu não
sei, mas quanto a mim, eu estava no shopping com o Gregório.
GREG - É... eu já vou indo...
NENÊ - Nananinanão! Você vai
ficar aqui, seu safado. Papai, você acredita que o elemento tem uma amante?
ARTURO - Como é que é? Ah, bem que
eu sempre suspeitei. Olha aqui, meu rapaz, a minha filha ninguém desrespeita!
CORTE DESCONTÍNUO.
Arturo com um chicote na mão
e Greg, só de cueca, pendurado em um prego da parede. Arturo chicoteia todo o
corpo dele.
ARTURO - (chicoteando) Isso é pra você aprender a
ter vergonha, seu safado! A minha filha é mulher direita, entendeu? Filho da
mãe!
GREG - Pelo amor de Deus, para!
Ai! Seu Arturo, para!
SANDRA - Seu Arturo, é bom o
senhor parar! Isso não faz bem pro seu coração.
ARTURO - Não se preocupa, Sandra,
mais tarde é a sua vez de levar umas chicotadas. Enquanto isso, eu me contento
dando uma lição nesse sem-vergonha.
Arturo continua chicoteando
Greg.
Corta
para:
CENA 12/INT./CASA DE
MADALENA/QUARTO/NOITE
Madalena chora. Angélica
entra.
ANGÉLICA - Tia Madá, a senhora tá
chorando? Madalena limpa as lágrimas.
MADALENA - Chorando? Claro que não,
Angélica. De onde você tirou isso?
ANGÉLICA - Por favor, tia Madalena,
me desculpa. Eu só queria conhecer uma mansão de perto. Eu nunca pensei que a
senhora seria despedida.
MADALENA - Fique tranquila,
Angélica. A minha preocupação não é com o trabalho. É muito pior!
Corta
para:
CENA 13/INT./MANSÃO
TRINDADE/SALA/NOITE
Ingrid e Lucas no sofá.
INGRID - Namorando? Mas e a Kátia
Flávia?
LUCAS - Nós terminamos faz muito
tempo, vó. Agora eu só tenho olhos pra Vitória.
INGRID - Eu te desejo muita
felicidade nesse relacionamento, meu filho. Mas vem cá, e a empresa? Vamos
conversar a respeito do que podemos fazer pra tirar a Fernanda do topo?
LUCAS - Claro, claro. Eu vou
pedir pra Madalena trazer um cafezinho, aceita?
INGRID - Aceito, meu querido.
LUCAS - Madalena, traz dois
cafés, por favor! Maria Fernanda entra.
MARIA FERNANDA - Não adianta chamar,
Lucas. A Madalena não vai trazer o seu café.
INGRID - Como assim, Fernanda? O
que aconteceu com a Madalena?
MARIA FERNANDA - Eu a demiti.
Fernanda sorri. Fecha em
Ingrid aflita.
FIM DO CAPÍTULO
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