segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Capítulo 8: Magia Sensata

O neto de Tito e Josefina fica surpreso com a cena, e fala:
– Acho melhor eu voltar aqui depois. Desculpa atrapalhar.
– Não está acontecendo nada, Augusto. Fique aqui. – pede Ângela.
– Tem certeza, Ângela? – pergunta Augusto.
– Tenho. – responde Ângela – Vamos lá para o quarto onde eu estou.
Augusto e Ângela vão ao quarto em que ela está hospedada e Gustavo observa os dois pela abertura da maçaneta.
– O que você veio fazer aqui, Augusto? – questiona Ângela.
– Eu vim saber se você está bem.
– Estou sim.
– Me senti culpado por você ter brigado com seu pai.
– Não, Augusto, você não tem nada  a ver com isso.
– Eu quero também esclarecer o que aconteceu ontem na praça. A Leia estava desequilibrada, é mentira dela.
– Não quero falar sobre isso agora.
– Tudo bem, mas você vai ficar aqui agora?
– Sim. O Gustavo me salvou daquele monstro do Jorge.
– Eu preciso voltar pro meu trabalho, só vim ver como está mesmo.
– Obrigada por se preocupar comigo. – agradece Ângela, dando um beijo na testa de Augusto.
Augusto abraça Ângela e sai da casa de Gustavo.

***
Na mansão de Jorge Albuquerque, ele está sentado na sala principal e uma empregada aproxima-se, falando:
– Doutor Jorge, tem um rapaz lá fora querendo preencher a vaga que o senhor estava oferecendo para ser um faz tudo seu.
– Faz tudo não, a vaga é de assistente particular para atividades diversas. Mais respeito, por favor.
– Desculpe. Ele pode entrar?
– Sim. Leve-o até meu escritório, irei recebê-lo lá.
– Ok. Com licença. – fala a empregada, saindo da sala.
Minutos depois, no escritório da mansão, Jorge encontra-se sentado e Fabrício Reis entra no cômodo não muito grande, mas repleto de estantes com livros.
– Boa tarde. Qual o seu nome, rapaz? – pergunta Jorge.
– Boa tarde, doutor Jorge. Meu nome é Fabrício, Fabrício Reis.
– Prazer, Fabrício. – diz Jorge, cumprimentando o rapaz com um aperto de mãos.
– O prazer é meu.
– Você estaria interessado em ser o meu assistente particular para atividades diversas?
– O que eu teria que fazer? Seria um capacho?
– Bem, na linguagem popular, mais ou menos isso. Você serviria como meu segurança, motorista, e também para fazer uns trabalhinhos.
– Por mim, ótimo. Qual seria meu pagamento?
– Toda essa quantia por mês, além dos extras pelos serviços. – fala Jorge, entregando um envelope cheio de dinheiro para Fabrício, que fica surpreso e feliz.
– Então, eu mais que aceito.
– Que bom. Você mora aqui em Pitenópolis?
– Sim, mas eu me mudei tem pouquíssimo tempo. Estou hospedado em um quarto da mansão de Hanna Curie.
– Tem filhos ou mulher?
– Não. Só tenho um irmão, mas já adulto também. Ele divide o quarto comigo.
– Tudo bem. Vou precisar que durma aqui na mansão às vezes.
– Ok.
– Preciso que você encontre uma pessoa para mim aqui em Pitenópolis e o mais rápido possível. O nome dela é Regina. – exige Jorge, dando uma foto de Regina a Fabrício.
– Pode deixar, doutor Jorge. Mas o que eu faço quando encontrá-la?
– Traga essa vagabunda para cá. Você vai no meu carro, põe ela dentro dele e traz para cá.
– Mas como eu vou fazer isso sem ninguém me ver?
– Se vira!
– E se ela estiver acompanhada?
– Dá um sustinho na outra pessoa.
– Ok.
– Vá rápido.
Fabrício sai rapidamente da mansão dos Albuquerque, e coloca um capaz no seu rosto.

***
Ao passearem um pouco por Pitenópolis, Olga e Regina procuram um táxi em Pitenópolis para visitarem Bulires. Fabrício, dentro de carro de Jorge, avista Regina e olha novamente para a foto dada por Jorge percebe que se trata da mesma pessoa. As duas amigas estão próximas à casa dos Albuquerque. O irmão de Marcos sai do carro e se aproxima das duas, chegando por trás delas, e atinge Olga com um pedaço de pau encontrado no chão. O mais novo empregado de Jorge dá uma paulada em Regina também e coloca a empresária dentro do carro de seu patrão.

***
Após almoçar na pensão de Hanna Curie, Marcos caminha pela cidade atrás de um emprego e encontra um cartaz escrito ''contratamô jovens pra trabaiá, Fazenda Leite de Porca''. Interessado com a oferta, Marcos pergunta para algumas pessoas na rua o caminho para chegar até a fazenda Leite de Porca. Depois de caminhar pelas ruas estreitas de paralelepípedo, ele finalmente chega à fazenda e se depara com um portão de madeira antigo, com a tinta desgastada, alguns detalhes de ferro enferrujados e uma placa com o nome ''Leite de Porca''. Marcos aperta a campainha, mas ela não funciona, então ele toca o sino existente um pouco acima do portão. Dentro de casa, Rumina ouve o sino e olha pela janela. Ao ver de longe um rapaz forte, barbudo e alto, Rumina não pensa duas vezes, se lembra da previsão de Hanna, e corre para a entrada da fazenda.
– O que faz aqui, gato? – pergunta Rumina, se insinuando para Marcos.
– Eu vi o cartaz sobre o trabalho. É aqui mesmo?
– Sim. Entra, querido. – fala Rumina, com seu sotaque caipira típico.
– Qual o seu nome, senhora?
– Rumina Sete Palmos, mas não me chame de senhora.
– Ok, dona Rumina. Eu sou Marcos. Como seria esse trabalho?
– Então, aqui nós criamos vários animais, aí teria que cuidar deles, como alimentar, lavar, ... E também limpar a fazenda e outras coisas simples.
– E o pagamento?
– Aí depende da sua produção. Se ocê fizer tudo certinho, ganha três mil real. Mas aí também tem o dinheiro se ocê vender os bichos, aí entra mais.
– Entendi. Então quando eu começo?
– Só se for agora, fofo.
– Quem é ocê, cabra? – pergunta Eufrásio, aproximando-se de Rumina e de Marcos.
– Olá. Meu nome é Marcos, eu vim atrás de um emprego, porque eu vi um cartaz lá na cidade.
– Ah, sim.
– Ele vai trabalhar aqui, Eufrásio. Já acertamos.
– Tá. Pode começar limpando o chiqueiro porque tá uma imundice.
– Não, ainda não, Eufrásio. Eu pensei em algo melhor: ele pode buscar os nossos bichos lá na casa daquelas bruxinhas.
– Boa ideia, Rumina. Então faça isso, cabra. Traga nosso corvo e nossos dois porcos que elas roubaram.
– Não conheço essas bruxinhas. – fala Marcos.
– São Mary Leh e Jenny Franc. Pergunta na rua que todos conhecem essas duas. – aconselha Rumina.
– Tudo bem. Até mais. – fala Marcos, saindo da fazenda Leite de Porca.

***
Após sair de casa e almoçar, Gustavo está no seu caminho de volta para a loja Vinhos Albuquerque, porém encontra sua mãe Olga caída numa calçada.
– Mãe! Acorda! – grita Gustavo, abraçando a mãe.
Olga acorda com os gritos do filho e fica tonta:
– Onde estou? Gustavo?
– Oi mãe. O que houve? – pergunta Gustavo, chorando.
– Não sei direito. Alguém fez eu desmaiar. Cadê a Regina?
– Não sei.
– Devem ter levado ela.
– Quem?
– Não sei, filho. Quero ir para casa.
– Vamos então.
Gustavo leva a mãe para casa. Chegando lá, ela senta no sofá e Ângela fica preocupada:
– O que aconteceu?
– Ela desmaiou na rua. – conta Gustavo.
– Cadê a minha mãe?
– Não sei, Ângela. – fala Olga, cansada.
– Deve ter sido o meu pai, aquele canalha. Eu vou lá naquela mansão agora.
– Não, Ângela. Você não tem como provar isso e se ele pegou a sua mãe, você pode ser a próxima.
– Eu vou lá sim. – fala Ângela, saindo da casa.
Gustavo envia uma mensagem de texto, pelo celular, para Leia avisando que não voltará mais, por ter que ficar cuidando da mãe.

***
No porão da mansão Albuquerque, Jorge está sentado numa cadeira e Fabrício chega, carregando Regina, que acorda.
– Jorge, seu filho de uma quenga, me tira daqui! – grita Regina, irritada.
– Acho melhor você ficar com sua boca bem fechadinha, Regina. Quanto mais você falar, mais tempo vai ficar aqui.
– O que você quer de mim, traste?
– A sua parte na Vinhos Albuquerque.
– Eu não vou te dar a minha parte nem que a vaca tussa.
– Então vai ficar aqui por um bom tempo. Só vai sair se me passar a sua parte de graça.
– Eu vou te destruir, seu monstro.
– Vamos ver quem vai destruir quem aqui.
– Quem ri por último ri melhor, Jorge!
– Está me ameaçando, Regina?
– Entenda como quiser.
– Se ficar de palhaçada, trago a Ângela junto e não vai ser para coisa. – diz Jorge.
– A Ângela tem prova para entrar na faculdade. Não faça isso com ela, seu ogro.
– Cadê a Olga, minha amiga? – pergunta Regina, sem obter respostas.
– Fabrício, amarre essa cadela e coloque uma fita na boca dela. – ordena Jorge a Fabrício.
Fabrício obedece Jorge e faz o que ele manda. Os dois saem do porão e Regina fica lá sozinha, na escuridão.

***
Marcos chega à casa de Mary Leh e Jenny Franc rapidamente, após perguntas para algumas pessoas na rua, e bate na porta repetidas vezes, até que Mary aparece, dizendo:
– Quem é você?
– Eu vim buscar o corvo e os porcos da fazenda Leite de Porca que vocês levaram. – fala Marcos.
Ouvindo o que Marcos diz, Jenny aproxima-se do rapaz, coloca a mão em seu ombro e fala em tom baixo, próximo a sua orelha:
– Vamos entrar, bonitão!
Marcos, Jenny e Mary entram na casa, que está bem desarrumada e com várias roupas espalhadas pelo chão.
– Está quente aqui, não acha? – fala Jenny, tirando sua blusa.
– Eu estou bem. – responde Marcos.
Mary Leh pega um suco para Marcos, porém coloca um sonífero, para ele dormir. O irmão de Fabrício adormece rapidamente com o suco e é colocado na calçada da rua, porém somente de cueca. 

***
Chegando ao portão da mansão Albuquerque, os seguranças não deixam Ângela entrar, porém ela ameaça demiti-los, então eles acabam liberando sua entrada, sem mesmo consultar Jorge. Ao entrar na sala da casa, a jovem encontra Jorge e seu mais novo empregado, Fabrício.
– Então esse que é o seu novo capacho, doutor Jorge?
– O que você está fazendo aqui, garota?
– Quer que eu prenda ela, Jorge? – pergunta Fabrício a Jorge em tom baixo, mas Ângela ouve.
– Quer me prender, querido, igual fez com a minha mãe?
– Do que você está falando, Ângela?
– Não se faça de sonso, Jorge. Cadê a minha mãe?
– Se você não sabe onde ela está, por que eu saberia?
– Vou nem te responder. Eu quero procurá-la por aqui então.
– Tudo bem. Pode revirar a casa e aproveita e leva as suas coisas e dela daqui.
Ângela anda por todos os cômodos da casa, recolhe as suas coisas e de sua mãe, colocando-as em malas, porém não encontra Regina. Ao voltar para a sala, Jorge pergunta:
– Viu? Ela não está aqui!
– Eu vou voltar.
– Tudo bem. Agora vaza daqui. – fala Jorge.
Ângela sai da casa, carregando suas malas e bolsas.

***
Uma hora depois de ser colocado na calçada, Marcos acorda, percebe como está, bate na porta da casa de Jenny e Mary, mas as duas jogam, da janela do segundo andar, um balde de água fria, e Mary fala:
– Lindo, fala pros seus patrões que aqueles animais já eram. Não é problema nosso eles serem trouxas. Até mais.
– Beijo, me liga. – diz Jenny, rindo.
Mary e Jenny fecham a janela, e Marcos sai correndo em direção à pensão para pegar novas roupas. Chegando lá, Hanna e Cléo, que descansam entre os atendimentos como cartomantes, ficam assustadas e Cléo assobia para ele.
– O que houve, Marcos? – pergunta Hanna.
– Nada não, Hanna.
– Claro que aconteceu algo. Conte.
– Depois eu falo. Preciso me vestir. – fala Marcos, que logo vai ao seu quarto.
Minutos depois, Marcos volta, já com suas roupas, porém nem conversa com Hanna e Cléo, já que as duas atendem algumas pessoas.

***
Após procurar a mãe em diversos lugares da cidade, Ângela retorna à casa de Olga e Pietro. Quando chega, Pietro está ao lado de sua esposa, que pergunta à Ângela:
– Encontrou algo sobre sua mãe, Ângela?
– Não. Fui na mansão, mas revirei aquilo tudo e ela não está lá. Trouxe as nossas coisas para cá. Tem algum problema?
– Claro que não. – responde Pietro.
– Amanhã eu vou à delegacia. Você pode me acompanhar, Gustavo? – pergunta Ângela, triste.
– Claro. – diz Gustavo, abraçando Ângela, que chora.

***
A tarde vai passando rapidamente e o Sol, se escondendo aos poucos. Na loja da Vinhos Albuquerque, Leia, sozinha já que Gustavo está cuidando de sua mãe, atende alguns clientes e escuta-os conversando sobre as previsões de Hanna Curie. Interessada nas previsões sobre o futuro, principalmente amoroso, a vendedora organiza a loja rapidamente e a fecha, indo diretamente à pensão da ex-cafetina. Chegando lá, Leia entra numa pequena fila, mas em poucos minutos é chamada por Cléo. Ao entrar na sala, em que já estavam Hanna e Cléo, Leia pergunta à Hanna, de forma bem direta:
– Hanna, vou direto ao ponto: eu vou ficar com o Augusto?
– Calma, querida. Primeiro irei consultar as cartas. – responde Hanna, que logo pega as cartas.
– E aí?
– Bem, aqui fala que você vai ficar com um rapaz bonito e jovem, mas esse relacionamento vai durar pouco, pois há uma pedra no caminho.
– Não sei se esse rapaz é geólogo, mas ele vai se apaixonar pela pedra. – fala Cléo, rindo.
– Qual o nome dele?
– Isso eu não posso fornecer.
– Por quê? – pergunta Leia.
– Porque vai além das minhas capacidades.
– Então eu vou indo.
– Antes me pague, querida! – lembra Hanna.
– Ah sim, havia me esquecido. – diz Leia, pagando Hanna e depois sai da pensão.
Hanna decide encerrar as atividades.
– Cléo, vamos parar. Estou cansada. – fala Hanna, rindo.
– Também estou.
Hanna fecha a sala e avisa às pessoas da fila para voltarem no dia seguinte. A dona da pensão vai à cozinha e começa a preparar algumas comidas, com a ajuda de Josefina e Sofia.

***
De volta à fazenda Leite de Porca, Marcos fala com Rumina:
– Dona Rumina, aquelas duas me seduziram e me deixaram só de cueca e molhado no meio da rua.
– Ui. Quem me dera estar lá. – fala Rumina, em tom baixo.
– O que foi, muié? – pergunta Eufrásio.
– Nada não, Eufrásio.
– Marcos, vá limpar o chiqueiro então. E ande logo porque está escurecendo. – ordena Eufrásio.
– Tudo bem. – fala Marcos, que vai limpar o chiqueiro.

***
Depois de um dia de trabalho como advogado na Vinhos Albuquerque sem a presença de Regina e Jorge no escritório, Álvaro, em seu quarto na pensão, liga para a casa de Mary e Jenny.
– Alô? – fala Álvaro.
– Oi. Quem fala? – pergunta Mary Leh.
– Álvaro, aqui da pensão da Hanna Curie. Que horas vocês aparecerão aqui?
– Oi, gato. Pode ser daqui a mais ou menos meia hora? – pergunta Mary.
– Sim. Os dois bandidos já estão ali fora de tocaia.
– Tá bom. Tchau, até daqui a pouco. – fala Mary, desligando.

***
Em sua casa, Aurora começa a preparar o jantar. Leia chega rapidamente, em silêncio, e pergunta:
– Jonas não voltou do trabalho não?
– Ele foi sair com uns amigos.
– Ah, sim.
Guilherme, filho de Aurora e Jonas, brinca em frente à televisão, porém se sente estranho e vai à cozinha, falar com a mãe e com Leia, que também está lá.
– Mãe, eu estou ouvindo vozes estranhas! – fala o menino, com medo.
– Devem ser da televisão, meu amor. – diz Aurora.
– Não, mamãe. São duas vozes: uma fala para eu fazer as coisas boas e a outra quer me levar para o lado ruim.
– Acho melhor procurar algum especialista, Aurora. – sugere Leia.
– Mas quem?
– As irmãs Jenny e Mary.
– Bem pensado, Leia. – diz Aurora – Filho, vou te colocar para dormir depois do jantar.
Aurora termina de cozinhar e coloca as comidas na mesa. Leia, Aurora e Guilherme jantam. Quando terminam, Aurora vai com o filho ao quarto dele e Leia arruma a cozinha.

***
Dentro do horário combinado, Mary e Jenny chegam à fachada da pensão. Max e Carmen também estão lá. Dentro da pensão, pelas janelas, Sofia, Hanna, Álvaro, Augusto, Tito, Josefina, Marcos e vários outros hóspedes observam a cena. As irmãs começam o ritual falso, porém um tiro é disparado e atinge Max, deixando todos assustados.





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