Capítulo 7: Dancin Days

CENA 01. COPACABANA. PRAIA. EXTERIOR. NOITE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.

JULIANA ABALADA. CADÚ A SEGURANDO PELOS PULSOS.

CADÚ – Por favor, calma. (A segurando) Eu não vi. Me desculpa. Me perdoa!

JULIANA (Chora) Cara... Você é um irresponsável!

JULIANA ABAIXA-SE E CHORA ABRAÇADA AO CACHORRO, COM FRACA RESPIRAÇÃO.

CADÚ – Vamos levar ele para um veterinário. Eu conheço um aqui perto.

JULIANA LENTAMENTE RECOLHE O ANIMAL DO CHÃO, COM CUIDADO. CADÚ JÁ ABRINDO A PORTA TRASEIRA DO VEÍCULO. JULIANA COLOCA O CACHORRO DENTRO DO CARRO. OS DOIS EMBARCAM E O CARRO SAI DALI RAPIDAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 02. CLÍNICA VETERINÁRIA. INTERIOR. NOITE

CLÍNICA VAZIA PELO HORÁRIO. NA RECEPÇÃO, JULIANA EM PÉ, COM A PERNA ENCOSTADA NA PAREDE. CADÚ, SENTADO, OLHANDO PARA ELA.

CADÚ – Poxa, me desculpa de verdade. Eu não vi. Eu saí de casa atolado de problemas e acabei não vendo nada na minha frente.

JULIANA OLHA PARA ELE, SE APROXIMA.

JULIANA – Isso se chama irresponsabilidade! Você já pensou se ao invés de um cachorro fosse uma pessoa, uma criança?

CADÚ – Eu sei. Eu sou advogado, eu tenho consciência.

JULIANA – Vocês ricos acham que por “serem” alguma coisa, estão acima do bem e do mal. Tenho nojo de todos vocês.

JULIANA SE VIRA. CADÚ SE LEVANTA.

CADÚ – Nossa, me desculpa, mas eu não sou assim. Eu não me acho melhor do que ninguém por ter dinheiro ou por ser de alguma família que tenha uma renda melhor. (Pausa) Eu tenho minha consciência e sei muito bem o que é certo e o que é errado. Eu sei que não deveria estar dirigindo igual louco naquela velocidade e que fiz errado, mas agora devo ser punido por isso?

JULIANA SE VIRA COM LÁGRIMAS NOS OLHOS. OS DOIS PRÓXIMOS.

JULIANA – Sabe por que eu to tão sensibilizada? Porque eu de certa forma me sinto igual aquele cachorro... Se ele fosse um cachorro de raça, de madame, bonito, todo escovado, não ia aparecer ninguém para lhe fazer mal, nunca aparece. Mas por ser vira-lata, fica por aí, pelas ruas, sem proteção. Sofrendo toda a sorte de situações. Eu me sinto um pouco como aquele cachorro, essa noite.

CADÚ SENSIBILIZADO TENTA SE APROXIMAR DELA. JULIANA VIRA O ROSTO. VAI ATÉ A RECEPCIONISTA.

JULIANA – A cirurgia vai demorar muito ainda?

RECEPCIONISTA – Não sei, senhora.

JULIANA BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE E VAI PARA UM CANTO. FICA OLHANDO PARA O EXTERIOR DA CLÍNICA. CADÚ EM SEGUNDO PLANO, OLHANDO PARA ELA. NOS DOIS.

CORTA PARA:

CENA 03. PRÉDIO DE ALBERICO. TERCEIRO ANDAR. INTERIOR. NOITE

CLOSE NA PORTA DO APARTAMENTO 301. UMA MÃO FEMININA, COM UNHAS VERMELHAS, BATE LEVEMENTE NA PORTA. INSTANTES. CONRADO ABRE A PORTA, APENAS DE BERMUDA JEANS. CÂM REVELA GUIDA DO OUTRO LADO DA PORTA.

GUIDA – (Sorri maliciosa) Olá.

CONRADO – Boa noite. Quem é você?

GUIDA – Boa noite até você abrir a porta, agora a noite tá maravilhosa. (Ri/ Se controla) Eu sou sua vizinha. Vim aqui me apresentar e trazer um pudim de leite pra você. De Boas-vindas.

CONRADO SORRI. PEGA O PUDIM.

CONRADO – Poxa, obrigado. Você também mora aí no 302?

GUIDA – Não, não. Eu moro um pouco abaixo. Ali no 105.

CONRADO – E subiu até o terceiro andar apenas pra me dar boas-vindas?! Como o pessoal do Rio de Janeiro é solícito.

GUIDA – Mas se eu visse que valia tanto a pena assim mesmo, eu subiria até o terraço, meu amor, cê não tá entendendo!

CONRADO RI. GUIDA TAMBÉM. OLHA O CORPO DELE MALICIOSA. DO APARTAMENTO 302, SAI PAULINA. COM UMA TRAVESSA EM MÃOS.

PAULINA – Oi boa noite, Conrado.

CONRADO – Boa noite... Paulina né?

PAULINA – (Sorri) Não esqueceu meu nome, danadinho.

CONRADO SORRI, AINDA CONSTRANGIDO. GUIDA PERCEBE A TRAVESSA.

GUIDA – Quê isso, Paulina? Piquenique no corredor?

PAULINA – Não é pro seu bico isso aqui! (Sorri para Conrado) Fiz um pavê especialmente pra você, Conrado. Meu pavê de boas-vindas.

CONRADO – Hoje então eu vou estourar de tanto doce. É pudim, é pavê!

PAULINA – Ah, essa daí também trouxe doce é?

GUIDA – Querida, eu não trouxe doce. Eu sou o próprio doce!

PAULINA – Doce estragado, né?

GUIDA E PAULINA SE ENCARAM, DE FRENTE. CONRADO SE DIVERTE COM A SITUAÇÃO.

CONRADO – Tá bom, meninas. Eu agradeço muito esse carinho de vocês, mas agora tá tarde e eu preciso trabalhar amanhã, tudo bem?

PAULINA – Ai tá tão cedo, Con!

CONRADO – (Ri) Con?

GUIDA – Cedão, Rado! Podemos ainda bater um papo, tomar um vinho, ouvir uma musiquinha gostosa. Adoro Anitta, você curte?

CONRADO APENAS RI.

PAULINA – Sai pra lá, Guida. O Conrado não tem cara que ouve Anitta.

GUIDA – Hum, ouve o que então? Choppin?

AS DUAS SE ENCARAM, COMO SE FOSSEM SE ATACAR. FÁTIMA APARECE DA PORTA.

FÁTIMA – Hei! O que tá acontecendo aqui?

GUIDA E PAULINA AINDA SE ENCARAM. FÁTIMA SE APROXIMA.

FÁTIMA – É só deixar as duas soltas no corredor que isso aqui vira canil. Vem, Paulina. Entra.

PAULINA – Ô dona Fátima.

FÁTIMA – (Corta) Vamos, vamos. (À Conrado) Desculpa. Elas estão loucas. Não sei o que tá acontecendo. Deve ser o efeito El Niño.

GUIDA – (Olha Fátima) É o efeito El Gostoniño mesmo.

GUIDA SE ACABA DE RIR. TODOS OLHAM SEM GRAÇA PARA ELA. GUIDA PARA E ENCARA CONRADO.

GUIDA – Eu já to indo, viu, Rado... Mas amanhã eu volto, pra gente tomar aquela coisinha que tínhamos combinado.

PAULINA – A única coisa que você vai tomar é veneno de rato, sua vaca.

GUIDA – E você vai tomar uns tapas, ô Maria Raspa Xepa!

AS DUAS VÃO SE PEGAR E FÁTIMA SE PÕE NA FRENTE.

FÁTIMA – (Tom alto) Chega! Pelo amor de Cristo!

FÁTIMA PEGA PAULINA PELO BRAÇO E VAI LEVANDO PARA CASA.

FÁTIMA – Desculpa Conrado. Desculpa mesmo.

CONRADO – Boa noite, gente.

CONRADO FECHA A PORTA. GUIDA FICA ALI, BUFANDO.

GUIDA – Ótimo. Perdi a minha noite de sexo selvagem by Discovery Planet.

NELA, BUFANDO.

CORTA PARA:

CENA 04. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE AMANDA. INTERIOR. NOITE

AMANDA PASSA UM CREME NAS PERNAS, ENQUANTO CONVERSA COM DANTE, SENTADO NA CAMA.

AMANDA – Eu pensei em uma festa inesquecível. Afinal é a maioridade da Mariana. Quero que saia em capa de revista especializada. Vou chamar a Chá com Pimenta.

DANTE – Você não acha que mais uma vez tá exagerando não?

AMANDA OLHA COM CARA DE POUCOS AMIGOS PARA ELE.

AMANDA – É o aniversário de dezoito anos da minha filha, não deixaria passar em branco.

DANTE – É da minha filha também, e nem por isso eu quero fazer uma festa em Júpiter e levar os convidados fretados em um jatinho particular para lá. Por favor, Amanda, faça uma coisa mais íntima. Só para os amigos.

AMANDA – Não! Que saco essa sua idéia de que menos é mais. Menos é mais onde? Só se for na vida do pobre, onde menos dinheiro é mais problema. Me erra, Dante!

DANTE FAZ EXPRESSÃO DE DESAGRADO. AMANDA GUARDA O CREME NO BANHEIRO DA SUÍTE. VOLTA.

AMANDA – É bom organizar essa festa porque assim também consigo me distrair e esquecer um pouco daquela.../

DANTE – Você então está usando essa festa para você e não pra Mariana!

AMANDA – Pode perguntar pra Mariana. Aposto que ela também iria querer uma balada concorrida para o aniversário dela e não essa reuniãozinha brega que você tanto quer organizar.

DANTE LEVANTA-SE E ENCAMINHA-SE PARA A PORTA.

DANTE – Bom vocês que sabem então. Façam o que acharem melhor e depois me comuniquem. Vou indo para o meu quarto.

DANTE ABRE A PORTA. AMANDA HESITA.

AMANDA – Dante.

DANTE – (Se vira) Fala.

AMANDA – Dorme aqui hoje?

DANTE RETICENTE. INSTANTES.

DANTE – Você sabe que...

AMANDA – (Frágil) Eu sei que não vai rolar nada entre nós. Eu só quero que você deite do meu lado. Eu to carente essa noite. Só precisava de alguém, de uma companhia. Não quero dormir sozinha.

DANTE HESITA, MAS CONCORDA. ELE FECHA A PORTA E OS DOIS SE OLHAM CÚMPLICES. NELA.

CORTA PARA:

CENA 05. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. NOITE

JAMIL E CARMINHA ASSISTINDO À UM FILME NA SALA, ENQUANTO COMEM UM BALDE DE PIPOCAS.

CARMINHA – Eu fiquei pensando muito hoje no que aconteceu.

JAMIL – Com a Juliana?

CARMINHA – Eu até posso acreditar que aquela droga encontrada no apartamento não era dela. Ela errou e tudo mais no passado, mas não acho que ela seja burra de entrar em novos problemas tão rápido assim.

JAMIL – E ela não é, meu amor. Pode acreditar. A Juliana é uma pessoa maravilhosa, de um coração enorme.

CARMINHA – Tá, não precisa ficar elogiando tanto também.

JAMIL RI. CARMINHA PRESTA ATENÇÃO NO NAMORADO, VIRA DE FRENTE PARA ELE.

CARMINHA – Eu vou falar com o papai sobre o quarto.

JAMIL – (Animado) Sério? Que coisa boa. Você não vai se arrepender, prometo.

CARMINHA – Calma. Eu vou tentar convencer o velho Alberico, mas você sabe como ele é. Não sei se ele vai assumir que precisamos alugar um quarto para podermos pagar as contas mais básicas do mês. Vou tentar convencer... Tentar!

JAMIL – Eu te ajudo. Nós vamos conseguir. Obrigado.

CARMINHA – Não tem o que agradecer. Ela é sua amiga, é como se fosse uma irmã para você, não é?

JAMIL – Você sabe que eu não levo ela lá pra casa por causa da Guida. Com aquele jeito dela...

CARMINHA – Tudo bem. E vai ser bom a Juliana lá em casa. Ela é uma pessoa bacana, tem uma conversa interessante. Vai ser bom pra mim, ter alguém para conversar além da louca da Paulina e da rabugenta da Áurea.

OS DOIS RIEM. JAMIL PEGA NO ROSTO DELA. SONOPLASTIA: “QUEM NÃO QUER SOU EU” – SEU JORGE.

JAMIL – Eu te amo. Muito.

CARMINHA – Eu também te amo.

OS DOIS SE BEIJAM.

JAMIL – Que tal pararmos com esse filme meia boca e fazer alguma coisa divertida lá no quarto?

CARMINHA – Safado.

JAMIL – Não imagina o quanto.

OS DOIS RIEM. E JAMIL VAI ARRASTANDO CARMINHA PARA O QUARTO, OS DOIS VÃO ANDANDO, ENQUANTO SE BEIJAM APAIXONADOS.

CORTA PARA:

CENA 06. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE

TOMADAS DA NOITE CARIOCA. TAKES DO CENTRO ANTIGO DO RIO. SONOPLASTIA OFF.

CORTA PARA:

CENA 07. SHOPPING. CINEMA. INTERIOR. NOITE

MOVIMENTAÇÃO NORMAL DE SHOPPING. NA ÁREA DO CINEMA, COMPRANDO PIPOCA, RAULZINHO VEM AO ENCONTRO DE INÊS, QUE MEXE NO CELULAR.

RAULZINHO – Pronto, amor. Vamos entrar?

INÊS – Vamos.

INÊS TERMINA DE RESPONDER A MENSAGEM. RAULZINHO OLHA IMPACIENTE.

RAULZINHO – Nós viemos aqui para você ficar mexendo nesse celular ou para assistir ao filme. Porque se./

INÊS ENCARA O NAMORADO.

INÊS – (Corta) Para com isso. (Olha em volta) Os outros não precisam ficar vendo essa cena de ciúmes idiota.

RAULZINHO – Não é cena. É toda vez isso. Você dá mais atenção para os outros do que pra mim, que sou seu noivo, Inês.

INÊS – (Por cima da fala) Tá, tá, tá! Chega!

IMPACIENTE PEGA A SUA PIPOCA.

INÊS – Vamos entrar logo, antes que eu desista do filme.

RAULZINHO BUFA. OS DOIS VÃO PARA A FILA. CLOSE EM UM GRUPO DE TRÊS CARAS, ELES OLHAM PARA O CASAL, PRINCIPALMENTE PARA INÊS E COMENTAM ENTRE SI. RAULZINHO PERCEBE, INCOMODADO.

RAULZINHO – (Tom) Qual é irmão? Vão ficar olhando muito pra mulher dos outros, rapá?

RAULZINHO VAI TOMAR SATISFAÇÃO, INÊS SEGURA O NAMORADO.

INÊS – (Tom baixo) Cala a boca, pelo amor de Deus! Não me faz passar vergonha, Raul!

RAULZINHO – (Irritado) Aqueles caras tavam te olhando, você é cega e não percebeu? Ou vai ver tava até gostando.

INÊS – Como é que é? (Irritada) Eu vou fingir que não ouvi o que você falou e nós vamos entrar para assistir a droga desse filme, mas da próxima vez eu te deixo aqui e vou embora. Tá me entendendo?

RAULZINHO – Você não teria coragem.

INÊS – Quer pagar pra ver?!

OS DOIS SE ENCARAM. RAULZINHO SUAVIZA E A ABRAÇA. ELA INCOMODADA. OS TRÊS CARAS, CONVERSANDO ENTRE SI. RAULZINHO OLHANDO, AINDA BRAVO, POR CIMA DE INÊS PARA ELES. NELE.

CORTA PARA:

CENA 08. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. SUÍTE DE BRUNO. INTERIOR. NOITE

BRUNO TERMINANDO DE SE ARRUMAR, SE OLHA NO ESPELHO. CELINA ENTRA NO QUARTO.

CELINA – Bruno, eu quero falar com você. (Analisa) Vai sair?

BRUNO – (Irônico) Qual a novidade?

CELINA – Enfim, eu quero que você me ajude com o seu irmão.

BRUNO – Me tira fora dessa. Não vou falar nada com ele.

CELINA – Você não vê que o seu irmão está com a cabeça feita por alguém?

BRUNO – Porque é tão difícil você aceitar que essas idéias do Cadú, ele mesmo que formou na cabeça dele? Que tudo isso é vontade dele? Para de ficar responsabilizando os outros por tudo.

CELINA SENTE AS PALAVRAS.

CELINA – Você é um inútil! Nunca serve pra nada, Bruno!

BRUNO – Ótimo. Vai começar a me elogiar? Então faz isso, aproveita e posta no FB sua indignação. Tô indo nessa.

CELINA – E vai me deixar falando sozinha?

BRUNO – Não sirvo pra te ouvir. Sou um inútil, lembra?

BRUNO SAI, BATENDO A PORTA. CELINA INSATISFEITA, DE PÉ, NO MEIO DO QUARTO.

CORTA PARA:

CENA 09. BARONESA GLAM. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

MOVIMENTAÇÃO DE JOVENS EM FRENTE Á BOATE. SOM VINDO DO INTERIOR DA CASA. FESTA JÁ INICIADA. LUZES PSICODÉLICAS NA ENTRADA. SEGURANÇA NA PORTA. VÁRIOS GRUPOS DE JOVENS NA FILA, ESPERANDO PARA ENTRAR. EM UM GRUPO, ESTÃO BRUNO, LÉO, LEILA E MARIANA.

LEILA – Hoje tem DJ internacional. Como lidar com essa ansiedade que mal chegou e já me irrita pacas?

MARIANA – (Ri) Já escutei o cara em Ibiza, é bom.

LÉO – Nossa, animada hein!

MARIANA – Não enche, Léo. Tô naqueles dias.

LÉO – Ih, Brunão. Ouviu o papo? Perdeu a chance. A gata tá de Chico (Ri muito).

BRUNO – Cala a boca, Mané!

MARIANA – Quem disse que iria fazer isso que você tá pensando, Leonardo? Se toca!

LÉO – (Levanta os braços) Hei, relaxa. Brinks! Pô, fica de boa!

BRUNO SE APROXIMA DE MARIANA. LEILA E LÉO CONVERSANDO EM SEGUNDO PLANO.

BRUNO – Mas uns beijos, rola. Não rola?

MARIANA – (Sorri) Já é!

OS DOIS SE BEIJAM COM VONTADE. LEILA TIRA O CELULAR DO BOLSO, TIRA ALGUMAS FOTOS. LÉO OLHA A CENA.

LÉO – Que bosta. Odeio ser candelabro!

LEILA – Relaxa que lá dentro tá cheio de piranha pronta pra cair no teu papinho 171.

LÉO – Ih, qualé.

LEILA RI. ELA MEXE NO CELULAR.

LEILA – Agora vou mandar no grupo uma fotinho e... Voui lá.

LÉO – Pra que isso?

LÉO OLHA O CELULAR. FREEZE EM UM GRUPO DO WHATSAPP, INTITULADO “APOLLO SPORTING”, A FOTO DO BEIJO DE BRUNO E MARIANA.

LÉO – Divulgação? Virou Sonia Abraão agora? Tá explanando porque, mina?!

LEILA – Isso foi só um tiro numa mina aí. Só pra ela se tocar que a Mari tá muito bem, obrigada.

LÉO – Ah, entendi. Tiro certo então.

LEILA FAZ SINAL DE ARMA COM UMA MÃO E ATIRA EM LÉO.

LEILA – Bang!

LEILA RI. LÉO ENTENDE, SORRI. NO BEIJO DE MARIANA E BRUNO.

CORTA PARA:

CENA 10. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. NOITE

FÁTIMA E PAULINA CONVERSAM. VITÓRIA EM UMA POLTRONA, MEXE NO CELULAR. NO GRUPO DO WHATSAPP, UMA FOTO DO BEIJO E BRUNO E MARIANA, ENVIADO POR LEILA.

VITÓRIA – Onde isso? Baronesa.

VITÓRIA ENTRISTECIDA, AMPLIA A FOTO E VÊ OS ROSTOS DO CASAL AOS BEIJOS. ELA LEVANTA-SE E VAI PARA O QUARTO, CORRENDO.

FÁTIMA – Vitória! Quê que aconteceu com ela?

PAULINA – Deve ter sido piriri. Carreguei no sal hoje.

PAULINA RI. FÁTIMA TAMBÉM. NAS DUAS.

CORTA PARA:

CENA 11. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE VITÓRIA. INTERIOR. NOITE

SONOPLASTIA: “DON´T WORRY CHILD” – BETH.

VITÓRIA ENTRA NO QUARTO, BATENDO A PORTA E JÁ SE JOGA NA CAMA.  VITÓRIA JOGA SEU CELULAR PARA O LADO E SE AGARRA AO TRAVESSEIRO, COMEÇA A CHORAR, DESOLADA.

VITÓRIA – Ele tem que ser meu. Meu!

VITÓRIA CHORA. FADE-OUT.

CORTA PARA:

CENA 12. BARONESA GLAM. INTERIOR. NOITE

FADE-IN. MÚSICA ANTERIOR TOCADA AQUI, NA CABINE DO DJ. DO ALTO, AS DUAS PISTAS LOTADÍSSIMAS. PESSOAS AGITAM COM OS BRAÇOS PARA O ALTO. CORTES DO POVO JOVEM SE DIVERTINDO, DANÇANDO, BEBENDO, BEIJANDO NA BOCA. UM CASAL MAIS LIBERAL, TRANSA NO CANTO DA BOATE. CÂM VAI BUSCAR NO MEIO DA PISTA, HENRIQUE. ELE AGARRADO À UMA LOURA TURBINADA. ELES SE ESFREGAM, ENQUANTO DANÇAM. BIBI VEM SE APROXIMANDO. FICA CHOCADA QUANDO OS ENCONTRA.

BIBI – (Tom) Henrique!

HENRIQUE SE VIRA.

HENRIQUE – Quê que foi? Não tá vendo que eu to ocupado?

BIBI – (Chocada) Mas... Quem é essa mulher?

HENRIQUE – Não sei. (Ri) Não fomos apresentados.

HENRIQUE SE VIRA PARA A LOURAÇA.

HENRIQUE – Qual teu nome mesmo?

LOURA – Patrícia.

HENRIQUE SE VIRA PARA BIBI.

HENRIQUE – Priscila, ela disse.

BIBI – Nem pra entender o nome direito. Cafajeste!

E BIBI SAI DALI RAPIDAMENTE, FURIOSA, EMPURRANDO QUEM VÊ NA FRENTE. HENRIQUE BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE E VOLTA PARA A SUA ACOMPANHANTE. NOVO BEIJO.

CORTA PARA O SEGUNDO ANDAR DA BALADA, BIBI COM UMA TAÇA DE CHAMPANHE NAS MÃOS, OLHA PARA HENRIQUE LÁ EM BAIXO. PV DE BIBI. ELA SE VIRA CONTRA A PISTA E FAZ CARA DE CHORO. SONOPLASTIA OFF.

CORTA PARA:

CENA 13. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE AMANDA. INTERIOR. NOITE

AMANDA DEITADA, COM OS OLHOS FECHADOS. DANTE AO SEU LADO, TAMBÉM DORME. CELULAR DE AMANDA TOCA. FREEZE NA TELA: BIBI.

AMANDA – (Atende) Bibi?! (Pausa) Tá aonde? (Pausa) Chorando? Fala direito, que eu não to te ouvindo, vaca!

INSTANTES. AMANDA SENTA NA CAMA. DANTE ACORDA.

DANTE – Quem é?

AMANDA – A vadia da Bibi. Sem noção ligar da balada. (Pausa/ Tel.) Fala puta! (Revira os olhos) Ai, amiga, tá chorando por causa de Henrique? Gente, sério que você me ligou pra falar de Henrique a essa hora da madrugada, e ainda por cima chorando? Ô Bibi, vá tomar vergonha na sua cara!

DANTE RI.

AMANDA – (Tel.) Mas amiga, acorda, Alice! Ele queria só uma trepada, sua jumenta! (Pausa) Não to te destratando, mas quero teu bem, mulher. Acorda pra vida, Cinderela!

E AMANDA ALI, IMPACIENTE, ESCUTANDO BIBI. DANTE ACHA GRAÇA. AMANDA CONTINUA FALANDO FORA DO ÁUDIO.

CORTA PARA:

CENA 14. CLÍNICA VETERINÁRIA. RECEPÇÃO. INTERIOR. NOITE

CADÚ E JULIANA ESPERANDO. O MÉDICO VETERINÁRIO VEM VINDO DO INTERIOR DA CLÍNICA.

JULIANA – Então, doutor?

MÉDICO – Sinto muito. Não deu pra salvar o animal. Tive que sacrificar.

JULIANA ABALADA, SE VIRA E VAI CAMINHANDO PARA A PORTA DE SAÍDA. CADÚ ATRÁS DELA.

CADÚ – Desculpa doutor e obrigado.

CADÚ VAI ATRÁS.

CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 15. CLÍNICA VETERINÁRIA. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

JULIANA SAI CHORANDO DA CLÍNICA VETERINÁRIA. A CLÍNICA FICA NA AVENIDA ATLÂNTICA, PODE-SE VER A PRAIA AO FUNDO. CARROS PASSANDO. JULIANA NA CALÇADA, INDO PARA A RUA. CADÚ ATRÁS, TENTA ALCANÇAR.

CADÚ – (Tom) Espera, moça! Espera aí!

JULIANA CONTINUA SUA CAMINHADA, RÁPIDA. NEM OLHA PARA TRÁS. CADÚ ALCANÇA E PÁRA EM SUA FRENTE.

CADÚ – Me desculpa! Eu to me sentindo muito culpado!

JULIANA – Não se sinta.

OS DOIS SE OLHAM PROFUNDAMENTE. SONOPLASTIA: “LAY ME DOWN” – SAM SMITH.

JULIANA – (Sorri forçado) Adeus!

E EMPURRA CADÚ. ELE A SEGURA. OS DOIS SE ENCARAM.

CADÚ – Deixa eu fazer algo por você. Eu quero muito. Eu preciso fazer alguma coisa por você. Vou me culpar eternamente por isso.

JULIANA – Já disse que não precisa se sentir culpado por coisa nenhuma. Você estava estressado, foi dirigir, atropelou um animal e ele morreu. Tá satisfeito? O mundo continua girando e amanhã o Sol vai nascer no mesmo horário de sempre. Viu? Nada mudou! Agora me deixa ir embora!

CADÚ NÃO SOLTA JULIANA. ELA O OLHA, ENGOLE SECO. OS DOIS SE FITANDO POR UM TEMPO. SLOW-MOTION: CADÚ EM UM IMPULSO, PUXA JULIANA PARA SI. RESPIRAÇÃO OFEGANTE DOS DOIS. ELES SE OLHAM FIXAMENTE E CADÚ A BEIJA. JULIANA RESISTE NUM PRIMEIRO MOMENTO, MAS SE ENTREGA. ÂNGULOS DIVERSOS.

JULIANA E CADÚ NO PRIMEIRO BEIJO DO CASAL. CÂM EM PLANO GERAL, FOCA NOS DOIS, EM MEIO AO CENÁRIO.

CÂM NORMAL: JULIANA SE DESVENCILHA DE CADÚ E O OLHA AINDA POR ALGUNS INSTANTES.

CADÚ – Me desculpa.

JULIANA – Parece que é só o que você sabe dizer.

JULIANA SAI CORRENDO DALI. CADÚ ATRÁS.

CADÚ – (Grita) Me fala o seu nome! Espera!

MAS JULIANA CORRE MAIS RÁPIDO. CADÚ DESISTE E FICA OLHANDO EM SUA DIREÇÃO. DO SEU PV: JULIANA CORRE SEM OLHAR PARA TRÁS. CADÚ FASCINADO, EMOCIONADO.

CADÚ – Eu preciso encontrar aquela mulher outra vez.

CADÚ SORRI. EM JULIANA, DESAPARECENDO NA AVENIDA.

CORTA PARA:

CENA 16. RIO DE JANEIRO. ÔNIBUS. INTERIOR. NOITE

JULIANA ENTRA NO ÔNIBUS, JÁ VAZIO, PELO HORÁRIO. ELA VAI ATÉ UMA JANELA, PRÓXIMA AO COBRADOR. SENTA, OLHANDO PARA O EXTERIOR DA LOTAÇÃO. MÚSICA EM ALTA. ELA, ATÔNITA, ENCOSTA A CABEÇA NO VIDRO DA JANELA. FLASHES DO BEIJO LHE VÊM À CABEÇA. JULIANA RESISTE, MAS ACABA DANDO UM LEVE SORRISO. NELA. EFEITO ESMAECENDO ATÉ FADE-OUT. SONOPLASTIA OFF.

CORTA PARA:

CENA 17. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE JANTAR. INTERIOR. DIA

FADE-IN. AMANHECEU. MESA POSTA. AGITO COMO DE COSTUME. A FAMÍLIA REUNIDA, NUM FALATÓRIO. CARMINHA SE APROXIMA DO PAI.

CARMINHA – Pai, eu quero pedir uma coisa para o senhor.

ALBERICO – Peça, Carminha. Não sendo dinheiro... (Ri).

CARMINHA – Pelo contrário.

ALBERICO – (Anima-se) Vai me dar dinheiro então?

CARMINHA – Ai, papai. Também não. É um assunto que pode trazer dinheiro para o senhor e para melhorar a nossa situação financeira.

FÁTIMA FICA EM SILÊNCIO, PRESTANDO ATENÇÃO NA CONVERSA.

ALBERICO – Então me diga. Se entra dinheiro, me interessa.

CARMINHA – Eu tenho uma amiga que precisa de um quarto para alugar, um lugar para ficar no Rio, agora que chegou de viagem. E nesse apartamento, nós temos um quarto vago.

ALBERICO – Ah, não, Carmem Lúcia! Por favor, já disse que não cheguei ao ponto de abrir uma casa de pensão nesse apartamento.

FÁTIMA – Alberico, a proposta parece ser interessante. E é amiga da Carminha. É quase como se fosse uma hospedagem.

ALBERICO – (Reluta) Não! Não aceito alugar partes da minha casa, como se estivéssemos passando fome.

CARMINHA – Papai, só não estamos passando fome, porque temos a minha renda e as ajudas do Jamil e da Áurea, porque se não...

ALBERICO – Isso! Isso mesmo! Joga na cara, filha ingrata!

PAULINA SE METE NA CONVERSA E LOGO OS OUTROS COMEÇAM A SILENCIAR.

PAULINA – Dona Carminha tá certa, seu Alberico. Alugando um quarto pra essa moça, quem sabe sobra um dinheiro pra pagar os meus atrasados, hein?

ALBERICO – Olha, Paulina, você não está aqui obrigada. Se quiser se demitir, fique à vontade.

PAULINA DÁ UMA GARGALHADA.

PAULINA – Posso me demitir a hora que o senhor quiser. Desde que pague as minhas férias vencidas e o meu relativo ao décimo terceiro.

ÁUREA – Empregada mais abusada.

GUIDA – Ih, começou o falatório da vara-pau.

ÁUREA – (Afronta) Quê que é, hein, suburbana? Você nem deveria estar aqui nessa casa, filando a comida.

GUIDA – Até bolo eu trouxe. Como o que eu quiser, aqui é terra de ninguém, minha filha!

ÁUREA – Papai!

ALBERICO COLOCA A MÃO NA CABEÇA, NERVOSO.

ALBERICO – Parem vocês todos! Eu estou com dor de cabeça só de ouvir vocês brigarem. Que disposição logo cedo.

PAULINA – Disposição essa que o senhor não tem pra trabalhar, né não?

ALBERICO LEVANTA-SE FURIOSO.

ALBERICO – Saibam vocês que eu já dei muito certo na vida! E a minha palavra é uma só: Eu não vou fazer da minha casa uma pensão. Tirem essa idéia da cabeça. Não vou alugar quarto algum!

CARMINHA TAMBÉM LEVANTA, IRRITADA.

CARMINHA – Então fique o senhor sabendo que se o senhor se recusa a ajudar a pelo menos tentar colocar uma pessoa decente, que ajude nas despesas dessa casa e quer continuar deixando tudo nas minhas costas, acabou!

FÁTIMA – O que?

CARMINHA – Isso mesmo, mamãe. Eu cansei! Não vou mais pagar nenhuma conta desta casa. Dinheirinho pra supermercado? Esquece!

CARMINHA VAI SE RETIRAR, QUANDO COMEÇA UM FALATÓRIO. ALBERICO NERVOSO.

ALBERICO – (Tom alto) Espera!

FALATÓRIO PARA. CARMINHA SE VIRA. ALBERICO RESPIRA FUNDO.

ALBERICO – Traga a moça pra eu conhecer.

CARMINHA SORRI. CLOSES ALTERNADOS.

ALBERICO – Eu disse: Conhecer! Se eu me convencer, vocês ganham!

CARMINHA – Já ganhei então!

NELA SORRINDO.

CORTA PARA:

CENA 18. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. SALA. INTERIOR. DIA

CELINA DESCE AS ESCADAS. EMPREGADA POR ALI, LIMPANDO.

EMPREGADA – Bom dia, dona Celina.

CELINA – O café já foi posto?

EMPREGADA – Apenas esperando a senhora descer pra servir.

CELINA – E os meus filhos?

EMPREGADA – Nenhum deles desceu, dona Celina.

CELINA FAZ EXPRESSÃO DE DESAGRADO. OLHA EM DIREÇÃO AO ESCRITÓRIO. RISADA ABAFADA VINDO DE LÁ.

CELINA – Franklin que tá no escritório?

A EMPREGADA ACENA QUE SIM. CELINA OLHA EM DIREÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 19. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA

FRANKLIN AO CELULAR, VIRADO CONTRA A PORTA.

FRANKLIN – (TEL.) É claro que antes do fim do ano vamos nos ver, minha gostosa.

CELINA ABRE A PORTA, SEM SER PERCEBIDA. FICA PARADA ALI, ENQUANTO O OUVE AO CELULAR. FRANKLIN DISTRAÍDO.

FRANKLIN – (TEL.) Eu já disse pra você que tenho coisas a fazer aqui, tenho coisas no escritório. Não posso deixar a insuportável da Celina e essa minha vida sem sentido pra ficar com você de uma hora pra outra.

ELA CHOCADA, LÁGRIMAS NOS OLHOS. CLOSE FINAL EM CELINA.

CORTA PARA:

EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

FIM DO CAPÍTULO 07