Capítulo 8: Dancin Days

CENA 01. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.

CELINA CHOCADA AO OUVIR FRANKLIN AO TELEFONE. ELE NEM A PERCEBEU ALI, VIRADO DE COSTAS PARA A PORTA.

FRANKLIN – (TEL.) Eu prometo que sim. Não vejo a hora de me livrar de vez desse casamento e dessa minha vida pra ficar do seu lado. (Pausa) Claro que vou cumprir minha promessa. Eu te amo.

CELINA FECHA RAPIDAMENTE A PORTA. FRANKLIN SE VIRA, NÃO PERCEBEU SUA PRESENÇA. ELE RI, AO TELEFONE.

CORTA PARA:

CENA 02. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. JARDIM. EXTERIOR. DIA

ABRE EM PLANO GERAL.

SONOPLASTIA: “DEAD TO ME” – MELANIE MARTINEZ.

JARDIM ABERTO NOS FUNDOS DA MANSÃO LINHARES. CELINA VEM CAMINHANDO DO INTERIOR DA CASA. CHORA MUITO, ANDA RÁPIDO. TRAVELLING: CELINA PASSA PELA GARAGEM E VAI ATÉ A ESCADARIA QUE DÁ ACESSO À PISCINA DA CASA. CLOSE. CELINA CHORA COMPULSIVAMENTE. FLASHES DA CENA ANTERIOR.

CORTE DESCONTÍNUO: CELINA FUMA, SENTADA À BEIRA DA PISCINA, COM OS PÉS DENTRO DA ÁGUA. REFLEXIVA, PORÉM MAIS CALMA. FRANKLIN CHEGA NO LOCAL.

FRANKLIN – (Chama) Celina?!

CELINA O ENCARA, FRIA.

FRANKLIN – Você voltou a fumar?

CELINA SORRI SEM VONTADE.

CELINA – Fiquei nervosa com a discussão que tive ontem à noite com o Cadú.

FRANKLIN – (Se aproxima) Você sabe que te prejudica o cigarro.

CELINA VAI FALAR, MAS CONTROLA. SORRI.

CELINA – Vai para o escritório?

FRANKLIN – Sim. Já estou indo.

CELINA – Ótimo. Tenha um bom dia então.

FRANKLIN A ENCARA, ESTRANHA. VAI ATÉ ELA E LHE DÁ UM BEIJO NA TESTA. CELINA SORRI. FRANKLIN SOBE AS ESCADAS, SOB O PV DE CELINA. ELA DESMANCHA O SORRISO E ESMIGALHA O RESTO DO CIGARRO NA MÃO. EM SEU OLHAR FRIO.

CORTA PARA:

CENA 03. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA

JULIANA AO LADO DE JAMIL, SENTADA EM UMA POLTRONA. NO AMBIENTE ESTÃO QUASE TODOS DA CENA ANTERIOR: ALBERICO, FÁTIMA, CARMINHA, PAULINA E GUIDA.

ALBERICO – Então você voltou ao Brasil recentemente, Juliana?

JULIANA FICA NERVOSA, SE ENTREOLHA COM CARMINHA, QUE FAZ UM GESTO DISCRETO.

JULIANA – (À Alberico) Sim senhor.

ALBERICO – Não precisa de senhor. Não estamos selecionando ninguém para nenhuma vaga de emprego, menina. Trate por você ou Alberico.

PAULINA – Ou desmiolado, como todo mundo acha que é.

FÁTIMA – Paulina!

PAULINA FAZ SINAL DE ZÍPER NA BOCA. JULIANA SORRI, DISCRETA. ALBERICO A ANALISA.

ALBERICO – E morava onde antes?

JULIANA – (Nervosa) Nova York.

ALBERICO – Ah sim. (Sorri) Times Square, Broadway, Manhattan... Que cidade! Outra civilização, outro mundo!

JULIANA SORRI, NERVOSA, PARA JAMIL E CARMINHA.

JAMIL – A Juliana trabalhou alguns anos como doméstica em Nova York e agora resolveu voltar ao Brasil. Tentar uma vida nova aqui.

GUIDA – (Se mete) Fez muito mal, minha filha. Aqui tá cada vez mais down no high society.

ELA RI DESVAIRADA. TODOS A OLHAM, SÉRIOS. ELA SE CALA. FICA SÉRIA.

JULIANA – Bom, eu voltei a pouco, mas pretendo arrumar um emprego aqui, sei fazer muita coisa e não tenho medo de pegar no batente não. Quero voltar a estudar também.

ALBERICO – Que maravilha! Pensa no futuro! (P/ Todos) Dedicada! Aprecio muito!

CARMINHA – A Juliana é uma ótima pessoa, papai.

FÁTIMA – E de onde que vocês são amigas, minha filha? Eu nunca vi ela aqui em casa, ou ouvi falar dela.

JULIANA E CARMINHA SE ENTREOLHAM.

CARMINHA – Do Ensino Médio, mamãe. Juliana se formou comigo no Salesiano.

ALBERICO FICA ALGUNS SEGUNDOS EM SILÊNCIO OLHANDO JULIANA. ELA NERVOSA, PERCEBE, DESVIA O OLHAR.

ALBERICO – Muito bem. (Pausa/ Sorri) Gostei de você, Juliana. Por mim, tudo bem, você ficar com o nosso quarto de hóspedes.

JULIANA SORRI ALIVIADA. CARMINHA E JAMIL TAMBÉM. ALBERICO LEVANTA-SE.

ALBERICO – Seja muito bem-vinda, minha filha.

JULIANA – (Também levanta) Poxa, gostaria muito de agradecer ao senhor. Isso pra mim já é muito!

FÁTIMA – Deixe disso, Juliana. Saiba que aqui é todo mundo como uma grande família. Seja bem-vinda e aqui você será parte integrante dessa família.

PAULINA – E vá se acostumando porque aqui o povo é bem fora da casinha.

JULIANA SORRI. OLHA ALBERICO, EMOCIONADA.

JULIANA – Obrigada de verdade. Posso dar um abraço no senhor?

ALBERICO – Claro, minha filha.

ALBERICO ABRE OS BRAÇOS E JULIANA ABRAÇA. CLOSES ALTERNADOS DE TODOS. CARMINHA E JAMIL SORRIEM, OLHANDO A CENA. ALBERICO E JULIANA SE ENCARAM, SORRINDO. A PORTA DA CASA SE ABRE E ÁUREA ENTRA, VENDO OS DOIS BEM PRÓXIMOS. JULIANA SE VIRA. AS DUAS SE OLHAM.

ÁUREA – (Antipática) Perdi alguma coisa?

TODOS SE ENTREOLHAM. JULIANA DESFAZ O SORRISO. ÁUREA COM EXPRESSÃO SUPERIOR. NELA.

CORTA PARA:

CENA 04. PRÉDIO FAMÍLIA CASTRO. FRENTE. EXTERIOR. DIA

TAKE DE UM PRÉDIO DE ALTO PADRÃO. FRENTE ESPELHADA. PONTUAR.

CORTA PARA:

CENA 05. APARTAMENTO FAMÍLIA CASTRO. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA

UM AMBIENTE REQUINTADO, CORES CLEANS, CORTINAS BRANCAS EM FRENTE À UM JANELÃO ENVIDRAÇADO. MESA POSTA, FARTA. EMÍLIA À CABECEIRA, DO LADO ESTÃO LÉO E RAULZINHO.

EMÍLIA – Te confesso que quando viajava para Lisboa com o seu pai, odiava. Achava aquela cidade insuportável. Muito provinciana. Se assemelha ao Brasil Império, meu filho.

RAULZINHO – Eu gostei de Lisboa. Continua mantendo a arquitetura, mas é moderna e a noite é bem vibrante. Tem que ver como tá tudo agora.

LÉO – Poxa, só eu que não conheço Portugal aqui! Meu sonho ir!

EMÍLIA – E foram no Algarves, Raul? Acho lindo.

RAULZINHO – Fui sim. Levei a Inês. Imagina os olhos dela brilhando em ver tudo aquilo.

LÉO – (Ri) Que idiota!

RAUL RI E JOGA UM PÃO NELE.

EMÍLIA – Idiota pra você que é solteiro, largado! O seu irmão tem noiva, é um passeio romântico. Fez muito bem em ter levado a Inês. Aliás, como vocês estão?

RAULZINHO SUSPIRA. SORRI AMARELO.

RAULZINHO – Bem.

LÉO – (Debocha) Nossa. Senti daqui o amor no ar.

EMÍLIA – Tá acontecendo alguma coisa, meu filho?

RAULZINHO – Ah, o de sempre. Não acho que a Inês me valorize tanto quanto eu valorizo o nosso noivado.

EMÍLIA E LÉO SE ENTREOLHAM, DISCRETOS.

EMÍLIA – Raulzinho, de verdade, não é criticando, mas sou sua mãe. Eu acho que você sufoca a sua noiva demais.

RAULZINHO – Como sufoco, mãe? Só porque quero a Inês sempre perto de mim, quero notícias dela? Porque me preocupo como ela está?

LÉO – Se preocupar é normal. O que não é normal é achar que está num plantão médico 24h por dia e ligar para saber como tá sendo o dia dela.

RAULZINHO FUZILA COM O OLHAR.

EMÍLIA – Acho que você deveria deixar a Inês respirar. Nenhum relacionamento tem sucesso assim.

RAULZINHO – (Irredutível) Vocês exageram!

RAULZINHO COM CARA DE POUCOS AMIGOS, CONTINUA A TOMAR CAFÉ. EMÍLIA PREOCUPADA, ENCARA LÉO, QUE DÁ DE OMBROS.

CORTA PARA:

CENA 06. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA

Continuação cena 03/ Cap. 08.

JULIANA VEM EM DIREÇÃO À AUREA COM UM SORRISO. ESTENDE A MÃO PARA CUMPRIMENTAR.

JULIANA – Oi, sou Juliana.

ÁUREA A OLHA DE CIMA Á BAIXO E A CUMPRIMENTA. CARMINHA E FÁTIMA SE ENTREOLHAM.

ALBERICO – (Se adianta) Essa é minha filha mais velha, Áurea.

JULIANA – Bonito o nome.

ÁUREA DÁ DE OMBROS.

ÁUREA – Ela é a tal amiga da Carminha que vai alugar um quarto aqui do apartamento?

FÁTIMA – Áurea, não seja deselegante com a moça.

ÁUREA – (Ri) A Juliana descende da família real portuguesa?

JULIANA ENCARA CARMINHA E JAMIL, NÃO ENTENDE. ÁUREA DEBOCHADA.

CARMINHA – Eu não acredito que você vai começar a implicar com a Juliana, Áurea. Você nem conhece a garota./

ÁUREA – (Corta) Eu não estou implicando com ninguém, Carminha!

JULIANA – Olha, gente, se eu for incomodar aqui, eu prefiro arrumar outro lugar.

FÁTIMA – Quê isso, Juliana! Você vai ficar aqui e ponto. (Olha Áurea) A Áurea só não está acostumada a nos ver cedendo quartos assim. É novidade.

PAULINA – (Metida) Novidade mesmo. Daqui a pouco, seu Alberico vai colocar placa lá em baixo anunciando umas vagas na cozinha e na área de serviço, ali do lado da máquina de lavar.

ALBERICO OLHA COM DESPREZO PARA PAULINA QUE DÁ RISADINHA.

JULIANA – Vocês têm certeza que eu não vou incomodar ninguém aqui?

ÁUREA – Por favor, Juliana. Você não me incomoda. Eu nem moro aqui.

GUIDA – Mas vive aqui comendo de graça.

ÁUREA – Olha quem fala.

GUIDA E ÁUREA SE ESTRANHAM. JULIANA ACANHADA.

ALBERICO – Vamos parar as duas. (P/ Juliana) E a você, eu reforço as minhas boas-vindas e os meus desejos sinceros de felicidade, enquanto você estiver convivendo com a nossa família.

JULIANA – Obrigada, seu Alberico.

JULIANA SORRI, E ALBERICO RETRIBUI. ÁUREA OS OLHA COM CERTA INSATISFAÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 07. APARTAMENTO DE ALBERICO. COZINHA. INTERIOR. DIA

ÁUREA TOMANDO ÁGUA. CARMINHA ENTRA NO AMBIENTE.

CARMINHA – Áurea, o que significou aquela cena ridícula lá na sala?

ÁUREA – (Encara) Que cena, Carmem Lúcia? Anda assistindo novelas demais.

CARMINHA – Não sou idiota, Áurea. Você quis intimidar a Juliana pra ver se ela saía dessa casa, mas perca o seu tempo. Ela não vai sair daqui. Eu não vou deixar.

ÁUREA – Nossa, mas essa moça te encantou mesmo, hein! (Séria) Saiba que eu não engoli essa historinha dessa tal Juliana ser sua amiga dos tempos de colégio que voltou de Nova York agora.

CARMINHA – (Dá de ombros) Você acreditando ou não, é a verdade. Você constrói coisas demais nessa sua cabecinha desocupada!

ÁUREA SORRI, DEBOCHADA.

ÁUREA – Vamos ver se a minha cabecinha é assim tão desocupada, Carminha. Essa historia toda cheira à armação. Eu ainda não sei o motivo pra que você e o Jamil enfiassem essa mulher aqui em casa, mas eu vou descobrir.

CARMINHA ENGOLE SECO. CONTINUA A ENCARAR.

ÁUREA – E quando eu descobrir, todo mundo vai ver quem tinha razão no fim dessa novela.

CARMINHA ENCARANDO. ÁUREA DEIXA O COPO SOBRE A PIA E SAI DA COZINHA. EM CARMINHA, LÍVIDA.

CORTA PARA:

CENA 08. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE AMANDA. INTERIOR. DIA

AMANDA E DANTE, DISCUSSÃO À MEIO.

AMANDA – (Tom) Você tá louco, Dante! Eu não vou contar nada à Mariana. Ela não pode saber que a Juliana voltou.

DANTE – Você não vai conseguir manter a Juliana em off, por muito tempo, Amanda. É Brasil, Rio de Janeiro, Copacabana! Acorda!

AMANDA – Ela prometeu que não iria procurar a Mariana agora. Ela deu a palavra dela. Não acho que vá descumprir.

DANTE – Imaginar que ela nunca mais vai aparecer pra procurar a filha também é utopia. Eu acho melhor você contar tudo logo para a Mariana, antes que a Juliana apareça e conte por ela mesma. Daí sim, eu quero ver de que lado a Mariana vai ficar.

NESSE INSTANTE, A PORTA É ABERTA DE UMA SÓ VEZ. MARIANA ENTRA. CLOSES ALTERNADOS DOS TRÊS.

AMANDA – (Espanto) Mariana?!

MARIANA – Ótimo. Eu ouvi toda a conversa e quero saber.

DANTE – Você ouviu atrás da porta?

MARIANA – (Tom) Não muda o rumo, seu Dante. Que história é essa que a minha mãe voltou para o Brasil? Que verdade é essa que é bom você me contar, Amanda?

AMANDA FICA LÍVIDA. CLOSES ALTERNADOS. EM MARIANA.

CORTA PARA:

CENA 09. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

SONOPLASTIA: “FIRE” – ANA CAROLINA.

PANORÂMICA DA CIDADE. CRISTO, COPACABANA, TAKES RÁPIDOS E CONTÍNUOS DA CIDADE.

CORTA PARA:

CENA 10. RIO DE JANEIRO. SHOPPING. GALERIAS/ PÇA DE ALIMENTAÇÃO. INTERIOR. DIA

MOVIMENTAÇÃO DE UM SHOPPING, JÁ DECORADO PARA O NATAL. VÁRIAS PESSOAS CIRCULANDO PELAS GALERIAS. LOJAS CHEIAS. O TRADICIONAL PAPAI NOEL RECEBENDO AS CRIANÇAS.

CORTA PARA A PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO:

EM VÁRIAS MESAS DISPOSTAS ALI, CÂM BUSCA A DE SOLANGE E URBANO. ELA CHEIA DE COMPRAS SOBRE UMA CADEIRA. ELE BEBE SUCO. SONOPLASTIA OFF.

SOLANGE – Então, meu amigo, animado pro Natal?

URBANO – Se esse animado for com a academia, é, to sim. Tem rendido um movimento ótimo, ainda mais no Verão.

SOLANGE – Não to falando disso, Urbano. Falei das festas de fim de ano. Da ceia, dos presentes.

URBANO – Que brega, Solange. Isso tá tão em desuso.

SOLANGE – Desuso? (Debocha) Nossa, ele é muito importante para pensar nisso.

URBANO – Não é nada disso. Eu simplesmente não tenho com quem passar o Natal, você sabe muito bem. Minha mãe era a única que eu passava as festas e esta já morreu. É uma data que me deixa meio pra baixo.

SOLANGE – Então bora tirar essa tristeza do calendário? Quero te chamar pra passar o Natal comigo lá em casa. Topa?

URBANO RETICENTE.

SOLANGE – Ah, vai. Eu também não tenho com quem passar. Ter, tenho, mas não quero. E você é meu amigo mais querido. Não vai fazer uma desfeita dessas.

SOLANGE FAZ BICO. URBANO ASSENTE.

SOLANGE – (Sorri) Sabia!

URBANO – Não resisto a essa sua cara de cachorro abandonado.

SOLANGE – Ó o respeito.

SOLANGE DESVIA O OLHAR E VÊ DUAS MOÇAS, NÃO MUITO BONITAS POR ALI. ELA CUTUCA URBANO.

SOLANGE – E aí, quê que você acha?

URBANO – (Alheio) Acho de que?

SOLANGE – Santa lerdeza! Daquelas duas ali.

URBANO – Achei feias, mal vestidas e uma delas tem um mapa do Brasil desenhado pela celulite nas duas pernas. Dá pra ver Roraima daqui.

SOLANGE – Tem certeza que você não é gay?

URBANO – Ih, qual é? Me conhece a muito tempo pra saber que não.

SOLANGE – Sei lá né. Homem não costuma ver celulite.

URBANO – Eu vejo porque enxergo. Ainda não sofro de falta de visão. Sou dono de academia, gosto de ver corpos bonitos.

SOLANGE – Mas pra começar até que tá bom, vai. Vamos exercitar as aulas que eu te dei de sedução?

URBANO – Aulas de sedução? Aprendeu onde? Na novela do Edi Santos?

SOLANGE O OLHA COM INDIFERENÇA. URBANO OLHA PARA AS DUAS FEIOSAS. UMA DELAS VIRA NA DIREÇÃO DELES E ENCARA. SORRI, DENTES FALTANDO. URBANO SE VIRA RAPIDAMENTE E SE BENZE. SOLANGE RI DA SITUAÇÃO. URBANO FRUSTRADO.

CORTA PARA:

CENA 11. MANSÃO FAMÍLIA PRATINI. SUÍTE DE AMANDA. INTERIOR. DIA

Continuação cena 08/ Cap. 08.

MARIANA ENCARA AMANDA FORTEMENTE.

AMANDA – Você ouviu mal!

AMANDA MUITO NERVOSA SE VIRA.

MARIANA – Corta essa! Eu ouvi muito bem! A minha mãe tá de volta no Rio de Janeiro e quer me ver. Porque ela te procurou ao invés de vir aqui em casa?

DANTE – Mariana, por favor./

AMANDA – (Tom) Eu não tenho o que te falar Mariana. Não tenho o porquê te dar explicações.

MARIANA – Tem sim! Você tem sim o dever de me dar explicações quando é sobre a minha vida que nós estamos falando. (P) A Juliana voltou ao Rio e quer me ver. Porque você não quer que ela me veja?

AMANDA NERVOSA COMEÇA A CHORAR. DANTE SEM SAÍDA.

DANTE – Você não tem o direito, minha filha.

MARIANA – (Tom/ Emocionada) É a minha mãe! Vocês não tem o direito de manterem ela escondida de mim. Afastada!

AMANDA ENCARA MARIANA. SECA AS LÁGRIMAS.

AMANDA – Se você conhecesse a Juliana que eu conheço, saberia muito bem os motivos por eu querer te manter bem longe dela. Em segurança.

MARIANA – (Ri) Segurança de que? Me manter segura da minha própria mãe?

AMANDA – A sua mãe nunca ligou pra você, Mariana. Aliás, a sua mãe sou eu. Eu que te criei, te eduquei, você não seria nada do que é hoje, se não fosse por mim.

MARIANA – Pois saiba que ás vezes eu olho pra mim e gostaria muito de não ser o que sou por sua causa.

AMANDA SENTE AS PALAVRAS.

DANTE – Você tá sendo injusta com a Amanda, Mariana! E comigo também! Nós sempre te demos de tudo. Criamos você como se fosse a nossa filha. A filha que nunca tivemos.

MARIANA BAIXA OS OLHOS. SUAVIZA.

MARIANA – Me desculpem, eu sei que vocês sempre fizeram tudo por mim, e eu agradeço, de verdade. Mas eu quero conhecer a minha mãe, não só por fotografia. Essas que vocês me trazem, mas que eu nunca encontrei na Internet ao menos, porque nunca encontrei o nome dela lá.

AMANDA NERVOSA ANDA PELO QUARTO.

AMANDA – Essa conversa tá surreal demais pra mim.

MARIANA – Fala, por favor. Eu quero saber da minha mãe.

AMANDA – (Explode) Chega! Eu não vou falar nada!

MARIANA COM LÁGRIMAS NOS OLHOS. AMANDA ENCARA.

AMANDA – Se você quer tanto conhecer aquela que você chama de mãe, procura por si mesma. Vai catando pelo Rio de Janeiro, vai pra ver se encontra! Mas saiba que eu não digo mais nada!

AMANDA SAI DO QUARTO, BATENDO A PORTA. MARIANA SE ENTREOLHA COM DANTE, QUE ABRE OS BRAÇOS. ELA PENALIZADA, O ABRAÇA.

MARIANA – Fala pai. Por favor, me conta o que tá acontecendo.

DANTE – Eu não posso minha filha. Quem tem que te contar essa história é a Amanda. É uma coisa dela e da Juliana. Eu não posso me meter nesse assunto.

MARIANA – Não é justo!

DANTE ACARINHA OS CABELOS DE MARIANA.

DANTE – (Suspira) Eu sei...

NOS DOIS, ABRAÇADOS.

CORTA PARA:

CENA 12. MANSÃO FAMÍLIA LINHARES. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA

CELINA À CABECEIRA. CADÚ E BRUNO PRESENTES. ALMOÇAM EM SILÊNCIO. POR VEZES, CELINA E CADÚ SE ENTREOLHAM.

CELINA – O seu pai e eu vamos passar uma temporada em Petrópolis. Vocês vêm conosco, não vem?

BRUNO – Eu to fora.

CADÚ – Eu também não to muito afim de Petrópolis não. Tenho que resolver umas coisas aqui no Rio.

CELINA BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE, TENTANDO SE CONTROLAR.

BRUNO – Mas prometo que nas festas de Fim de Ano, estarei fazendo meu papel de trouxiane na vida, participando da reunião da falsidade.

CELINA – Bruno, por favor.

BRUNO SORRI CÍNICO.

CELINA – E você, Cadú?

CADÚ – (Pensativo) Eu... Eu vou estar lá também. Não se preocupa quanto a isso.

CELINA SORRI, CONCORDA.

CELINA – Pelo menos isso.

CADÚ ALMOÇA IMPACIENTE. NELA.

CORTA PARA:

CENA 13. APOLLO SPORTING. ÁREA DE MUSCULAÇÃO. INTERIOR. DIA

MÚSICA ELETRÔNICA PONTUANDO. ACADEMIA LOTADA. CORPOS MUSCULOSOS EM FREEZE. HOMENS E MULHERES TIRANDO SELFIE NO ESPELHO. CONVERSAM EM GRUPOS. BRUNO PUXA UM PESO. VITÓRIA ATENDENDO UMA ALUNA. BRUNO DE OLHO NELA. ELA O OLHA, MAS DESVIA O OLHAR. BRUNO VAI ATÉ ELA.

VITÓRIA – (P/ a Aluna) Com licença.

VITÓRIA VAI SAIR, PORÉM, BRUNO A SEGURA PELO BRAÇO.

BRUNO – Vitória. Peraí!

VITÓRIA – (Se desvencilha) Não posso to ocupada!

BRUNO – Porque isso agora, gata? Fugindo de mim? Até parece que sou um lobo mau (Ri).

VITÓRIA – E é. Um lobo em pele de cordeiro.

BRUNO COMEÇA A RIR. VITÓRIA DESCONFORTÁVEL.

VITÓRIA – Tá rindo de que?

BRUNO – Isso é tão piegas, Vick. Quê foi gata?

VITÓRIA – Eu vi a sua foto beijando a Mariana, no grupo da academia, beleza? Só pra avisar: Até curto concorrência, mas sei o meu espaço. Não dá pra competir!

VITÓRIA SE VIRA E VAI SAINDO. BRUNO SE APRESSA E SE COLOCA À SUA FRENTE.

BRUNO – O lance que rolou entre a Mari e eu não tem nada a ver, princesa. Coisa de momento. Curtição de balada.

VITÓRIA – (Ri) Papinho cafajeste feelings.

BRUNO RI. VITÓRIA NÃO CONVENCIDA.

BRUNO – Topa sair comigo hoje pra eu te convencer que o que eu digo não é caô?

VITÓRIA FICA PENSATIVA.

VITÓRIA – Não rola. Tenho que estudar. Vestiba tá chegando e não posso levar bomba.

BRUNO – Papo chato.

VITÓRIA – Chato pra você que pode se dar ao luxo de pagar a facul que quiser sem nem prestar vestibular. Se toca Bruno. Sou pobre! É disso que to falando, a Mariana é outro nível.

BRUNO – Não quero saber de nível social, deixa isso pras pesquisas do IBGE.

BRUNO FAZ CARINHO EM VITÓRIA, QUE SORRI, FECHANDO OS OLHOS.

BRUNO – Deixa eu curtir você, gata.

VITÓRIA – (Mole) Pára Bruno!

BRUNO VAI ATÉ O SEU OUVIDO.

BRUNO – Deixa eu fazer gostoso igual da outra vez.

VITÓRIA – (Ri) Para com isso!

VITÓRIA ABRE OS OLHOS LENTAMENTE, COM UM SORRISO NOS LÁBIOS.

BRUNO – Promete pensar?

VITÓRIA SORRI SAFADA E ASSENTE. SAI EM SEGUIDA. BRUNO RI, VIRANDO DE COSTAS E FAZENDO POSE DE VENCEDOR.

CORTA PARA:

CENA 14. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA

PAULINA ABRE A PORTA, ENTRAM JAMIL E JULIANA TRAZENDO DUAS MALAS. ÁUREA E EDGAR ALI.

ÁUREA – Nossa, mas já? Pensei que ia demorar mais um pouco pra se mudar.

JULIANA ENCARA ÁUREA E VAI FALAR, MAS CARMINHA ENTRA.

CARMINHA – (Sorri/ Tom) Seja bem-vinda, Juliana! Sinta-se em casa!

EDGAR OLHA JULIANA, FASCINADO. ÁUREA COM INSATISFAÇÃO. JULIANA ABRAÇA CARMINHA.

JULIANA – Obrigada de verdade, Carminha. Nem sei como te agradecer.

CARMINHA – Pode ter certeza que por estar ajudando a gente com um pouco pra pelo menos sair dessa crise que se instalou aqui nessa casa, já tá ajudando demais.

PAULINA – Foi bom ter chegado Juliana! Mais uma pra ajudar no serviço da casa!

JAMIL – A Juliana vai procurar emprego, Paulina. Não veio aqui pra fazer o seu serviço.

PAULINA – Até porque ia ser mais uma a ficar sem receber salário!

CARMINHA – Paulina, vai lá dentro ver se tem roupa pra lavar, linda.

JULIANA RI. PAULINA FAZ CARA FEIA PARA CARMINHA. ÁUREA SE APROXIMA.

ÁUREA – Não trouxe muitas malas, Juliana. Pra quem chegou da Europa, pensei que vinha cheia de roupas.

JULIANA – (Direta) Estava lá para trabalhar e não pra bater perna, comprando roupa o dia inteiro.

ÁUREA SE CALA. CARMINHA RI. EDGAR RI DE CANTO.

CARMINHA – Boa! Toma!

JAMIL – Áurea, não precisa disso.

ÁUREA – Cuidado, hein, Juliana. Tá muito estressada.

JULIANA – Só com quem me tira do sério, Áurea. (Sorri amarelo) Relaxa, é meu jeitinho.

ÁUREA E JULIANA SE ENCARAM FORTEMENTE. EDGAR SE APROXIMA, ESTENDENDO A MÃO.

EDGAR – Muito prazer, Juliana. Me chamo Edgar.

JULIANA – (Cumprimenta) Prazer, Edgar.

ÁUREA – (Se adianta) Meu marido.

EDGAR FUZILA ÁUREA COM O OLHAR, DISCRETO. JULIANA ASSENTE POSITIVAMENTE.

JAMIL – (Tom leve) Jú, nem te falei. Na verdade, era surpresa. Eu consegui um emprego pra você aqui mesmo no prédio.

JULIANA – (Sorri) Sério?

ÁUREA INSATISFEITA. EM JULIANA SORRINDO.

CORTA PARA:

CENA 15. PRÉDIO DE ALBERICO. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA

JAMIL E JULIANA DE FRENTE PARA A SÍNDICA, UMA MULHER GORDA, CABELOS RUIVOS E DESPENTEADOS.

JAMIL – Dona Ramira, essa é a Juliana, a moça da qual falei mais cedo pra senhora.

RAMIRA – Oi, Juliana. Eu sou Ramira, a síndica aqui do prédio. O Jamil me disse que você tava procurando emprego e que não tinha crise em aceitar o que pintasse certo?

JULIANA – Isso mesmo, dona Ramira. Topo qualquer coisa, desde que seja trabalho sério né.

RAMIRA – (Ri) Você é das minhas! Então, não é muita coisa, mas a nossa antiga faxineira se aposentou no mês passado e desde então precisamos de uma zeladora aqui do edifício. Se você não se importar...

JULIANA – (Corta) Me importar em ser zeladora? Óbvio que não, dona Ramira. Eu não tenho medo de trabalho! (Sorri) Quando eu começo?

RAMIRA E JAMIL SORRIEM, SE ENTREOLHANDO. EM JULIANA, FELIZ.

CORTA PARA:

CENA 16. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE

SONOPLASTIA: “BANG” – ANITTA.

ANOITECE NO CÉU FLUMINENSE. ÁREAS TURÍSTICAS EM CENA, PASSAM ATRAVÉS DE UM EFEITO PERSIANA. ÚLTIMO CLOSE NA FACHADA DA BARONESA GLAM, NOITE AGITADA. PESSOAS NA PORTA, COMO SEMPRE, ESPERANDO PARA ENTRAR. FILA ENORME.

CORTA PARA:

CENA 17. BARONESA GLAM. INTERIOR. NOITE

BALADA ANIMADA ROLANDO. MÚSICA ANTERIOR EM REMIX. JOVENS AGITAM NA PISTA DE DANÇA. CÂM VAI BUSCAR BRUNO, LEILA E LÉO. ELES DANÇAM AO SOM DA BATIDA.

LÉO – (Tom alto) Eu vou ali pegar uma cerva. Alguém tá afim?

LEILA – Ah, eu quero uma!

BRUNO – Bora, vou contigo.

LÉO FAZ MENÇÃO DE IR, MAS LEILA SEGURA BRUNO.

LEILA – Não, man. Quero dar uma palavra contigo.

BRUNO FAZ SINAL E LÉO SAI SOZINHO DA PISTA, NO MEIO DAS PESSOAS. BRUNO ENCARA LEILA.

BRUNO – Fala. Que parada é?

LEILA – É sobre esse teu triângulo com a Vitória e a Mariana, Bruno.

BRUNO – Ah, corta essa, Leilinha. Não fode, vai!

LEILA – Quem tá fudendo aqui é você, Bruno. Sério, conselho de amiga, de quem quer teu bem: Se afasta da Vitória, aquela menina é chave-de-cadeia.

BRUNO ESTRANHA.

LEILA – Acorda garoto! Quer um conselho? Pede a Mariana em namoro.

BRUNO – (Surpreende-se) Que?!

CLOSES ALTERNADOS. EM BRUNO, SURPRESO.

CORTA PARA:

EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

 FIM DO CAPÍTULO 08