–
Diga, Fabrício. O que você tem a me contar sobre o Jorge Albuquerque? –
pergunta a delegada Sabrina.
–
Eu ajudei o doutor Jorge sim no sequestro da mulher dele, mas no da filha eu
não estou metido.
–
Sim. Agora vai ficar tudo melhor para você. Continue.
–
Não sei como posso começar.
–
Vou fazer algumas perguntas então. – fala a delegada – Quem ficava na mansão
cotidianamente?
–
Os empregados, eu e ele.
–
E a dona Regina?
–
Ah, ela também.
–
Por que ele quis sequestrar a esposa?
–
Ele não se conformou quando a Regina e a Ângela saíram de casa.
–
O Jorge guarda o dinheiro dele em alguma conta internacional?
–
Não sei, delegada. Eu não sabia de nada sobre dinheiro.
–
Ah sim. Você trabalhou para ele por muito tempo?
–
Não. Eu estava precisando de emprego e acabei aceitando esse.
–
Entendi. Preciso ir, Fabrício. – avisa a delegada, saindo da sala.
Fabrício
é retirado da sala e volta para sua cela.
***
No
seu quarto de hotel, Kika Postrad pensa na proposta feita por Olga e Pietro. A
atriz e cantora liga para o diretor de seu filme, Clóvis Motta. Clóvis, um
homem gordo, com pouco cabelo e um tanto baixo, atende o telefone.
–
Alô? Quem é? – pergunta Clóvis.
–
Oi Clóvis. É Kika. Achei um lugar ótimo para gravarmos o filme.
–
Os cenários já estão prontos aqui no estúdio, Kika.
–
Querido, eu achei esses cenários horríveis. O filme é meu, então eu falo mesmo.
–
Mas Kika, podemos pensar em outra coisa.
–
Não, Clóvis. O filme será gravado em Pitenópolis.
–
Pitenópolis? Aí é um fim de mundo.
–
Claro que não. Aqui é perfeito para retratar a minha cidade de origem.
–
Não viaja, Kika.
–
Olha, Clóvis, se você não quiser, há quem queira.
–
Aceito então, Kika. Mas não vamos adiar as gravações, hein?! Elas começam em
dois dias.
–
Tudo bem, Clóvis. E o elenco?
–
Bem, Kika... Acho que teremos problemas com o elenco. Muitos atores se
recusaram a gravar fora dos estúdios.
–
Então tira esses infelizes do meu filme.
–
Mas aí não teremos atores.
–
Por que você não faz testes aqui em Pitenópolis?
–
Boa ideia. Vou pensar nisso e de repente já começo a divulgar isso nas redes
sociais. Aquelas atrizes que você faz questão, as irmãs Keyla e Neyla, já
confirmaram que farão o filme. A Neyla é bem simpática, disse que topa tudo, já
a outra é uma mala e vive fazendo exigências e restrições.
–
Só chamei a Keyla por educação, já que adoro a irmã dela.
–
Então, Kika, te encontro aí?
–
Não, não. Eu irei para os estúdios para sairmos juntos. Beijos e até mais
tarde.
–
Até. – fala Clóvis, desligando o telefone.
***
Andando
pelas ruas de Pitenópolis, Augusto vê Ângela e Regina, que também andam pela
cidade, com várias malas. Curioso e intrigado pelo fato, ele se aproxima das
duas e fala:
–
Tudo bem? Por que tantas malas? – pergunta Augusto, rindo.
–
Nós saímos da casa da Olga e do Pietro. Os dois estavam nos roubando, vendendo
roupas nossas. – responde Regina.
–
Que absurdo. Que bom que vocês descobriram isso antes de eles venderem mais
roupas. – comenta o neto de Tito e Josefina.
–
Pois é, Augusto. – diz Ângela.
–
Mas aonde vocês estão indo agora?
–
Para um apartamento que a gente alugava, mas que, por sorte, está vago. –
responde Regina.
–
Então eu acompanho vocês até lá.
–
Não precisa, Augusto. – fala Ângela.
–
Eu faço questão. – diz Augusto, ajudando a carregar algumas malas.
Depois
de andarem um pouco, Augusto, Ângela e Regina chegam ao apartamento. Ele fica
num prédio simples, chamado ‘‘Edifício Santo Agostinho’’. O apartamento não é
muito grande, tem apenas dois quartos, uma cozinha, uma sala de estar e dois
banheiros. Regina agradece a Augusto pela ajuda:
–
Obrigada, Augusto. Você é sempre um príncipe com a gente.
–
Assim eu fico sem graça. – fala Augusto, rindo.
–
Olha, Augusto, eu vou comprar alguma coisa para a gente comer. Espera aí que eu
já volto. – diz Regina.
–
Não, não precisa. Eu gostaria de falar uma coisa antes.
–
O que? – pergunta Ângela, curiosa.
–
Ângela, você quer ser minha noiva? – pede Augusto, entregando uma aliança para
Ângela, que fica emocionada e feliz.
–
Claro, Augusto. – responde Ângela, abraçando Augusto.
–
Que lindo, Augusto. – comenta Regina, abraçando o casal.
–
Vai rolar um churrasco do Marcos agora. Que tal?! – propõe Augusto.
–
Marcos é aquele irmão do Fabrício, né? – pergunta Regina.
–
Sim, mas ele é uma ótima pessoa. – responde Augusto.
–
Bora, mãe?! – chama Ângela.
–
Vamos sim! – responde a mãe de Ângela.
Regina,
Augusto e Ângela saem do apartamento. Os três entram em um táxi em frente ao
edifício e vão à fazenda Leite de Porca.
***
Na
fazenda Leite de Porca, está acontecendo o churrasco de Marcos. Hanna, Cléo,
Sofia, Álvaro, Tito e Josefina também estão presentes. Regina, Augusto e Ângela
chegam de táxi. Augusto aproxima-se de Álvaro, que está num canto sozinho, e
eles conversam:
–
Álvaro, agora eu sou oficialmente noivo da Ângela. – fala Augusto, feliz.
–
Que bom, Augusto. Fico feliz por vocês.
–
E você e a Sofia?
–
Ela continua meio desconfiada do Max. Ela vive comentando dele. Ela acha que
ele vai voltar.
–
Eu acho que ele vai viver a vida dele com aquela Carmen.
–
Também acho. Essa hora ele deve estar bem longe daqui, mas a Sofia insiste em
achar que ele está por perto, prestes a atacar.
–
Ela precisa relaxar com isso, Álvaro. Ela vai acabar ficando paranóica com
isso.
–
Não é pra tanto, Augusto.
–
Por que vocês não se casam?! Imagina um casamento duplo!
–
Seria ótimo. Vou conversar com ela. – fala Álvaro.
Augusto
se afasta de Álvaro e vai conversar com seu avô Tito e sua avó Josefina.
–
Vô, vó, tenho uma novidade. – fala Augusto, animado.
–
Oi meu neto. O que houve? – pergunta Josefina.
–
Eu e a Ângela somos noivos a partir de hoje.
–
Que bom, Guto. Essa menina é muito educada, gentil, simpática, além de muito
bonita. – comenta Tito.
–
Ah, Gutinho, que maravilha ouvir isso. Você é a coisa mais importante pra
gente. Que bom que você está construindo já uma família. – fala Josefina, feliz
e emocionada.
–
Vó, eu queria que você entrasse comigo no altar quando a gente se casar. – diz
Augusto, arrancando lágrimas de Josefina.
–
Ai, quanta emoção para um dia só, Guto. Claro que eu entro com você. – responde
Josefina, abraçando seu neto.
O
papo entre Augusto, Tito e Josefina continua. Em outro canto da fazenda, Marcos
conversa com Ângela.
–
Então essa fazenda enorme é sua agora? – pergunta Ângela a Marcos.
–
Sim, Ângela. Meus patrões me deram a Leite de Porca já que eles se mudaram para
uma mansão de herança, lá em Campinhos.
–
Ah sim. Que legal. Mas a fazenda precisa de umas boas reformas, não acha?
–
Verdade. Está bem caída. Ainda preciso ver sobre os animais aqui. Não quero ter
problemas com a polícia. Já basta o Fabrício para dar desgosto na minha
família.
–
Falando nele, Marcos, você tem visitado o Fabrício?
–
Não, Ângela. Eu decidi esperar a decisão da justiça. O Fabrício não estava
querendo ajudar a delegada. Espero que ele tenha ajudado, porque assim a
situação dele melhora lá dentro.
–
Pois é. Mas ele precisa pagar por o que ele fez.
–
Também acho. Ele é meu irmão, mas a justiça tem que ser igual para todos.
–
Exatamente. Eu ainda não visitei o meu pai. Acho que também não irei. Ele fez
muita coisa ruim pra mim e pra minha mãe. Ele não merece minha visita.
–
Ângela, você sabe como o seu pai conheceu o Fabrício?
–
Não sei. Quando eu ainda morava lá, o Fabrício não estava lá ainda. Foi tudo
muito rápido.
–
Tomara que eles tenham o que merecem.
–
Pois é. – fala Ângela, afastando-se de Marcos.
Hanna
e Cléo estão próximas ao chiqueiro da fazenda. Hanna fica observando Regina com
um olhar de desgosto. Cléo observa o olhar de Hanna e pergunta:
–
Hanna, o que você tem contra a Regina?
–
Nada demais, Cléo.
–
Fala, Hanna. Eu percebi como você olhou para ela.
–
Não é nada contra ela. É que ela roubou o meu homem.
–
Ah? Seu homem? – pergunta Cléo, surpresa.
–
Nada não, Cléo. Esquece.
–
Desembucha, prima.
–
Não, Cléo. Sossega. – pede Hanna, afastando-se da prima.
Enquanto
isso, Ângela e Sofia caminham pela fazenda, conversando.
–
Ângela, eu ando tão preocupada.
–
Com o que, Sofia?
–
Eu sinto que o Max não sossegou de me perseguir.
–
Você acha que ele vai voltar?
–
Sim. É uma sensação estranha. Algo me diz que ele vai voltar pra me pegar pra
aquele esquema de prostituição.
–
Que horror, Sofia. Por que você não vai na delegacia saber dele?
–
Boa ideia, Ângela. Isso está me perturbando há noites.
–
Tenho uma novidade: o Augusto me pediu em noivado.
–
Que maravilha.
–
Olha esse anel. – fala Ângela, mostrando seu anel.
–
Que lindo! Nunca recebi um desses.
Ângela
e Sofia continuam caminhando pela fazenda. Um tempo depois, o almoço fica
pronto e todos almoçam.
***
Em
sua cela na prisão, Jonas está dormindo. O pai de Guilherme é acordado por um
policial, que grita:
–
Jonas Melo! Toma essa carta. – fala o policial, jogando uma carta em cima do
rosto de Jonas.
Jonas
pega a carta, deixada por Leia na delegacia, e lê. O ex-funcionário da empresa
Vinhos Albuquerque fica emocionado com o carinho do filho, mas frustra-se ao
ficar sabendo que Aurora está tendo um caso com Pedro.
–
Safado! Esperou eu sair para logo arrastar a asa pra cima da oferecida da
Aurora. – fala Jonas para si mesmo, em tom baixo.
***
Dois
dias se passam e logo chega o terceiro dia do ano. Em seu quarto no novo
apartamento, Ângela acorda. A filha de Regina logo se arruma para a prova para
entrar na faculdade de pedagogia de Bulires, já que o ensino superior em
Pitenópolis é fraco. Augusto chega ao apartamento e entra, já que possui uma
cópia da chave. Ouvindo o barulho do secador de cabelo da filha, Regina logo
acorda e cumprimenta Augusto, que está na sala de estar, esperando por Ângela,
que se arruma.
–
Oi Augusto. Chegou há muito tempo? – pergunta Regina.
–
Não, dona Regina. Acabei de chegar.
Ângela
chega à sala.
–
Bom dia mãe. Oi Augusto. Tudo bem?
–
Tudo ótimo. Já está pronta? – pergunta Augusto a Ângela.
–
Sim.
–
Então é melhor irmos, não acha?!
–
Sim.
–
Boa prova, minha filha. Você estudou demais, então não fique nervosa, porque os
conteúdos você sabe. – deseja Regina a Ângela.
Regina
dá um beijo no rosto de Ângela e a abraça. Ângela e Augusto deixam o
apartamento.
***
No
seu quarto na pensão, Hanna olha uma foto de Jorge. A dona da pensão fica, ao
mesmo tempo, com raiva e com saudades, e fala, em tom baixo:
–
Ah, Jorge. Eu te amei demais, até você me convencer a fazer aquilo e ainda me
trocar pela Regina, aquela sem sal.
Regina
rasga a foto de Jorge, pisa nela e ainda diz:
–
Você ainda me paga, Jorge!
Hanna
recolhe os pedaços da foto com medo de alguém encontrar e os joga no lixo.
***
Após
pegarem um táxi, Ângela e Augusto chegam à faculdade de pedagogia de Bulires. A
fachada da faculdade é antiga, porém bem conservada, com paredes amarelas.
Vários concorrentes a vagas entram pelos dois portões de ferro da
instituição. Augusto abraça Ângela e
deseja a ela:
–
Boa prova, Ângela. Tudo vai dar certo. Pense positivo!
–
Pode deixar, meu amor. Te amo. – fala Ângela, beijando Augusto.
Augusto
e Ângela se abraçam pela última vez e a filha de Regina entra na faculdade.
Após Ângela entrar na instituição, Augusto caminha por Bulires enquanto espera
a amada fazer a prova.
***
Na
praça de Pitenópolis, vários rapazes montam mais uma estrutura, porém dessa vez
é montada uma espécie de sala para os testes de elenco do filme sobre Kika
Postrad, chamado ‘‘Kika Postrad – Muito mais que um nome’’. Em um ônibus de
dois andares logo chega a equipe do filme. Clóvis Motta, o diretor do filme, é
o primeiro a sair do ônibus, acompanhado da grande estrela, Kika. Em seguida,
descem outros produtores do filme e duas atrizes, Keyla e Neyla, as irmãs
gemas. Neyla, a irmã com o cabelo mais claro, desce cumprimentando todos que
vê, já Keyla, com seu cabelo preto, sai do ônibus de óculos escuros e fone de
ouvido, sem olhar para ninguém que chama seu nome. Os produtores do filme e
assistentes de Clóvis espalham vários cartazes pela cidade divulgando que os
testes para atores, atrizes e membros do ‘‘staff’’ estão abertos. Olga, Pietro
e Mary também estão na praça e se inscrevem para os testes.
***
Em
Bulires, Max e Carmen pensam em um plano para conseguirem Sofia de volta.
–
Temos que pensar em algo rápido, Carmen.
–
Sim, Max. – responde Carmen – Fiquei sabendo que irão gravar um filme lá e os
testes estão abertos. Aquela cidade de gente sonsa deve estar uma bagunça com
isso. E a songamonga da Sofia não
deve querer, então provavelmente ela vai ficar sozinha na pensão ou pelo menos
quase sozinha.
–
Bem pensado, Carmen. Você é uma gênia.
–
Eu sei, Max. Qual vai ser minha recompensa?
–
Depois conversamos sobre isso.
–
Então já vamos sair?
–
Sim. Não podemos perder tempo.
Max
e Carmen saem da casa, entram no carro preto e vão em direção a Pitenópolis.
***
Após
uma viagem cansativa, Jenny Franc chega a Ravione. A irmã de Mary Leh vai
diretamente à boate Gaiola das Panteras, que antigamente era conhecida como
Boate Conga, onde Hanna trabalhou, com o nome de Aninha do Bordel. A boate é
predominantemente de cor preta, com detalhes em vermelho, dando um tom sombrio.
Há várias gaiolas onde as dançarinas se apresentam. Jenny é recebida por Clô, a
atendente do recinto, uma mulher mais velha, porém com uma roupa decotada e bem
curta, que é bem direta com a irmã de Mary:
–
Oi. O que você quer aqui essa hora? Emprego?
–
Tô fora. Eu me recuso a fazer algo assim. Não sou dessas.
–
Então o que você quer? – pergunta a mulher, enquanto mastiga um chiclete.
–
Informações.
–
Ah, estou me lembrando dessa voz. Você que ligou uns dias atrás né?
–
Sim, eu mesma. – fala Jenny, colocando uma alta quantia de dinheiro em cima do
balcão – Quero que você me conte tudo sobre a Aninha do Bordel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário