terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Capítulo 16: Magia Sensata (ÚLTIMAS SEMANAS)

– Diga, Fabrício. O que você tem a me contar sobre o Jorge Albuquerque? – pergunta a delegada Sabrina.
– Eu ajudei o doutor Jorge sim no sequestro da mulher dele, mas no da filha eu não estou metido.
– Sim. Agora vai ficar tudo melhor para você. Continue.
– Não sei como posso começar.
– Vou fazer algumas perguntas então. – fala a delegada – Quem ficava na mansão cotidianamente?
– Os empregados, eu e ele.
– E a dona Regina?
– Ah, ela também.
– Por que ele quis sequestrar a esposa?
– Ele não se conformou quando a Regina e a Ângela saíram de casa.
– O Jorge guarda o dinheiro dele em alguma conta internacional?
– Não sei, delegada. Eu não sabia de nada sobre dinheiro.
– Ah sim. Você trabalhou para ele por muito tempo?
– Não. Eu estava precisando de emprego e acabei aceitando esse.
– Entendi. Preciso ir, Fabrício. – avisa a delegada, saindo da sala.
Fabrício é retirado da sala e volta para sua cela.

***
No seu quarto de hotel, Kika Postrad pensa na proposta feita por Olga e Pietro. A atriz e cantora liga para o diretor de seu filme, Clóvis Motta. Clóvis, um homem gordo, com pouco cabelo e um tanto baixo, atende o telefone.
– Alô? Quem é? – pergunta Clóvis.
– Oi Clóvis. É Kika. Achei um lugar ótimo para gravarmos o filme.
– Os cenários já estão prontos aqui no estúdio, Kika.
– Querido, eu achei esses cenários horríveis. O filme é meu, então eu falo mesmo.
– Mas Kika, podemos pensar em outra coisa.
– Não, Clóvis. O filme será gravado em Pitenópolis.
– Pitenópolis? Aí é um fim de mundo.
– Claro que não. Aqui é perfeito para retratar a minha cidade de origem.
– Não viaja, Kika.
– Olha, Clóvis, se você não quiser, há quem queira.
– Aceito então, Kika. Mas não vamos adiar as gravações, hein?! Elas começam em dois dias.
– Tudo bem, Clóvis. E o elenco?
– Bem, Kika... Acho que teremos problemas com o elenco. Muitos atores se recusaram a gravar fora dos estúdios.
– Então tira esses infelizes do meu filme.
– Mas aí não teremos atores.
– Por que você não faz testes aqui em Pitenópolis?
– Boa ideia. Vou pensar nisso e de repente já começo a divulgar isso nas redes sociais. Aquelas atrizes que você faz questão, as irmãs Keyla e Neyla, já confirmaram que farão o filme. A Neyla é bem simpática, disse que topa tudo, já a outra é uma mala e vive fazendo exigências e restrições.
– Só chamei a Keyla por educação, já que adoro a irmã dela.
– Então, Kika, te encontro aí?
– Não, não. Eu irei para os estúdios para sairmos juntos. Beijos e até mais tarde.
– Até. – fala Clóvis, desligando o telefone.

***
Andando pelas ruas de Pitenópolis, Augusto vê Ângela e Regina, que também andam pela cidade, com várias malas. Curioso e intrigado pelo fato, ele se aproxima das duas e fala:
– Tudo bem? Por que tantas malas? – pergunta Augusto, rindo.
– Nós saímos da casa da Olga e do Pietro. Os dois estavam nos roubando, vendendo roupas nossas. – responde Regina.
– Que absurdo. Que bom que vocês descobriram isso antes de eles venderem mais roupas. – comenta o neto de Tito e Josefina.
– Pois é, Augusto. – diz Ângela.
– Mas aonde vocês estão indo agora?
– Para um apartamento que a gente alugava, mas que, por sorte, está vago. – responde Regina.
– Então eu acompanho vocês até lá.
– Não precisa, Augusto. – fala Ângela.
– Eu faço questão. – diz Augusto, ajudando a carregar algumas malas.
Depois de andarem um pouco, Augusto, Ângela e Regina chegam ao apartamento. Ele fica num prédio simples, chamado ‘‘Edifício Santo Agostinho’’. O apartamento não é muito grande, tem apenas dois quartos, uma cozinha, uma sala de estar e dois banheiros. Regina agradece a Augusto pela ajuda:
– Obrigada, Augusto. Você é sempre um príncipe com a gente.
– Assim eu fico sem graça. – fala Augusto, rindo.
– Olha, Augusto, eu vou comprar alguma coisa para a gente comer. Espera aí que eu já volto. – diz Regina.
– Não, não precisa. Eu gostaria de falar uma coisa antes.
– O que? – pergunta Ângela, curiosa.
– Ângela, você quer ser minha noiva? – pede Augusto, entregando uma aliança para Ângela, que fica emocionada e feliz.
– Claro, Augusto. – responde Ângela, abraçando Augusto.
– Que lindo, Augusto. – comenta Regina, abraçando o casal.
– Vai rolar um churrasco do Marcos agora. Que tal?! – propõe Augusto.
– Marcos é aquele irmão do Fabrício, né? – pergunta Regina.
– Sim, mas ele é uma ótima pessoa. – responde Augusto.
– Bora, mãe?! – chama Ângela.
– Vamos sim! – responde a mãe de Ângela.
Regina, Augusto e Ângela saem do apartamento. Os três entram em um táxi em frente ao edifício e vão à fazenda Leite de Porca.

***
Na fazenda Leite de Porca, está acontecendo o churrasco de Marcos. Hanna, Cléo, Sofia, Álvaro, Tito e Josefina também estão presentes. Regina, Augusto e Ângela chegam de táxi. Augusto aproxima-se de Álvaro, que está num canto sozinho, e eles conversam:
– Álvaro, agora eu sou oficialmente noivo da Ângela. – fala Augusto, feliz.
– Que bom, Augusto. Fico feliz por vocês.
– E você e a Sofia?
– Ela continua meio desconfiada do Max. Ela vive comentando dele. Ela acha que ele vai voltar.
– Eu acho que ele vai viver a vida dele com aquela Carmen.
– Também acho. Essa hora ele deve estar bem longe daqui, mas a Sofia insiste em achar que ele está por perto, prestes a atacar.
– Ela precisa relaxar com isso, Álvaro. Ela vai acabar ficando paranóica com isso.
– Não é pra tanto, Augusto.
– Por que vocês não se casam?! Imagina um casamento duplo!
– Seria ótimo. Vou conversar com ela. – fala Álvaro.
Augusto se afasta de Álvaro e vai conversar com seu avô Tito e sua avó Josefina.
– Vô, vó, tenho uma novidade. – fala Augusto, animado.
– Oi meu neto. O que houve? – pergunta Josefina.
– Eu e a Ângela somos noivos a partir de hoje.
– Que bom, Guto. Essa menina é muito educada, gentil, simpática, além de muito bonita. – comenta Tito.
– Ah, Gutinho, que maravilha ouvir isso. Você é a coisa mais importante pra gente. Que bom que você está construindo já uma família. – fala Josefina, feliz e emocionada.
– Vó, eu queria que você entrasse comigo no altar quando a gente se casar. – diz Augusto, arrancando lágrimas de Josefina.
– Ai, quanta emoção para um dia só, Guto. Claro que eu entro com você. – responde Josefina, abraçando seu neto.
O papo entre Augusto, Tito e Josefina continua. Em outro canto da fazenda, Marcos conversa com Ângela.
– Então essa fazenda enorme é sua agora? – pergunta Ângela a Marcos.
– Sim, Ângela. Meus patrões me deram a Leite de Porca já que eles se mudaram para uma mansão de herança, lá em Campinhos.
– Ah sim. Que legal. Mas a fazenda precisa de umas boas reformas, não acha?
– Verdade. Está bem caída. Ainda preciso ver sobre os animais aqui. Não quero ter problemas com a polícia. Já basta o Fabrício para dar desgosto na minha família.
– Falando nele, Marcos, você tem visitado o Fabrício?
– Não, Ângela. Eu decidi esperar a decisão da justiça. O Fabrício não estava querendo ajudar a delegada. Espero que ele tenha ajudado, porque assim a situação dele melhora lá dentro.
– Pois é. Mas ele precisa pagar por o que ele fez.
– Também acho. Ele é meu irmão, mas a justiça tem que ser igual para todos.
– Exatamente. Eu ainda não visitei o meu pai. Acho que também não irei. Ele fez muita coisa ruim pra mim e pra minha mãe. Ele não merece minha visita.
– Ângela, você sabe como o seu pai conheceu o Fabrício?
– Não sei. Quando eu ainda morava lá, o Fabrício não estava lá ainda. Foi tudo muito rápido.
– Tomara que eles tenham o que merecem.
– Pois é. – fala Ângela, afastando-se de Marcos.
Hanna e Cléo estão próximas ao chiqueiro da fazenda. Hanna fica observando Regina com um olhar de desgosto. Cléo observa o olhar de Hanna e pergunta:
– Hanna, o que você tem contra a Regina?
– Nada demais, Cléo.
– Fala, Hanna. Eu percebi como você olhou para ela.
– Não é nada contra ela. É que ela roubou o meu homem.
– Ah? Seu homem? – pergunta Cléo, surpresa.
– Nada não, Cléo. Esquece.
– Desembucha, prima.
– Não, Cléo. Sossega. – pede Hanna, afastando-se da prima.
Enquanto isso, Ângela e Sofia caminham pela fazenda, conversando.
– Ângela, eu ando tão preocupada.
– Com o que, Sofia?
– Eu sinto que o Max não sossegou de me perseguir.
– Você acha que ele vai voltar?
– Sim. É uma sensação estranha. Algo me diz que ele vai voltar pra me pegar pra aquele esquema de prostituição.
– Que horror, Sofia. Por que você não vai na delegacia saber dele?
– Boa ideia, Ângela. Isso está me perturbando há noites.
– Tenho uma novidade: o Augusto me pediu em noivado.
– Que maravilha.
– Olha esse anel. – fala Ângela, mostrando seu anel.
– Que lindo! Nunca recebi um desses.
Ângela e Sofia continuam caminhando pela fazenda. Um tempo depois, o almoço fica pronto e todos almoçam.

***
Em sua cela na prisão, Jonas está dormindo. O pai de Guilherme é acordado por um policial, que grita:
– Jonas Melo! Toma essa carta. – fala o policial, jogando uma carta em cima do rosto de Jonas.
Jonas pega a carta, deixada por Leia na delegacia, e lê. O ex-funcionário da empresa Vinhos Albuquerque fica emocionado com o carinho do filho, mas frustra-se ao ficar sabendo que Aurora está tendo um caso com Pedro.
– Safado! Esperou eu sair para logo arrastar a asa pra cima da oferecida da Aurora. – fala Jonas para si mesmo, em tom baixo.

***
Dois dias se passam e logo chega o terceiro dia do ano. Em seu quarto no novo apartamento, Ângela acorda. A filha de Regina logo se arruma para a prova para entrar na faculdade de pedagogia de Bulires, já que o ensino superior em Pitenópolis é fraco. Augusto chega ao apartamento e entra, já que possui uma cópia da chave. Ouvindo o barulho do secador de cabelo da filha, Regina logo acorda e cumprimenta Augusto, que está na sala de estar, esperando por Ângela, que se arruma.
– Oi Augusto. Chegou há muito tempo? – pergunta Regina.
– Não, dona Regina. Acabei de chegar.
Ângela chega à sala.
– Bom dia mãe. Oi Augusto. Tudo bem?
– Tudo ótimo. Já está pronta? – pergunta Augusto a Ângela.
– Sim.
– Então é melhor irmos, não acha?!
– Sim.
– Boa prova, minha filha. Você estudou demais, então não fique nervosa, porque os conteúdos você sabe. – deseja Regina a Ângela.
Regina dá um beijo no rosto de Ângela e a abraça. Ângela e Augusto deixam o apartamento.

***
No seu quarto na pensão, Hanna olha uma foto de Jorge. A dona da pensão fica, ao mesmo tempo, com raiva e com saudades, e fala, em tom baixo:
– Ah, Jorge. Eu te amei demais, até você me convencer a fazer aquilo e ainda me trocar pela Regina, aquela sem sal.
Regina rasga a foto de Jorge, pisa nela e ainda diz:
– Você ainda me paga, Jorge!
Hanna recolhe os pedaços da foto com medo de alguém encontrar e os joga no lixo.

***
Após pegarem um táxi, Ângela e Augusto chegam à faculdade de pedagogia de Bulires. A fachada da faculdade é antiga, porém bem conservada, com paredes amarelas. Vários concorrentes a vagas entram pelos dois portões de ferro da instituição.  Augusto abraça Ângela e deseja a ela:
– Boa prova, Ângela. Tudo vai dar certo. Pense positivo!
– Pode deixar, meu amor. Te amo. – fala Ângela, beijando Augusto.
Augusto e Ângela se abraçam pela última vez e a filha de Regina entra na faculdade. Após Ângela entrar na instituição, Augusto caminha por Bulires enquanto espera a amada fazer a prova.

***
Na praça de Pitenópolis, vários rapazes montam mais uma estrutura, porém dessa vez é montada uma espécie de sala para os testes de elenco do filme sobre Kika Postrad, chamado ‘‘Kika Postrad – Muito mais que um nome’’. Em um ônibus de dois andares logo chega a equipe do filme. Clóvis Motta, o diretor do filme, é o primeiro a sair do ônibus, acompanhado da grande estrela, Kika. Em seguida, descem outros produtores do filme e duas atrizes, Keyla e Neyla, as irmãs gemas. Neyla, a irmã com o cabelo mais claro, desce cumprimentando todos que vê, já Keyla, com seu cabelo preto, sai do ônibus de óculos escuros e fone de ouvido, sem olhar para ninguém que chama seu nome. Os produtores do filme e assistentes de Clóvis espalham vários cartazes pela cidade divulgando que os testes para atores, atrizes e membros do ‘‘staff’’ estão abertos. Olga, Pietro e Mary também estão na praça e se inscrevem para os testes.

***
Em Bulires, Max e Carmen pensam em um plano para conseguirem Sofia de volta.
– Temos que pensar em algo rápido, Carmen.
– Sim, Max. – responde Carmen – Fiquei sabendo que irão gravar um filme lá e os testes estão abertos. Aquela cidade de gente sonsa deve estar uma bagunça com isso. E a songamonga da Sofia não deve querer, então provavelmente ela vai ficar sozinha na pensão ou pelo menos quase sozinha.
– Bem pensado, Carmen. Você é uma gênia.
– Eu sei, Max. Qual vai ser minha recompensa?
– Depois conversamos sobre isso.
– Então já vamos sair?
– Sim. Não podemos perder tempo.
Max e Carmen saem da casa, entram no carro preto e vão em direção a Pitenópolis.

***
Após uma viagem cansativa, Jenny Franc chega a Ravione. A irmã de Mary Leh vai diretamente à boate Gaiola das Panteras, que antigamente era conhecida como Boate Conga, onde Hanna trabalhou, com o nome de Aninha do Bordel. A boate é predominantemente de cor preta, com detalhes em vermelho, dando um tom sombrio. Há várias gaiolas onde as dançarinas se apresentam. Jenny é recebida por Clô, a atendente do recinto, uma mulher mais velha, porém com uma roupa decotada e bem curta, que é bem direta com a irmã de Mary:
– Oi. O que você quer aqui essa hora? Emprego?
– Tô fora. Eu me recuso a fazer algo assim. Não sou dessas.
– Então o que você quer? – pergunta a mulher, enquanto mastiga um chiclete.
– Informações.
– Ah, estou me lembrando dessa voz. Você que ligou uns dias atrás né?

– Sim, eu mesma. – fala Jenny, colocando uma alta quantia de dinheiro em cima do balcão – Quero que você me conte tudo sobre a Aninha do Bordel.

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