quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Capítulo 19: CASTELO DE CARTAS (Últimas Semanas)



FADE IN.
CENA 01/CASA DE SANDRA/SALA/INT./DIA
Lugar espaçoso e iluminado, com um sofá no centro, uma poltrona do lado e um grande vão para a cozinha.
George e Ingrid sentados no sofá. Sandra vem da cozinha com duas xícaras e uma jarra de café numa bandeja, que coloca sobre a mesa de centro.
SANDRA – Podem se servir à vontade.
Sandra senta-se na poltrona. George e Ingrid pegam, cada um, uma xícara.
GEORGE – Então você é filha do doutor Saulo?
SANDRA – Sou eu. Papai morreu e deixou essa casa pra mim.
INGRID – Então você não morava aqui?
SANDRA – Morei até meus 20 anos. Depois fui morar em Petrópolis, em busca de emprego, mas não consegui. Voltei quando soube da morte dele.
INGRID – Entendo.
GEORGE – Como é o seu nome, perdão?
SANDRA – O meu nome? Sandra de Alencar.
GEORGE – Pois bem. Sandra, você sabia que seu pai se envolvia no processo do testamento das pessoas, certo?
SANDRA – Claro, claro.
INGRID – Bom, Sandra, o motivo de virmos aqui é o seguinte: o seu pai escreveu o testamento do meu marido, do modo como Otávio pediu para ser feita a divisão. O que acontece é que Otávio morreu recentemente e o testamento dele deixou um ar de dúvida.
SANDRA – Dúvida? Como assim?
INGRID – Otávio deixou a maior parte dos bens para minha filha, Maria Fernanda. Mas Otávio sabia da irresponsabilidade dela com os negócios. Isso nos leva a crer que Maria Fernanda falsificou o testamento para conseguir a maior parte das ações da nossa empresa e vários outros bens.
GEORGE – Eu sou um dos advogados da empresa da família e Ingrid me contou tudo isso. Enfim, nós queremos saber se seu pai não deixou algo que possa ajudar o nosso caso. Uma cópia do testamento, por exemplo.
SANDRA – Olha, eu acho que eu posso ajudar sim. Papai sempre guardava cópias de testamentos, justamente pra evitar as fraudes. Como era o nome completo do seu marido, senhora?
INGRID – Otávio Ramos Trindade.
Sandra levanta.
SANDRA – Ok. Eu vou procurar. Pode ser que leve um tempo.
GEORGE – Tudo bem. Nós esperamos o tempo que for necessário!
Sandra sobe a escada. Close em Ingrid.
INGRID – É hoje que o castelo de Maria Fernanda cai.
Ingrid nervosa.
Corta para:
CENA 02/HOSPITAL/SALA DE CONSULTA/INT./DIA
Lucas e um médico conversando, em pé. Vitória deitada numa maca, desacordada.
MÉDICO – Então ela estava sangrando muito e não era menstruação?
LUCAS – Foi isso que ela me falou, doutor. Quando eu cheguei na casa da Vitória, ela tava passando mal, vomitando.
MÉDICO – E logo depois o desmaio, não é?
LUCAS – Exatamente. O senhor já suspeita do que seja, doutor?
MÉDICO – Eu não trabalho com suspeitas. Vou fazer um hemograma assim que ela acordar. Pode haver uma bactéria no organismo dela que causou a hemorragia e o vômito.
LUCAS – Tudo bem, doutor.
Os dois olham para Vitória. Ela começa a abrir os olhos lentamente.
VITÓRIA – (com dificuldade) Lucas...
LUCAS – Ela tá acordando, doutor!
Lucas vai até Vitória e beija sua mão.
LUCAS – Oi, meu amor. Vai ficar tudo bem, tá?
Vitória assente com a cabeça.
Corta para:
CENA 03/QUARTO ESCURO/INT./DIA
Danilo caminha de um lado para o outro, com as mãos nos bolsos.
DANILO – Será que a Nínive viu o papel que eu deixei? Tomara!
Társis entra.
TÁRSIS – Ah! Bom garoto! Cumpriu o prometido. E aí, matou as saudades da tua mãe?
DANILO – Eu? Ah... é... claro! Eu fiquei bastante tempo... como eu vou dizer... conversando com ela. Você entende?
TÁRSIS – Eu acho que eu saquei, sim.
DANILO – E você? Conseguiu falar com a sua mãe?
TÁRSIS – Minha mãe não tava em casa. Quem me recebeu foi a Nínive, que logo me botou pra fora na base da porrada.
DANILO – Pô, que tenso.
TÁRSIS – Mas eu não quero conversa. Vou te amarrar de novo agora.
Társis pega uma corda que estava no chão. Danilo senta e Társis começa a amarra-lo.
TÁRSIS – Aí! Cê tá bem obediente hoje, né?
DANILO – Pode ser que eu esteja. Eu sei que eu vou sair daqui um dia.
TÁRSIS – Isso só por cima do meu cadáver. Eu sei que, se eu te liberar, você vai correndo pra minha casa. E eu já disse que não te quero lá.
DANILO – Tu não tem jeito mesmo, hein, Társis? Nunca vi ninguém tão racista. Quer dizer, já vi uma baranga que me escorraçou da empresa dela.
TÁRSIS – Tá, pode me poupar das suas historinhas de luta. Não quero saber. Agora fica quieto aí.
Társis pega um rolo de fita, corta um pedaço e põe na boca de Danilo.
TÁRSIS – Falou!
Társis sai.
Corta para:
CENA 04/BOATE/INT./DIA
Todas as dançarinas em cima do palco, nervosas. Algumas roem as unhas. Hilary e Juliana conversam, sentadas.
WALKIRIA – Ai, meu Deus! Me ajuda! Eu preciso passar nessa prova...
Hilary levanta.
HILARY – Atenção, meninas! Eu já tenho o resultado!
Todas prestam atenção.
HILARY – Primeiro eu queria agradecer mais uma vez à Juliana Valcézia, que veio de São Paulo pra cá fazer a seleção. Muito obrigada, de coração, Juliana!
JULIANA – Que é isso? É uma honra enorme selecionar o novo rosto que vai aparecer todos os domingos na tela.
HILARY – Muito bem. Chegou a hora. A Juliana escolheu três meninas para irem para o concurso em São Paulo.
WALKIRIA – Três? Mas não eram quatro meninas, Hilary?
JULIANA – Era pra ser quatro meninas selecionadas mesmo. Mas, sem querer desmerecer, eu não encontrei mais de três dançarinas boas.
Todas se entreolham.
HILARY – As selecionadas foram...
Closes alternados entre as dançarinas.
HILARY – Solange...
Uma dançarina comemora e abraça as amigas.
HILARY – Fabrícia...
Outra dançarina começa a chorar.
HILARY – E, finalmente... Walkiria!
Walkiria comemora. Todas se abraçam.
JULIANA – Eu queria dar parabéns a todas que participaram do concurso. Todas foram boas. Mas é preciso separar as boas das melhores. Vocês entendem, não é?
HILARY – Entendem, claro. Bom, meninas, o concurso ao vivo no Domingão vai ser nesse domingo, ou seja, depois de amanhã. Se preparem!
Close em Walkiria, muito feliz.
Corta para:
CENA 05/STOCK SHOTS/RIO DE JANEIRO/EXT./DIA-NOITE
SONOPLASTIA: DRAG ME DOWN – ONE DIRECTION
Takes da transposição do dia para a noite. As luzes da cidade se acendem.
SONOPLASTIA CESSA
Funde com:
CENA 06/BOATE/FRENTE/EXT./NOITE
Uma grande fila na porta da boate. Kátia Flávia tenta entrar e um segurança a barra.
SEGURANÇA – Calma aí, madame! Você tem idade pra entrar nessa boate?
KÁTIA FLÁVIA – Que é isso, garoto? Você acha mesmo que eu sou de menor? Se toca! Eu, hein...
Kátia Flávia empurra o segurança e entra na boate.
Corta para:
CENA 07/BOATE/INT./NOITE
SONOPLASTIA AMBIENTE: POSSO SER - LEXA
Várias pessoas dançando. Kátia Flávia entra e já começa a dançar. Ela encontra um homem loiro e começa a rebolar em volta dele.
KÁTIA FLÁVIA – Tô disponível, viu, gato? Qualquer coisa me liga!
Kátia Flávia vai dançando até o bar e bate duas vezes no balcão.
KÁTIA FLÁVIA – Fala, garçom! Vai mandando uma cerva aí que hoje eu quero me jogar!
O garçom pega uma garrafa na geladeira, abre e dá para Kátia Flávia, que bebe tudo de uma vez.
MÚSICA MUDA PARA: KÁTIA FLÁVIA – FAUSTO FAWCETT
KÁTIA FLÁVIA – Sai da frente que é a minha música!
Kátia Flávia vai até o centro da boate e começa a dançar. As pessoas abrem caminho. Ela faz muitos passos difíceis e rodopia várias vezes.
Do outro lado da boate, Hilary e Juliana conversam. Hilary aponta para Kátia Flávia.
HILARY – Quem é aquela maluca ali dançando?
Juliana levanta o olhar.
JULIANA – Ué, maluca nada. Ela tá mandando muito bem!
As duas começam a se aproximar. Kátia Flávia continua dançando. Hilary e Juliana se entreolham.
JULIANA – Hilary, eu acho que nós já encontramos a quarta garota do concurso!
Kátia Flávia dá uma cambalhota. Todos aplaudem. Hilary se aproxima mais de Kátia Flávia e a puxa pelo braço para o outro lado da boate.
KÁTIA FLÁVIA – O que é isso, sua cretina? Me larga!
Hilary solta Kátia Flávia.
KÁTIA FLÁVIA – O que vocês querem comigo? Olha, já vou dizendo que eu não gosto de bater bife não. Meu negócio é macho mesmo.
JULIANA – Calma, não é isso.
KÁTIA FLÁVIA – Ei, eu tô te reconhecendo! Tu não é aquela loira burra que passa no Faustão abrindo as pernas?
Juliana fica constrangida.
KÁTIA FLÁVIA – É tu mesma! Aí, depois tu me ensina a fazer aquilo, viu? Se bem que abrir as pernas já deve ser mais experiência do que academia, né?
HILARY – Cala a boca, sua maluca! É a Juliana Valcézia do Faustão, sim. Ela te viu dançando ali no meio da boate e tem uma proposta pra te fazer.
KÁTIA FLÁVIA – Eu, você, dois filhos e um cachorro? Não, querida, já disse que eu prefiro macho.
JULIANA – Não é nada disso que você tá pensando. É que eu tô fazendo um teste com algumas meninas para serem bailarinas do Faustão. Daí eu te vi dançando maravilhosamente bem na pista e pensei se seria possível você viajar amanhã com a gente até São Paulo pra participar do concurso.
KÁTIA FLÁVIA – Eu? Bailarina do Faustão? Fechou, querida. Onde é que eu assino?
JULIANA – Não precisa assinar nada. É só vir aqui na tarde de amanhã. Todas as outras selecionadas vão para o concurso juntas, no mesmo avião.
KÁTIA FLÁVIA – Avião? Ah, não. Morro de medo de avião! Imagina se ele cai no meio da viagem?
HILARY – Não fala isso, garota! Eu, hein!
JULIANA – Pode me passar o seu celular? Como é o seu nome mesmo?
KÁTIA FLÁVIA – Kátia Flávia, a godiva do Irajá. O prazer é todo seu!
Kátia Flávia mexe no cabelo. Closes alternados entre Hilary e Juliana.
Corta para:
CENA 08/MANSÃO TRINDADE/FRENTE/EXT./NOITE
Todas as luzes internas ligadas.
Um carro estaciona em frente à mansão. De lá descem Ingrid, com um papel na mão, e George.
GEORGE – Tem certeza que prefere abrir esse documento sozinha, Ingrid?
INGRID – Tenho, George. Eu tenho certeza sim. Esse é um caso mais familiar do que judicial, pelo menos pra mim. Obrigada por ajudar tanto hoje.
GEORGE – Nada mais justo do que ajudar uma senhora tão respeitável.
Os dois se entreolham e aproximam os rostos. Ingrid se vira.
INGRID – Até qualquer hora, George.
George desanima.
GEORGE – Até.
George entra no carro e parte. Ingrid abre o portão da mansão, entra e fecha de novo.
Corta para:
CENA 09/MANSÃO TRINDADE/SALA/INT./NOITE
Maria Fernanda sentada no sofá, vendo TV. Ingrid entra e vê os cacos de vidro do quadro de Otávio no chão.
INGRID – O que foi que aconteceu aqui, Maria Fernanda? Um furacão?
MARIA FERNANDA – Você se refere a esse monte de caco de vidro no chão, mamãe? Fui eu que derrubei. Mas a culpa foi daquela Angélica, que de anja não tem nada. Ela me deu um susto, mamãe!
INGRID – Maria Fernanda, por acaso isso é... isso era o quadro de Otávio?
MARIA FERNANDA – O que sobrou dele.
INGRID – Por que você fez isso, Fernanda?
MARIA FERNANDA – Mamãe, a culpa não foi minha, já disse. Eu só ia jogar fora. Mas quando eu tava tirando da parede, aquela peste mirim apareceu das profundezas e me assustou. Eu acabei derrubando o quadro.
INGRID – Eu não acredito que você fez isso. Afinal de contas, o que você tinha contra o quadro do seu pai?
MARIA FERNANDA – Justamente o fato de ser do meu pai. Mesmo depois de morto ele tá voltando pra me perseguir. Eu sinto, mamãe! Eu sinto!
INGRID – Por que ele voltaria pra te perseguir, filha? O que você fez pra ele?
Ouve-se um toque de celular.
INGRID – É o seu, Fernanda?
MARIA FERNANDA – Não.
Maria Fernanda vê um CELULAR em cima da mesa de centro.
MARIA FERNANDA – Ah, é aquele tijolinho ali. Pobre assim só pode ser da Madalena.
Madalena vem correndo da cozinha.
MADALENA – Eu ouvi meu celular tocando.
MARIA FERNANDA – Tá em cima da mesa de centro, encosto. Atende logo que esse toque já tá me irritando.
Madalena pega o celular e atende.
MADALENA – Alô? (t.) Como? (t.) Mas como isso aconteceu? Não pode ser!
Ingrid se preocupa.
MADALENA – Tudo bem. Entendi. Obrigado por dizer.
Madalena desliga, assustada.
INGRID – O que foi, Madalena? Você tá tremendo!
MADALENA – Dona Ingrid... meu irmão e minha cunhada sofreram um acidente. Os pais da Angélica morreram!
Todas se preocupam. Closes alternados entre as três.
CENA 10/HOSPITAL/SALA DE CONSULTA/INT./NOITE
Lucas e Vitória sentados num sofá, abraçados. O médico arruma alguns papéis.
MÉDICO – Bem, vocês deram sorte. O laboratório foi rápido com a análise do hemograma, demorou apenas 6 horas. Tem vezes que o paciente tem que esperar dois dias. Enfim, eu estou com resultado aqui.
LUCAS – Que bom, doutor. E aí, o que diz?
O médico abre a pasta e de lá tira um papel.
VITÓRIA – O que é que eu tenho, doutor?
O médico suspira.
MÉDICO – Eu não queria dar essa notícia, ainda mais hoje, que é Natal. Mas falar a verdade é preciso. Vitória... você foi diagnosticada com leucemia.
Vitória e Lucas se assustam. Fecha em Vitória, nervosa e com os olhos já lacrimejando.

FIM DO CAPÍTULO

Nenhum comentário:

Postar um comentário