domingo, 24 de janeiro de 2016

Capítulo 18: Castelo de Cartas





CENA 01/CASA DE VITÓRIA/BANHEIRO/INT./DIA
Continuação imediata do capítulo anterior.
SONOPLASTIA: HELLO – ADELE
O chão do box do banheiro todo sujo de sangue. Vitória chora, nua, sentada no chão e abraçando as pernas.
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CENA 02/CASA DE VITÓRIA/QUARTO/INT./DIA
Vitória, enrolada em uma toalha e com as pernas sujas de sangue, pega o CELULAR de cima da cômoda e disca um número.
LUCAS – (tel.) Oi, você ligou para o Lucas Trindade. No momento, eu não posso atender. Deixe seu recado após o sinal e, quando puder, eu retorno a ligação.
Ouve-se um bipe.
VITÓRIA – (chorando) Lucas, por favor! Me ajuda! Eu tô sangrando muito, eu não sei o que é! Vem pra cá o mais rápido possível. Por favor!
Vitória desliga e senta na cama, chorando.
SONOPLASTIA CESSA.
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CENA 03/RIO DE JANEIRO/RUA/EXT./DIA
CAM CHICOTE mostra um prédio em ruínas. Portas quebradas, pintura descascada, pichações nos muros. Ingrid, Lucas e George chegam, caminhando.
GEORGE – É aqui onde você diz que trabalha esse testamenteiro, dona Ingrid?
INGRID – Eu me lembro de quando ele foi lá em casa escrever o testamento do Otávio e me deixou um cartão. Eu tenho certeza que esse é o endereço!
LUCAS – Só que isso aí tá caindo aos pedaços, vó. Não tem como alguém trabalhar aí dentro.
George caminha até um homem sentado em uma calçada ali perto.
GEORGE – Com licença, meu senhor. Você sabe de um homem que trabalhava neste prédio aqui ao lado?
HOMEM – O doutor Saulo? Sei sim. Eu trabalhava com ele. O doutor era muito procurado pra fazer testamento. Só que depois da morte dele, todo mundo ficou desempregado.
Ingrid e Lucas se aproximam.
INGRID – Doutor Saulo morreu?
HOMEM – Morreu, senhora. Faz uns meses. Aí vieram uns vagabundos da rua e, aproveitando que ninguém mais trabalhava ali, acabaram com tudo.
LUCAS – E o senhor não sabe de ninguém da família dele, algum parente distante?
HOMEM – Olha, moço, parente mesmo ele só tem a filha.
INGRID – Você tem o contato dessa filha? Nós precisamos urgentemente, senhor.
O homem olha para Ingrid, desconfiado.
HOMEM – De graça nada é feito, dona.
Lucas pega a carteira, tira duas notas de cem e dá para o homem.
LUCAS – Se o problema é dinheiro, tá aí. Duzentos tá bom?
HOMEM – Quer Whatsapp da moça também?
O homem sorri.
Nesse momento, Nenê, Rosicler e Mayara passam correndo em direção ao prédio abandonado. O homem se levanta.
HOMEM – (grita) Ei! O que vocês vão fazer aí?
NENÊ – (grita) Não é da tua conta, seu abusado!
As três entram no prédio.
GEORGE – Você não vai fazer nada? Afinal de contas, esse era o seu ambiente de trabalho.
HOMEM – E me cansar pra quê? Isso aí já era, podem fazer o que quiser.
Closes alternados entre todos os presentes.
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CENA 04/PRÉDIO ABANDONADO/INT./DIA
Lugar cheio de lixo acumulado. Nenê, Rosicler e Mayara entram.
ROSICLER – Ai, gente... não tinha um lugarzinho melhor pra escolher não?
MAYARA – Não reclama, Rosicler. Foi o único lugar livre que eu encontrei.
NENÊ – A Mayara tá correta. É melhor um lugar fechado, mesmo que porcalhão, do que o meio da rua. É aqui mesmo que nós vamos decidir o que fazer com aquele traste do Gregório!
ROSICLER – Mas nós não podíamos ao menos arrumar uma mesa digna e algumas cadeiras pra nos sentarmos?
MAYARA – Tem tudo ali.
Mayara vai até o meio do prédio e trás três cadeiras.
MAYARA – Agora me ajudem com a mesa.
As três carregam a mesa e a levam para perto da porta.
NENÊ – Agora sim. Comecemos a reunião.
As três sentam.
ROSICLER – Então, o que eu pensei/
MAYARA – (corta) Calma, calma. Não é assim que se começa uma reunião. Primeiramente, bom dia e feliz natal.
ROSICLER – Feliz Natal, Ano Novo, Carnaval, Dia das Mães, feliz tudo! Pronto! Fiz o pacotão pra ninguém me atrapalhar mais. Agora posso falar?
Silêncio.
ROSICLER – Pois bem. O que eu pensei pra me vingar do safado cujo nome não quero nem pronunciar foi: fazer uma armadilha pra ele, trazê-lo pra cá e aí...
Rosicler faz um gesto de faca com a mão.
NENÊ – Mulher, que maléfica! Adorei!
Nenê bate na mão de Rosicler.
MAYARA – O quê? Como assim, gente? Eu não entendi.
ROSICLER – Tão novinha e tão burrinha... Chega a ser triste!
MAYARA – Você não me chama de burra não, sua perua da classe C!
ROSICLER – Do que foi que você me chamou, espirro de grilo?
NENÊ – Gente, olha a confusão!
MAYARA – Não se faz de santa, Nenê! Eu sei que você curte um barraco também!
NENÊ – Tá me chamando de barraqueira, garota?
MAYARA – Quê que tu acha?
As três levantam e começam a discutir. Rola puxão de cabelo pra todo lado.
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CENA 05/BOATE/INT./DIA
Uma dançarina termina sua apresentação e volta para o seu lugar. Hilary e Juliana Valcézia aplaudem.
HILARY – Muito bem! Foi ótimo! O que você achou, Ju?
JULIANA – Eu adorei. Achei o máximo! Só achei que você ficou meio presa, precisa se soltar mais. Entendeu?
A dançarina assente com a cabeça. Hilary olha para a prancheta.
HILARY – Agora é a vez de... Walkiria!
Walkiria respira fundo, vai até o centro do palco e faz o sinal da cruz.
WALKIRIA – Som na caixa, DJ!
SONOPLASTIA: PRETTY GIRLS – BRITNEY SPEARS
Walkiria começa a dançar. Os olhos de Hilary brilham. Juliana se mostra feliz. Algumas das outras dançarinas olham com desdém. Tempo.
SONOPLASTIA CESSA.
Walkiria termina a dança. Todos aplaudem.
JULIANA – Simplesmente maravilhoso! Parabéns! Até agora foi a que mais me chamou a atenção. Muito bom!
Walkiria sorri e volta para o seu lugar.
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CENA 06/CASA DE ROSICLER/FRENTE/EXT./DIA
Danilo atrás de uma moita. Ele vê uma lata de lixo e vasculha alguma coisa lá dentro.
DANILO – Cadê? Cadê?
Danilo tira da lata uma folha de papel e um pedaço de carvão. Ele escreve alguma coisa, apoiando o papel na parede, põe na frente da porta e sai correndo.
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CENA 07/CASA DE ROSICLER/SALA/INT./DIA
Társis e Nínive de pé.
NÍNIVE – O que você veio fazer aqui, Társis?
TÁRSIS – Eu vim pedir uma nova chance. Hoje é Natal, Nínive. Eu não consigo passar essa data sozinho. Eu sinto muita falta de vocês. Lembra que, quando a gente era pequeno, a gente passava o Natal abraçado na mamãe? Lembra?
NÍNIVE – Társis, eu/
TÁRSIS – (corta) Eu quero voltar pra vocês, Nínive. Eu quero voltar a morar aqui. Cadê a mamãe? Eu preciso conversar com ela.
NÍNIVE – Ela não tá em casa, Társis. Mas que decisão foi essa repentina de voltar a morar aqui? Você não disse que se incomodava com a presença do Danilo?
TÁRSIS – Não tem problema, Nínive. Eu sei que ele não vai mais me incomodar. Ele não tá nem mais aqui!
Silêncio. Depois de um tempo, Nínive arregala os olhos.
TÁRSIS – Por que você tá me olhando assim?
NÍNIVE – Como é que você sabe que o Danilo não tá mais aqui?
TÁRSIS – (nervoso) Nínive, eu... eu só... eu só pensei! Eu imaginei. Tá legal?
NÍNIVE – Eu não acredito! Eu não acredito que você foi capaz, Társis!
Nínive se aproxima de Társis, que recua.
TÁRSIS – Do que... do que você tá falando, Nínive?
NÍNIVE – Seu miserável! Como você pôde fazer uma coisa dessas? Como você pôde sequestrar o Danilo?
Nínive começa a bater no peito de Társis.
TÁRSIS – Para, Nínive!
NÍNIVE – (grita/chora) Seu ordinário! Eu tenho nojo de você!
Nínive dá um tapa em Társis.
NÍNIVE – Eu te odeio! Eu te odeio! Sai da minha casa agora!
TÁRSIS – Nínive, por favor/
NÍNIVE – (corta/grita) SAI DAQUI!
Nínive abre a porta e empurra Társis pra fora. Ele olha para Nínive, faz um sinal negativo com a cabeça e vai embora. Nínive enxuga as lágrimas, olha pra baixo e vê um papel. Ela pega.
NÍNIVE – (lê) Me encontre na Gomes Freire. Tô num beco.
Ela tira os olhos do papel.
NÍNIVE – É do Danilo!
Nínive sorri.
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CENA 08/MANSÃO TRINDADE/SALA/INT./DIA
Maria Fernanda desce as escadas e vai em direção ao quadro de Otávio. Ela o tira da parede.
ANGÉLICA – (O.S.) É trauma de ontem?
Maria Fernanda se assusta e deixa o quadro cair no chão, se despedaçando. Ela se vira e vê Angélica sentada na poltrona.
MARIA FERNANDA – Que susto, garota! O que você tá fazendo aqui, hein?
ANGÉLICA – Eu tô olhando pra você. Você é corajosa, hein? Consegue sair de dentro do quarto depois daquele show de ontem à noite.
MARIA FERNANDA – Se aconteceu ontem à noite, ficou em ontem à noite. Tira isso da sua cabeça!
ANGÉLICA – Da minha cabeça eu até posso tirar, mas do meu celular...
MARIA FERNANDA – Ah, agora que eu tô me lembrando. Você gravou tudo, né, mafiosa mirim? Pode ir passando esse celular pra cá!
ANGÉLICA – Fica à vontade!
Angélica entrega o celular para Maria Fernanda, que procura o vídeo e o apaga.
MARIA FERNANDA – Pronto! E assim acaba a saga de ontem à noite.
Maria Fernanda devolve o celular para Angélica.
ANGÉLICA – Acabou só se for pra você, né? Antes de você acordar, eu sincronizei meu celular com o do Lucas. Mesmo você tendo apagado o vídeo, ele foi pra pasta de backup do celular do seu filho.
MARIA FERNANDA – Dá pra fazer isso?
ANGÉLICA – Ai, ai... se você quer ser vilã desse negócio, tem que ser mais esperta.
Angélica ri e sai.
MARIA FERNANDA – (grita) Sua capetinha!
Maria Fernanda brava.
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CENA 09/CASA DE ARTURO/SALA DE JANTAR/INT./DIA
Kátia Flávia e Arturo almoçam.
KÁTIA FLÁVIA – Almoço requentado, que horror! Imagina se isso sai na mídia? Kátia Flávia, ex-namorada de um dos herdeiros da famosa empresa Trindade, come almoço requentado. Me arrepio toda só de pensar.
ARTURO – Você come requentado quase todo dia, Kátia Flávia. Acorda quase na hora do lanche da tarde...
KÁTIA FLÁVIA – Não, isso quem fazia era a antiga Kátia Flávia. Você sabe que agora eu tô loura e madura, né? Os hábitos pobres também têm que ser deixados pra trás. Aos poucos eu estou virando uma Maria Fernanda Trindade da vida.
ARTURO – Pra se tornar uma Maria Fernanda tem que comer muito arroz com feijão... mesmo que requentado.
KÁTIA FLÁVIA – Que piada horrível, tio Arturo! Bem que dizem que todo mundo tem aquele tiozão que só fala coisa sem graça.
ARTURO – Não precisa ofender também!
KÁTIA FLÁVIA – Mas quer saber, tio Arturo? Hoje é Natal e eu vou me jogar na night! Os gatinhos que me esperem. Hoje a noite é minha!
ARTURO – Eu tenho até medo da noite na tua mão, Kátia Flávia.
Kátia Flávia convencida.
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CENA 10/CARRO/INT./DIA
George dirige o carro. Ingrid no banco do carona e Lucas no banco de trás. Ingrid fala ao celular.
INGRID – Perfeito. E o endereço é qual? (t.) Tudo bem. Obrigada por atender!
Ingrid desliga.
GEORGE – E então? Tudo certo?
INGRID – Sim. A tal filha do doutor Saulo me passou o endereço direitinho.
LUCAS – Olha! A Vitória deixou uma mensagem na minha caixa postal. Vou ver o que é.
Lucas põe o celular ao ouvido.
VITÓRIA – (V.O./tell) Lucas, por favor! Me ajuda! Eu tô sangrando muito, eu não sei o que é! Vem pra cá o mais rápido possível. Por favor!
LUCAS – Meu Deus! A Vitória tá passando mal!
INGRID – E agora, Lucas?
LUCAS – Doutor, para o carro! Para o carro!
George freia. Lucas desce.
GEORGE – Quem é essa Vitória?
INGRID – Namorada do meu neto. Linda, por sinal. Tomara que fique tudo bem com ela.
George sai com o carro.
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CENA 11/CASA DE VITÓRIA/BANHEIRO/INT./DIA
Vitória vomita na privada. Ouvem-se batidas na porta.
VITÓRIA – Já vai!
Vitória caminha, com dificuldade, até a SALA e abre a porta. Lucas entra.
LUCAS – Vitória, eu vim correndo! O que foi que aconteceu?
VITÓRIA – Eu fui tomar banho e sangrei muito, Lucas. E agora mesmo eu tava passando mal. Vomitei muito. Até sangue.
LUCAS – Vitória, isso é caso médico! Vamos pro hospital agora!
VITÓRIA – Lucas... eu acho que...
Vitória desmaia nos braços de Lucas.
LUCAS – Vitória!
Lucas aflito.
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CENA 12/CASA/FRENTE/EXT./DIA
George e Ingrid parados em frente à porta de uma casa média, de cor laranja. Ingrid toca a campainha duas vezes.
GEORGE – Tem certeza que o endereço é esse?
INGRID – Tenho. Ela me passou esse endereço mesmo.
A porta se abre. Sandra aparece.
SANDRA – Bom dia!
Closes alternados entre os três. Fecha em Sandra.

FIM DO CAPÍTULO

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