quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Capítulo 21: Dancin Days

CENA 01. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
TODOS OS PRESENTES AINDA MUITO TENSOS. CARMINHA VAI ATÉ ALBERICO E PEGA A CARTA, LÊ.
CARMINHA – Não, não é possível. Não tem cabimento uma coisa dessas!
ALBERICO – (distante) Infelizmente tem, minha filha. As coisas funcionam exatamente dessa forma.
PAULINA – Se não tem pagamento, não tem apartamento. Ah, meu Jesus Cristinho! Eu rezei tanto pra isso não acontecer, até coloquei o santo de cabeça pra baixo na vasilha/
EDGAR – Engraçado como suburbano tem ilusão de que santo dá bola pra tudo que acontece na vida. É complexo de importância, é?
CARMINHA – Cala a boca, Edgar. Não é hora pra implicância.
FATIMA – Deixa eu ver esse papel, filha. Pode ser só brincadeira de alguém/
CARMINHA – (por cima/triste) Não, não. Tem selo do banco. A casa vai a leilão em duas semanas, nosso tempo pra desocupar é a metade disso/
ÁUREA – (ácida) Que pena, né, Carminha? Situação realmente lamentável. Fico imaginando pra onde todo mundo vai se a gente perder o apartamento, se você vai mesmo conseguir realizar o seu sonho de sair daqui.
ALBERICO – Sair? Como assim?
ÁUREA – (encarando Carminha) Carminha me disse ontem que pretende se mudar de apartamento. Que feio, irmã! Não disse nada pro papai?
CARMINHA – (irritada) Como você é falsa/
ALBERICO – (por cima/implorando) Sem você aqui nessa casa, Carminha, as coisas demandam de vez. Você não pode deixar a gente. Não pode.
CARMINHA – Podem ficar tranquilos que daqui eu não saio e daqui ninguém me tira. No momento a prioridade é não deixar todo mundo ir pra rua!
JULIANA – Eu não entendo muita coisa de despejo, vocês sabem. Mas eu acho que o banco deveria ter dado pelo menos trinta dias pra gente se alocar, ver um canto onde ficar.
FÁTIMA – Que canto, Juliana? Nem se eles dessem seis meses, nós ainda continuaríamos sem ter onde cair mortos. Esse apartamento é só o que nos resta.
ALBERICO – Restava, não resta mais. Nós precisamos dar um jeito nessa situação, inverter esse jogo. Não dá pra sair daqui, essa não é uma escolha. Ou vamos ter que morar embaixo de uma ponte?
PAULINA – Ah, meu Jesus! Eu não aguento ter que morar debaixo da marquise não, gente.
ÁUREA – Se toca, garota. Você é empregada, pode arrumar outro emprego, se virar na vida.
EDGAR – Quero é ver alguém contratar essa daí. Duvido muito!
JULIANA – E aí, Carminha? Já sabe o que vai fazer?
CARMINHA – A coisa mais sensata, Jú. Vou atrás de um advogado. Pelo menos ele vai dar uma luz pra gente, né? Porque eu realmente acho que o banco não pode nos tirar daqui desse jeito. Tem que dar pra reverter!
INÊS – Eu já sei, tia. O pai do Cadu, o Franklin, ele é advogado, um dos melhores, aliás! Cês podem ir à casa deles, ver se ele pode ajudar.
AUREA – Será, Inês? Eu acho que é abusar demais do seu sogro.
INÊS – Nada, mãe. Ele se dispor a ajudar no que for possível. Me trata muito bem, sempre.
CARMINHA LEVANTA, DECIDIDA.
CARMINHA – Então eu vou pra lá agora mesmo. Juliana, vem comigo?
JULIANA – Adoraria, mas hoje eu começo no trabalho novo. Não quero atrasar.
VITORIA – Vou eu, então. Eu já sei o endereço, Carminha.
CARMINHA E VITORIA VÃO SAINDO.
ALBERICO – Boa sorte, minha filha! Que Deus nos ajude.
JULIANA TAMBEM SE LEVANTA.
JULIANA – Gente, eu também vou indo nessa. Primeiro dia na Apollo! Tô muito feliz pela oportunidade.
ÁUREA INCOMODADA.
FATIMA – Boa sorte, Jú. Cê é uma menina de ouro.
JULIANA – Obrigada. Até mais.
AUREA – (Irônica) Boa sorte no trabalho, Juliana. E vai aproveitando.
JULIANA ENCARA AUREA, IRRITADA. HESITA, MAS ACABAR SAINDO. OS DEMAIS VOLTANDO AO CAFÉ. ÁUREA NÃO COME NADA. NELA, DESCONFORTÁVEL.
CORTA PARA:

CENA 02. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
CAMPAINHA TOCANDO, A EMPREGADA VAI ATENDER. CARMINHA E VITORIA.
EMPREGADA – Pois não?
CARMINHA – A gente veio falar com o doutor Franklin. Sou tia da Inês, namorada do Cadu.
EMPREGADA – Ele está no escritório dele, não sei se quer ser incomodado.
CARMINHA – (indecisa) Mas não dá mesmo pra chamar? É caso de vida ou morte!
FRANKLIN VEM DESCENDO A ESCADA, OUVE. VAI ATÉ ELAS.
FRANKLIN – Boa tarde, senhoras. A que devo a honra?
EMPREGADA – Elas querem falar com o senhor, diz que é caso de vida ou morte.
CARMINHA – O senhor deve ser o doutor Franklin/
FRANKLIN – (por cima/ri) Senhor tá no céu, e eu não sou doutor de nada. Pareço assim tão velho?
CARMINHA – Não foi a intenção. Desculpe.
FRANKLIN – Tô brincando, podem entrar. (à empregada) Pode ir.
A EMPREGADA SAI. FRANKLIN, CARMINHA E VITORIA VÃO ATÉ O SOFÁ E SENTAM.
FRANKLIN – Acho que agora podemos falar. Você disse que se trata de caso de vida ou morte e eu fiquei curioso. Caso de doença?
CARMINHA – Graças ao bom Deus, não. Mas também é sério. O senhor me conheceu aquele dia na rua, com o meu pai, seu Alberico.
FRANKLIN – (Lembrando) Claro. (Sorri) Carmem Lúcia, não é?
CARMINHA – Isso, mas me chame de Carminha, prefiro. Eu sou tia da Inês, sabe? A namorada do Cadu. Ela disse pra eu vir aqui. Vou resumir tudo: Nós temos algumas dívidas com o banco, problemas financeiros, e agora disseram que a casa vai a leilão. Duas semanas pra gente desocupar, acredita?
FRANKLIN – Já vi casos parecidos.
CELINA NA CADEIRA VEM ENTRANDO E VAI ATÉ ELES, DESCONFIADA.
CELINA – Posso saber quem são Franklin?
CARMINHA – (Estendendo a mão) Prazer, eu sou tia da Inês/
CELINA – (Irônica) E por acaso se chama Franklin? Porque pelo que eu me lembre, a pergunta foi referida ao meu marido.
FRANKLIN – Celina, por favor.
CARMINHA – Não, não. Ela tá certa. Desculpa pela intromissão.
CELINA – A minha pergunta ainda não foi respondida.
FRANKLIN – Tia da Inês, Carminha. Veio aqui pra eu ajudar com umas pendências de advogado, só.
CELINA – (sarcástica) Carminha, que singelo. Entendi. Bem, eu acho que o governo disponibiliza advogado público, não? Vá saber. Hoje em dia esse governo criou especialidade em sustentar pobre. Não me espanta que daqui a alguns anos alguém crie o bolsa paraíso fiscal.
VITORIA – Essas coisas de advogado público são muito lentas, demoram demais. Até a gente conseguir um, o apartamento já foi a leilão!
CELINA – Também não te perguntei nada. Mas deve ser mal de família. De qualquer jeito, eu já tô de saindo.
FRANKLIN – Sair, Celina? Não sei se é uma boa/
CELINA – (corta/irritada) Tô aleijada ou em cárcere privado? Me poupe, se poupe, nos poupe.
CARMINHA – Eu fiquei sabendo do seu acidente, dona Celina. Saiba que tudo ainda pode melhorar, a senhora parece ser uma mulher forte/
CELINA – (corta/impaciente) Cheguei ao ponto de ouvir conselho de suburbana. Será que tá tão na cara que eu tô na merda?
CARMINHA E VITÓRIA SE OLHAM, CHOCADAS.
CARMINHA – Enfim, Franklin. Eu e a Amanda vamos resolver umas coisinhas do casamento da Mariana e do Bruno.
FRANKLIN – (surpreso) Casamento?
CELINA – O Bruno não deve ter te contado, mas pediu a menina em casamento. Estão noivos!
FRANKLIN – E você ainda não armou um escândalo?
CELINA – Me poupe das suas gracinhas. Quero a alegria do meu filho. Tchau.
CELINA SAI. VITORIA PENSATIVA.
VITORIA – (pensativa) Então o Bruno vai casar.
FRANKLIN – Pra mim também é novidade. Mas a garota é gente boa, filha da Amanda Pratini, conhecem?
VITORIA – Claro, claro.
FRANKLIN – Bem, mas estávamos falando sobre um caso de despejo, não?
CARMINHA – A ordem do banco veio hoje. Uma semana pra desocupar!
CARMINHA CONTINUA FALANDO, EM OFF. FRANKLIN ESCUTANDO, VITORIA CHATEADA.
CORTA PARA:

CENA 03. MANSÃO PRATINI. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
AMANDA E BIBI NO SOFÁ. CONVERSA À MEIA.
BIBI – Mas você tem certeza de que a Mari tá feliz com o casamento?
AMANDA – Imagina se não tá. E se não estivesse eu fazia ficar. Vai ser o casamento do ano, Bibi! Quero close, quero close. Eu quero o contato do melhor DJ dessa cidade, com certeza. E não se esqueça de chamar os colunistas das revistas de fofoca. Quero que a festa repercuta em todas as mídias!
BIBI – (divertida) Você não deve ter ficado tão animada nem no seu próprio casamento, né?
AMANDA – É porque agora é minha filha quem tá casando, Bibi. Ela cresceu, não é mais uma menina. Imagina se eu não vou ficar animada!
O CELULAR DE AMANDA TOCA. ELA ATENDE.
AMANDA – (ao telefone) Oi, Celina. Tá aqui? Que ótimo, entrando na brincadeira. Adoro! Já tô indo aí.
AMANDA DESLIGA, ENCARA BIBI.
AMANDA – Amiga, vaza.
BIBI – Como assim?
AMANDA – Celina tá aí.
BIBI – E por que eu tenho que ir embora? Tem vergonha de mim?
AMANDA – Não inventa, sarnenta. É justamente o contrário... A Celina tá aleijada, cê sabe. Ela não tá sabendo lidar com isso, pode ficar com vergonha de você ver ela assim.
BIBI – (estranha) Quanta compaixão da sua parte, amiga. É outra Amanda, é?
AMANDA – Para de ser cobra, vai.
AMANDA E BIBI SAEM.
CORTA PARA:

CENA 04. MANSÃO PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: “FIRE” – ANA CAROLINA.
BIBI SE DESPEDE DE AMANDA, LIGA O CARRO E SAI. AMANDA VINDO ATÉ O CARRO DE CELINA. O SEGURANÇA E AMANDA RETIRAM CELINA NA CADEIRA DE RODAS, E ELAS VÃO ATÉ A MANSÃO NOVAMENTE.
CORTA PARA:

CENA 05. MANSÃO PRATINI. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
AMANDA TERMINA DE FECHAR A PORTA DE VIDRO. CELINA SAI DA CADEIRA DE RODAS E SENTA-SE NO SOFÁ. SONOPLASTIA OFF.
AMANDA – Todo esse seu teatro dá trabalho, hein? Bem que você poderia ter se fingido de cega. Ia ser mais fácil na locomoção.
CELINA – Tá batido demais se fingir de cega. Cadeirante tem mais originalidade, querida.
AMANDA – Mais não é tão prático. Imagina se você é forçada a ter que correr de algum lugar? Um tiroteio, por exemplo? Vai ter que andar, todo mundo descobre.
CELINA – Eu tenho minhas artimanhas. (Forte) Ninguém vai saber de nada, a menos que você conte. E você sabe que eu não vou gostar nadinha disso.
AMANDA – Celina, convenhamos que eu não sou idiota. Eu fui atrás do seu médico de araque, descobri que você é uma farsante. Eu dei meus pulos. É claro que não vou jogar essa carta na manga direto no lixo. Logo agora que nós no duas estamos nos entendendo tão bem.
CELINA – Sem exageros.
AMANDA – Exagero nenhum. Você até convenceu o Bruno a pedir a Mari em casamento, Celina. O seu dom é o da persuasão.
CELINA – Não é muito difícil. A mãe aleijada e infeliz sempre tem um crédito com a família.
AMANDA SORRI.
AMANDA – Mas enfim, querida. Bom que você está aqui, podemos tomar umas decisões sobre o casamento.
CELINA – Já que estamos aqui. Fazer o que, né?
ELAS SENTAM NO SOFÁ. NELAS, CONVERSANDO, EM OFF.
CORTA PARA:

CENA 06. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 02. CARMINHA, VITÓRIA E FRANKLIN LEVANTANDO DO SOFÁ.
CARMINHA (grata) – Eu não sei nem como agradecer toda a ajuda que o senhor deu, seu Franklin!
FRANKLIN – Pois eu sei. É só cortar as formalidades. Nada de senhor, doutor, seu, nada disso. Pode não parecer, mas eu não sou tão velho assim.
CARMINHA – (Ri) Tá bom, Franklin. Mesmo assim, muito obrigada. Você ajudou muito!
FRANKLIN – Fico feliz. Mas ainda faço questão de telefonar para o tal banco. Modéstia a parte, eu sou um homem muito influente. Uma ameaça aqui, outra ameaça lá, eles retiram a ordem de despejo.
CARMINHA ABRAÇA FRANKLIN. ACABA SE CONTENDO, ENVERGONHADA.
CARMINHA – Ah, perdão. Mas eu nem esperava por isso! Obrigada de novo, Franklin.
ELE SORRI. VÃO ATÉ A PORTA.
VITÓRIA – Então é isso. Obrigada, Franklin.
FRANKLIN – Disponham, sempre que for preciso. Prazer te conhecer, Carminha.
CARMINHA – Todo meu.
FRANKLIN E CARMINHA SORRINDO. VITÓRIA NOTANDO O CLIMA, PUXA CARMINHA PRA FORA DA CASA. FRANKLIN FECHA A PORTA.
CORTA PARA:

CENA 07. MANSÃO LINHARES. FRENTE. EXTERIOR. DIA
AS DUAS VÃO ANDANDO.
VITÓRIA – (maliciosa) Arrasando corações, hein, Carminha?
CARMINHA – (confusa) Como é que é?
VITÓRIA – Ah, nem vem. Rolou mó climão entre você e o doutor Franklin, só você quem não vê. O cara ficou babando!
CARMINHA – (ofendida) Você não repete isso, viu, Vitória? Eu nem conheço o Franklin. Além do mais ele é casado/
VITÓRIA – (por cima, provocando) Com uma mulher que mais parece uma mistura de chocolate amargo com fel estragado. Nem ele deve suportar a tal da dona Celina.
CARMINHA – É mesmo uma insuportável, né? (corrigindo) Mas é como dizem. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. E agora para de me atormentar!
CARMINHA TOMA A FRENTE, IRRITADA. VITÓRIA RINDO, TENTA ALCANÇAR.
CORTA PARA:

CENA 08. APOLLO SPORTING. INTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: “BANG” – ANITTA.
PESSOAL MALHANDO A TODO RITMO. TAKES DESCONTÍNUOS DO PESSOAL NOS APARELHOS.
JULIANA CHEGA E VAI ATÉ SOLANGE. SONOPLASTIA OFF.
SOLANGE – (irritada) Atrasada. No primeiro dia de trabalho.
JULIANA – (contornando) Dez minutos. Sei que pode parecer clichê, mas foi culpa do trânsito. Ônibus lotado, sabe como funciona.
SOLANGE – (considera) Tá, tá. Que não se repita. Se achar que o trânsito pode complicar é só sair meia hora antes, eu faço assim.
JULIANA – (sorri) Muito obrigada, dona?
SOLANGE – Não sou dona de nada. Pode chamar de Solange.
URBANO VAI ATÉ ELAS. MEIO EMBASBACADO PELA PRESENÇA DE JULIANA.
URBANO – Julia, é?
JULIANA – Juliana. O senhor me contratou.
URBANO – Senhor tá lá no céu, sentado no trono e assistindo de camarote essa novela. Urbano, sempre ao seu dispor!
URBANO BEIJA A MÃO DE JULIANA, QUE ACHA GRAÇA. SOLANGE REVIRA OS OLHOS.
JULIANA – Não sei se ele tá vendo essa novela, Urbano. Mas se ele tiver, que me mande um spoiler urgente que é pra eu ir me preparando. As coisas andam meio/
ELA PARA DE FALAR, COM VISÍVEL DESCONFORTO. URBANO NOTA.
URBANO – Tá legal?
JULIANA – Eu tô, eu/
JULIANA DESMAIA, URBANO AMPARA. SOLANGE ASSUSTADA.
URBANO – Chama um médico, Solange!
SOLANGE – É melhor a gente levar ela pro pronto socorro. Vamos!
URBANO PEGA JULIANA NO COLO. ELES SAEM.
CORTA PARA:

CENA 09. HOSPITAL. CORREDOR/ QUARTO. INTERIOR. DIA
URBANO IMPACIENTE E SOLANGE ENTEDIADA. UM MÉDICO VAI ATÉ ELES.
URBANO – (ansioso) E aí, doutor? Como tá a Juliana?
MÉDICO – Por enquanto ela tá bem. Vocês são da família?
SOLANGE – (azeda) Não, não somos. Não temos nada com a vida dessa garota, mas ela desmaiou na nossa frente.
URBANO – (repreende) Solange!
MÉDICO – Bem, de qualquer jeito é bom que estejam com ela agora. Podem vir comigo?
URBANO – Claro.
ELES VÃO ATÉ O QUARTO DE JULIANA, ONDE ELA REPUSA NO LEITO. QUANDO ELES ENTRAM, JULIANA ACORDA.
URBANO – Juliana!
JULIANA – (estranhando) Onde é que eu tô? Que lugar é esse?
SOLANGE – (por cima, azeda) O país das maravilhas que não é. Estamos em um hospital. A bela adormecida desmaiou.
URBANO – Parece que sua pressão caiu, Juliana. Te trouxemos pra cá.
JULIANA – Meu Deus, eu não queria dar preocupação. Desculpa pra vocês dois.
URBANO – Foi nada, Ju.
MEDICO – Mas ao que parece não se trata apenas de uma simples queda de pressão. Enquanto a Juliana não acordava, eu tomei a liberdade de fazer uns exames sanguíneos. Achei muito estranho ela continuar desmaiada mesmo após vários minutos, o que não é comum.
URBANO – E aí, doutor? O que o senhor descobriu?
MEDICO – (amenizando) Parece que a Juliana está com uma inflamação nos rins. Não vou dizer que pode ser fatal, mas também não nego que é grave. Requer muito repouso, e a senhora vai precisar beber muito líquido. Além, claro, de não poder fazer esforços muito pesados.
JULIANA – (abalada) Mas não dá, não tem como. Eu dependo do meu serviço pra viver, pra ajudar no aluguel de onde eu moro. Se eu ficar sem poder trabalhar eu nem sei o que pode acontecer! Ainda mais na situação que eles.../
URBANO SE APROXIMA E PEGA NAS MÃOS DE JULIANA. SOLANGE BUFA.
URBANO – Eu sei que pode parecer loucura, Juliana, mas... (toma coragem) Você pode ficar lá em casa.
SOLANGE NÃO ACREDITANDO. JULIANA PENSATIVA.
JULIANA – Imagina, mas é claro que não. Eu nem te conheço direito, você acabou de virar meu patrão. (decidida) Não quero misturar as coisas.
URBANO – (esperançoso) Não vamos misturar nada. Você fica na minha casa até poder voltar a trabalhar, que tal? Daí eu deixo você fazer o que bem quiser.
JULIANA – Não parece uma boa ideia.
URBANO – Pensa na proposta. Pode ser o melhor pra você. A tua saúde em primeiro lugar!
JULIANA SENTA NA CAMA, PENSATIVA. O MEDICO COMEÇA A REMOVER OS FIOS EM SEU BRAÇO. NELA, AINDA INDECISA, E EM SOLANGE, IRRITADA.
CORTA PARA:

CENA 10. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: “TOWARDS THE SUN” – RIHANNA.
ANOITECENDO NO RIO DE JANEIRO. TAKES DAS PRAIAS ESVAZIANDO, DO TRÂNSITO CAÓTICO. ÚLTIMO TAKE EM FRENTE AO APARTAMENTO DE ALBERICO.
CORTA PARA:

CENA 11. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE CARMINHA. INTERIOR. NOITE
CARMINHA ASSISTINDO A TELEVISÃO. BATIDAS NA PORTA.
JULIANA – (O.S.) Carminha? Tá aí?
CARMINHA – Entra, Jú.
JULIANA ENTRA, VAI ATÉ A CAMA E SENTA.
CARMINHA – Algum problema? A Áurea voltou a te incomodar?
JULIANA – Não, não. Outra coisa. Como foi com o tal advogado?
CARMINHA – (esperançosa) Ficou de ajudar. Parece ser gente boa.
JULIANA – Que bom. Fico muito feliz que vocês ainda vão poder ficar aqui.
CARMINHA – Vocês? Como assim?
JULIANA – Sobre isso que eu queria falar.
CARMINHA – Cê tá pensando em ir embora, Jú? Pra onde?
JULIANA – Calma, amiga. Primeiro eu queria te dizer que foi maravilhoso morar aqui com vocês. Fui muito bem acolhida e agradeço até a morte por isso.
CARMINHA – (adiantando) Mas/
JULIANA – (completando) Mas as coisas mudam muito rápido. Eu descobri hoje que estou doente. Inflamação nos rins.
CARMINHA – (perplexa) Meu Deus, Jú! Que coisa!
JULIANA – Pois é. Médico pediu repouso, nada de esforço bruto. Mas eu não posso ser uma encostada pra vocês. Então meu chefe propôs que eu ficasse com ele por um tempo, até poder me virar sozinha.
CARMINHA – (sem entender) O Urbano te disse isso? Mas cê nem conhece o cara!
JULIANA – Eu sei que parece loucura. Mas é o melhor a se fazer agora.
CARMINHA – Melhor a se fazer? Ir morar com um total desconhecido?
JULIANA – Pensei a mesma coisa, mas agora já me decidi. Não quero ser um fardo pra sua família, ainda mais nesse momento de crise.
CARMINHA – Você já é adulta, Juliana. Faz o que achar melhor.
JULIANA CONCORDA, VAI SAINDO.
CARMINHA – (completa) Mas se precisar é só chamar. Você já faz parte da família.
JULIANA VOLTA E ABRAÇA CARMINHA. NELAS.
CORTA PARA:

CENA 12. APARTAMENTO DE ALBERICO. QUARTO DE JULIANA. INTERIOR. NOITE
JULIANA ENTRA, COMEÇA A FAZER AS MALAS, EMOCIONADA. FICA OBSERVANDO O QUARTO.
CORTA PARA:

CENA 13. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA
ALBERICO, FÁTIMA, CARMINHA, VITORIA E PAULINA CONVERSANDO. JULIANA SAI DE QUARTO, COM DUAS MALAS. A FAMÍLIA OBSERVANDO, EMOCIONADA. ABRAÇAM ELA. DO CORREDOR ÁUREA SORRINDO.
CORTA PARA:

CENA 14. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
AMANDA E CELINA AO COMPUTADOR, CONVERSANDO, EM OFF. CELINA CLARAMENTE COM TEDIO, AMANDA ANIMADA.
CORTA PARA:

CENA 15. APARTAMENTO DE URBANO. INTERIOR. DIA
URBANO E JULIANA ENTRAM, ELE COM AS MALAS DELA. JULIANA OLHANDO O. AMBIENTE. SONOPLASTIA OFF.
URBANO – Nenhum hotel cinco estrelas, mas dá pro gasto. Espero que você goste da estadia.
JULIANA – Se Deus quiser, vai durar pouco. Mas eu agradeço infinitamente. Você foi maravilhoso comigo.
URBANO SORRI, ENVERGONHADO. NELES, CÚMPLICES.
CORTA PARA:

CENA 16. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA – NOITE
SONOPLASTIA: “WORTH IT” – FIFTH HARMONY FT. KID INK (VANGELIS REMIX)
IMAGENS DO AMANHECER E ANOITECER DO RIO. TAKES NAS PRAIAS, PESSOAS SURFANDO. NO CRISTO REDENTOR, TURISTAS TIRANDO FOTOS. BONDINHO, PÃO DE AÇÚCAR.
NA TELA O LETREIRO: DOIS MESES DEPOIS.
ÚLTIMO TAKE EM FRENTE À UM AMBIENTE COMERCIAL. A FACHADA ANUNCIA: MORDOMESTRE.
CORTA PARA:

CENA 17. ESCOLA DE MORDOMOS. INTERIOR. DIA
UMA FESTA ROLANDO. PESSOAS ANDANDO PELO LOCAL. O MAIS ANIMADO É ALBERICO, VAI DE PESSOA EM PESSOA, CUMPRIMENTANDO. FÁTIMA, ÁUREA, EDGAR, CARMINHA, VITORIA, PAULINA, GUIDA E CONRADO ENTRAM. ALBERICO VÊ E VAI ATÉ ELES. SONOPLASTIA BAIXA.
ALBERICO – Meus amores! A festa tá um primor, ainda bem que vocês vieram.
EDGAR – A festa até que tá legal. Vou explorar!
EDGAR SAI. ÁUREA INCOMODADA.
FATIMA – Ainda acho isso uma loucura. Mas tudo bem, vamos ver até onde isso vai dar.
ALBERICO – As vezes eu penso que você poderia ser uma esposa mais compreensiva, Fátima. E não ficar me colocando pra baixo o tempo todo!
CONRADO – (provoca) Tenho que concordar com seu marido, dona Fátima. Por que não ser uma esposa mais compreensiva?
CARMINHA – Papai, não faça chantagem emocional. Todos sabemos que existem motivos de sobra pra encarar com ceticismo seus negócios malucos.
ALBERICO – Eu sei, e já me acostumei. Sou um aventureiro nato! E não me abalo com o ceticismo de vocês. Agora deixa eu conferir com o pessoal se tá tudo bem.
ALBERICO SAI. GUIDA AFASTA CONRADO PRA UM CANTO.
GUIDA – Não se mete no casamento da Fátima e do Alberico, Conrado. Coisa feia!
CONRADO – Tá, tá. Só quis ajudar.
CONRADO VÊ QUE FÁTIMA OLHA PRA ELES. BEIJA GUIDA.
GUIDA – Tá me subindo um fogo!
ELES CONTINUAM. FATIMA DESVIA O OLHAR, INCOMODADA. CARMINHA NOTA.
CARMINHA – (desconfiada) Mãe? Alguma problema em a Guida e o Conrado estarem juntos?
FATIMA ACUADA E CARMINHA DESCONFIADA. NELAS.
CORTA PARA:

CENA 18. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
CELINA E AMANDA SENTADAS. CONVERSA À MEIA.
CELINA – O fato é que eu não suporto mais essa maldita cadeira de rodas. Não tenho saco!
AMANDA – Saco você não tem, mesmo. Senão seria uma travesti aleijada!
AMANDA RI. CELINA CONDENA COM O OLHAR.
AMANDA – Brincadeira, querida. Seu senso de humor nunca sai da lama, não é?
CELINA – Assim como esse seu espírito de pobre.
AMANDA – Se me atacar eu vou atacar. Celina, para, parou! Nós duas estamos juntas nessa, lembra? Agora somos amigas. Melhores amigas!
CELINA – Nem morta.
AMANDA – Claro que não, não converso com cadáver, meu nome não é Chico Xavier! Agora deixa de amarguras. Que tal a gente decidir sobre o buffet da festa?
CELINA – Tá, tá. Que seja. E seja breve, eu tenho shopping hoje a noite.
AMANDA PEGA O COMPUTADOR E PASSA PARA CELINA. CONTINUAM A CONVERSA, EM OFF.
CORTA PARA:

CENA 19. ESCOLA DE MORDOMOS. INTERIOR. DIA
Continuação da cena 17.
FATIMA TENSA. CARMINHA ESPERANDO A RESPOSTA.
CARMINHA – Hein, mãe?
FATIMA – (disfarçando) Não é nada, não. Só acho feio ficarem de agarra-agarra desse jeito. A juventude de hoje em dia tá um caos.
CARMINHA – (não convencida) Entendi.
PAULINA – Gente, gente. Vocês me desculpem, mas eu vou andar por aí. Vou piranhar!
PAULINA SAI. ÁUREA OLHANDO EM VOLTA, PROCURANDO ALGO.
ÁUREA – E eu vou atrás do Edgar. Esse safado deve estar de gracinha com alguma menina.
ÁUREA TAMBEM SAI. VITORIA MEIO DISTANTE. CARMINHA NOTA.
CARMINHA – E você? Que tá pegando?
VITORIA – Nada, nada. Eu só tô decidindo uma coisa.
CARMINHA – Entendi. Bem, então fiquem as duas cheias de segredinhos. Também vou me esbaldar!
CARMINHA SAI DE PERTO DELAS, ANIMADA. FATIMA VOLTA A OLHAR CONRADO E GUIDA, QUE SEGUEM NO AMASSO. NELA, IRRITADA, QUE BEBE UM POUCO DE CERVEJA.
CORTA PARA:

CENA 20. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
VAI ANOITECENDO NO RIO DE JANEIRO. TAKES DO TRANSITO, SURFISTAS NA PRAIA, ETC. ÚLTIMO TAKE EM FRENTE AO APARTAMENTO DE ALBERICO.
CORTA PARA:

CENA 21. APARTAMENTO DE ALBERICO. INTERIOR. NOITE
 ALBERICO, FATIMA, CARMINHA, VITORIA E PAULINA ENTRAM, ANIMADOS.
ALBERICO – (Alegre) A festa foi um arraso! Esse meu novo empreendimento tem tudo pra bombar. Ficaremos ricos!
CARMINHA – Bem, pai, se o seu negócio vai ou não prosperar eu não sei. Mas que a festa tava boa, isso tava!
VITORIA – É. Estava ótima. Eu vou sair. Até mais tarde.
FATIMA – Vai pra onde?
VITORIA – Preciso falar com a Juliana. Assunto particular, beijos.
VITORIA SAI. CARMINHA CISMADA.
CARMINHA – Vitória e seus segredos.
FATIMA – E você, filha? Vai dormir?
CARMINHA – Não agora. Vou passar na casa do Franklin, agradecer com a ajuda. A gente só não perdeu a casa porque ele ajudou.
FATIMA – Vai, vai. Agradece por todos nós.
CARMINHA SAI.
PAULINA – Tô vendo que a dona Carminha vai agarrar o ricaço. Pelo menos ela não é boba!
FÁTIMA – (repreende) Paulina!
FATIMA FAZENDO POUCO CASO. PAULINA SAI.
CORTA PARA:

CENA 22. APARTAMENTO DE URBANO. INTERIOR. NOITE
TAKES DE JULIANA LIMPANDO A CASA. VARRE, PASSA PANO, AFASTA OS MÓVEIS. ATÉ QUE URBANO CHEGA.
URBANO – Que isso, Juliana? Eu já não disse que não é pra fazer nada?
JULIANA – E ser uma encostada? Deus me livre. Além do mais, Urbano, eu já me sinto ótima. Já dá até pra voltar a trabalhar.
URBANO – Por via das dúvidas é melhor parar por aí. Anda, amanhã eu chamo uma diarista/
JULIANA – (irredutível) Não, Urbano. Faço questão! E também já tô acabando, só falta seu quarto.
URBANO – Meu quarto? Tá limpo.
JULIANA – Nunca esteve. Deixa de ser bobo, eu limpo num minuto!
URBANO – (contrariado) Tá bem, tá bem. Seja rápida!
JULIANA SORRI. ELES VÃO ATÉ O QUARTO DELE, QUE JULIANA TAMBEM COMEÇA A LIMPAR. ELA TIRA DE CIMA DO GUARDA ROUPAS UMA CAIXA GRANDE, QUE CAI NO CHÃO. VÁRIAS FOTOS SE ESPALHAM PELO QUARTO, URBANO E JULIANA VÃO PEGAR. ELE MEIO NERVOSO.
JULIANA – Perdão, Urbano. Eu queria passar um pano no guarda roupa/
URBANO – Tá legal, Ju. Cê já fez muito até aqui. Pode ir.
JULIANA – Não, não.
ELA PEGA UMA DAS FOTOS. É ELA MESMA, SECANDO LOUÇAS. JULIANA SEM ACREDITAR.
JULIANA – (cobrando) Que isso, Urbano? É foto minha nas tuas coisas!
URBANO – É, é? Nem sabia que tava aí.
JULIANA COMEÇA A PEGAR OUTRAS FOTOS. VÁRIAS SÃO DELA.
JULIANA – Mentira! Olha aqui, olha. Eu tô em quase todas! Urbano, pra que esse tanto de foto minha, hein?
URBANO – Não é o que você está pensando, Juliana.
JULIANA – Então diz o que é. Anda!
CLOSES ALTERNADOS. JULIANA COBRA EXPLICAÇÕES. ÚLTIMO CLOSE EM URBANO, NERVOSO.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.

FIM DO CAPÍTULO 21.

Capítulo escrito por: Vinícius Borges

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