CENA 01. APARTAMENTO DE ALBERICO. SALA DE REFEIÇÕES.
INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA
DO CAPÍTULO ANTERIOR.
TODOS OS PRESENTES
AINDA MUITO TENSOS. CARMINHA VAI ATÉ ALBERICO E PEGA A CARTA, LÊ.
CARMINHA – Não, não é
possível. Não tem cabimento uma coisa dessas!
ALBERICO – (distante) Infelizmente
tem, minha filha. As coisas funcionam exatamente dessa forma.
PAULINA – Se não tem
pagamento, não tem apartamento. Ah, meu Jesus Cristinho! Eu rezei tanto pra
isso não acontecer, até coloquei o santo de cabeça pra baixo na vasilha/
EDGAR – Engraçado como suburbano
tem ilusão de que santo dá bola pra tudo que acontece na vida. É complexo de
importância, é?
CARMINHA – Cala a boca, Edgar.
Não é hora pra implicância.
FATIMA – Deixa eu ver esse
papel, filha. Pode ser só brincadeira de alguém/
CARMINHA – (por cima/triste)
Não, não. Tem selo do banco. A casa vai a leilão em duas semanas, nosso tempo
pra desocupar é a metade disso/
ÁUREA – (ácida) Que pena,
né, Carminha? Situação realmente lamentável. Fico imaginando pra onde todo
mundo vai se a gente perder o apartamento, se você vai mesmo conseguir realizar
o seu sonho de sair daqui.
ALBERICO – Sair? Como assim?
ÁUREA – (encarando
Carminha) Carminha me disse ontem que pretende se mudar de apartamento. Que
feio, irmã! Não disse nada pro papai?
CARMINHA – (irritada) Como
você é falsa/
ALBERICO – (por
cima/implorando) Sem você aqui nessa casa, Carminha, as coisas demandam de vez.
Você não pode deixar a gente. Não pode.
CARMINHA – Podem ficar
tranquilos que daqui eu não saio e daqui ninguém me tira. No momento a
prioridade é não deixar todo mundo ir pra rua!
JULIANA – Eu não entendo
muita coisa de despejo, vocês sabem. Mas eu acho que o banco deveria ter dado
pelo menos trinta dias pra gente se alocar, ver um canto onde ficar.
FÁTIMA – Que canto, Juliana?
Nem se eles dessem seis meses, nós ainda continuaríamos sem ter onde cair
mortos. Esse apartamento é só o que nos resta.
ALBERICO – Restava, não resta
mais. Nós precisamos dar um jeito nessa situação, inverter esse jogo. Não dá
pra sair daqui, essa não é uma escolha. Ou vamos ter que morar embaixo de uma ponte?
PAULINA – Ah, meu Jesus! Eu
não aguento ter que morar debaixo da marquise não, gente.
ÁUREA – Se toca, garota.
Você é empregada, pode arrumar outro emprego, se virar na vida.
EDGAR – Quero é ver alguém
contratar essa daí. Duvido muito!
JULIANA – E aí, Carminha? Já
sabe o que vai fazer?
CARMINHA – A coisa mais sensata,
Jú. Vou atrás de um advogado. Pelo menos ele vai dar uma luz pra gente, né?
Porque eu realmente acho que o banco não pode nos tirar daqui desse jeito. Tem
que dar pra reverter!
INÊS – Eu já sei, tia. O
pai do Cadu, o Franklin, ele é advogado, um dos melhores, aliás! Cês podem ir à
casa deles, ver se ele pode ajudar.
AUREA – Será, Inês? Eu acho
que é abusar demais do seu sogro.
INÊS – Nada, mãe. Ele se
dispor a ajudar no que for possível. Me trata muito bem, sempre.
CARMINHA LEVANTA,
DECIDIDA.
CARMINHA – Então eu vou pra lá
agora mesmo. Juliana, vem comigo?
JULIANA – Adoraria, mas hoje
eu começo no trabalho novo. Não quero atrasar.
VITORIA – Vou eu, então. Eu
já sei o endereço, Carminha.
CARMINHA E VITORIA VÃO
SAINDO.
ALBERICO – Boa sorte, minha
filha! Que Deus nos ajude.
JULIANA TAMBEM SE
LEVANTA.
JULIANA – Gente, eu também
vou indo nessa. Primeiro dia na Apollo! Tô muito feliz pela oportunidade.
ÁUREA INCOMODADA.
FATIMA – Boa sorte, Jú. Cê é
uma menina de ouro.
JULIANA – Obrigada. Até mais.
AUREA – (Irônica) Boa sorte
no trabalho, Juliana. E vai aproveitando.
JULIANA ENCARA AUREA,
IRRITADA. HESITA, MAS ACABAR SAINDO. OS DEMAIS VOLTANDO AO CAFÉ. ÁUREA NÃO COME
NADA. NELA, DESCONFORTÁVEL.
CORTA PARA:
CENA 02. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
CAMPAINHA TOCANDO, A EMPREGADA
VAI ATENDER. CARMINHA E VITORIA.
EMPREGADA – Pois não?
CARMINHA – A gente veio falar
com o doutor Franklin. Sou tia da Inês, namorada do Cadu.
EMPREGADA – Ele está no
escritório dele, não sei se quer ser incomodado.
CARMINHA – (indecisa) Mas não
dá mesmo pra chamar? É caso de vida ou morte!
FRANKLIN VEM DESCENDO
A ESCADA, OUVE. VAI ATÉ ELAS.
FRANKLIN – Boa tarde,
senhoras. A que devo a honra?
EMPREGADA – Elas querem falar
com o senhor, diz que é caso de vida ou morte.
CARMINHA – O senhor deve ser o
doutor Franklin/
FRANKLIN – (por cima/ri)
Senhor tá no céu, e eu não sou doutor de nada. Pareço assim tão velho?
CARMINHA – Não foi a intenção.
Desculpe.
FRANKLIN – Tô brincando, podem
entrar. (à empregada) Pode ir.
A EMPREGADA SAI.
FRANKLIN, CARMINHA E VITORIA VÃO ATÉ O SOFÁ E SENTAM.
FRANKLIN – Acho que agora
podemos falar. Você disse que se trata de caso de vida ou morte e eu fiquei
curioso. Caso de doença?
CARMINHA – Graças ao bom Deus,
não. Mas também é sério. O senhor me conheceu aquele dia na rua, com o meu pai,
seu Alberico.
FRANKLIN – (Lembrando) Claro.
(Sorri) Carmem Lúcia, não é?
CARMINHA – Isso, mas me chame
de Carminha, prefiro. Eu sou tia da Inês, sabe? A namorada do Cadu. Ela disse pra
eu vir aqui. Vou resumir tudo: Nós temos algumas dívidas com o banco, problemas
financeiros, e agora disseram que a casa vai a leilão. Duas semanas pra gente
desocupar, acredita?
FRANKLIN – Já vi casos
parecidos.
CELINA NA CADEIRA VEM
ENTRANDO E VAI ATÉ ELES, DESCONFIADA.
CELINA – Posso saber quem são
Franklin?
CARMINHA – (Estendendo a mão)
Prazer, eu sou tia da Inês/
CELINA – (Irônica) E por
acaso se chama Franklin? Porque pelo que eu me lembre, a pergunta foi referida
ao meu marido.
FRANKLIN – Celina, por favor.
CARMINHA – Não, não. Ela tá
certa. Desculpa pela intromissão.
CELINA – A minha pergunta
ainda não foi respondida.
FRANKLIN – Tia da Inês,
Carminha. Veio aqui pra eu ajudar com umas pendências de advogado, só.
CELINA – (sarcástica) Carminha,
que singelo. Entendi. Bem, eu acho que o governo disponibiliza advogado público,
não? Vá saber. Hoje em dia esse governo criou especialidade em sustentar pobre.
Não me espanta que daqui a alguns anos alguém crie o bolsa paraíso fiscal.
VITORIA – Essas coisas de
advogado público são muito lentas, demoram demais. Até a gente conseguir um, o
apartamento já foi a leilão!
CELINA – Também não te
perguntei nada. Mas deve ser mal de família. De qualquer jeito, eu já tô de saindo.
FRANKLIN – Sair, Celina? Não
sei se é uma boa/
CELINA – (corta/irritada) Tô
aleijada ou em cárcere privado? Me poupe, se poupe, nos poupe.
CARMINHA – Eu fiquei sabendo
do seu acidente, dona Celina. Saiba que tudo ainda pode melhorar, a senhora
parece ser uma mulher forte/
CELINA – (corta/impaciente) Cheguei
ao ponto de ouvir conselho de suburbana. Será que tá tão na cara que eu tô na
merda?
CARMINHA E VITÓRIA SE
OLHAM, CHOCADAS.
CARMINHA – Enfim, Franklin. Eu
e a Amanda vamos resolver umas coisinhas do casamento da Mariana e do Bruno.
FRANKLIN – (surpreso) Casamento?
CELINA – O Bruno não deve
ter te contado, mas pediu a menina em casamento. Estão noivos!
FRANKLIN – E você ainda não
armou um escândalo?
CELINA – Me poupe das suas
gracinhas. Quero a alegria do meu filho. Tchau.
CELINA SAI. VITORIA
PENSATIVA.
VITORIA – (pensativa) Então o
Bruno vai casar.
FRANKLIN – Pra mim também é
novidade. Mas a garota é gente boa, filha da Amanda Pratini, conhecem?
VITORIA – Claro, claro.
FRANKLIN – Bem, mas estávamos
falando sobre um caso de despejo, não?
CARMINHA – A ordem do banco
veio hoje. Uma semana pra desocupar!
CARMINHA CONTINUA
FALANDO, EM OFF. FRANKLIN ESCUTANDO, VITORIA CHATEADA.
CORTA PARA:
CENA 03. MANSÃO PRATINI. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
AMANDA E BIBI NO SOFÁ.
CONVERSA À MEIA.
BIBI – Mas você tem certeza
de que a Mari tá feliz com o casamento?
AMANDA – Imagina se não tá.
E se não estivesse eu fazia ficar. Vai ser o casamento do ano, Bibi! Quero
close, quero close. Eu quero o contato do melhor DJ dessa cidade, com certeza.
E não se esqueça de chamar os colunistas das revistas de fofoca. Quero que a
festa repercuta em todas as mídias!
BIBI – (divertida) Você
não deve ter ficado tão animada nem no seu próprio casamento, né?
AMANDA – É porque agora é
minha filha quem tá casando, Bibi. Ela cresceu, não é mais uma menina. Imagina
se eu não vou ficar animada!
O CELULAR DE AMANDA
TOCA. ELA ATENDE.
AMANDA – (ao telefone) Oi,
Celina. Tá aqui? Que ótimo, entrando na brincadeira. Adoro! Já tô indo aí.
AMANDA DESLIGA, ENCARA
BIBI.
AMANDA – Amiga, vaza.
BIBI – Como assim?
AMANDA – Celina tá aí.
BIBI – E por que eu tenho
que ir embora? Tem vergonha de mim?
AMANDA – Não inventa,
sarnenta. É justamente o contrário... A Celina tá aleijada, cê sabe. Ela não tá
sabendo lidar com isso, pode ficar com vergonha de você ver ela assim.
BIBI – (estranha) Quanta
compaixão da sua parte, amiga. É outra Amanda, é?
AMANDA – Para de ser cobra,
vai.
AMANDA E BIBI SAEM.
CORTA PARA:
CENA 04. MANSÃO PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: “FIRE” – ANA CAROLINA.
BIBI SE DESPEDE DE
AMANDA, LIGA O CARRO E SAI. AMANDA VINDO ATÉ O CARRO DE CELINA. O SEGURANÇA E
AMANDA RETIRAM CELINA NA CADEIRA DE RODAS, E ELAS VÃO ATÉ A MANSÃO NOVAMENTE.
CORTA PARA:
CENA 05. MANSÃO PRATINI. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
AMANDA TERMINA DE
FECHAR A PORTA DE VIDRO. CELINA SAI DA CADEIRA DE RODAS E SENTA-SE NO SOFÁ. SONOPLASTIA
OFF.
AMANDA – Todo esse seu
teatro dá trabalho, hein? Bem que você poderia ter se fingido de cega. Ia ser
mais fácil na locomoção.
CELINA – Tá batido demais se
fingir de cega. Cadeirante tem mais originalidade, querida.
AMANDA – Mais não é tão
prático. Imagina se você é forçada a ter que correr de algum lugar? Um
tiroteio, por exemplo? Vai ter que andar, todo mundo descobre.
CELINA – Eu tenho minhas
artimanhas. (Forte) Ninguém vai saber de nada, a menos que você conte. E você
sabe que eu não vou gostar nadinha disso.
AMANDA – Celina, convenhamos
que eu não sou idiota. Eu fui atrás do seu médico de araque, descobri que você
é uma farsante. Eu dei meus pulos. É claro que não vou jogar essa carta na
manga direto no lixo. Logo agora que nós no duas estamos nos entendendo tão
bem.
CELINA – Sem exageros.
AMANDA – Exagero nenhum.
Você até convenceu o Bruno a pedir a Mari em casamento, Celina. O seu dom é o
da persuasão.
CELINA – Não é muito difícil.
A mãe aleijada e infeliz sempre tem um crédito com a família.
AMANDA SORRI.
AMANDA – Mas enfim, querida.
Bom que você está aqui, podemos tomar umas decisões sobre o casamento.
CELINA – Já que estamos
aqui. Fazer o que, né?
ELAS SENTAM NO SOFÁ.
NELAS, CONVERSANDO, EM OFF.
CORTA PARA:
CENA 06. MANSÃO LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 02. CARMINHA,
VITÓRIA E FRANKLIN LEVANTANDO DO SOFÁ.
CARMINHA (grata) – Eu não sei
nem como agradecer toda a ajuda que o senhor deu, seu Franklin!
FRANKLIN – Pois eu sei. É só
cortar as formalidades. Nada de senhor, doutor, seu, nada disso. Pode não
parecer, mas eu não sou tão velho assim.
CARMINHA – (Ri) Tá bom,
Franklin. Mesmo assim, muito obrigada. Você ajudou muito!
FRANKLIN – Fico feliz. Mas
ainda faço questão de telefonar para o tal banco. Modéstia a parte, eu sou um
homem muito influente. Uma ameaça aqui, outra ameaça lá, eles retiram a ordem
de despejo.
CARMINHA ABRAÇA
FRANKLIN. ACABA SE CONTENDO, ENVERGONHADA.
CARMINHA – Ah, perdão. Mas eu
nem esperava por isso! Obrigada de novo, Franklin.
ELE SORRI. VÃO ATÉ A
PORTA.
VITÓRIA – Então é isso.
Obrigada, Franklin.
FRANKLIN – Disponham, sempre
que for preciso. Prazer te conhecer, Carminha.
CARMINHA – Todo meu.
FRANKLIN E CARMINHA
SORRINDO. VITÓRIA NOTANDO O CLIMA, PUXA CARMINHA PRA FORA DA CASA. FRANKLIN
FECHA A PORTA.
CORTA PARA:
CENA 07. MANSÃO LINHARES. FRENTE. EXTERIOR. DIA
AS DUAS VÃO ANDANDO.
VITÓRIA – (maliciosa)
Arrasando corações, hein, Carminha?
CARMINHA – (confusa) Como é
que é?
VITÓRIA – Ah, nem vem. Rolou
mó climão entre você e o doutor Franklin, só você quem não vê. O cara ficou
babando!
CARMINHA – (ofendida) Você não
repete isso, viu, Vitória? Eu nem conheço o Franklin. Além do mais ele é
casado/
VITÓRIA – (por cima,
provocando) Com uma mulher que mais parece uma mistura de chocolate amargo com
fel estragado. Nem ele deve suportar a tal da dona Celina.
CARMINHA – É mesmo uma
insuportável, né? (corrigindo) Mas é como dizem. Em briga de marido e mulher,
ninguém mete a colher. E agora para de me atormentar!
CARMINHA TOMA A
FRENTE, IRRITADA. VITÓRIA RINDO, TENTA ALCANÇAR.
CORTA PARA:
CENA 08. APOLLO
SPORTING. INTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: “BANG” – ANITTA.
PESSOAL MALHANDO A TODO RITMO. TAKES DESCONTÍNUOS DO PESSOAL NOS
APARELHOS.
JULIANA CHEGA E VAI ATÉ SOLANGE. SONOPLASTIA OFF.
SOLANGE – (irritada) Atrasada. No primeiro
dia de trabalho.
JULIANA – (contornando) Dez minutos. Sei que
pode parecer clichê, mas foi culpa do trânsito. Ônibus lotado, sabe como
funciona.
SOLANGE – (considera) Tá, tá. Que não se
repita. Se achar que o trânsito pode complicar é só sair meia hora antes, eu
faço assim.
JULIANA – (sorri) Muito obrigada, dona?
SOLANGE – Não sou dona de nada. Pode chamar
de Solange.
URBANO VAI ATÉ ELAS. MEIO EMBASBACADO PELA PRESENÇA DE JULIANA.
URBANO – Julia, é?
JULIANA – Juliana. O senhor me contratou.
URBANO – Senhor tá lá no céu, sentado no
trono e assistindo de camarote essa novela. Urbano, sempre ao seu dispor!
URBANO BEIJA A MÃO DE JULIANA, QUE ACHA GRAÇA. SOLANGE REVIRA OS OLHOS.
JULIANA – Não sei se ele tá vendo essa
novela, Urbano. Mas se ele tiver, que me mande um spoiler urgente que é pra eu
ir me preparando. As coisas andam meio/
ELA PARA DE FALAR, COM VISÍVEL DESCONFORTO. URBANO NOTA.
URBANO – Tá legal?
JULIANA – Eu tô, eu/
JULIANA DESMAIA, URBANO AMPARA. SOLANGE ASSUSTADA.
URBANO – Chama um médico, Solange!
SOLANGE – É melhor a gente levar ela pro
pronto socorro. Vamos!
URBANO PEGA JULIANA NO COLO. ELES SAEM.
CORTA PARA:
CENA 09. HOSPITAL. CORREDOR/
QUARTO. INTERIOR. DIA
URBANO IMPACIENTE E SOLANGE ENTEDIADA. UM MÉDICO VAI ATÉ ELES.
URBANO – (ansioso) E aí, doutor? Como tá a
Juliana?
MÉDICO – Por enquanto ela tá bem. Vocês são
da família?
SOLANGE – (azeda) Não, não somos. Não temos
nada com a vida dessa garota, mas ela desmaiou na nossa frente.
URBANO – (repreende) Solange!
MÉDICO – Bem, de qualquer jeito é bom que
estejam com ela agora. Podem vir comigo?
URBANO – Claro.
ELES VÃO ATÉ O QUARTO DE JULIANA, ONDE ELA REPUSA NO LEITO. QUANDO
ELES ENTRAM, JULIANA ACORDA.
URBANO – Juliana!
JULIANA – (estranhando) Onde é que eu tô? Que
lugar é esse?
SOLANGE – (por cima, azeda) O país das
maravilhas que não é. Estamos em um hospital. A bela adormecida desmaiou.
URBANO – Parece que sua pressão caiu,
Juliana. Te trouxemos pra cá.
JULIANA – Meu Deus, eu não queria dar
preocupação. Desculpa pra vocês dois.
URBANO – Foi nada, Ju.
MEDICO – Mas ao que parece não se trata
apenas de uma simples queda de pressão. Enquanto a Juliana não acordava, eu
tomei a liberdade de fazer uns exames sanguíneos. Achei muito estranho ela
continuar desmaiada mesmo após vários minutos, o que não é comum.
URBANO – E aí, doutor? O que o senhor descobriu?
MEDICO – (amenizando) Parece que a Juliana está
com uma inflamação nos rins. Não vou dizer que pode ser fatal, mas também não nego
que é grave. Requer muito repouso, e a senhora vai precisar beber muito
líquido. Além, claro, de não poder fazer esforços muito pesados.
JULIANA – (abalada) Mas não dá, não tem como.
Eu dependo do meu serviço pra viver, pra ajudar no aluguel de onde eu moro. Se
eu ficar sem poder trabalhar eu nem sei o que pode acontecer! Ainda mais na
situação que eles.../
URBANO SE APROXIMA E PEGA NAS MÃOS DE JULIANA. SOLANGE BUFA.
URBANO – Eu sei que pode parecer loucura,
Juliana, mas... (toma coragem) Você pode ficar lá em casa.
SOLANGE NÃO ACREDITANDO. JULIANA PENSATIVA.
JULIANA – Imagina, mas é claro que não. Eu
nem te conheço direito, você acabou de virar meu patrão. (decidida) Não quero
misturar as coisas.
URBANO – (esperançoso) Não vamos misturar
nada. Você fica na minha casa até poder voltar a trabalhar, que tal? Daí eu
deixo você fazer o que bem quiser.
JULIANA – Não parece uma boa ideia.
URBANO – Pensa na proposta. Pode ser o
melhor pra você. A tua saúde em primeiro lugar!
JULIANA SENTA NA CAMA, PENSATIVA. O MEDICO COMEÇA A REMOVER OS FIOS EM
SEU BRAÇO. NELA, AINDA INDECISA, E EM SOLANGE, IRRITADA.
CORTA PARA:
CENA 10. RIO DE
JANEIRO. EXTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: “TOWARDS THE SUN” – RIHANNA.
ANOITECENDO NO RIO DE JANEIRO. TAKES DAS PRAIAS ESVAZIANDO, DO TRÂNSITO CAÓTICO.
ÚLTIMO TAKE EM FRENTE AO APARTAMENTO DE ALBERICO.
CORTA PARA:
CENA 11. APARTAMENTO
DE ALBERICO. QUARTO DE CARMINHA. INTERIOR. NOITE
CARMINHA ASSISTINDO A TELEVISÃO. BATIDAS NA PORTA.
JULIANA – (O.S.) Carminha? Tá aí?
CARMINHA – Entra, Jú.
JULIANA ENTRA, VAI ATÉ A CAMA E SENTA.
CARMINHA – Algum problema? A Áurea voltou a te
incomodar?
JULIANA – Não, não. Outra coisa. Como foi com
o tal advogado?
CARMINHA – (esperançosa) Ficou de ajudar.
Parece ser gente boa.
JULIANA – Que bom. Fico muito feliz que vocês
ainda vão poder ficar aqui.
CARMINHA – Vocês? Como assim?
JULIANA – Sobre isso que eu queria falar.
CARMINHA – Cê tá pensando em ir embora, Jú?
Pra onde?
JULIANA – Calma, amiga. Primeiro eu queria te
dizer que foi maravilhoso morar aqui com vocês. Fui muito bem acolhida e
agradeço até a morte por isso.
CARMINHA – (adiantando) Mas/
JULIANA – (completando) Mas as coisas mudam
muito rápido. Eu descobri hoje que estou doente. Inflamação nos rins.
CARMINHA – (perplexa) Meu Deus, Jú! Que coisa!
JULIANA – Pois é. Médico pediu repouso, nada
de esforço bruto. Mas eu não posso ser uma encostada pra vocês. Então meu chefe
propôs que eu ficasse com ele por um tempo, até poder me virar sozinha.
CARMINHA – (sem entender) O Urbano te disse
isso? Mas cê nem conhece o cara!
JULIANA – Eu sei que parece loucura. Mas é o
melhor a se fazer agora.
CARMINHA – Melhor a se fazer? Ir morar com um
total desconhecido?
JULIANA – Pensei a mesma coisa, mas agora já
me decidi. Não quero ser um fardo pra sua família, ainda mais nesse momento de
crise.
CARMINHA – Você já é adulta, Juliana. Faz o
que achar melhor.
JULIANA CONCORDA, VAI SAINDO.
CARMINHA – (completa) Mas se precisar é só
chamar. Você já faz parte da família.
JULIANA VOLTA E ABRAÇA CARMINHA. NELAS.
CORTA PARA:
CENA 12. APARTAMENTO
DE ALBERICO. QUARTO DE JULIANA. INTERIOR. NOITE
JULIANA ENTRA, COMEÇA A FAZER AS MALAS, EMOCIONADA. FICA OBSERVANDO O
QUARTO.
CORTA PARA:
CENA 13. APARTAMENTO
DE ALBERICO. SALA. INTERIOR. DIA
ALBERICO, FÁTIMA, CARMINHA, VITORIA E PAULINA CONVERSANDO. JULIANA SAI DE
QUARTO, COM DUAS MALAS. A FAMÍLIA OBSERVANDO, EMOCIONADA. ABRAÇAM ELA. DO
CORREDOR ÁUREA SORRINDO.
CORTA PARA:
CENA 14. MANSÃO LINHARES.
SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
AMANDA E CELINA AO COMPUTADOR, CONVERSANDO, EM OFF. CELINA CLARAMENTE COM
TEDIO, AMANDA ANIMADA.
CORTA PARA:
CENA 15. APARTAMENTO
DE URBANO. INTERIOR. DIA
URBANO E JULIANA ENTRAM, ELE COM AS MALAS DELA. JULIANA OLHANDO O.
AMBIENTE. SONOPLASTIA OFF.
URBANO – Nenhum hotel cinco estrelas, mas dá
pro gasto. Espero que você goste da estadia.
JULIANA – Se Deus quiser, vai durar pouco.
Mas eu agradeço infinitamente. Você foi maravilhoso comigo.
URBANO SORRI, ENVERGONHADO. NELES, CÚMPLICES.
CORTA PARA:
CENA 16. RIO DE
JANEIRO. EXTERIOR.
DIA – NOITE
SONOPLASTIA: “WORTH IT” – FIFTH HARMONY FT. KID INK (VANGELIS REMIX)
IMAGENS DO AMANHECER E ANOITECER DO RIO. TAKES NAS PRAIAS, PESSOAS
SURFANDO. NO CRISTO REDENTOR, TURISTAS TIRANDO FOTOS. BONDINHO, PÃO DE AÇÚCAR.
NA TELA O LETREIRO: DOIS MESES DEPOIS.
ÚLTIMO TAKE EM FRENTE À UM AMBIENTE COMERCIAL. A FACHADA ANUNCIA: MORDOMESTRE.
CORTA PARA:
CENA 17. ESCOLA DE MORDOMOS.
INTERIOR. DIA
UMA FESTA ROLANDO. PESSOAS ANDANDO PELO LOCAL. O MAIS ANIMADO É ALBERICO,
VAI DE PESSOA EM PESSOA, CUMPRIMENTANDO. FÁTIMA, ÁUREA, EDGAR, CARMINHA,
VITORIA, PAULINA, GUIDA E CONRADO ENTRAM. ALBERICO VÊ E VAI ATÉ ELES. SONOPLASTIA
BAIXA.
ALBERICO – Meus amores! A festa tá um primor,
ainda bem que vocês vieram.
EDGAR – A festa até que tá legal. Vou
explorar!
EDGAR SAI. ÁUREA INCOMODADA.
FATIMA – Ainda acho isso uma loucura. Mas
tudo bem, vamos ver até onde isso vai dar.
ALBERICO – As vezes eu penso que você poderia
ser uma esposa mais compreensiva, Fátima. E não ficar me colocando pra baixo o
tempo todo!
CONRADO – (provoca) Tenho que concordar com
seu marido, dona Fátima. Por que não ser uma esposa mais compreensiva?
CARMINHA – Papai, não faça chantagem emocional.
Todos sabemos que existem motivos de sobra pra encarar com ceticismo seus
negócios malucos.
ALBERICO – Eu sei, e já me acostumei. Sou um
aventureiro nato! E não me abalo com o ceticismo de vocês. Agora deixa eu
conferir com o pessoal se tá tudo bem.
ALBERICO SAI. GUIDA AFASTA CONRADO PRA UM CANTO.
GUIDA – Não se mete no casamento da Fátima
e do Alberico, Conrado. Coisa feia!
CONRADO – Tá, tá. Só quis ajudar.
CONRADO VÊ QUE FÁTIMA OLHA PRA ELES. BEIJA GUIDA.
GUIDA – Tá me subindo um fogo!
ELES CONTINUAM. FATIMA DESVIA O OLHAR, INCOMODADA. CARMINHA NOTA.
CARMINHA – (desconfiada) Mãe? Alguma problema
em a Guida e o Conrado estarem juntos?
FATIMA ACUADA E CARMINHA DESCONFIADA. NELAS.
CORTA PARA:
CENA 18. MANSÃO
LINHARES. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA
CELINA E AMANDA SENTADAS. CONVERSA À MEIA.
CELINA – O fato é que eu não suporto mais
essa maldita cadeira de rodas. Não tenho saco!
AMANDA – Saco você não tem, mesmo. Senão
seria uma travesti aleijada!
AMANDA RI. CELINA CONDENA COM O OLHAR.
AMANDA – Brincadeira, querida. Seu senso de
humor nunca sai da lama, não é?
CELINA – Assim como esse seu espírito de
pobre.
AMANDA – Se me atacar eu vou atacar. Celina,
para, parou! Nós duas estamos juntas nessa, lembra? Agora somos amigas.
Melhores amigas!
CELINA – Nem morta.
AMANDA – Claro que não, não converso com
cadáver, meu nome não é Chico Xavier! Agora deixa de amarguras. Que tal a gente
decidir sobre o buffet da festa?
CELINA – Tá, tá. Que seja. E seja breve, eu
tenho shopping hoje a noite.
AMANDA PEGA O COMPUTADOR E PASSA PARA CELINA. CONTINUAM A CONVERSA, EM OFF.
CORTA PARA:
CENA 19. ESCOLA DE
MORDOMOS. INTERIOR. DIA
Continuação da cena 17.
FATIMA TENSA. CARMINHA ESPERANDO A RESPOSTA.
CARMINHA – Hein, mãe?
FATIMA – (disfarçando) Não é nada, não. Só
acho feio ficarem de agarra-agarra desse jeito. A juventude de hoje em dia tá
um caos.
CARMINHA – (não convencida) Entendi.
PAULINA – Gente, gente. Vocês me desculpem,
mas eu vou andar por aí. Vou piranhar!
PAULINA SAI. ÁUREA OLHANDO EM VOLTA, PROCURANDO ALGO.
ÁUREA – E eu vou atrás do Edgar. Esse
safado deve estar de gracinha com alguma menina.
ÁUREA TAMBEM SAI. VITORIA MEIO DISTANTE. CARMINHA NOTA.
CARMINHA – E você? Que tá pegando?
VITORIA – Nada, nada. Eu só tô decidindo uma
coisa.
CARMINHA – Entendi. Bem, então fiquem as duas
cheias de segredinhos. Também vou me esbaldar!
CARMINHA SAI DE PERTO DELAS, ANIMADA. FATIMA VOLTA A OLHAR CONRADO E
GUIDA, QUE SEGUEM NO AMASSO. NELA, IRRITADA, QUE BEBE UM POUCO DE CERVEJA.
CORTA PARA:
CENA 20. RIO DE
JANEIRO. EXTERIOR. DIA
VAI ANOITECENDO NO RIO DE JANEIRO. TAKES DO TRANSITO, SURFISTAS NA PRAIA,
ETC. ÚLTIMO TAKE EM FRENTE AO APARTAMENTO DE ALBERICO.
CORTA PARA:
CENA 21. APARTAMENTO
DE ALBERICO. INTERIOR. NOITE
ALBERICO, FATIMA, CARMINHA,
VITORIA E PAULINA ENTRAM, ANIMADOS.
ALBERICO – (Alegre) A festa foi um arraso!
Esse meu novo empreendimento tem tudo pra bombar. Ficaremos ricos!
CARMINHA – Bem, pai, se o seu negócio vai ou não
prosperar eu não sei. Mas que a festa tava boa, isso tava!
VITORIA – É. Estava ótima. Eu vou sair. Até
mais tarde.
FATIMA – Vai pra onde?
VITORIA – Preciso falar com a Juliana. Assunto
particular, beijos.
VITORIA SAI. CARMINHA CISMADA.
CARMINHA – Vitória e seus segredos.
FATIMA – E você, filha? Vai dormir?
CARMINHA – Não agora. Vou passar na casa do
Franklin, agradecer com a ajuda. A gente só não perdeu a casa porque ele
ajudou.
FATIMA – Vai, vai. Agradece por todos nós.
CARMINHA SAI.
PAULINA – Tô vendo que a dona Carminha vai
agarrar o ricaço. Pelo menos ela não é boba!
FÁTIMA – (repreende) Paulina!
FATIMA FAZENDO POUCO CASO. PAULINA SAI.
CORTA PARA:
CENA 22. APARTAMENTO
DE URBANO. INTERIOR. NOITE
TAKES DE JULIANA LIMPANDO A CASA. VARRE, PASSA PANO, AFASTA OS MÓVEIS.
ATÉ QUE URBANO CHEGA.
URBANO – Que isso, Juliana? Eu já não disse
que não é pra fazer nada?
JULIANA – E ser uma encostada? Deus me livre.
Além do mais, Urbano, eu já me sinto ótima. Já dá até pra voltar a trabalhar.
URBANO – Por via das dúvidas é melhor parar
por aí. Anda, amanhã eu chamo uma diarista/
JULIANA – (irredutível) Não, Urbano. Faço
questão! E também já tô acabando, só falta seu quarto.
URBANO – Meu quarto? Tá limpo.
JULIANA – Nunca esteve. Deixa de ser bobo, eu
limpo num minuto!
URBANO – (contrariado) Tá bem, tá bem. Seja
rápida!
JULIANA SORRI. ELES VÃO ATÉ O QUARTO DELE, QUE JULIANA TAMBEM COMEÇA A LIMPAR.
ELA TIRA DE CIMA DO GUARDA ROUPAS UMA CAIXA GRANDE, QUE CAI NO CHÃO. VÁRIAS
FOTOS SE ESPALHAM PELO QUARTO, URBANO E JULIANA VÃO PEGAR. ELE MEIO NERVOSO.
JULIANA – Perdão, Urbano. Eu queria passar um
pano no guarda roupa/
URBANO – Tá legal, Ju. Cê já fez muito até
aqui. Pode ir.
JULIANA – Não, não.
ELA PEGA UMA DAS FOTOS. É ELA MESMA, SECANDO LOUÇAS. JULIANA SEM
ACREDITAR.
JULIANA – (cobrando) Que isso, Urbano? É foto
minha nas tuas coisas!
URBANO – É, é? Nem sabia que tava aí.
JULIANA COMEÇA A PEGAR OUTRAS FOTOS. VÁRIAS SÃO DELA.
JULIANA – Mentira! Olha aqui, olha. Eu tô em
quase todas! Urbano, pra que esse tanto de foto minha, hein?
URBANO – Não é o que você está pensando,
Juliana.
JULIANA – Então diz o que é. Anda!
CLOSES ALTERNADOS. JULIANA COBRA EXPLICAÇÕES. ÚLTIMO CLOSE EM URBANO, NERVOSO.
CORTA PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO VITRAL.
FIM
DO CAPÍTULO 21.
Capítulo escrito por: Vinícius Borges
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