GERAÇÃO TEEN
uma novela de
ISA NOTA
e
JOÃO CARVALHO NETO
episódio por
VINICIUS BORGES
MORTOS NÃO FALAM
CENA 01. MANSÃO DOS CASTELAMARY. NOITE. INT. SALA DE JANTAR
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior;
Gabriel e Melissa tensos, tentando socorrer Alba, que não consegue respirar direito.
ALBA – Conseguiu... Você conseguiu! Vai se ver livre de mim, maldito, vai se ver/
GABRIEL – (Corta/Desesperado) O que é que você tá falando? Foi você quem chamou a gente aqui! Isso é um truque seu?
ALBA – (Ofegante) Ah, desgraçados... Ah! Como fui burra. Eu deveria ter dado fim em vocês de um jeito mais eficiente. (ri) Provei do meu próprio veneno, literalmente.
MELISSA – Do que é que cê tá falando/
ALBA – (Corta/Sem fôlego) Otária! Eu tentei envenenar você, sua cretina, burra, vagabunda... A minha hora chegou. Eu vou morrer.
GABRIEL – Não! A gente vai chamar a ambulância/
ALBA – Você não vê, né? Não dá mais tempo. Gabriel, Gabriel... Eu queria tanto dizer que eu sinto muito. Queria, mas não vou, porque eu não sinto. (Começa a gargalhar, histérica) Sabe o que me conforta? Saber que vocês dois não vão viver felizes para sempre como estão pensando! Eu me ferrei, mas eu vou levar vocês dois juntos.
MELISSA – Do que você tá falando, sua maluca?
ALBA – Disso!
Alba consegue se projetar pra frente e arranha Melissa, que se esquiva. Fraca, começa a gargalhar. Uma risada deprimente.
ALBA – Interesseira. Deu o golpe do baú no filho duma mulher rica e teve a coragem de matar a sogra... Você vai morrer na cadeia, ordinária. Aguardo vocês dois... No inferno!
TRILHA SONORA ON. Paradise City/Instrumental. (Beatles)
Alba começa a rir mais, mas a risada logo vira uma tosse nervosa. Ela se contorce toda, até que cai de vez. Os olhos abertos. Melissa e Gabriel estáticos, chocados. A câmera vai se afastando ao som da música. Fica na imagem de Alba morta, Gabriel chorando no ombro de Melissa, atônita.
Corta para:
CENA 2. CASA DE INÊS. NOITE. INT. SALA DE ESTAR.
Inês vendo televisão no sofá. Glauce aparece com várias malas.
MUSICA CESSA AQUI.
INÊS – Não me diz que... Você já vai?
GLAUCE – É. Se eu ficar me enrolando eu vou acabar mudando de ideia, minha amiga. Mas eu preciso fazer isso. Essa casa vai me trazer lembranças desse filho, entende?
INÊS – É claro que sim. Eu te dou teu todo meu apoio, embora ainda ache que não é o melhor a se fazer. Vem cá me dar um abraço!
Inês e Glauce se abraçam.
GLAUCE – Eu venho te ver, ouviu? Só preciso de um tempo pra reorganizar minha vida, encontrar a Melissa... Enfim.
Som de buzinas.
GLAUCE – Deve ser o táxi. Nem me chama de madame, tá? (ri) É um conhecido que topou me ajudar, vai me levar pra casa de graça.
INES – Boa sorte, Glauce.
Elas sorriem. Glauce sai. Inês fica ali, muda. Após alguns instantes, a campainha toca.
INÊS – Glauce? Esqueceu alguma coisa?
Inês vai até a porta e abre. Dá de cara com o médico do capítulo 10. Inês chocada, o homem sério.
INES – Você? Eu achei que tivesse ficado claro que nós nunca mais nos veríamos. Como você achou meu endereço?
MEDICO – Não me convida pra entrar?
INES – Faço isso com extremo desgosto. Entra!
Ele entra, ela fecha a porta. Vão até o sofá e se sentem.
INES – Minha pergunta ainda não foi respondida.
MEDICO – Apenas segui o endereço deixado pela Glauce ao hospital.
INES – E a troco de quê? Quer mais dinheiro? Se é isso, tira seu cavalinho da chuva!
MEDICO – Não quero dinheiro, Inês. Eu quero ter uma consciência limpa. Saiba que eu sou um homem muito temente a Deus/
INES – E eu tenho o que com isso? Procure uma igreja!
MEDICO – Eu pensei muito em tudo isso. Eu vou perder meu emprego, minha esposa... Até preso talvez eu seja. Mas eu sei que eu vou poder ficar em paz comigo mesmo. Inês, eu vou contar à todos que o bebê da Glauce não morreu. Que você sumiu com ele!
Inês encarando o homem, pasma.
Corta para:
CENA 03. CASA DE PIETRA. NOITE. INT. QUARTO DE PIETRA.
Pietra deitada na cama, ouvindo música. FLASHS dos beijos dela em Marcelo.
PIETRA – Aquilo não podia ter acontecido. E não vai se repetir!
Pietra levanta, vai até o espelho. Pega uma tesoura e corta os cabelos bem curtinhos. Vai até o guarda roupas e tira tudo de lá e começa a picotar várias peças, deixar irregular.
PIETRA – Quero ver quem vai chegar perto de você agora, Pietra. De gostosa a gótica... Bem louco!
Ela continua a cortar algumas peças. Amélia entra.
AMELIA – Mas que porcaria você tá fazendo, Pietra? Ficou maluca?
PIETRA – Não, mãe. Não fiquei. Apenas decidi fazer uma mudança de visual, sabe?
AMELIA – Estragando suas coisas e cortando o cabelo desse jeito? Pietra, você é uma idiota!
PIETRA – E você uma intrometida. As roupas são minhas e o cabelo tá na minha cabeça, tá legal? Então me deixa!
AMELIA – Eu deixo. Deixo com todo prazer. Mas se você me pedir dinheiro pra roupa... Ah, Pietra, ah! Eu vou te dar a maior surra da sua vida!
PIETRA – Fechado! Qualquer coisa pra você me deixar quieta. Poderia, por obséquio, vazar daqui?
Amélia balança a cabeça negativamente e sai.
Corta para:
CENA 04. MANSÃO DOS CASTELAMARY. NOITE. INT. SALA DE JANTAR.
Dois homens fechando o corpo de Alba dentro de um saco preto, que é posto numa maca e retirado dali. Vários peritos pelo local, dentro da marcação de uma linha amarelo. Do lado de fora, Gabriel e Melissa abraçados. Um delegado vai até eles.
DELEGADO – Eu sinto muito pela perda de vocês. E entendo se não quiserem prestar depoimento agora.
GABRIEL – Sem chances disso, delegado. Eu e a minha namorada estamos praticamente em estado de choque ainda.
MELISSA – A Alba morreu na nossa frente.
DELEGADO – Eu entendo. Pelo que eu pude constatar a dona Alba morreu envenenada.
GABRIEL – A gente suspeitava.
DELEGADO – Você tem alguma ideia de quem pode ter feito isso?
GABRIEL – Certeza absoluta. Foi ela própria, com a intenção de matar a Melissa.
DELEGADO – Então vocês duas tinham algum desentendimento?
MELISSA – A Alba foi o pior ser humano que eu já conheci.
DELEGADO – Então eu lamento informar que vocês dois são os principais suspeitos do assassinato da dona Alba Castelamary. O laudo da perícia sai amanhã, depois de vocês prestarem depoimento.
Melissa e Gabriel tensos.
Corta para:
CENA 05. CASA DE INES. NOITE. INT. SALA DE ESTAR.
Continuação da cena 2. Inês e o homem se encarando, sérios.
INES – Isso é alguma brincadeira de mal gosto?
Ela se levanta. Ele também.
MÉDICO – Lamento informar que não, não é nenhuma brincadeira. A senhora vai pagar pela sua atitude, e eu pela minha ambição.
INES – Pois se quiser pague sozinho. Eu me tiro fora/
Ele a pega pelos pulsos.
MEDICO – A senhora vai pro mesmo buraco que eu, pois é tão culpada quanto!
INES – E quem é que vai me levar pra esse buraco? Você?
MEDICO – Na mosca.
Ela vai até a cozinha, ele segue. Inês põe suco em um copo e bebe.
INES – Agora quem lamenta dizer sou eu, mas... Não, você não vai me levar a lugar algum.
MEDICO – Como é que a senhora pode ter tanta certeza?
INES – Porque desde que eu me conheço por gente... Morto não fala.
Ela tira de cima do balcão uma faca e, num movimento rápido, enfia na barriga do homem, que começa a sangrar pela boca. Inês começa a chorar e o derruba.
INES – Eu não queria fazer isso! Não queria. Mas agora tá feito, não tem como voltar atrás. Você se meteu com a pessoa errada.
Inês o chuta, e ele desfalece.
SONOPLASTIA ON. LITHIUM (NIRVANA).
CORTES DESCONTÍNUOS de Inês, insana, indo até a lavanderia. Ela pega um galão de álcool e começa a espalhar por toda a casa, chorando. Vai até a porta, pega um fósforo e risca. A casa começa a incendiar e ela sai de lá.
Imagem fixa nela indo embora. Ao fundo, a casa pegando fogo.
Corta para:
CENA 06. STOCKSHOTS. NOITE-DIA. EXT. RIO DE JANEIRO.
Amanhece no Rio de Janeiro. Imagens aéreas da praia, pessoas se divertindo.
Corta para:
CENA 07. ESCOLA. DIA. INT. SALA DE AULA.
O professor escrevendo coisas na lousa. Marcelo desconcentrado, FLASHS do beijo dele em Pierre. Após algum tempo, entra Pietra com um cabelo curto repicado, maquiagem escura e roupas picotadas. Ela torna-se o centro das atenções e senta longe de Marcelo.
PROFESSOR – Educação seria muito interessante, dona Pietra. Pediu licença pra entrar na sala?
PIETRA – Pedi.
PROFESSOR – E por que eu não ouvi?
PIETRA – Essa é uma pergunta que você deve fazer ao seu médico, e não a mim. Que tal continuar com sua aula?
Todos tensos. O professor senta em sua carteira. Pietra sendo observada por Marcelo, do outro lado da sala.
PROFESSOR – Vamos a chamada. Gabriel?
MARCELO – Ele não veio, mas a diretora disse pra avisar que a mãe dele faleceu.
PROFESSOR – Que coisa triste.
O professor volta a fazer a chama, em off.
Corta para:
CENA 08. CASA DE GLAUCE. DIA. INT. QUARTO DE GLAUCE.
Glauce dorme em sua cama. A campainha começa a tocar. Ela levanta, meio zonza, e sai de lá.
Corta para:
CENA 09. CASA DE GLAUCE. DIA. INT. SALA DE ESTAR.
Glauce abre a porta. É Inês, chorando.
GLAUCE – Inês? O que aconteceu, minha amiga?
As duas entram e vão até o sofá.
INES – Aconteceu uma coisa horrível, Glauce. Horrível! Depois que você foi embora, um homem invadiu a minha casa. Ele tentou me agarrar e colocou fogo na casa. Eu golpeei ele é fugi... Mas ele deve ter morrido com o incêndio.
Inês abraça Glauce, chorando.
GLAUCE – Meu Deus do céu! Não é de se acreditar em uma coisa dessas. Eu sinto tanto por você... Mas e a polícia? Já ficou sabendo?
INES – Não. E eu tô com tanto medo, minha amiga... Tanto!
GLAUCE – Medo da polícia? Mas você não precisa. Alegue legítima defesa!
INES – Não, eu não vou fazer isso. Glauce, eu ainda tô em estado de choque, preciso de um lugar pra ficar...
GLAUCE – Eu nunca teria coragem de não te estender a mão, Inês. Você quem me ajudou no momento em que eu mais precisei!
As duas se abraçam.
INES – Mas vem cá, Glauce... Você não me disse que a casa tinha sido vendida?
GLAUCE – E foi. Eu aluguei ela do novo dono.
INES – Entendi. Você acha que tem alguma chance da Melissa voltar aqui?
GLAUCE – É tudo o que eu mais quero nessa vida.
Elas se encaram. Inês pensativa.
Corta para:
CENA 10. MANSÃO DOS CASTELAMARY. DIA. INT. SALA DE JANTAR.
Gabriel e Melissa tomando café, mudos. A empregada entra acompanhada do delegado.
EMPREGADA – O Homem disse que é da polícia!
GABRIEL – Pode deixar, Cleuza. Obrigado.
MELISSA – A perícia divulgou o laudo da morte da Alba?
DELEGADO – Morta por envenenamento, como já era de se esperar. Mas uma coisa me chamou muito atenção... Amostras de pele foram encontradas na unha da dona Alba. Ao que parece, ela lutou contra alguém antes de morrer.
MELISSA – Não! Isso é mentira, ela me arranhou de propósito/
DELEGADO – (Corta/Sorrindo) Chega de mentira, garota. Pode dizer a verdade: Você envenenou a sua sogra, não foi? Você matou a Alba!
Melissa levanta, chocada. Todos tensos.
Congela.
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