CENA 01. MANSÃO
PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
HORRORIZADA, JULIANA ENCARA MARIANA,
QUE ESTÁ DE PÉ EM SUA FRENTE.
JULIANA – Você me bateu!
MARIANA – Você é uma covarde, uma egoísta!
Fez o que fez, fez suas burradas, cometeu seus crimes e agora depois de anos,
vem me procurar? O que você pensou, hein, Juliana? Que ia chegar até mim e ia
ser perdoada, igual um filme com final feliz? Foi isso mesmo que você pensou?
JULIANA – Eu nunca pensei que seria fácil e
nem que eu teria o seu perdão algum dia, mas eu jamais imaginei que você
tivesse tanto rancor dentro de si mesmo!
MARIANA – (Explode) Eu não sei quem você
pensa que é pra se meter na minha vida, toda cheia de si, Juliana! Pensando que
pode interferir nas minhas escolhas, arrotar maternidade na minha cara! Vai
embora! Some daqui, não me procura nunca mais! Não volta! Eu não quero sua
presença! Eu não te quero na minha vida!
JULIANA CAMBALEANTE SE AJOELHA PERANTE
MARIANA. AMBAS CHORANDO MUITO. ALTA CARGA DE EMOÇÃO.
JULIANA – (Implora) Me desculpa. Me perdoa,
minha filha. Não teve um dia sequer naquela cadeia que eu não tenha pensado em
você. A minha vida foi pensar em você e nesse encontro. Me dá só uma chance de
fazer a diferença, Mariana. Uma chance de ser a sua mãe. Eu quero te mostrar
que eu não sou essa criatura horrível que você pensa que eu sou! Por piedade,
minha filha.
MARIANA SE AFASTA BRUSCAMENTE DE
JULIANA.
MARIANA – Você não tem esse direito. Não tem
o direito de me pedir nem perdão.
JULIANA – Eu sei. Eu não tenho o direito nem
de olhar na sua cara, mas por mais que você negue, eu sou a sua mãe. E vou te
amar sempre. Você não vai entender, mas eu nunca vou saber lidar com o fato de
não termos convivido. Eu nunca vou me perdoar.
MARIANA SECA AS LÁGRIMAS, FRIAMENTE.
MARIANA – A única coisa que eu te peço é que
vá embora. Se você me ama como tanto diz, vai embora. Não se mete no meu
casamento. Prova que me ama e vai embora daqui!
JULIANA CONCORDA E LEVANTA-SE.
JULIANA – Eu te amo.
MARIANA – Não me procura mais! (De dedo)
Nunca mais!
JULIANA ABALADA HESITA.
JULIANA – Um dia você vai entender.
JULIANA VAI SAINDO. NA SAÍDA, ESBARRA
EM LEILA, CONFUSA. LEILA ENTRA. MARIANA AOS PRANTOS.
LEILA – Essa não era a Cristina? Como ela./
MARIANA – (Corta) Eu preciso chorar Leila.
Por favor.
MARIANA SE ABRAÇA À LEILA, AINDA
CHORANDO MUITO. LEILA CONFUSA. NELAS.
CORTA
PARA:
CENA
02. MANSÃO PRATINI. ENTRADA. EXTERIOR. DIA
O CARRO DE AMANDA VAI CRUZANDO O
PORTÃO PRINCIPAL, ENQUANTO JULIANA VAI SAINDO, DESCOMPENSADA. AMANDA DESCE
RAPIDAMENTE. TENSÃO.
AMANDA – (Nervosa/ Tom alto) Eu deixei claro
que não era pra você sequer se aproximar da Mariana, sua infeliz! Me fala! O
que você disse pra ela? (Berra) Fala, desgraçada!
AMANDA SACODE JULIANA, QUE SE SOLTA E
ENCARA,
JULIANA – Ela sabe de tudo, Amanda. Agora, a
Mariana sabe de toda a verdade. Foi muito pior do que eu imaginava, mas eu
tenha uma tonelada a menos nas minhas costas.
AMANDA – O que?
JULIANA – E eu tô extremamente bem com isso.
Aliviada. E eu sei que a minha filha ainda vai me entender.
AMANDA SEM ACREDITAR. EXPRESSÃO DE
HORROR.
AMANDA – Você vai pagar caro, sua
desgraçada! E em dólar!
JULIANA – Eu te garanto que nós duas vamos
pagar. Em real, dólar ou euro. Essa conta não é só minha. É conjunta!
JULIANA SE DESVENCILHA DE AMANDA E SAI
CORRENDO. AMANDA ALI, PENSA POR ALGUNS INSTANTES, AINDA ABALADA. PEGA SEU CARRO
E DIRIGE RAPIDAMENTE ATÉ A GARAGEM. ENTRA.
CORTA
PARA:
CENA
03. MANSÃO PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
MARIANA CHORA NO COLO DE LEILA.
CONVERSA À MEIO.
MARIANA – Foi isso, Leila. Ela não era a
Cristina, ela era a Juliana, o tempo todo... Minha mãe. O tempo todo!
LEILA – (Apazigua) Tem certeza, amiga? Pode
ser só uma maluca que tá querendo te desestabilizar, sei lá. Tem tanto disso
hoje em dia. Ou até uma doida querendo grana, estelionatária!
MARIANA ENCARA LEILA.
MARIANA – Não, Leila. Eu tenho certeza que
ela tava dizendo a verdade. O pior disso tudo é que a Amanda e o Dante não
tiveram a mínima decência de falar comigo. Me esconderam a verdade sobre a
minha vida esse tempo todo. Uma presidiária! Ficou quinze anos numa cadeia,
Leila!
LEILA – Mas hoje é o dia do seu casamento,
Mari. Não tem tempo de ficar cobrando explicações.
AMANDA ENTRA NESSE MOMENTO. MARIANA
LEVANTA, ENCARANDO.
MARIANA – É aí que você se engana, Leila.
AMANDA – Mariana, por favor.
MARIANA – (Berra) Cala a boca! Nós temos
tempo suficiente pra ouvir as suas explicações!
AMANDA – Eu posso explicar o que você
quiser, mas agora, você tem que se casar.
MARIANA – Não! Sem antes você me dizer toda a
verdade! Eu quero ouvir da sua boca o que você não teve coragem de me dizer
esses anos todos, Amanda! Ou você me conta tudo ou não vai ter casamento
nenhum!
MARIANA COM MUITA RAIVA. AMANDA TENSA.
NAS DUAS.
CORTA
PARA:
CENA
04. BARZINHO. INTERIOR. DIA
JULIANA ALI NO BALCÃO, DESOLADA.
SONOPLASTIA TRISTE AO FUNDO, PONTUANDO A CENA. COM UM COPO DE DRINK NA MÃO.
VIRA DE UMA VEZ.
FLASHES
DA SEQUÊNCIA COM MARIANA.
JULIANA BEBE MAIS UM COPO. OLHOS
VERMELHOS E ROSTO INCHADO DE CHORAR. OLHAR PERDIDO. ALGUMAS PESSOAS A OBSERVAM.
O BARMAN SE APROXIMA DELA. JULIANA CHORANDO, EM UM QUASE DESESPERO.
BARMAN – Moça, tá acontecendo alguma coisa?
Precisa de ajuda?
JULIANA O ENCARA.
JULIANA – A minha filha vai casar hoje.
BARMAN – (Animando) É uma felicidade isso.
Porque você tá aqui, bebendo todas? Não deveria estar lá?
JULIANA – Esse casamento... (Engole seco) Ele
não pode acontecer.
O BARMAN TENTA ENTENDER. JULIANA OLHA
PARA O BALCÃO. FIXA.
JULIANA – (Tom baixo) Não pode...
BARMAN – Desculpa, mas eu não ouvi.
JULIANA – (Encarando) Esse casamento não vai
acontecer.
JULIANA LEVANTA, QUASE CAI, TONTA.
PESSOAS OBSERVANDO. ELA DEIXA UMA NOTA NO BALCÃO, PEGA A BOLSA E SAI.
CORTA
PARA:
CENA
05. MANSÃO PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
Continuação
cena 03.
AMANDA E MARIANA SE ENCARANDO. LEILA
LEVANTANDO-SE.
LEILA – Eu vou sair. Deixar vocês
conversarem.
MARIANA – (Corta/ Tom) Pode ficar, Leila.
(Encara Amanda) O conteúdo é pesado, mas você já tem mais de dezoito anos.
LEILA TENSA. AMANDA TENTA SE
APROXIMAR.
AMANDA – Mariana, me escuta.
MARIANA DÁ UM PASSO PARA TRÁS.
MARIANA – Não chega perto de mim! (Pausa) Eu
tenho nojo de você!
AMANDA CHOCADA, LÁGRIMAS NOS OLHOS.
AMANDA – Não fala assim comigo.
MARIANA – (Grita) Eu tenho nojo de você, sua
mentirosa!
LEILA APROVEITA E SAI DO AMBIENTE.
MARIANA E AMANDA CHORANDO, SE ENCARANDO. ELA FURIOSA.
AMANDA – Foi pro seu bem! Eu menti pra te
proteger!
MARIANA – Me proteger? Você só pensa em você!
Sempre em você!
AMANDA – (Berra) Eu pensei em você, sua
ingrata!
MARIANA SE CALA E OFEGA, ENCARANDO
AMANDA, QUE DESABA NO CHORO.
AMANDA – Eu te amo, Mariana. Eu te criei
como se fosse minha filha. A filha que eu nunca tive! A filha que a... Que a
Juliana deixou para cuidar, para proteger.
MARIANA – Proteger? Você me escondeu a
verdade durante a minha vida inteira. Você e o Dante sempre disseram que a
minha mãe estava na Europa, trabalhando!
AMANDA – (Por cima) E você queria que eu
dissesse o que pra uma criança? A verdade? (Imita voz) Olha meu anjinho, a sua
mãe foi presa por ter matado o seu pai, durante um surto de abstinência de
drogas e ela não vai mais voltar?
MARIANA TAMPA OS OUVIDOS, CHORANDO
MUITO.
MARIANA – (Tom forte) Chega! Chega disso!
AMANDA MUITO EMOCIONADA.
CORTA
PARA:
CENA
06. MANSÃO PRATINI. SALA. INTERIOR. DIA
ALGUNS CONVIDADOS POR ALI, CIRCULANDO.
DENTRE ELES, ESTÃO ÁUREA E EDGAR, JÁ ENTRANDO.
EDGAR – Não acredito que você me fez sair
daquela festa, Áurea.
ÁUREA – Se quiser ir, pode ir, Edgar. Tô
com dor de cabeça, tá legal? Dá um tempo!
EDGAR – Sempre acabando com a minha alegria.
EDGAR BUFA. ÁUREA SEM PACIÊNCIA
SENTA-SE NO SOFÁ.
ÁUREA – (Encara Edgar) Você não cuida de
mim. Não se preocupa comigo.
EDGAR – Vai começar é? Melhor eu ir lá pra
fora mesmo. Assim, não preciso escutar suas abobrinhas. Pelo menos não hoje, em
uma festa.
EDGAR OLHA EM VOLTA.
EDGAR – Olha onde nós estamos, Áurea. Vê se
para de chatear a vida dos outros e vai se divertir um pouco!
ÁUREA VAI RESPONDER, MAS EDGAR LHE DÁ
AS COSTAS, SAINDO DE VEZ. ÁUREA OLHA EM VOLTA. LEVANTA-SE E COMEÇA A CIRCULAR
PELO AMBIENTE. VOZES ABAFADAS DE DISCUSSÃO EM OFF.
ÁUREA – O que é isso?
ÁUREA SE APROXIMA DA ESCADA. OLHA UM
GRUPO DE CONVIDADOS, QUE TAMBÉM COMENTA A DISCUSSÃO ABAFADA. ELA DISFARÇA E VAI
SUBINDO AS ESCADAS.
CORTA
PARA:
CENA
07. MANSÃO PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
Continuação
cena 05.
MARIANA CIRCULA PELO QUARTO, DESNORTEADA.
MARIANA – Porque você achou que me escondendo
que aquela mulher tinha matado o meu pai? É minha historia! Você não tinha o
direito!
AMANDA – (Berra) Eu tinha direito sim! A
partir do momento em que eu criei, eduquei, dei de comer e fiz você ser a
mulher que você é hoje, sim! Eu tenho todo o direito!
MARIANA BALANÇA A CABEÇA
NEGATIVAMENTE.
MARIANA – Eu tenho nojo de você! Nojo!
MARIANA SE VIRA DE COSTAS. AMANDA
PARALISADA, A OLHANDO.
CORTA
PARA:
CENA
08. MANSÃO PRATINI. SEGUNDO ANDAR. CORREDOR. INTERIOR. DIA
ÁUREA ANDA POR ALI E VAI SE
APROXIMANDO DA PORTA DA SUÍTE DE MARIANA.
AMANDA – (Off) Nojo? Você tem nojo de mim?
Realmente, você é uma ingrata, Mariana!
MARIANA – (Off) Talvez se eu tivesse sido
mesmo criada pela Juliana, por aquela que diz ser minha mãe, talvez não tenha
sido tão pior!
ÁUREA ARREGALA OS OLHOS, SE APROXIMA
RAPIDAMENTE.
ÁUREA – Como é que é?!
AMANDA – (Off/ Gargalha) Criada onde? Na
cadeia? Dividindo cela com a mamãe? Me poupe!
EM ÁUREA, PRÓXIMA DA PORTA. EXPRESSÃO
CHOCADA.
CORTA
PARA:
CENA
09. MANSÃO PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
CLIMA DE FESTA POR ALI. ORQUESTRA JÁ
TOCANDO UMA BOSSA NOVA NO PALCO DO CASAMENTO. BRUNO E FRANKLIN, O PRIMEIRO
MUITO NERVOSO.
BRUNO – Que demora, pai! Será que ela
desistiu?
FRANKLIN OLHA NO RELÓGIO DE PULSO.
FRANKLIN – Realmente, a cerimônia era pra ter
iniciado. Eu vou ver o que acontece. Espera aqui.
BRUNO – Eu quero ver a Mariana!
FRANKLIN – Antes do casamento não, Bruno.
BRUNO – Tradição mais idiota! Quem acredita
nessas bobagens, hein? Escritor de novela?
FRANKLIN – Não sei, mas pelo sim, pelo não,
melhor não contrariar. Fica aqui!
BRUNO CONCORDA A CONTRAGOSTO. FRANKLIN
SAI DALI. BRUNO NERVOSO. CADÚ SE APROXIMA.
CADÚ – Você tá uma pilha!
CADÚ RI. BRUNO FAZ CARA FEIA.
BRUNO – Muito engraçado, Mané.
CADÚ – Relaxa, meu irmão. A Mariana não
vai desistir do casamento.
BRUNO – Como você tem tanta certeza?
CADÚ – Porque ela é filha da Amanda,
esqueceu?
BRUNO O ENCARA. TEMPO. CONCORDA. CADÚ
RI.
CÂM
DESVIA PARA LEILA.
ELA SE APROXIMA DE UM GRUPO DE JOVENS, DE PÉ, PRÓXIMOS ÀS CADEIRAS. PUXA LÉO.
LEILA – Vem. Quero falar com você.
LÉO – Quê que tá rolando, gata?
LEILA – Tá rolando não. Não sei nem se vai
rolar!
LÉO – Que papo é esse, Leila?!
LEILA ANSIOSA OLHA PARA OS LADOS,
CERTIFICANDO QUE NÃO A ESCUTAM.
LEILA – Lembra que a Mariana não é filha
legítima da Amanda?
LÉO – Claro. Ela é sobrinha da Amanda.
Mas o que tem isso?
LEILA – Então, parece que a mãe dela
resolveu aparecer justamente hoje. Depois de anos, sem ver a filha!
LÉO FICA CHOCADO. ENCARA LEILA.
LÉO – A mãe da Mariana não era uma
empresária que sempre estava em turnê pela Europa?
LEILA – Parece que tudo isso era uma
mentira da Amanda.
LÉO – Mas por quê?
LEILA ENCARA LÉO.
LEILA – A mãe da Mariana é uma
ex-presidiária!
LÉO – O que?
LEILA – A mãe da Mariana é aquela moça que
nós conhecemos com o nome de Cristina. Aquela é a Juliana, a verdadeira mãe da
Mari!
LÉO A ENCARANDO, SEM PALAVRAS. EM
LEILA.
CÂM
DESVIA PARA PAULINA E
GUIDA, QUE ESTÃO PRÓXIMAS A MESA DE DOCES. PAULINA CERTIFICANDO QUE O AMBIENTE
ESTÁ VAZIO, ENQUANTO GUIDA VAI COLOCANDO O CONTEÚDO DA MESA DENTRO DA BOLSA.
PAULINA – Vai logo com isso. Não quero ser
expulsa dessa festa!
GUIDA – Relaxa! Eles são finos. Não vão nos
expulsar por estar roubando doces.
PAULINA – Que situação!
GUIDA – Vai. Vigia direito isso aí!
PAULINA CONTINUA A VIGÍLIA. GUIDA
ROUBANDO DOCES.
CÂM
DESVIA PARA BIBI E
HENRIQUE. ELE CONVERSA COM VITÓRIA, OS DOIS NO MAIOR CLIMA. BIBI CHEGA, SE
COLOCANDO NO MEIO.
BIBI – (Sorri) Oi, Henrique.
HENRIQUE – Que falta de educação é essa,
Bibiana? Você enlouqueceu? Eu tô conversando.
BIBI – Ai, Bibiana. Que ofensa! Você sabe
que odeio esse nome.
BIBI SE VIRA PARA VITÓRIA. SORRI
AMARELO.
BIBI – Oi, coisinha.
VITÓRIA – É Vitória.
BIBI – Não me importa. Será que dá pra dar
um espacinho? Preciso conversar algo com o Henrique.
HENRIQUE – Não. Não dá pra ela dar espaço
nenhum. Será que você não se toca que tá sobrando aqui, Bibi?
BIBI OLHA OFENDIDA PARA HENRIQUE.
BIBI – Meu Deus, o que houve com você? Te
doparam?
HENRIQUE – Menos, Bibi.
HENRIQUE PUXA VITÓRIA, SAINDO DA
FRENTE DE BIBI.
HENRIQUE – Vem, Vitória. Vamos pra uma lugar
onde podemos conversar.
HENRIQUE DÁ UMA ÚLTIMA OLHADA EM BIBI
E SAI, LEVANDO VITÓRIA PELA MÃO. ELA OS ENCARANDO. OLHOS MAREJADOS.
BIBI – Bruto!
CÂM
DESVIA PARA FRANKLIN
E CELINA.
FRANKLIN – A Amanda já apareceu?
CELINA – (Nervosa) Nem ela, nem Dante e nem
Mariana. Tô achando que tá acontecendo algo de muito podre nessa historia!
FRANKLIN – Você acha que deveríamos ir ver o
que tá acontecendo?
CELINA – Eu acho que devemos fazer alguma
coisa logo. Antes que o comentário comece a ser servido nas bandejas e a
imprensa se amontoe para registrar nossa desgraça.
FRANKLIN – Que exagero, Celina!
CELINA – Meu nome tá ligado às colunas
sociais! Nada é exagero quando o seu nome está em risco! O nome da nossa
família.
FRANKLIN A ENCARA. CLOSES ALTERNADOS.
NELA.
CORTA
PARA:
CENA
10. MANSÃO PRATINI. EXTERIOR. DIA
TENSÃO. UM MOTO-TAXI PARA EM FRENTE A
MANSÃO. DESCE JULIANA, PAGA E A MOTO SAI. JULIANA MEIO INCERTA, ENCARA OS
PORTÕES. COMEÇA A BATER PALMA.
JULIANA – (Berra) Amanda! Abre essa porra!
NINGUÉM APARECE. JULIANA OLHA O MURO.
ENCARA.
CORTA
RAPIDAMENTE PARA
JULIANA, DO LADO DE DENTRO DA MANSÃO. ANDA PELO JARDIM, PRÓXIMA À AREA DA
FESTA. WILSON POR ALI, NERVOSO. OLHA PARA TRÁS E ENCARA JULIANA. CLOSES.
CORTA
PARA:
CENA
11. MANSÃO PRATINI. SUÍTE DE MARIANA. INTERIOR. DIA
MARIANA SENTADA NA CAMA, CHORANDO.
AMANDA DE PÉ, DE COSTAS, AO CELULAR.
AMANDA – Ela o que? (Pausa) Eu não acredito
nisso! Manda os seguranças jogarem essa cachorra no beco!
MARIANA – Quem é, Amanda?
AMANDA – (Tampando o celular) Ninguém. Não é
ninguém!
MARIANA LEVANTA E SE APROXIMA DE
AMANDA, ENCARANDO BEM PRÓXIMA.
MARIANA – Chega de mentiras! É a Juliana, não
é?!
AMANDA A ENCARA. CONCORDA COM A
CABEÇA.
AMANDA – Mas ela não vai te atrapalhar,
minha filha.
MARIANA – (Ri) Sua filha? (Séria) Manda ela
entrar. Eu quero falar com ela! Quero falar com vocês duas ao mesmo tempo!
AMANDA – Não, Mariana. Não./
MARIANA – (Grita) É um direito meu!
(Incisiva) Ou eu não saio desse quarto pra casar com ninguém!
CLOSES ALTERNADOS. EM AMANDA.
CORTE
COMBINADO PARA:
CENA
12. MANSÃO PRATINI. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
O ROSTO DE AMANDA, ABRE EM PLANO
GERAL, JÁ REVELANDO ESTAR NO ESCRITÓRIO. NO AMBIENTE, MARIANA, SENTADA NO SOFÁ.
DANTE ENTRA. OS DOIS SE ENCARAM.
DANTE – Mariana.
MARIANA LEVANTA E O ENCARA, FRIAMENTE.
MARIANA – Como você pode me enganar durante
tanto tempo? Ela (aponta para Amanda), eu até entendo. Pouco. Mas entendo! Mas
você? Uma pessoa que eu sempre confiei!
DANTE – Essa historia era delas!
MARIANA – (Por cima) Era minha! Era nossa! Eu
tinha o direito!
DANTE VAI RESPONDER, QUANDO WILSON
ABRE A PORTA.
WILSON – Com licença, a./
JULIANA ENTRA EMPURRANDO O MORDOMO.
VISIVELMENTE ALTERADA. ENCARA TODOS ALI, E ENCARA MARIANA.
JULIANA – (Tenta se aproximar) Filha.
MARIANA VAI PARA TRÁS DO SOFÁ.
MARIANA – Não te chamei pra isso, Juliana!
JULIANA ENGOLE SECO.
JULIANA – Então.
AMANDA – (Se mete) Então, que você fez outra
burrada nessa sua vida miserável!
JULIANA – (Berra) Sua desgraçada!
JULIANA VAI SE ATRACAR COM AMANDA,
QUANDO GANHA UM TAPA NA CARA. AS DUAS LOGO SE GRUDAM PELOS CABELOS. MARIANA
DESESPERADA. NAS DUAS, ATRACADAS NO MEIO DO ESCRITÓRIO.
CORTA
PARA:
CENA
13. MANSÃO PRATINI. SALA. INTERIOR. DIA
SALA VAZIA. WILSON ALI, CHECANDO AS
SAÍDAS. UM CASAL ESTÁ ENTRANDO. ELE INTERCEPTA.
WILSON – O interior da casa foi fechado. Me
desculpem, mas os patrões pediram para todos os convidados esperarem do lado
externo, no jardim. Por gentileza.
O CASAL CONCORDA E SAI. WILSON CHECA,
OLHA PARA O ESCRITÓRIO COM EXPRESSÃO PREOCUPADA.
WILSON – Que Deus nos proteja!
FAZ O SINAL DA CRUZ E SAI. ÁUREA SAI
DE TRÁS DE UM VASO DE PLANTAS. OLHA PARA OS LADOS. ELA SORRATEIRAMENTE, VAI SE
APROXIMANDO DO ESCRITÓRIO PARA OUVIR. DISCUSSÃO JÁ VEM ABAFADA.
DANTE – (off) Parem com isso!
NELA.
CORTA
PARA:
CENA
14. MANSÃO PRATINI. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
DANTE SEPARANDO AMANDA E JULIANA.
MARIANA VAI NO MEIO DAS DUAS.
MARIANA – É sempre assim quando vocês se
encontram? Será que vocês não conseguem pensar em mim?
JULIANA – Filha, eu sempre pensei em você.
AMANDA – Deixa de ser mentirosa, garota!
JULIANA FAZ QUE VAI SE ATRACAR COM
AMANDA NOVAMENTE E MARIANA SE PÕE NA FRENTE.
MARIANA – Para com isso, Juliana.
JULIANA E MARIANA SE ENCARAM.
CORTA
PARA:
CENA
15. MANSÃO PRATINI. SALA. INTERIOR. DIA
ÁUREA COM O OUVIDO COLADO À PORTA.
TENTA OUVIR A DISCUSSÃO.
WILSON – (Off) Vocês não podem entrar, por
favor!
CELINA – (Off) Isso é o que nós vamos ver,
bicha. Sai da frente!
ÁUREA OS ESCUTA E VAI SE ESCONDER
ATRÁS DE UM MÓVEL. WILSON ENTRA TENTANDO IMPEDIR QUE FRANKLIN ENTRE COM CELINA,
NA CADEIRA DE RODAS.
WILSON – Dona Celina, a dona Amanda./
CELINA – (Corta) A dona Amanda deveria estar
apressando sua querida sobrinha para casar. Ela deveria estar naquele
casamento, dizendo sim para o meu filho e não trancada no escritório.
FRANKLIN – Também acho tudo isso muito
estranho. Vamos rapaz, saia da frente.
WILSON TEMEROSO DÁ LICENÇA E FRANKLIN
ABRE A PORTA DO ESCRITÓRIO.
CORTA
PARA:
CENA
16. MANSÃO PRATINI. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
FRANKLIN E CELINA ENTRAM E SE DEPARAM
COM A CENA INSTAURADA NO ESCRITÓRIO.
CELINA – Amanda... Alguém... Alguém pode me
explicar o que tá acontecendo aqui?
CELINA ENCARA JULIANA, DOS PÉS À
CABEÇA.
CELINA – Quem é essa mulher?
JULIANA – Eu./
AMANDA – É uma louca, mas ela já está de
saída.
MARIANA – Chega! Chega dessa mentira toda,
Amanda. Fala a verdade. Fala quem é ela.
JULIANA – (Choraminga) Mariana.
MARIANA – (Faz sinal de silêncio) Quietinha,
que agora quem fala aqui é essa daí ó!
AMANDA – Olha o respeito comigo, garota!
MARIANA – Como se você tivesse me respeitado
esse tempo todo, não é?
FRANKLIN – Mas afinal, alguém pode explicar o
que tá acontecendo? Dante?
DANTE – Me desculpa, Franklin, mas essa
historia não é minha.
MARIANA – (Ri) Sempre com a mesma desculpa
esfarrapada, não é, Dante?
CELINA – Quem é essa mulher aqui?
JULIANA – Essa mulher aqui./
AMANDA – Não é nada!
JULIANA – (Por cima) Eu sou a mãe da Mariana!
TENSÃO. CELINA SE ENTREOLHA COM TODOS
OS PRESENTES E RI.
CELINA – É pegadinha isso?
DANTE – Infelizmente não.
FRANKLIN – Mas a mãe da Mariana, não estava na
Europa?
MARIANA – Era uma mentira! Uma mentira da
qual os dois (aponta Amanda e Dante) fizeram com que todos acreditassem. A
minha mãe (encara Juliana com nojo) estava presa durante quinze anos.
CELINA CHOCADA SE APROXIMA DE AMANDA.
CELINA – Você por um acaso é doente mental,
Amanda? Como você mente desse jeito e acha que nunca irão descobrir a farsa?
AMANDA – Eu fiz o que era melhor pra todo
mundo, Celina. Mas quem é você mesmo pra dizer algo sobre farsas?
AS DUAS SE FUZILAM COM O OLHAR.
FRANKLIN – O que você quer dizer?
CELINA – (Corta) Não quer dizer nada. Aliás,
não há mais nada pra dizer. Acho melhor cancelar esse casamento.
AMANDA – (Exulta) Não!
JULIANA – Isso mesmo! É o melhor que vocês
podem fazer! Cancelar o casamento entre duas crianças. Isso não tem como dar
certo.
FRANKLIN – Você por um acaso, sabe do que tá
falando?
FRANKLIN A OLHA DE CIMA A BAIXO.
FRANKLIN – Com certeza, se nota que não. Uma
mulher de baixo nível, desclassificada... Bêbada.
FRANKLIN SE APROXIMA MAIS. JULIANA O
ENCARA COM RAIVA.
FRANKLIN – Quem sabe esteja até drogada!
JULIANA NÃO AGUENTA E DÁ UM TREMENDO
TAPA NA CARA DE FRANKLIN. REAÇÃO DE TODOS. FRANKLIN A ENCARA, COM A MÃO NO
ROSTO.
FRANKLIN – (Exulta) Você me bateu, sua porca!
JULIANA O ENCARANDO.
CORTA
PARA:
CENA
17. MANSÃO PRATINI. SALA. INTERIOR. DIA
ÁUREA ESCUTA ATRÁS DA PORTA E SE
CHOCA. SE AFASTA E PEGA O CELULAR. DISCA RAPIDAMENTE.
ÁUREA – (Cel.) Alô? É da polícia? Eu tenho
uma denúncia!
NELA.
CORTA
PARA:
CENA
18. MANSÃO PRATINI. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
Continuação
cena 16.
TODOS OS ANTERIORES. FRANKLIN CHOCADO.
AMANDA PUXA JULIANA PELO BRAÇO.
AMANDA – Você tem noção do que acabou de
fazer, sua louca? Ele é um dos maiores advogados desse país! Você vai pra
cadeia, Juliana!
JULIANA OLHA TEMEROSA PARA AMANDA E
DEPOIS COM RAIVA PARA FRANKLIN.
JULIANA – Eu não sou a criminosa aqui! Vocês
são!
CELINA – Não saio por aí batendo na cara dos
outros, queridinha.
MARIANA – Chega. Eu não quero mais olhar pra
nenhum de vocês hoje.
CELINA – Tá maluca, garota? Você tem um
casamento! Aliás, não sei se tem.
CELINA ENCARA AMANDA.
AMANDA – Temos sim.
AMANDA PUXA MARIANA E A ENCARA.
AMANDA – Você não pode fazer isso comigo,
conosco... Você tem que casar, Mariana.
MARIANA E AMANDA SE ENCARAM. JULIANA
SE APROXIMA.
JULIANA – Você tá obrigando a Mariana a
casar! Eu vou denunciar vocês!
DANTE – Juliana, por favor.
JULIANA – (Berra) Covardes! Todos vocês são
uns covardes, hipócritas! Querem fazer dois meninos casarem. Duas crianças que
não tem responsabilidade de nada!
MARIANA – E quem é você pra mandar em mim e
na minha vida? (Encara) Eu vou casar sim e vou ser muito feliz!
JULIANA – (Grita/ Por cima) Não vai!
MARIANA – (Perplexa) Você teve a chance de
provar ser minha mãe e mudar, mas eu vejo que não me deseja nada de bom. Eu não
preciso de você! Nem hoje, nem nunca! Eu quero que você morra!
MARIANA SAI DO ESCRITÓRIO. AMANDA VAI
ATRÁS.
AMANDA – Mariana!
JULIANA TENTA IR, MAS É BARRADA POR
FRANKLIN.
JULIANA – Sai da minha frente!
FRANKLIN – Você não vai a lugar nenhum!
Desordem te manda direto pra cadeia. Agressão física! Perseguição!
JULIANA SE ENTREOLHA COM DANTE, QUE
DESVIA O OLHAR.
JULIANA – Eu não acredito nisso! (Chora)
Vocês são uns monstros!
CELINA – Pensasse nisso antes de invadir uma
propriedade privada e achar que estava no pátio da sua antiga residência.
AS DUAS SE ENCARAM.
CORTA
PARA:
CENA
19. MANSÃO PRATINI. JARDIM. EXTERIOR. DIA
SONOPLASTIA TRISTE. OS CONVIDADOS CIRCULAM POR ALI.
BOCHICHOS JÁ PERCORREM O AMBIENTE. BRUNO NERVOSO, AO LADO DE CADÚ, CONVERSAM EM
OFF. CÂM DÁ UMA DESVIADA PARA OS CONVIDADOS, TODOS COMENTAM O ATRASO DA NOIVA.
LEILA NERVOSA, CONVERSA COM ALGUMA AMIGA. BIBI POR ALI, OLHANDO HENRIQUE E
VITÓRIA, RINDO, SUPER ENTROSADOS. CORTA PARA WILSON, COM O CELULAR NAS MÃOS.
EXPRESSÃO PREOCUPADA. ELE DESLIGA, DÁ UMA OLHADA RÁPIDA EM BRUNO E SAI DALI.
CORTA
PARA:
CENA
20. MANSÃO PRATINI. FUNDOS. EXTERIOR. DIA
DUAS VIATURAS POLICIAIS NOS FUNDOS DA
MANSÃO. RUA DE TRÁS COM CARROS, NA FESTA. POLICIAIS ALI, OPERAÇÃO DISCRETA.
DANTE E FRANKLIN SAEM DA CASA. FALAM COM UM POLICIAL. OUTRO VEM MAIS ATRÁS,
CARREGANDO JULIANA PELO BRAÇO. ELA COM O OLHAR ABSORTO, DESNORTEADO. AMANDA E
CELINA MAIS ATRÁS, FECHANDO O GRUPO. JULIANA É LEVADA ATÉ O EXTERIOR DA MANSÃO.
DÁ UMA OLHADA PARA TRÁS.
EM
SLOW-MOTION:
JULIANA E AMANDA SE ENTREOLHAM, TROCAM DUROS OLHARES, ACUSATÓRIOS. CLOSES
ALTERNADOS DE TODOS.
JULIANA POR FIM, É JOGADA DENTRO DO
CAMBURÃO DA VIATURA. CHORA COMPULSIVAMENTE. AMANDA A ENCARANDO, OLHAR DE
REPULSA, SUPERIOR, DONA DA SITUAÇÃO.
A PORTA DO CAMBURÃO FECHA. JULIANA
GRUDA O ROSTO ALI, ENCHARCADO PELAS LÁGRIMAS. CLOSE DEFINITIVO.
CORTA
PARA:
EFEITO FINAL: A TELA CONGELA EM EFEITO
VITRAL.
FIM DO CAPÍTULO 23
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