TVN/Recanto apresenta
UM
DIA DE CADA VEZ
Novela de
MATHEUS RICCAZ
LUCAS SOARES
WESLEY ALCÂNTARA
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CAPÍTULO – 01 –
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Personagens
ANDRESSA
BEATRIZ
BRUNO
CAIO
GABRIEL
GÉSSICA
GILBERTO
GUILHERME
IVAN
JUCILENE
LIA
LIDIANE
MÁRCIO
OTÁVIO
PAULA
RAFAELA
RAÍSSA
VAGNER
Participações
COMISSÁRIA DE BORDO
JUIZ
POLICIAIS
JOÃO
MÉDICO
DELEGADO
CENA 1/ SALVADOR/
PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ DIA.
Fade
in. Música:
“Call me” Planos gerais aéreos da cidade de Salvador. Registrar imagens
de uma das cidades mais belas do mundo. CAM mostra o sol nascendo na praia da
Barra. Mostra pessoas tomando banho de mar, outras tomam sol, deitadas na
areia. Já outras fazem uma caminhada ou uma corrida na calçada. Letreiro: Salvador Ba, 1998. Entra aqui a narração do personagem Gilberto,
que na primeira fase se chama Ivan. Ele narrará a primeira fase baseado em suas
lembranças.
GILBERTO: — (voz) Salvador, uma das cidades mais belas
do mundo...
Edição:
Fad out na música.
CENA 2/ MANSÃO LIDIANE/
JARDINS/ EXTERIOR/ DIA.
Está ocorrendo uma cerimônia de casamento. Ivan o
noivo está de pé no altar esperando sua noiva. De repente começa a tocar a
marcha nupcial. Todos os convidados se levantam. CAM vai pegar os pés da noiva,
(que está grávida e vestindo um lindíssimo vestido branco) até chegar na sua
face. Nesse momento revela-se que a noiva é Lidiane. Ivan sorri pra ela, que
retribui. Lidiane é levada ao altar na
companhia de seu pai João que já se encontra muito idoso.
GILBERTO: — (voz) Estava prestes a dar o meu maior
golpe, mas tudo saiu errado. Sem querer acabei engravidando a moça que seria
minha vítima e fui obrigado a me casar com ela.
Lidiane chega ao altar. Antes de se sentar, João
fuzila Ivan com os olhos. Todos os convidados se sentam. Lidiane e Ivan ficam
de frente pro juiz.
JUIZ: —
(para Lidiane) Lidiane Limeira Rio Branco, é de livre e espontânea vontade que
você aceita o senhor Ivan Meirelles como seu legítimo esposo?
LIDIANE: — (sorri feliz) Sim!
JUIZ: — E você Ivan Meirelles, aceita Lidiane como
sua legítima esposa?
CAM dá um close em Ivan.
GILBERTO: — (voz) Para quem não me conhece... Meu nome
é Ivan!...
CENA 3/ ANIMAÇÃO/
Animação com várias identidades caindo do céu.
GILBERTO: — (voz) ...Aliás, Ivan foi um dos meus
milhares de nomes. Tanto que nem sei qual é meu nome verdadeiro. Podem me
chamar de estelionatário, golpista ou 171. Lidiane seria uma vítima perfeita se
não tivesse engravidado. Decidi largar a vida de golpista pra virar pai de
família.
Nesse momento, as identidades param de cair. A
última identidade que cai é a de Ivan, com sua foto e assinatura. CLOSE na
identidade.
CENA 4/ MANSÃO DE LIDIANE/
JARDINS/ EXTERIOR/ DIA.
Continuação da cena 2: Ivan diante de Lidiane e do
Juiz que aguardam a resposta.
JUIZ: — Vou repetir a pergunta: Você Ivan
Meirelles, aceita Lidiane como sua legítima esposa?
Ivan continua paralisado. Lidiane fica temerosa. Começa
um burburinho entre os convidados e João fuzila Ivan com os olhos.
IVAN: — Eu aceito!
Lidiane sorri aliviada e emocionada. Eles trocam
alianças e assinam o documento de união estável. Em seguida ambos se beijam e
os convidados vibram. Ivan e Lidiane vão caminhando de mãos dadas sempre a
olhar um pro outro sorrindo felizes. Os convidados jogam arroz sobre eles.
CENA 5/ MANSÃO LIDIANE/
SALA/ INTERIOR/ DIA.
Está ocorrendo a festa do casamento. Alguns dos
convidados dançam, outros conversam. Ivan conversa com Lidiane.
IVAN: — Tem certeza de que você quer viajar meu
amor?
LIDIANE: — Claro que sim! Aliás, nós iremos pra uma
fazenda da família lá em Rio das Flores. Será uma maravilhosa lua de mel.
Eles se beijam. João aparece no exato momento.
JOÃO: — Minha filha, eu preciso falar algo com
você.
Lidiane para de beijar Ivan.
LIDIANE: — Claro pai...
JOÃO: — (olha Ivan) É uma conversa pessoal.
IVAN: — Se quiser eu saio...
JOÃO: — Não precisa rapaz! (para Lidiane) Venha
comigo para o escritório.
João sai. Lidiane sai em seguida. Ivan fica ali
sozinho. Um garçom passa com uma bandeja de uísques e Ivan pega um.
CENA 6/ ESCRITÓRIO/
INTERIOR/ DIA.
João abre a porta. Ele dá espaço pra Lidiane entrar
e ela entra. Lidiane se senta numa cadeira e João numa poltrona.
JOÃO: — Eu tenho algo de muito importante pra falar
com você filha.
LIDIANE: — Pode falar pai!
JOÃO: — Primeiramente eu desejo que você seja muito
feliz ao lado daquele traste.
LIDIANE: — Não precisa falar assim do Ivan pai!
JOÃO: — Eu nunca aprovei seu relacionamento com
ele. Só aceitei esse casamento por que ele te engravidou.
LIDIANE: — Pai! O senhor pode ter certeza, de que o
Ivan vai me fazer a mulher mais feliz desse mundo.
JOÃO: — Assim eu espero querida! Mas não é somente
isso que eu quero falar com você! Você sabe que a está em construção a nova
unidade das nossas instituições de ensino.
Lidiane confirma com a
cabeça.
JOÃO: — E
como você também sabe, eu não vou durar muito. Por isso eu quero que você
assuma o comando depois que eu partir dessa pra melhor.
LIDIANE: —
Nem fale uma coisa dessas pai...
JOÃO: — Eu
só quero deixar você precavida Lidiane. Antes que seja tarde. Eu não vou durar
muito tempo nesse mundo. E quero que você esteja preparada pra assumir meu
lugar assim que eu me for. Além disso, eu vou deixar a mansão e todo o meu
patrimônio conquistado durante todos esses anos difíceis pra você!
LIDIANE: —
Olha pai... Independente do que for acontecer... Saiba que você é a pessoa mais
importante da minha vida! (t) Eu te amo!
JOÃO: —
Também te amo meu bem! Dá aqui um abraço nesse velho caquético.
Lidiane ri e eles se
abraçam.
CENA 7/ MANSÃO LIDIANE/ FRENTE/ EXTERIOR/ DIA.
Um carro vai saindo da
mansão. No carro estão Ivan e Lidiane. Os convidados saem da mansão e jogam
rosas vermelhas sobre o carro, que parte.
CENA 8/ AEROPORTO LUÍS E. MAGALHÃES/ PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ DIA.
Planos Gerais do
aeroporto da cidade. Alguns aviões pousam, outros decolam, passageiros vem e
outros vão.
cena 9/ avião/ interior/ dia.
Ivan e Lidiane estão
sentados em seus lugares. Comissária de bordo começa a falar no alto falante.
COMISSÁRIA
DE BORDO: — (voz) Caros
passageiros. A Airbus 360 saindo de Salvador com destino a Rio das Flores está
prestes a levantar voo. Por favor, afivelem seus cintos de segurança.
Lidiane e Ivan
afivelam os cintos de segurança.
CENA 10/ AEROPORTO/ PISTA DE DECOLAGEM/ EXTERIOR/ DIA.
Plano de Localização
do avião. O avião dá a partida até que decola.
CENA 11/ AVIÃO/ INTERIOR/ DIA.
Continuação da cena 9.
Ivan e Lidiane se entreolham e sorriem felizes, enquanto ele acaricia a barriga
dela.
GILBERTO: —
(voz) Estava tudo indo bem. A Lidiane estava grávida de sete meses. Nada de
errado poderia acontecer na nossa lua de mel...
CENA 12/ RIO DAS FLORES/ PLANOS GERAIS/ EXTERIOR/ NOITE.
Planos gerais da
cidade. Está tendo uma terrível tempestade. Raios e trovões caem sobre a cidade
que escureceu após ter ocorrido um apagão em consequência da tempestade.
CENA 13/ SÍTIO FONTE DA LUZ/ EXTERIOR/ NOITE.
Plano de Localização
do sítio.
CENA 14/ SÍTIO FONTE DA LUZ/ CASARÃO/ INTERIOR/ NOITE.
Lidiane está deitada
na cama, suando e respirando bastante. Em volta dela há velas acesas.
GILBERTO:
— (voz) ... Nossa Lua de Mel tinha tudo pra dar certo, se a Lidiane
não tivesse entrado em trabalho de parto logo quando houve o apagão que deixou
a cidade inteira no escuro.
Ivan aparece com um
celular na mão.
IVAN: —
(desesperado) Não tem sinal!
LIDIANE: —
(sente dores) Me dá esse celular!
Ivan entrega o celular pra Lidiane.
LIDIANE: —
Sabe o que vou fazer com essa porcaria?
Lidiane pega o celular
e o joga longe. Ela continua gritando de dor.
IVAN: —
(desesperado) Tem alguma coisa que eu possa fazer por você meu amor?
LIDIANE: —
Tem sim! Quero que você faça esse parto!
IVAN: — Mas
eu não posso/
LIDIANE: —
(grita) Seja homem e faça esse parto!
IVAN: — Eu
vou procurar ajuda!
Ivan vai saindo. Lidiane começa a berrar:
LIDIANE:
— (berra) Ivan, não me deixe
aqui sozinha! Venha fazer o parto de seu filho.
Lidiane pega um vaso
que está no criado mudo e joga contra a porta. Ela continua gritando de dor.
CENA 15/ SÍTIO FONTE DA LUZ/ FRENTE/ EXTERIOR/ NOITE.
Ainda chove bastante.
Ivan sai do casarão com uma lamparina, e em off ele grita por ajuda.
GILBERTO: — (voz) Não prestava nem pra fazer o parto
do meu próprio filho. Mas eu estava decidido a procurar por ajuda. Então eu saí
do sítio, enfrentando a tempestade, pela minha mulher e pelo meu filho que
estava pra nascer.
IVAN: — (grita) Socorro! Socorro!
Ele segue caminhando e
enfrentando a tempestade.
CENA 16/ SÍTIO FONTE DA LUZ/ CASARÃO/ INTERIOR/ NOITE.
Continuação da cena
14. Lidiane faz força, ao mesmo tempo que grita. Ela continua fazendo força,
até que a criança finalmente nasce. Lidiane pega o bebê.
LIDIANE:— É uma menina. É uma menina... Minha filha.
Emocionada,
ela segura sua filha. De repente a energia volta e Lidiane resolve colocar a
criança do seu lado na cama.
LIDIANE:— A Luz voltou! Preciso de ajuda! Onde será
que aquele traste do Ivan tá agora... Ai, preciso ligar... preciso telefonar
pra alguém.
Ela
procura pelo celular que jogou minutos antes e o vê no chão.
LIDIANE:— Droga!
Com
dificuldade, ela tenta alcançar sua mala que está perto da cama. Ela consegue
pegar a mala e arrasta-la até a cama. Lidiane abre a mala e apanha seu celular.
Ela começa a teclar. CAM dá um close nas teclas que ela digita “192”.
LIDIANE: —
Droga! Ninguém atende!
Ela
tenta novamente até que consegue.
LIDIANE:— (cel) Alô?! É da ambulância? Eu preciso de
ajuda! Eu acabei de ter um filho aqui! Preciso de uma ambulância rápido! Tudo
bem! Estou esperando!
Ela desliga.
CENA 17/ RIO DAS FLORES/ ESTRADA DE TERRA/ EXT/ NOITE.
Ivan continua
caminhando a procura de ajuda, até que percebe que a energia voltou ao ver os
postes com suas luzes acesas.
IVAN: — (aliviado) Que bom! A energia voltou!
Ele retoma o caminho pra casa.
cena 18/ sítio fonte da luz/ casarão/ interior/ noite.
Continuação da cena
16. Lidiane fica inquieta na cama.
LIDIANE: — (desesperada) A ambulância tá demorando
muito!
Ela pega novamente seu celular e começa a
discar. CAM dá um close nas teclas que ela digita “190”.
LIDIANE: — (cel) Alô?! Eu preciso de ajuda! Acabei
de parir! Eu preciso ir pra um hospital urgente! Me ajuda por favor! Eu não
estou me sentindo bem!
Lidiane vai ficando
fraca ao falar no telefone.
LIDIANE:
— (fraca) Eu preciso... eu
preciso... eu...
Ela vai apagando aos poucos, até que desmaia
por completo. CAM dá um close nela desmaiada.
CENA 19/ CASARÃO/ FRENTE/ EXTERIOR/ NOITE.
Ivan vem caminhando,
cansado. Tempestade já acabou. Ivan entra na casa.
CENA 20/ CASARÃO/ INTERIOR/ NOITE.
Ivan vem entrando em
casa. Ele caminha até o quarto. Ao chegar lá ele encontra Lidiane desmaiada na
cama e se esvaindo em sangue e o bebê ao seu lado.
IVAN:
— (perplexo) Meu Deus...
nasceu!
Ivan pega a criança e
observa seu sexo...
IVAN:
— É menina! (feliz) Uma
princesinha.
Ele balança a criança
em seu colo por um tempo... Até que percebe Lidiane desmaiada. Ivan coloca a
criança na cama, deitada e começa a sacudir Lidiane suavemente.
IVAN:
— Acorda meu amor... Nossa
filha nasceu!
Mas ela não reage. Ele
para de sacudir Lidiane e estranha ao ver que ela não reage. Ivan checa sua
pulsação. Ao checar ele fica desesperado.
IVAN:
— (desesperado) Meu Deus!
Ela tá morta!
Nisso, ele se aproxima
novamente de Lidiane e começa a sacudi-la.
IVAN:
— (desesperado) Acorda
Lidiane! Acorda meu amor! Fala comigo!...
Barulhos de sirenes de
ambulância e polícia começam a rodear a casa. Ivan começa a ficar mais
desesperado ainda. Ele caminha até a janela e observa. Do seu ponto de vista,
Ivan vê o carro da polícia parado e policiais descendo e logo depois os carros
de ambulância chegando. Ele se volta, desesperado. Entra novamente a narração
de Gilberto:
GILBERTO: - (voz) Eu comecei a ficar desesperado quando vi aqueles carros
de polícia parado em frente a casa. Eu era fugitivo lá no Rio de Janeiro devido
aos golpes que aplicava. Se a polícia me visse ali, minha vida estaria
arruinada.
Ivan olha pro bebê
deitado ao lado de Lidiane.
GILBERTO: - (voz) Então decidi pegar minha filha e ir embora daquele lugar
o quanto antes, já que minha mulher Lidiane estava morta.
Ivan pega o bebê nos
braços e sai pelas portas do fundo. Nesse mesmo tempo, os policiais entram na
casa, arrombando a porta. Eles revistam a casa e encontram Lidiane desfalecida
na cama, se esvaindo em sangue. Os paramédicos entram e começam a examiná-la.
CORTA PARA os paramédicos que saem da casa, levando Lidiane na maca.
CENA 21/ SÍTIO FONTE DA LUZ/ EXTERIOR/ NOITE.
Ivan corre com o bebê
nos braços até chegar a um carro. Ele entra nesse carro.
CENA 22/ CARRO/ INTERIOR/ NOITE.
Ivan dentro do carro,
sentado no banco do motorista.
IVAN: - (para o bebê) Agora só são eu e você minha filha. Vamos ser
felizes juntos. Eu prometo! Nada de ruim vai lhe acontecer!
O bebê chora. CAM dá
um close neles. Fade out.
CENA 23/ RIO DAS FLORES/ PLANOS GERAIS/
EXTERIOR/ DIA.
Fade in. CAM passeia pela cidade de Rio das Flores,
capturando imagens aéreas do Portal, Balneário Municipal, Cruzeiro, Praça,
Igreja da Matriz, além de seus moradores que passeiam, vem e vão, nessa
belíssima cidade.
CENA 24/ HOSPITAL/ EXTERIOR/ DIA.
Faixada de um dos
hospitais da cidade.
CENA 25/ HOSPITAL/ ENFERMARIA/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane está deitada
na maca. Uma enfermeira chega. Lidiane acorda aos poucos e começa a olhar pros
lados.
LIDIANE: - (confusa) Aonde estou?
ENFERMEIRA: - Você está num hospital.
LIDIANE: - O que aconteceu?
ENFERMEIRA: - Você deu a luz.
LIDIANE: - (começa a lembrar) Eu dei a luz... (lembra) Minha filha! Cadê
ela? Onde tá minha filha?
ENFERMEIRA: - Nós não sabemos moça!
LIDIANE: - Como assim não sabem?
ENFERMEIRA: - A senhora deu entrada aqui no hospital
sozinha. Não tinha criança nenhuma acompanhada!
LIDIANE: - Mas isso só pode ser um erro. Eu tive uma menina. Eu desmaiei,
mas antes disso acontecer eu tinha visto o rosto da minha filha! (puxa a gola
da roupa da Enfermeira) Cadê minha filha moça? Cadê ela?
ENFERMEIRA: - Eu sinto muito.
Lidiane começa a
chorar e gritar muito.
LIDIANE: - (grita) Eu quero minha filha! Minha filha!
A enfermeira tenta
tranquilizá-la.
ENFERMEIRA: - Moça, procure ficar calma.
LIDIANE: - Não quero ficar calma! Eu quero minha filha! Aqui! Agora! Já!
Lidiane fica inquieta.
A enfermeira chama um enfermeiro que está próximo. Ele se aproxima, trazendo
consigo uma bandeja de medicamentos.
ENFERMEIRO: - O que está acontecendo aqui?
ENFERMEIRA: - Essa paciente está inquieta. Eu tentei
acalmá-la, mas ela não fica quieta!
O enfermeiro coloca a
bandeja num criado mudo perto da cama, enche a seringa com um dos medicamentos
e aplica em Lidiane que desmaia aos poucos. Do ponto de vista de Lidiane, CAM dá
fade out.
CENA 26/ HOSPITAL/ ENFERMARIA/ INTERIOR/ DIA.
Fade in. Lidiane desperta aos poucos e em sua frente
estão um médico e um policial.
LIDIANE: - O que houve? Quem são vocês?
HOMEM: - Eu sou o delegado Lúcio ...
O policial cumprimenta
Lidiane com um aperto de mão.
DELEGADO LÚCIO: - Eu vim aqui pra poder esclarecer a senhorita
o que aconteceu aquela noite.
LIDIANE: - Então me diz delegado. O que houve? Onde está o meu marido e a
minha filha?
DELEGADO LÚCIO: - Quando chegamos na casa não encontramos
ninguém, além da senhora desmaiada na cama e se esvaindo em sangue.
LIDIANE: - Como assim? E o meu marido? Ele estava comigo! Estávamos em lua
de mel! Deve ser algum engano seu! Algum erro!
DELEGADO LÚCIO: - Infelizmente não tem erro, nem engano nenhum
moça! Nós vasculhamos a casa toda, investigamos e a única coisa que encontramos
foram algumas roupas e isso em cima do criado mudo.
O policial mostra uma
foto de Ivan para Lidiane.
LIDIANE: - (reconhece) É o meu marido! É o Ivan!
DELEGADO LÚCIO: - Não! A senhora está enganada! O nome dele
não é Ivan!
LIDIANE: - É Ivan sim!
DELEGADO LÚCIO: - Senhora, o nome dele é Francisvaldo Ribeiro.
Esse homem é um golpista, foragido da polícia! Ele é um bandido! Aplica golpes
em mulheres ricas, milionárias e depois some com todos os bens das mesmas. A
senhora com certeza foi uma vítima desse cara.
LIDIANE: - (grita) Mas isso é um absurdo! Meu Deus, não é real!
DELEGADO LÚCIO: - É
real sim! Ele aplicou vários golpes aqui no Rio de Janeiro. Estamos
caçando ele há um tempão!
LIDIANE: - E minha filha delegado?
DELEGADO LÚCIO: - Sendo ele um golpista e um cara
perigosíssimo, a única conclusão que podemos chegar é dele ter sequestrado a
própria filha. A sua filha!
LIDIANE: - (sem querer acreditar) Meu Deus, isso não pode estar
acontecendo! (agarra o delegado) Por favor! Eu te peço! Continue as buscas, as
investigações, sei lá o quê! Mas continue! Eu preciso ver esse homem atrás das
grades! Eu quero ver ele preso, pagando pelos crimes que cometeu! E eu quero
minha filha de volta!
DELEGADO LÚCIO: - Eu farei o possível e o impossível! Com
licença!
O delegado vai embora.
MÉDICO: - Não se preocupe senhora! Tudo vai acabar bem! Logo você terá
alta e poderá ir atrás da sua filha! Qualquer coisa é só apertar o botão. Com
licença!
Ele também sai.
Lidiane fica ali pensativa.
LIDIANE: - (pra si) Eu não posso ficar aqui deitada sem fazer nada! (olha
pra mala) Parece que vou ter alta antes do previsto.
CENA 27/ HOSPITAL/ CORREDORES/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane caminha pelos
corredores do hospital, trajando roupas normais, levando a mala consigo. Uma
enfermeira a aborda. Lidiane se assusta.
ENFERMEIRA: - Precisa de ajuda?
LIDIANE: - Preciso sim! (aponta pra mala) Eu vim trazer roupas pro meu
irmão! Coitado, ele quis por que quis passar a noite com a nossa mãe aqui. Eu
estou indo pra casa, mas não sei onde fica a saída!
ENFERMEIRA: - Ah claro! Virando a esquerda, segue direto!
CENA 28/ HOSPITAL/ FRENTE/ EXTERIOR/ DIA.
Lidiane caminha pra
fora do hospital. Ela para no meio fio e avista um táxi. Lidiane coloca a mão,
fazendo-o parar e entra. O taxi parte.
CENA 29/ AEROPORTO/ EXTERIOR/ DIA.
Câmera detalha um
avião decolando.
CENA 30/ AVIÃO/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane olha na
janela. Ela põe seus óculos escuros e dorme.
CENA 31/ AEROPORTO LUÍS EDUARDO
MAGALHÃES/EXT/ DIA.
Câmera foca no avião
pousando.
CENA 32/ AEROPORTO L. EDUARDO MAGALHÃES/INT/
DIA.
Lidiane vem,
arrastando suas malas e caminha em direção a saída do aeroporto.
CENA 33/ MANSÃO LIDIANE/ FRENTE/ INTERIOR/
DIA.
Um táxi para em frente
a mansão. Lidiane desce e Gabriel aparece.
LIDIANE: - Gabriel, pegue minha bagagem que estão no porta malas por
favor.
GABRIEL: - Sim senhora! (T) O seu Ivan não veio com a senhora?
LIDIANE: - Não! Bem... Não estou me sentindo bem! Vou entrar!
Lidiane entra em casa
enquanto Gabriel retira as malas, estranhando tudo aquilo.
CENA 34/ MANSÃO LIDIANE/ SALA/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane já na sala.
Jucilene aparece.
JUCILENE: - Dona Lidiane, como foi de viagem? Cadê seu Ivan? E a senhora
não tava grávida? Cadê a barriga?
LIDIANE: - (explode) O meu pai sempre me avisou, que eu não
deveria confiar naquele desgraçado, naquele maldito do Ivan! (grita)
Desgraçado! Maldito! Miserável!
Lidiane pega um vaso
em cima da bancada ali perto e taca contra a parede.
LIDIANE: - Desgraçado!
JUCILENE: - Mas o que houve?
LIDIANE: - O desgraçado se casou comigo por interesse! Ele queria me dar
um golpe! Queria tirar tudo o que eu tenho! (T) Ele raptou a minha filha!
JUCILENE (surpresa): - Raptou a sua filha? Como assim raptou?
LIDIANE (chorando): - Eu não sei! Eu tou muito nervosa! (T) De
pensar que meu pai sempre me avisou sobre esse homem maldito! Aliás, cadê ele?
JUCILENE: - O seu João ele...
LIDIANE: - O que tem meu pai Jucilene?
JUCILENE: - Ele passou muito mal depois que você e o seu Ivan viajaram.
Ele chegou a procurar um médico, mas infelizmente não resistiu!
Lidiane fica arrasada.
JUCILENE: - Eu liguei várias vezes pro celular da senhora e do seu Ivan,
mas nenhum dos dois atenderam.
LIDIANE (arrasada, chorando): - Meu pai! Morreu!
JUCILENE: - O enterro foi ontem!
LIDIANE: - Onde ele foi enterrado? Eu quero ir lá! Eu preciso ir lá!
CENA 35/ CARRO/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane no carro.
Gabriel dirige. Ela está com óculos escuros e um tanto abalada e triste.
CENA 36/ CEMITÉRIO/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane está em frente
ao túmulo de João. Ela está com um porta retrato nas mãos. Ela admira a foto de
seu pai que está pregada no túmulo, enquanto coloca o buquê de flores por cima.
LIDIANE (emocionada): - Meu pai... O senhor foi um guerreiro!
Cuidou de mim sozinho... Me educou muito bem, me alertou sempre sobre as más
influências... Mas eu nunca lhe ouvi... Queria que o senhor estivesse aqui
agora, pra eu te pedir perdão pela minha burrada e deitar no seu colo como o
senhor fazia quando era criança e escutar os seus conselhos que me ajudaram
bastante... Eu sempre te amei e vou
continuar lhe amando meu pai... Mesmo após a sua morte!
Ela beija o retrato de
seu pai que está em suas mãos e o deposita em cima do tumulo, junto às flores e
vai embora.
CENA 37/ RUA/ EXTERIOR/ DIA.
Uma mulher vestida com
um capuz e sem mostrar o rosto, carrega uma cesta com uma criança, ainda bebê,
dentro. Ela avista um bueiro perto do meio fio e coloca a cesta lá. A mulher
corre pra trás de um poste e observa a criança no bueiro.
CENA 38/ CARRO/ INTERIOR/ DIA.
Gabriel está
dirigindo. Lidiane está contendo o choro. Gabriel olha pra ela através do
retrovisor.
GABRIEL: - A senhora tá precisando de alguma coisa?
LIDIANE: - Não Gabriel! (Volta atrás) Alias, eu estou precisando sim!
Para em qualquer barraca por aí, por favor! Vou comprar uma água de coco!
Gabriel continua
dirigindo, até que para. Lidiane desce.
CENA 39/ RUA/ EXTERIOR/ DIA.
Lidiane sai do carro e
caminha até uma barraca e compra a água de coco. Corte descontínuo para ela que
termina de beber a água e vai caminhando em direção ao carro. De repente,
Lidiane ouve um choro de criança. Ela sai a procura do choro até que em um
local mais afastado encontra o bebê da cena 37 deitado numa cesta, enrolado
numa manta. O carro de Gabriel está perto. Ela chama Gabriel que vem correndo.
Eles pegam o bebê, entram no carro e partem. CAM detalha a mulher da cena 37,
escondida atrás do poste, que também vai embora, sem mostrar seu rosto.
CENA 40/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO/ INTERIOR/
DIA.
Lidiane carrega o bebê
que acaba de tomar banho. Jucilene ajuda vestir a roupa na criança.
LIDIANE (amorosa com o bebê): - Amanhã a mamãe vai levar a filhinha pro
médico.
JUCILENE: - A senhora não acha isso perigoso demais não?
LIDIANE: - Perigoso seria eu ter deixado essa criança lá, perto daquele
bueiro, com risco de ter uma infecção grave. E seja lá quem abandonou essa
menina ali, um dia vai pagar por isso. Deus me deu uma nova chance de ser mãe e
não vou jogar fora essa oportunidade. Ela agora é minha! Minha filha! O nome
dela vai ser Beatriz! Seria o nome que eu daria a filha que aquele canalha do
Ivan raptou. Eu sei que um dia eu hei de encontra-lo e vou fazer ele pagar por
tudo o que me fez. E eu sei que um dia eu vou rever a minha filha e vou tê-la
de novo comigo. Eu juro!
CAM dá um close nela. Fade out.
CENA 41/ PRAIA DA BARRA/ EXTERIOR/ DIA.
Letreiro: 17 ANOS DEPOIS. Sonoplastia: Vamos Dançar. Cena se
inicia no meio do mar. CAM percorre o mar até chegar à belíssima praia da
Barra. Takes da praia, de pessoas correndo na calçada, outras tomam banho de
mar, os vendedores fazem o seu trabalho e pessoas sendo atendidas nos
quiosques. Corte descontínuo para um homem que acaba de sair da água e
vai direto pra areia recolher suas coisas. Esse homem se chama Otávio.
Ele se aproxima de uma garota que se chama Raíssa, a sua filha.
RAISSA — Nossa painho cheguei a pensar que tu tava
se afogando...
OTÁVIO —
Que nada filha! Um calorão desse logo no início da manhã você quer o quê? Agora
vamos pra casa acordar aqueles outros dois preguiçosos lá, que eu tenho que
levar vocês pro colégio.
RAISSA —
Levar pro colégio pai? Olha pra mim. Vê se eu tenho idade e cara pro meu pai me
levar pro colégio?
OTÁVIO — Você
diz isso agora. Mas quando você e seus irmãos eram pequenos, faziam questão de
que eu levasse vocês pro colégio. Mas relaxa, hoje é o primeiro dia de aula,
não vai fazer mal se eu levar vocês hoje. Vambora.
Otávio e Raíssa
levantam e vão embora.
CENA 42/ AP OTÁVIO/ SALA/ INTERIOR/ DIA.
Otávio entra, seguido
de Raíssa que coloca sua bolsa em cima do sofá. Ele vai até a cozinha, pega uma
panela e uma colher de pau e segue em direção ao corredor dos quartos.
CENA 43/ AP OTÁVIO/ CORREDOR/ INTERIOR/ DIA.
Otávio faz barulho com
a panela e a colher de pau, acordando seus filhos. Guilherme e Márcio saem dos
seus quartos, sonolentos.
OTÁVIO: - Vamos acordando! Hoje é o primeiro dia de aula e não quero
nenhum vagabundo aqui!
MÁRCIO: - Oxente painho! Tá cedo demais pra levantar!
GUILHERME: - Pois é painho! Não dá pra deixar a gente dormir mais um
tantinho não?
OTÁVIO: - Obvio que não! Já são quase 7 da manhã e vocês estão
atrasados! Deveriam seguir o exemplo da sua irmã que tem mais responsabilidade
que vocês dois juntos. Agora vamos logo, que hoje eu acordei cabrobró!
Otávio vai pra sala.
Raíssa aparece e começa a debochar deles.
RAÍSSA: - Viu só? Eu tenho mais responsabilidade que vocês!
Ela entra no banheiro.
Os meninos começam a bater na porta.
GUILHERME: - Raíssa, vaza desse banheiro! Eu preciso tomar meu banho! Saí
daí Raíssa!
MÁRCIO: - Não adianta gritar non! Ela não vai sair daí de jeito nenhum!
Ou você já esqueceu que Raíssa fica horas no banho?!
GUILHERME: - Cala boca sua gazela! Antes que eu conte pro papai que você é
trufa!
MÁRCIO: - Pode contar querido! Fica à vontade! E tu só diz isso por que
eu dei sorte na vida! Eu tenho um banheiro com suíte! Enquanto eu me delicio na
minha banheira, você vai ficar aí esperando na fila, como se estivesse indo
pagar impostos atrasados!
Márcio solta beijinho
pra Guilherme, debochando dele e entra no quarto. Guilherme rosna de raiva.
CENA 44/ CASA GILBERTO/ QUARTO GILBERTO/
INTERIOR/ DIA.
Gilberto, o mesmo que
narrou as cenas iniciais, está sentado numa poltrona perto da cama, lendo um
diário.
GILBERTO
(voz): — Depois da morte da
Lidiane quando eu resolvi levar a minha filha junto comigo, voltei pra Salvador
e com o dinheiro que eu consegui aplicando golpes milionários eu consegui
refazer minha vida. Pela última vez eu mudei meu nome. Antigamente me chamava
Ivan, agora me chamo Gilberto Martins, um ex-golpista e estelionatário e
atualmente, um rico empresário, dono de uma famosa loja de sapatos, a Empire.
Criei sozinho a minha filha com a Lidiane: a Rafaela.
Ele para de ler quanto
ouve batidas na porta. Uma garota entra. Ela está maltrapilha, com cabelo mal
penteado, roupas fora de moda e óculos fundo de garrafa.
GILBERTO: - Está pronta meu amor?
RAFAELA: - Estou sim pai! Como eu estou?
GILBERTO: - Está bonitinha filha!
RAFAELA: - E o que é isso na sua mão? Depois de velho ainda escreve em
diário painho?
GILBERTO: - Não existe idade pra escrever em diários filha! Agora desça
pra tomar café! O Arthurzinho fez uma panqueca deliciosa!
RAFAELA: - Tudo bem! Estou te esperando lá em baixo.
Rafaela sai. Gilberto
se levanta rapidamente da cama e segue até o closet. Ele abre o armário, digita
a combinação no cofre e abre-o.
GILBERTO: - Agora preciso guardar bem isso! (pra si) Não sei o que será da
minha vida se alguém descobrir esse diário um dia.
Ele fecha o cofre e
sai do quarto.
CENA 45/ MANSÃO LIDIANE/
EXTERIOR/ DIA.
Plano de Localização.
CENA 46/ MANSÃO LIDIANE/
SALA/ INTERIOR/ DIA.
Lidiane está sentada no sofá ajeitando suas coisas antes de
sair, colocando seus pertences dentro da bolsa. Ela se tornou uma mulher madura
e mais linda que antes.
LIDIANE:
- Acho que não esqueci nada!
(grita) Vamos Beatriz!
BEATRIZ
(off): - Já vou mãe!
Jucilene aparece.
JUCILENE: - Precisa de algo senhora?
LIDIANE: - Preciso sim! Quero que você chame Beatriz!
Não sei mais o que faço com essa menina! É um século pra se arrumar pro
colégio! Parece até que vai ao shopping!
JUCILENE: - Nem preciso mais chamar!
Elas olham em direção a escada. Beatriz desce arrumada e
maquiada. Lidiane se levanta e a encara.
LIDIANE:
- Mas o que é isso filha?
Sete horas da manhã e você vai aparecer assim no colégio, parecendo uma palhaça
do circo da Avenida Paralela? Não! Vamos lá pra cima tirar essa porcaria toda
da cara!
BEATRIZ: - Oxente mainha, isso aqui não é/
LIDIANE: - Oxente nada! Vamos tirar logo isso que hoje estou virada no
cão!
BEATRIZ: - Só hoje? Todos os dias né?!
LIDIANE: - Me respeite! Sou sua mãe e não suas amigas!
Elas vão subindo. De
repente o telefone começa a tocar. Jucilene atende.
JUCILENE (tel): - Alô?! Oi dona Lia! Ela tá aqui sim! (para
Lidiane) É a dona Lia!
LIDIANE: - Sobe com ela e tira essa maquiagem da cara dela!
JUCILENE (sussurra pra si): - Só tem maluco nessa casa! Eu hein! Você me
deixe viu! (para beatriz) Vamos!
Elas sobem. Lidiane
fala ao telefone.
LIDIANE (ao telefone): - Pode falar Lia!
Ela continua no
telefone.
CENA 47/ MANSÃO LIDIANE/ QUARTO BEATRIZ/ INT/
DIA.
Beatriz entra no
quarto fula da vida, seguida de Jucilene.
BEATRIZ: - Eu não aguento mais minha mãe me tratando como se eu fosse uma
criança!
JUCILENE: - Mas você ainda é uma/
BEATRIZ: - Cala a boca Jucilene! Aliás, Amanda já foi?
JUCILENE: - Já sim! Ao contrario de você, a minha filha se arruma cedo e
sai cedo!
BEATRIZ: - Eu não posso tirar minha maquiagem. Vou ficar ridícula!
JUCILENE: - Eu também acho que isso é maluquice de dona Lidiane. Você é
uma menina linda e precisa de artifícios pra ficar ainda mais linda.
BEATRIZ: - Obrigada meu bem! Vou precisar da sua ajuda. Vai lá em baixo
e diz pra minha mãe adiantar o lado dela que eu peço pro motorista me levar.
JUCILENE: - Mas se ela pedir pro motorista levar?
BEATRIZ: - Eu não sei sua antosa! Se vira! Faz o que eu tou mandando!
JUCILENE: - Tudo bem! Tou indo!
BEATRIZ: - Não esquece de avisar quando ela sair!
Jucilene faz que sim
com a cabeça e sai. Beatriz fica pensativa.
CENA 48/ MANSÃO LIDIANE/ SALA/ INTERIOR/ DIA.
Jucilene desce as
escadas. Lidiane desliga o telefone.
JUCILENE: - Dona Lidiane, eu/
LIDIANE (corta): - Jucilene, eu preciso sair agora. Correndo!
Voando! Diga pro Gabriel levar a Beatriz! Eu vou no meu carro! (t) Aliás, o que
você queria falar comigo?
JUCILENE: - Nada! Deixe quieto!
LIDIANE (sem paciência): - Fala logo criatura de Jeová.
JUCILENE: - Não é nada! Eu tou cheia de serviço! Com licença!
Jucilene sobe
correndo. Lidiane observa.
LIDIANE: - Eu hein! Mulher maluca! (grita) E não esquece de avisar ao
Gabriel, pelo sangue do cordeiro! Já estou cheia de problema pra resolver!
Ela pega sua bolsa e
sai.
CENA 49/ COLÉGIO RIO BRANCO/ ESTACIONAMENTO/
EXTERIOR/ DIA.
Estamos na frente do
colégio, lotado de alunos. Lidiane estaciona seu carro, desce do mesmo e
adentra na escola. Já temos o áudio da cena seguinte.
LIDIANE (OFF): - Vinte centímetros?
CENA 51/ COLÉGIO RIO BRANCO/ DIRETORIA/ INT/
DIA.
Lidiane, Lia e
Andressa, uma das alunas.
LIA: - Isso! Vinte centímetros de saia as 7:20 da manhã!
LIDIANE: - Mas isso é um absurdo!
ANDRESSA: - Absurdo são vocês me barrarem por causa de uma peça de roupa.
LIDIANE: - Minha filha, isso aqui é um colégio de qualidade, particular,
que tem o fardamento correto e que deve ser usado da forma como condizem as
leis da escola.
ANDRESSA: - Meu Deus, eu não mereço!
LIDIANE (grita): - Eu é que não mereço menina! O ano mal
começou e já estou cheia de problemas nessa escola!
ANDRESSA: - Mas não são vários problemas, é só uma saia!
LIA:
- menina, você não tem senso do ridículo não? Essa saia é curta demais e além
do mais é contra as regras da escola.
ANDRESSA: - Não tenho senso do ridículo não!
LIA:
- Então por quê se vestiu assim?
ANDRESSA: - Por que pra conquistar os minos hoje em dia tem que ser
assim.
LIDIANE: - Para conquistar os minos hoje em dia tem que ser com ordem e
decência. E você está ao contrário de tudo o que eu disse! (t) Olha menina, por
hoje você está liberada, mas não me apareça com essa saia amanhã, senão você
terá uma séria punição, ouviu?
ANDRESSA: - Sim senhora!
Andressa sai da sala.
Lidiane senta na sua cadeira. Lia se senta de frente pra ela.
LIDIANE: - Eu não mereço isso! O ano mal começou e já estou cheia de
problemas.
LIA:
- O que foi dessa vez hein?
LIDIANE: - Beatriz está totalmente sem limites. Rebelde além da conta.
Com certeza deve ser essas amizades que ela andou arranjando.
LIA:
- Olha amiga, eu não queria falar, mas é melhor você ouvir agora... antes cedo
do que nunca. Eu acho que de todas as amigas de Beatriz, a que mais influencia
ela pro caminho errado é aquela menina que mora em Cajazeiras.
LIDIANE: - Géssica?
LIA:
- Essa mesma. Ela tem um jeito estranho. É uma menina estranha. Cruz credo! Se
eu fosse você eu cortaria logo a amizade de Beatriz com essa menina!
Lia encara Lidiane.
CENA 52/ COLÉGIO RIO BRANCO/ FRENTE/ EXT/
DIA.
Muitos alunos ainda
entram no colégio. Rafaela desce do carro de seu pai e corre pra dentro da
escola.
CENA 53/ COLÉGIO RIO BRANCO/ INTERIOR/ DIA.
Em meio a tantos
alunos, Márcio conversa com Andressa.
MÁRCIO:
- Ai amiga, mas essa
diretora não dá sossego mesmo né?
ANDRESSA: - Não me dava ano passado e parece que não vai dar esse ano
também.
MÁRCIO: - Relaxa menina. Já estamos no último ano! Logo logo você vai se
ver livre disso aqui!
ANDRESSA: - Assim espero!
Corta para Vagner,
Caio, Guilherme e Bruno que conversam.
VAGNER: - Nossa... Andressa é maior gostosona.
CAIO: - Essa eu pego.
VAGNER:
- Pega nada rapaz. tu tá
mais pra pegar o irmãozinho do Guilherme do que a gostosa da Andressa.
CAIO: - Qual foi? Tá me estranhando?
GUILHERME (debocha): - Vai ser o máximo ter você como cunhado!
(ri) Já pensou?
CAIO: - Eu ainda vou pegar essa mulher... E vai ser quando vocês menos
esperarem.
Caio sai emburrado.
GUILHERME: — Ih,
o cara não aguentou a pressão.
BRUNO: — Para
com isso gente... Vocês ultimamente têm pegado muito no pé do Caio.
VAGNER: — Ih,
olha o Bruno, com peninha do Caio.
GUILHERME: — Olha
Brunete, esse seu lado solidário eu não conheço.
Eles continuam a
conversar.
Corta para Rafaela que
aparece com uma pilha de livros na mão. Beatriz, Gessica e Paula conversam.
PAULA: - Vocês acreditam que minha mãe me proibiu de surfar?
BEATRIZ: - E a minha que me proibiu de usar maquiagem?
PAULA: - Cara, a sua mãe é bem louca!
BEATRIZ: - Louca é apelido!
GESSICA: - Mas você conseguiu vir com maquiagem Beatriz. E isso graças a
mim! Se não fosse pelos meus conselhos você iria vir igual aquela pobre coitada
ali.
Gessica aponta para
Rafaela.
BEATRIZ: - Ai que saco! Mais um ser estranho estudando nesse colégio!
GESSICA: - Se está tão incomodada por que não faz o que eu te ensinei?
Na sua casa não é a sua mãe quem manda, grita, faz e acontece? Pois aqui quem
manda é você! Vai lá e mostra o seu poder querida!
Beatriz caminha até
Rafaela. Gessica ri de longe. Paula fica indignada com o que ouve. Beatriz
chega perto de Rafaela e a empurra. Rafaela cai no chão, junto com os livros,
esbarrando em Bruno.
BEATRIZ: - Você tá atrapalhando meu caminho garota!
Ela começa a catar os
livros, envergonhada. Bruno se abaixa pra ajuda-la. Andressa, Márcio e Raíssa
se aproximam pra fazer o mesmo.
BRUNO: — (para
Beatriz) Olha o que você fez Beatriz!
BEATRIZ: —(se
faz de inocente) Mas foi sem querer gente, eu tropecei sem querer, foi só isso!
RAÍSSA: - Não é verdade! Eu vi quando essa bruxa empurrou a minha amiga!
BEATRIZ: - Amiga?
RAÍSSA: - Sim! Amiga! Eu e Rafaela somos amigas de longa data Beatriz!
Mexeu com ela mexeu comigo!
BEATRIZ: - Olhe aqui sua apagada!
MÁRCIO: - Olhe aqui você sua rebocada! Cheia de maquiagem, parece um
fantasma e se acha a gostosona, mas não passa do macaco no jogo do bicho!
BEATRIZ: - Olhe aqui seu/
BRUNO: - Chega Beatriz! Você não pode tratar os outros dessa maneira!
ANDRESSA: - Também acho! Você não é melhor que ninguém aqui queridinha!
BEATRIZ: - Olha só a periguete dando aulas de ética, sendo que não tem
nem respeito por si própria usando esses trajes de/
ANDRESSA: - Cala essa boca sua vaca!
Elas começam a brigar.
Uma puxa o cabelo da outra e a gritaria rola solta. Bruno segura Andressa e
Guilherme segura Beatriz. Lidiane sai da sua sala e se aproxima deles. Rafaela
permanece encolhida no seu canto, amparada por Márcio e Raíssa.
LIDIANE: - Eu posso saber que baixaria é essa?
Andressa e Beatriz se
entreolham revoltadas. Close nelas.
CENA 54/ COLÉGIO RIO BRANCO/ DIRETORIA/ INT/
DIA.
Andressa e Beatriz
estão sentadas, uma do lado da outra. Lidiane está a frente delas, tentando se
acalmar.
LIDIANE — Agora
vocês vão me explicar o que aconteceu!
Andressa e Beatriz
começam a falar juntas, cada uma com sua versão, Lidiane fica irritada.
LIDIANE —(berra)
Calem a boca! (tenta se conter) Uma de cada vez! Você Andressa!
ANDRESSA —
Tudo começou quando a Beatriz empurrou uma garota de propósito e depois disse
que havia trombado nela.
BEATRIZ —
(reage) Não é verdade! Eu não empurrei ela...
Nesse momento alguém
bate na porta.
LIDIANE —
Entra!
Rafaela entra,
fechando a porta.
ANDRESSA —
Foi essa garota aqui diretora! Ela foi a vítima da Beatriz!
LIDIANE —(para
Andressa) Não precisa falar mais nada garota! Eu já entendi tudo! Pode ir pra
sua sala!
ANDRESSA —(vai
saindo) Com licença! (ela sai fechando a porta)
RAFAELA —
Diretora, eu vim aqui pra dizer que eu causei isso tudo... a culpa é minha/
BEATRIZ —(corta)
E foi mesmo! (para Lidiane) Mãe, agora sim o que essa menina falou tem sentido:
Ela é a culpada de tudo!
LIDIANE —
Beatriz, se você abrir a boca pra falar qualquer coisa, eu juro que não
respondo por mim... Você sempre pisou nas pessoas por ser mais bonita... Por
ter mais dinheiro... (grita) Por ser a filha da diretora! Mais saiba que você
não é e nunca será melhor do que ninguém! (tempo) Eu não entendo... Eu sempre
te eduquei muito bem, sempre te ensinei o lado correto das coisas... Mas vi que
errei em alguma coisa, alguma coisa eu errei na sua educação e você quer saber
aonde foi que eu errei? (afirma) Eu te dei liberdade demais! Liberdade pra ser
quem você é... Liberdade pra ter as amizades erradas que fez você se tornar
essa garota mimada, sem humildade que você é, e eu nunca percebi isso... Estou
percebendo apenas agora, infelizmente! E por isso eu tenho certeza de
que você realmente empurrou essa garota de propósito só pra mostrar pra todo
mundo desse colégio que você é melhor do que ela. Mas você não é! E não é só
por que você é minha filha que vou te dar uma colher de chá! (tempo) Você tá
suspensa!
BEATRIZ —(sem
acreditar) O quê? Eu? Suspensa?
LIDIANE —(grossa)
Sim! Você está em suspensão por uma semana e não foi só por causa do que você
fez hoje, mas sim pela sua desobediência... Ou você ainda não percebeu que
peguei você no flagra usando maquiagem... Eu não havia te proibido de usar
isso?! E tem mais: você está de castigo, vai passar a semana toda em casa,
trancada em seu quarto, sem celular, sem computador, somente estudando ou lendo
um livro... E só vai sair de lá pra fazer as suas refeições e tomar banho.
BEATRIZ —(indignada)
Mais isso é um absurdo/
LIDIANE —
Absurdo é o que você fez com essa menina. O que você fez com ela não se faz com
ninguém. Agora sai... Vai pra sua sala que eu tenho que ter uma conversa
particular com essa menina aqui!
Beatriz vai saindo.
BEATRIZ —(baixo
pra Rafaela) Você vai pagar muito caro por isso garota.
Beatriz sai fechando a
porta.
RAFAELA — O que
a senhora quer conversar comigo, diretora?
LIDIANE —(simpática)
Você me desculpe o que a minha filha fez com você, a culpa foi minha, eu não
eduquei ela como deveria... Mas e você? É aluna nova?
RAFAELA — Sou
sim diretora... No meu outro colégio, todos me maltratavam, eu não tava
gostando e pedi pro meu pai me tirar de lá.
LIDIANE – Mas não se preocupe! Por que aqui você será muito bem tratada!
Você pode contar comigo pelo o que você precisar... é... como é seu nome mesmo?
RAFAELA: - Rafaela!
LIDIANE: - Prazer Rafaela! Tenho certeza que iremos nos dar muito bem!
Elas se cumprimentam.
E é nesse cumprimento de mãe e filha que fechamos esse primeiro capítulo. A
primeira de várias emoções.
FIM
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