terça-feira, 16 de agosto de 2016

Capítulo 12: Terra Livre


CENA 1/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior;
Vicente se levanta decidido. Cristina e Gabriel observando a bravura.
VICENTE – Pois então encontrarei esse irmão a qualquer custo!
GABRIEL – Não será tão fácil quanto você imagina. Domingos está sumido há muito tempo. Afonso o procura há tempos, mas nunca consegue encontra-lo. Parece que os segredos dele são muito piores do que nós imaginamos.
CRISTINA – Dizem que o Barão está envolvido na morte de sua primeira esposa. Deixou uma filha com ela, que se chama Beatrice. Mas ela é totalmente nula com os negócios do pai, e vive esbanjando dinheiro e glamour em Londres.
VICENTE – E vocês acham que ela sabe de alguma coisa?
GABRIEL – (receoso) Eu não queria dizer isso, mas...
VICENTE – Mas, o quê?
GABRIEL – Beatrice foi expulsa da cidade. O pai já não mantém mais contato com ela.
VICENTE – (confuso) Mas por que uma Leroy seria expulsa de Monte Velho?!
CRISTINA – Por que Beatrice é a maior inimiga do pai, Vicente. Ela e Domingos se uniram contra ele. Ela partiu com o dinheiro que a mãe deixou de herança, já que ela era de uma nobre família francesa. Já ele viveu pelos cantos, tentando uma oportunidade de entrar na prefeitura e derrubar o Barão.
VICENTE – Pois estou disposto a me unir aos dois e arruinar a vida de Afonso Leroy!
FOCA em Vicente com sangue nos olhos. Cristina e Gabriel receosos. CORTA PARA/
CENA 2/ BARRACO/ DIA/ INT.
Vicente entra animado. Helena costurando, sem muito ânimo.
HELENA – Por que está tão feliz?
VICENTE – Acho que encontrei uma solução que vai nos tirar dessa confusão toda.
HELENA – Uma solução? Que solução?
VICENTE – Fui pedir ajuda a dona Cristina e ao senhor Gabriel e eles me ajudaram... Disseram que um tal de Domingos, irmão do Barão, sabe alguns segredos dele. Eu sei que não é o certo, mas ao encontra-lo vou obrigar o Barão a te deixar em paz, caso contrário entregarei tudo o que sei a polícia.
HELENA – E não acha muito perigoso?
VICENTE – Perigo, Helena? Eu matei um psicopata dentro de um navio, sem ter pra onde correr. Eu não vou fraquejar. Não vou!
HELENA – Eu prometo que serei mais forte!
Helena e Vicente se abraçam. CORTA PARA/
CENA 3/ HOSPITAL/ DIA/ INT./ CONSULTÓRIO.
Germana e Afonso sentados em frente a mesa do médico, que entra em seguida. Eles ansiosos o encaram.
GERMANA – Viemos buscar Helena, doutor.
MÉDICA – (hesita) Helena?! Mas Helena já deixou o hospital. Não estou entendendo!
GERMANA – Como assim Helena deixou o hospital? A minha filha estava internada aqui, doutor.
MÉDICO – Nisso você tem razão. Ela estava internada aqui, mas foi embora... Foi inclusive com um rapaz, que eu esqueci o nome...
GERMANA – (com cara fechada) Vicente.
MÉDICO – Isso mesmo. Vicente...
AFONSO – Desgraçado!
Afonso se enfurece, pega tudo a sua volta e joga no chão. Germana tenta segura-lo, mas o médico o pega pelo braço.
AFONSO – (CONT.) Me solta!
O médico solta ele, que vai ficando mais calmo. Germana sem reação.
AFONSO – (CONT.) Incompetentes... É isso que vocês são!
FOCA em Afonso alterado, respirando ofegante. CORTA PARA/
CENA 4/ PRAÇA/ DIA/ EXT.
Filomena e Saulo tomam um sorvete sentados no banco, felizes.
FILOMENA – Estou me sentindo uma criança novamente.
SAULO – Eu também. Nunca tinha me divertido tanto!
Saulo fecha a cara. Filomena estranha.
FILOMENA – O que foi?
SAULO – Filomena... Eu te amo muito, mas a sociedade pode não aceitar esse nosso romance.
FILOMENA – Você está feliz?
SAULO – Muito!
FILOMENA – Meus pais morrerão há um bom tempo, eu era criança, sabe?! Mas eu me lembro muito bem do que eles falavam nos meus ouvidos e nos ouvidos de minhas irmãs... Não importa o pensamento do outro, mas se você está feliz, é apenas isso o importante. E eu estou feliz do seu lado! Não importa o que as pessoas vão dizer.
SAULO – Cada dia que passo vejo que fiz a melhor escolha de minha vida te pedindo em namoro! Eu te amo!
FILOMENA – Eu também te amo!
Os dois se aproximam e se beijam apaixonadamente. CORTA PARA/
CENA 5/ SENZALA/ DIA/ INT./ SALA.
Germana, nervosa, entra jogando tudo no chão. Chiara espantada.
GERMANA – (a Chiara) Isso é tudo por culpa sua... É tudo culpa sua!
CHIARA – Minha culpa? O que eu fiz?!
GERMANA – Foi você que armou pra Helena e o maledetto do seu filho fugirem.
CHIARA – (grita) Não chame o meu filho de maledetto!
Valter entra, assustado.
VALTER – O que está acontecendo aqui?
CHIARA – Pergunte a sua mulher, Valter. Chegou aqui me apontando o dedo e me acusando. Ela deve saber o porquê.
GERMANA – Fui até o hospital pra buscar Helena e ela já tinha saído... Ou melhor... Fugido com o tal do Vicente, filho dessa desgraçada.
Chiara se aproxima de Germana em silêncio, e fica de cara com ela. Valter amedrontado.
CHIARA – Quer saber... Fui eu... Sim! Fui eu que alertei e mandei meu filho e Helena fugirem daqui. Eu nunca vou permitir que esses dois desgracem as suas vidas por causa da sua ambição!
GERMANA – Eu tenho nojo de você! Nojo... Uma mulher viúva e velha e que se mete na vida dos outros.
VALTER – Obrigado, Chiara!
Germana não entende. CAM FOCA em seu olhar avermelhado.
GERMANA – Como assim, Valter? Depois de tudo que essa mulher fez, você ainda agradece ela?!
VALTER – Sim, Germana! Agradeço por ter diminuído a culpa que eu iria sentir se tivesse que entregar a minha filha nas mãos de um homem que ela não ama. Perdi meus filhos queimados, e não vou perder novamente mais um filho!
Germana encara Valter e sai com raiva. Valter começa a chorar. Chiara o abraça. CORTE IMEDIATO PARA/
CENA 6/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Afonso entra nervoso chutando tudo pela frente. Maria Tereza espantada, porém controlada olhando-o.
M. TEREZA – Que isso? Que maluquice toda é essa de sair chutando tudo pela frente?!
AFONSO – Helena fugiu com Vicente!
M. TEREZA – E o que você tem a ver com isso?
AFONSO – Eu vou me casar com Helena.
M. TEREZA – (alterada) Não! Fala que é mentira... Você não pode se casar com a italianinha chata. Pelo amor de Deus, Afonso!
AFONSO – Você não tem nada com a minha vida. Faça seu trabalho bem feito e estará de bom tamanho!
Afonso sobe as escadas com raiva. Maria Tereza com ódio. CORTA PARA/
CENA 7/ FAZENDA DE CRISTINA/ DIA/ INT./ SALA DE ESTAR.
Cristina lendo um livro, porém preocupada. Gabriel chega, dá um beijo em sua testa e estranha o comportamento dela.
GABRIEL – Vai... Me fala o que está te incomodando!
CRISTINA – Estou preocupada com Vicente, Gabriel. Você sabe como Afonso é... Nós tínhamos força pra lutar contra ele, mas Vicente não tem nem a onde cair morto.
GABRIEL – Também me preocupo, mas eu confio nele... É um rapaz corajoso.
CRISTINA – Eu também confio, mas não sei... Continuo preocupada!
TENSÃO. Cristina e Gabriel trocando olhares apreensivos. CORTA PARA/
CENA 8/ CAFEZAL/ DIA/ EXT.
Chiara colhendo café e chorando. Afonso vê-la e se aproxima, sem alardear. Chiara se vira e leva um susto com ele.
AFONSO – Está satisfeita com o que fez?
CHIARA – Fiz o que deveria ser feito!
AFONSO – Não tem medo?!
CHIARA – Perdi meu marido, perdi um filho quando ele ainda estava em minha barriga... Não vou ter medo de você!
AFONSO – Pois deveria! Deveria ter muito medo!
CHIARA – Eu não vou permitir que você faça com Helena o que fez comigo há anos atrás.
AFONSO – Não fiz nada com você... Essas coisas são todas fruto da sua imaginação. Ou está ficando caduca.
Chiara larga o cesto de café e encara Afonso.
CHIARA – Você me fez sofrer incansavelmente, Afonso. Passei noites chorando, dias com aperto no peito... Helena não vai passar pela mesma coisa que passei. Não vai viver o mesmo inferno que eu vivi. Agora deixe-me ir... Tenho que preparar o almoço!
Chiara se retira. Afonso pensativo. CORTA PARA/.
CENA 9/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ QUARTO DE MARIA TEREZA.
Maria Tereza entra ofegante. Ela chora de raiva e quebra quase tudo.
M. TEREZA – Você é a culpada, Maria Tereza! Você é a culpada por tudo... Tentou matar a italiana e agora vai ter que ouvir ordens dela. Mas eu não vou desistir! Se essa mulher pisa sob essa casa, eu a mato. Mando para o quinto dos infernos!
Close em Maria Tereza com ódio. CORTA PARA/
CENA 10/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ EXT./ VARANDA.
Germana em pé no local. Afonso desce as escadas, com semblante pesado.
AFONSO – O que veio fazer aqui?
GERMANA – Vim dizer ao senhor que Helena aparecerá. Eu vou fazer de tudo para encontrá-la.
AFONSO – Eu encontrarei Helena. Meus capangas começarão a procura, mas existe uma coisa que acontecerá!
GERMANA – Que coisa?!
AFONSO – Servirei a cabeça de Vicente em uma bandeja, como era feito nos períodos medievais. Vicente será morto!
Germana se espanta. Afonso ri. Closes alternados. CORTA PARA/
CENA 11/ HOSPITAL DE FORTALEZA/ DIA/ INT./ QUARTO.
A empregada observando-o. Ele abre os olhos lentamente. Ela corre e fica ao seu lado.
EMPREGADA – Senhor Rubens?!
RUBENS – Estou bem... Ainda não chegou a hora de minha partida!
EMPREGADA – Graças a Deus... Orei muito pela sua melhora!
RUBENS – (com dificuldade na fala) Sabe... Eu já fiz muitas coisas ruins nessa vida. Já trai minha mulher, bati em meus filhos... Bebi, cheguei em casa fedendo a cachaça. Mas nunca deixei de ser um homem... Um homem nunca deixa de ser um homem, e é por isso que temos que nos dar ao respeito. Pois somos acima de tudo homens.
EMPREGADA – O senhor melhorou mesmo!
Os dois riem. CORTA PARA/
CENA 12/ MANSÃO DE AFONSO/ DIA/ INT./ PORÃO.
Rogério sem camisa sentado em um banco. Maria Tereza abre a porta e entra.
M. TEREZA – Está liberto! Me perdoe pelo que fiz!
ROGÉRIO – A senhora me pedindo perdão?!
Maria Tereza se aproxima de Rogério, senta-se ao seu lado, e começa a chora.
M. TEREZA – Eu só quero ser amada! Somente isso, e não sou amada por ninguém. Nem pela minha irmã, nem pelo homem que amo! Afonso não me ama como eu o amo.
ROGÉRIO – A senhora precisa esperar. A hora certa vai chegar.
Maria Tereza olha nos olhos de Rogério. Ele a segura pelo braço. Ela rasga sua roupa e coloca os seios no rosto dele, que respira aceleradamente, levanta e a joga no chão. CAM mostra ele deitado nu no chão. Em seguida, a CAM se desloca mostrando Maria Tereza se movimentando em cima dele, também nua. Gemidos altos. CORTA PARA/
CENA 13/ STOCK-SHOTS/ EXT.
TAKES DO ANOITECER EM MONTE VELHO. UMA GRANDE FESTIVIDADE NO CENTRO DA CIDADE. O PREFEITO GASPAR NO CORETO DISCURSANDO. PESSOAS ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO. TAKE FINAL NOS ARREDORES DO BARRACO. CORTA PARA/
CENA 14/ BARRACO/ NOITE/ INT.
Vicente chega com sacolas na mão. Helena costurando.
VICENTE – Cheguei, meu amor!
HELENA – Onde arrumou essa comida toda?
VICENTE – Dona Cristina deu para nós. Eles estão nos ajudando muito!
HELENA – Tome cuidado... Sabe que é difícil andar por Monte Velho e não ser reconhecido!
VICENTE – Você tem razão. Não vou mais ficar rondando pela cidade!
Helena se levanta e pega as sacolas da mão de Vicente. CORTA PARA/
CENA 15/ SENZALA/ NOITE/ EXT./ VARANDA.
Chiara preocupada. Valter fica ao lado dela.
CHIARA – Estou preocupada, Valter.
VALTER – Também estou preocupado.
CHIARA – Será que eles estão comendo direito?
VALTER – Não sei, tomara que sim!
CHIARA – Vicente não me disse o lugar ao certo pra onde eles foram.
VALTER – Deve ser pra ninguém descobrir!
CHIARA – Tem razão.
VALTER – Mas a minha preocupação maior é com Vicente!
CHIARA – Por que?
VALTER – Temo pelo que o Barão pode fazer se encontra-lo.
CHIARA – O Barão não vai fazer nada com Vicente. Confia em mim... Sei do que estou falando! Tenho uma carta na manga pra ser usado quando for necessário!
FOCA em Chiara decidida. CORTA PARA/
CENA 16/ BARRACO/ NOITE/ INT.
Helena e Vicente dormindo tranquilamente. Helena falando palavras enroladas. Vicente ouve, se levanta e coloca a mão em sua cabeça.
VICENTE – Mas está delirando em febre!
Vicente pega Helena no colo, e sai correndo do local. CORTA PARA/
CENA 17/ HOSPITAL/ NOITE/ INT./ CONSULTÓRIO.
Vicente entra com Helena no colo e logo a coloca na maca.
VICENTE – Doutor... Ela está delirando em febre, por favor... Me ajude!
O médico virado de costas para ele, sentado em uma cadeira.
VICENTE – Doutor?!
A cadeira se vira. É Afonso, rindo.
AFONSO – Surpresa!
Vicente assustado. Helena na maca. Afonso rindo.
VICENTE – Não pode ser!

EFEITO FINAL: CONGELA NO RISO DEBOCHADO DE AFONSO.

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